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<p>Kelly Alonso Costa</p><p>Aula 5</p><p>Instrumentos de coleta de dados e</p><p>classificação dos tipos de pesquisa</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>108</p><p>Metas</p><p>Apresentar os diferentes tipos de pesquisa e suas classificações. Intro-</p><p>duzir os principais instrumentos de coleta de dados e as técnicas mais</p><p>utilizadas na Engenharia.</p><p>Objetivos</p><p>Após esta aula, você deverá ser capaz de:</p><p>1. Selecionar o tipo de pesquisa mais adequado para atingir determina-</p><p>do objetivo;</p><p>2. Selecionar e utilizar instrumentos de investigação de forma a preser-</p><p>var a integridade dos dados;</p><p>3. Explicar o que acontece na etapa “Coleta de dados” e os cuidados que</p><p>devem ser tomados ao executá-la.</p><p>Metodologia Científica</p><p>109</p><p>Introdução</p><p>Você já imaginou como as indústrias descobrem o que as pessoas que-</p><p>rem em um produto? Ou como os pesquisadores descobrem soluções</p><p>através das informações das pessoas ou de documentos? Ou como a</p><p>experiência de uma única empresa pode ajudar a outras empresas a</p><p>conseguir crescimento e qualidade? Bem; todas essas situações e mui-</p><p>tas outras são possíveis através de pesquisas e seus instrumentos de</p><p>coleta de dados.</p><p>Toda pesquisa contém uma fase para coleta de dados em que instru-</p><p>mentos, também chamados de técnicas de pesquisa, estabelecidos na</p><p>literatura, são utilizados para esse fim. Nós aprendemos, na aula passa-</p><p>da, o significado dessa fase e suas características; porém, na aula de hoje,</p><p>vamos aprofundar o nosso conhecimento e saber mais detalhes sobre</p><p>as técnicas de coleta de dados e suas definições. Atualmente, a coleta</p><p>de dados pode ter infraestrutura tecnológica, facilitando a execução e</p><p>apuração dos dados. A partir desse estudo, podemos aprender a utili-</p><p>zar as técnicas de coleta de dados direcionadas para o tipo de pesquisa</p><p>que queremos realizar. Contudo, para escolher adequadamente o tipo</p><p>de pesquisa, precisamos conhecer a classificação das pesquisas e suas</p><p>características, o que será realizado também nesta aula. Uma pesquisa</p><p>pode ser classificada em relação a diversos fatores e pode estar associa-</p><p>da ao tema do trabalho científico. Esse tópico é muito importante, pois</p><p>você fará, no final do seu curso de graduação, um projeto final no qual</p><p>terá que coletar dados e definirá o tipo de pesquisa do seu estudo. Então,</p><p>vamos começar a coletar informações e investigar!</p><p>Figura 5.1: Coleta de dados pela observação num laboratório</p><p>Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Science_lab_in_Fisher</p><p>_Hall.jpg</p><p>U</p><p>ni</p><p>ve</p><p>rs</p><p>ity</p><p>o</p><p>f P</p><p>itt</p><p>sb</p><p>ur</p><p>gh</p><p>a</p><p>t</p><p>B</p><p>ra</p><p>d</p><p>fo</p><p>rd</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>110</p><p>Classificação da pesquisa científica</p><p>Como já estudamos, a pesquisa é uma construção do conhecimento,</p><p>motivada pela busca de respostas, condicionada a procedimentos cien-</p><p>tíficos que justificam sua validação. As pesquisas podem ser emprega-</p><p>das em diversos assuntos e com diferentes objetivos. Desta forma, exis-</p><p>tem várias formas de classificar as pesquisas. Apresentaremos as formas</p><p>clássicas de classificação com suas especificações para a aplicação com</p><p>base nos estudos de autores renomados da área (GIL, 2008; LAKATOS,</p><p>MARCONI, 2003; CERVO, BERVIAN, 2002).</p><p>A pesquisa pode ser classificada quanto à sua natureza, seus objeti-</p><p>vos, sua abordagem do problema, conforme a Figura 5.2, e seus proce-</p><p>dimentos técnicos, como veremos na 3ª seção.</p><p>Figura 5.2: Classificação da pesquisa científica.</p><p>Fonte: Adaptado de Turrioni e Mello (2012)</p><p>Metodologia Científica</p><p>111</p><p>Quanto à sua natureza</p><p>Como vimos na Figura 5.2, a pesquisa pode ser de duas naturezas</p><p>diferentes: básica ou aplicada. A pesquisa básica é aquela que busca o</p><p>avanço científico através da geração de novos conhecimentos. É a busca</p><p>pelo saber que envolve interesses universais. É a pesquisa que procura a</p><p>ampliação dos conhecimentos teóricos sem a preocupação de aplicá-los.</p><p>Normalmente, pesquisas básicas são desenvolvidas por cientistas, como</p><p>físicos, biólogos ou antropólogos.</p><p>Já os engenheiros, de um modo geral, se ocupam da pesquisa apli-</p><p>cada, que é aquela que busca resultados práticos, direcionados para so-</p><p>lucionar problemas específicos. Essa pesquisa pode gerar produtos ou</p><p>processos que possuem uma finalidade imediata. Muitas vezes, atende</p><p>a interesses locais e, por isso, é desenvolvida em um cenário particular.</p><p>Cervo e Bervian (2002) sintetizam de forma clara as pesquisas básica</p><p>e aplicada: “São pesquisas que não se excluem, nem se opõem. Ambas</p><p>são indispensáveis para o progresso das ciências e do homem: uma bus-</p><p>ca a atualização de conhecimentos para uma nova tomada de posição,</p><p>enquanto a outra pretende, além disso, transformar em ação concreta os</p><p>resultados de seu trabalho.” Muitas vezes, a pesquisa aplicada investiga</p><p>a aplicação do conhecimento produzido pela pesquisa básica para resol-</p><p>ver problemas previamente identificados.</p><p>A capa da invisibilidade</p><p>Um exemplo dessa relação próxima entre os dois tipos de pes-</p><p>quisa é a contribuição dada tanto por físicos quanto engenheiros</p><p>no desenvolvimento de metamateriais. Os físicos estudam as pro-</p><p>priedades dos materiais e como manipulá-los para conseguir de-</p><p>terminadas interações; os engenheiros estudam a aplicação deste</p><p>conhecimento, por exemplo, utilizando-o para cobrir um objeto e</p><p>assim fazer com que ele não seja detectável num radar.</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>112</p><p>Quanto a seus objetivos</p><p>Uma pesquisa também deve ser classificada de acordo com seus</p><p>objetivos.</p><p>Pesquisa Exploratória é normalmente uma pesquisa preliminar que</p><p>visa a tornar o problema explícito, proporcionando uma proximidade</p><p>com as suas questões ou ainda na estruturação das hipóteses. Geral-</p><p>mente, a pesquisa exploratória inclui levantamento bibliográfico, con-</p><p>tato direto com indivíduos que possuem alguma experiência no cam-</p><p>po estudado, possíveis visitas em ambientes relacionados com o tema</p><p>e investigação de exemplos semelhantes ou correlacionados. É comum,</p><p>nesse tipo de pesquisa, trabalhar com estudos de caso, que iremos ca-</p><p>racterizar nessa aula no item de classificação quanto aos procedimentos.</p><p>Num grau acima da complexidade, temos a Pesquisa Descritiva, que</p><p>descreve as características de uma determinada população ou grupo de</p><p>indivíduos direcionados para o estudo. Essa pesquisa também pode de-</p><p>talhar e correlacionar fenômenos ou variáveis envolvidas no assunto.</p><p>Uma consideração importante é que na pesquisa descritiva, o pesquisa-</p><p>dor apenas observa e relata os dados de forma sistemática; no entanto,</p><p>não manipula e nem influencia nos resultados. De uma forma sintética,</p><p>a pesquisa descritiva pode ser interpretada como um meio de registrar</p><p>dados ou fatos que podem ser econômicos, sociais, comportamentais,</p><p>técnicos, entre outros.</p><p>Temos ainda a Pesquisa Explicativa, que visa a explicar leis, ampliar</p><p>generalizações e aprofundar conhecimentos relacionados à realidade</p><p>através da razão. Esse tipo de pesquisa frequentemente exige a interfe-</p><p>rência direta do pesquisador, criando situações artificiais em que a vari-</p><p>ável é isolada ou manipulando a variável para observar os efeitos dessa</p><p>variância, por exemplo. Essa interferência deve ser realizada com muito</p><p>critério, para não comprometer os resultados obtidos. Para isso, é cru-</p><p>cial conhecer os instrumentos de coleta existentes, o que veremos mais</p><p>adiante nesta aula. Só assim será possível selecionar o instrumento mais</p><p>apropriado para atingir determinado objetivo, aplicá-lo adequadamente</p><p>e adaptá-lo quando necessário. A pesquisa explicativa faz requerer do</p><p>pesquisador capacidade de síntese, teorização e reflexão, já que busca</p><p>principalmente identificar os fatores que definem ou contribuem para a</p><p>ocorrência dos fenômenos.</p><p>Metodologia Científica</p><p>113</p><p>Quanto a sua abordagem do problema</p><p>Quanto à abordagem, existem duas categorias: pesquisas quantitati-</p><p>vas e qualitativas. Como o próprio nome já diz, a Pesquisa Quantitativa</p><p>se refere a quantidades.</p><p>Ela objetiva uma perspectiva contável para tudo</p><p>que será estudado, ou seja, transformar as informações, inclusive as opi-</p><p>niões, em números para organizá-las e analisá-las. A pesquisa quantita-</p><p>tiva foca a medição numérica de fenômenos. Essa pesquisa geralmente</p><p>utiliza recursos e técnicas estatísticas (porcentagem, média, moda, me-</p><p>diana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.).</p><p>Por outro lado, a Pesquisa Qualitativa visa a analisar os dados de for-</p><p>ma interpretativa, conforme os seus resultados, observando os fenôme-</p><p>nos com suas respectivas atribuições de sentidos e relevâncias. Os dados</p><p>dessa pesquisa não têm tratamento estatístico e nela objetiva-se analisar</p><p>dados não mensuráveis; normalmente, é utilizada nas ciências huma-</p><p>nas, para estudar um determinado grupo de indivíduos. No contexto</p><p>da engenharia de produção, pesquisas qualitativas são particularmente</p><p>úteis para identificar problemas relacionados à gestão de pessoas.</p><p>Na academia, costuma-se optar por uma abordagem ou outra, mas,</p><p>na prática profissional, dada a complexidade dos desafios encontrados,</p><p>muitas vezes, utilizamos ambas as abordagens, que se complementam.</p><p>Collis e Hussey (2005) conseguem explicitar como as pesquisas quanti-</p><p>tativa e qualitativa nos fornecem dados complementares sobre um mes-</p><p>mo problema, dando-nos uma visão mais abrangente sobre o problema.</p><p>“Se você estivesse conduzindo um estudo sobre o estresse provocado</p><p>por trabalho noturno e adotasse a visão quantitativa, seria útil coletar</p><p>dados objetivos e numéricos, tais como taxas de absenteísmo, níveis de</p><p>produtividade, etc. Todavia, caso adotasse uma visão qualitativa, você</p><p>poderia coletar dados subjetivos sobre o estresse enfrentado por traba-</p><p>lhadores noturnos em termos de percepções, saúde, problemas sociais</p><p>e assim por diante”.</p><p>Atividade 1</p><p>Atende ao Objetivo 1</p><p>A seguir, você verá os objetivos de diferentes projetos de pesquisa. Você</p><p>deve selecionar o tipo de pesquisa mais adequado para atingir esses ob-</p><p>jetivos, de acordo com as classificações vistas nesta seção:</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>114</p><p>a) Investigar o que motiva o aluno de graduação a distância a partir de</p><p>uma série de conversas com professores do Cederj;</p><p>b) Descobrir a correlação entre o índice pluviométrico e a economia dos</p><p>municípios do estado do Rio de Janeiro;</p><p>c) Estudar as propriedades do novo polímero termofixo Hydro.</p><p>Resposta Comentada</p><p>a) Quanto à sua natureza, a pesquisa é aplicada, pois busca solucionar</p><p>um problema prático específico (motivação na educação a distância).</p><p>Quanto ao objetivo, ela é exploratória, pois ainda busca explicitar o</p><p>problema (identificar o que motiva e o que desmotiva o aluno) atra-</p><p>vés de conversas com pessoas experientes no assunto (professores), mas</p><p>não uma observação direta dos indivíduos a serem estudados (alunos).</p><p>Quanto à abordagem, é principalmente qualitativa, pois “motivação” é</p><p>um fator bastante subjetivo e o pesquisador quer deixar os professores</p><p>livres para exporem o que acharem mais relevante. No entanto, é possí-</p><p>vel que haja algum componente quantitativo, tal como taxa de conclu-</p><p>são do curso, participação em fórum ou entrega de atividade;</p><p>b) Quanto à natureza: aplicada, pois trata de um problema específico</p><p>(como a variação da precipitação de água impacta um município eco-</p><p>nomicamente). Quanto ao objetivo: exploratória, pois necessita de re-</p><p>ferencial teórico científico e de dados coletados (como a infraestrutura</p><p>básica do município, verificando as políticas públicas implantadas); no</p><p>entanto, também pode ser descritiva, pois trata de dados históricos e</p><p>estatísticos coletados (o volume de água, entre outros ). Quanto á abor-</p><p>dagem: quantitativa, quando verificado os números do potencial plu-</p><p>viométrico e os custos com abastecimento ou desastres naturais, como</p><p>enchentes; contudo, também pode ser qualitativa, quando representa a</p><p>classificação geográfica de recursos naturais desse município vinculado</p><p>ao índice pluviométrico.</p><p>c) Quanto à natureza: básica, pois tenta descobrir novos conhecimen-</p><p>tos (encontrar as propriedades do novo polímero que podem gerar be-</p><p>nefícios em relação a sustentabilidade) e também aplicada, pois estuda</p><p>um problema específico (como utilizar esse novo polímero com as ca-</p><p>racterísticas descobertas). Quanto ao objetivo: exploratória, pois ne-</p><p>cessita de pesquisa científica, tratando-se de um novo material, como</p><p>também descritiva, quando interpreta o comportamento das variáveis</p><p>envolvidas nas propriedades. Quanto à abordagem: qualitativa, no que</p><p>Metodologia Científica</p><p>115</p><p>se refere ao potencial de reutilização do polímero para benefício do</p><p>meio ambiental, assim como quantitativa, quando indica menos des-</p><p>perdício e maior durabilidade, como matéria prima utilizada no lugar</p><p>do polímero convencional.</p><p>Coleta de dados</p><p>A fase de coleta de dados numa pesquisa científica corresponde ao</p><p>momento em que usamos instrumentos específicos e técnicas de pesqui-</p><p>sa, para reunir dados que serão analisados e interpretados conforme os</p><p>objetivos do trabalho. É uma fase que exige bastante organização e pro-</p><p>cedimentos sistemáticos visando a garantir a conformidade dos dados.</p><p>Todo trabalho científico deve mencionar como a coleta de dados foi</p><p>organizada e operacionalizada, de acordo com o processo de pesquisa</p><p>adotado. Todas as formas de coleta devem ser registradas no trabalho,</p><p>inclusive as leituras também fazem parte desse procedimento. Não só as</p><p>formas de coleta devem ser mencionadas, como também as suas respec-</p><p>tivas fontes, o que tem ocasionado erros graves atualmente.</p><p>O ambiente da coleta de dados também deve ser relatado, principal-</p><p>mente quando se trata de conclusões inferidas a partir de uma porção</p><p>representativa de um todo.</p><p>Uma pesquisa pode utilizar uma ou mais técnicas de coleta de da-</p><p>dos. A decisão será do pesquisador diante das necessidades identifica-</p><p>das na pesquisa.</p><p>A coleta de dados é parte fundamental de uma pesquisa, pois a</p><p>partir desse banco de dados, podemos realizar uma análise e ob-</p><p>termos informações de grande importância. E atualmente temos</p><p>a parceria com a tecnologia, que fornece diversas formas de or-</p><p>ganizar, controlar e agilizar a coleta de dados e sua análise. Pode-</p><p>mos ter equipamentos do tamanho da mão para reunirmos “gi-</p><p>gabytes” de informação! E o mais interessante é que a aplicação e</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>116</p><p>os resultados gerados trazem benefícios para diversas áreas, como</p><p>engenharia, saúde, social, econômica, entre outras. Para ampliar</p><p>seus horizontes sobre a relevância da coleta de dados e como os</p><p>seus resultados interferem em nossas vidas, separamos para você</p><p>dois vídeos de curta duração. O primeiro vídeo trata de uma re-</p><p>portagem sobre a dengue e a disponibilidade da tecnologia como</p><p>parceira na coleta de dados sobre esse problema de saúde pública.</p><p>O link é https://www.youtube.com/watch?v=vkopGkwYwrQ. O</p><p>segundo vídeo é também uma reportagem sobre a coleta de dados</p><p>do censo escolar para avaliar e melhorar o sistema de ensino do</p><p>país. O link é https://www.youtube.com/watch?v=gJXNf5HNi34.</p><p>Você pode observar, através desses vídeos, como a coleta de dados</p><p>faz parte da construção de pesquisas associadas a temas do nosso</p><p>cotidiano e também despertar para as oportunidades de pesquisa</p><p>no seu curso de graduação.</p><p>Fonte: http://www.freeimages.com/photo/584708</p><p>Segundo Lakatos e Marconi (2003), “técnica é um conjunto de pre-</p><p>ceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade</p><p>para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza</p><p>inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos”.</p><p>A escolha dessas técnicas deve ser um processo realizado com base</p><p>teórica e orientação. A técnica só fornece um bom resultado se a mesma</p><p>Metodologia Científica</p><p>117</p><p>for escolhida adequadamente para alcançar os objetivos da pesquisa e</p><p>também se a sua aplicação for viável.</p><p>O pesquisador precisa sempre es-</p><p>tar atento a esse propósito.</p><p>O planejamento e organização na coleta de dados são imprescindí-</p><p>veis para a qualidade e padronização dos dados. Podemos entender pa-</p><p>dronização como a uniformidade dos dados, ou seja, definir níveis de</p><p>controle de qualidade a serem mantidos. Uma das formas de favorecer</p><p>a padronização dos dados é estruturar um manual de procedimentos</p><p>para a instrumentalização do trabalho de campo e um plano para o</p><p>treinamento das equipes visando à padronização das atividades. Esse</p><p>guia também deve conter detalhes sobre as informações gerais sobre o</p><p>projeto, o detalhamento sobre a(as) equipe(s) de campo e suas respon-</p><p>sabilidades, os instrumentos de coleta de dados e as instruções para o</p><p>seu preenchimento e registro (MEDINA; OLIVEIRA, 1999). Há tam-</p><p>bém pesquisadores que controlam a uniformidade dos dados através</p><p>da verificação em campo no momento da coleta acompanhando todo o</p><p>processo ou com softwares.</p><p>O detalhamento e cuidado na coleta de dados estão associados à fi-</p><p>dedignidade dos dados e, posteriormente, aos resultados interpretados.</p><p>Você não pode esquecer que são os dados coletados que darão recur-</p><p>sos e informações para a análise do objeto pesquisado e as respostas às</p><p>questões de seu estudo.</p><p>É importante relatar que, na engenharia de produção, em muitas si-</p><p>tuações, utilizamos a estatística para coletar os dados. É uma poderosa</p><p>ferramenta, e, na disciplina de estatística, você aprenderá usar todo o</p><p>seu potencial.</p><p>A finalização da etapa de coleta de dados deve seguir o rigor meto-</p><p>dológico pré- definido no planejamento da pesquisa. “A coleta de dados</p><p>deve ser dada como concluída quando a quantidade de dados e informa-</p><p>ções reduzir e/ou quando se considera dados suficientes para endereçar</p><p>a questão da pesquisa” (MIGUEL, 2007). Para a finalização dessa etapa,</p><p>também são considerados outros aspectos pertinentes, como a viabili-</p><p>dade de permanência no local, os prazos assumidos, a infraestrutura</p><p>financeira, entre outros. É também recomendável que, ao longo dessa</p><p>etapa, os dados sejam armazenados com segurança e com mais de uma</p><p>cópia em diferentes lugares, principalmente tratando-se de hardwares.</p><p>A seguir, conheceremos e discutiremos as principais técnicas de co-</p><p>leta de dados nas pesquisas científicas e relevantes para a engenharia. As</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>118</p><p>técnicas de coleta de dados mais comuns nos trabalhos científicos são</p><p>realizadas através de leituras, documentação, entrevistas, questionários,</p><p>entre outras. Vamos conhecê-las!</p><p>Atividade 2</p><p>Atende ao Objetivo 3</p><p>1) O que a fase de coleta de dados representa no desenvolvimento de</p><p>uma pesquisa científica?</p><p>2) Entre as alternativas a seguir, qual a afirmação incorreta sobre as re-</p><p>comendações para a realização de uma coleta de dados?</p><p>a - ( ) A coleta de dados pode ser realizada através da estatística, que</p><p>possui uma forte presença na engenharia de produção.</p><p>b - ( ) A utilização de técnicas de coleta de dados deve ser uma atividade</p><p>bem planejada e organizada, pois esses aspectos interferem na qualida-</p><p>de e padronização dos dados.</p><p>c - ( ) Recomenda-se sempre fazer cópias de segurança dos dados, para</p><p>evitar possíveis perdas.</p><p>d - ( ) A única forma para padronizar os dados coletados por uma equi-</p><p>pe é através de controle com softwares em campo.</p><p>Resposta Comentada</p><p>1) Essa resposta pode ser elaborada de várias formas, mas ela precisa</p><p>conter a linha central que norteia:</p><p>- a fase de coleta de dados, que corresponde ao momento em que usa-</p><p>mos instrumentos específicos, principalmente as técnicas de pesquisa,</p><p>para reunir dados que serão analisados e interpretados conforme os ob-</p><p>jetivos do trabalho. É uma fase que exige bastante organização e proce-</p><p>dimentos sistemáticos, visando a garantir a conformidade dos dados.</p><p>Metodologia Científica</p><p>119</p><p>2)</p><p>d – incorreta (outra forma é um manual de procedimentos ou também</p><p>acompanhamento integral de todo o processo pelo pesquisador, entre</p><p>outras alternativas, dependendo do objetivo e precisão).</p><p>Procedimentos, técnicas e instrumentos para a</p><p>coleta de dados</p><p>São inúmeros os procedimentos e técnicas utilizados no desenvolvi-</p><p>mento de pesquisas. Apresentaremos aqui os mais utilizados no ramo</p><p>da engenharia.</p><p>PROCEDIMENTOS</p><p>TÉCNICOS</p><p>Pesquisa</p><p>Bibliográfica</p><p>Pesquisa</p><p>Documental</p><p>Pesquisa</p><p>Experimental</p><p>Estudo de Caso</p><p>Levantamento</p><p>Pesquisa-ação</p><p>Pesquisa</p><p>Ex-Post_Facto</p><p>Figura 5.3: Alguns dos procedimentos de coletas de dados mais usados na</p><p>Engenharia.</p><p>A</p><p>ut</p><p>or</p><p>ia</p><p>p</p><p>ró</p><p>p</p><p>ria</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>120</p><p>Pesquisa Bibliográfica</p><p>O primeiro procedimento que utilizamos em qualquer pesquisa é o</p><p>levantamento bibliográfico, para nos interarmos do assunto e identifi-</p><p>car possíveis caminhos por onde devemos seguir, além dos conceitos</p><p>clássicos. Esse procedimento já foi amplamente discutido na Aula 1, e</p><p>não cabe repetirmos essas informações aqui. Vale apenas relembrar que</p><p>um dos grandes desafios nos dias atuais é o volume de informação e a</p><p>credibilidade das fontes; por isso, o pesquisador deve focar nas palavras-</p><p>-chave da sua busca, como aprendemos na Aula 1, e também examinar a</p><p>origem dos dados, para verificar a confiabilidade da informação.</p><p>Pesquisa Documental</p><p>Muitas vezes confundida com a pesquisa bibliográfica é a pesquisa</p><p>documental, que trata da busca por informações, não em livros e artigos</p><p>científicos, mas em documentos originais. Oliveira (2007) argumenta</p><p>que a pesquisa documental “caracteriza-se pela busca de informações</p><p>em documentos que não receberam nenhum tratamento científico”. Do-</p><p>cumentos tais como relatórios técnicos ou não, fotografias, mapas, tabe-</p><p>las estatísticas, atas, ofícios, decretos e projetos de lei são considerados</p><p>fontes primárias e são comumente encontrados em repartições públicas,</p><p>centros de pesquisas, arquivos oficiais, entre outros. Podemos também</p><p>utilizar as fontes secundárias, que são matérias divulgadas pela impren-</p><p>sa em geral, e as obras literárias.</p><p>Lakatos e Marconi (2003) apresentam um quadro em que podemos</p><p>observar com mais compreensão o amplo universo da pesquisa docu-</p><p>mental a partir de três variáveis - fontes escritas ou não; fontes primárias</p><p>ou secundárias; contemporâneas ou retrospectivas.</p><p>Metodologia Científica</p><p>121</p><p>Figura 5.4: Fontes para a pesquisa documental.</p><p>Fonte: Lakatos e Marconi, (2003)</p><p>Pesquisa Experimental</p><p>Este tipo de pesquisa objetiva reproduzir determinado fenômeno</p><p>dentro de condições de controle preestabelecidas para observar as cau-</p><p>sas e os efeitos. A pesquisa experimental costuma ser muito utilizada</p><p>tanto na pesquisa básica quanto na pesquisa aplicada das áreas tec-</p><p>nológicas e biomédicas, principalmente quando se trata de pesquisas</p><p>explicativas. Ela também utiliza em determinadas condições, quan-</p><p>do necessário, aparelhos e instrumentos de precisão e medição, assim</p><p>como simulações e métodos matemáticos. “Essencialmente, a pesquisa</p><p>experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar</p><p>as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de</p><p>controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto”</p><p>(GIL, 2002). A pesquisa experimental também é usada para testar mate-</p><p>riais, criar protótipos, realizar modelagens e simulações (através de um</p><p>modelo que representa um sistema real para verificar as consequências</p><p>geradas por possíveis modificações).</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>122</p><p>O papel da observação</p><p>Uma parte significativa da pesquisa experimental se dá através da</p><p>observação. Segundo Lakatos e Marconi (2003), a observação é aplica-</p><p>da “[...] para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de</p><p>determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir,</p><p>mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar”.</p><p>A observação a partir da perspectiva científica precisa</p><p>conter um pla-</p><p>no de pesquisa com objetivos e procedimentos sistemáticos em relação</p><p>ao seu registro, ao seu controle e à sua validação. Na pesquisa científica,</p><p>há várias modalidades de observação; no entanto, vamos nos limitar a</p><p>quatro tipos de observação: estruturada, não estruturada, participante</p><p>e não participante.</p><p>A observação estruturada ou sistemática é reali-</p><p>zada dentro de condições controladas para obter</p><p>dados que respondam a metas pré-estabelecidas</p><p>(LAKATOS; MARCONI, 2003). Geralmente é</p><p>usada quando há necessidade de descrições</p><p>precisas dos fenômenos e, por isso, o pesquisa-</p><p>dor precisa eliminar a sua influência sobre o que</p><p>observar ou o que coletar. Podem ser utilizadas</p><p>as anotações, quadros, escalas, entre outros.</p><p>A observação não estruturada ou assistemática</p><p>é realizada de forma espontânea e livre, em que</p><p>o pesquisador não predetermina as perguntas di-</p><p>retas ou controles pré- fixados. Nessa técnica, o</p><p>pesquisador precisar estar atento aos fenômenos</p><p>e também é recomendável que ele tenha treina-</p><p>mento e/ou experiência para discernir o que deve</p><p>observar para recolher os dados.</p><p>A observação participante consiste na integração</p><p>do pesquisador com o fato observado junto aos</p><p>indivíduos. O pesquisador participa e tem contato</p><p>com as experiências do universo verificado para</p><p>o estudo. O grande desafio do observador é</p><p>manter a objetividade, devido às influências so-</p><p>fridas e exercidas no grupo. A inclusão no grupo</p><p>é uma forma de aproximação e de conhecimento</p><p>da intimidade do comportamento dos indivíduos,</p><p>para vivenciar as circunstâncias necessárias.</p><p>Na observação não participante, o pesquisador</p><p>é apenas um elemento sem exercer qualquer in-</p><p>fluência no sistema. Segundo Lakatos e Marconi</p><p>(2003) “[...], o pesquisador toma contato com a</p><p>comunidade, grupo ou realidade estudada, mas</p><p>sem integrar-se a ela; permanece de fora”.</p><p>Fonte: Elaboração própria, baseada em Lakatos e Marconi (2003)</p><p>Estudo de caso</p><p>Trata-se de um estudo profundo com poucos objetivos bem defini-</p><p>dos e sobre todas as características essenciais pertinentes de um caso</p><p>particular. O caso a ser estudado pode ser escolhido por ser uma si-</p><p>tuação-modelo, que pode ser generalizada para outros contextos, ou o</p><p>Metodologia Científica</p><p>123</p><p>contrário, justamente um caso excepcional, para entendermos o porquê</p><p>de não se encaixar num determinado padrão. O estudo de caso pode</p><p>englobar a observação direta dos acontecimentos, entrevistas e coleta</p><p>de dados. O estudo de caso é utilizado em diversas áreas de estudo.</p><p>Entrevistas</p><p>Por definição, a entrevista é uma interação dinâmica entre pessoas,</p><p>ou seja, uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas. No entan-</p><p>to, a entrevista possui um objetivo maior que apenas uma simples con-</p><p>versa. Os objetivos de uma entrevista podem ser descobrir as opiniões</p><p>e atitudes diante de fatos, percepção sobre informações, averiguar fatos,</p><p>entre outros.</p><p>A entrevista é uma técnica de coleta de dados muito utilizada por</p><p>pesquisadores nas ciências humanas, podendo ser aplicada em todas as</p><p>áreas, principalmente quando há dificuldade em encontrar dados atra-</p><p>vés de registros e fontes documentais. O registro da entrevista, que pode</p><p>ser por escrito, gravado em áudio ou ainda em vídeo, passa a ser uma</p><p>fonte primária de informações.</p><p>Conforme Lakatos e Marconi (2003), existem três tipos de entrevis-</p><p>tas que são utilizadas de acordo com o escopo do entrevistador: padro-</p><p>nizada ou estruturada, despadronizada ou não estruturada e painel.</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>124</p><p>ENTREVISTA PADRONIZADA OU ESTRUTURADA</p><p>• Perguntas previamente definidas como num</p><p>roteiro</p><p>• O entrevistador não tem liberdade de alterar,</p><p>adaptar ou aumentar o número de perguntas em</p><p>seu programa.</p><p>• Geralmente, é feita com pessoas escolhidas de</p><p>acordo com uma estratégia associada ao plano</p><p>da pesquisa.</p><p>• Por ter perguntas padronizadas, é mais fácil</p><p>comparar as respostas dos diferentes.</p><p>• Apropriada quando há um grande número de</p><p>entrevistados e, principalmente, quando há uma</p><p>equipe de entrevistadores.</p><p>ENTREVISTA DESPADRONIZADA OU NÃO</p><p>ESTRUTURADA</p><p>• Ausência de roteiro</p><p>• Permite maior liberdade ao entrevistador, que</p><p>pode desdobrar uma questão mais profundamen-</p><p>te, conforme o andamento da entrevista.</p><p>• Costuma ter mais perguntas abertas e pode</p><p>ser conduzida de forma mais informal do que a</p><p>estruturada.</p><p>• Subcategorias dentro das entrevistas despadro-</p><p>nizadas</p><p>• Entrevista focalizada: realizada com indivíduos</p><p>que viveram uma experiência específica</p><p>• Entrevista clínica: estuda os motivos e a condu-</p><p>ta das pessoas</p><p>• Entrevista não dirigida: o entrevistador é livre</p><p>para improvisar e motivar o entrevistado a deter-</p><p>minado assunto, porém sem constrangê-lo. Essa</p><p>pesquisa tenta captar impressões das pessoas</p><p>sobre determinado assunto de forma espontânea,</p><p>sem que elas sejam influenciadas.</p><p>ENTREVISTA PAINEL</p><p>• Pode ser entendida como um desdobramento</p><p>da entrevista estruturada</p><p>• As perguntas são repetidas, de tempos em</p><p>tempos, às mesmas pessoas, para acompanhar a</p><p>evolução das opiniões ao longo do tempo</p><p>• A redação das perguntas e o intervalo entre as</p><p>entrevistas devem ser cuidadosamente definidos,</p><p>a fim de evitar respostas “viciadas” com essas</p><p>repetições.</p><p>É importante ressaltar as vantagens de utilizar a entrevista, como,</p><p>por exemplo, a aplicação em qualquer segmento da população e a opor-</p><p>tunidade de avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser ob-</p><p>servado naquilo que diz e como diz: registro de reações, gestos, etc.;</p><p>contudo, também há desvantagens, como dificuldade de expressão e</p><p>comunicação entre as partes (do entrevistador e do respondente), ocu-</p><p>pação de muito tempo e dificuldade de ser realizada.</p><p>Para o sucesso de uma entrevista enquanto instrumento de pesquisa,</p><p>são necessários alguns cuidados na sua preparação e condução:</p><p>• conhecimento preliminar sobre o entrevistado ou as características</p><p>requeridas;</p><p>• organização de tempo e local para a entrevista;</p><p>Metodologia Científica</p><p>125</p><p>• garantia de sigilo sobre a identificação do respondente, quando isso</p><p>for necessário para que ele se sinta mais à vontade para responder às</p><p>perguntas francamente, principalmente quando se trata de um as-</p><p>sunto sensível;</p><p>• postura amigável do entrevistador;</p><p>• apresentação e justificativa da pesquisa, por consequência, a necessi-</p><p>dade de contribuição do respondente;</p><p>• registro das respostas (assim como postura, gestos e atitudes) na</p><p>hora da entrevista, através de anotações ou um gravador;</p><p>• disponibilizar aos entrevistados os resultados da pesquisa.</p><p>Levantamento ou pesquisa survey</p><p>Semelhante à entrevista, um survey visa a identificar e analisar carac-</p><p>terísticas, comportamentos e ações relacionadas ao objetivo do estudo.</p><p>Esse tipo de pesquisa pode ser conduzido ao vivo ou utilizando algu-</p><p>ma mídia; tradicionalmente, questionários eram enviados pelo correio;</p><p>hoje em dia, é muito comum utilizar-se a internet para esse fim. Os da-</p><p>dos costumam ser analisados de forma descritiva, para que se chegue a</p><p>generalizações sobre determinados grupos.</p><p>Questionário como instrumento de pesquisa</p><p>O uso de questionários configura uma forma prática e organizada</p><p>de coletar dados para uma pesquisa, independentemente da presença</p><p>do entrevistador, e pode ser distribuído aos respondentes pessoalmente,</p><p>por correio, ou, mais comumente hoje em dia, pela internet. O questio-</p><p>nário pode ser entendido como um conjunto de questões orientadas a</p><p>pessoas com determinadas características, ou não, para conseguir dados</p><p>e informações sobre diversos assuntos (GIL, 2008).</p><p>A construção de um questionário deve ser realizada após uma pro-</p><p>funda reflexão sobre os objetivos da pesquisa, já que os mesmos serão</p><p>transformados em questões específicas. É importante ressaltar a nature-</p><p>za do questionário, que deve ser sempre impessoal, para manter a uni-</p><p>formidade dos dados, independentemente das situações. A precisão e a</p><p>observância de normas</p><p>também devem ser consideradas na elaboração</p><p>de um questionário, para consolidar sua eficácia e validade (LAKATOS;</p><p>MARCONI, 2003). A forma, a sequência, a extensão das perguntas e o</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>126</p><p>grau em que elas estão relacionadas com os objetivos geral e específicos</p><p>da pesquisa podem afetar a qualidade e a confiabilidade das respostas.</p><p>Gil (2008) define três tipos de perguntas quanto à forma: questões fe-</p><p>chadas, questões abertas e questões dependentes.</p><p>As questões fechadas são aquelas com um número limitado de res-</p><p>postas. Geralmente, é apresentada uma lista de alternativas para que a</p><p>pessoa escolha a opção que melhor representa sua opinião ou situação.</p><p>Os questionários com questões fechadas são mais fáceis de processar,</p><p>analisar, e fornecem uma uniformidade às respostas, porém implicam</p><p>riscos de não conterem as alternativas significativas para a pesquisa</p><p>(GIL, 2008). Exemplos:</p><p>Você já possui algum curso de graduação?</p><p>( ) Sim</p><p>( ) Não</p><p>Da lista de atividades a seguir, o que você mais</p><p>gosta de fazer com o seu tempo livre em sua</p><p>residência?</p><p>( ) Ficar navegando na internet.</p><p>( ) Ler um livro.</p><p>( ) Dormir.</p><p>( ) Fazer exercícios físicos.</p><p>( ) Ver televisão.</p><p>É favorável à política de cotas nas universidades</p><p>públicas?</p><p>( ) Concordo plenamente.</p><p>( ) Concordo.</p><p>( ) Não tenho opinião.</p><p>( ) Discordo.</p><p>( ) Discordo plenamente.</p><p>As questões abertas não restringem as respostas do informante. Ele</p><p>pode expressar suas opiniões livremente e usar sua própria linguagem</p><p>(LAKATOS; MARCONI, 2003). No aspecto da investigação, as respos-</p><p>tas abertas possibilitam muitas perspectivas interessantes, porém há o</p><p>inconveniente de não necessariamente conter informações relevantes</p><p>para o foco da pesquisa. Além disso, pelas respostas não serem padroni-</p><p>zadas, a análise e a interpretação para os resultados desse tipo de questão</p><p>exigem uma maior dedicação e um cronograma mais longo. Exemplos:</p><p>Metodologia Científica</p><p>127</p><p>1) Em sua opinião, por que a violência está crescendo no Brasil?</p><p>2) Qual é a sua opinião sobre a lei do desarmamento no Brasil?</p><p>Já as questões dependentes são aquelas que estão relacionas com a</p><p>questão anterior e dentro de algum contexto. Segundo Gil (2008), “nes-</p><p>se caso, a pesquisa referente à opinião é dependente em relação à outra”.</p><p>Vamos ver os exemplos:</p><p>1) Você pratica atividade física?</p><p>( ) Sim (responda à questão número 2)</p><p>( ) Não (responda à questão número 3)</p><p>2) Qual tipo de atividade física?</p><p>( ) Musculação</p><p>( ) Corrida ou caminhada</p><p>( ) Natação</p><p>( ) Ciclismo</p><p>( ) Outro</p><p>3) Você já praticou atividade física</p><p>no passado?</p><p>( ) Sim</p><p>( ) Não</p><p>Recomendações para a elaboração de um questionário:</p><p>• Evite que um questionário seja longo e cansativo;</p><p>• Pergunte dados pessoais, como nome e número de documentos;</p><p>• Ordene as perguntas de forma que, no início, estejam as questões</p><p>mais gerais e mais fáceis, e vá gradualmente aumentando o grau de</p><p>complexidade, deixando as questões mais específicas para o final;</p><p>• Tome cuidado com o tratamento gráfico do questionário, para que</p><p>ele seja claro e motivante para o respondente;</p><p>• Dê instruções claras para preenchimento do questionário logo no</p><p>início;</p><p>• Informe ao respondente sobre o objetivo da pesquisa e a organização</p><p>responsável pelo levantamento de dados na abertura do questionário.</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>128</p><p>Essa técnica constitui muitas vantagens, como o baixo custo, a pre-</p><p>servação da identidade do indivíduo; a ausência da influência do in-</p><p>dagador pode abranger variados temas em diferentes níveis, alcança</p><p>grandes áreas geográficas, o respondente se sente mais confortável para</p><p>escolher a hora mais conveniente para preencher o questionário, entre</p><p>outras. No entanto, é uma técnica que também apresenta limitações,</p><p>como o baixo percentual de questionários devolvidos preenchidos,</p><p>aproximadamente 25% (Lakatos e Marconi, 2003), exclui pessoas que</p><p>não possuem alfabetização, não possui auxílio para elucidar dúvidas so-</p><p>bre questões mal compreendidas, os itens podem ter significados dife-</p><p>rentes para cada indivíduo, fornecendo resultados críticos em relação à</p><p>objetividade (Gil, 2008).</p><p>Após a elaboração do questionário, recomenda-se que o mesmo seja</p><p>testado em uma pequena amostra, para evidenciar possíveis falhas e in-</p><p>consistências nas perguntas e nos prováveis resultados. Posterior à sua</p><p>análise, o pesquisador decidirá por uma reformulação do questionário,</p><p>caso julgue necessário.</p><p>Para Lakatos e Marconi (2003), testar o questionário apresenta três</p><p>elementos pertinentes para sua avaliação.</p><p>a) Fidedignidade – os resultados sempre serão os mesmos, indepen-</p><p>dentemente de quem aplique;</p><p>b) Validade - os dados obtidos estão em conformidade com os objeti-</p><p>vos da pesquisa;</p><p>c) Operatividade – observar se o vocabulário está acessível e o signifi-</p><p>cado compreensível.</p><p>Pesquisa-ação</p><p>Contempla um estudo associado a uma específica ação ou a solução</p><p>de um problema coletivo, geralmente em contato direto com o campo</p><p>de investigação. Os pesquisadores e participantes representativos da si-</p><p>tuação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou par-</p><p>ticipativo, coletando informações através de diferentes técnicas, porém</p><p>o meio mais comum é a entrevista (THIOLLENT, 2002). É um tipo de</p><p>pesquisa social de base empírica.</p><p>Metodologia Científica</p><p>129</p><p>Pesquisa ex-post-facto</p><p>O nome vem do latim e quer dizer “a partir do fato passado” ou “de-</p><p>pois da ação”. Nessa pesquisa, o experimento se realiza depois dos fatos.</p><p>Os dados são coletados após a ocorrência dos eventos e, geralmente,</p><p>é utilizada quando há impossibilidade de pesquisa experimental. Isso</p><p>ocorre, pois nem sempre é possível recriar o sistema para observar a</p><p>relação de todas as variáveis ou simplesmente o pesquisador não tem</p><p>controle sobre o fenômeno e se torna apenas um observador. É um tipo</p><p>de pesquisa muito usado na área de saúde – por exemplo, num caso-</p><p>-controle para associação de doenças infecciosas – ou na análise do im-</p><p>pacto de uma nova fábrica em uma cidade, medindo tanto o desenvol-</p><p>vimento da região quanto os problemas decorrentes dessa implantação.</p><p>Atividade 3</p><p>Atende ao Objetivo 2</p><p>Selecione as técnicas e instrumentos de investigação mais adequados</p><p>para cada uma das pesquisas abaixo.</p><p>a) O que motiva o aluno de graduação a distância do Cederj?</p><p>b) Qual é o impacto das chuvas na economia dos municípios do estado</p><p>do Rio de Janeiro?</p><p>c) Quais as propriedades do novo polímero termofixo Hydro?</p><p>Resposta Comentada</p><p>a) Para essa investigação, são adequados: pesquisa bibliográfica (para</p><p>levantamento do que já foi estudado na parte comportamental desse</p><p>assunto), estudos de caso, entrevistas, questionários, observação direta</p><p>dos individuas estudados (alunos) e, dependendo dos recursos disponí-</p><p>veis, até uma pesquisa experimental, com grupo de controle.</p><p>b) Pesquisa documental (estatísticas tanto do índice pluvial, quando</p><p>da economia dos municípios do estado do Rio de Janeiro), pesquisa bi-</p><p>bliográfica (para conhecer os métodos já utilizados nessa área), pesqui-</p><p>sa ex-post-facto.</p><p>c) Principalmente, a pesquisa experimental (testes e observação</p><p>dos fenômenos com o material, assim como a pesquisa bibliográfica</p><p>(conhecer os polímeros e comparar os resultados dos trabalhos cientí-</p><p>ficos já existentes).</p><p>Que tal assistir a um filme que mostra as fases de uma pesquisa</p><p>científica e a determinação em coletar dados e analisá-los para</p><p>salvar a vida de um ser humano? São os principais atrativos do</p><p>filme O Óleo de Lorenzo (ou no original: Lorenzo´s Oil), basea-</p><p>do em fatos reais, o filme conta a história do menino Lorenzo e a</p><p>busca determinada de seus pais pela descoberta de cura para os</p><p>sintomas que aparecem no menino. A medicina tradicional não</p><p>oferece resposta; então, por conta própria, os pais iniciam uma</p><p>pesquisa profunda sobre o tema. Começam com</p><p>a pesquisa bi-</p><p>bliográfica e aprofundam através de experimentos.</p><p>Direção: George Miller.</p><p>Elenco: Peter Ustinov, Susan Sarandon, Kathleen Wilhoite, Mar-</p><p>go Martindale, entre outros.</p><p>EUA, 1993.</p><p>Conclusão</p><p>A coleta de dados é uma fase imprescindível da pesquisa, pois, atra-</p><p>vés de técnicas definidas, conseguimos informações essenciais para o</p><p>desenvolvimento do estudo e seus resultados. O planejamento e a con-</p><p>duta durante a realização da coleta de dados interferem diretamente na</p><p>precisão dos dados e, por consequência, nos resultados da pesquisa. É</p><p>importante ressaltar que a escolha da técnica de coleta de dados deve es-</p><p>tar alinhada aos objetivos do estudo. Diferentes tipos de pesquisa aten-</p><p>dem a diferentes objetivos e orientam a escolha dos instrumentos de</p><p>investigação mais adequados.</p><p>Metodologia Científica</p><p>131</p><p>Agora, você já conhece todas as vertentes da pesquisa científica e</p><p>pode fazer uma revisão das últimas aulas para obter uma perspectiva</p><p>ampla de todos os conceitos fundamentais da metodologia científica!</p><p>Atividade Final</p><p>Atende a todos os Objetivos</p><p>1) Classifique o tipo de pesquisa em cada um dos exemplos quanto a</p><p>procedimentos técnicos e recomende o(s) tipo(s) de coleta de dados.</p><p>a – Através de um estudo realizado em 1997, o IBGE apontou a existência</p><p>de 31.123 domicílios sem energia elétrica no Estado de Santa Catarina.</p><p>Pesquisa: __________________________</p><p>Coleta de dados: __________________________</p><p>b – Um estudo para verificar o processo de erosão sofrido por um guin-</p><p>daste que ficou exposto às ações de intempéries ao longo do tempo.</p><p>Pesquisa:________________________</p><p>Coleta de dados:________________________</p><p>c - Analisar os efeitos colaterais do uso de um determinado medicamen-</p><p>to em crianças de até 8 anos.</p><p>Pesquisa: _____________________</p><p>Coleta de dados: ________________________</p><p>d – Um estudo sobre uma marca líder mundial de refrigerante que tem</p><p>por objetivo identificar os fatores que conduziram sua posição atual no</p><p>setor de bebidas e sua relação com marcas de refrigerantes brasileiros.</p><p>Pesquisa: ______________________</p><p>Coleta de dados: _____________________</p><p>Aula 5 • Instrumentos de coleta de dados e classificação dos tipos de pesquisa</p><p>132</p><p>Resposta Comentada</p><p>a – Pesquisa: levantamento ou survey / Coleta: questionário</p><p>b – Pesquisa: Ex-Post-Facto / Coleta: documental</p><p>c – Pesquisa: experimental / Coleta: documental e observação</p><p>d – Pesquisa: Estudo de caso / Coleta: documental, observação, entre-</p><p>vista, questionário</p><p>Resumo</p><p>Na Aula 5, aprendemos que a coleta de dados tem um grande impac-</p><p>to nos resultados de um estudo e existem recomendações importantes</p><p>para a sua realização. Trabalhar com as técnicas de coleta precisa de</p><p>planejamento e discernimento quanto à sua utilização para obtermos</p><p>dados expressivos para o estudo. A pesquisa é classificada de acordo</p><p>com seus usos, para que o pesquisador possa delimitar seu estudo e</p><p>prever seus possíveis resultados. A classificação da pesquisa também</p><p>serve para informar o critério usado para o desenvolvimento do estudo</p><p>e suas diretrizes.</p><p>Informações sobre a próxima aula</p><p>Na Aula 6, você conhecerá os diferentes tipos de trabalhos científicos e</p><p>suas características. Você também conhecerá as orientações principais</p><p>de como fazer esses trabalhos, que farão parte da sua vida acadêmica.</p><p>Até lá!</p>