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Marlise There Dias Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Livro-texto EaD Natal/RN 2010 D541c Dias, Marlise There. Construção do conhecimento e metodologia da pesquisa / Marlise There Dias. – Natal: [s.n.], 2010. 256p. : il. ; 20 cm 1. Metodologia científi ca. 2. Metodologia da pesquisa.I.Título. RN/UnP/BCSF CDU 001.8 DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Vídeos Bruna Werner Gabriel Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Freire Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de Sousa Giselly Jordan Virginia Portella Marlise There Dias Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Livro-texto EaD Natal/RN 2010 EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Revisão Gramatical e Linguagem em EaD Simone Regina Dias Diagramação Alexandre Alves de Freitas Noronha Ilustrações Alexandre Beck Coordenação de Produção de Recursos Didáticos da UnP Michelle Cristine Mazzetto Betti Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno MARLISE THERE DIAS Sou graduada em Ciência da Computação pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (1997). Em 2003, recebi o grau de especialista em Desenvolvimento de Software para Web também pela UNIVALI. Realizei meu mestrado em Ciência da Computação no ano de 2009 na UNIVALI. Desde 1999, atuo como docente na Universidade do Vale do Itajaí, em disciplinas da área de ciência da computação e relacionadas ao conhecimento. Durante este período, já ministrei disciplinas específicas da computação, fui professora da disciplina de estágio no curso de Administração e também de metodologia em vários cursos presenciais. Atuei como docente também na disciplina de metodologia da pesquisa no curso de administração - modalidade a distância - dentre várias outras disciplinas nesta modalidade. Atualmente, sou docente nas disciplinas de Metodologia da Pesquisa (curso de Ciências Contábeis) e Administração de Sistemas de Informação (curso de Administração). Na modalidade de ensino a distância, atuo como professora responsável pelos estágios nos cursos Ciências Contábeis e Administração, sendo também docente da disciplina de Estágio. CO N H EC EN D O O A U TO R CO N H EC EN D O O A U TO R CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E METODOLOGIA DA PESQUISA Para tratar sobre esta disciplina, começo questionando você sobre o que deseja ao ler este material. O que você buscou quando se matriculou em um curso superior? Acredito que, rapidamente, você pensou em respostas como: aprender, conhecer, descobrir, e se não foram exatamente estas palavras, pensou em outras semelhantes. Afinal, se considerarmos nossas vidas, veremos que estas são palavras presentes durante todo o tempo em nossa casa, com nossa família, no trabalho e ainda mais na academia. Isso mesmo, academia. E o significado é diferente daquele que, num primeiro momento, pode ter passado pela sua mente. Pensar em meio acadêmico, em academia, nos remete ao conhecimento e à pesquisa. Um lugar em que buscamos, queremos conhecer coisas novas, andar por caminhos não percorridos e alçar novas descobertas. Chamo sua atenção para não pensar em academia apenas pelo fato de estar matriculado em um curso superior. Você será considerado um acadêmico de verdade se conseguir, ao longo dos anos de estudo, colher frutos que lhe farão um profissional no curso superior escolhido. Acredito que, neste momento, tenha sentido um “frio na barriga” e esteja questionando a si próprio se conseguirá obter êxito nesta empreitada. Pode até estar com vontade de questionar: “mas professora, como eu consigo isto? Será que consigo?” Sim, isto é totalmente possível e ocorrerá se você, durante os anos de curso superior, se empenhar para ter um contato muito próximo com o máximo de conhecimento. Então, lembre-se que você, ao ingressar em um curso superior e almejar um título de graduação, se coloca na posição de estudante. E o que significa ser um estudante do ensino superior? Facilmente, estou ouvindo: “essa é fácil, professora – é alguém que estuda para obter o referido título”. Muito bem! Resposta correta! Mas não pode ser uma resposta vazia, é preciso que você compreenda realmente o significado dela e é por isso que falaremos sobre a “construção do conhecimento e metodologia da pesquisa”. CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A CO N H EC EN D O A D IS CI PL IN A Esta disciplina mostrará a você o que significa ser um estudante de um curso superior, um acadêmico. Você perceberá que é relevante estar sempre buscando conhecimento e que também é possível, no meio acadêmico, produzi-lo. Para tanto, estudaremos nesta disciplina as formas pelas quais você pode fazer isto. Veremos a origem da busca pelo conhecimento, partindo de conceitos básicos de filosofia à identificação da natureza do conhecimento. Compreender conceitos relacionados à ciência e pesquisa e conhecer as formas de estudo e leitura e de divulgação de conhecimento auxiliarão você no processo de investigação e descoberta durante todo o curso superior. Agora, convido você a mergulhar neste oceano de descobertas e vislumbrar as mais variadas formas de conhecer que serão apresentadas durante os capítulos desta disciplina. CURSO: NEaD - DISCIPLINAS DE GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E METODOLOGIA DA PESQUISA PROF. AUTOR: MARLISE THERE DIAS MODALIDADE: A DISTÂNCIA 1 IDENTIFICAÇÃO A filosofia, o conhecimento e as ciências. Epistemologia da pesquisa. Fundamentos metodológicos de pesquisa. Metodologias de pesquisa. Métodos de pesquisa. Técnicas de pesquisa. Estratégias metodológicas. Projeto de pesquisa. 2 EMENTA • Compreender a natureza do conhecimento científico como objeto da pesquisa científica. • Compreender os procedimentos da metodologia da pesquisa para elaboração de trabalhos técnico-científicos que vislumbrem a pesquisa para produção de conhecimento científico na referida área de estudo. 3 OBJETIVOS • Competências: ao final da disciplina, o aluno deve ser capaz de compreender os conceitos relacionados à ciência, conhecimento e pesquisa; reconhecer os diferentes tipos de trabalhos acadêmico-científicos e sua estrutura; desenvolver trabalhos acadêmico-científicos; compreender e utilizar técnicas apresentadas buscando leitura proveitosa de referências; reconhecer fontes de pesquisa adequadas; identificar os diferentes tipos de métodos e pesquisas existentes; aplicar os conceitos desenvolvendo um projeto de pesquisa. • Habilidades: desenvolver trabalhos acadêmico-científicos e projetode pesquisa de acordo com a estrutura apresentada. 4 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS PL A N O D E EN SI N O PL A N O D E EN SI N O O aluno deve ser despertado para atividades de leitura e pesquisa em busca do conhecimento científico, levando-se em conta uma postura ética. 5 VALORES E ATITUDES UNIDADE I • Noções de filosofia e aspectos da filosofia contemporânea. • Relação entre a construção do conhecimento e as ciências. • Epistemologia da pesquisa: fundamentos filosóficos aplicados à pesquisa e à construção do conhecimento. • Metodologias de pesquisa: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa suas técnicas e recursos. UNIDADE II • Estratégias metodológicas: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de opinião, o estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa-intervenção, o trabalho de campo (a observação participante, o questionário, a entrevista, diário de campo). • Trabalhos científicos. Memorial. Monografia. TCC. Artigos. • As fontes de pesquisa. Normas da ABNT na elaboração de trabalhos científicos, resumos, resenhas, citações e referências. • Projeto de pesquisa: estrutura e finalidade. Introdução. Objeto de estudo. Problema de pesquisa. Metodologia. Referencial teórico. Cronograma de pesquisa. 6 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS • Utilização de material didático impresso (livro-texto). • Interação através do Ambiente Virtual de Aprendizagem. • Utilização de material complementar (sugestão de filmes, livros, sites, músicas, ou outro meio adequado à realidade do aluno). 7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS • Pontualidade e assiduidade na entrega das atividades propostas no material didático impresso (livro-texto) e solicitadas pelo tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem. • Realização das avaliações presenciais obrigatórias. 8 ATIVIDADES DISCENTES A avaliação ocorrerá em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem considerando: • leitura do de material didático impresso (livro-texto); • interação com tutor através do Ambiente Virtual de Aprendizagem; • realização de atividades propostas no material didático impresso (livro- texto) e/ou pelo tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem; • aprofundamento de temas em pesquisa extra material didático impresso (livro-texto). 9 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO AZEVEDO, I. B. de. O prazer da produção científica: descubra como é fácil e agradável elaborar trabalhos acadêmicos. 11. ed. São Paulo: Hagnos, 2001. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2007. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003. 10.1 BIBLIOGRAFIA BÁSICA 10 BIBLIOGRAFIA MARCONI, M. A.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 10.2 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 10.3 BIBLIOGRAFIA INTERNET Associação Brasileira de Normas Técnicas: http://www.abnt.org.br/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): http://www.cnpq.br/ Capítulo 1 - Noções de fi losofi a e aspectos da fi losofi a contemporânea ........................................................................................... 17 1.1 Contextualizando .......................................................................................................... 17 1.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 17 1.2.1 Noções de fi losofi a ............................................................................................. 17 Origem ..................................................................................................................................................19 Períodos da fi losofi a grega ............................................................................................................20 1.2.2 O que é fi losofi a? ................................................................................................. 25 1.2.3 Filosofi a contemporânea ................................................................................. 28 1.2.4 A razão e a verdade ............................................................................................ 36 Razão .....................................................................................................................................................36 Verdade .................................................................................................................................................40 1.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 42 1.3.1 Resolvendo ............................................................................................................ 43 1.4 Para saber mais .............................................................................................................. 44 1.5 Relembrando .................................................................................................................. 45 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 46 Onde encontrar ..................................................................................................................... 47 Capítulo 2 - A ciência e a pesquisa ............................................................. 49 2.1 Contextualizando .......................................................................................................... 49 2.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 49 2.2.1 Natureza do conhecimento ............................................................................ 49 Conhecimento empírico (vulgar ou de conhecimento do povo) ....................................51 Conhecimento fi losófi co ................................................................................................................53 Conhecimento teológico ...............................................................................................................54 Conhecimento científi co ................................................................................................................55 2.2.2 A ciência e a fi losofi a .......................................................................................... 57 Classifi cação das ciências ...............................................................................................................61 2.2.3 Noções gerais sobre pesquisa ........................................................................ 66 Áreas de pesquisa .............................................................................................................................70 2.2.4 Etapas da pesquisa ............................................................................................. 72 2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 73 2.3.1 Resolvendo ............................................................................................................ 74 2.4 Para saber mais .............................................................................................................. 75 2.5 Relembrando .................................................................................................................. 75 2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 76 Onde encontrar ..................................................................................................................... 77 Capítulo 3 - Métodos de pesquisa .............................................................79 3.1 Contextualizando .......................................................................................................... 79 3.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 80 3.2.1 Métodos de pesquisa ........................................................................................ 80 3.2.2 Relevância do método ...................................................................................... 88 3.2.3 Métodos científi co e racional ......................................................................... 91 3.2.4 Métodos dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo e dialético ........... 92 3.2.5 Métodos experimental, observacional, estatístico e comparativo ... 97 3.3 Aplicando a teoria na prática ...................................................................................101 SU M Á RI O SU M Á RI O 3.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................101 3.4 Para saber mais .....................................................................................................................................102 3.5 Relembrando .........................................................................................................................................103 3.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................104 Onde encontrar ............................................................................................................................................105 Capítulo 4 - Pesquisa ....................................................................................................107 4.1 Contextualizando .................................................................................................................................107 4.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................108 4.2.1 Pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa: origem, características e recursos .........................................................................................................108 4.2.2 Níveis de pesquisa .....................................................................................................................112 4.2.3 Estratégias ou delineamentos de pesquisa ......................................................................116 Pesquisa bibliográfi ca .................................................................................................................................................117 Pesquisa de opinião ....................................................................................................................................................119 Pesquisa-ação ................................................................................................................................................................119 Pesquisa-intervenção .................................................................................................................................................120 Estudo de caso ..............................................................................................................................................................121 Trabalho de campo .....................................................................................................................................................121 4.2.4 Métodos de coleta de dados .................................................................................................123 Observação participante ...........................................................................................................................................123 Entrevista ........................................................................................................................................................................125 Questionário e formulário .........................................................................................................................................127 Diário de campo ...........................................................................................................................................................129 4.2.5 Análise de dados ........................................................................................................................129 Análise estatística .........................................................................................................................................................129 Análise de conteúdo ...................................................................................................................................................130 Análise de discurso ......................................................................................................................................................130 Análise qualitativa .......................................................................................................................................................131 4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................131 4.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................132 4.4 Para saber mais .....................................................................................................................................133 4.5 Relembrando .........................................................................................................................................133 4.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................134 Onde encontrar ............................................................................................................................................136 Capítulo 5 - Estudo e leitura .........................................................................................137 5.1 Contextualizando .................................................................................................................................137 5.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................138 5.2.1 Fontes de pesquisa ....................................................................................................................138 5.2.2 Resumos ........................................................................................................................................148 5.2.3 Resenhas .......................................................................................................................................150 5.2.4 Fichamento ..................................................................................................................................153 5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................157 5.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................159 5.4 Para saber mais .....................................................................................................................................160 5.5 Relembrando .........................................................................................................................................162 5.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................162Onde encontrar ............................................................................................................................................165 Capítulo 6 - Trabalhos acadêmico-científi cos .............................................................167 6.1 Contextualizando .................................................................................................................................167 6.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................168 6.2.1 Trabalhos científi cos ..................................................................................................................168 6.2.2 Memorial .......................................................................................................................................173 6.2.3 Monografi a ...................................................................................................................................174 6.2.4 TCC ...................................................................................................................................................179 6.2.5 Dissertação ...................................................................................................................................180 6.2.6 Tese ..................................................................................................................................................182 6.2.7 Artigo .............................................................................................................................................184 6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................188 6.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................189 6.4 Para saber mais .....................................................................................................................................190 6.5 Relembrando .........................................................................................................................................192 6.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................193 Onde encontrar ............................................................................................................................................195 Capítulo 7 - Apresentação de trabalhos acadêmico-científi cos ................................197 7.1 Contextualizando .................................................................................................................................197 7.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................198 7.2.1 Estrutura de trabalhos acadêmico-científi cos .................................................................198 7.2.2 Citações .........................................................................................................................................210 7.2.3 Referências ...................................................................................................................................214 7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................221 7.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................222 7.4 Para saber mais .....................................................................................................................................222 7.5 Relembrando .........................................................................................................................................223 7.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................223 Onde encontrar ............................................................................................................................................224 Capítulo 8 - Projeto de pesquisa ..................................................................................225 8.1 Contextualizando .................................................................................................................................225 8.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................226 8.2.1 Estrutura e fi nalidade ...............................................................................................................226 8.2.2 Introdução: tema, problema de pesquisa, objetivo de estudo, justifi cativa ........230 8.2.3 Metodologia da pesquisa .......................................................................................................237 8.2.4 Referencial teórico .....................................................................................................................242 8.2.5 Orçamento e cronograma de pesquisa .............................................................................244 8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................246 8.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................247 8.4 Para saber mais .....................................................................................................................................248 8.5 Relembrando .........................................................................................................................................249 8.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................250 Onde encontrar ............................................................................................................................................252 Referências .....................................................................................................................................................253 17Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa 1.1 Contextualizando Conhecer a origem do que estudaremos nos permite uma melhor visualização para o aprendizado, fazendo que estejamos situados no conteúdo. Este capítulo ajudará na compreensão de como chegamos a pensar em conhecer algo, a nos intrigar com o que é apresentado. Você verificará que o ser humano pode passar de um estado em que simplesmente recebe informações para uma posição de questionador. O texto mostrará que, quando você passa a exigir maiores explicações a respeito de fatos e acontecimentos, está na situação de alguém em busca da verdade ou em busca de questioná-la. O capítulo 1 apresentará a você noções de filosofia e um pouco da história desta área tão intrigante e interessante, que revelou os maiores pensadores da história, inclusive de tempo atuais. Você perceberá o quanto os filósofos questionaram a sociedade, o que era imposto ao ser humano, sem aceitar tudo o que lhes era dito. Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de definir filosofia, conheça sua origem, alguns filósofos e, principalmente, consiga visualizar porque este assunto é apresentado nesta disciplina. 1.2 Conhecendo a teoria 1.2.1 Noções de fi losofi a Se você é daqueles que, quando ouve falar que determinado sujeito é filósofo, já faz uma cara insinuante e acha que se trata de algum louco, NOÇÕES DE FILOSOFIA E ASPECTOSDA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA CAPÍTULO 11 Capítulo 1 18 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa este tópico pretende mostrar o que realmente pretende a filosofia. Os filósofos são, muitas vezes, estigmatizados como humanos que escrevem e falam coisas que não são compreendidas por outros de sua espécie, ou que estariam sempre fora da realidade. Esta atitude preconceituosa e de julgamento faz com que muitos estudantes não se sintam à vontade quando ouvem falar sobre tal área de conhecimento. Porém, pretendo mostrar a você o quão relevante são os conceitos da filosofia para sua vida acadêmica. Pensando bem, todos nós filosofamos, pois estamos sempre tentando dar sentido às coisas. De acordo com os pensamentos de Gramsci (1978, apud ARANHA e MARTINS, 1993, p. 74), “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal”. As escolhas que fazemos em nosso cotidiano fazem parte de nossa filosofia de vida, a forma como nos alimentamos, como fomos educados e educamos, a nossa rotina, etc. Durante nosso desenvolvimento, acabamos por nos acomodar em conhecimentos que nos são apresentados facilmente. Algumas atividades de nossa rotina são realizadas de maneira tão automática que nem pensamos em questionar o porquê de estarmos realizando daquela forma. Chauí (2003) apresenta o desenvolvimento automático destas atividades cotidianas para nos mostrar que o fato de não questionarmos significa que aceitamos algo como real. E exemplifica: quando você pergunta a alguém as horas está confirmando que acredita que o tempo existe, acredita nas horas, e também na idéia de que o passado não volta mais. Os aspectos em que você acredita o fazem diferente de outra pessoa que pode ter suas próprias crenças. Agora pense no seu dia-a-dia com seus colegas e relembre se, em determinado momento, frente a uma brincadeira, um questionamento, uma frase bonita dita por alguém, você não se viu dizendo: “fulano está filosofando”. Quando uma pessoa resolve perguntar ou discutir a respeito de algo considerado muito normal, é comum ser julgada ou estigmatizada, quando, na verdade, apenas está querendo conhecer. É essa capacidade de questionar verdades que a filosofia pode despertar. Capítulo 1 19Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Procure refletir a respeito de sua vida cotidiana, as atividades que desenvolve, as atitudes que toma e reflita: você é um agente que questiona ou apenas aceita o que o mundo lhe apresenta? Como está sua relação com o conhecimento, com o saber hoje? Você o ama, o respeita? REFLEXÃO Origem O surgimento da filosofia para os historiadores data do final do século VII a.C. e durante o século VI a.C. na Grécia, em uma cidade chamada Mileto, tendo como primeiro filósofo Tales de Mileto (ARANHA e MARTINS, 1996). Filosofia é uma palavra grega composta de philo e sophos. A primeira palavra significa amizade, amor fraterno e a segunda quer dizer sabedoria. Desta forma, fica fácil compreender o significado literal da palavra como sendo: amor à sabedoria. Tales de Mileto é o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. De ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia menor, atual Turquia, por volta de 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 547 a.C. - segundo o historiador grego Diógenes Laércio, morreu com 78 anos durante a 58ª Olimpíada. Tales é apontado com um dos sete sábios da Grécia antiga e foi o fundador da Escola Jônica. BIOGRAFIA Os primeiros filósofos chamaram-se pré-socráticos por surgirem antes de Sócrates, figura central na filosofia grega (MARTINS FILHO, 2000). Seus pensamentos fizeram ruir uma realidade na Grécia antiga conhecida como mitologia. Você deve conhecer alguns personagens relacionados à mitologia, como Eros, o Deus do amor, e já deve ter ouvido a expressão “deuses do Olimpo”. Estes se referem a mitos cultuados na época do surgimento da filosofia. Capítulo 1 20 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Pode-se compreender o mito como a narrativa sobre a origem de algo, como a geração dos seres naturais, como o ar frio, por exemplo. A palavra Mito tem origem grega mythos, formada da junção de dois verbos: narrar algo (mytheyo) e anunciar, conversar (mytheo). O povo grego considerava mito um pronunciamento público realizado por alguém indicado e autorizado pelos deuses. Assim, havia uma confiança total no que era proferido sem espaço para qualquer questionamento. No entanto, o pensamento dos filósofos rompe a realidade onde não se questiona e apresenta aquela em que se problematiza e se convida a discutir. A filosofia entende o sobrenatural como irreal e não cultiva, nem crê nas explicações divinas (ARANHA e MARTINS, 1993). O surgimento dos primeiros filósofos, os questionadores, não ocorreu como um milagre grego. De acordo com Chauí (2003), alguns acontecimentos históricos favoreceram a origem da filosofia. Em resumo, pode-se citar: • as viagens marítimas: em que os gregos puderam verificar que não havia deuses nos lugares indicados; • a invenção do calendário: por mostrar a percepção do tempo como algo natural em que fatos se repetem e não mais como poder divino; • o surgimento da vida urbana: que diminuiu o prestígio dos aristocratas criadores dos mitos para interesse próprio; • e a invenção da política: que institui a lei como vontade coletiva, o direito de cada cidadão, e não mais a vontade dos deuses e o estímulo ao pensamento compreensível por todos. Períodos da fi losofi a grega Os primeiros estudos da filosofia fixaram-se em conhecer a origem do mundo natural e suas transformações. Este período chamou-se pré-socrático ou cosmológico. Capítulo 1 21Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa LEMBRETELEMBRETE Caro(a) acadêmico(a): lembre-se que o período pré-socrático apresenta esta nomenclatura pelo fato da divisão da filosofia grega ter como referência o filósofo Sócrates de Atenas (MARTINS FILHO, 2000). A palavra cosmologia surge da junção de cosmos e logia. A primeira faz referência ao mundo organizado e a segunda tem como significado o pensamento racional. Observando o objeto inicial da filosofia, você pode perceber porque o primeiro período denomina-se cosmológico. Alguns filósofos deste período forma Tales de Mileto, Pitágoras de Samos e Zenão de Eléia. O período seguinte é denominado socrático, em função do surgimento do filósofo Sócrates, ou ainda chamado antropológico (do grego ântropo = Homem), por se preocupar com temas relacionados à realidade humana, como o estudo da ética, política e técnicas. A educação sofre interferência neste período. Os aristocratas, enquanto donos do poder, possuem como padrão a educação baseada em poetas que consideravam o guerreiro belo o homem perfeito. Com o surgimento da democracia, prima-se por uma educação em que o padrão ideal é o bom orador. Com isso, surgem os sofistas (sophos = sábio = professor de sabedoria), considerados filósofos pioneiros neste período; em troca de pagamento, os sofistas ensinavam aos filhos dos aristocratas a nova educação, contestando as ideias dos filósofos do período pré-socrático. No período socrático, os filósofos sofistas que mais se destacaram foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas. SAIBA QUE Capítulo 1 22 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa As afirmações cultuadas pelos primeiro filósofos do período em seus ensinamentos fizeram com que Sócrates, filósofo conceituado e considerado o pai da filosofia, levantasse uma bandeira contra os sofistas.Acusava os sofistas de não serem filósofos por não demonstrarem amor e respeito à sabedoria e à verdade (CHAUÍ, 2003). O filósofo considerado patrono da filosofia não deixou qualquer documento que discorra a respeito de seus pensamentos, suas posições ou inquietudes. Por isso, os relatos de Sócrates (469–399 a.C) são descritos por outros filósofos, como Platão, Xenofonte e Aristóteles. Alguns historiadores, inclusive, afirmam que só se pode falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria. CURIOSIDADE Figuras 1 e 2 - Bustos de Aristóteles e Platão Fonte: <http://images.google.com>. A proposta de Sócrates direcionava a filosofia para a preocupação com o homem. O filósofo acreditava que, antes de conhecer a origem do mundo, era necessário ao homem conhecer a si próprio. Para Sócrates, as percepções sensoriais nunca chegam à verdade; são sempre questionadas e fonte de mentira ou erro (CHAUÍ, 2003). Outro filósofo deste período é Platão, que cultua o processo de compreensão do real e cria a palavra ideia (eidos). Para este filósofo, existe Capítulo 1 23Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa um mundo imutável e um mundo real que sofre interferência do imutável. Em seu livro A república, Platão utiliza-se do Mito da caverna para demonstrar seu pensamento relativo aos dois mundos. Platão (427-347 a.C.), filho de aristocratas e discípulo de Sócrates, escreveu mais de 30 obras, como Menexeno; Ménon; Crátilo; O banquete; A república; dentre outras. Basicamente, suas obras eram escritas em forma de diálogos. Curiosamente, esses diálogos não apresentam Platão como personagem principal, e, sim, Sócrates. BIOGRAFIA Para melhor entender as ideias de Platão, vamos viajar em seus pensamentos conhecendo a alegoria da caverna. Concentre-se na leitura para que possa compreender as relações realizadas pelo autor. Neste trecho do livro, o filósofo descreve seres acorrentados desde a infância em uma caverna subterrânea. A forma como estão algemados não permite que tenham acesso à entrada, ficando obrigados a enxergar apenas o fundo da caverna. Por não estar totalmente fechada, uma luz adentra proveniente de uma fogueira e é possível ver apenas as sombras do que está se passando às suas costas. As sombras mostram homens carregando objetos - e como isto é a realidade que conhecem, para eles, tudo é verdadeiro. Afinal, por estarem ali desde que nasceram, é a única coisa que viram. Figura 3 - Mito da caverna Fonte: < http://media.photobucket.com > Capítulo 1 24 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Agora imagine que um destes homens consiga se libertar das correntes e sair da caverna. É o que Platão descreve a seguir e questiona o que aconteceria, o que ele faria. Provavelmente, no primeiro momento, todos os movimentos do homem trariam algum tipo de problema a ele, como dor no corpo, e olhar para luz com certeza lhe causaria incômodo. Apesar disso, o homem questionaria tudo o que vê tentando compreender o que ocorre fora da caverna. Seria possível a ele perceber que a fogueira, na verdade, era a luz do sol e que, refletida, gerava as sombras vislumbradas por todos no fundo das cavernas. Acredita-se que o homem, ansioso por contar aos outros o que vira, retorne à caverna atrapalhado pela escuridão e conte o que vislumbrou. Na caverna, alguns acreditariam que as imagens que viam não eram retrato da realidade, outros o questionariam, o teriam como louco, sendo capazes até de matá-lo. Esta alegoria demonstra que Platão acredita que a caverna é nosso mundo, o prisioneiro que sai da caverna é o filósofo, que vislumbra a luz do sol, que seria a verdade (CHAUÍ, 2003). O objetivo da filosofia seria incitar a busca de novas descobertas e conhecimento e o mito das cavernas demonstra que você pode ficar em sua zona de conforto com o que já conhece ou empreender esforços para mudar a realidade, agregando conhecimento e partindo para um novo mundo. Vejamos se você está atento. Estamos agora no terceiro período chamado de período sistemático, que tem como principal filósofo Aristóteles (nascido na Macedônia) e discípulo de Platão. Possui como discurso agregar todas as áreas de pensamento (o saber total) como uma forma de conhecer tudo aquilo que existe no mundo. Apesar de ser discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles escrevia de forma sistemática diferente de seu mestre, que o fazia em forma de poesia e analogias. Há também diferenças entre seus pensamentos, pois Aristóteles não aceitava o mundo das ideias. O filósofo afirmava que era necessário compreender como o pensamento, de forma geral, funcionava, independente do conhecimento. E com este objeto de estudo, deu origem à Lógica, que é uma das áreas da filosofia atualmente. Aristóteles, por suas crenças, institui uma classificação filosófica de áreas de conhecimento, incluindo as ciências produtivas – em que há ação humana para produção de algo, como exemplo, arquitetura, medicina, escultura, Capítulo 1 25Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa poesia, etc.; as ciências práticas – estudam a prática humana, sendo o próprio ato realizado, como a ética e a política; e as ciências teoréticas – destinam-se à compreensão de coisas que existem sem a influência do ser humano, como exemplos, a física, biologia, psicologia, teologia, entre outras (CHAUÍ, 2003). Para Santos (2009), atualmente ainda há resquícios da forma aristotélica de pensar em relação à ciência, embora haja um novo paradigma científico, com uma melhor observação de fatos e visão de mundo. Por fim, temos o período helenístico da filosofia, em que se afirma que o mundo é a sua cidade e que somos cidadãos do mundo. Constitui-se a filosofia de grandes doutrinas, buscando explicar a natureza, o homem e a relação entre os dois. Neste período, há uma preocupação com a ética, com a física, com a teologia e com a religião. Estes períodos apresentam o início da filosofia e os pensamentos dos primeiros filósofos. Esse entendimento permite que você compreenda a busca incessante do ser humano pelo conhecimento, apesar de apresentar foco diferenciado em cada um dos períodos apresentados. Em Nova York, no zoológico do Bronx, um grande espaço é destinado aos primatas como chimpanzés e gorilas. Em uma das jaulas, separadas das outras e muito protegida, há um letreiro informando que ali você pode encontrar o primata mais perigoso e destruidor do mundo. Quando você se aproxima vê sua própria imagem em um espelho. O zoo chama a atenção para o fato de tudo que o homem já causou à natureza e a si mesmo. Pretende que o ser humano pare e se questione sobre como está vivendo e o que vem fazendo para o bem ou mal deste planeta (MATURANA e VARELA, 2001). CURIOSIDADE 1.2.2 O que é fi losofi a? Agora que você já teve acesso a algumas informações referentes à filosofia e sua origem, seria capaz de dizer o que compreende por filosofia? Você já está convencido do conceito desta ciência? Supondo que algumas dúvidas ainda pairem em seus pensamentos, vamos conversar um pouco sobre o que é filosofia. Porém, cabe alertá-lo que não há um conceito único e preciso para a ciência. Capítulo 1 26 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Como vimos, em sua essência, a palavra filosofia vem do grego e significa amor e respeito à sabedoria. Pode-se dizer que, mesmo considerando a origem da filosofia cujo foco mudou no decorrer do tempo, o objeto se manteve. A filosofia é a ciência em que seus praticantes destinam seus estudos ao questionamento do que inicialmente é verdade. Você pode encontrar em seus estudos diferentes definiçõespara a filosofia. Alguns filósofos famosos definiram filosofia de acordo com a época em que viveram: Platão apresenta a filosofia com um conhecimento verdadeiro a serviço da humanidade; Descartes a definiu como o estudo da sabedoria de todas as coisas necessárias à vivência humana; e Marx dizia que a filosofia deveria conhecer o mundo a fim de transformá-lo (CHAUÍ, 2003). Se você perguntar a explicação da filosofia em rápidas palavras, diria que é um ato de pensar e ajuda no desenvolvimento de nossas habilidades mentais. Pensando em seu objeto e sua epistemologia, pode-se dizer que a filosofia é uma ciência que, caso não existisse, o mundo continuaria como é; ainda assim, é o mais útil de todos os saberes por fornecer à sociedade meios para ser consciente de si e de suas ações. Pitágoras foi o criador da palavra filosofia e afirmava que “o filósofo [...] é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida; em resumo pelo desejo de saber” (CHAUÍ, 2003, p. 25). Como você pode perceber, voltamos à origem da palavra filosofia. O filósofo, em seus estudos, se baseia em problemas da existência, porém para compreendê-los, precisa afastar-se deles e encontrar maneiras de promover mudanças. Como você acredita que está tendo uma atitude filosófica? No começo do capítulo, comentei sobre o julgamento que fazemos a colegas dizendo que está filosofando como sendo algo pejorativo. Espero que, neste momento, filosofar seja algo mais relevante para você. Se a partir de agora, você se concentrar mais nas atividades de sua rotina diária e começar a questionar certas verdades, você estará se afastando de si para compreender melhor aquilo no que acredita e julga correto. Assim, estará tendo uma atitude filosófica. Capítulo 1 27Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa A nossa não aceitação direta ao que nos é imposto ou dito nos impulsiona ao ato de filosofar. O que está ao nosso redor pode não ser tão óbvio e a filosofia nos convida a jamais aceitar como verdade antes de uma investigação ou compreensão. Você pode começar pela sua dedicação aos estudos nas disciplinas. Quando você não aceitar ou não se convencer de algum conceito ou definição de determinado autor, pode ter uma atitude filosófica em relação ao tema e buscar conhecimento suficiente para ter opinião a respeito e ter a sua verdade com compreensão real. Morris (2000) afirma que a filosofia desenvolve três habilidades em quem a estuda, e justifica nisso a necessidade desta nos currículos escolares. Estas habilidades serão apresentadas para, mais uma vez, ajudar você a compreender o porquê de estudar filosofia. A primeira delas relaciona-se à necessidade imposta pela filosofia em analisar temas discutíveis. Ao estudar os filósofos mais conhecidos, você pode aprender com eles como desenvolver esta habilidade. Pode, assim, analisar aspectos de sua vida como: entender pensamentos negativos, quais são suas aptidões e como educar melhor seus filhos. Morris (2000) alerta: ao analisar, devemos ser imparciais e não deixar o sentimento atrapalhar os pensamentos em demasia. E quando você se depara com situações conflitantes, como, por exemplo: está em uma loja e decide realizar uma compra, você pode se questionar se o objeto de compra é realmente necessário ou apenas está atendendo a um capricho seu. A sua habilidade de avaliação neste momento é crucial para que você tome uma decisão. Muitas vezes, nossos desejos não são necessidades, e precisamos ser capazes de avaliar. Os pensamentos filosóficos podem ser avaliados se você realizar questionamentos como: é coerente? É completo? É correto? E demonstrar discernimento para obter uma afirmativa para as perguntas. A terceira habilidade desenvolvida pelo estudo da filosofia possibilita que você faça o uso correto do argumento na defesa ou refutação de um pensamento. Algumas pessoas podem confundir esta habilidade e achar que se trata de gritar mais alto do que quem possui outra posição, afirmar incisivamente o que acredita ou ainda fazer provações. O que se deseja do argumento é a exposição com conteúdos fundamentados, favorecendo a sua posição sobre determinado pensamento a fim de chegar a uma conclusão. Capítulo 1 28 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Como você já descobriu, a relevância de estudar filosofia passa pelo desenvolvimento das habilidades de análise, avaliação e argumentação. E você deve se preocupar em ter atitudes filosóficas. A tríade o que, como e por que demonstra que você tem atitude filosófica. Saber qual a realidade ou natureza do objeto identifica o primeiro questionamento da tríade. Em “como”, a filosofia busca qual estrutura e relações referem-se ao objeto. E a origem ou causa do objeto é questionada em “por quê”. Além disso, autores afirmam que a filosofia pressupõe uma reflexão filosófica por parte de quem decide pensar com maior rigidez. Por sua definição, reflexão é um “movimento de retorno a si mesmo” (CHAUÍ, 2003, p. 20). Na filosofia, o rigor da reflexão obriga ao filósofo indagar a si próprio, encontrar motivos para o que fazemos ou dizemos, chegar às últimas consequências até encontrar a conclusão ideal, conhecer o objetivo de determinado questionamento e entender o conteúdo sobre o qual estamos pensando, filosofando. Cabe deixá-lo ciente de que, conforme Chauí (2003), a filosofia precisa de enunciados rigorosos, com obtenção de provas para apresentar resultados, e é sistemática, exigindo que seus questionamentos sejam válidos e verdadeiros, constituindo ideia verdadeira. 1.2.3 Filosofi a contemporânea Este período envolve os conhecimento e direcionamento filosóficos até os dias atuais. Para que você compreenda de forma facilitada o que a filosofia atual discute, vou apresentar a cronologia dos períodos da história da filosofia e como os aspectos discutidos vão modificando. Os períodos apresentados serão os considerados por Chauí (2003): filosofia antiga, patrística, medieval, renascença, moderna, iluminista e contemporânea. A filosofia antiga é datada do VI a.C. ao século VI d.C.; refere-se à fase de origem da filosofia, que discutimos incluindo o período pré-socrático, socrático, sistemático e helenístico. Datada do século I ao século VII, a filosofia patrística (vem de padre) tem como objeto subsidiar a evangelização com base nas epístolas de João e Paulo, atividade antes esquecida devido à filosofia antiga (MARTINS Capítulo 1 29Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa FILHO, 2000). Este período trouxe à tona a ideia de pecado, de santíssima trindade, de criação do mundo ideias, que foram esquecidas na filosofia idealizada pelos gregos como Sócrates e Platão. Os principais filósofos que se destacam no período são: Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano. Alguns autores dividem a filosofia medieval em patrística e escolástica (que seria o mesmo que medieval) e consideram que a patrística parte da medieval em função de apresentar temas que se sucedem. No entanto, estamos adotando a divisão sugerida por Chauí (2003), em que se tem a patrística e a medieval é também chamada escolástica. SAIBA QUE A filosofia medieval surge com a queda do Império Romano e data do século VII ao século XIV, sendo uma especulação filosófica voltada ao teologismo. Neste período, culturalmente, o que regia a sociedade eram os valores cristãos e por isso surge, nesta época, o que se chamou filosofia cristã. Também chamada escolástica, a filosofia medieval sistematiza a teologia e filosofia ensinadas nas escolas medievais (MARTINS FILHO, 2000). Imagine você que, nesta época, a temática religiosaestava prevalecendo sobre a da razão; desejava-se que a fé fosse a justificativa da verdade. Com grandes temas, os filósofos medievais discutiam a relação humana e religiosa, como o corpo e alma, o que diferencia a razão da fé, e afirmavam que aquele que estava mais ligado a Deus era considerado ser superior. Assim, os padres estavam acima dos reis e autoridades. A exposição de ideias filosóficas era realizada por meio de apresentação de uma tese, que seria aceita ou não, com base em conceitos de outros filósofos, como Aristóteles ou até pelo que dizia a Bíblia. Esta técnica ficou conhecida como Disputa. Alguns filósofos de destaque da filosofia medieval foram: Santo Anselmo, Santo Alberto Magno, Roger Bacon e Averróis (árabe) e Maimônides (judaico). Capítulo 1 30 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa No século XI, surgem as universidades espalhadas por toda a Europa, entre elas, a de Paris, de Bologna e de Oxford. As universidades são consideradas associações corporativas livres de alunos e professores. Havia duas vertentes: uma voltada à preparação filosófica; e a teológica, que estudava profundamente a sagrada escritura. CURIOSIDADE Figura 4 - Universidade de Oxford – Inglaterra Fonte: <http://images.google.com>. A seguir, temos a filosofia da Renascença, que trouxe a conhecimento obras de grandes filósofos, como as de Platão e novos conhecimentos deixados por Aristóteles. A filosofia da Renascença é o período da História da Filosofia que, na Europa, está entre a Idade Média e o Iluminismo. As linhas de pensamento que predominavam eram de Platão, em que o homem faz parte da natureza e a ideia de dois mundos, como o mito da caverna; a ideia de defesa de ideais republicanos; e o homem como aquele que decide sua vida e seu destino. Alguns dos filósofos dessa época foram Dante, Maquiavel e Thomas Morus. Conhecida também como Grande Racionalismo Clássico, a filosofia moderna data do século XVII e tem participação marcante de Lutero e Descartes. O primeiro foi responsável pela ruptura da religião, possibilitando o acesso livre à Bíblia. O segundo fez uma ruptura filosófica, criando novos alicerces para o pensamento. Capítulo 1 31Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Na filosofia moderna, o pensamento passa a ter as marcas do racionalismo, do antropocentrismo e do saber ativo. Para os filósofos deste período, o conhecimento pode ser apresentado desde que seja relacionado com ideias que possam ser comprovadas de forma racional. Os conceitos e conhecimentos são formulados por quem os procura, os transforma e são completamente conhecidos por este. Como antropocentrismo, entenda a necessidade do homem de estar no centro de tudo. Agora, os filósofos discutem se o ser humano pode descobrir qualquer coisa, desejam saber qual sua capacidade intelectual. O conhecimento foco da filosofia está naquele que aprende, e não mais apenas no objeto do conhecimento. O conhecimento partindo da própria realidade - esta é submetida a experimento e volta à realidade - constitui o foco do saber ativo. O homem tem o poder de, por meio da observação e da razão do que acontece no Universo, conhecer e compreender os acontecimentos e transformar a realidade. Este pensamento implica no homem dominando, por meio de técnicas, a natureza e a sociedade. Releia e pense no parágrafo anterior. Reflita e tente relacionar o saber ativo a algo que já conhece ou estudou. O que o saber ativo pode ter trazido para nosso cotidiano? REFLEXÃO A característica do pensamento moderno, relacionada ao saber ativo, diz respeito a vários aspectos de nossa realidade. Esta crença na capacidade da humanidade em transformar a realidade, em coletar dela informações, possibilitou a percepção do binômio teoria e prática, propondo os conceitos de experiência e tecnologia. Ou seja, os estudiosos conseguiram teorizar o que viam na realidade e assim surgem algumas ciências ou base para estas, como a Matemática (geometria, cálculo, probabilidade), fenômenos elétricos, criação do barômetro, explicação da circulação sanguínea, entre outros. Destacam-se neste período pensadores como Fernat, Descartes, Newton, Leibniz, Hooke, Galileu, Pascal, Huygens. Capítulo 1 32 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa A filosofia iluminista, datada do século XVIII ao início do XIX, preocupava- se pela relevância dada às ciências, principalmente a biologia como campo da filosofia de vida e pelas artes, consideradas expressões do progresso humano. Além disso, prepondera o questionamento sobre a riqueza do mundo e pensamentos sobre economia. Chauí (2003) aponta aspectos que eram afirmados pela filosofia iluminista: a liberdade e a conquista social e política podem ser alcançadas com o uso da razão; seria possível o aperfeiçoamento, progresso e perfeição humana (não existiriam preconceitos ou medos) pelo uso da razão; a razão seria aperfeiçoada dependendo da evolução e progresso das civilizações; e por fim, entendia que a natureza era formada por suas leis e pelas relações de causa e efeito e nenhuma relação existia com a civilização. Assim, o homem livre apresenta, por sua vontade, perfeição moral, política e técnica. Como principais pensadores, temos: Rousseau, Kant, Fichte e Voltaire. Agora que você está situado no tempo da filosofia e conseguiu vislumbrar as abordagens adotadas em cada período filosófico, vamos conhecer a filosofia contemporânea. Por muitos autores, ela é considerada a mais complexa das várias correntes existentes. Também é difícil de ser explanada por ainda estar em evolução, já que contempla até os dias atuais. Na filosofia, este período, iniciado no século XIX, é marcado por descobertas no campo das artes, ciências, história do homem e da sociedade. Uma delas é que a humanidade progride acumulando conhecimentos e aperfeiçoando suas tecnologias, se comparado ao que existia em um período anterior. A filosofia apostava suas fichas no saber científico e tecnologia como forma de controlar a natureza e a sociedade. De certa forma, estas características do período demonstravam uma grande euforia em relação aos resultados que seriam alcançados por meio das ciências, gerando uma aversão à reflexão filosófica, pois o que se imagina eram respostas inquestionáveis e controle sobre a natureza e sociedade (SANTOS, 2009). Este otimismo exagerado no progresso humano denominou-se positivismo e teve como pai, Augusto Comte. As teorias filosóficas do século XIX foram questionadas no século XX e os resultados esperados Capítulo 1 33Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa inicialmente não foram alcançados. Os questionamentos vieram em função de que a pregação do progresso permitia a legitimidade de que os mais adiantados poderiam dominar os atrasados, identificados como as ideias do colonialismo e imperialismo. Além disso, entendia-se que havia transformação contínua, acumulativa e progressiva da humanidade, o que foi negado pelos registros, já que cada época da história traz conhecimentos e práticas próprias do período. O filósofo Augusto Comte concordava com as ideias otimistas do progresso e responsabilizava a ciência por esta possibilidade, prevendo que o desenvolvimento social aconteceria com base no conhecimento científico e controle científico da sociedade. Devido a isso, Comte criou o conhecido: ORDEM E PROGRESSO, que está na bandeira do Brasil (CHAUÍ, 2003). CURIOSIDADE Figura 5 - Bandeira do Brasil Fonte: <http://images.google.com>. Alguns filósofos desse período “apostam suas fichas” no saber científico e tecnológico como forma de manter controle sobre o ser humano, a sociedadee a natureza. Várias ciências foram pensadas como salvadoras neste período, como a sociologia (julgava-se, pelo conhecimento que teria do homem e da sociedade, que haveria controle racional sobre estes); e a psicologia (em que seria possível controlar as causas de emoções e comportamentos humanos). Com Capítulo 1 34 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa os acontecimentos do século XX – as guerras, bombas, devastação da natureza, sofrimentos mentais, problemas éticos e políticos –, ficou claro à filosofia (e à humanidade) que o otimismo relacionado à ciência e à tecnologia era demasiado. Assim, surge uma vertente em que se teria a razão instrumental, voltada ao técnico-científico como meio de intimidação ao ser humano, e a razão crítica, considerando-se que as mudanças verdadeiras na sociedade só ocorrem quando há a busca pela emancipação do ser humano. A desilusão com os ideais científicos e tecnológicos cedeu lugar à crença nos ideais revolucionários para a construção de uma sociedade mais justa e feliz. Porém, o surgimento, no século XX, do fascismo e nazismo fez os filósofos abandonarem estas ideias. Os questionamentos estavam em torno de saber se o ser humano seria mesmo capaz de criar a tão sonhada sociedade, justa e feliz. Outra vertente da filosofia estava no reconhecimento da cultura como o exercício da liberdade possível, a sociedade que tornava os homens diferentes dos animais. No século XIX, os filósofos julgaram que cultura seria algo global, dado ao que se pensava neste século. Porém, como para falar de cultura seria necessário que o filósofo direcionasse suas atitudes para a busca, no passado, das tradições, já que cada povo tem uma maneira de se relacionar, tem sua própria linguagem e forma de expressão, a ideia de cultura universal na filosofia do século XX foi questionada. Várias questões filosóficas ainda perduram, como a criada por Marx, chamada ideologia. O autor sustenta que a sociedade impõe, a você e a mim, determinada maneira de agir, que no nosso modo de pensar parece ser fruto de nossa vontade. Marx sustenta que as classes dominantes exercem seu poder sobre todas as classes de forma “que suas ideias pareçam ser universais” (CHAUÍ, 2003, p. 53) e todos que fazem parte daquela sociedade devem tê-las como verdade absoluta. Outra descoberta realizada por Freud é a do inconsciente, conceituado como um poder invisível que domina o nosso consciente. Para Freud, o ser humano tem a ilusão de que tudo o que faz, sua forma de agir, suas escolhas, suas ambições, está plenamente controlado por sua consciência. Trata-se de uma forma de “[...] poder que domina e controla invisível e profundamente nossa vida consciente” (CHAUÍ, 2003, p. 53). Capítulo 1 35Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Outros filósofos de nossos tempos são: Michel Foucault, Wittgenstein e Husserl. Alguns filósofos brasileiros de destaque são: Miguel Reale, Antonio Paim e Luis Washington Vita. Atualmente, a filosofia possui seus conhecimentos limitados e possui seus próprios campos de reflexão. Pode-se citar: lógica, epistemologia, ontologia, ética, filosofia política, filosofia da história, filosofia da arte, filosofia da linguagem, história da filosofia e teoria do conhecimento (CHAUÍ, 2003). Você pode observar que as descobertas realizadas por Marx e Freud, respectivamente, ideologia e inconsciente, promoveram uma retomada das ideias de ilusão e imaginação. Os conceitos do início da filosofia contemporânea foram colocados à prova e o fato de conhecer aspectos relacionados à razão começa a ser questionado. Cervo, Bervian e Silva (2007) citam que a filosofia contemporânea propõe questões como: será o homem dominado pela técnica? A máquina substituirá os homens? Quando chegará a vez do combate contra a fome e a miséria? A tecnologia traz real benefício à sociedade? PRATICANDOPRATICANDO Lembrando dos períodos da origem da filosofia e da cronologia filosófica apresentada neste tópico, apresente o período da origem e da história da filosofia em que as ideias retomadas por Freud e Marx relacionadas à ilusão foram discutidas. Qual filósofo retratou a ilusão? Que recurso utilizou para demonstrá-la? Ao conhecer as várias fases da filosofia, você entrou em contato com nomes que são conhecidos, atualmente, também como cientistas. Isto porque, durante certo tempo, não havia uma definição clara entre ciência e filosofia e também porque são os questionamentos sugeridos pela filosofia que, muitas vezes, levam a resultados científicos. Santos (2009) afirma que, por meio da reflexão, é possível aos cientistas adquirir competência e interesse filosófico em problematizar suas práticas científicas. Com isso, sugere que, atualmente, têm-se cientistas-filosóficos, como não se viu em outras épocas na história. Capítulo 1 36 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa 1.2.4 A razão e a verdade Ao conhecer aspectos básicos da filosofia, você deve ter percebido que algumas palavras são comentadas durante vários períodos e momentos. Isto demonstra o grau de relevância desses termos para o estudo que você está realizando. Razão e verdade são dois termos que, em vários momentos, são contestados, negados ou lembrados. Neste sentido, acredito que seja importante a você, acadêmico, compreender alguns aspectos relativos a estes conceitos. Razão A origem da palavra razão advém de duas fontes: o ratio, do latim, que significa juntar, calcular, reunir, e logos, que vem do grego, e apresenta semelhança no significado. Você consegue expor o que compreende até este momento por razão e o significado de sua origem? Na filosofia, a razão foi exageradamente cultuada em uma das correntes filosóficas, o Iluminismo, sendo considerada a responsável pelo progresso da humanidade. Como vimos, Marx e Freud fizeram os filósofos repensarem a razão por meio de suas descobertas na filosofia contemporânea. O que você pensa quando ouve a palavra razão? Que associações você consegue fazer? Acredito que uma das primeiras ideias que passam em sua cabeça seja o termo racional, isto é, eu, como ser humano, tenho razão diferente de um animal, considerado irracional. E que difere do emocional, da ilusão, do que diz a religião e do místico. Chauí (2003) afirma que utilizamos a palavra razão de maneiras diferentes e podemos estar fazendo uso dela de forma parcial, considerando a amplitude de seu conceito (ARANHA e MARTINS, 1993). Reflita agora em que momentos de sua rotina você utiliza a palavra razão? Em quais situações faz uso dela? Eu, por exemplo, utilizo esta palavra no supermercado, quando digo ao gerente que tenho razão de reclamar em função do mau atendimento. Posso fazer uso dela para argumentar com meu filho a razão de ter quebrado um brinquedo por vontade própria ou a razão de estar chorando por tanto tempo. Capítulo 1 37Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Em uma discussão de trânsito, quando alguém, distraído, bateu na traseira do carro, meu marido, muito exaltado, saiu do carro, começou uma discussão e eu disse a ele para se acalmar ou poderia perder a razão. Ao afirmar o uso da palavra razão para tantas situações diferentes, estou contrapondo o que disse ser o pensamento da maioria das pessoas sobre a palavra, no segundo parágrafo deste tópico. Pascal (apud CHAUÍ, 2003, p. 60), lá no século XVII tem uma frase que você deve conhecer: “O coração tem razões que a razão desconhece”. A frase reafirma os diferentes sentidos da palavra razão, que para a filosofia pode ser: “certeza, lucidez, motivo, causa” (CHAUÍ, 2003, p. 60). Você reconhece os dois significados diferentesda palavra razão na frase dita por Pascal: “O coração tem razões que a razão desconhece”? Explique. DESAFIO Agora que já conversamos sobre alguns aspectos relacionados à razão, retomo a pergunta que fiz no primeiro parágrafo: considerando a origem da palavra e o que você compreende por razão, consegue vislumbrar a relação? O significado, conforme a origem do termo, é juntar, calcular, reunir. Ao pensar sobre estas palavras, o que você compreende como atividades que faria para desenvolvê-las? Quando você faz uma prova de matemática e a questão apresentada pelo professor pede que você calcule os juros em uma determinada situação-problema, qual a sua atitude? A resposta pode ser: “eu entrego a prova, pois não sei nem por onde começar” ou você se concentra na atividade procurando ordenar seus pensamentos a fim de expor, em forma de palavras, a resposta. Lembro que, inicialmente, os gregos representavam número como letras. E agora ficou mais fácil para você fazer a relação? Razão, de acordo com sua origem, refere-se ao pensamento e fala de maneira ordenada e clara, com possibilidade de compreensão para o outro (CHAUÍ, 2003). Morris Capítulo 1 38 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa (2000) afirma que a razão é o poder que o ser humano possui para organizar e interpretar a experiência adquirida ao longo da vida e a capacidade de chegar a conclusões confiáveis. Russel (apud MORRIS, 2000, p. 45) diz que “a mente é uma máquina estranha capaz de combinar das formas mais espantosas os materiais que lhe são oferecidos”. Ou seja, tudo o que recebemos pode ser combinado com nossas experiências, gerando novos conhecimentos. A filosofia divide a atividade racional em intuição e raciocínio. No primeiro caso, o conhecimento do objeto ou fato é geral e completo. Esse discernimento pode vir na forma do simples ato de reconhecer uma pessoa, um carro, uma bolsa e define a intuição sensível. Quando a percepção foca nas qualidades do objeto, como cor, forma, texturas, refere-se à intuição empírica. A razão discursiva ou raciocínio são demonstrações que comprovam os resultados e conclusões obtidos no processo do conhecimento, e para isso, são possíveis três procedimentos: dedução, indução e abdução. No caso de dedução o raciocínio parte de uma verdade global e se prova que todos os casos específicos (que são iguais) podem ser aplicados. Quando o raciocínio é o inverso, pensa-se em um fato particular e se busca encontrar a verdade geral; trata-se aqui de indução. A abdução, abordada por alguns autores, é como uma intuição que ocorre em etapas; este raciocínio acontece quando uma nova área está sendo descoberta. A razão, por sua natureza, incorpora algumas características ao conceito, nomeados por alguns autores como princípios da razão. A identidade afirma que “eu sou eu”, ou seja, eu sou conhecida por ser esta pessoa e isto deve ser mantido desta forma para que eu tenha a minha identidade. Isso pode se relacionar às coisas, por exemplo, o que você conhece por uma caneta ou um dispositivo qualquer, com suas características exatas, será sempre reconhecido desta maneira. A não-contradição também é explícita na razão. Exemplos: você não pode afirmar que está e não está com fome; que tem e não tem carteira de motorista; foi aprovado e não foi em determinada disciplina neste semestre; a razão não permite a afirmação e negação de uma coisa, em determinado Capítulo 1 39Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa momento, em determinada situação e determinada relação realizada. Diferente de afirmar que eu reprovei na disciplina neste semestre, mas serei aprovado no próximo. A decisão de um dilema é foco no chamado excluído, em que se pode escolher entre duas situações apenas. Exemplos de exclusão ocorrem nas situações apresentadas: em determinado horário, em um dia da semana, você precisa decidir se naquele momento vai à praia ou ao futebol; se vai ao casamento com este ou aquele vestido. A razão suficiente pressupõe que para algo acontecer há uma causa relacionada. Como exemplo, tem-se que, em uma partida de futebol decisiva (apenas um dos times precisa sair vencedor), um dos times irá ganhar e, consequentemente, o outro time perderá. Logo, se o time 1 ganhar, necessariamente o time 2 perdeu, e se o time 2 perdeu é porque o time 1 ganhou. Ao observar a teoria a respeito da razão, você percebe que tem atitudes racionais todos os dias desde o momento em que acorda, sejam intuitivas ou racionais. Mas você já se perguntou como recebeu capacidade de raciocínio? A filosofia apresenta duas respostas para este questionamento. Uma delas afirma que, ao nascer, já trazemos as características referentes ao raciocínio e à inteligência, chamando esta vertente de inatismo. O empirismo contraria o inatismo e afirma que adquirimos a razão, as verdades e ideias. Acredita-se que o ser humano é como uma folha em branco e a razão é uma forma chegar ao conhecimento; a partir das experiências que vivenciamos, aprendemos e vamos escrevendo na folha em branco. Ambas as respostas apresentam conflitos. No caso de a razão ser inata, não poderia sofrer influência externa e você jamais mudaria seu intelecto. No empirismo, a forma como é inserido o conceito impossibilita o conhecimento objetivo da realidade universal. Lembre-se da viagem que fizemos à história da filosofia e como os aspectos discutidos pelos filósofos se modificaram, foram descartados e retornaram ao pensamento filosófico. Percebe-se que a compreensão da razão se altera conforme a perspectiva de leitura de mundo adotada. Capítulo 1 40 Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa Verdade Você compreendeu do que se trata a razão e suas características. Mas o que a razão pretende? Ou ainda, o que você pretende quando adota um ato racional? Ao tomar uma atitude racional, o ser humano pretende agir da melhor forma possível frente a uma situação. Você deve considerar que, ao raciocinar frente a determinado fato, está considerando suas crenças. Embora seu objetivo seja a busca pela justiça e verdade, como pressupõe a filosofia. A forma como você percebe o mundo, como age, as atitudes que apresenta dependem de suas crenças. Estas proposições sobre o mundo nós temos em grande número e sua relevância pode ser vista quando um pai educa seu filho ou quando ocorre um atentado terrorista. Mas nem todas as crenças que temos são verdadeiras em virtude de falta de informação, distração ou apenas de não perceber a presença de determinado objeto (MORRIS, 2000). Você já percebeu como deseja insistentemente que tudo aquilo no qual acredita seja verdade? Isto não é possível ao ser humano, pois sempre haverá alguma crença que não será verdade. Citando a religião, existe uma infinidade e apenas uma pode estar certa ou nenhuma ou concepções de várias delas. Quando você deseja que sua crença seja verdadeira e se torne algo verdadeiro a todos, pretende chegar ao conhecimento. Para isso, sua crença precisa ser justificada, pois a crença que considera verídica pode ser falsa. Podemos analisar filosoficamente uma crença para que esta seja justificada e você pode decompô-la em várias condições. Morris (2000) exemplifica esta situação utilizando como crença o que é um homem solteiro. Para tanto, o autor busca uma definição em que o solteiro é um ser humano, que não é casado, do sexo masculino e possui idade para casar. O próximo passo seria decompor as informações. Você consegue encontrar quatro condições? São elas: ser humano, não casado, sexo masculino e idade para casar: • caso atenda apenas à condição do sexo, poderia ser um cachorro;
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