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Psicologia Social e Processo Grupal

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ANDREA DÓREA
PSSICOLOGIA SOCIAL E PROCESSO GRUPAL
Reflexões sobre o conto da vara
Invisibilidade pública
Damião viu Lucrécia. Aconteceu de temporariamente abandonar a visão costumeira. O rapaz viveu uma ruptura na roda fechada da máquina social. Viu o que não supunha estar ali para ser visto.
Antes de nada, é preciso responder: a iniciativa de Damião não é primeira. Foi Lucrécia quem, antes dele, pôs-se a mirá-lo e escutá-lo, pondo em pausa o trabalho forçado, chegando a rir do que viu e ouviu. A menina de onze anos foi a primeira a estar fora da ordem. A liberdade de Damião começou na liberdade de Lucrécia. E não é assim que as coisas se dão também historicamente? Não é verdade que a iniciativa por defender os apagados sempre dependeu deles e de sua aparição, seu movimento para o centro da cena iluminada? Movimento às vezes discreto e espontâneo como o movimento de Lucrécia, noutras vezes contundente e até organizado.
O desenlace é de um chocante anticlímax e de um realismo acachapante. A ordem da vara foi mantida. Só conta o drama dos senhores. Desapareceu o drama de Lucrécia: sumiu, devolvido à invisibilidade de antes e sempre.
Invisibilidade pública
Jogo de luz e sombras
Nossa atenção só vem ver o que é para ser oficialmente visto, vem só ver e ouvir o que está autorizado ou vem reparar nas coisas e nos seres das margens e de meia-luz. O autor nos faz ver uma sociedade de luzes tão mal distribuídas.
A iluminação é coisa também social. O que vemos e o que deixamos de ver, o regime de nossa atenção, é decidido segundo o modo como fomos colocados em companhia dos outros, segundo o modo como também nos colocamos e como eventualmente nos recolocamos em companhia.
Invisibilidade pública: Expressão que resume diversas manifestações de um sofrimento político: a humilhação social, um sofrimento longamente aturado e ruminado por gente das classes pobres. Um sofrimento que, no caso brasileiro e várias gerações atrás, começou por golpes de espoliação e servidão que caíram pesados sobre nativos e africanos, depois sobre imigrantes baixo-assalariados: a violação da terra, a perda de bens, a ofensa contra crenças, ritos e festas, o trabalho forçado, a dominação nos engenhos ou depois nas fazendas e nas fábricas.
Humilhação social
A humilhação é angústia que os escravos conhecem bem, fincada na base de sua submissão instintiva ou maquinal. O escravo sofre várias vezes o golpe físico dos maus tratos. Sofre continuamente o golpe moral de uma mensagem: “Inferior! Tu não és um de nós, trabalha baixo e sem rir ou olha a vara!”. Desde então, o golpe passa a ser esperado mesmo nas circunstâncias em que não vem ostensivamente. O ambiente político da dominação começa a agir também nas horas de trégua: age por dentro. Para os humilhados, a humilhação é golpe ou é freqüentemente sentida como um golpe iminente, sempre a espreitar-lhes, onde quer que estejam, com quem quer que estejam. O sentimento de uma pancada torna-se compulsivo: vira pressentimento. 
Humilhação social
A humilhação crônica quebra o sentimento de possuir direitos: foi o que escreveu Simone Weil depois de longamente trabalhar como operária nas fresas da Renault.
Humilhação social é sofrimento ancestral e repetido. Para roceiros, mineiros ou operários, também para uma multidão de pequenos servidores, para os subempregados e para os desempregados, é sofrimento que o trabalhador vai amargar sozinho e, cedo ou tarde, vai também dividir com outros trabalhadores. 
Tantos expostos à desonra e ao desrespeito cultural. Uma comunidade política parece reuni-los todos: exposição ao sofrimento da dominação.
Sofrimento psicossocial: passado e presente
O mal abrangente obriga considerar que, nesta hora em que a humilhação desatou-se em alguém, houve reedição de um sangramento antigo e que não estancou: a dor chega do passado, corre para o presente.
Quando partiu de muito atrás e volta a disparar, a humilhação é flecha que acerta cedo e fundo a personalidade. Machuca o humilhado depois de já haver machucado seus ascendentes, sua família, seu grupo de raiz, sua classe, às vezes um povo inteiro. Nunca é meramente a dor de um indivíduo, porque a dor é nele a dor já dividida entre ele e seus irmãos de destino. 
As mensagens da dominação são inquietantes: vão desarrumar a percepção e a fantasia, a memória e a linguagem, o sono e o sonho.
Sofrimento psicossocial: passado e presente
O fato político, a dominação, é também psicológico: não pode deixar de ser traumático e internaliza-se com extraordinária energia. Uma força incoercível toma conta do espírito humilhado e carrega a pessoa inteira. Há quem precise supor que o fenômeno fosse individual e que não deveria ser valorizado. Seria coisa exagerada nesse ou naquele cidadão muito suscetível. Mas o fenômeno é de tal modo corriqueiro, acertando ora um, ora outro, alegado por tantos, que é impossível duvidar de uma determinação psicossocial bem larga para o sofrimento geral. 
Sofrimentos políticos não são enfrentados apenas psicologicamente, uma vez que são políticos. Mas não é bastante que sofrimentos políticos sejam politicamente enfrentados, uma vez que são sofrimentos. Digamos melhor: enfrentá-los politicamente inclui também enfrentá-los psicologicamente. 
Objeto da psicologia social
O autor nos quis trazer para a encruzilhada, entre Damião e Lucrécia, e interpelar-nos todos pela voz dominante de Sinhá Rita: passai-me a vara! Entre senhores e escravos, que realmente faríamos?
Damião entrega a vara. Nós ainda, de fato, não deixamos de entregá-la. Mas não somos incitados a imaginarmo-nos sem entregá-la?
Objeto da psicologia social
A nunca passivamente: inclinar-se para esta passividacura da humilhação social pede remédio por dois lados. Exige a participação no governo do trabalho e da cidade. E exige um trabalho interior, uma espécie de digestão, um trabalho que não é apenas pensar e não é solitário: é pensar sentindo e em companhia de alguém que aceite pensarmos juntos. Isto tende para o que Hannah Arendt descreveu como o ato de julgar.
 
O julgamento de uma experiência acontece no meio dos outros. Implica pensar pela própria cabeça e também conversar: o pensamento solitário tornando-se cada vez mais uma comunicação. Pensar pela própria cabeça é pensar de é inclinar-se para o preconceito; e adotar passivamente a opinião dos outros é trocar preconceito por preconceito. A comunicação, outra coisa que não a troca de preconceitos, é pensamento que conversa com o pensamento dos outros: exige falar do meu lugar mas também imaginando-me no lugar dos outros. Pensar sem sair do lugar, o meu lugar ou o lugar de classe, é pensar por interesse e é julgar mal. Julgar é pensar desinteressadamente: o impulso disso só vem quando interpelo os outros e recebo a interpelação dos outros.
Objeto da psicologia social
Há mais: freqüentemente as mensagens enigmáticas (humilhantes), que angustiam e confundem o destinatário, são enigmáticas para seus próprios mensageiros. É este o caso para a mensagem de desigualdade política, fulcro da humilhação social. Quem recebe o comando despótico e se põe a obedecer irrefletidamente, saberia dizer o que lhe põe tão automaticamente em subserviência? Quem comanda sobranceiramente os pobres, com brutalidade ou educadamente, saberia dizer o que lhe põe tão naturalmente na licença disso? Onde começou todo este desequilíbrio político, onde foi que começou a imaginária superioridade destes senhores impunes e a imaginária inferioridade destes servos compulsivos? Quando foi que tudo isto tornou-se tão sólido? Como foi e por que foi?
Objeto da psicologia social
Quem estará preparado para perguntas tão urgentes, mas que estão entre as mais difíceis de responder? O fenômeno mesmo, a dominação, é dos mais difíceis de decifrar. A luta por cancelar a dominação passa por também pensar o seu fundamento. 
A igualdade ou a dominação, quando vingaram, cumpriram desejos. Desejos que, associados e coletivamente abonados, transformam-se em impulsospolíticos. Somos, então, devolvidos ao desafio profundo: desejamos afirmar politicamente a igualdade ou seguir reafirmando a desigualdade? 
“O homem é um animal social” 
(Aristóteles)
"Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é partícula do continente, uma parte da terra; (...) a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti." 
(John Donne)
“Quase nenhuma ação humana tem por sujeito um indivíduo isolado. O sujeito da ação é um grupo, um “nós”, mesmo se a estrutura atual da sociedade, pelo fenômeno encobrir esse “nós” e a transformá-lo numa soma de várias individualidades distintas e fechadas umas às outras.” 
(Lucien Goldman, 1947)
“Toda psicologia é social”
(Silvia Lane)
Psicologia Social 
Definição
Tem por objetivo conhecer o Indivíduo no conjunto de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social.
História
Década de 50: sistematização da Psicologia Social em duas tendências
tradição pragmática (EUA): vida alterar e/ou criar atitudes, interferir nas relações grupais para harmonizá-las e assim garantir a produtividade do grupo.
 
tradição filosófica europeia: raízes na fenomenologia, buscando modelos científicos totalizantes (Ex: Lewin e a Teoria dos Campos)
“Crise” do conhecimento psicossocial
Década de 60: “crise” do conhecimento psicossocial
Eficácia da Psicologia Social começa a ser questionada
Não consegue intervir, nem explicar ou prever os comportamentos sociais. 
As pesquisas não permitem os psicólogos a formular leis a respeito do comportamento social 		os estudos interculturais apontavam para uma complexidade de variáveis 
“Crise” do conhecimento psicossocial
Psicologia social baseada em um método descritivo.
 Desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte-americana do pós-guerra: instrumentos de intervenção na realidade, com a intenção de recuperar a nação, garantindo o aumento da produtividade econômica. 
Temas mais desenvolvidos foram a comunicação persuasiva, a mudança de atitudes, a dinâmica grupal etc., voltados sempre para a procura de “fórmulas de ajustamento e adequação de comportamentos individuais ao contexto social”
Noção estreita do social, considerado apenas como a relação entre pessoas — a interação social —, e não como um conjunto de produções humanas capazes de, ao mesmo tempo em que vão construindo a realidade social, construir também o indivíduo. 
“Crise” do conhecimento psicossocial
França
tradição psicanalítica é retomada com toda a veemência após o movimento de 68
crítica a psicologia social norte-americana como uma ciência ideológica, reprodutora dos interesses da classe dominante, e produto de condições históricas especificas, o que invalida a transposição tal e qual deste conhecimento para outros países.
“Crise” do conhecimento psicossocial
Inglaterra
crítica sob o ponto de vista epistemológico
crítica ao positivismo, que, em nome da objetividade, perde o ser humano.
Superação da crise
Superação da tradição biológica da Psicologia:
 indivíduo considerado um organismo que interage no meio físico
processos psicológicos são assumidos como causas que explicam o seu comportamento. 
para compreender o indivíduo bastaria conhecer o que ocorre dentro dele.
Positivismo
Positivismo, na procura da objetividade dos fatos, perdeu o ser 
Não dava conta do ser humano agente de mudança, sujeito da história. 
O homem ou era socialmente determinado ou era causa de si mesmo: sociologismo vs biologismo?
 
Psicanálise enfatizava a história do indivíduo 
Sociologia recuperava totalidade histórica de cada sociedade. 
Portanto, caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade — apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história.
Ideologia
 A ideologia, como produto histórico que se cristaliza nas instituições, traz consigo uma concepção de homem necessária para reproduzir relações sociais, que por sua vez são fundamentais para a manutenção das relações de produção da vida material da sociedade como tal. 
Na medida em que o conhecimento positivista descrevia comportamentos restritos no espaço e no tempo, sem considerar a inter-relação infra e superestrutural, estes comportamentos, mediados pelas instituições sociais, reproduziam a ideologia dominante.
Superação da crise
O ser humano traz consigo uma dimensão que não pode ser descartada, que é a sua condição social e histórica, sob o risco de termos uma visão distorcida (ideológica) de seu comportamento.
O organismo é uma infra-estrutura que permite o desenvolvimento de uma superestrutura que é social e, portanto, histórica. 
O homem é cultura, é história
Nova Psicologia Social
 
Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das contradições e a transformação social.
Necessidade de Construção de um conhecimento que atenda à realidade social e ao cotidiano de cada indivíduo e que permita uma intervenção efetiva na rede de relações sociais que define cada indivíduo — objeto da Psicologia Social.
Nova Psicologia Social
América Latina:
 oscilação entre o pragmatismo norte-americano e a filosofia europeia (visão abrangente de um homem que só era compreendido filosófica ou sociologicamente, ou seja, um homem abstrato).
1976: congressos interamericanos – críticas mais sistematizadas e novas propostas principalmente pelo grupo da Venezuela.
Cria-se A Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO)
Brasil: Propostas para novos rumos para uma Psicologia Social que atendesse a nossa realidade.
1979: Propostas concretas para uma Psicologia Social com bases materialista-históricas voltadas para trabalhos comunitários.
A Psicologia Social e o Materialismo Histórico
O Materialismo Histórico Dialético é uma teoria filosófica e científica; 
Construída por Marx e Engels no século XIX. 
Compreende que os fenômenos materiais são processos. Mundo não é uma realidade estática, é dinâmico, é um complexo de processos. Considera as coisas na sua interdependência recíproca e não somente linear. 
A Psicologia Social e o Materialismo Histórico
Consciência do homem mesmo sendo determinada pela matéria, estando historicamente situada, na medida em que se faz também dialética;
O conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação sobre o mundo, possibilitando inclusive as ações transformadoras. 
Explicação da história por fatores materiais (econômicos, técnicos).
Toda a psicologia é social
Esta afirmação não significa reduzir as áreas especificas da Psicologia a Psicologia Social, mas sim cada uma assumir dentro da sua especificidade a natureza historico-social do ser humano. 
Clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolando- o ou fragmentando-o, como se este existisse em si e por si.

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