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Tétano Profa Dra Rúbia de Aguiar Alencar Tétano Doença infecciosa aguda, grave, não contagiosa, causada pela ação de exotoxinas liberada pela forma vegetativa do Clostridium tetani. É um bacilo gram-positivo esporulado, anaeróbico estrito, semelhante a um alfinete de cabeça, com 4 a 10μ de comprimento. Produz esporos que lhe permitem sobreviver no meio ambiente, por vários anos. Epidemiologia • Em países da Europa e América do Norte, a doença já é considerada rara. • No Brasil, vem diminuindo a cada ano. • De 1982 para 2006, os casos de contaminação por tétano reduziram mais de 80%, de 2.226 para 415. • Acomete todas as faixas etárias; • Maioria dos casos ocorreu com pessoas entre 25 e 64 anos de idade; • Sexo masculino; • Letalidade de aproximadamente 34%, sendo mais representativa nos idosos; (Brasil, 2012) Epidemiologia • No estado de São Paulo foram registrados 14 casos de tétano acidental no ano de 2012. • 10 homens • 4 mulheres • GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica) de Botucatu: • 2 casos de tétano acidental • 2007 em Itaporanga • 2008 em Avaré (CVE, 2012) Clostridium tetani Exotoxinas Tetanolisina No tétano humano ainda não é clara, mas acredita-se que pode danificar o tecido sadio ao redor da ferida e diminuir o potencial de oxirredução, promovendo o crescimento de organismos anaeróbicos. Tetanopasmina Neurotoxina (toxina tetânica) – inibir a liberação do neurotransmissor através da membrana pré- sináptica, por várias semanas, envolvendo dessa forma o controle motor central, a função autonômica e a junção neuromuscular. Tétano acidental: acomete pessoas que entram em contato com o solo e materiais contaminados, com o bacilo do tétano. Tétano neonatal: causado pela contaminação do coto umbilical - pelo uso de substâncias e instrumentos contaminados com o bacilo. Reservatório O C. tetani é normalmente encontrado na natureza, sob a forma de esporo, podendo ser identificado em: pele, fezes, terra, galhos, espinhos de arbustos, trato intestinal dos animais (especialmente do cavalo e do homem, sem causar doença), pregos ou latas enferrujadas, fios de sutura e agulhas não devidamente esterilizados. A infecção ocorre pela introdução de esporos em solução de continuidade da pele e mucosas (ferimentos superficiais ou profundos de qualquer natureza). Em condições favoráveis de anaerobiose. Esporo Forma vegetativa Tetanopasmina Modo de transmissão As toxinas não provocam sequelas neurológica e geralmente não afetam o estado de consciência do indivíduo. Determina a contratura simultânea de músculos agonistas e antagonistas – contratura muscular permanente. Bloqueiam a transmissão de impulsos inibidores dos neurônios e os coloca em conexão. Atua sobre o aparelho pré-sináptico, aumentando a liberação de acetilcolina e inibindo a colinesterase; responsáveis pelo distúrbio na transmissão neuromuscular do tétano. Tetanopasmina migra do foco da infecção na periferia até o SNC, a medula e aos gânglios dos pares cranianos motores e liga-se a receptores de interneurônios inibidores, bloqueando a sua ação. Virulência - alta Infectividade - baixa Patogenicidade – alta Clostridium tetani Bactéria- resistentes aos antissépticos comuns Período de Incubação • Variável • É o período que o esporo requer para germinar, elaborar as toxinas que vão atingir o sistema nervoso central (SNC), gerando alterações funcionais com aumento da excitabilidade. • Casos leves – 6 a 10 dias, podendo ser de até 4 semanas; • Casos graves – 3 dias ou menos. Período de Progressão • É o tempo decorrido entre o primeiro sintoma clínico, que em 60% dos casos é o trismo, até o primeiro espasmo muscular; • Pode variar de poucas horas a vários dias. Solução de continuidade da pele e mucosas condições de oxirredução contaminação por esporos capacidade de germinar e produzir toxinas - Indivíduos sem imunidade antitetânica - Adquirida naturalmente ou passiva/ativa Ocorrência do Tétano O tétano acidental se manifesta por: • Febre baixa ou ausente – hipertonia muscular mantida, hiperreflexia, espasmos, contraturas paroxísticas espontâneas ou provocadas por estímulos tácteis, sonoro, luminosos ou alta temperatura ambiente. O quadro clínico varia de acordo com o tipo de foco infeccioso. Em geral, o paciente mantém-se consciente e lúcido. • Hipertonia dos músculos – masseteres (trismo e riso sardônico), pescoço (rigidez de nuca), faringe ocasionando dificuldade de deglutição (disfagia), contratura muscular progressiva e generalizada dos membros superiores e inferiores (hiperextensão de membros), reto-abdominais (abdômen em tábua), paravertebrais (opistótono) e diafragma levando à insuficiência respiratória. Os espasmos são desencadeados espontaneamente ou aos estímulos. Tétano Localizado • O início dos sintomas ocorre com mialgia por contrações involuntárias dos grupos musculares próximos ao ferimento, podendo ficar restrito a um determinado membro; • O paciente refere apenas discretos repuxamentos; • Geralmente os pacientes são parcialmente imunes (reforço da vacina há mais de 10 anos ou aplicação recente de soro antitetânico); • Houve pequena produção de toxina pelo bacilo; • Período de incubação costuma ser prolongado. Tétano Cefálico • Tipo especial de tétano localizado e grave; • Ocorre devido a ferimentos em couro cabeludo, face, cavidade oral e orelha; • Presença de trismo, paralisia de um ou mais nervos cranianos; • A paralisia observada acomete o nervo localizado no lado do foco infeccioso. Tétano Generalizado • Variedade clínica mais comum; • Contratura permanente; • Hipertonia generalizada ou de certos grupos musculares (trismo, riso sardômico, opistótono); • Rigidez dos músculos abdominais, cervicais e membros; • Espasmos e convulsões; • Quadro de asfixia, cianose e parada respiratória. Tétano Neonatal • Incubação: aproximadamente 7 dias; • Dificuldade de sucção; • Trismo e disfagia; • Ausência dos reflexos; • Hipotensão dos MMII e hiperreflexão dos MMSS, mão em flexão de difícil abertura; • Opistótono geralmente intenso; • Contração dos músculos da mímica facial-riso sardômico; • Musculatura orbicular contraída-olhos cerrados; • Musculatura frontal contraída. Toxina tetânica hiperatividade do sistema nervoso simpático. • Hipertensão arterial com oscilações; • Taquicardia/parada cardíaca; • Instabilidade vasomotora; • Sudorese profusa e íleo paralítico; • Edema pulmonar; • Fraturas vertebrais (compressão/espasmos musculares) hemorragias traqueais e gastrintestinais (úlceras de estresse), embolias pulmonares e retenção urinária. Diagnóstico O diagnóstico do tétano é eminentemente clínico-epidemiológico, não dependendo de confirmação laboratorial; História de ferimento suspeito; Sinais e sintomas referidos; Exame físico detalhado. Tratamento • O doente deve ser internado em unidade assistencial apropriada, com mínimo de ruído, de luminosidade, com temperatura estável e agradável. Casos graves têm indicação de terapia intensiva; • Equipe médica e de enfermagem experientes no atendimento a esse tipo de enfermidade.Os princípios básicos do tratamento do Tétano Sedação do paciente: administração de benzodiazepínicos; Bloqueador neuromuscular com monitor de relaxamento: rocurônio; Neutralização da toxina tetânica: realizada o mais brevemente possível após o diagnóstico. Sugere-se a administração em dose única, via IM profunda de 500 a 5000UI a imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) ou, na indisponibilidade, 20.000 a 30.000 UI do soro antitetânico (SAT). (Lisboa et al., 2011) Os princípios básicos do tratamento do Tétano Erradicação do C. tetani: antibióticos ação bacteriostática/bacteriolítica. Sugere-se a utilização de metronidazol ou de penicilina. Debridamento do foco infeccioso (cirúrgico): debridamento de 1 a 6 horas após a administração de imunoglobulina, uma vez que não está estabelecido o momento ideal do procedimento. (Lisboa et al., 2011) Os princípios básicos do tratamento do Tétano Medidas de Controle • Internar o paciente, preferencialmente, em quarto individual com redução acústica, de luminosidade e temperatura adequada (semelhante à temperatura corporal); • Instalar oxigênio, aparelhos de aspiração e de suporte ventilatório; • Manipular o paciente somente o necessário; • Garantir a assistência por equipe multiprofissional e especializada; • Realizar punção venosa; • Sedar o paciente antes de qualquer procedimento; • Manter as vias aéreas permeáveis [se necessário, entubar (traqueostomia), para facilitar a aspiração de secreções]; (Brasil, 2009) Os princípios básicos do tratamento do Tétano • Realizar a hidratação adequada. • Utilizar analgésico para aliviar a dor ocasionada pela contratura muscular; • Utilizar heparina de baixo peso molecular (5.000UI, 12 em 12 horas, subcutânea), em pacientes com risco de trombose venosa profunda e em idosos; • Mudança de decúbito; • Notificar o caso ao serviço de vigilância epidemiológica da secretaria municipal de saúde; (Brasil, 2009) Assistência de Enfermagem • O plano de assistência de enfermagem terá como parâmetros os aspectos epidemiológicos fisiopatológicos e clínicos descritos na literatura. • Para elaborar uma assistência de enfermagem sistematizada deve-se considerar as características individuais detectadas no exame físico detalhado realizado pelo enfermeiro e adequar de acordo a evolução clínica do paciente. Assistência de Enfermagem Na admissão do paciente: • Período de incubação; • Tipo e localização do ferimento; • São aspectos fundamentais que podem dar indícios da provável evolução da doença; • Suspeita de tétano grave - o enfermeiro deve planejar junto com o médico o momento ideal de realizar os procedimentos invasivos - pois podem exercer ação estimulante – desencadeando contraturas e espasmos; A evolução do tétano é sempre uma surpresa, portanto a observação constante é fundamental Profilaxia Medidas Gerais: • Educação em Saúde; • Proteção física; • Cuidados com os ferimentos; • Assistência obstétrica (gravidez e parto); • Limpeza e desbridamento de ferimentos; • Antibioticoterapia. Profilaxia Imunização Ativa (Vacinação): • Esquema para as crianças: • 3 doses (2, 4 e 6 meses) • 2 reforços (15 meses e 5 anos) • Esquema para adultos: • 3 doses e reforço a cada 10 anos • Esquema para gestantes: • Com até 3 doses anteriores, sendo a última dose com 5 anos ou mais – 1 dose de reforço • Sem doses anteriores – iniciar esquema de 3 doses Imunização contra Tétano em caso de ferimento História de imunização contra o Tétano Ferimento limpo ou superficial Outros Ferimentos Vacina Imunização passiva Vacina Imunização passiva Incerta ou menos de 3 doses sim não sim sim Três doses ou mais: Última dose a menos de 5 anos Última dose entre 5 e 10 anos Última dose a mais de 10 anos não não sim não não não não sim sim não não não Referências • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. – 7. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. • Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Site: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=219 02 • Colombrini MRC, Marchiori AGM, Figueiredo RM. Enfermagem em infectologia. São Paulo: Atheneu, 2009. 466p. • CVE. Centro de Vigilância Epidemiológica. Site: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/zoo/tetac_gve.htm • Lisboa T, Ho Yl, Henriques Filho GT, Brauner JS, Valiatti JLS, Verdeal JC, Machado FR. Diretrizes para o manejo do tétano acidental em pacientes adultos. Rev Bras Ter Intensiva. 23(4):394-409, 2011. • Sousa M. Assistência de Enfermagem em Infectologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004. 351p.
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