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Cenário_Iluminação_Projeto

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INTRODUÇÃO
	A disciplina Elementos Visuais do Espetáculo I é ministrada pelo professor Marcondes Gomes Lima. O presente trabalho foi maturado ao longo das aulas teóricas e práticas que tivemos neste semestre. Período conturbado, protestos e paralisações quebraram o ritmo dos nossos encontros, mas mesmo assim foi possível dar conta do nosso programa.
		O texto escolhido é um desafio. Anjo Negro não respeita as unidades de tempo, lugar e ação examinadas pelo filósofo estagirita em sua Poética. Não foi apenas um trabalho de cenógrafo ou iluminador, nossa proposição exigiu de nós um olhar de encenador.
	Partimos do óbvio. Queríamos capturar aquela atmosfera, o mundo pequeno daqueles personagens, o espaço em que todos os pecados podem ser cometidos, um lugar que respondesse as suas próprias leis, optamos pelo quarto. Na casa, cada cômodo, cada espaço tem um significado. No quarto, guardamos as nossas intimidades, um dos lugares mais seguros da casa, onde passamos grande parte da nossa vida. Diferentemente de outros ambientes da casa, o quarto talvez seja o menos social, pois é um lugar de regras muito particulares.
	No início da nossa pesquisa, fomos orientados a encontrar uma palavra que pudesse dar conta da nossa compreensão acerca do texto, um conceito para nos guiarmos; Depois de algumas leituras do texto, chegamos às palavras-chave que iluminam o desenvolvimento desse projeto: prisão, claustro, cativeiro.
	A exposição do processo criativo do professor, que também é cenógrafo, figurinista, iluminador, maquiador e encenador, possibilitou a compreensão das etapas do nosso trabalho. Aulas valiosas que abriram nossa compreensão. Foi possível perceber como um profissional da cena trabalha e quais são os seus percursos até a conclusão da obra.
	Decidimos então pelo quarto e as referências dos móveis vieram da obra do Arthur Bispo do Rosário, artista que foi internado num manicômio depois de ter uma visão do Cristo e seus anjos. Na sua cela, passou a produzir objetos a partir de materiais de sucata, vestimentas, lençóis. Tempos depois foi descoberto, hoje é considerado um artista de vanguarda:
sua Obra é uma grande instalação, composta por numerosos objetos, obras conceituais, ordenadas, organizadas e espalhadas; com o artista performaticamente vestindo, ostentando, circulando por e entre, colocando-a em movimento; enfim, atuando nela sua vida (AQUINO, 2010, p.33)
	Bispo saiu do suporte tradicional e procurou criar no espaço, erigindo o que se convencionou chamar hoje de “instalação”. 
	A obra de Rosário juntou-se as referências trazidas do seminário que apresentamos na disciplina sobre Grotowski, e a ideia do espectador que é levado a se confrontar com suas “crenças mornas”, que não se encontra, no ato da fruição, numa situação confortável, foi tomando vulto e decidimos criar um espaço que proporcionasse uma relação não convencional entre o ator e a plateia.
	Depois de muitos rabiscos e discursões sobre o texto, chegamos a este produto que será pormenorizado nas páginas subsequentes.
NELSON RODRIGUES
A vida e a Obra
Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife e ainda criança foi morar no Rio de Janeiro com seus pais. Disse certa vez que a fome que passou em sua infância só podia ser comparada a dos Retirantes de Portinari. O interesse pelos casos policiais surgiu muito cedo na vida desse menino acostumado a ver a vida pelo buraco da fechadura. Na escola, a pedido da professora, escreveu o primeiro conto. Sua mãe foi chamada pela coordenação para uma conversar. A trama que escreveu era digna da Vida como ela é, recheada de traição e morte. Bem mais tarde, já consagrado, diz que ali escreverá a primeira crônica da coluna diária mantida pelo autor no jornal Última Hora.
Aos 13 anos Nelson Rodrigues começa sua carreira como jornalista; Trabalha como repórter policial do jornal A Manhã, seu pai, Mário Rodrigues, era um dos proprietários. A redação do jornal foi palco de uma tragédia que marcou profundamente a vida deste que, seguramente, é um dos maiores autores da moderna dramaturgia brasileira: o seu irmão Roberto Rodrigues foi assassinado com um tiro no estômago em 1929 no lugar do pai. Foi a primeira cena de violência brutal que presenciava, essa tal fatalidade marcaria profundamente a sua obra. Seus textos carregam as marcas do que via e ouvia: solteironas amargas, vizinhas gordas bisbilhoteiras, tias magras e ressentidas, partos e velórios feitos em casa, nas salas tinham escarradeiras e ainda se tomava banho na bacia.
Trabalhou em vários jornais, escreveu sobre futebol, sua grande paixão, frasista excepcional, criou pérolas como: “o brasileiro é um feriado” ou “toda unanimidade é burra”. Em 1943, Vestido de noiva, dirigida pelo polonês Ziembinski recém-chegado ao Brasil obteve grande repercussão. A montagem foi um sucesso. A peça seguinte, Álbum de Família, daria a Nelson o rótulo de desagradável; Seu teatro era mórbido, imoral, um sacrilégio. O texto carregado de incesto (mas o “incesto é bíblico” se defendeu o autor) não passa pela censura e só é liberado duas décadas depois. 
Suas peças chocavam os espectadores mais pudicos, um teatro capaz de provocar “o tifo e a malária na plateia”, despertaria sem dúvida o ódio de muitos. Com relação a tantas acusações e perseguições, disse: 
Como autor, fiquei a margem de tudo. Não articulei uma frase, não usei um contra-argumento. E, no entanto, muitos dos críticos eram de uma fragilidade de meter dó. Eu poderia alegar, a favor de Álbum de Família, várias coisas, inclusive que, para fins estéticos, tanto fazia um, dois, três, quatro, cinco incestos ou meia dúzia. Podiam ser duzentos. Na verdade, visei um resultado emocional pelo acúmulo, pela abundância, pela massa de elementos.	[1: Fragmento extraído da revista Folhetim maio-agosto/2000 p.9]
Denuncia a hipocrisia da moralidade cristã estruturadora do nosso agir em sociedade, abre as portas e escancara as taras, os desejos e as perversões que nos habitam: “toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo.”, pensava o nosso autor. 
Certa vez, questionado pelo conteúdo dos seus escritos, disse que poderia escrever 250 peças sobre amor, sobre morte... Qualquer tema poderia ser falado muitas vezes, nas mais variadas situações. Com toda sua genialidade, escrevia personagens humanos, não os julgava. 
Polêmico, pensador radical até os últimos dias de sua vida, morre no Rio de Janeiro aos 68 anos e deixa uma obra que figura entre as maiores da nossa literatura.
ANJO NEGRO
Considerações sobre a peça
O drama em três atos de Nelson Rodrigues começa com o velório do terceiro filho do casal Ismael e Virgínia. Como os outros dois anjos, este também foi morto pelas mãos da mãe. Não queria ter filhos de cor, mas Ismael estuprava-a todas as noites. A trama tem como eixo o preconceito, não só do branco pelo negro, mas do próprio negro com ele mesmo. Nelson, como todo grande autor, não se preocupa em demonizar seus personagens, em fazer juízo moral. 
Virgínia não é inocente, joga com o marido, vitima seus filhos, rejeita-os, se refere a eles com o pronome “teus”, são filhos do negro, não dela. Tudo naquela casa nasce do casal, “o mundo está reduzido a nós dois – eu e você” (RODRIGUES, 1981, p.132), disse Virgínia. 
Ismael quer tudo sobre controle. Tranca a porta do quarto quando sai, não admite outro olhar de homem na casa, mantém a mulher encarcerada, trancada no quarto, não pode nem passear pela casa: “tão bom ver outras paredes que não sejam essas; as paredes da sala, do corredor... Tão bom mesas, cadeiras, e não só essas duas camas, os lençóis... (...) Por que me prende Ismael, por quê?” (RODRIGUES, 1981, p. 135) 
Historicamente o poder sempre esteve na mão dos brancos e é dessa cor que o negro se veste. Ele é quem pode querer. Na casa, as janelas altas, os muros intransponíveis, tudofez para que só ele existisse. Nenhuma sombra de outro, nem um quadro Jesus. Tem medo até do olhar do Cristo. 
Perguntaram a Nelson se Anjo Negro era monstruoso, ele respondeu:
Inclino-me por uma resposta afirmativa. Se considerarmos os seus fatos, paixões e personagens, sob um arejado critério de dona de casa ou de lavadeira- o drama será monstruosíssimo. Com efeito, Virgínia mata três filhos, e semelhante operação está longe de ser meritória. A maioria dos críticos se baseou no “onde já se viu fazer uma coisa dessas? “Ora, cada um faz seu juízo como quer, entender ou pode. De qualquer maneira, parece-me precário o crítico que se enfurece contra os personagens e se põe a insultá-los. Imagino uma pessoa que, perante O avarento, de Molière, invalidasse a peça, sob a alegação de que o personagem é um pão-duro, um unha-de-fome. Ou, então, que, em face de Otelo, se pusesse a berrar, da plateia: - Canalha!”[2: Fragmento extraído da Revista Folhetim, maio-agosto de 2000. P.11]
	O critério das donas de casa e a conversa das lavadeiras são reproduzidos pelo coro, que sofre, lamenta e comenta os fatos ocorridos. Sobre a utilização do coro nos diz Sarrazac (2010, p.61): “a presença dos coros cria invariavelmente, sobre a representação, feixes de efeitos convergentes visando modificar a relação do espectador com a fábula”, este papel é desempenhado pelas senhoras, a tia e as primas. Nietzsche vê no coro a possibilidade de transmissão de uma narrativa mítica das origens comunitárias.
 Apesar de toda vigília do negro, uma ameaça se aproxima de sua fortaleza: o irmão cego, Elias. A história do casal nos é revelada, como se conheceram, como Ismael foi arranjado para Virgínia, por vingança da tia que presenciara uma cena amorosa entre a sobrinha e o noivo de sua filha. A prima fechou-se no banheiro e suicidou-se, a que traiu foi trancada no quarto. De noite foi possuída e gritou como uma mulher nas dores do parto, “a cama ficou como estava; não mudaram o lençol, não apanharam o travesseiro, nem o crucifixo de cristal que se partiu naquela noite” (RODRIGUES, 1981, p.145)
	Elias é a esperança de um filho branco. Seduzido pela loucura da mulher de seu irmão, o cego se deita na sua cama. Ela agora espera um filho branco.
	A tia revela a traição a Ismael e ele arquiteta a morte do irmão. Quer ver com seus olhos com ama um anjo. Elias é levado até o quarto. Com calma Ismael levanta o revólver. Não atira no estômago, nem no peito, acerta o rosto do irmão.
	No terceiro ato, passaram-se dezesseis anos e tudo está como nos anos anteriores. Na casa mumificada nunca mais fez sol. Ana Maria, última filha do casal, já é uma adolescente. O padrasto também a cegou, pingou ácido nos olhos dela para que não visse outra cor: “para um cego, que a gente cria, desde que nasceu, que a gente esconde, guarda – não é? -, é melhor mentir. É preciso até mexer nos Dez Mandamentos”
	No segundo quadro do último ato Virgínia discute apaixonadamente com Ana Maria. Quer revelar-lhe toda verdade sobre o padrasto. A filha já violada e apaixonada pelo negro não acredita nas palavras da mãe. Só acredita no seu quarto, não existe nada além daquelas paredes. Virgínia desesperada vai ao encontro de Ismael e os dois tramam a morte da adolescente. Enquanto contava o que sua mãe havia falado sobre o mundo além dos muros, a menina é conduzida até o mausoléu pelo falso pai. Virgínia fecha a metade da porta e Ismael fecha a outra metade das portas do túmulo de vidro.
	Enquanto a filha de Elias tenta sem sucesso livrar-se da prisão, o coro das Senhoras anuncia que a trágica história se repetirá, anjos negros morreram como os outros. Ana Maria, percebendo o inútil esforço de libertação, morre ali petrificada, este é o fim do terceiro e último ato. 
A CONCEPÇÃO DA CENOGRAFIA 
 	A concepção espacial da cena grotowskiana requeria uma considerável redução da distância entre ator e espectador. A relação entre os dois torna-se: “uma relação física, ou melhor, fisiológica, na qual, o choque dos olhares, a respiração, o suor etc., terão participação ativa” (ROUBINE, 1998, p.102). Dentro desta proposta o teatro Hermilo Borba Filho torna-se o espaço que melhor poderá acolher a nossa encenação.
	No palco do teatro, montaremos uma instalação que receberá dezesseis espectadores por apresentação. Na cama da loucura, onde Ismael estupra Virgínia todas as noites, a plateia senta e deita. O móvel é inspirado na Cama de Romeu e Julieta criada pelo artista Arthur Bispo do Rosário. Será feita de algodão, tecido sintético, madeira, linhas, rendas, papelão e metal. Bispo desmanchava os uniformes do manicômio a fim de isolar os fios, desmanchava roupas e trapos para mumificar suas peças. Queria fazer um inventário das coisas do mundo para apresentar a Deus quando chegasse ao céu. Todos os objetos de cena serão mumificados com tecidos encardidos, pretos, brancos ou azul bebê. Assim será com a escada, que também faz referência a outra obra desse artista, Escada 141. Partimos dela para criar a escada tesoura que estará no centro do jogo demarcado pelo linóleo branco, é o chão que o negro pisa. A escada poderá assumir mais de uma função na história. Sugerimos que todas as vezes que a porta do quarto for fechada a escada seja desarmada na cena, mas fica a critério do encenador a utilização desse objeto de cena.
	O negro queria se esconder do olhar do outro, dos desejos do outro. Cresceu os muros, fez uma fortaleza da sua morada. A instalação deseja capturar o mundo das personagens centrais para trama: Ismael e Virgínia. O quarto para Ismael é uma terra sem homens, nele só o seu desejo existe. Na fala de Virgínia percebemos o poder que este espaço exerce sobre as personagens: “Eu e ele criaríamos um mundo tão pequeno, tão fechado, tão nosso, como uma sala... Como uma sala, não! Como um quarto... Nada mais que este espaço, nada mais que este horizonte – o quarto.” (RODRIGUES, 1981, p.173)
Enquanto que em Dorotéia toda a casa é uma sala, em Anjo Negro a casa toda é um quarto. Na discussão com Ana Maria, no terceiro ato, Virgínia diz: ‘’Ele mente quando diz que isso aqui, esse teu quarto, essas paredes – que isso é o mundo e tudo mais está podre.” (RODRIGUES, 1981, p.183)
Assim como os celerados presentes nas obras do Marquês de Sade procuram espaço privados, protegidos dos julgamentos dos homens, castelos ou alcovas para submeter suas vítimas a todo tipo de desregramento, Ismael também constrói sua prisão, seu universo paralelo, seu castelo, seu quarto. Nessa terra, só existe um senhor e ele veste branco, é rico, não toma cachaça, renega a mãe preta, mata, cega, estupra e mente. Ismael quer tudo sob controle, como queria os senhores libertinos. Há na obra do marquês uma preocupação extremada com o controle e a organização. Tudo é organizado, a libertinagem opera entre a medida e a desmedida. Sade busca ter total controle sobre as “extravagâncias da luxúria” para ampliar as possibilidades de deleites no cardápio libertino. Numa passagem de Juliette, em meio a uma orgia de quatrocentas pessoas, as mais lascivas do universo, é possível ouvir o voo de uma mosca. Esse gosto pelo controle leva Foucault a chama-lo de “sargento do sexo”, um “contador de bundas”. 
A necessidade de controle de Ismael cresce a cada ato para que a sua vontade reine soberana: “quero que só o meu desejo exista, e não o dos outros...” (RODRIGUES, 1981, p.187). O público está cercado por paredes negras, televisores suspensos em móveis que lembram criados mudos (estes serão mumificados com fios pretos) transmitem as imagens das cenas externas. Atrás das paredes o coro comenta, explica, lamenta. A natureza das imagens fica a critério do encenador, sugerimos imagens realistas de câmeras de segurança em preto e branco. Nas cenas em que as tevês são ligadas, recomendamos que só os espectadores fiquem no interior da instalação e que estes possam controlar a luz que incide sobre as suas camas. 
A nossa ideia de cenografia exigirá uma adaptação do texto, o coro e as imagensdas tevês assumirão um papel importantíssimo para que a fábula seja contada. Caberá ao encenador ou ao dramaturgista encontrar as melhores soluções para que a força do texto rodrigueno seja preservada.
A CONCEPÇÃO DA ILUMINAÇÃO
A utilização da luz envolve não só o campo das ciências exatas aplicadas, como também o das ciências humanas como fisiologia, a psicóloga, a segurança, a arte... Desta forma, o estudioso em iluminação deverá dedicar-se não só ao formalismo matemático, mas também aos efeitos comportamentais do indivíduo frente a um sistema de iluminação, ou seja, dos efeitos sobre o indivíduo e o ato e ver. (COSTA, 2005)
	Para elaborar a iluminação de um espetáculo em que a concepção se baseia em um “teatro livre de truques e artifícios, centralizando a atenção no ator” (CAMARGO,2000 p.51) é necessário ter a consciência da importância do elemento físico a partir do momento que ele interferirá na cena com sua luminosidade, mesmo que esteja ali para apenas “clarear” a cena. Todos os seus aspectos técnicos da iluminação entrarão no espetáculo, sejam eles, efeitos do feixe de luz ou do próprio design do equipamento.
	Compreendendo a necessidade do primeiro casamento entre luz e encenação. O segundo segmento a ser trabalhado será a junção com a concepção cenográfica. Nessa junção a disposição técnica se dá com oito extensões com uma lâmpada incandescente cada, estas poderão ser acesas ou apagadas pelo próprio público através de um pino de abajur. Mesmo estando sob o controle do público, a lâmpada não esquenta o suficiente para iluminar toda sala, apenas reproduz um pequeno feixe sobre a cama. Será ligada a 10% de sua potência. A cor das lâmpadas incandescentes serão daylight blue. Utilizaremos para a criação de um ambiente depressivo, criando o efeito de céu escuro: “a casa não tem teto para que a noite possa entrar e possuir os moradores” (RODRIGUES, 1981, p.125)
	Temos na disposição da cena a utilização de quatro pc’s de 500W Mauves e 4 pc’s de 1000W na cor Medium Amber, ambos são utilizados para criar um ambiente desgastado, carcomido. Na escada temos dois elipsoidais que ascendem de acordo com a utilização do mesmo, causando o efeito de uma luz exterior que atinge o cômodo.
	A casa/quarto com suas paredes negras trazem para o ambiente uma sensação de clausura. A iluminação estará em quase sua totalidade sendo elevada a no máximo 30% de sua capacidade, a fim de continuar instigando a criação desse ambiente claustrofóbico.
ROTEIRO DE ILUMINAÇÃO PARA CENA ESCOLHIDA
Todas as lâmpadas incandescentes a gosto da sua “dupla de cama” + 25% dos Elipsoidais da escada + 15 % dos PC’s de 500W, quando Ismael atravessa a escada acontece um FADE OUT da primeira cena para acontecer FADE IN dos PC’S de 1000W. 
I ATO
(Ismael sobe a escada; entra no quarto da mulher. Embaixo, no velório, se faz mais nítido o rumor de preces. Ismael para, pouco atrás da mulher, que está de novo em pé.)
Ismael – Desde ontem que você está assim, nesta posição.
Virgínia – Já me ajoelhei muitas vezes.
Ismael – Mas nem se deitou, nem dormiu.
Virgínia – Meus olhos estão queimando.
Ismael – Febre.
Virgínia (retificando) – Essa noite em claro.
Ismael – Nosso filho está sozinho.
Virgínia – Eu senti que você não estava mais na sala. (volta-se para o marido) Desde ontem que eu estava esperando – esperando o quê, meu Deus?
Ismael – Você me esperava, Virgínia.
Virgínia (com espanto) – Espera você! Só posso esperar você, sempre. Só você chega, só você parte. O mundo está reduzido a nós dois – eu e você. Agora TEU filho morreu. 
Ismael (com certa veemência) – Mas não foi isso que você quis? Quando aconteceu AQUILO, aí do lado (indica o leito próximo) que foi que você disse?
Virgínia – Não sei, não me lembro, nem quero.
Ismael – Disse que queria fugir de tudo, de todos; queria que ninguém mai visse, que ninguém mais olhasse para você. Ou não foi?
Virgínia – Depois do que aconteceu ali – se alguém me visse, se alguém olhasse para mim, eu me sentiria nua...
Ismael – Então eu te falei nesses mausoléus de gente rica, que parecem uma pequena casa. Que foi que você respondeu?
Virgínia (mecânica) – Respondi: “Eu queria estar num lugar assim, mas VIVA. Um lugar que ninguém entrasse. Para esconder minha vergonha.”
Ismael – Era isso que eu queria, também. E quero esse lugar, essa vida. Por isso criei todos esses muros, para que ninguém entrasse. Muros de pedras e altos.
Virgínia (com espanto virando-se para o marido) – O mundo reduzido a mim e a você, e um filho no meio – um filho que sempre morre. 
Ismael – Sempre.
Virgínia – Já me esqueci dos outros homens, já sinto como se no mundo, só existisse uma fisionomia – a sua – todos os homens só tiveram um rosto – o seu. (muda de tom) Ismael, teus filhos têm o teu rosto!
(vem espiar o rosto do marido.)
Virgínia – Quantos vierem, terão teu rosto!
Ismael – Por que dizes “teus” filhos?
Virgínia (com violência contida) – Porque são “teus”!
Ismael – Nossos!
Virgínia – (depois de uma pausa, mergulhando o rosto nas mãos) SÃO NOSSOS! (muda de tom, para si mesma) Também são MEUS! (excitada para o marido) Ismael também são MEUS! (acaricia o ventre) Aqui eles viveram! (Segurando o marido pelos dois braços) esse que morreu, esse que está lá embaixo – era MEU filho. (numa espécie de ferocidade) Tão parecido com você, como se fosse você que estivesse espiando pelos olhos dele.
(Ismael, sem um gesto, sem uma palavra, observa a histeria que se vai apossando da esposa.)
Virgínia – Outro sai, ouviu? Eu lembrei de um rosto mas não sabia quem era, não conseguia me lembrar do nome. Não havia meio. Depois me lembrei – era o de Jesus, o rosto de Jesus.
(Aperta o rosto entre as mãos está devorada pelo desespero. Passeia pelo quarto, enquanto o marido permanece impassível.) 
Virgínia – Ismael, quero que você me arranje um quadro de Jesus! Jesus não tem o teu rosto, não tem os teus olhos – não tem, Ismael!
Ismael – Não – aqui não entra ninguém.
Virgínia – Mas é um quadro, Ismael, um retrato, uma estampa – eu ponho ali, na parede. Não é bom lugar? Aqui, Ismael! Se você quiser, nem olho, é bastante para mim saber que há na casa um novo rosto. Sim, Ismael?
Ismael (segurando-a) – Não quero, não deixo! Se eu quis viver aqui, se fiz esses muros; se juntei dinheiro, muito; se ninguém entra na minha casa – é porque estou fugindo. Fugindo do desejo dos outros homens. Se mandei abrir janelas muito altas, muito, foi para isso, para que você esquecesse, para que a memória morresse em você para sempre. (com uma paixão absoluta) Virgínia, olha para mim, assim! Eu fiz tudo isso para que só existisse eu. Compreende agora? Não existe rosto nenhum, nenhum rosto branco! Só o meu, que é preto...
CONTINUE DIGITANDO ATÉ O FIM DO PRIMEIRO QUADRO
Virgínia –
Ismael –
Virgínia –
Ismael
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fizemos diversos esboços durante a feitura desse trabalho. Os desafios do texto foram sendo resolvidos a partir do nosso contato nas aulas com diversos teóricos que pensaram o nosso ofício. O que parecia impossível no início do semestre ganhou contornos e formas. Este trabalho é o resultado de uma pesquisa em grupo realizada ao longo do semestre. Aas ideias foram sendo maturadas em fogo brando. Apresentamos os resultados à turma. Esse confronto foi fundamental para que pudéssemos resolver os problemas que ainda enfrentávamos. A partir das soluções apontadas, decidimos mudar os modelos dos televisores e aumentar os móveis que dão suporte a eles. Ampliamos o espaço que, inicialmente, só comportaria doze espectadores e começamos a amarrar as ideias que geraram os conceitos presentes neste projeto.
No processo de criação, percebemos o quanto qualquer elemento da linguagem teatral pode resolver ou orientar a encenação. Nesse caso, foi o cenário. Tivemos que pensar como encenadores, precisávamos resolver todos os problemas do texto, criar elementos que pudessem servir à história, atualizando a obra e preservando ao mesmo tempo.
	
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AQUINO, Ricardo.A quarta epistémê, ilustrada na obra de Bispo do Rosário. Catálogo Santander, Porto Alegre, 2010.
CAMARGO, Roberto Gil. Função Estética da Luz. Sorocaba-SP: TCM Comunicação, 2000.
CASTRO, Ruy, O anjo pornográfico. São Paulo: Companhia das letras, 1992.
COSTA, Gilberto José Corrêa da. Iluminação Econômica – cálculo e avaliação. 3ª edição. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
FOULCAULT, Michel. Sade, sargento do sexo. Ditos e Escritos: Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. São Paulo: Forense Jurídica, 2006.
RODRIGUES, Nelson. Teatro Completo, 2: peças míticas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
ROUBINE, Jean-Jacques. A linguagem da Encenação Teatral. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
MORAES, Eliane. Sade: o crime entre amigos. Libertinos e Libertários. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1996.
SARRAZAC, Jean-Pierre. Léxico do drama moderno e contemporâneo. São Paulo: Cosac Naify, 2012.
ANEXOS

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