Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Objeções ao Dualismo Cartesiano: Uma Abordagem Externalista Orientanda: Natalia Cristine de Oliveira Orientadora: Mariana Claudia Broens PIBIC/CNPq Filosofia – Unesp Campus de Marília A abordagem externalista considera os processos mentais numa perspectiva sistêmica e relacional do agente inserido no meio ambiente e não como eventos internos de um sujeito cartesiano. A perspectiva externalista permite revisar criticamente algumas teses cartesianas como, por exemplo, o dualismo mente/corpo, que separa as atividades do intelecto e as atividades do corpo, ou seja, as teóricas das práticas. Na obra “The Concept of mind”, Gilbert Ryle problematiza a tese cartesiana “do fantasma na máquina”, mostrando que ela é responsável por uma concepção dualista de pessoa: as pessoas teriam uma vida dupla, a vida privada da mente, inobservável e acessível apenas à própria pessoa, e a vida pública do corpo, observável e potencialmente acessível a todos. Segundo Ryle, a perspectiva dualista e internalista da mente considera que as atividades mentais são próprias de um sujeito incorpóreo e imaterial temporariamente unido a um corpo. No entanto, Ryle chama nossa atenção para o fato de que quando descrevemos pessoas exercendo atividades mentais, não nos referimos somente a episódios ocultos, internos e inobserváveis como pretende a abordagem dualista da mente, mas estamos nos referindo aos próprios atos em si. As teses cartesianas consideram a teoria como algo superior à ação e não como resultante dela, no sentido de ter sido uma capacidade cognitiva evolucionariamente constituída. Uma conseqüência disso é que, a capacidade de teorizar, considerada exclusiva dos seres humanos no dualismo, os faz se considerarem superiores aos outros seres e seus donos e senhores, pois os seres humanos exerceriam um domínio sobre os demais seres propiciado pelo conhecimento, no sentido de que “saber é poder”. Quando uma pessoa é caracterizada como “prudente”, “imprudente”, por exemplo, estes predicados não se referem ao conhecimento ou ignorância de alguma verdade, mas à habilidade ou inabilidade de realizar certas ações, como dirigir um automóvel. Este tipo de concepção de “saber como” (know how) trata de um conhecimento diretamente associado ao plano da ação: para Ryle quando estamos realizando uma ação inteligente não estamos fazendo duas coisas, pensando e agindo, mas apenas agindo habilmente ou inteligentemente. Ryle define habilidades como “ações inteligentes aprendidas”, que não são necessariamente produto da ação da mente sobre o corpo, ele ressalta que a ação inteligente passa a desempenhar um papel central nos processos de interação ser humano/meio ambiente. Apenas consideramos uma pessoa inteligente se ela demonstrar alguma “habilidade”, saber “como” fazer algo no plano da ação. E também as habilidades, “know how” buscam um constante aperfeiçoamento: a ação inteligente exige uma constante atualização das performances, caso contrário, aponta Ryle, seria um hábito mecânico. A habilidade difere do hábito na forma de aquisição, mesmo, pertencendo à mesma família de conceitos. A diferença do hábito para a habilidade é que ele se caracteriza pela repetição sem alterações de uma mesma ação, já a habilidade necessita constante aperfeiçoamento e revisão de ações: “Desde a idade em que aprendemos a andar podemos fazê-lo sem dar atenção aos nossos passos. Mas um alpinista a andar por cima das rochas cobertas de gelo, ao vento no escuro, não mexe os membros por hábito cego; ele pensa no que está a fazer, está pronto para todas as emergências, economiza seu esforço, faz testes e experiências; em resumo, caminha com certo grau de habilidade e discernimento. (p. 41)” Qual a relevância ecológica dessas teses? A distinção entre hábito e habilidade proposta por Ryle é fundamental para compreender a relevância ecológica de suas teses: o aperfeiçoamento constante das ações habilidosas ocorreria em sintonia com as mudanças constantes da dinâmica ambiental. Também parece bastante evidente que as teses de Ryle têm uma lógica evolucionária subjacente: o desenvolvimento de habilidades que se atualizam de acordo com as modificações ambientais é parte integrante dos processos adaptativos dos organismos ambientalmente situados. 13 Referências DESCARTES, R. Meditações metafísicas. Discurso do método. Meditações. Objeções e respostas. As paixões da alma. Cartas. Tradução de J. Guinsberg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973. LARGE, D. N. Ecological Philosophy. 2003. (Acesso em 23/05/2011 no endereço http://www.newphilsoc.org.uk/OldWeb1/Ecological/DavidLarge.PDF,). RYLE, G. (1949) The concept of mind. London: Penguin, 2000.
Compartilhar