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DICOTILEDÔNEAS Chloranthaceae Árvores, arbustos, raramente escandentes, ou ervas; ramos com nós espessados. Estípulas reduzidas. Folhas opostas, simples, serreadas, peninérvias, as bases dos pecíolos unidas em torno do nó, aromáticas (óleos essenciais) quando maceradas. Inflorescência espiciforme ou racemosa. Flores bi ou unissexuadas (plantas geralmente dióicas), mono ou aclamídeas, actinomorfas ou zigomorfas; flores estaminadas sem perianto, com 1(-3, os laterais bisporangiados) estame; flores pistiladas com perianto trilobado, ovário ínfero, trígono, unilocular, estilete curto ou ausente, estigma amplo e seco ou diminuto e secretor; placentação apical, com 1 óvulo ortótropo. Fruto drupa; semente 1. N = 8, 14, 15. Chloranthaceae: A-B planta co família. Chloranthaceae pantropical e inclui quatr espécies. Hedyosmum geralmente flores unisse dez espécies, ocorre na M Zelândia e Madagascar. espécies, é principalme apenas uma espécie brasiliensis está ampla Brasil, onde é utiliz diurético, tônico e a masculinas em ambo constituídas por apenas (veja Leroy 1983 pa diferente das flores masc as femininas possuem a Ascarina, mas em Hed subtendido por uma brác discreto perianto trilobad os casos, o conectivo é p amplo e seco, sugerindo Chloranthus, por outro lado, possuem flores bissexuais, eventualmente consideradas pseudantos derivados da fusão de flores masculinas e femininas mais simples, Sarcandra com um estame e Chlorantus com três. Sarcandra possui três espécies e ocorre no sudeste asiático e no oeste do Pacífico, incluindo Nova Caledônia, Nova Zelândia e Nova Guiné, possuindo também uma espécie em Madagascar a qual é eventualmente considerado um gênero à parte, Ascarinopsis. Chloranthus, com 16 espécies, ocorre na China, Japão e índia. As flores nos dois gêneros emitem odor e mudam de cor durante a maturação, produzem menos pólen e possuem estigma reuzido e secretor, sugerindo polinização por insetos, provavelmente besouros ou moscas. A m frutos. C. distribuição da possui distribuição o gêneros e cerca de 75 e Ascarina possuem xuadas. Ascarina, com alásia, Polinésia, Nova Hedyosmum, com 40 nte neotropical, com asiática. Hedyosmum mente distribuído no ado como digestivo, frodisíaco. As flores s os gêneros são um estame bracteado ra uma interpretação ulinas de Hedyosmum); penas um carpelo em yosmum o carpelo é tea e a flor possui um o no ápice. Em ambos rolongado e o estigma é anemofilia. Sarcandra e Flores dos gêneros de Chlorantaceae. A estrutura reprodutiva bastante reduzida em Chloranthaceae sempre foi motivo para controvérsias em relação a sua posição taxonômica e suas relações de parentesco. Chloranthus já foi incluindo em Loranthaceae e Caprifoliaceae, e Chlorantaceae já foi considerada como um membro de Piperales, Magnoliales, Laurales e Annonales, até finalmente constituir uma ordem distinta, Chloranthales, na década de 1980. Fósseis de grãos de pólen clorantóides estão entre os registros fósseis mais antigos de angiospermas, o que somado à ausência de vasos em Sarcandra, foi um argumento importante para considerar as Chloranthaceae como a linhagem que primeiro teria divergido na evolução das angiospermas e que, portanto, as primeiras flores teriam sido reduzidas. B C Chlorathus Sarcandra Hediosmum Ascarina 100 MAGNOLIÓIDES Ao apresentar sua classificação, de Candolle (ref.) considerou Magnoliales (incluindo Annonaceae, Illicium e Drymis), Nymphaeales e Ranuculales-Papaverales em seqüência, no início de sua classificação, sugerindo assim uma relação entre esses grupos. Mais tarde, Bentham & Hooker (1862) adicionaram Lauraceae em Ranales. Eichler (1890) e Engler & Prantl (1891) contribuíram com o conceito de Ranales acrescentando Hernandinaceae, Monimiaceae e outras famílias. Finalmente, Bessey (1915) construiu a primeira classificação de supostamente filogenética de angiospermas, acrescentando Piperaceae, Saururaceae e Chloranthaceae, estabelecendo as Magnoliidae com cinco linhagens: Magnoliales, Laurales, Piperales, Nymphaeales e Ranunculales-Papaverales. De modo geral, Takhtajan, Cronquist e Dahlgren seguiram Bessey com poucas inovações. Esquema de relacionamentos evolutivos em angiospermas segundo Takhtajan. O sistema de Cronquist (1981, 1988), uma adaptação do sistema de Bessey (1915) e Takhtajan (1964, 1966), considerou seis subclasses de dicotiledôneas, incluindo os membros de Nymphaelidae e Ranunculidae em Magnoliidae e deixando explicito que Magnoliidae era um grupo parafilético, de onde teriam evoluído as demais subclasses – Hammamelidae, Caryophyllidae, Dilleniidae e Rosidae (Asteridae teria evoluído a partir de Rosideae). A subclasse Magnoliidae incluía oito ordens, tendo como grupo ancestral as Magnoliales. As demais ordens teriam derivado de Magnoliales, exceto Ranunculales e Papaverales, que estariam relacionadas com Illiciales num ramo à parte. As duas ordens estariam incluídas em Magnoliidae por causa do gineceu apocárpico e elementos florais espiralados em Ranunculales, além dos numerosos alcalóides benzil-isoquinolínicos característicos da subclasse presentes em Papaverales. A relação delas com Illiciales era sustentada pelo pólen triaperturado nas três ordens. Entretanto, enquanto Ranunculales e Papaverales possuem pólen tricolpado, em Illiciales ele é tricotomonossulcado, uma 101 modificação do monossulcado; atualmente, Ranunculales e Papaverales estão posicionadas na raiz das eudicotiledôneas. Esquema de relacionamentos evolutivos em Magnoliopsida (dicotiledôneas) segundo Cronquist. Apesar do reconhecimento das magnoliidae anteceder a teoria evolutiva, ele influenciou diretamente as interpretações sobre a origem e evolução das angiospermas através da teoria antostrobilar. A teoria se baseava principalmente na hipótese de homologia entre as flores das angiospermas e os estróbilos bissexuados de gimnospermas fósseis (Benmnettitales; veja na parte 4). Segundo ela, então, seria em Magnoliidae que encontraríamos a maioria das características consideradas primitivas para as angiospermas: hábito lenhoso, alcalóides benzil-isoquinolínicos, óleos essenciais, flores bissexuadas, com peças do perianto, androceu e gineceu grandes, livres e dispostas espiraladamente, perianto não diferenciado em cálice e corola, estames laminares e numerosos, pólen monossulcado, carpelos sem sutura, óvulo anátropo e bitegumentado e cantarofilia geralmente associada à termogênese. As Magnoliidae ficaram conhecidas então por representarem o grupo mais “primitivo” (conservativo) dentre as angiospermas. O número e a filotaxia dos carpelos e das demais partes florais são bastante variáveis. Ao longo da evolução, entretanto, teria evido uma tendência à fixação do número floral em 3, 4 ou 5 e o padrão verticilado das peças (a seleção do padrão verticilado deve ter facilitado a formação de um cômpito interno em gineceus sincápicos). Os estames são caracterizados em alguns grupos pela quantidade elevada de tecidos ao redor dos sacos polínicos e falta de uma diferenciação entre anteras e filetes. Esses estames laminares eram considerados primitivos, mas como as plantas desse grupo são em muitos casos protogínicas, polinizadas por besouros, mudanças para esse estado poderiam ser justificadas pela maior proteção dos sacos polínicos. Num segundo momento, eles poderiam ajudar também na atração de polinizadores, tornando-se vistosos e produzindo odores. Com a diminuição do tecido, passou a haver uma diferenciação entre estilete e anteras e a forma ficou mais conservativa. O gineceu é geralmente apocárpico (como tambémo é nas primeiras angiospermas fósseis) ou unicarperlar, mas não é rara a presença de um cômpito, região que permite a distribuição dos tubos polínicos entre os carpelos. Nos grupos menos especializados, o cômpito é geralmente extraginoecial, composto por um trato comum secretado pela região estigmática, formando uma camada mucosa sobre o gineceu que funciona, então, como um hiperestigma. A sutura do carpelo é a região por onde o tubo polínico germina ao penetrar no ovário e é responsável pelas reações de incompatibilidade. As superfícies internas dos carpelos são geralmente fundidas pós- genitalmente, mas em alguns casos a abertura não é obstruída e sim preenchida por uma secreção, como em Nymphaeales. Os óvulos são geralmente crassinucelados, bitegumentados (os unitegumentados parecem ser derivados) e anátropos (os ortótropos parecem ter surgido diversas vezes, geralmente em carpelos uniovulados), distribuídos em um a muitos por carpelos. Nesses grupos, a polinização é realizada por besouros e moscas. A corola resultou da modificação de estaminódios periféricos. Estudos filogenéticos baseados em análise de seis regiões do DNA (Zannis et al. 2003) demostraram que as Magnoliidae formam de fato um grupo monofilético com a exclusão de Amborella, (gênero monotípico da Nova Caledônea, antes incluído em Lauraceae), Nymphaeales e Illiciales (incluindo Illiciaceae, Trimeniaceae e Austromeriaceae- Schizandraceae), que formam um grado na base das angiospermas (ANITA), anterior ao surgimento das monocotiledôneas (incluindo Ceratophyllum) e das dicotiledôneas (incluindo as Magnoliidae). Chloranthaceae, está incluída dentre as dicotiledôneas (como aqui delimitada), mas também foi excluída da subclasse, se posicionando como grupo irmão do clado 102 Cladograma com dados moleculares (Zannis et al. 2003). O retângulo negro delimita as angiospermas, o azul as euangiospermas, o verde as dicotiledôneas e o vermelho as eu mangnoliidae. composto por Magnoliidae e as demais dicotiledôneas. As Magnoliidae ficaram restringidas a um grupo composto pelo par Piperales (incluindo Aristolochiaceae) e Canellales (incluindo Winteraceae), aparecendo como grupo irmão do par composto por Laurales (incluindo Monimiaceae e afins) e Magnoliales (incluindo Annonaceae). Magnoliidae é composta então em sua maioria por famílias que representam grupos relictuais na região do Pacífico, estando caracterizadas por alcalóides, protoginia, óleos essenciais que exalam odor típico das chamadas plantas primitivas na casca, estigma secretor e formação de cômpito. MAGNOLIALES Magnoliales inclui seis famílias, Degeneriaceae (duas espécies das Ilhas Fiji), Eupomatiaceae (duas espécies do leste da Austrália e da Nova Guiné) e Himantandraceae, além de Annonaceae, Magnoliaceae e Myristicaceae, representadas naflora brasileira. 103 Magnoliaceae Árvores ou arbustos; óleos essenciais e alcalóides benzil-isoquinolínicos presentes. Estípulas geralmente grandes, protegendo o meristema apical, caducas, deixando uma cicatriz anular no ramo. Folhas alternas, espiraladas, simples, inteiras, peninérvias (lobadas e palmatinérvias em Liriodendron). Flores solitárias, terminais, vistosas, bissexuadas, actinomorfas, hipóginas, geralmente monoclamídeas, com receptáculo alongado. Tépalas petalóides, 6 a numerosas, livres, eventualmente arranjadas em verticilos trímeros. Estames numerosos, livres, surgindo de maneira centrípeta, dispostos espiraladamente, com filetes curtos, conectivos expandidos e anteras lineares com deiscência longitudinal; pólen geralmente monossulcado. Gineceu apocárpico, eventualmente passando a sincárpico no fruto, numerosos carpelos (até 220, raramente 1) dispostos espiraladamente ou de maneira irregular; placentação marginal, geralmente 2 óvulos anátropos por carpelo. Fruto folículários deiscentes ou indeiscentes e bacáceos, freqüentemente agregados (samarídios em Liriodendron); sementes 1-2, testa geralmente vistosa. X = 19. Magnoliaceae: A. flor, estádio feminino; B. distribução geográfica. C. detalhe da flor, estádio masculino; D. fruto. Magnoliaceae inclui aproximadamente 220 espécies, cerca de 60 nos neotrópicos (apenas quatro no Brasil), o restante no sudeste asiático. Estudos morfológicos (Li & Conran 2003) e moleculares (ndhF; Kim et al. 2001) têm considerado mais prudente reduzir os 10-12 gêneros da família à apenas dois, Liriodendron, com uma espécie na América do Norte e outra na China, e Magnolia, incluindo os demais gêneros. As flores são termogênicas, odoríferas, atraindo insetos, principalmente besouros à procura de pólen (Azuma et al. 1999), e as sementes são dispersadas principalmente por aves. Liriodendron, no entanto, é polinizado por abelhas e seus samarídios dispersados pelo vento. Algumas espécies são utilizadas como ornamentais na urbanização de cidades. Annonaceae Árvores a subarbustos ou lianas (raras nos neotrópicos); caule aéreo, eventualmente subterrâneo; ramos fibrosos; óleos essenciais e alcalóides benzil-isoquinolínicos presentes. Estípulas ausentes. Folhas alternas, dísticas, simples, inteiras, peninérvias, eventualmente com domácias na axila das nervuras secundárias. Inflorescências rifídios, eventualmente flores solitárias. Flores geralmente bissexuadas, actinomorfas, trímeras, hipóginas, diclamídeas, heteroclamídeas. Sépalas 3, livres a conadas na base. Pétalas 6, geralmente livres, espessas, cores claras, raramente vermelhas ou roxas, dispostas em dois verticilos, o externo valvar e o interno imbricativo. Estames geralmente muitos, livres, laminares, dispostos espiradamente de maneira compacta em um disco formado pelo agrupamento dos conectivos, expandidos e lignificados no ápice; grãos de pólen em mônades, tétrades ou políades, geralmente monossulcados a inaperturados. Gineceu apocárpico, eventualmente passando a sincárpico no fruto, ovário súpero, numerosos (até 400, raramente apenas 1) carpelos dispostos espiraladamente de maneira compacta, freqüentemente cobertos por um exsudado pegajoso secretado pelos estigmas e que funciona como cômpito externo; placentação marginal a baso-lateral, 1-muitos óvulos anátropos por carpelo. Fruto geralmente carpídios bacáceos indeiscentes agregados; sementes 1 a muitas por carpídio, freqüentemente ariladas N = 7-9. Annonaceae inclui mais de 2.500 espécies e 135 gêneros, possuindo distribuição pantropical. Nos neotrópicos, ocorrem 900 espécies (260, no Brasil) e 40 gêneros (seis endêmicos do Brasil), destacando-se Guateria, com 265 espécies, Annona com 150, Duguetia com 95, e Xylopia com cerca de 60 espécies, essa última ocorrendo também na África, Madagascar, Austrália e Ilhas do Pacífico. São preferencialmente plantas florestais, mas ocorrem também em vegetações abertas, com cerrados e restingas. A C D B 104 Annonaceae: A. flor com pétalas removidas, mostrando o androceu e o gineceu; B. fruto sincárpico; C. flor e fruto apocárpico; D. distribuição geográfica. Análises filogenéticas com dados macromorfológicos, palinológicos e moleculares dividem as Annonaceae (excluindo Anaxagorea, que aparece como grupo irmão das demais) em dois grupos principais: um com pólen inaperturado, incluindo os principais gêneros neotropicais, com frutos sincárpicos, e outro com pólen monossulcado ou dissulcado, principalmente asiático, incluindo os gêneros neotropicais com sépalas imbricadas e frutos apocárpicos. As flores são termogênicas, freqüentemente odoríferas, podendo apresentar corpos de tecido nutritivo ou nectários internamente. A polinização é efetuada principalmente por besouros e moscas, de acordo com o tamanho das flores. Em alguns gruposcomo Annona, as pétalas internas formam uma câmara floral que chega a abrigar dezenas de besouros, os quais encontram nessas flores proteção, alimento (pólen) e parceiros para o acasalamento. A rigidez floral está associada à cantarofilia, amenizando os danos provocados pela voracidade dos besouros que podem ficar aprisionados na flor até a queda das pétalas (veja Gootsberger 1989, 1999). Os frutos são dispersados por aves, mamíferos, répteis ou peixes. A família inclui algumas espécies frutíferas, como a gravio (Annona muricata) e a pinha ou fruta-do-co madeira é utilizada como de canoas e pontes. Myristicaceae Árvores, eve produção de exsudado ve claro nos ramos, óleos indólicos. Estípulas aus dísticas, simples, in terminais, eventualmente caulifloras, corimbosas ou racemosas. Flores unissexuadas (plantas geralmente dióicas), actinomorfas, pequenas (até 5 mm), hipóginas, monoclamídeas. Tépalas geralmente 3, espessas, cores claras, conadas. Estames 3 a muitos, conados na base, anteras bisporangiadas; grãos de pólen monossulcados a inaperturados. Gineceu unicarpelar, ovário súpero, unilocular, estilete curto ou ausente, estigma bilobado; placentação basal ou quase, 1 óvulo anátropo. Fruto baga chegando a 5 cm diâm., deiscente, bivalvar; semente 1, envolvidas por um arilo carnoso e vistoso derivado do funículo. N = 9, 21, 25. A B C D la nde (A. squamosa). A lenha, ou na construção ntualmente arbustos; rmelho no tronco, mais essenciais e alcalóides entes. Folhas alternas, teiras. Inflorescências Myristicaceae: ilustração da nóz-moscada (acima). A. flor; B. fruto cortado longitudinalmente (note o latex avermelhado). Mysristicaceae possui distribuição pantropical, geralmente ocorrendo em florestas pluviais, na Ásia (especialmente Malásia), África, Madagascar e nas Américas, estando bem representada na Amazônia. Compreende cerca de A B 105 400 espécies e 19 gêneros. Cinco gêneros e 84 espécies ocorrem nos neotrópicos, destacando-se Virola, com 45 espécies. São polinizadas por pequenos insetos, provavelmente besouros, e dispersadas por aves. Economicamente, destaca- se Myristica fragans, nativa das ilhas Molucas, e cuja semente é a noz moscada, utilizada como tempero e na fabricação de perfumes e velas. Na América do Sul, espécies de Virola são utilizadas como alucinógenos em rituais indígenas. LAURALES Laurales inclui sete famílias predominantemente tropicais (Calycanthaceae, Lauraceae, Hernandinaceae, Monimiaceae, Siparunaceae, Gomortegaceae e Atherospermataceae) e cerca de 2400 espécies. É definida pela presença de flores perígenas, i.e. o gineceu encontra-se circundado em algum grau pelo receptáculo; carpelos uniovulados, folhas opostas e polén inaperturado também podem ajudar no reconhecimento da ordem. Entretanto, em Calycanthaceae (família com apenas duas espécies na América do Norte e três na China, e grupo irmão das demais Laurales), o pólen é bissulcado, com exina columelar e delgada, condição que também aparece na linhagem Gomortegaceae-Atherospermataceae. O grupo central de Laurales está dividido em dois clados principais. Um é caracterizado pela placentação apical (convergente em Chloranthaceae, Amborellaceae e Trimeniaceae, famílias excluídas da ordem) e inclui as Monimiaceae (s. str., excluindo as Siparunaceae), Lauraceae e Hernandinaceae (família com cerca de 60 espécie, presente no Novo e no Velho Mundo). A relação entre essas três famílias ainda não está resolvida (Renner 2000), mas parece preferível assumirmos Hernandinaceae como grupo irmão de Lauraceae, principalmente baseado na filotaxia alterna das folhas, flores trímeras e ovário unicarpelar. Existe a possibilidade de que essas características sejam convergentes, ainda assim elas podem indicar uma tendência evolutiva compartilhada por essas famílias devido a um potencial derivado de um ancestral comum. O outro inclui as Siparunaceae, Atherospermataceae e Gomortegaceae (com apenas Gomortega Keule, espécie chilena caracterizada pelo gineceu sincárpico e ovário ínfero), caracterizadas pelos estames bisporangiados, e cuja condição plesiomórfica da placentação é basal, em contraposição a placentação apical no grupo irmão (Renner 1999). Lauraceae Árvores, eventualmente arbustos, raramente trepadeiras parasitas áfilas (Cassytha); caule geralmente aromático quando cortado; alcalóides benzil-isoquinolínicos presentes. Estípulas ausentes. Folhas geralmente alternas, espiraladas, simples, inteiras, peninérvias, freqüentemente com pontuações translúcidas, aromática quando maceradas (óleos essencias). Inflorescência racemosa ou tirsóide, geralmente com muitas flores. Flores bi ou unissexuadas (plantas dióicas ou monóicas), trímeras, actinomorfas, perígenas ou hipóginas, diclamídeas, homoclamídeas. Tépalas geralmente 6, livres, claras. Estames geralmente 9, alternadamente conforme o verticilo, os do terceiro verticilo freqüentemente flanqueados por um par de glândulas, os do quarto estaminoidais; anteras com deiscência valvar, 1-2 pares de valvas; pólen geralmente inaperturado, esferoidal. Gineceu unicarpelar, ovário súpero, freqüentemente envolvido em um receptáculo; placentação apical, 1 óvulo anátropo. Fruto drupa ou baga, pericarpo carnoso, subtendido ou envolvido pelo receptáculo (cúpula), freqüentemente contrastando a cor da cúpula (geralmente avermelhada) com a do fruto (verde); semente, 1 por fruto, sem endosperma. X = 12. A B Lauraceae: A. hábito; B. hábito de cassytha (holoparasita); C. flores (notem as anteras com deiscência valvar e as glândulas); D. frutos (note o receptáculo). C D Lauraceae possui distribuição mundial, com centros de diversidade no norte da América do Sul, sudeste da Ásia e Madagascar. Inclui aproximadamente 52 gêneros e cerca de 2.750 espécies. Nos neotrópicos, ocorrem 27 gêneros e 1.000 espécies (cerca de 390 no Brasil), destacando-se Lisea (400), Ocotea (350), Cryptocaria (3 ), Beilschmiedia (250), Persea 50 106 (200) e Nectandra (120 espécies). As flores de algumas espécies emitem odor, atraindo abelhas, vespas, moscas e mariposas em busca do néctar produzido pelas glândulas estaminais e pelos estaminódios. A fecundação cruzada é facilitada pela dicogamia (protoginia) sincronizada. Os frutos são ingeridos por aves e mamíferos, representando uma fonte importante de recursos em algumas comunidades. Economicamente, destacam-se o abacate (Persea americana), a canela (Cinnamomum zeylanicum), a cânfora (C. camphora), o louro (Laurus nobilis), utilizado na Grécia para premiar os atletas, e alguma espécies importantes para madereiras extrativistas. Monimiaceae tos a arvoretas; alcalóides benzil- oquino filogenéticos indicaram que nimi P es a arbustos, raramente Arbus is línicos presentes, células laticíferas eventualmente presentes. Estípulas ausentes. Folhas opostas ou verticiladas, simples, denteadas na margem, ao menos na porção apical quando jovens. Inflorescências cimosas, axilares. Flores unissexuadas (plantas monóicas, dióicas ou poligâmicas), actinomorfas, hipóginas, monoclamídeas. Tépalas 3 a várias, geralmente 4, sepalóides ou petalóides, livres ou reduzidas, eventualmente decíduas. Estames 8-2000, dispostos irregularmente no receptáculo, livres, eventualmente possuindo glândulas nectaríferas na base, tetrasporangiados, abrindo-se longitudinal ou transversalmente. Gineceu apocárpico, ovário súpero, 1-2000 carpelos, inclusos no receptáculo, exposto apenas na porção apical que eventualmente emerge através de um poro no receptáculo formando um hiperestigma; placentação apical, 1 óvulo anátropo. Fruto drupários vermelhos ou azuis, sobre receptáculocarnoso ou lenhoso, reflexo. N = 18-22, 39, 43. Estudos Mo aceae está mais relacionada com Lauraceae e Hernandinaceae do que com Siparunaceae, levando a segregação daquela família. Monimiaceae possui distribuição pantropical, principalmente no hemisfério sul, com 25 gêneros e 200 espécies. Quatro gêneros ocorrem nos neotrópicos: Mollinedia, com aproximadamente 20 espécies, e os mono- específicos Hennecartia, Macropeplus e Macrotorus. refere ambientes úmidos, estando bem representada na Amazônia e em matas de galeria. São polinizadas principalmente por insetos que se alimentam de pólen das plantas masculinas e depositam ovos internamente ao receptáculo das flores femininas. São provavelmente dispersadas por aves. Dentre os usos econômicos destaca-se a utilização de folhas de Peumus boldus, o boldo, na preparação de chás com propriedades hepáticas e digestivas. Monimiaceae: A. ilustração; B. vista lateral da flor; C. vista CB apical da flor (note os estigmas saindo do receptáculo). iparunaceae S Árvor produzindo exsudado. Estípulas ausentes. Folhas opostas ou verticiladas, simples, inteiras, aroma cítrico (óleos essenciais) quando maceradas. Inflorescências cimosas, axilares. Flores unissexuais (plantas dióicas ou monóicas), monoclamídeas. Tépalas 4-6, livres, conadas na base ou formando uma calíptra, creme, alaranjadas ou avermelhadas. Estames 1-72, geralmente muitos, livres, arranjados irregularmente, inclusos no receptáculo, apenas a porção superior exposta, bisporangiados, 107 deiscentes por uma valva apical. Gineceu apocárpico, ovário súpero, 3-30 carpelos, geralmente muitos, inclusos no receptáculo, porção superior exposta; placentação basal, 1 óvulo anátropo. Fruto drupários, geralmente com sementes ariladas, inclusos em receptáculo carnoso, vermelho, raramente amarelo, liso ou com projeções, abrindo-se na maturação. X = 22. Antes posicionada em Monimiaceae, Siparunaceae se mostrou mais relacionada filogenéticamente com Gomortegaceae e Atherospermataceae, famílias com representantes no Chile e, na última, também na Australásia. Siparunaceae inclui cerca de 60 espécies classificadas em dois gêneros, Glossocalyx, com uma única espécie (G. longicuspis) na África, e Siparuna, gênero americano que ocorre preferencialmente em vegetações florestais, tendo centro de diversidade na região dos Andes, aparecendo também em matas de galeria nas Américas Central e do Sul. São polinizadas por dípteras que depositam seus ovos no interior do receptáculo. Os drupários são dispersados por aves que encontram no arilo fonte de alimento, mas o receptáculo carnoso também pode ser consumido por morcegos e macacos que então propiciarão a dispersão das sementes. Algumas espécies são utilizadas contra febres e dores de cabeça, e as folhas aplicadas contra mordidas de cobras e insetos, ou mesmo contra malária. CANELLALES es ou arbustos; lenho sem vasos. stípulas de 100 espécies e nove gêneros e está distribuída de neira Winteraceae: Flores (acima). fruto; B. distribuição g áfica. e (mesmo no nível intra-específico; g. Tas a arvoretas, raramente entualmente epífitas ou rupícolas; Winteraceae Árvor E ausentes. Folhas alternas, espiraladas, simples, inteiras, freqüentemente ricas em óleos essenciais. Inflorescências cimosas, axilares ou terminais. Flores bissexuadas (unissexuadas em Tasmannia), actinomorfas, hipóginas, diclamídeas, heteroclamídeas. Sépalas, 2-4, livres ou conadas na base, eventualmente conadas em uma calíptra decídua. Pétalas 0-25, livres. Estames poucos a numerosos, livres, geralmente laminares, com iniciação centrípeta; pólen em tétrades, raramente em mônades. Gineceu apocárpico, eventualmente passando a sincárpico, ovário súpero, 1-50 carpelos, assimétricos, estilete ausente, região estigmática curta ou extensa formando uma crista ao longo da soldadura carpelar;, placentação marginal, geralmente vários (até 60) óvulos anátropos em duas séries. Fruto múltiplos carpídios bacáceos; sementes poucas a muitas. N = 13, 43. Winteraceae inclui cerca ma relictual, principalmente no leste da Austrália e ilhas no sul do Pacífico, mas também em Madagascar, com o gênero monotípico Takhtajania, e no Novo Mundo com Drymis, com quatro espécies. Apenas D. brasiliensis ocorre no Brasil. São plantas preferencialmente de florestas tropicais montanas úmidas ou temperadas. Suas flores são polinizadas principalmente por besouros e moscas e os frutos dispersados por aves. A. A B eogr A família é marcada por uma enorme lasticidadp e. mannia piperita possui de 0-15 tépalas, 7-109 estames, 1-15 carpelos, 2-46 óvulos por carpelo; Endress 1994) quanto ao tamanho, número e filotaxia das partes florais. Várias características de Winteraceae colocaram-na como possível candidata à primeira linhagem vivente a divergir na evolução das angiospermas, dentre elas destacam-se a soldadura incompleta dos carpelos e a presença de traqueídes em vez de vasos no xilema. Fósseis de pólen característicos da família também estão entre os registros mais antigos para angiospermas, confirmando sua antigüidade. Entretanto, estudos filogenéticos não confirmam uma origem tão antiga para o grupo, de modo que características supostamente plesiomórficas, como ausência de vasos no lenho, devem ser interpretadas com reversões. PIPERALES iperaceae P Ervas vtrepadeiras, e lcalóidea s (e.g. piridínicos) e óleos essenciais (aromáticas) presentes. Estípulas unidas ao 108 pecíolo em uma espécie de bainha (Piper) ou ausentes (Peperomia). Folhas geralmente alternas, simples, inteiras, peninérvias ou palmatinérveas, eventu lmente suculentas. Inflorescências espigas congestas, opostas às folhas, axilares ou terminais, brácteas subtendendo as flores. Flores geralmente bissexuais, diminutas, actinomorfas ou zigomorfas, aclamídeas. Estames geralmente 6, tetrasporangiados (Piper), ou 2 estames bisporangiados (Peperomia); pólen monossulcado ou inaperturado. Gineceu sincárpico, ovário súpero, 3-4-carpelar (Piper) ou unicarpelar (Peperomia), unilocular; placentação basal, 1 óvulo anátropo. Fruto drupáceo ou bacáceo; semente 1. X = 11 (Peperomia), 12 (Piper). a Piperaceae: A. Piper, hábito; B. Peperomia; C. espiga (note bráctea, anteras e ovário); D. distribuição geográfica. as ropicais família, e a ambifilia (polinização por vent iaceae Lianas ou trepadeiras, eventualmente freqüentemente rizomatosos; lcalóide ceu da st Piperaceae possui distribuição quase osmopolita, principalmente em regiões úmidc t , contando com cerca de 10 gêneros e até 2000 espécies, a maioria incluída em Piper e Peperomia. Aproximadamente 1.000 espécies ocorrem nos neotrópicos (460, no Brasil), onde Piper, Peperomia, Pothomorphe, Ottonia e Sarcorhachis estão representados. Preferem locais sombreados, no subosque de florestas ou regiões perturbadas. Está mais relacionada com Saururaceae, e devido às particularidades de Peperomia (note diferenças na descrição), esse gênero é eventualmente considerado à parte, em sua própria família, Peperomiaceae. A morfologia singular já foi utilizada como evidência para considerar as Piperaceae o grupo que primeiro divergiu dentre as angiospermas, ou ainda um dos grupos de dicotiledôneas, juntamente com Chloranthaceae e Aristolochiaceae, mais relacionadas com as monocotiledôneas, formando as paleoervas. Dentre as evidências para tais suposições estão a disposição dispersa dos feixes vasculares e a presença de apenas um cotilédone em Peperomia. Tanto entomofilia quanto anemofilia ocorrem na o e insetos) pode ser o principal sistema de polinização de algumasespécies brasileiras (Figueiredo & Sazima 2000). Os frutos podem ser dispersados pelo vento ou pela chuva, mas as espigas também podem ser dispersadas como um todo por morcegos, ou por epizoocoria no caso de Peperomia, funcionando como diásporo. Economicamente, destaca-se a pimenta-do-reino (Piper nigrum) e espécies utilizadas na medicina popular, como a pariparoba. Espécies de Peperomia são freqüentemente utilizadas por causa de suas folhas como ornamentais em interiores. Aristoloch D A B C E ervas ou arbustos, a s (e.g. aporfina) e óleos essenciais (aromáticas) presentes. Estípulas ausentes. Folhas alternas, dísticas, simples, inteiras, palmatinérveas, cordiformes. Inflorescências fasciculadas, racemosas ou cimosas (rifídios), axilares ou caulifloras. Flores geralmente solitárias, bissexuadas, geralmente zigomorfas, monoclamídeas, fétidas. Sépalas petalóides, geralmente 3, de amarelas a quase negras, freqüentemente roxas, fundidas em um longo tubo urceolado, freqüentemente curvo, terminando em uma expansão foliácea. Estames 5-6, fundidos ao estilete formando o ginostêmio (em Aristolochia); pólen geralmente inaperturado (monossulcado em Saruma). Gine sincárpico, ovário ínfero (apocárpico e parcialmente súpero em Saruma), geralmente 6- carpelar; placentação submarginal, óvulos anátropos. Fruto cápsula septicida ou septifraga, deiscente; sementes muitas, freqüentemente aladas ou com arilo viscoso. N = 4-7 e 12-13. Aristolochiaceae encontra-se mundialmente distribuída, com exceção Austrália, preferindo regiões flore ais, úmidas ou secas, e savanas. Conta com sete gêneros e 550 espécies, cerca de 350 em Aristolochia 109 Fig. 14. Aristolochioaceae: A-B. Aristolochia. A. flor; B. corte longitudinal (note ginostêmio no interior); C. flor de Saruna (note trimeria). (incluindo Euglypha e Holostylis), especialmente iversificada na Ásia e nas Américas, borbolet d principalmente no Brasil. Pouco mais de 200 espécies ocorrem nos neotrópicos, 62 no Brasil. A presença de tubos de plastídeos do tipo P nos elementos de tubo crivado, característicos das monocotiledôneas, foi utilizada como argumento para estabelecer a relação entre as Aristolochiaceae e as monocotiledôneas. A família está dividida em duas subfamílias. Asarioideae inclui os gêneros Asarum (hemisfério norte) e Saruma (uma espécie da China), e possui as características mais plesiomórficas da família, dentre elas as flores actinomorfas, com perianto não constrito e nem caduco, constituído por dois verticilos trímeros, pólen monossulcado e ovário apocárpico, parcialmente súpero). Aristolochioideae, por sua vez, possui flores com perianto caduco, constrito na altura do ovário, região da abscisão. A família coevoluiu com espécies de A B as (Papilionideae) que depositam seus ovos na planta e cujas larvas se alimentam das folhas. Ao assimilarem ácido aristolóquico (derivado de alcalóides aporfínicos), elas se tornam venenosas a eventuais predadores. As flores podem variar bastante na família, tanto em relação à forma quanto ao tamanho, chegando a cerca de 1 m em A. gigantea (papo-de-peru), que possui a segunda maior flor do mundo. A cor, a textura e o odor putrefante ou de fezes presente nas flores de várias espécies caracterizam a sapromiofilia, típica na família. Janelas translúcidas na base do perianto guiam as moscas até o ginostêmio, no interior do tubo, enquanto tricomas rígidos e retrorsos na região estreita garantem que elas permaneçam na flor até a liberação do pólen. As sementes são dispersadas pelo vento e pela água, por epizoocoria (em espécies com arilos viscosos) ou por formigas (no caso das herbáceas). São conhecidas na medicina popular por seus efeitos abortivos e anti-inflamatórios, e por reduzirem a pressão alta e convulsões musculares. C 110
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