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2015 Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo UNISC

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Multideia Editora Ltda. 
Rua Desembargador Otávio do Amaral, 1553 
80730-080 Curitiba – PR 
+55(41) 3339-1412 
editorial@multideiaeditora.com.br 
 
 
 
Conselho Editorial 
André Viana Custódio (Unisc/Avantis) 
Salete Oro Boff (UNISC/IESA/IMED) 
Carlos Lunelli (UCS) 
Clovis Gorczevski (Unisc) 
Fabiana Marion Spengler (Unisc) 
Liton Lanes Pilau (Univalli) 
Danielle Annoni (UFSC) 
Luiz Otávio Pimentel (UFSC) 
Orides Mezzaroba (UFSC) 
Sandra Negro (UBA/Argentina) 
Nuria Bellosso Martín (Burgos/Espanha) 
Denise Fincato (PUC/RS) 
Wilson Engelmann (Unisinos) 
Neuro José Zambam (IMED) 
 
Coordenação Editorial: Fátima Beghetto 
Revisão: Patrick Lubawski 
Capa: Sônia Maria Borba 
Crédito imagem da capa: ©Depositphotos.com/Morphart 
 
 
 
 
 
CPI-BRASIL. Catalogação na fonte 
Costa, Marli M. Moraes da (Org.) 
C837 Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo, volume VI 
[recurso eletrônico] / organização de Marli M. Moraes da Costa e 
Mônia Clarissa Hennig Leal – Curitiba: Multideia, 2015. 
374 p.; 23 cm 
ISBN 978-85-8443-016-1 
(VERSÃO ELETRÔNICA) 
1. Direito constitucional. 2. Políticas públicas. I. Leal, Mônia 
Clarissa Hennig (org.). II. Título. 
CDD 340 (22.ed) 
CDU 340 
Autorizamos a reprodução dos textos, desde que citada a fonte. 
Respeite os direitos autorais – Lei 9.610/98 
Marli M. Moraes da Costa 
Mônia Clarissa Hennig Leal 
Organizadoras 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS NO 
CONSTITUCIONALISMO 
CONTEMPORÂNEO 
Volume VI 
Autores 
Ademar Antunes da Costa 
Ana Paula Arrieira Simões 
Analice Schaefer de Moura 
André Viana Custódio 
Augusto C. de Menezes Beber 
Caroline Müller Bitencourt 
Cleidiane Sanmartin 
Cleize Carmelinda Kohls 
Daniela Richter 
Eduardo Missau Ruviaro 
Fabiano Rodrigo Dupont 
Fernando Tonet 
Francielli Silveira Fortes 
Francine Trindade 
Gabriel Zanatta Tocchetto 
Henrique Missau Ruviaro 
Hugo Thamir Rodrigues 
Jhonata Goulart Serafim 
Jorge Renato dos Reis 
Josiane Petry Faria 
Josiane Rose Petry Veronese 
Júlio César Zilli 
Laura C. Azambuja Carpes Garcia 
Luiz Felipe Z. Queiroz 
Lurdes Aparecida Grossmann 
Marli M. Moraes da Costa 
Mateus Massierer 
Matheus F. Nunes de Souza 
Maurício Nedeff Langaro 
Mônia Clarissa Hennig Leal 
Monique Pereira 
Quelen Brondani de Aquino 
Reginaldo de Souza Vieira 
Renato Fioreze 
Ricardo Hermany 
Rodrigo Cristiano Diehl 
Rosane B. M. da R. Barcellos Terra 
Rosane Leal da Silva 
Salete Oro Boff 
Suzéte da Silva Reis 
Tássia A. Gervasoni 
Tatiani de Azevedo Lobo 
Valdir Scarduelli Neto 
 
Curitiba 
 
2015 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
Capítulo 1 
VIOLÊNCIA E DELINQUÊNCIA JUVENIL: O DESAFIO DAS 
POLÍTICAS PÚBLICAS NO ESTADO CONTEMPORÂNEO ............. 9 
Ademar Antunes da Costa 
Francielli Silveira Fortes 
Lurdes Aparecida Grossmann 
 
Capítulo 2 
A JUSTIÇA RESTAURATIVA NOS CONFLITOS DE GÊNERO EM 
AMBIENTE DE TRABALHO: PRÁTICAS RESTAURATIVAS PARA 
RELACIONAMENTOS PRODUTIVOS ................................................ 25 
Ana Paula Arrieira Simões 
Quelen Brondani de Aquino 
 
Capítulo 3 
TRABALHO INFANTIL NA SOCIEDADE ATUAL: UM OLHAR 
SOBRE A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS .......................... 47 
Analice Schaefer de Moura 
Cleidiane Sanmartin 
Rodrigo Cristiano Diehl 
 
Capítulo 4 
O TRABALHO INFANTIL E A TUTELA DO PODER JUDICIÁRIO: 
REFLEXÕES SOBRE AS AUTORIZAÇÕES JUDICIAIS PARA O 
TRABALHO ............................................................................................. 65 
André Viana Custódio 
Suzéte da Silva Reis 
 
Capítulo 5 
A DECISÃO JUDICIAL ENTRE SEUS ASPECTOS JURÍDICOS E 
MORAIS: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA ADPF 54 E DA ADPF 186 ... 83 
Augusto Carlos de Menezes Beber 
Laura Caroline Azambuja Carpes Garcia 
Caroline Müller Bitencourt 
6 Marli M. Moraes da Costa & Mônia Clarissa Hennig Leal (Organizadoras) 
 
Capítulo 6 
O DIREITO DA CRIANÇA E O DIREITO AMBIENTAL: 
O COMPROMISSO COM A SUSTENTABILIDADE DAS 
PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES POR MEIO DA 
CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA FRATERNA .............................. 105 
Daniela Richter 
Josiane Rose Petry Veronese 
 
Capítulo 7 
ATIVISMO WWW: O USO DA WEB NA EFETIVAÇÃO DE 
DIREITOS FUNDAMENTAIS E GARANTIAS SOCIAIS .................... 125 
Eduardo Missau Ruviaro 
Henrique Missau Ruviaro 
 
Capítulo 8 
DIREITOS FUNDAMENTAIS: UM OLHAR ENTRE A TEORIA 
DISCURSIVA DE HABERMAS E A AUTOPOIÉSE SISTÊMICA 
EM NIKLAS LUHMANN ....................................................................... 143 
Gabriel Zanatta Tocchetto 
Matheus Figueiredo Nunes de Souza 
Fernando Tonet 
 
Capítulo 9 
INTERRUPÇÃO TERAPÊUTICA DE GRAVIDEZ DE FETOS 
ANENCÉFALOS: APONTAMENTOS SOBRE AS DECISÕES DOS 
TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ESTADUAIS APÓS A DECISÃO DA 
ADPF 54 PELO STF ................................................................................ 161 
Jhonata Goulart Serafim 
Reginaldo de Souza Vieira 
 
Capítulo 10 
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, REDES SOCIAIS 
DIGITAIS E A HIPERVISIBILIDADE NA INTERNET COMO UM 
POSSÍVEL OBSTÁCULO À CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS DE PERSONALIDADE .......................................... 181 
Jorge Renato dos Reis 
Monique Pereira 
 
 
 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 7 
Capítulo 11 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO VERSUS SEGURANÇA PÚBLICA: 
LEIS “ANTIMÁSCARAS” E (DES)CONSIDERAÇÕES JURÍDICO- 
-CONSTITUCIONAIS PARA A RESOLUÇÃO DO CONFLITO 
ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................. 197 
Luiz Felipe Z. Queiroz 
Tássia A. Gervasoni 
 
Capítulo 12 
O PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA: ORIGEM DESTE MODELO, 
FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO E DESAFIOS 
CONTEMPORÂNEOS ........................................................................... 217 
Marli M. Moraes da Costa 
Tatiani de Azevedo Lobo 
 
Capítulo 13 
O SIMPLES NACIONAL COMO POLÍTICA PÚBLICA 
TRIBUTÁRIA INDUTORA DO DESENVOLVIMENTO E 
INCLUSÃO SOCIAL DO MUNICÍPIO NO BRASIL ........................... 231 
Maurício Nedeff Langaro 
Hugo Thamir Rodrigues 
 
Capítulo 14 
OS POSSÍVEIS REFLEXOS DA CORRUPÇÃO NA ANÁLISE DO 
PRINCÍPIO DA RESERVA DO POSSÍVEL, QUANDO DA 
ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA CONCRETIZAÇÃO DOS 
DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS .............................................. 253 
Mônia Clarissa Hennig Leal 
Cleize Carmelinda Kohls 
 
Capítulo 15 
O PODER LOCAL E O FORTALECIMENTO DAS 
COMUNIDADES: A ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE 
CAPITAL SOCIAL, PERTENCIMENTO E COOPERAÇÃO ................ 269 
Ricardo Hermany 
Fabiano Rodrigo Dupont 
 
 
 
8 Marli M. Moraes da Costa & Mônia Clarissa Hennig Leal (Organizadoras) 
 
Capítulo 16 
O DIREITO PRIVADO DESAFIADO PELA DINÂMICA DA 
CONTRATAÇÃO ELETRÔNICA: PREMISSAS PARA EFETIVAR A 
PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO .................................. 291 
Rosane Leal da Silva 
 
Capítulo 17 
A (IN)EFETIVIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS 
EDUCACIONAIS NO ATUAL ESTADO DEMOCRÁTICO DE 
DIREITO .................................................................................................. 311 
Rosane B. Mariano da Rocha Barcellos Terra 
Francine Trindade 
Mateus Massierer 
 
Capítulo 18 
A RESSIGNIFICAÇÃO DA DEMOCRACIA E DO 
DESENVOLVUMENTO: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E 
DA INOVAÇÃO TECNOLÓGCA PARA ALÉM DE UMA RELAÇÃO 
DE PODER...............................................................................................359 
Salete Oro Boff 
Josiane Petry Faria 
Renato Fioreze 
 
Capítulo 19 
A BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL E DO ESTADO DE SANTA 
CATARINA COM O MERCOSUL: UMA ANÁLISE HISTÓRICO- 
-DESCRITIVA ......................................................................................... 351 
Valdir Scarduelli Neto 
Júlio César Zilli 
 
 
 
 
Ademar Antunes da Costa 
Mestre em Direito pela Universidade de 
Caxias do Sul – UCS. Professor em Direito 
Civil e Introdução ao Estudo do Direito pela 
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
Integrante do Grupo de Pesquisa: “Direito, 
Cidadania e Políticas Públicas”, do Programa 
de Pós-Graduação em Direito – Mestrado e 
Doutorado da Unisc, certificado pelo CNPq, 
coordenado pela professora Pós-Doutora 
Marli Marlene Moraes da Costa. Advogado. 
E-mail: aac.adv@gmail.com 
 
Francielli Silveira Fortes 
Mestre em Direito pela Universidade de 
Santa Cruz do Sul (UNISC). Participante Gru-
po de Pesquisa sobre Direito, Cidadania e 
Políticas Públicas do Programa de Pós-
graduação em Direito – Mestrado e Douto-
rado da Unisc. Professora na Graduação do 
curso de Direito da Universidade de Santa 
Cruz do Sul (UNISC). 
E-mail: francielli1@unisc.br 
 
Lurdes Aparecida Grossmann 
Mestre em Direito pela Universidade Federal 
de Santa Catarina. Doutoranda em Direito 
pela Universidade de Santa Cruz do Sul 
(UNISC). Participante Grupo de Pesquisa 
sobre Direito, Cidadania e Políticas Públicas 
do Programa de Pós-graduação em Direito - 
Mestrado e Doutorado da Unisc. Professora 
da Universidade Regional do Noroeste do 
Estado do Rio Grande do Sul. 
E-mail: lurdesgrossmann@unijui.edu.br 
 
Capítulo 1 
 
 
 
 
VIOLÊNCIA E 
DELINQUÊNCIA 
JUVENIL: O DESAFIO 
DAS POLÍTICAS 
PÚBLICAS NO 
ESTADO 
CONTEMPORÂNEO 
RESUMO 
O presente capítulo tem por escopo pontual analisar as políticas públicas no 
Estado Contemporâneo desde a percepção do problema na sociedade, a 
partir da sua estruturação, passando pela concepção e implementação, até 
almejar a sua etapa final que seria a avaliação de sua eficácia e o próprio 
controle. Posterior a esta análise, pretende-se aperfeiçoar uma reflexão sobre 
a necessidade emergente de se instigar, preventivamente, os aspectos refe-
rentes à delinquência juvenil. Sendo assim, preferiu-se trabalhar este proble-
ma dentro do âmbito escolar, visto que o ser humano não pode ser considera-
do um ser isolado, pois vive, cresce e se desenvolve a partir de um contexto 
interativo e dinâmico que acontece em boa parte de sua vida nesse ambiente. 
Eis que as reflexões acerca da eficácia das políticas públicas existentes e os 
desafios que deverão ser encarados devido aos processos globalizantes são 
elementos abordados neste trabalho. 
Palavras-chave delinquência; escola; juventude; políticas públicas. 
10 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
ABSTRACT 
The present study is aimed to analyze public policy from the perception of the 
problem in society by following its development, through conception and im-
plementation, until reach the final step that would be to evaluate their own 
effectiveness and control. After this profound analysis, it is intended to lead the 
reader to a deeper reflection on the urgent need to work in a preventive man-
ner, aspects related to juvenile delinquency. Therefore, was preferred to work 
this problem within the school, since human beings cannot be considered an 
isolated being, because he lives, grows and develops from an interactive and 
dynamic context. And finally, succinctly analyzed the effectiveness of existing 
policies and the challenges that must be faced due to globalization mainly 
youth. 
Keywords delinquency; school; youth; public policy. 
INTRODUÇÃO 
Inicialmente, o presente capítulo intuita contribuir com o de-
senvolvimento e a concretização de políticas públicas de combate à 
delinquência juvenil. Para tanto, imperiosa é uma análise de con-
ceitos que envolvam essas ações, desde a identificação do proble-
ma, passando por toda a elaboração e execução, até desembocar no 
controle, tanto administrativo quanto judicial, dessas políticas pú-
blicas no Estado Contemporâneo. O Estado Contemporâneo passa 
por uma série de transformações e evolução; a proposta é desafiar 
essas situações, trazendo elementos para fundamentar e argumen-
tar junto ao poder público e à sociedade civil sobre possibilidades 
e/ou alternativas concretas e fundamentais de garantia e aplicação 
de princípios constitucionais, bem como conceitos do Direito. Bus-
ca-se demonstrar que políticas públicas efetivas de combate à de-
linquência juvenil implementadas no seio de uma comunidade res-
tabelecem e fortalecem os direitos básicos para o exercício de uma 
juventude plena. 
1 SOCIEDADE E VIOLÊNCIA: COMPREENSÃO DAS INSTITUIÇÕES 
POLÍTICAS 
Em termos conceituais, pode-se entender que a violência é 
consequência de um crescimento capitalista desordenado, associa-
da ao autoritarismo da ditadura, que sufocou o sofrimento e as de-
mandas da população, principalmente a mais pobre, sendo necessá-
ria a constituição de canais de mobilização e reivindicação. O pri-
meiro compreende a recusa aos estudos que, de alguma maneira, 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 11 
reforçavam a correlação entre a pobreza e a criminalidade, como 
aqueles que investiam na explicação a partir das condições socioe-
conômicas, concebendo o crime como estratégia de sobrevivência 
das classes populares (VASCONCELOS, 2011, p. 73). Nesse con-
texto, novos formatos organizacionais e institucionais surgem imbuí-
dos de uma nova concepção de segurança pública.
 
 
Refletem-se os aspectos formativos essenciais, considerando o 
processo de formação social, cultural e política da sociedade brasi-
leira, fato que remete a particularidades que podem significar o 
sucesso ou o fracasso de alguma estratégia (OLIVEIRA, 2003, p. 9). 
Outra dimensão a ser considerada é que a população brasileira não 
tem a tradição da participação; esse é um processo que ainda está 
fracamente institucionalizado. Portanto, é necessário que a socie-
dade brasileira adquira consciência de que é corresponsável pela 
segurança pública. 
Logo, o enfoque sociológico sobre a violência, embora nunca 
descolado da relação entre o medo do crime e a instauração de dis-
tâncias sociais e mudanças nas relações urbanas, passou a se con-
centrar, então, no modo como as instituições do sistema de justiça 
criminal intervêm no crescimento da criminalidade urbana violenta. 
Assim, existem grandes dificuldades na organização dessas classes 
enquanto movimento social, seja pelo descompasso entre militância 
em direitos humanos e a cultura política da sociedade brasileira, 
seja pela violência do Estado e sua resistência em se abrir ao con-
trole público (VASCONCELOS, 2011, p. 74). 
Entendendo o refluxo do otimismo exacerbado em torno da 
sociedade civil organizada, começou então a se apostar na violência 
policial como fator explicativo do aumento da criminalidade urbana 
violenta, embora ele não demonstrasse guardar relação de depen-
dência total à ação ou omissão do Estado. Pontualmente é que, em-
bora a violência organizada por parte do Estado tenha se tornado 
preocupação da sociedade somente a partir de 1964, momento em 
que largos contingentes das classes médias são atingidos por essa 
violência, há uma continuidade no emprego da violência arbitrária 
sobre a população mais pobre, na forma de maus-tratos, tortura ou 
mesmo degredo e eliminação (VASCONCELOS, 2011, p. 77). 
Assim, a exclusão social das grandes maiorias e a inexistência 
de canaispolíticos de participação e integração social teriam levado 
12 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
a um processo de privatização social: a falta de informação, a con-
formidade forçada às normas sociais pela repressão e o incremento 
do consumismo teriam reduzido a visão e a circulação dos indiví-
duos aos circuitos privados de interação (VASCONCELOS, 2011, p. 
78). Parece-nos que a legitimação do regime não teria se funda-
mentado em consensos sociais e compromissos políticos interclas-
sistas, mas sim na eficácia de manter a ordem interna e garantir o 
processo de acumulação de capital. 
2 POLÍTICAS PÚBLICAS NA SOCIEDADE MODERNA 
Inegável é o latente interesse sobre as políticas públicas no de-
bate cotidiano sobre a política e a vida social; amplos segmentos da 
sociedade percebem que os assuntos públicos não são simples e que 
não se resolvem apenas soluções rápidas. O termo política públicas é 
utilizado com significados distintos, com uma abrangência maior ou 
menor: “ora indica um campo de atividade, ora um propósito político 
bem concreto, ou um programa de ação ou os resultados obtidos por 
um programa [...] em uma política há sempre uma teia de decisões e 
ações que alocam (implementam) valores; uma instância que, uma 
vez constituída, vai conformando o contexto no qual as decisões futu-
ras serão tomadas” (SCHMIDT; MENEGAZZI, 2008, p. 3.123). 
A política aparece como uma atividade, isto é, um conjunto 
organizado de normas e atos tendentes à realização de um objetivo 
determinado (COMPARATO, 1997, p. 353). Nisso, a compreensão 
de política pública ganha relevo para a Ciência do Direito precisa-
mente no estudo da efetivação dos direitos constitucionais sociais, 
também chamados de direitos fundamentais de segunda e terceira 
dimensões. É nesse sentido que se fala de política como programa 
de ação, que, enquanto tal, política não é uma norma nem um ato, 
ela se distingue nitidamente dos elementos da realidade jurídica, 
sobre os quais os juristas desenvolveram a maior parte suas refle-
xões, desde os primórdios da jurisprudência romana. 
É necessário elencar uma distinção entre atuação do Estado, a 
ação em si, e o planejamento da ação, o programa de ação. Destaca- 
-se também que, não raro, a atuação estatal não vem precedida, 
vinculada ou sujeitada a qualquer programa anterior, tampouco a 
qualquer lei ou outra espécie normativa. Normalmente, as políticas 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 13 
públicas são estabelecidas por meio de atos dos Poderes Legislativo 
e Executivo, seja por intermédio de leis, atos normativos infralegais, 
seja por outros atos administrativos (JORGE NETO, 2009, p. 54). 
Esses atos estabelecem um programa governamental para uma área 
específica de atuação estatal, mas as ações que formam uma políti-
ca pública podem também ser adotadas sem qualquer planejamento 
prévio. 
Podem-se tratar de políticas públicas querendo significar os 
programas de governo ou planejamento de ação dos órgãos públi-
cos nas mais diversas áreas. Essa segunda acepção difere da pri-
meira (JORGE NETO, 2009, p. 54). Uma coisa é a própria ação, o 
próprio fazer, o próprio atuar; outra, que lhe antecede, é o progra-
ma formal da ação ou o planejamento da atuação estatal. Porém, ao 
tratar de política públicas, ora estamos a significar a ação estatal 
com vista ao atingimento de um fim estatal (especificamente a con-
cretização dos direitos fundamentais), ora estamos a significar o 
planejamento, o programa, as balizas dessa atuação, ora estamos a 
significar todo o conjunto de ações, incluídas as ações de planeja-
mento e as ações executivas do atuar estatal. 
A transcendência do estudo das políticas públicas merece 
uma compreensão mais profunda, pois é importante que se entenda 
o que está previsto nas políticas que o afetam, quem estabeleceu, 
de que modo foram estabelecidas, como estão sendo implementa-
das, quais são os interesses em jogo, quais são as principais forças 
envolvidas, quais são os espaços de participação existentes. Nesse 
contexto, há percepção ampla acerca da superficialidade da separa-
ção entre política e administração. 
Atualmente, observam-se tendências recíprocas de politização 
da elite burocrática e de burocratização dos políticos. Adquire força 
a figura do administrador político, com o reconhecimento de que a 
administração se converteu em um componente integral da estrutura 
decisória do aparato governamental. É impossível a política sem ca-
pacidade administrativa, e é ingênuo pensar que possa haver atua-
ção administrativa profissional sem orientação política (SCHMIDT, 
2008, p. 2.311). 
 
14 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
3 O DESAFIO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: 
ELEMENTOS CONTEMPORÂNEOS 
Conforme Schmidt (2008, p. 2.312), o termo políticas públicas 
é utilizado com diferentes significados, ora indicando uma determi-
nada atividade, ora um propósito político, e em outras vezes um 
programa de ação ou os resultados obtidos por um programa. As-
sim, para entender as políticas públicas, o autor, utilizando-se de 
conceitos de estudiosos da área, ensina que as políticas públicas 
são um conjunto de ações adotadas pelo governo, a fim de produzir 
efeitos específicos, ou, de modo mais claro, a soma de atividades do 
governo que acaba influenciando a vida dos cidadãos. 
É com a doutrina que diferenciam-se os distintos modelos de 
políticas, assim, de modo geral, os estudiosos da temática seguem a 
classificação de Theodore Lowy, que se utiliza de quatro tipos dis-
tintos de políticas públicas: as distributivas, as redistributivas, as 
regulatórias e as constitutivas ou estruturadas. As políticas distribu-
tivas são aquelas responsáveis pela distribuição de recursos para a 
sociedade, regiões ou segmentos específicos (SCHMIDT, 2008, p. 
2.314). Normalmente são fragmentadas, pontuais e de caráter clien-
telista, portanto é imprescindível o seu controle, mediante a criação 
de conselhos/espaços de participação popular. 
Esse tipo de política inclui determinados subsídios capazes de 
conferir proteção a certos interesses, assegurando determinados 
benefícios (BRYNER 2010, p. 320). Os critérios para definir quem 
deve receber o benefício e quando vai recebê-lo ficam a cargo dos 
legisladores, que têm certo interesse em deixar claro aos receptores 
as origens dos benefícios concedidos. 
Conforme Schmidt (2008, p. 2.314), é com as políticas regula-
tórias que se assume a tarefa de regulamentar e normatizar o funcio-
namento de serviços públicos; regular e ordenar, mediante ordens, 
proibições, decretos, portarias. Criam-se normas para o funciona-
mento de serviço e instalação de equipamentos públicos. Podem 
tanto distribuir benefícios de forma equilibrada entre grupos e seto-
res sociais, como atender a interesses particulares. Em geral, seus 
efeitos são de longo prazo, sendo por isso difícil conseguir a mobili-
zação e a organização dos cidadãos no processo de formulação e 
implementação. Às vezes atingem interesses localizados, provocan-
do reações. 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 15 
Essa modalidade de política tem por finalidade alterar direta-
mente o comportamento individual, impondo padrões às atividades 
reguladas (BRYNER, 2010, p. 321). Em razão dessa característica, é 
possível que gerem mais controvérsias; ações reguladoras podem 
restringir significativamente interesses particulares e impor-lhes 
custos de aceitação. 
Já as políticas constitutivasou estruturadas definem procedi-
mentos gerais de uma determinada política; de modo geral, é possí-
vel afirmar que elas determinam as regras do jogo, as estruturas e 
os processos da política, afetando as condições com as quais são 
negociadas as demais políticas. Para melhor compreensão dessa 
modalidade, Schmidt (2008, p. 2.314) traz como exemplo de política 
constitutiva a definição do sistema do governo, do sistema eleitoral 
e as reformas políticas e administrativas. 
Logicamente, as políticas são o meio de ação do Estado. Por 
meio delas, a União, os estados e os municípios conseguem concre-
tizar direitos e garantias fundamentais. Por isso, saber diferenciar 
esses aspectos metodológicos é imprescindível para a compreensão 
da dimensão e importância das fases que definem uma política, 
desde a sua criação até a avaliação de seus resultados. Nesse con-
texto, o processo de elaboração de uma política inicia-se com a per-
cepção e definição de problemas. Sem essa avaliação inicial a polí-
tica não adquire nenhuma razão de existir, e, conforme destaca 
Schmidt (2008, p. 2.315), não basta apenas o reconhecimento de 
uma dificuldade ou situação problemática, é preciso transformá-la 
em um problema político. 
Posteriormente, inicia-se o processo de formulação da política 
pública, momento em que se define a maneira como o problema 
será solucionado, quais os elementos e alternativas que serão ado-
tados. Trata-se de uma fase de negociações e conflitos entre os 
agentes públicos e os grupos sociais interessados (SCHMIDT, 
2008, p. 2.318). A formulação de uma política nunca é puramente 
técnica. Mas é sempre política, ou seja, orientada por interesses, 
valores e preferências, e apenas parcialmente orientada por crité-
rios técnicos. Cada um dos atores exibe sua preferência e recursos 
de poder. 
A quarta fase de uma política compreende a implementação, 
ou seja, é o momento de executar aquilo que foi planejado. Geral-
16 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
mente acabam acontecendo adaptações e adequações, e por isso 
um elemento imprescindível é a articulação entre o momento de 
formulação e de implantação de uma política, sendo que os agentes 
responsáveis por essas duas fases devem estar entrosados, compar-
tilhando informações e participando ativamente desses processos. 
De fato, a implementação é um processo difícil, pois muitas 
vezes essa fase não chega a alcançar seus objetivos em função da 
falta de vontade ou de acordo político. Do mesmo modo, Bryner 
(2010, p. 319) enfatiza que a implementação é a continuação da 
formulação de políticas, mas com novos atores, procedimentos e 
ambientes institucionais. O posicionamento que está ganhando 
força nos dias de hoje é a noção de redes, por isso é importante a 
integração dos diferentes organismos envolvidos em uma determi-
nada política, e nesse caso, mais uma vez, o papel fundamental dos 
gestores públicos para o incentivo a essa aproximação, vez que, não 
obstante, o comum é o distanciamento e um espírito de competição 
presente também nos organismos governamentais. 
Por derradeiro, tem-se a avaliação de uma política. Não basta 
apenas criá-la, implementá-la, sem se estar disposto a fazer uma 
análise minuciosa dos resultados obtidos, dos êxitos e das dificul-
dades apresentadas, do estudo de sua efetividade e eficiência. O 
ideal, nesse processo de avaliação, é justamente delinear se a polí-
tica atingiu aos objetivos ao qual se propôs, assim como determinar 
se é conveniente que determinada política se mantenha ou se modi-
fique. 
A compreensão sobre o tema políticas públicas torna-se mais 
contundente quando aliada ao cenário da administração pública. 
Vislumbra-se, no contexto atual que, à medida que as políticas pú-
blicas são direcionadas a programas sociais, de modo a garantir 
direitos, especialmente às classes menos privilegiadas, os desafios à 
gestão das organizações públicas aumentam. 
Uma das principais linhas de atuação das políticas públicas 
na garantia de direitos é na área da segurança pública, e princi-
palmente, do objeto de estudo deste trabalho, no que diz respeito à 
delinquência juvenil, o que será abordado na sequência. 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 17 
4 A PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA NA PREVENÇÃO DA 
DELINQUÊNCIA JUVENIL 
Historicamente, as políticas públicas preventivas sobre delin-
quência estão embasadas em diferentes abordagens: as dirigidas 
diretamente aos indivíduos considerados em risco de serem delin-
quentes, e as que buscam modificar as condições sociais que envol-
vem esses jovens (FARRINGTON, 1998, p. 17). Nos últimos anos, 
esta diferenciação tem se mostrado muito mais evidente, ao situar 
no mesmo centro de atuação político-social a discussão acerca da 
efetividade de uma ou de outra. 
Toda prevenção estrutural fundamenta as causas da delin-
quência no não funcionamento das instituições sociais (família, es-
cola, mercado de trabalho etc.). A obtenção de condições favoráveis 
no sentido de o jovem agir de forma madura e equilibrada passa 
pela implementação de políticas públicas preventivas e pelo exercí-
cio contínuo de climas positivos no contexto de todas as instituições 
envolvidas no processo de desenvolvimento. 
Esses ambientes estimulantes e criativos se conseguem crian-
do atmosferas motivadoras em sala de aula, e escolas que não sejam 
estigmatizantes e impessoais, que mantenham uma direção efetiva, 
que plantem alternativas estimulantes em cada disciplina, que en-
volvam os alunos em atividades curriculares e extracurriculares, e 
que envolvam a família na política escolar. Junto a esse clima geral, 
é de extrema importância que os professores, apesar de terem a 
difícil tarefa de ensinar trabalhando também os limites, gostem da-
quilo que fazem, sejam simpáticos, compreensivos, responsáveis e 
respeitosos, e adaptem seus métodos às necessidades e interesses 
de seus alunos. Para isso, deve-se reduzir o stress dos professores 
que trabalham com crianças e adolescentes de alto risco, diminuin-
do suas turmas, para que o profissional possa compreender como 
funcionam mentalmente os infantes de risco que estão sob sua res-
ponsabilidade (MILLIS, 1997, p. 654). 
De acordo com Costa (1990, p. 87), a grande maioria dos de-
linquentes juvenis tem insucessos escolares e as condutas pertur-
badoras na escola se relacionam com uma conduta delitiva posterior. 
Não resulta claro, no entanto, se o fracasso escolar é uma das cau-
sas da delinquência, se a conduta perturbadora em sala de aula é a 
18 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
que provoca o fracasso escolar, ou se ambos são manifestações de 
um padrão desviante anterior (GUIMARÃES, p. 2003, p. 96). 
Questionamentos continuam suscitando reflexões e discus-
sões sobre o papel que diferentes teorias outorgam para a escola em 
sua relação com a delinquência juvenil. Uma das mais relevantes 
teorias é a da tensão e frustração formulada por Cloward (1997, 
p.145). Essa teoria contempla a escola como uma instituição de 
classe média em que as crianças e adolescentes de classe baixa 
possuem menos oportunidades de competir com êxito. Por não po-
der dispor de uma das grandes vias legítimas de acesso às metas 
culturalmente estabelecidas, esses jovens cometeriam delitos para 
compensar suas frustrações e elevar sua autoestima. 
Ainda tem-se a teoria do etiquetado. Segundo Bernfeld (1983, p. 
123), a etiqueta que se impõe a crianças e adolescentes de difícil 
comportamento propicia que o sistema escolar lhes tratede modo 
hostil, sem importar a realidade objetiva de suas ações, contribuindo 
para que os jovens assumam tal etiqueta e, consequentemente, impli-
que desenvolver atividades antissociais e posteriormente delitivas. 
A explicação mais interessante seria aquela que se refere à 
teoria do desenvolvimento social trazida por Hawkins (1997, p. 61). 
Essa teoria identifica a família, a escola e o grupo de pares como as 
unidades mais importantes no desenvolvimento do ser humano, de 
modo que, quanto maior for o grau de envolvimento que a criança e 
o adolescente mantenham com elas, mais possibilidades existirão 
para prevenir o surgimento da delinquência juvenil. 
A teoria do desenvolvimento social, no que se refere à escola, 
define três condições necessárias para formar e reforçar o vín-
culo social entre o infante e a instituição socializadora. A pri-
meira condição se refere ao fato de que o jovem deve experi-
mentar as oportunidades para envolver-se na vida da escola. A 
segunda, é quando o jovem tem habilidades sociais, cogniti-
vas e de conduta necessárias para atuar de forma equilibrada 
e dinâmica nas atividades e interações sociais. E, por fim, 
quando os jovens são reconhecidos e elogiados consistente-
mente por seu desempenho correto, e assim desenvolvem uma 
relação positiva e frutífera com a escola, o que dificultará sua 
participação em atos delitivos. (ZIGLER; TAUSSIG, 1997, p. 
653) 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 19 
Parte-se do pressuposto de que o ser humano não pode ser 
considerado como algo isolado, pois vive, cresce e se desenvolve 
dentro de um contexto interativo e dinâmico. É aí que a escola as-
sume papel importante, sendo uma das unidades que formam o 
processo de socialização, devendo levar em conta as outras unida-
des, como a família, o grupo de pares e a comunidade. Essas insti-
tuições acabam fazendo um trabalho interligado e de extrema im-
portância no desenvolvimento do ser humano, lembrando que as 
influências de cada uma delas não têm o mesmo peso em todas as 
etapas do desenvolvimento social, e, seguindo a teoria de Hawkins 
(1997, p. 48), devem-se desenvolver técnicas de intervenções espe-
cíficas por meio de políticas públicas eficazes junto àquela unidade 
socializadora que está afetada. 
5 ASPECTOS DA VIOLÊNCIA E DA DELINQUÊNCIA JUVENIL 
Inicialmente, as políticas sociais têm como encargo básico a 
construção da cidadania social, ou seja, proporcionar, num sistema 
desigual de distribuição da riqueza produzida pela sociedade, as 
condições mínimas para tornar efetiva a igualdade de direitos reco-
nhecida legalmente, operando mediante a identificação das medi-
das de discriminação positiva e dos mecanismos de subsidiarieda-
de, de transferência e redistribuição da renda, compulsando a rela-
ção entre a ética pública e moral individual, isto é, entre o Estado 
de Direito, a democracia e os direitos humanos com a sensibilidade 
e a solidariedade social. A finalidade definitiva das políticas sociais, 
se aceita como válida a afirmação anterior, é a de apoiar a expansão 
da cidadania, removendo os obstáculos práticos ao seu pleno exer-
cício (PAPA; FREITAS, 2003, p. 18). 
As políticas públicas são também instrumentos de governabi-
lidade democrática para as sociedades, tanto em sua acepção mais 
limitada, referente às interações entre o Estado e o resto da socie-
dade, como no seu sentido mais amplo, de elevar a convivência 
cidadã (PAPA; FREITAS, 2003, p. 16). Um terreno ainda considera-
do novo é aquele no qual se constata que a análise das políticas de 
juventude têm se situado no terreno da ciência política, a qual en-
foca, sobretudo, o aspecto técnico, ou seja, o produto (policy) da 
atividade é produzido por intermediários públicos (os policy mar-
kers): como conseguir, a partir do campo de interesses constituído e 
20 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
do problema agendado, a implementação de boas políticas, eficazes 
e eficientes, e qual é o desenho institucional mais adequado para 
suavizar as arestas mais problemáticas da relação entre juventude e 
sociedade adulta, diminuindo as situações que geraram a exclusão 
social. 
A existência de medidas orientadas particular e transversal-
mente por critérios de geração foi definida como sendo o resultado 
do processo de conformação do sujeito juvenil como ator social 
emergente (KRAUSKOPF, 2000, p. 180), explicado pelas dinâmicas 
de modernização nas sociedades latino-americanas, sua crescente 
influência demográfica e as realidades de exclusão e marginaliza-
ção que sofrem. Tem se deixado de lado, pelo menos parcialmente, 
o caráter de crise, que transformou os jovens em sujeitos de políti-
cas sociais, como grupo especialmente vulnerável, afetado por pro-
blemas específicos de saúde, desemprego e violência, e que têm 
mobilizado a ação do Estado na forma de políticas públicas. 
O que se denomina como sociedade da informação é um con-
ceito que pode ser considerado a partir da diversidade de perspec-
tivas teóricas (PAPA; FREITAS, 2003, p. 35-36). É por isso que as 
mudanças radicais na maneira de sentir, de ser e de projetar, em 
particular dos adolescentes e jovens, têm parte de sua explicação na 
mudança da civilização que vai muito além da mera revolução tec-
nológica. Na verdade, esta última as possibilita, e adolescentes e 
jovens atuam sobre essas mudanças imprimindo-lhes a sua marca, 
seja a partir de condutas e ações socialmente corretas e desejáveis, 
seja na forma de lógicas destruidoras ou anômalas. 
Com a crescente incorporação de jovens no sistema educacio-
nal, especialmente nos níveis médio e superior, teve maior força a 
mobilização juvenil organizada que rapidamente assumiu postos 
claramente contestatórios, desafiantes ao sistema político existente 
e em resposta à conflitiva situação pela qual atravessam as socie-
dades latino-americanas (PAPA; FREITAS, 2003, p. 42). 
Os especialistas começaram a ocupar-se cada vez mais dos jo-
vens urbanos e das gangues juvenis, que, com diversos nomes, pas-
saram a desenvolver-se em contextos muito diversos. Mais recen-
temente, já na década de 1990, parece começar a generalizar-se um 
novo modelo de políticas juvenis, mais preocupado com a incorpo-
ração dos jovens excluídos no mercado de trabalho. Entre os exem-
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 21 
plos, um caso paradigmático é o da implementação do Programa de 
Capacitação Trabalhista para Jovens – Chile Jovem, iniciado em 
1990, no começo da restauração democrática naquele país (PAPA; 
FREITAS, 2003, p.43-45). 
A década de 1990 marcou o início do processo de instalação 
de organismos governamentais criados para atender exclusivamen-
te às políticas de juventude. Exceto Brasil e Honduras, os demais 
países da América Latina passaram a contar com tais organismos. 
De alguma maneira, isso demonstrou o esforço efetuado pelos di-
versos atores em colocar na agenda dos governos a questão juvenil 
(PAPA; FREITAS, 2003, p. 45). Um olhar criterioso coloca numero-
sos aspectos ainda pendentes para que a institucionalidade da ju-
ventude possa desempenhar de forma cabal o papel que motivou a 
sua instalação. 
Quando se fala de limitações de uma política de juventude, o 
que se quer fazer na realidade é chamar a atenção sobre três aspec-
tos: ao usar a juventude ou os jovens como tema, deve-se ter em 
mente que se está efetuando um reconte analítico, já que na reali-
dade os jovens se constituem no espaço social como atores que se 
encontram envoltos em relaçõessociais entre eles mesmos, suas 
famílias, as gerações adultas e as instituições da sociedade (PAPA; 
FREITAS, 2003, p. 48). É importante pensar na juventude como 
uma categoria relacional. Isso supõe que, antes de entrar no assun-
to, sejam compreendidas as circunstâncias materiais, sociais ou 
culturais em que essas pessoas vivem. 
A existência da política pública implica a existência de direi-
tos sociais, pois, se a política deve atender às necessidades dos ci-
dadãos, é preciso saber quais são essas necessidades e declará-las 
em forma de lei. Porém, assegurar direitos implica ir além da legis-
lação. As leis são as ferramentas de exigibilidade e, ao mesmo tem-
po, resultam da articulação e lutas sociais (TEJADAS, 2007, p. 19). 
Assim, é possível definir que o Estado tem o papel de executar as 
políticas públicas, ou seja, presta um serviço à sociedade, e os cida-
dãos exercem a função de recomendá-las e acompanhá-las em sua 
construção, execução e avaliação. 
As necessidades sociais são compreendidas como questão so-
cial, a qual é resultado do embate político entre capital e trabalho, 
originando assim contradições – necessidades sociais. Significa que 
a questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desi-
22 Ademar Antunes da Costa; Francielli Silveira Fortes & Lurdes A. Grossmann 
 
gualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, 
impensáveis sem a intermediação do Estado (IAMAMOTO, 2001, 
p. 16). Nesses termos, a política pública exerce a importante função 
de defesa, proteção dos direitos sociais, tendo em vista a justiça 
social. 
Assim, parece-nos que existe uma deficiência das políticas 
públicas no Brasil, as quais decorrem desde a elaboração do Estatu-
to da Criança e do Adolescente, na medida em que durante esse 
período (1988 e 2000) pouco se discutiu a questão da delinquência 
juvenil na agenda pública (IAMAMOTO, 2001, p. 21). Entretanto, 
mesmo deficientes diante das transformações sociais, fruto do fe-
nômeno da globalização, da revolução tecnológica etc., é impres-
cindível o debate, a construção e a implementação de políticas pú-
blicas eficazes ao jovem no Brasil contemporâneo. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Tratar da temática da violência e da delinquência juvenil é 
um grande desafio social, entendendo-se tratar de necessárias polí-
ticas públicas que vão ao encontro dessa demanda latente na emer-
gência da modernidade. Tentou-se traçar alguns elementos fundan-
tes que despertem uma reflexão a respeito da necessidade de políti-
cas públicas para a juventude, em especial aquelas voltadas para a 
não inserção do jovem no mundo da criminalidade. É perceptível 
que isso representa um dos grandes desafios da sociedade contem-
porânea, pois é significativo e fundamental que os atores sociais (a 
comunidade, a sociedade civil e o Estado) se articulem, de maneira 
a propor que políticas para essa parcela populacional sejam elabo-
radas e efetivadas. 
Outra problemática a ser enfrentada é a ausência de políticas 
públicas para juventude em termos preventivos iniciados nos pri-
meiros anos escolares, objetivando o desestímulo à criminalidade e 
a todas as formas de violência. Cabe-nos a tarefa sensível de repen-
sar com responsabilidade a importância do jovem para a sua comu-
nidade e tê-lo como conta de prioridade absoluta. Pois estamos tra-
tando da sua condição de sujeito de direitos, logo, do seu melhor 
interesse, exigindo a fomentação de políticas públicas que afastem 
o jovem da delinquência e da própria violência social e urbana. 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 23 
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Ana Paula Arrieira Simões 
Graduanda em Direito com Bolsa PUIC pela 
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
Integrante dos grupos de pesquisas “Direito, 
Cidadania e Políticas Públicas”, do Programa 
de Pós-Graduação em Direito – Mestrado e 
Doutorado da Unisc, e “Justiça Restaurativa: 
o novo paradigma de justiça do século XXI”, 
coordenados pela Pós-Doutora Marli Marle-
ne Moraes da Costa e pela Mestre Rosane 
Teresinha Carvalho Porto. 
 
 
Quelen Brondani de Aquino 
Mestre em Direito com Bolsa Capes pela 
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). 
Especialista em Políticas Públicas e Desenvol-
vimento Local pelo IF Farroupilha, Campus 
São Vicente do Sul. Bacharel em Direito pela 
Unisc. Integrante do grupo de pesquisas: 
“Direito, Cidadania e Políticas Públicas”, do 
Programa de Pós-Graduação em Direito – 
Mestrado e Doutoradoda Unisc, coordenado 
pela Pós-Doutora Marli Marlene Moraes da 
Costa. 
 
Capítulo 2 
 
 
 
 
A JUSTIÇA 
RESTAURATIVA NOS 
CONFLITOS DE 
GÊNERO EM 
AMBIENTE DE 
TRABALHO: 
PRÁTICAS 
RESTAURATIVAS 
PARA 
RELACIONAMENTOS 
PRODUTIVOS 
 
RESUMO 
Um ambiente de trabalho saudável é necessidade e direito de todo 
profissional, e parte disso se deve à qualidade das relações que se 
estabelecem nesse espaço. Ainda assim, em pleno século XXI, existem 
mulheres em todos os pontos do globo que se veem vítimas de situa-
ções de exclusão, assédio e discriminação sexual dentro das institui-
ções nas quais trabalham. Assim, objetivou-se com o presente estudo 
trazer os resultados da investigação sobre qual tem sido o papel da 
mulher nas relações humanas, os elementos geradores de conflitos de 
gênero e de que maneira abordá-los. Espera-se com isso dar visibili-
dade a um problema que ainda está em tempo de ser profundamente 
tratado e se descobrir quais práticas de que se vale a Justiça Restaura-
tiva são compatíveis com o fortalecimento das relações no trabalho 
entre mulheres e homens de forma a torná-las produtivas. 
Palavras-chave ambiente de trabalho; conflito; gênero; justiça restaurativa. 
ABSTRACT 
A healthy work place is a need and a right of every professional, and 
part of that came from the quality of the relationships made in that 
space. Steel then, in the top of the XXI century, there are women 
26 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
around the world who are seen as victims of exclusion, sexual harass-
ment and sexual discrimination in the institutions where they work. 
This way, the intention behind this study is to bring the results of an 
investigation about what is the play of women in human relationships, 
the beginner’s elements of gender’s conflicts and in what way they 
can be treated. It hopes to give visibility to a problem that steel have 
time to be deeply treated and to discover which practices that are 
used by Restorative Justice are suitable whit the stronghold of work 
relationships between women and men in course to make it produc-
tive. 
Keywords work place; conflict; gender; restorative justice. 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
No decorrer dos últimos séculos, as mulheres vêm construin-
do seu espaço e ocupando-o dentro da esfera pública e privada, 
conquistando áreas que antes eram âmbitos privativos apenas dos 
homens. Isso se deu na política, nas artes, nas ciências e, por fim, 
no trabalho. Direitos e garantias que antes serviam a apenas um 
grupo agora estavam protegendo os dois existentes. 
Infelizmente, tais conquistas vêm se mantendo por meio de 
esforço redobrado e resistência às violações de direitos, como dig-
nidade, respeito e tratamento isonômico de muitas mulheres. Con-
tudo, neste contexto, passou-se a discutir o fim da discriminação e a 
busca pela igualdade entre homens e mulheres, trabalhando-se 
com a questão de gênero não como uma determinação biológica e 
sexista, mas uma construção social. 
Neste capítulo, observando o método hermenêutico e o siste-
ma bibliográfico de pesquisa, mostrar-se-á essa desenvoltura espe-
cificamente no contexto do ambiente de trabalho. Espaço de desen-
volvimento intelectual e social, mas que desperdiça potencial na 
medida em que não dá a atenção devida à dinâmica das interações 
entre os homens e mulheres que ali atuam de forma conflituosa. 
Diferenças de gênero no local de trabalho resultam normal-
mente de fatores sociais, responsáveis por influenciar tanto o com-
portamento de homens quanto de mulheres. Essas mesmas diver-
gências resultam de estereótipos de gênero relacionados ao que 
consta no imaginário coletivo como o adequado a cada lado. Por 
exemplo, uma avaliação estereotipada é que as mulheres perten-
cem ao lar, enquanto os homens devem trabalhar e prestar segu-
rança material. 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 27 
Permitir que um funcionário seja excluído de atividades da 
empresa, que oportunidades de promoção lhe sejam negadas sem 
prévia avaliação de seu desempenho e que sua visão de mundo seja 
desvalorizada em função, por exemplo, de seu gênero, são sinais de 
discriminação. Empregadores podem combater esse problema me-
diante treinamento e desenvolvimento de iniciativas que incidem 
sobre uma maior sensibilização de assuntos relacionados ao gênero. 
Entender a trajetória do gênero feminino até os dias atuais é 
parte desse processo de sensibilização, uma vez que todo homem 
que sabe o quão árduo é conquistar seu lugar num grupo e o res-
peito de seus companheiros poderá, em algum nível, se identificar 
com as mulheres que vêm enfrentando até a atualidade vários tipos 
de adversidades. Assim, superar, ou, no mínimo, saber “dobrar” os 
resquícios de um poder patriarcal é atividade mister para o correto 
e livre desenvolvimento. 
1 A CONDIÇÃO DA MULHER: DA ÁGORA AO MERCADO DE 
TRABALHO 
A subordinação das mulheres perante os homens justifica-se 
na definição dos papéis sexualmente impostos, nas diferentes esfe-
ras sociais, bem como na divisão sexual do trabalho e na dualidade 
entre a esfera pública e a esfera privada, que encontrou respaldo 
dos pensadores políticos, pelo menos desde o século XVII (BIROLI, 
2010, p. 53). 
Conforme assevera Bourdieu (1999, p. 72-73), 
As divisões constitutivas da ordem social e, mais precisamen-
te, as relações sociais de dominação e de exploração que estão 
instituídas entre os gêneros se inscrevem, assim, progressiva-
mente em duas classes de habitus diferentes, sob a forma de 
hexis corporais opostos e complementares e de princípios de 
visão e de divisão, que levam a classificar todas as coisas do 
mundo e todas as práticas segundo distinções redutíveis à 
oposição entre o masculino e o feminino. 
De acordo com essa perspectiva, é na esfera pública, com a 
divisão sexual do trabalho, que, sem dúvida, observa-se o maior 
exemplo de discriminação e injustiça social cometida contra as mu-
28 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
lheres. No mercado de trabalho, as posições oferecidas a elas, mui-
tas vezes em função da estrutura física, ratificadas pela família e 
pela ordem social que as reproduzem, impõem às mulheres as tare-
fas ditas femininas, as quais parecem exigir a submissão e a delica-
deza do trato feminino. 
Não obstante, Bourdieu (1999, p.72-73), com propriedade, en-
fatiza que o próprio conceito daquilo que a sociedade convencionou 
chamar de “vocação” acaba por reproduzir a assimetria sexual das 
atividades laborais, e as mulheres naturalmente reproduzem essas 
“tarefas subordinadas ou subalternas que lhes são atribuídas por 
suas virtudes de submissão, de gentileza, de docilidade, de devo-
tamento e de abnegação”. 
Analise-se, por exemplo, que as tarefas podem ser considera-
das nobres e difíceis ou insignificantes e fúteis, dependendo daque-
les que as realizam, e “basta que os homens assumam tarefas repu-
tadas femininas e as realizem fora da esfera privada para que elas 
se vejam com isso enobrecidas e transfiguradas”, como ocorre com 
a profissão de cozinheiro e cozinheira, de costureiro e costureira, 
quando realizadas pelos homens, essas e uma série de outras ativi-
dades são enaltecidas, às vezes chegam até a receber nomes distin-
tos, como é o caso do “alfaiate” (BOURDIEU, 1999, p. 75). 
Distribuir as tarefas de acordo com os sexos é, portanto, algo 
reproduzido e perpetuado desde os primórdios, conforme se obser-
va a partir das palavras de Piazzeta (2001, p. 39): “enquanto o ho-
mem caçavae pescava, a mulher permanecia no lar”. Nessa con-
juntura, a dominação masculina encontra respaldo para o seu exer-
cício, pois se fundamenta na “divisão sexual do trabalho de produ-
ção e de reprodução biológica e social, que confere aos homens a 
melhor parte” (BOURDIEU, 1999, p. 45). Bourdieu (1999, p. 45), 
com primazia, vai além, ao assegurar que a assimetria na divisão do 
trabalho em função do sexo é objetivamente aceita pelos agentes, 
logo “funcionam como matrizes das percepções, dos pensamentos e 
das ações de todos os membros da sociedade, como transcendentais 
históricos que, sendo universalmente partilhados, impõem-se a ca-
da agente como transcendentes”. 
Por oportuno, essa divisão biológica, revestida de senso co-
mum e reproduzida socialmente, faz com que as próprias mulheres 
compactuem com essas relações de poder. Por isso, de seus atos de 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 29 
reconhecimento e aceitação, depreende-se a chamada “violência 
simbólica” (BOURDIEU, 1999, p. 45). Essa forma sutil e impercep-
tível de violência denomina-se pela aceitação do dominado, con-
forme ensina Bourdieu (1999, p. 46): 
A violência simbólica se institui por intermédio da adesão que 
o dominado não pode deixar de conceder ao dominante (e, 
portanto, à dominação) quando ele não dispõe, para pensá-la 
e para se pensar, ou melhor, para pensar sua relação com ele, 
mais que de instrumentos de conhecimento que ambos têm 
em comum e que, não sendo mais que a forma incorporada da 
relação de dominação, fazem essa relação ser vista como natu-
ral; ou, em outros termos, quando os esquemas que ele põe 
em ação para se ver e se avaliar, ou para ver e avaliar os do-
minantes (elevado/baixo, masculino/feminino, branco/negro 
etc.), resultam da incorporação de classificações, assim natu-
ralizadas, de que seu ser social é produto. 
Ainda que a violência simbólica seja ratificada com maior in-
tensidade no ambiente doméstico, a divisão sexual do trabalho trou-
xe o respaldo do próprio Estado, que negligenciou a relação de poder 
desequilibrada existente entre os gêneros, ou de maneira mais cruel, 
perpetuou a dominação masculina, por conta das categorias constru-
ídas socialmente, e tidas como naturais. Não bastasse isso, destacam-
se as elucidações de Bourdieu (1999, p. 47) ao asseverar que o termo 
“simbólico” não deve ser adotado no seu sentido mais corrente, em 
que se tenta minimizar o papel da violência, ou ainda “tentar des-
culpar os homens por essa forma de violência”. Ao contrário disso, 
“ao se entender ‘simbólico’ como o oposto de real, de efetivo, a supo-
sição é de que a violência simbólica seria uma violência meramente 
‘espiritual’ e, indiscutivelmente, sem efeitos reais”. 
Nesse aspecto, a lógica da dominação masculina e da submis-
são feminina, a que Bourdieu (1999, p. 49-50) chamou “ao mesmo 
tempo e sem contradição, espontânea e extorquida”, só poderá ser 
verdadeiramente compreendida quando se passar a analisar os 
“efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre as mulheres (e 
os homens), ou seja, às disposições espontaneamente harmonizadas 
com esta ordem que as impõe”. E, por essa razão, dão vazão a uma 
série de injustiças cometidas, principalmente, por aquele – diga-se 
o Estado – que deveria proteger os menos favorecidos, ou garantir- 
30 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
-lhes uma série de direitos inerentes a todo o ser humano, indepen-
dentemente de religião, cor ou gênero. 
Observa-se que as condições sociais que reproduzem essas 
tendências, fazem com que os dominados adotem o ponto de vista 
dos dominantes, efetivando-se alheio à vontade, demonstrando um 
poder também simbólico nas suas manifestações. Verifica-se que a 
dominação só se perpetua por meio dessa cumplicidade e que as 
mulheres acabam sendo excluídas do sistema social. Mas também 
são reprodutoras dessas exclusões sociais a própria família, a esco-
la, a igreja, na divisão do trabalho, nas disposições ditas femininas 
e masculinas. 
É, sem dúvida, no encontro com as “expectativas objetivas” 
que estão inscritas, sobretudo implicitamente, nas posições 
oferecidas às mulheres pela estrutura, ainda fortemente sexua-
da, da divisão de trabalho, que as disposições ditas “femini-
nas”, inculcadas pela família e por toda a ordem social, podem 
se realizar, ou mesmo se expandir, e se ver, no mesmo ato, re-
compensadas, contribuindo assim para reforçar a dicotomia 
sexual fundamental, tanto nos cargos, que parecem exigir a 
submissão e a necessidade de segurança, quanto em seus 
ocupantes, identificados com posições nas quais, encantados 
ou alienados, eles simultaneamente se encontram e se per-
dem. (BOURDIEU, 1996, p. 72) 
Não se pode olvidar que, por muito tempo, as mulheres repre-
sentaram o maior grupo discriminado na história da humanidade. 
Os preconceitos eram imensos, principalmente nos temas relacio-
nados ao aborto e à sexualidade. Não se aceitava, por exemplo, que 
as mulheres tivessem seus direitos violados, contudo, poderiam ser 
violentadas e até espancadas por seus maridos ou companheiros, 
desde que em defesa da honra. Essas questões eram de cunho pri-
vado, não merecendo tratamento político e intervenção estatal. 
Nesse patamar, o reconhecimento dos direitos humanos tam-
bém é assunto recente na história da humanidade, surgindo, inicial-
mente, com a promulgação das declarações de direitos, durante o 
século XVIII, atribuindo, assim, um sentido inovador para a condi-
ção de pessoa humana (TELES, 2006). Contudo, nesse primeiro 
momento, não se cogitava o reconhecimento dos direitos humanos 
para as mulheres; eles eram restritos aos homens. O próprio nome 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 31 
designado à Declaração restringia ao “homem” o acesso a esses 
direitos; dando seguimento à desigualdade entre os sexos, que con-
tinuava a se reproduzir social e culturalmente. 
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão referia-se 
de fato ao homem, ou seja, à pessoa do sexo masculino. As 
mulheres não tiveram seus direitos reconhecidos. Olympe de 
Gouges, revolucionária francesa articulada com milhares de 
mulheres, decidiu por fazer a Declaração dos Direitos da Mu-
lher e da Cidadã. Por isso, foi condenada à morte na guilhoti-
na. A sentença que proferiu sua condenação dizia que ela 
“[...] se imiscuiu nos assuntos da República, esquecendo-se 
das virtudes de seu sexo [...]”. Nascida no interior da França, 
em 1748, aos dezesseis anos já se encontrava viúva e mãe de 
uma criança. Foi para Paris e participou ativamente da Revo-
lução Francesa. Mobilizou mulheres, fundou vários “clubes 
femininos”, que propugnaram a defesa da igualdade de direi-
tos das mulheres com os homens, o acesso à educação e o di-
reito ao divórcio. Apesar de sua participação intensa nas ações 
revolucionárias, foi ridicularizada, contestada e reprimida. De-
terminada e inconformada, manteve seus protestos contra o 
modelo de cidadania criado pelos homens. Negavam a cida-
dania das mulheres e as excluíam da humanidade racional, 
bem como as crianças e os loucos. Perseguida por sua rebeldia 
foi julgada pelo tribunal revolucionário e guilhotinada em 07 
de novembro de 1793. (TELES, 2006, p. 19) 
Efetivamente, somente com a Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos passou-se a adotar uma nova dimensão. Apresentan-
do-se como uma proposta universal libertadora, a Declaração de 
1948 introduziu a concepção contemporânea de direitos humanos, 
quando foi desenvolvida a internacionalização desses direitos,me-
diante a adoção de inúmeros tratados com a finalidade profícua de 
proteção dos direitos fundamentais. É nesta seara que o Direito In-
ternacional dos Direitos Humanos ganha forma, ou seja, é por meio 
da universalização dos tratados de direitos humanos que ocorre 
internacionalização dos direitos humanos. 
Desse modo, essa modalidade de direito prima sempre pela 
proteção internacional dos direitos humanos nas mais diversas situa-
ções. Nesse contexto, todo indivíduo é cidadão do mundo. O ser 
humano é considerado um membro de uma sociedade de dimen-
32 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
sões mundiais. Nesse ínterim, as interpretações mais avançadas 
garantem que é violação dos direitos humanos todas as ações “pra-
ticadas por agentes particulares ou privados que poderiam ter sido 
evitadas por medidas de segurança pública e outras ações de políti-
cas públicas estatais, [...] não só no âmbito público, como no priva-
do” (TELES, 2006, p. 33). 
Desde o início do século passado, a mulher conquistou direi-
tos nos setores econômico, político, social, tornando-se mais visível 
para a sociedade – saiu do ambiente privado para assumir novos 
papeis na sociedade – assim, é plenamente aceitável que seja pos-
tulada a completa erradicação da discriminação de gênero e o res-
peito aos seus direitos. 
Assim, nas palavras de Guimarães e Moreira (2009, p. 37): 
[...] mesmo que no plano do jusumanismo não caibam distin-
ções de gênero quando se trata de violência – pois que a vio-
lência, enquanto mal praticado a um ser humano, afeta tanto 
homens como mulheres. [...] Em suma, a violência, de qual-
quer espécie, contrapõe-se à idéia de direitos humanos, atri-
buíveis por consequência a todas as pessoas, mas no estágio 
da experiência jurídica em que especificamos as condições 
desses direitos frente a comportamentos adversos revelados 
pela circunstância histórica, seu enfoque relacionado às ques-
tões de gênero é antes uma técnica de confirmação da neces-
sidade de garantia dos direitos do que propriamente o estabe-
lecimento de privilégios. 
Nesse contexto, o Conselho Social e Econômico define a vio-
lência contra a mulher como “qualquer ato de violência baseado na 
diferença de gênero, que resulte em sofrimentos e danos físicos, 
sexuais e psicológicos da mulher; inclusive ameaças de tais atos, 
coerção e privação da liberdade, seja na vida pública ou privada” 
(GUIMARÃES; MOREIRA, 2009, p. 37). 
Entretanto, é importante destacar que, mesmo a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos tendo sido publicada em 1948, foi 
somente com a Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida 
em Viena, em 1993, que ela revelou-se, de fato, enquanto caráter 
universal dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. E 
finalmente, foram reconhecidos os direitos humanos das mulheres. 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 33 
De tal sorte, o reconhecimento dos direitos humanos das mu-
lheres é uma conquista histórica, mas ainda muito precisa ser feito 
para que esses direitos sejam verdadeiramente consolidados. Com 
certeza, a mulher conquistou uma nova posição dentro do ambiente 
familiar, não existindo mais a figura do chefe de família; agora ela 
tem a função de coadministradora dos interesses familiares e, na 
sociedade civil, começa a assumir novas responsabilidades. Isso 
tudo, já não autoriza, segundo Guimarães e Moreira (2009, p. 13), 
que a mulher seja “submetida a qualquer espécie de violência, nem 
física, nem moral, nem psicológica, nem econômica”. 
Essas questões não passaram despercebidas pelo Brasil, uma 
vez que o País abrigou, no ano de 1994, o Fórum Internacional que 
aprovou a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erra-
dicar a Violência contra a Mulher, em Belém do Pará, também co-
nhecida como Convenção de Belém do Pará. O Brasil também in-
corporou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher, bem como a Convenção Americana 
de Direitos Humanos, conhecido como Pacto de San José de Costa 
Rica. A violência praticada contra a mulher é, portanto, um exemplo 
de violação da dignidade humana e dos direitos fundamentais. 
A dignidade humana é valor imperativo da República Federa-
tiva do Brasil e de um Estado democrático de direito; representa, 
juntamente com os direitos fundamentais, a própria razão de ser da 
Constituição brasileira, tendo em vista que o Estado é apenas meio 
para a promoção e defesa do ser humano. Entende-se que ela é 
mais que um princípio, é norma, regra, valor que não pode ser es-
quecido em nenhuma hipótese, é irrenunciável e os direitos huma-
nos decorrem do reconhecimento da dignidade do ser humano. As-
sim, desabilitar a violência contra a mulher é uma das formas de 
garantir os direitos fundamentais da mulher, a dignidade da pessoa 
humana e os direitos humanos. 
Na sociedade contemporânea, persiste a luta da mulher pelo 
reconhecimento dos seus direitos e pela igualdade de gênero, toda-
via, ainda há resistência masculina na perpetuação do processo de 
dominação, manifestado por meio do emprego da violência, seja ela 
real ou simbólica. Neste contexto, Bourdieu (1999, p. viii
 
) destaca 
que não basta a conscientização da mulher da sua situação de sub-
missão, mas adotar ações que proporcionem a quebra o círculo de 
dominação. 
34 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
Logo, trata-se de uma violência que não é apenas física, mas 
também sexual, moral, econômica e psicológica, sendo esta mais 
difícil de ser rompida por ser invisível. Neste aspecto, Bourdieu 
(1999, p. 1) sublinha a dominação masculina como uma violência 
simbólica, perversa e de difícil percepção até mesmo pela vítima: 
[...] vi sempre na dominação masculina, e na maneira como é 
imposta e sofrida, o exemplo por excelência dessa submissão 
paradoxal, efeito daquilo a que chamo de violência simbólica, 
violência branda, insensível, invisível para suas próprias víti-
mas, que se exerce no essencial pelas vias puramente simbóli-
cas da comunicação e do conhecimento ou, mas precisamente, 
do desconhecimento, do reconhecimento ou, no limite, do sen-
timento. 
Apesar de todos os avanços e da equiparação, na lei, entre 
homens e mulheres, a “desigualdade sociocultural é uma das ra-
zões da discriminação feminina” (BOURDIEU, 1999, p. 1) perpetua-
da pela sociedade que idealiza a figura masculina forte e viril dis-
sociada da emoção e da afetividade. 
Entretanto, o que se pretende mostrar por intermédio dos es-
tudos sobre a justiça restaurativa é a necessidade de se compreen-
der que tanto a mulher (vítima) quanto o homem (agressor) são par-
tes e vítimas dessa violência e merecem a escuta e a devida respon-
sabilização no caso de um crime, eis que 
Aquilo que a vítima vivencia com a experiência de justiça é 
algo que tem muitas dimensões [...] As vítimas precisam ter 
certeza de que o que lhes aconteceu é errado, injusto e imere-
cido. Precisam oportunidades de falar a verdade sobre o que 
lhes aconteceu, inclusive seu sofrimento. Necessitam ser ou-
vidas e receber confirmação. Profissionais que trabalham com 
mulheres vítimas de violência doméstica sintetizam as neces-
sidades delas usando termos como “dizer a verdade”, “romper 
o silêncio”, “tornar público” e “deixar de minimizar. (ZEHR, 
2010, p. 27-28) 
Zehr (2010, p. 171) ainda refere, ao tratar do agressor: 
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 35 
O crime significa um agravo à vítima,mas poderia ser um 
agravo ao ofensor. Muitos crimes nascem de violações. Mui-
tos ofensores foram vítimas de abusos na infância e carecem 
das habilidades e formações que possibilitam um emprego e 
uma vida significativa. Muitos buscam validação e empode-
ramento. Para eles o crime é uma forma de gritar por socorro e 
afirmar a sua condição de pessoa. Em parte, prejudicam os 
outros porque foram prejudicados. 
Isso demonstra que o comportamento violento do homem, na 
maioria das vezes, pode ser resultado de vivências do seu cotidiano 
familiar na infância, quando presenciava as agressões praticadas 
contra a sua mãe, ou mesmo as agressões praticadas contra ele pró-
prio, pelo seu pai ou padrasto. 
Essa informação pode parecer contraditória, pois, ao presen-
ciar todo o sofrimento da mãe, deveria agir de forma a não agredir a 
sua esposa/companheira. Porém, com os estudos da psicologia e 
psicanálise, sabe-se que essas experiências se internalizam no sub-
consciente do indivíduo, fazendo com que ele naturalize essa situa-
ção. Como esse homem, quando criança, sempre viu a mulher sub-
jugada ao poder de outro homem, ele passa a crer que isso deva se 
perpetuar. 
2 JUSTIÇA RESTAURATIVA E PRÁTICAS RESTAURATIVAS: 
TEORIA E PRÁTICA JUNTAS PARA RESPONSABILIZAÇÃO E 
SENSIBILIZAÇÃO 
A justiça restaurativa originou-se nas sociedades comunais 
que privilegiavam as práticas de regulamentação social em que os 
interesses coletivos eram priorizados em face dos interesses indivi-
duais, visando ao restabelecimento do grupo social. Todavia, com o 
surgimento do Estado e a centralização do poder, reduziram-se as 
formas de justiça negociada, mas não as fizeram desaparecer por 
completo. 
Nas palavras de Konzen (2007, p. 164): 
[...] as ideias relacionadas à solução dialogal dos conflitos não 
pertencem, pelo visto, exclusivamente ao tempo anterior ao 
nascimento do Estado e do contrato social que o justifica. 
36 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
Também derivam da crise da plataforma de valores da moder-
nidade, assim como da falência das ideologias com que vem 
sendo tratada a criminalidade, unicamente de natureza retri-
butiva, tanto pelo modelo dissuasório ou repressivo, cuja cen-
tralidade retributiva encontra sustentação nas correntes con-
servadoras da Lei e Ordem ou da Defesa Social [...]. 
Na década de 1990, emergiu a Justiça Restaurativa como mo-
vimento social de reforma da justiça criminal, implementada tam-
bém nos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Peru, 
Kuwait, Omã, Argentina, Chile, Colômbia, Brasil, África do Sul, 
entre outros. 
Registra-se que, em 24 de julho de 2002, a Organização das 
Nações Unidas (ONU) expediu a Resolução 2002/12, do Conselho 
Econômico e Social, intitulado “princípios básicos para a utilização 
de programas de justiça restaurativa em matéria criminal”, propon-
do a implementação das práticas restaurativas por todos os Estados- 
-membros. 
Segundo Zehr (2008), na justiça restaurativa o crime não se 
refere a uma violação contra o Estado, mas às pessoas e aos relaci-
onamentos, que envolvem a vítima, o agressor, a família e a comu-
nidade. Logo, esses vínculos que foram afetados pela violência pre-
cisam ser reparados por meio da correção dos erros, mediante a 
reconciliação. Diferentemente da Justiça punitiva, a Justiça Restau-
rativa visa promover a aproximação e o diálogo entre os afetados 
diretamente e indiretamente (MCCOLD; WACHTEL, 2003) pelo 
dano, visando à recuperação e reintegração de uma situação perdida. 
Em consonância com Pinto (2005, p. 20), “trata-se de um pro-
cesso estritamente voluntário, relativamente informal, a ter lugar 
preferencialmente em espaços comunitários, sem o peso e o ritual 
solene da arquitetura do cenário judiciário”, que se propõe obter 
um acordo que supra as necessidades tanto individuais quanto co-
letivas dos envolvidos, bem como a reintegração da vítima e do in-
frator ao meio social de forma digna e pacífica. 
Todavia, para ocorrerem tais transformações, Bourdieu (1999, 
p.viii) ressalta a necessidade da participação da mulher por meio de 
uma mobilização de política de resistência, “orientada para refor-
mas jurídicas e políticas”, no sentido de quebrar o círculo de domi-
Políticas Públicas no Constitucionalismo Contemporâneo 37 
nação. Neste caso, a adoção das práticas restaurativas representa a 
oportunidade de romper com o silêncio e com o estigma da vitimi-
zação da mulher, possibilitando o seu empoderamento por meio da 
participação e da atuação conjunta na criação de soluções para o 
conflito. 
Como se pode perceber, o modo restaurativo de compreender 
e fazer justiça não se contenta em ficar no plano superficial dos 
conflitos; ele vai além. É uma característica chamativa e vital dessa 
proposta, como bem assegura o discurso do autor Howard Zehr 
(2012, p. 10) quando diz: 
Trata-se aqui de uma subversão não apenas penetrante e ca-
paz de desafiar os núcleos conceituais do sistema, mas tam-
bém transversal, a ponto de nos fazer ver que o sistema insti-
tucional de justiça não é senão reflexo de um padrão cultural, 
historicamente consensual, pautado pela crença na legitimi-
dade do emprego da violência como instrumento compensató-
rio das injustiças e na eficácia pedagógica das estratégias pu-
nitivas. 
A Justiça Restaurativa configura-se tanto como um método de 
aplicação como uma nova forma de se conceituar o que é “Justiça”, 
voltando o foco das atenções para as relações prejudicadas por situa-
ções de violência, utilizando-se da escuta respeitosa e do diálogo 
com linguagem não violenta, oferecendo oportunidades para que as 
partes envolvidas no conflito entendam a causa do acontecido e 
restaurem a paz e o equilíbrio nas suas relações, nos seus vínculos. 
O principal objetivo desse método é interligar a vítima, o 
ofensor e a comunidade, de forma a desenvolverem ações construti-
vas voltadas para o futuro que beneficie a todos com a responsabili-
zação do ofensor, o apoio da vítima e a confiança depositada na 
sociedade de que essa se lembrará de assegurar o cumprimento das 
promessas feitas ao longo do processo restaurativo. A força da prá-
tica restaurativa, contudo, não se encontra somente no acordo entre 
os envolvidos, mas principalmente na compreensão desses sobre o 
seu papel na cadeia de relacionamentos em que estão inseridos e 
como um de seus atos pode alterar esse equilíbrio. 
Busca a Justiça Restaurativa promover sentimentos e relacio-
namentos positivos, não se contentando apenas em reduzir a crimi-
38 Ana Paula Arrieira Simões & Quelen Brondani de Aquino 
 
nalidade, mas, ir além, ou seja, promover a regeneração dos víncu-
los rompidos de maneira a evitar a reincidência. No caso da violên-
cia nas relações no trabalho, a capacidade dessa ‘neojustiça’ de 
preencher essas necessidades emocionais e de relacionamento é o 
ponto-chave para a obtenção e manutenção de uma sociedade civil 
saudável. 
Assim, são propostas maneiras que permitam ao ofensor com-
preender os danos que causou e reparar o que fez. A vítima também 
é levada em consideração e recebe apoio psicológico: entende-se 
que o ato foi cometido contra ela, e não contra o Estado, como nor-
malmente acontece. Dessa forma, a própria vítima, a família, a co-
munidade e outras redes de apoio participam diretamente do pro-
cesso de responsabilização. 
O que diferencia a Justiça Restaurativa, então, de uma manei-
ra geral, dos outros métodos de resolução de conflitos é a sua forma 
de encarar e agir fundamentadas

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