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1 Profª Giseli Cipriano Rodacoski Introdução à Psicanálise Aula 5 Conversa Inicial A psicanálise se caracteriza por ser especulativa, "feiticeira" Se interessa, investiga e posteriormente teoriza sobre o aparelho psíquico Clínica soberana à teoria Conhecimento prévio Primeiras percepções eram biológicas/neurológicas: “A estrutura teórica que criamos para a psicanálise é, na verdade, uma superestrutura, que, um dia, terá que ser assentada sobre seus fundamentos orgânicos. Mas nós ainda os ignoramos” (Freud, S., 1916-1917, p. 389) Conhecimento prévio Na aula de hoje, vamos acompanhar como se deu a ampliação desse ponto de vista, distanciando a psicanálise da neurologia e a fortalecendo como uma nova área de conhecimento Nosso objetivo é compreender a evolução da clínica psicanalítica e introduzir os temas que, ao longo do processo de formação, serão extensamente abordados Legado de Freud 2 A partir do seu lugar de médico neurologista Freud compreendeu o aparelho psíquico: Consciência dividida em duas partes Cs e Ics Base orgânica Processos Subjetivos Médico Psicanalista Ampliação do ponto de vista Um cuidado que se deve ter, constantemente, é para não "enquadrar" ou "ajustar" a pessoa à teoria, "fazer caber", pois essa atitude distancia completamente o terapeuta do método psicanalítico Ex: “todas as crianças de 6 anos estão na latência” A Clínica é soberana à Teoria Queixa: dor intensa e constante que impede de manter atividades cotidianas. Dor muda de lugar no corpo. Paciente explica que nenhum remédio é eficaz para apaziguar a sua dor Médico constatou que “ela não tinha nada”, sugeriu psicoterapia Psicanalista a convidou a falar sobre o que está se passando, relatando tudo o que lhe vier a cabeça Exemplo clínico Contexto da dor = separação conjugal. Vergonha social por ter sido traída (dor) Percebeu que falava coisas que já sabia, mas que não lembrava que sabia e evitava pensar. Chorava enquanto falava A dor da separação, colocada em palavras, naqueles encontros com uma pessoa que ela mal conhecia a estavam curando É necessário coragem para encarar a dor no lugar de negar Freud e a Ética da Autonomia A psicanálise leva àquele lugar que sobra depois de ser retirado o excesso (per via de levare – pela via de retirar) Em "O Mal-Estar na Civilização” Freud fala sobre o mal-estar que a consciência da autonomia e a liberdade provocam Para Freud, as pessoas deveriam chegar na autonomia, ou seja, aprender a lidar com as situações, com as tendências, com os desejos, especialmente os mais infantis 3 Desloca o afeto do subjetivo para o físico Paralisia da vida diária dos planos na autoestima Enquanto a pessoa se perceber vítima de uma história de vida que a determinou assim, ela de certa forma apazigua seu sofrimento pois encontra um sentido para seu estado/sofrimento Figura 1 - Paralisia VectorMine/shutterstock Freud reconheceu que existem pessoas tão pouco preparadas para a vida, que é preciso, com relação a elas, usar pedagogia: “Não podemos evitar de aceitar para tratamento determinados pacientes que são tão desamparados e incapazes de uma vida comum, que, para eles, há que se combinar a influência analítica com a educativa; e mesmo no caso da maioria, vez por outra surgem ocasiões nas quais o médico é obrigado a assumir a posição de mestre e mentor. (Freud, S., 1919, p. 208).” Métodos Ativos: Nova técnica, diferenciando do método psicanalítico clássico Métodos Ativos Prós e Contras Pressão de circunstâncias Na clínica psicanalítica clássica, a ênfase é pela não gratificação, pela privação e abstinência Reforçar defesas seria um erro técnico Métodos ativos ou breves Casos curtos e exitosos: Sra. Emmy: sete semanas O Pequeno Hans: dois meses O Homem dos Ratos: onze meses 4 Ferenczi (1928) e a Técnica Ativa: A elasticidade da técnica psicanalítica Argumento: “não é o analisando que assumiria a tarefa de se adaptar à técnica psicanalítica, o analista é que precisaria dispor da flexibilidade elástica necessária para atender aqueles que até então eram considerados inanalisáveis” A passividade do analista seria o principal fator responsável pelo prolongamento do tratamento clássico A reação de Freud e de outros psiquiatras foi pela defesa da técnica psicanalítica tradicional, sem ceder às pressões e demandas sociais por adaptação Ferenczi, depois de obter êxito em alguns tratamentos ativos, abandonou a técnica, ao concluir que as modificações poderiam ser usadas como resistência Contexto da 2ª Guerra Mundial, terminada em 1945: Instituto de Psicanálise de Chicago (1938 a 1945) Pesquisa coordenada por Alexander e French Clínica de Tavistock em Londres (1950 +) Balint e Malan EUA/Boston – Sífneos: Intervenções em períodos de Crise Novo método psicoterapêutico: Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica, também denominada de Psicoterapia Psicodinâmica ≠ Psicanálise Winnicott Donald Winnicott – Pediatra e Psicanalista Inglês (1896 – 1971) Desenvolvimento humano desde a completa imaturidade até a autonomia: Preocupação materna primária Função de Holding, sustentação 5 “A sustentação psíquica consiste em dar esteio ao eu do bebê em seu desenvolvimento, isto é, em colocá-lo em contato com uma realidade externa simplificada, repetitiva, que permita ao eu nascente encontrar pontos de referência simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu trabalho de integração no tempo e no espaço.” (Nasio, J.D. 1995, p.185) Foi a partir da experiência clínica de Winnicott com as crianças que surgiu “A Ética do Cuidado” como uma atitude do analista, e ampliou as possibilidades de analisar pessoas vulneráveis, antes consideradas sem indicação para o método psicanalítico Winnicott e a Ética do Cuidado Autor desenvolvimentista Ambiente exerce grande influência na criança, adolescente e no adulto Ênfase nos conflitos Inter psíquicos Para Winnicott (1983, p. 205), “os distúrbios mais insanos ou psicóticos formam-se na base de falhas da provisão ambiental e podem ser tratados, muitas vezes com êxito, por uma nova provisão ambiental”. Holding O reconhecimento de que o outro está doente O analista responde à necessidade, ou seja, à adaptação, à preocupação e à confiabilidade, à cura, no sentido de cuidado Disponibilidade para aceitar o outro como ele é, como pode ser, num dado momento da relação terapêutica Manejo da relação transferencial Na Prática 6 Uma jovem senhora com questões conjugais, insights reflexivos desconfortáveis Faltou uma sessão e usou a outra para falar sobre uma grave doença do seu filho, chorou quase o tempo todo Analista interpreta resistência ao claro progresso que havia sido evidenciado na semana anterior Exemplo de caso clínico Morte do filho e abandono do tratamento Possibilidade de resistência, mas também há a possibilidade real de situações que fragilizam o paciente ao ponto da elaboração em curso não fazer mais sentido a ele Tratamento em suspenso: “me fale sobre seu filho, seu processo analítico pode esperar e continuamos com ele depois” Finalizando FREUD: A Ética da Autonomia superar o apego ao princípio do prazer, enfrentar o princípio da realidade, saber lidar com as frustrações que a realidade impõe, tornar-se autônomo e não escravo dos seus desejos WINNICOTT: A Ética do Cuidado sustentação de sua condição de vir a ser Sintetizando: