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A ética e a política n'A República, de Franco Trabattoni

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Platão
Capítulo x - A ética e a política n'A República, de Franco Trabattoni
É característica do pensamento clássico não haver distinção clara entre ética e política como no mundo moderno. Isso porque o cidadão estava imerso na sua comunidade, e os comportamentos privados assumiam vivência pública.
O tema central de "A República" é a natureza da justiça e as relações entre a virtude e felicidade dos indivíduos. Sócrates estaria tentando provar porque ser bom e justo significa ser feliz. Sócrates era o verdadeiro político, pois era o único a se preocupar com a educação dos cidadãos. A república quer provar que não somente é possível escolher o bem privado sem renunciar ao público mas sobretudo que uma coisa não se da sem a outra. A virtude e a felicidade do homem dependem da política (educação).
No diálogo no segundo livro, Glaucon observa que para os homens em geral, a justiça não é um fim em si mesmo, mas um meio para obter algo. Assim, quem louva a justiça o faz em função dos bens que ela oferece. Os sofistas querem saber os argumentos de Sócrates para demonstrar por que a justiça merece ser escolhida por si mesmo. A resposta de Sócrates é uma tentativa de mostrar a possibilidade da virtude e da felicidade coincidirem. Assim, tanto mais justo seria um homem e Estado quanto mais se aproximassem do modelo descrito. Ainda que este modelo nunca seja alcançado, ele é o norte, o oriente.
A justiça no Estado Ideal
O estado ideal é uma sugestão Socrática para explicar a justiça no estado, e por analogia, a justiça no homem. O estado seria necessário porque a sociedade possui necessidades que só podem ser devidamente sanadas através de uma divisão de tarefas rígida. Uma sociedade em que não haja correta divisão de competências viverá em eterna desordem e estará destinada à autodestruição. A justiça é a virtude objetiva do Estado.
A primeira classe é destinada a satisfação de necessidades materiais, ou seja, produtivas e comerciais. Entretanto os homens não se contentariam sem simples subsistência e logo surgiriam conflitos de interesses e guerras, sendo necessária a segunda classe composta pelos guardiões. Os guardiões não seriam apenas soldados fisicamente preparados, mas seriam também filósofos, educados pela ginástica e a música (produção literária), necessárias para produzir no indivíduo a harmonia psicofísica, o equilíbrio de intenções e comportamentos. O cuidado com o corpo deve visar não só a saúde, mas também o desenvolvimento de determinadas atitudes morais como o equilíbrio e a temperança. A terceira classe seria dos governantes-filósofos. Esses teriam interesses particulares coincidentes com o bem comum, seriam sinceros por natureza, apreciariam apenas os prazeres da alma e observariam as coisas de um ponto de vista universal. Os candidatos deveriam ser escolhidos com máximo cuidado com base em atitudes naturais e educados com máxima atenção, e serem examinados periodicamente. Para facilitar essa seleção, Platão inventa o mito das raças, que explica que ao criar os homens, Deus criou cada um para essas funções específicas. Assim, as gerações de governantes teriam ouro no seu "sangue", de governantes teria prata e produtores teriam bronze e ferro. Dessa forma espera-se que os governantes sejam filhos de outros governantes. Entretanto Trabattoni considera que Platão aceita que cada um tenha a possibilidade de fazer de verdade aquilo para o qual tem talento, independente da classe em que nasceu. Até porque quem não tem índole para ser governante não vai querer ser, pois não seria feliz. [pag. 177].
	CLASSE
	VIRTUDE
	PARTE DA AMA
	METAL
	Filósofos/Governantes
	Sabedoria
	Racional
	Ouro
	Guardiões
	Coragem
	Irascível s2
	Prata
	Produtores
	Temperança
	Concupiscível
	Bronze/Ferro
Quem visa riqueza material não estaria qualificado para ser um governante. Poderia exercer legitimamente seu talento para atividades comerciais na classe dos produtores. O poder econômico e o político deveriam ser separados, já que quem se interessa por bens materiais inevitavelmente terminaria por sobrepor esse interesse ao bem comum.
Na construção do Estado Ideal, se for necessário sacrificar uma felicidade individual em prol da felicidade coletiva, deve-se fazer. Trabattoni diz que Platão parece ter consciência de que conciliar interesses individuais e coletivos é impossível, e que a felicidade do homem não poderia estar contida nos limites estreitos da virtude e do bem entendidos em sentido platônico.
Relacionando o Estado com as virtudes, Platão coloca que a sabedoria (sophia) é virtude dos governantes, a coragem/força de saber (andreia) é a virtude dos guardiões, e a temperança (sophrosyne) é virtude de todos, inclusive produtores. Nesse sentido, os apetites da maioria medíocre deveriam ser dominados pela inteligência da minoria melhor. A temperança seria a qualidade ou virtude de quem é moderado, comedido e o reconhecimento do que é melhor e pior no mundo. A injustiça seria quando os cidadãos desempenham tarefas que não são de sua competência.
Platão é inovador na medida em que estabelece que homens e mulheres poderiam desempenhar as mesmas atividades na exata medida se suas diferenças naturais forem insignificantes para tal. Mulheres poderiam ser guardiãs. Os guardiões deviam procriar sob monitoramento rígido (método eugenético) de forma que indivíduos de natureza ruim teriam a reprodução proibida ou dificultada. Somente os sãos e de boa estirpe poderão ser criados de maneira pública e digna (esconder os deficientes).
Platão propõe também uma ruptura da família, porque o governo faria com que ninguém saiba verdadeiramente quem é filho de quem.
Tripartição da alma
Analogia da justiça no Estado com a justiça para o indivíduo, ou seja, a justiça na alma. Assim a alma seria composta por três partes: a parte racional, a parte animosa e a parte concupiscível (desejo sexual e material excessivo). A justiça consistirá na manutenção da ordem hierárquica, de modo que a parte racional, aliada a parte animosa, contem os impulsos desenfreados da parte concupiscível. 
Metafísica de Platão: Busca por princípios que podem e devem ser utilizados para produzir vida boa no âmbito publico e privado.
Constituições
O governo timocrático tem por base o culto a honra e o uso da força (ginástica sobre música). Depois dele, o governo oligárquico seria fundado na opinião e manteria o predomínio sistemático dos ricos contra os pobres. Por causa disso, a maioria empobrecida tomaria o poder numa revolução violenta e ai surgiria a democracia, regime em que vigora a máxima igualdade e liberdade. A tirania nasceria como consequência ao excesso de liberdade. A aristocracia (governo dos melhores) seria a melhor forma de governo
O tirano está longe de obter a felicidade, pois é escravo da sua pior parte, e, portanto não é livre. Os prazeres da alma é que trazem a felicidade porque são apenas bens que se juntam na sua pureza a uma condição que por si só é já livre de dor e mal. A virtude receberia prêmios ultraterrenos através da imortalidade da alma.
Mito de Er
Através dele Platão explica que os objetos sensíveis são imitações das ideias do mundo inteligível. Nesse mito são reconhecíveis três elementos principais: a descrição geográfica da terra, uma indicação de prêmios e castigos que esperam a alma após a morte e uma acentuação grande da liberdade humana contra a sorte e o destino típicas da tragédia grega. A responsabilidade é da escolha de cada um. Deus não é responsável. 
Nesse sentido os artistas não teriam espaço na sociedade platônica, uma vez que reproduzem uma reprodução, estariam muito distantes da verdade. Platão também critica os poetas pela visão trágica de homens vítimas da sorte escolhida pelos deuses.

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