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Coculpabilidade em alguns âmbitos do direito brasileiro e comparado

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JATAI- CESUT
ASSOCIAÇÃO JATAIENSE DE EDUCAÇÃO
FACULDADES DE DIREITO E ADMINISTRAÇÃO
2° A PERIODO DO CURSO DE DIREITO
PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR – PIM
O PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE
JATAÍ – GO
2015
2° A PERÍODO DO CURSO DE DIREITO
PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR – PIM
O PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE
Projeto Integrador Multidisciplinar –
PIM, do Curso de Direito, do Centro de
Ensino Superior de Jataí.
Orientadora: Ms. Flávia Simões de
Araújo
JATAÍ – GO
2015
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................4
1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA............................................................5
CAPÍTULO 2 – CONCEITO..........................................................................................9
2.1 – CULPABILIDADE.............................................................................................9
2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE.............................................................10
2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS.....................................13
CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS RAMOS DO
DIREITO......................................................................................................................14
3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL.........................14
3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.......22
3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA............23
3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL...........................24
CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO....................................................................28
4.1 - DIREITO COMPARADO.................................................................................28
CONCLUSÃO..............................................................................................................31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................33
4
INTRODUÇÃO
O presente trabalho versa sobre a teoria da coculpabilidade, apontando a
origem histórica, também os princípios que a norteiam e sua ligação com alguns
ramos do direito.
Primeiramente busca-se a raiz dessa teoria, para entender o seu surgimento
e evolução ao longo da história, possibilitando, assim, o entendimento das etapas
percorridas pela sociedade humana para culminar no hodierno princípio. Para tanto,
são elencados personagens e autores que contribuíram diretamente ou
indiretamente para a construção do princípio da coculpabilidade que se conhece
hoje.
Adiante, é tratado da culpabilidade, que tecnicamente é um princípio que
deve ser entendido para então se trabalhar com a coculpabilidade e esta às
avessas, apontando-se algumas peculiaridades daquela.
Demonstra-se que atualmente as ações e serviços proporcionados pelos
entes federativos brasileiros estão aquém do que é previsto na legislação,
apresentando falhas, equívocos e por muitas vezes é ineficiente em cumprir o seu
papel. Estes “defeitos” trazem à população prejuízos dos mais variados, além de
desencadear condutas inesperadas por partes da população ou dos agentes
públicos, por muitas vezes ilícitas, ficando, assim, com culpa parcial nessas ações,
visto que foi falha e/ou ineficiente a ação do próprio Estado. Portanto, este trabalho
se mostra necessário para possibilitar uma visão ampla dos atuais acontecimentos,
possibilitando aos operadores do direito buscar soluções para amenizar ou contornar
as falhas e a ineficiência do Estado.
Para realizar este trabalho, foram utilizadas pesquisas bibliográficas,
buscando-se autores e materiais que abordam a temática da coculpabilidade no
ordenamento jurídico, seja brasileiro ou não, realizando-se um estudo de alguns
pontos específicos, como sua aplicação em outras áreas. Essa reunião de
conteúdos possibilitará uma visão crítica e pormenorizada do assunto, podendo
servir de justificativa para novas ações no âmbito do poder judiciário, legislativo e
executivo.
5
Assim, o objetivo geral do trabalho é mostrar como a coculpabilidade é/foi
aplicada e, ainda, como funciona este mesmo princípio às avessas, ou seja, como é
utilizado de forma contrária ao esperado. Portanto, aponta-se, também, o que
acontece quando o Estado não foi falho e/ou ineficiente, mas, mesmo assim, o
indivíduo comete infrações penais. Dessa forma, o operador do direito terá uma ideia
da realidade e saberá como o mesmo ente federativo age quando é necessário punir
aquele que sempre teve todas as suas necessidades providas.
Para o desenvolvimento do trabalho, além do já elencado, é abordado o
princípio da coculpabilidade em outros ramos, como o direito penal, a constituição
federal, a psicologia jurídica e o direito civil. Mostrando como este princípio pode ser
entendido e/ou aplicado em cada uma destas áreas.
Por fim, é realizada uma comparação do direito brasileiro com o de outros
países, como a Argentina, México entre outros, possibilitando, assim, o
conhecimento das semelhanças e diferenças do nosso ordenamento em relação a
outras nações.
CAPÍTULO 1 – ORIGEM HISTÓRICA DA COCULPABILIDADE
1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA
Quando se dispõe a buscar no contexto histórico a origem dos princípios que
norteiam o desenvolvimento das ciências humanas em sua mais ampla dimensão
invariavelmente decorre-se à antiga civilização grega e especialmente no caso do
Direito à civilização romana ainda tão afeita aos nossos dias em função do Direito
Romano inspirador de grande parte dos princípios do direito moderno. 
No caso do princípio da coculpabilidade deve-se buscar respostas em
tempos mais recentes, mas, é sempre importante ter presente a história humana
como um todo quando se pretende explicar algum fenômeno hodierno, visto que a
história funciona como um retrovisor através do qual buscamos referências para
quebrar velhos paradigmas e estabelecer as novas estruturas que regerão a partir
deste momento a vida em sociedade.
6
Se o objetivo for somente produzir uma lei fria com o intuito de punir os
infratores pode-se ignorar as nuances antropológicas, sociológicas e históricas e
simplesmente voltar aos tempos de Hamurabi e reeditar o princípio do Talião, pois
num mundo de oportunidades e desenvolvimento social minimamente igual, este
seria o princípio legal mais adequado a ser aplicado. Mas a história do
desenvolvimento humano nem de longe é linear ou preserva a garantia de que todos
possam a ter oportunidades justas e iguais de dizer a que vieram.
Sem dúvida, em plena Idade Média, os barões ingleses deram um passo
decisivo, mas ainda muito isolado na direção de combater as arbitrariedades do
Estado personificadas em João Sem Terra. Há neste caso uma tentativa concreta de
equilibrar o jogo de forças entre a sociedade como um todo e o Estado
especialmente quanto à necessidade deste próprio ser limitado pela lei. 
É importante lembrar que em tempos modernos Thomas Hobbes
proclamava em O Leviatã a necessidade de se conter a qualquer custo a maldade
humana em função do homem ser o lobo de si próprio. Por outro lado, pretendia Luis
XIV rei da França de 1643 a 1715 assegurar à humanidade através de sua famosa
frase “L’Etat c’est moi” (O Estado sou eu) que o Estado como instituição
personificada por um indivíduo resolveria todas as disputas dos súditos entre si e
mesmo destes em relação ao Estado,
No século XVIII, o Iluminismo cujas primeiras sementes já haviam germinado
na Inglaterra comas revoluções políticas de 1642 a 1688 e com a Revolução
Industrial de 1769, a Revolução Americana de 1776 agora provocava a
efervescência revolucionária que culminaria com a explosão de um dos mais
importantes movimentos revolucionários da história: a Revolução Francesa. 
Pugnavam os iluministas pela limitação do poder estatal e pela consecução
de uma sociedade na qual fossem consagrados os valores como a “égalité, liberté et
fraternité” (igualdade, liberdade e fraternidade). A meta era fazer a mais completa
reforma do Estado já feita até então. Um Estado que passaria a ser limitado em
função dos princípios contratualistas os quais estabelecem as obrigações do agora
cidadão para com o Estado e por outro lado os limites da ação e das obrigações
deste Estado em relação ao cidadão. A promessa era de que todos seriam
plenamente alcançados por estas novas prerrogativas. Neste sentido dizia Jean
Jaques Rousseau:
7
Se quisermos saber em que consiste precisamente o maior bem de todos,
que deve ser a finalidade de cada sistema de legislação veremos que ele se
reduz a estes dois objetos principais, a liberdade e a igualdade. A liberdade
porque toda dependência particular equivale a retirar força do corpo e do
Estado; a igualdade porque a liberdade não pode subsistir sem ela.
(Rousseau,2013, p.67)
É a busca pela igualdade e pela liberdade que norteia a Revolução Francesa
e nela encontra-se uma personagem singular: Jean Paul Marrat que, segundo o
eminente jurista argentino Eugenio Zaffaroni, seria o precursor do princípio da
Coculpabilidade. Marrat nasceu em 24 de maio de 1743 em Boudry, principado de
Neuchâtel atual Suíça. Médico e jornalista, Jean Paul Marrat foi um dos grandes
artífices da Revolução Francesa, a gênese das ideias sobre a coculpabilidade.
Embora tenha passado os seus primeiros anos de vida pública entre os aristocratas
parisienses, desiludiu-se com esta classe a partir de 1780, ano em que escreveu o
Plan de Legislation Criminelle (Plano de Legislação Criminal) que foi considerado
subversivo pela elite francesa tendo Marrat inclusive vetada a sua entrada na
Academia de Ciências de Paris. Decepcionado com a elite parisiense, Marrat fundou
um jornal em 1789 “L’ami Du Peuple” (O Amigo do Povo), no qual se apresenta
como defensor das causas populares, o que o liga ao partido jacobino no qual passa
a ocupar um cargo executivo a partir de 1792 com a proclamação da república por
parte dos jacobinos, que neste instante passaram a controlar o movimento
revolucionário.
Delinear o horrível quadro dos crimes, triste tarefa para minha pluma. À
vista de tantas baixezas, covardias, maldades, traições, barbáries e
atrocidades de que são capazes os homens, que alma honrada não se
enche de indignação! Que alma sensível não se estremece de espanto!
Entretanto, é mais horrendo o quadro de iniqüidades ao amparo do sagrado
nome das leis! Não falemos aqui da câmara ardente, da câmara estrelada,
do conselho terrível (vingativo) e de tantos outros tribunais de sangue que
fizeram em outras ocasiões estremecer a natureza. (MARRAT, 2000, p.61)
Nada fala mais alto em termos sociais e políticos do que a absurda divisão
social da França em tempos pré-revolucionários, na qual o Terceiro Estado que
conformava 96% da população sendo destes 92% compostos pela massa mais
simples e pobre era tratado como marionete no jogo político travado na Assembleia
dos Estados Gerais. Fato que leva o abade de Séyes a lançar a especular sobre o
que seria o terceiro estado naquele momento, concluindo que o mesmo era tudo,
8
que não tinha nada em face ao regime da época, mas, que buscava algo e esse algo
seria seguramente participação na formulação e execução das políticas públicas.
Neste contexto torna-se nítida a desilusão de Marrat com o estado de coisas
de sua época. Transparece a sua inconformidade com o governo aristocrático
francês e, assim, se desiludiu com o jovem governo implantado pelo partido
Girondino em 1789 que, embora houvesse rompido com o nefasto poder absoluto da
realeza, não fora capaz de atender aos anseios mais profundos da grande maioria
das camadas marginalizadas da população. Assegurar a liberdade do cidadão em
contextos como a expressão, a propriedade e a fé não seriam suficientes e capazes
por si só de produzir um mundo mais justo. 
O Estado que a partir das teses do contratualismo herdara também o jus
puniendi, tarefa de punir os crimes cometidos pelos cidadãos segue sendo incapaz
de reduzir a distância entre as propostas abstratas de busca por justiça social e a
sua consecução no mundo concreto. O Estado cria as leis para punir a todos de
forma igual, mas, ao mesmo tempo não é capaz de criar condições mínimas de
igualdade no campo social, espaço em que a vida real do cotidiano se desenrola.
Cedo Marrat havia percebido que o Estado Liberal não traria respostas para as
massas populares, sua eficiência e suas benesses se estenderiam a uma pequena
faixa populacional e o rigor da legislação, especialmente a de cunho criminal se
estenderia às massas desamparadas. A liberdade triunfara, mas, a igualdade fora
esquecida. 
O Estado Social procurou corrigir muitas das distorções criadas pelo Estado
Liberal e obteve relativo êxito especialmente em países centrais a partir da criação
do Well Far State (Estado de Bem-Estar Social) que até meados do século XX
obteve significativos avanços na tentativa de manter os direitos fundamentais de
primeira geração criados pelo Estado liberal e avançar em garantias mínimas
concretas no campo econômico e social a um número crescente de cidadãos. 
É preciso ponderar que com o avanço das políticas neoliberais
especialmente após a Segunda Grande Guerra, a situação de desigualdade social
volta a se agravar não só nas nações periféricas, mas, agora também em nações
centrais do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico. Neste contexto
aparece o grande sistematizador do princípio da Coculpabilidade, o jurista argentino
Eugenio Raúl Zaffaroni. Autor de mais de vinte livros, entre eles Em Busca das
Penas Perdidas e Teoria do Delito, o juiz argentino suscita uma intensa discussão
9
sobre as razões de escolha de determinados comportamentos para figurarem como
tipo penal e propõe uma discussão séria sobre as relações entre a violência criminal
e a violência estrutural. Ressalta-se que o Estado é na maior parte o responsável
pela criação e legitimação da estrutura sociopolítica em que está inserida a
sociedade. 
A partir deste raciocínio é indiscutível um enorme déficit de legitimação do
ente estatal como sujeito ator da punição. Um Estado que segue querendo punir a
todos de forma igual, quando não oferece as mínimas condições de igualdade de
oportunidades de desenvolvimento humano à grande massa populacional que se
encontra na base da pirâmide social.
O desenvolvimento humano deve ser voltado em especial ao provimento de
políticas de saúde pública abrangentes e adequadas, bem como, um sistema
educacional que busque reduzir o fosso que se constrói entre as classes mais
abastadas e a imensa massa de marginalizados. É neste ponto que o princípio da
coculpabilidade encontra eco, pois, pretende cobrar do Estado a imensa dívida que
tem com as camadas menos favorecidas da sociedade e que de fato são vítimas das
políticas inócuas deste mesmo Estado que normalmente favorecem um pequeno e
privilegiado grupo de cidadãos. A continuar nesse caminho a sociedade estará no
alvorecer o século XXI aproximando-se muito mais do Estado modelo do Leviatã de
Thomas Hobbes do que dodecantado Estado Constitucional e Democrático de
Direito, maravilhoso em nível abstrato, mas, mas em boa parte uma fantasia em
termos práticos.
O princípio da coculpabilidade é o instrumento defendido por Zaffaroni para
proteger os socialmente mais vulneráveis da incompetência política, institucional e
operacional do Estado e, ao mesmo, tempo defendê-los do afã punitivo deste
mesmo Estado que exerce o Jus Puniendi sobre estes mesmos através do Direito
Penal.
CAPÍTULO 2 – CONCEITO
2.1 – CULPABILIDADE
10
Ao dizer que uma pessoa foi responsável pela derrota de algo, tem-se uma
reprovação. A culpabilidade, portanto, é quando se considera alguém o causador de
uma ação considerada reprovável. Assim, esse juízo de censura e reprovação sobre
a conduta que alguém praticou é a culpabilidade. Logo, não é um elemento do
crime, mas sim uma condição para aplicação da pena.
Da mesma forma, ao reprovar o autor de um crime, a culpabilidade necessita
estar fora dele, ou seja, para aferi-la, o crime já deve ter ocorrido, não podendo ser
descaracterizado.
Seguindo essa linha de raciocínio, CAPEZ 2009, elucida:
Em hipótese alguma será possível a exclusão do dolo e da culpa ou da
ilicitude nessa fase, uma vez que tais elementos já foram analisados nas
precedentes. Por essa razão, culpabilidade nada tem que ver com o crime,
não podendo ser qualificada com seu elemento.
CAPEZ, também apresenta a ideia de culpabilidade do autor que tem
como enfoque a ação do indivíduo em si, não se preocupando com a gravidade da
ação ou crime e sim a personalidade entre outras características do autor. Já a
culpabilidade do fato visa a reprovação da conduta, do seu dano e sua
repercussão, e não do autor da ação, sendo esta última adotada pelo código penal
brasileiro.
Citado autor ainda expõe sobre o grau de culpabilidade, que reflete sobre a
intensidade da pena, conforme o nível de reprovabilidade da conduta, podendo a
pena ser de maior ou menor grau.
2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE
O princípio da coculpabilidade é a corresponsabilidade do Estado no
cometimento do delito praticado pelo cidadão, com menor âmbito de
autodeterminação. E confirmado por Grégore Moura, como abaixo se vê:
O princípio da co-culpabilidade é um princípio constitucional implícito que
reconhece a co-responsabilidade do Estado no cometimento de
determinados delitos, praticados por cidadãos que possuem menor âmbito
de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,
11
principalmente no que se refere às condições sociais e econômicas do
agente, o que enseja menor reprovação social, gerando consequências
práticas não só na aplicação e execução da pena, mas também no
processo penal. MOURA, 2014. P.90)
Preceitua Guilherme de Sousa Nucci: 
Conceito de coculpabilidade: trata-se de uma reprovação conjunta que deve
ser exercida sobre o Estado, tanto quanto se faz com o autor de uma
infração penal, quando se verifica não ter sido proporcionada a todos
igualdade de oportunidades na vida, significando, pois, que alguns tendem
ao crime por falta de opção. Esclarecem Zaffaroni e Pierangeli que 'há
sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação, condicionado
desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas
ao sujeito e sobrecarregá-lo com elas no momento da reprovação de
culpabilidade'. Assim, deveria haver a aplicação da atenuante inominada do
art. 66 (Manual de direito penal brasileiro - parte geral, 2014, p. 613).
O Estado tem por obrigação oportunizar igualmente todos os cidadãos, o
que não ocorre, gerando uma responsabilidade implícita para o ente federativo,
defini Zaffaroni e Pierangeli: 
Todo sujeito age numa circunstância determinada e com âmbito de
autodeterminação também determinado. Em sua própria personalidade a
uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a
sociedade – por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de
brindar a todos os homens com as mesmas oportunidades. Em
consequência, há sujeitos que tem um menor âmbito de autodeterminação,
condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir
estas causas sociais ao sujeito e sobrecarrega-lo com elas no momento de
reprovação de culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma
‘coculpabilidade”, com a qual a própria sociedade deve arcar. (ZAFFARONI
E PIERANGELI, 2007. P.525).
O Estado sendo o titular do jus puniendi (direito de punir do Estado) não
pode se autopunir, por isso terá que criar meios de compensação para equilibrar as
condições de desigualdades socais.
12
Preceitua a CRFB/88 as obrigações dos entes federativos, como boa
educação, emprego, acesso à saúde, dentre outras. Mas, descumprido o contrato, e
por esta razão o órgão estatal tem participação indireta nos delitos cometidos pelos
menos favorecidos na sociedade. 
Logo, esses não podem ser julgados da mesma forma que os mais
abastados, tendo que existir uma compensação na dosimetria da pena, eis que
desrespeitados os seguintes objetivos:
“Art. 3º Constituem:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - Garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação. ”
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. ”
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação. ”
.
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. ”
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações”
Os direitos sociais, culturais e econômicos, elencados no artigo 6º da
CRFB/88, são também conhecidos como direitos de segunda geração. Foram
criados para proporcionar um bem-estar geral para aqueles que vivem sob a
proteção do Estado, este que tem sua parcela de culpa na criminalidade existente,
13
porém não se pode inverter a lógica e considerar o ente público como criminoso e o
criminoso como vítima.
Por causa de sua omissão deve-se avaliar e dar melhores oportunidades
para os agentes que descumpriram o contrato social e praticaram atos ilícitos,
atenuando de alguma forma a pena ou criando medidas socioeducativas para
atender aqueles que ficam a margem da sociedade.
2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS
De outro turno, tem-se ao lado oposto o princípio da coculpabilidade às
avessas, que corresponde a uma definição contrária a da coculpabilidade. 
Do mesmo modo, a coculpabilidade as avessas predispõe, em suas
primeiras linhas, a identificação da seletividade do sistema penal e a incriminaçãoda
própria vulnerabilidade. Entretanto, ao contrário da coculpabilidade primaria, aquela
envolve a reprovação penal mais intensa aos crimes praticados por pessoas dotadas
de poder econômico, sendo este um dos critérios fundamentais, para a consecução
do delito (econômicos, financeiros, tributários).
Assim, se os pobres, excluídos e marginalizados do acesso à educação,
lazer, assistências sociais, dentre outros vetores da cidadania, devem ter
amenizadas a aplicação da pena por causa atenuante genérica (art. 66 do Código
Penal Brasileiro), por sua vez, os abrangidos pelo prisma inverso possuem acesso
amplo e facilitado aos serviços públicos e topo da pirâmide do poder, devendo assim
estes, não serem beneficiados com o artigo 66.
Por tais razões, segundo entendimento doutrinário, deve incidir causa
agravante específica de aplicação da pena, inobstante, por ausência de
possibilidade de utilização malam partem das causas agravantes não há em nosso
ordenamento tal tema, mas a inserção pode ocorrer por edição de nova lei.
O magistrado pode na primeira fase de dosimetria de aplicação da pena
utilizar-se do prisma em destaque (coculpabilidade às avessas) para considerá-la
dentro das situações relativas aos motivos ou circunstâncias. 
14
Frise-se, por derradeiro, que nossa legislação abraça o princípio em voga de
forma explicita no art. .76, IV, “a”, da lei nº. 8.078/901 e do art. 4, §2º, da Lei nº
1.521/512.
Trata-se de materialização do princípio da igualdade material ao passo que
equaliza situações desiguais na medida da desigualdade, existentes nos vetores da
necessidade, alcançado a suficiência da pena nos contornos repisados no art. 593 do
Código Penal. 
CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS
RAMOS DO DIREITO
3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL
O princípio da coculpabilidade não tem previsão legal no nosso ordenamento
jurídico, no entanto, a doutrina, a jurisprudência e o Código Processo Penal e a Lei
9.605/1998 o admitem.
O art. 66 do CP dispõe: “Art. 66 A pena poderá ser ainda atenuada em razão
de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista
expressamente em lei. ”
Citado artigo possibilita ao julgador a aplicação da referida teoria, dadas as
circunstâncias do caso concreto, como atenuante genérica.
Zaffaroni e Pierangeli: 'Cremos que a coculpabilidade é herdeira do
pensamento de Marat, e hoje, faz parte da ordem jurídica de todo Estado
social de direito, que reconhece direitos econômicos e sociais, e, portanto,
tem cabimento no CP mediante a disposição genérica do art. 66'.
1 Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código (...) IV - quando cometidos: a) por
servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima.
2 Art. 4º - § 2º. São circunstâncias agravantes do crime de usura: (...) a) por militar, funcionário público,
ministro de culto religioso; por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da
vítima;
3 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
15
Encontra-se na jurisprudência brasileira, ainda que de forma tímida,
esparsos julgados pela aplicação da referida vertente, sendo que em suas
ocorrências foram levadas em consideração os aspectos econômicos-sociais que o
cercam (Apelação crime nº. 7002250371 Julgado em 21 de março de 2001 TJRS). 
Em lado oposto os tribunais estaduais preponderam pela sua
inaplicabilidade, diante da não relação entre fatores socioeconômicas e a
criminalidade. A propósito segue abaixo recente julgado do STJ, a saber:
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 749.644 - PR
(2015/0180289-0)RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
AGRAVANTE : ARCINDA DOS SANTOS MENDONÇA ADVOGADO :
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO AGRAVADO : MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. ART. 273, § 1º-B, I, DO CP. CRIME DE
IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS DESTINADOS A FINS TERAPÊUTICOS
OU MEDICINAIS OU SEM REGISTRO DO ÓRGÃO DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA COMPETENTE. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. MÉRITO.
EXAME. POSSIBILIDADE. SÚMULA 123/STJ. DESCLASSIFICAÇÃO DA
CONDUTA PARA O CRIME DE CONTRABANDO. INVIABILIDADE.
PRETENSÃO QUE EXIGE INCURSÃO FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA
7/STJ. OFENSA AO ART. 40, I, DA LEI N. 11.343/2006. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 282 E 356/STF.
Agravo em recurso especial improvido.
AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME.
ARTIGO 112 DA LEP COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N.º 10.792/2003.
ANÁLISE DOS EXAMES PSICOSSOCIAIS CONSTANTES DOS AUTOS
PARA AFERIÇÃO DO REQUISITO SUBJETIVO. POSSIBILIDADE, DIANTE
DO PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ.
SÚMULA N.º 439 DO STJ.
SÚMULA VINCULANTE N.º 26. A nova redação do artigo 112 da
LEP não elenca literalmente o exame psicossocial como requisito para a
concessão da progressão de regime, nem para livramento condicional, mas
também não o suprime objetivamente, portanto, numa interpretação
sistemática do ordenamento processual vigente, pode o juiz se valer das
provas contidas nos autos e determinar a realização do referido laudo para
averiguar as condições pessoais e o mérito do apenado para a progressão
do regime carcerário ou livramento condicional, formando sua convicção, na
forma dos artigos 155 e 182 do Código de Processo Penal. Na espécie, as
16
condições subjetivas do agravante são por demais desfavoráveis à
progressão de regime, é o que se denota das avaliações constantes dos
autos nas fls. 19/20 e 21/22, não podendo o juiz se furtar de analisá-las,
apenas por entender que, pela nova legislação, basta o atestado de bom
comportamento carcerário comprovado pelo diretor do estabelecimento
prisional. PRINCÍPIO DA CO-CULPABILIDADE. NÃO APLICAÇÃO. O
princípio da co-culpabilidade não é aplicado para fins de progressão de
regime, por falta de previsão legal e porque não se pode responsabilizar a
sociedade pela ausência de oportunidades ao indivíduo, bem como a
culpabilidade não decorre da pobreza, pois presente o crime em todas as
camadas sociais. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo Nº 70047398979,
Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel de
Borba Lucas, Julgado em 21/03/2012).
No julgado acima, o princípio não foi aplicado sob a alegação de que não há
previsão na legislação pátria. Na Câmara Criminal de Julgamento não foi observado
o princípio, implícito na Constituição Federal.
10ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir
a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. Apelação
Criminal (0026964-52.2011.8.26.0161) PORTE ILEGAL DE ARMA DE
FOGO
'Prova robusta desfavorável ao apelante, inviabilizando a absolvição.
Depoimento de policiais. Não havendo motivo concreto para infirmar tais
provas, necessária a manutenção da condenação. Inexigibilidade de
conduta diversa. Inaplicabilidade. Desclassificação para o artigo 14, do
Estatuto do Desarmamento. Impossibilidade. Numeração suprimida do
artefato. Pena e regime bem aplicados. Negado provimento ao recurso. [...]
Irresignado apela postulando a absolvição pelo reconhecimento da
inexigibilidade de condutadiversa. Subsidiariamente, requer a
desclassificação para o artigo 14, do Estatuto do Desarmamento. Alega,
ainda, a inconstitucionalidade da reincidência. Busca a atenuação da pena
em razão da situação de vulnerabilidade social por aplicação da teoria da
co-culpabilidade. Requer, também, a fixação do regime aberto e a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (fls.
91/108). […] No tocante à teoria da culpabilidade por vulnerabilidade e da
co-culpabilidade, inviável sua aplicação, visto não ser possível a
responsabilização do Estado, ou mesmo da sociedade, pela criminalidade
17
daqueles que, ainda que sem muitas oportunidades, passaram à prática
reiterada de crimes'.
Na decisão mencionada também não foi reconhecido. O julgado retira
qualquer responsabilidade do Estado pela quebra do contrato, dizendo que é
“inviável sua aplicação, visto não ser possível a responsabilização do Estado, ou
mesmo da sociedade, pela criminalidade daqueles que, ainda que sem muitas
oportunidades, passaram à prática reiterada de crimes”.
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0391034-
37.2010.8.26.0000, […] ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Criminal do
Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM
PROVIMENTO ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator,
que integra este acórdão. […] O réu apelou solicitando absolvição, com
apoio no artigo 386, incisos III e VII, do Código de Processo Penal,
pretendendo o reconhecimento do princípio da insignificância ou da
insuficiência probatória. Em caráter subsidiário pleiteou o reconhecimento
do privilégio do artigo 155, § 2º, do Código Penal com a aplicação exclusiva
da pena de multa, a exclusão das circunstâncias qualificadoras, a redução
da pena-base, o reconhecimento das atenuantes inominadas da
vulnerabilidade social e da co-culpabilidade, a desconsideração da
reincidência, por constituir bis in idem, maior redução pela tentativa, a
fixação do regime aberto ou, pelo menos, semi aberto, e a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. […] A vulnerabilidade
social e a co-culpabilidade, alegadas pelos réus como atenuantes
genéricas, não incidem na espécie. Isso porque, nos termos do artigo 67 do
Código Penal, a reincidência, por ser preponderante, sobrepõe se às
atenuantes inominadas, sobretudo considerando-se tratar-se de
reincidência específica. O fato de o apelante, punido por um crime, voltar a
delinqüir, já é bastante grave, fato que justifica a agravante de reincidência.
Porém, tornar a cometer a mesma infração que já cometera anteriormente
mostra maior recalcitrância, autorizando a aplicação de maior fração de
aumento pela reincidência. Neste sentido Francesco Carnelutti que ao
comentar a reincidência afirma que 'atribui a lei particular importância
quando se comete o novo delito depois da condenação pelo delito
anterior; em tal caso o novo delito demonstra insensibilidade do réu à
condenação e, eventualmente, também o castigo'. […] Ante o
exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.
18
Já de outro modo, o TJ-SP no aresto mencionado negou o provimento com a
alegação de que a reincidência por ser preponderante nos termos do art.67 do CP
sobrepõem-se às atenuantes inominadas ou genéricas.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0010932-
29.2012.8.26.0066, da Comarca de Barretos […] ACORDAM, em 13ª
Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: 'Deram parcial provimento à apelação a fim de reduzir as
penas para 01 ano e 08 meses de reclusão, além de 166 dias-multa,
mantida, no mais, por seus próprios fundamentos, a r. sentença recorrida.
V.U.', de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão
[…]De qualquer modo, DIEGO não teria condições financeiras de sustentar
o seu vício, recebendo R$ 300,00 mensais e consumindo R$ 60,00 de crack
a cada vinte minutos, conforme sustentou em seu interrogatório judicial. [...]
De resto, inviável o reconhecimento do princípio da co-culpabilidade. Por
certo, DIEGO poderia comercializar produtos permitidos pela lei e admitiu
possuir trabalho. Logo, não há como carregar ao Estado a responsabilidade
por conduta ilícita perpetrada pela acusado. [..].
No acordão citado, verifica-se que o réu acusado por tráfico de drogas,
possui atividade laboral lícita, portanto, não há o que se falar em coculpabilidade do
Estado, uma vez que possuindo trabalho optou pela atividade ilícita e não licita
Nas pesquisas realizadas não foi encontrado nenhum julgado do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro em que foi admitido o princípio da coculpabilidade. Houve
vários pedidos nos Tribunais do Rio Grande do Sul e de São Paulo fundamentados
na adoção da coculpabilidade como atenuantes inominadas, sob a alegação de que
o Estado quebrou seu dever de prestar oportunidades iguais aos agentes, mas
nenhum obteve êxito.
Observa-se que não há acolhimento do princípio da coculpabilidade pela
maioria da jurisprudência, seja no que pertine ao art. 59, pena base, seja como no
art.66, atenuante inominada. 
Encontram-se duas jurisprudências provendo recurso com base na falta de
autodeterminação do agente pela falta de oportunidade. Observa-se:
19
Ementa: Embargos Infringentes. Tentativa de estupro. Fixação da pena.
Agente que vive de biscates, solteiro, com dificuldades para satisfazer a
concupiscência, altamente vulnerável à prática de delitos ocasionais. Maior
a vulnerabilidade social, menor a culpabilidade. Teoria da co-culpabilidade
(Zaffaroni). Prevalência do voto vencido, na fixação da pena-base mínima.
Regime carcerário inicial. Embargos acolhidos por maioria. (Embargos
infringentes n° 70000792358, Quarto Grupo de Câmeras Criminais, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Pinto de Azevedo, julgado em
28/4/2000).
No caso relatado acima, levou-se em consideração o princípio da
coculpabilidade para a fixação da pena no piso legal.
Ementa: FURTO EM RESIDÊNCIA. CONCURSO DE AGENTES.
MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. FATO TÍPICO.
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. Além da
inexistência de resultado patrimonial, a ocorrência de crime bagatela exige
análise acerca do desvalor da conduta do agente. A invasão da residência
da vítima imprime desvalor à ação, tornando incabível a aplicação do
princípio da insignificância. JUÍZO CONDENATÓRIO MANTIDO.
INCIDÊNCIA DA ATENUANTE GENÉRICA PREVISTA NO ART. 66 DO CP.
RÉU SEMI-ALFABETIZADO. INSTITUTO DA CO-CULPABILIDADE.
REDUÇÃO DA PENA. MULTA. ISENÇÃO DE PAGAMENTO.
POSSIBILIDADE. PENA QUE TRANSCENDE DA PESSOA DO
CONDENADO POBRE, ATINGINDO SEUS
FAMILIARES. Apelação parcialmente provida. (Apelação Crime
Nº70013886742, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Marco Antônio Bandeira Scapini, Julgado em 20/04/2006).
No julgado supra, o TJRS admitiu o pedido de redução de pena baseando-
se nas atenuantes genéricas sopesadas no art.66 do CP, sob a alegação do réu ser
semianalfabeto. Portanto, verificou-se que o Estado não cumpriu com a sua parte no
contrato social estabelecido na Constituição Federal, que é garantir o acesso de
todos a educação, in verbis: “afinal, em uma época como a nossa, onde um simples
vendedor que trabalhe atrás de um balcão de uma loja precisa ter noções de
informática, a perspectiva de empregabilidade de umhomem analfabeto ou
semianalfabeto é praticamente nula”.
Nas palavras de Grégore Moreira de Moura:
20
Somente com o advento das ideias iluministas e a consequente criação dos
Estados Liberais, bem como a adoção do princípio da secularização e
laicizarão, torna-se possível determinar o surgimento do princípio da co-
culpabilidade, ressaltando o seu total desrespeito pelos Estados, desde
aquela época. Todavia, as ideias trazidas pelos iluministas, quando da sua
aplicação pelos Estados Liberais, propiciaram um liberalismo e um
individualismo exacerbado, o que ocasionou o aprofundamento das
desigualdades sociais e a sensação de que o Direito é um instrumento de
controle social para manter o controle das classes sociais ditas inferiores
(...) a origem histórica da co-culpabilidade se confunde com o surgimento do
Estado Liberal fundado com fulcro nas ideias iluministas, pois, na verdade, a
co-responsabilidade estatal no cometimento de determinados delitos surgiu
com advento do Estado Liberal e o seu contratualismo, ou seja, o delito
como forma de quebra do contrato social. Em contrapartida, o Estado
também quebra o contrato social quando deixa de propiciar aos seus
cidadãos o mínimo de condições de sobrevivência, segurança e
desenvolvimento da pessoa humana. Portanto, a co-culpabilidade nada
mais é do que o reconhecimento jurídico, social e político da quebra do
contrato social por parte do Estado, devendo, desta feita, assumir essa
“inadimplência” reconhecendo a co-culpabilidade.
Conclui-se que o princípio da coculpabilidade poderia atingir normatização
no Código Penal Brasileiro, haja vista, que a própria Constituição não expõe
impedimento, pelo contrário, dentro de suas garantias, prevê essa possibilidade.
A positivação do princípio mencionado poderia ocorrer em diversos artigos,
como no artigo 59 do Código Penal, que serve de base para a fixação da pena do
acusado, nos termos seguintes:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I - As penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - A quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - A substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie
de pena, se cabível
21
Pode-se acrescentar no referido artigo: “ O juiz, atendendo à
culpabilidade (...)”, bem como as oportunidades sociais a ele oferecidas, “aos
motivos, circunstâncias, (...)”. Com isso o princípio passaria a ser positivado,
tornando-se lei, e obrigando o juiz a aplicá-lo pena base.
É possível, ainda, incluir o fator da hipossuficiência no rol de atenuantes dos
excluídos do Estado, com base na falta de autodeterminação do indivíduo por não
ter tido acesso a uma base ética, moral e filosófica na formação de seu caráter; por
não ter conseguido atingir o mínimo de ascensão econômica para ter uma vida
digna. Sendo assim, a atenuante de “falta de autodeterminação” seria incluída no rol
exemplificativo do artigo 65, da forma seguinte:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - Ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70
(setenta) anos, na data da sentença;
II - O desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do
julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de
ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o
provocou.
Zaffaroni e Pierangeli sustentam, que o princípio da coculpabilidade
baseando no artigo 66 do Código Penal se refere às atenuantes inominadas.
Cremos que a co-culpabilidade é herdeira do pensamento de Marat, e, hoje,
faz parte da ordem jurídica de todo Estado social do direito, que reconhece
direitos econômicos e sociais, e, portanto, tem cabimento no Código Penal
mediante a disposição genérica do artigo 66. ”
“Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância
relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista
expressamente em lei.
Paulo José da Costa Júnior menciona a respeito do artigo 66 e a imprevisão
do legislador em abranger todos os casos:
22
[...] Em cada conduta humana faz-se sentir o imponderável, enquanto a
miopia do legislador o impede de prever todas as hipóteses que irão surgir.
Nenhuma lei será, pois, capaz de prever, de catalogar, definir e sistematizar
os fatos que irão desencadear-se na realidade fenomênica futura. […]
Poderá o magistrado, ao considerar ângulos não previstos, reduzir a sanção
de molde a adequá-la à culpabilidade do agente. Não se dispensa, todavia,
o juiz de motivar suficientemente a decisão.
Assim, o cálculo da dosimetria da pena atenderia o critério de
individualização da pena. Esclareça-se que o crime cometido deve ter estreita
ligação com as condições sociais e econômicas do acusado.
3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A teoria da coculpabilidade com enfoque na Constituição Federal é implícita e
reconhece a responsabilidade do Estado em determinados acontecimentos delituosos,
praticados por cidadãos no âmbito de auto determinar circunstâncias de um caso concreto,
com grau de importância maior nas condições sociais e econômicas do agente.
Visto que a Constituição é a Lei máxima que limita poderes e define os direitos e
deveres dos cidadãos, inclui o princípio da coculpabilidade apreciando os problemas sociais
que influenciam a prática dos atos delituosos, analisando então o Estado, a reconhecer a
desigualdade entre os homens, tendo em vista a condição de hipossuficiência do sujeito
ativo do crime em razão da falta de prestação estatal quanto a um direito individual.
Reza o preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia
Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceito,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos sob a
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.
É eloquente o preâmbulo da lei maior brasileira no sentido de garantir a dignidade
das pessoas baseada em valores consagrados ainda no século XVIII mais especificamente
durante a Revolução Francesa, garantia esta ratificada no artigo 1º inciso III da mesma. A
carta magna brasileira de 05 de outubro de 1988 também conhecida como Constituição
Cidadã já em seu preâmbulo estabelece um claro compromisso com a liberdade, a
23
igualdade e a fraternidade o que compromete de maneira expressa e inapelável o Estado no
sentido de produzir um ambiente social e jurídico mais igual e mais fraterno no qual hajauma redução constante do fosso entre as classes mais abastadas e um grande contingente
de pessoas que ainda não tem acesso aos bens mínimos que configurem na concretude a
propalada igualdade constante no texto constitucional.
Nesta perspectiva não cabem mais o analfabetismo de boa parte da população
brasileira, a falta de políticas sanitárias abrangentes e adequadas, a precariedade dos meios
públicos de transporte e tantas outras mazelas que são de responsabilidade exclusiva deste
Estado em suas diversas esferas que ao não cumprir as suas obrigações hipoteca o futuro
de gerações de brasileiros que são vítimas todos os dias da falta de igualdade real e
concreta nos diversos campos da atividade humana. São na verdade vítimas do Estado
ausente.
Não há como não se considerar o quadro acima descrito no momento de se julgar e
punir um cidadão por delitos cometidos. Há que o Estado ser responsabilizado pelas suas
falhas em cumprir os compromissos por ele próprio e publicamente assumidos na sua lei
maior, pois, ao não cumprir com as suas próprias obrigações manifestas em lei maior o
Estado segundo Zaffaroni se torna co-autor do crime de ruptura do contrato social com o
indivíduo autor de delito, devendo, portanto, pagar pela parte que lhe compete neste delito o
que em última análise implica em responsabilizar a própria sociedade organizada.
O Art. 5º da Constituição Federal prevê “Todos são iguais perante a Lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se (...)”; por isso, é um direito resguardando
todos os indivíduos para serem tratados igualmente, contudo, a teoria foi desenvolvida para
o fornecimento de uma vida digna social igualitária.
3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA
O indivíduo pode ter o desenvolvimento psicológico com base em “modelos”,
que podem ser, conforme FIORELLI e MANGINI 2012: “pais, irmãos, professores,
amigos, colegas, artistas de cinema, esportistas, políticos, supervisores, gerentes
etc.”
Da mesma forma, os autores acima citados apontam que seguindo essa
linha de raciocino, as pessoas agressivas são oriundas de famílias agressivas, não
importando a sua herança genética. Logo, não é uma simples aprendizagem, pois, a
24
função de modelo é fundamental para que a conduta seja reproduzida e, acaso não
haja o modelo, não haverá a conduta. 
Os indivíduos em formação psicológica seguirão os modelos disponíveis,
seja no lar, escola ou outro meio. O Estado ao deixar livre um modelo que pratica
condutas delituosas, deixa de cumprir o seu papel da segurança pública, não o
punindo e/ou retirando do meio para ser ressocializado. Esta figura poderá induzir
outros a agir de igual forma, surgindo assim, novos delinquentes devido à mera
observação do modelo. Pode-se corroborar a ideia apontada, de acordo com o
ensinamento defendido por FIORELLI e MANGINI, 2012, p.231:
 É possível que pessoas com determinadas condições mentais sejam
susceptíveis de escolher modelos de conduta inadequados com maior
facilidade; fossem outros os modelos, não cometeriam crimes;
 Essas mesmas pessoas podem escolher situações e
comportamentos mais favoráveis ao comportamento delituoso; elas se
expõem mais e, portanto, cometem mais crimes;
 As pessoas que convivem com tais indivíduos os tratam de maneira
diferenciada e podem estabelecer condições de relacionamento que se
transformem em estímulos indiretos à prática criminosa.
Essa ineficiência do Estado com corresponsabilidade dos pais, educadores
etc. podem repercutir negativamente na formação dos indivíduos. Portando, os
modelos que não deveriam estar no seio da comunidade influenciam de forma a
prejudicar o natural desenvolvimento social como a segurança e violação de direitos
individuais, acaso os entes federativos cumprissem o seu papel, os indivíduos em
formação teriam apenas modelos que não transgredem as leis, assim, na falta de
pessoas infratoras na sociedade, a tendência é que diminua ou não surja novos
criminosos.
3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL
Responsabilidade significa a obrigação de responder pelas ações próprias
ou de outrem, no caso do Estado, reponde pelas ações ou omissões de seus
agentes.
O Código Civil foi o primeiro diploma também a constituir a obrigação do
25
Estado em reparar, como vista no art. 43 da referida lei:
As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos de seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano, se houver,
por parte destes, culpa ou dolo. 
O estado tem suas obrigações impostas pela legislação constitucional e
infra, sendo que, uma vez rompido referidas cláusulas, surge para o ofendido direito
ao dano indenizável. A propósito, é necessário apontar que tratando-se de conduta
omissiva estatal, é assente na Jurisprudência dos Tribunais Superiores4 (REsp
1069996/RS. STJ – Segunda Turma, Rel.ª Min. Eliana Calmon, julgamento:
18.06.09, DJe:01.07.09), sendo que, além dos requisitos ordinários da
responsabilidade civil estatal, quais sejam, ação/omissão, dano indenizável e nexo
causal, sopesa-se a necessidade da comprovação do elemento subjetivo dolo/culpa.
Nestes casos como a coculpabilidade, a omissão estatal circunscreve-se ao que é
acoimado pela doutrina pátria de dano evitável. O referido dano é aquele que o ente
público poderia impedir o prejuízo, mas não o fez.
PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO POLICIAL. PERSEGUIÇÃO EM VIA
PÚBLICA. VÍTIMA ATINGIDA POR PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO. "BALA
PERDIDA". INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
CONFIGURAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. SÚMULA 07. PRESCRIÇÃO.
DECRETO LEGISLATIVO 20.910/32. APLICAÇÃO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA
DOS ATOS LESIVOS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. TEORIA DA CAUSA
MADURA. CAUSA PETENDI. PRINCÍPIO NARRA MIHI FACTUM, DABO
TIBI JUS.OFENSA À LEI REVOGADA. PRINCÍPIO TEMPUS REGIT
ACTUM. REVISÃO DO QUANTUM ARBITRADO PELA INSTÂNCIA A QUO.
4 (...) 2. No presente caso, o acordão recorrido concluiu pela conduta omissiva do Estado, tendo em vista que a recorrida, professora da
rede distrital de ensino, foi agredida física e moralmente, por um de seus alunos, dentro do estabelecimento educacional, quando a
direção da escola, apesar de ciente das ameaças de morte, não diligenciou pelo afastamento imediato do estudante da sala de aula e pela
segurança da professora ameaçada. 3. Destacou-se, à vista de provas colacionadas aos autos, que houve negligencia quando da prestação
do serviço público, já que se mostra razoável, ao tempo dos fatos, um incremento na segurança dentro do estabelecimento escolar, diante
de ameaças perpetradas pelo aluno, no dia anterior à agressão física. 4. O Tribunal de origem, diante do conjunto fático-probatório
constantes dos autos, providenciou a devida fundamentação dos requisitos ensejados da responsabilidade civil por omissão do Estado.
Neste sentido, não obstante o dano ter sido igualmente causado por ato de terceiro (aluno), atestou-se nas instancias ordinárias que
existiam meios, a cargo do Estado, razoáveis e suficientes para impedir a causação do dano, não satisfatoriamente utilizados. 5. A decisão
pelo juízo a quo com base nas provas que lastreiam os autos é impassível de revisão, no âmbito do recurso especial, nos termos da Sumula
07/STJ. 6. O Tribunal de origem aplicou de maneira escorreita e fundamentada o regime de responsabilidade civil, em caso de omissão
estatal. Já que, uma vez demonstrados o nexo causal entre a inação do Poder Público e o dano configurado, e a culpa na má prestação do
serviço público, surgea obrigação do Estado de reparar o dano. Precedentes. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte,
não provido (REsp 1.142.245/DF, STJ – Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, julgamento: 05.10.2010, DJ: 19.10.2010) 
26
SÚMULA 07. IMPOSSIBILIDADE IN CASU. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II,
CPC. INOCORRÊNCIA.
1. Ação de indenização em face do Estado, ajuizada por vítima de disparo
de arma de fogo, efetuada por policial militar, em razão de perseguição
policial, objetivando indenização por danos físicos, psicológicos e estéticos.
(...)
7. A causa petendi não é integrada pela qualificação jurídica do fato, por isso
que resta indiferente se a parte alude à responsabilidade estatal em face da
omissão do Estado e o Tribunal entende pela conduta comissiva do Estado
e a conseqüente responsabilidade objetiva estatal, por força da máxima
implícita ao ordenamento jurídico de que: "narra mihi factum, dabo tibi jus."
O Tribunal a quo analisou os fatos narrados: A perseguição policial e a troca
de tiros relatada pela Autora, em sua petição inicial, e corroborada pelos
documentos juntados aos autos, não foram negadas pelo Réu, tratando-se,
pois, de fato incontroverso nos autos. Entendo, ademais, que, na hipótese
em berlinda, houve importante falha no planejamento da ação policial, com
severo comprometimento da integridade física de terceiro inocente. (fls. 163)
E considerou a responsabilidade objetiva, em face da conduta comissiva: O
ponto central de controvérsia nos autos se concentra na existência ou não
de responsabilidade civil do Estado quando agentes públicos (policiais
militares), empreendendo perseguição a bandidos, com estes trocam tiros
em via pública de alto tráfego de veículos e pedestres, resultando, desse
tiroteio, lesões de natureza grave em terceiro, vítima inocente.(...) A
responsabilidade civil do Estado, pelos danos causados a terceiros,
decorrentes da atuação dos agentes públicos, nessa qualidade, é objetiva.
(fls. 163). (...). 14.A responsabilidade estatal restou comprovada pelo
Tribunal a quo, com base nas provas dos autos, bem como escorreita a
imputação da indenização fixada a título de danos materiais e morais. A
análise da existência do fato danoso, e o necessário nexo causal entre a
suposta conduta e os prejuízos decorrentes da mesma implica em análise
fático-probatória, razão pela qual descabe a esta Corte Superior referida
apreciação em sede de recurso especial, porquanto é-lhe vedado atuar
como Tribunal de Apelação reiterada ou Terceira Instância revisora, ante a
ratio essendi da Súmula n.º 07/STJ. Precedentes: (AgRg no REsp
723893/RS DJ 28.11.2005; AgRg no Ag 556897/RS DJ 09.05.2005; REsp
351764/RJ DJ 28.10.2002.) 15. Isto porque o Tribunal asseverou que: "Na
hipótese destes autos, o conjunto probatório aponta - por exclusão e diante
da ausência de elementos de convicção em sentido contrário - para a falta
cometida, justamente pelos agentes públicos - policiais militares -
incumbidos de zelar pela segurança da população. Com os bandidos foi
27
apreendido um único revólver, calibre 38 - arma que não produziria o furo
encontrado na lataria do veículo em que se encontrava a vítima, segundo
afirmação dos peritos do ICCE.(...)Os elementos de convicção já existentes
nos autos permitem configurar o fato administrativo ( a perseguição policial
e o tiroteio em via pública), o dano (lesões sofridas pela vítima) e o nexo
causal (que tais lesões decorreram de errôneo planejamento de ação
policial, com veementes indícios de que o projétil de arma de fogo que
atingiu a Autora teria sido disparado de armamento utilizado pelos policiais
militares). (fls. 165/166) 16. Descabe ao STJ examinar questão de natureza
constitucional, qual seja a alegação de ofensa ao art. 37, par. 6º, da
Constituição Federal, postulando a redução da fixação do quantum fixado à
título de danos morais, porquanto enfrentá-la significaria usurpar
competência que, por expressa determinação da Carta Maior, pertence ao
colendo STF. A competência traçada para este Tribunal, em sede de recurso
especial, restringe-se tão-somente à uniformização da legislação
infraconstitucional.
 (REsp 1056605/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 10/03/2009, DJe 25/03/2009).
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL
DO ESTADO. ACIDENTE DE VEÍCULO EM RODOVIA FEDERAL.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA 284/STF. ARTS. 944 E 945 DO CÓDIGO CIVIL. ARTS. 28, 43, 150
E 220, X, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. NEXO DE CAUSALIDADE.
REEXAME DOS FATOS. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
(...).3. Hipótese em que o Tribunal de origem concluiu, com base no
contexto probatório, que "as provas colacionadas aos autos demonstram
suficientemente a ocorrência de dano material, em conseqüência de
acidente automobilístico causado pela má- conservação da rodovia.
Inegável a existência de dois grandes buracos na estrada e de desnível no
acostamento, à época dos fatos. Tais fatores, somados a velocidade
máxima permitida no local e a falta de sinalização adequada, deram ensejo
ao desastre. Além do mais, não houve prova da ocorrência de falha humana
ou mecânica. Configurou- se a omissão do réu, uma vez que o autor
trafegava por estrada cuja manutenção deveria ser realizada pelo DNIT, não
tendo este ente público cumprido a sua obrigação de zelar pelas condições
elementares de segurança de tráfego no local, daí decorrendo o nexo
causal em relação ao dano percebido, devendo ser responsabilizada a
autarquia federal. Dessa forma, comprovados o dano material, a omissão do
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réu e a relação de causalidade, fica caracterizada a culpa e a
responsabilidade do DNIT sobre o evento danoso, devendo o mesmo
responder pelas conseqüências geradas pela falta de segurança na via pela
qual trafegava a parte autora" (fl. 235, e-STJ). A revisão desse entendimento
implica reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ.
(AgRg no AREsp 550.829/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/11/2014, DJe 28/11/2014)
CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO
4.1 - DIREITO COMPARADO
O Princípio da coculpabilidade está sendo amplamente visto nos países da
América Latina, em especial nos códigos penais da Colômbia, Argentina, Bolívia,
Equador, México, Paraguai, Peru e no Proyeto del Código Penal de Costa Rica de
14 de abril de 1998. Mas, doutrinariamente, ainda não é muito discutido e explorado.
Questiona-se a razão do porquê o Brasil não ter incluído, ainda, na
legislação pátria, a previsão de tal princípio no Código Penal e por que razão os
juristas não discutem e divulgam esse princípio a fim de criar argumentos
sustentáveis nas peças processuais para direcionar o livre convencimento do Juiz
Estado, haja vista, as jurisprudências serem imperiosamente desfavoráveis a
aplicação do provimento deste argumento principiológico.
O Código Penal Argentino prevê:
Art. 40. En las penas divisibles por razón de tiempo o de cantidad, los
tribunales fijarán la condenación de acuerdo con las circunstancias
atenuantes o agravantes particulares a cada caso y de conformidad a las
reglas del artículo siguiente.
Art. 41. A los efectos del artículo anterior, se tendrá en cuenta:
l. La naturaleza de la acción y de los medios empleados para ejecutarla y la
extensión del daño y del peligro causados;
2. La edad, la educación, las costumbres y la conducta precedente del
sujeto, la calidadde los motivos que lo determinaron a delinquir,
especialmente la miseria o la dificultad de ganarse el sustento propio
necesario y el de los suyos, la participación que haya tomado en el hecho,
las reincidencias en que hubiera incurrido y los demás antecedentes y
condiciones personales, así como los vínculos personales, la calidad de las
personas y las circunstancias de tiempo, lugar, modo y ocasión que
demuestren su mayor o menor peligrosidad. El juez deberá tomar
conocimiento directo y de visu del sujeto, de la víctima y de las
circunstancias del hecho en la medida requerida para cada caso. (grifo
nosso)
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O ordenamento Jurídico-Penal Colombiano preceitua:
ARTÍCULO 56.- El que realice la conducta punible bajo la influencia de
profundas situaciones de marginalidad, ignorancia o pobreza extremas, en
cuanto hayan influido directamente en la ejecución de la conducta punible y
no tengan la entidad suficiente para excluir la responsabilidad, incurrirá en
pena no mayor de la mitad del máximo, ni menor de la sexta parte del
mínimo de la señalada en la respectiva disposición.
No Equador, o princípio da coculpabilidade somente tem aplicação nos
crimes contra a propriedade, sendo atenuante da pena, conforme artigo 29, inciso 11
do Código Penal do Equador:
Art. 29.- Son circunstancias atenuantes todas las que, refiriéndose a las
causas impulsivas de La infracción, al estado y capacidad física e intelectual
del delincuente, a su conducta con respecto AL acto y sus consecuencias,
disminuyen la gravedad de la infracción, o la alarma ocasionada en La
sociedad, o dan a conocer la poca o ninguna peligrosidad del autor, como
en los casos siguientes:
11o.- En los delitos contra la propiedad, cuando la indigencia, la numerosa
familia, o la falta de trabajo han colocado al delincuente en una situación
excepcional; o cuando una calamidad pública le hizo muy difícil conseguir
honradamente los medios de subsistencia, en la época en que cometió la
infracción;
No México, o princípio da coculpabilidade é determinado com circunstância
judicial, sendo aplicado na primeira fase da dosimetria, quando fixará a pena base
do agente, considerando-se fatores como: idade, educação, instrução, costumes e
condições sociais e econômica do delinquente, na forma do artigo 52, inciso V do
Código Penal Mexicano. Neste país, esse princípio também é aplicado nas
medidas de segurança, fato peculiar desta nação, pois normalmente nas medidas de
segurança não são analisadas agravantes, nem atenuantes.
Artículo 52. El juez fijará las penas y medidas de seguridad que estime
justas y procedentes dentro de los límites señalados para cada delito, con
base en la gravedad del ilícito y el grado de culpabilidad del agente,
teniendo em cuenta: 21
V. La edad, la educación, la ilustración, las costumbres, las condiciones
sociales y económicas del sujeto, así como los motivos que lo impulsaron o
determinaron a delinquir.
No ordenamento jurídico português esse princípio é utilizado na mensuração
da pena, pois esta é reduzida dependendo da condição econômica e social do
agente, conforme artigo 71 do Código Penal Português:
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Artigo 71º
Determinação da medida da pena
1 - A determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei, é
feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção.
2 - Na determinação concreta da pena o tribunal atende a todas as
circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor
do agente ou contra ele, considerando, nomeadamente:
a) O grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das
suas consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos
ao agente;
b) A intensidade do dolo ou da negligência:
c) Os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou
motivos que o determinaram;
d) As condições pessoais do agente e a sua situação económica;
e) A conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando
esta seja destinada a reparar as consequências do crime;
f) A falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no
facto, quando essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena.
3 - Na sentença são expressamente referidos os fundamentos da medida
da pena.
Conclui-se, então, que o ordenamento jurídico de diversos países utiliza o
princípio da coculpabilidade, diferindo, somente, quanto aos motivos e as formas de
aplicação. Observa-se, abaixo, a síntese da forma de aplicação desse princípio
pelos países em sua dosimetria e grau de culpabilidade do praticante do crime,
conforme afirma a repórter Priscyla Costa, da revista consultor jurídico:
Na América do Sul, Argentina, México, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e
Paraguai reconhecem que a condição econômica do agente é critério para a
mensuração da pena. Nesses países, a co-culpabilidade está prevista na
legislação penal.
Na Argentina, a co-culpabilidade é prevista como uma circunstância legal
que agrava ou atenua a pena. No México, além de ser circunstância que
atenua ou agrava a pena, o princípio é aplicado também nas medidas de
segurança. No Peru, legislação e doutrina prevêem a aplicação do princípio.
A Bolívia coloca a co-culpabilidade no Código Penal como circunstância
judicial para aferir a personalidade do autor como atenuante, quando o
agente pratica o fato impulsionado pela miséria.
Na Colômbia, a co-culpabilidade é prevista como circunstância que pode
até mesmo excluir a responsabilidade do agente. O Equador restringe a
aplicação do princípio aos crimes contra a propriedade. O Código Penal
paraguaio prevê que o juiz tem de analisar as condições pessoais e
econômicas do agente antes de arbitrar a pena. Na Europa, Portugal
também defende que as condições econômicas do agente são critério para
a mensuração da pena.
No direito pátrio existe um anteprojeto de modificação do Código Penal que
prevê a aplicação do princípio da coculpabilidade, conforme
abaixo, literalmente, exposição de motivos nº 318 de 11 de agosto de 2000:
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São importantes as inovações trazidas ao Código vigente pelo Projeto que
procura assegurar a individualização da pena sob critérios ainda mais
abrangentes do que os previstos na Reforma de 1984. Aprimoram-se as
reais possibilidades de individualização judicial da pena por meio de novos
critérios considerados no art. 59. cujas diretrizes foram alargadas.
Continuam a ser três as ordens gerais de fatores sobre as quais repousa a
individualização da pena; as relativas: ao agente, ao fato e à vítima. As
duas últimas não sofreram alterações, mas, quanto ao agente, ao lado da
culpabilidade, já em seu sentido mais abrangente trazido pela Reforma de
1984, e dos antecedentes, determina o Projeto que se refira o juiz à
reincidência e condições pessoais do acusado, bem como oportunidades a
ele oferecidas. Tais acréscimos merecem destaque. Antes de mais nada, a
reincidência deixa de ser figurar como circunstância agravante obrigatória e
passa a ser considerada no curso da individualização da pena. No seara
dos critérios relativos ao autor, cedem lugar a personalidade, de improvável
e discriminatória aferição e a conduta social, pelas condições pessoais e
oportunidades sociais a ele oferecidas, expressões mais atuais e revelam a
plúrima dimensão do homem como centro de valorização do Direito Penal.
No mais, permanece sem alteração o dispositivo.
Tais modificações para a adequação no direito pátrio do referido refletiram
na alteração do Código de Processo Penal, no ato processual do interrogatório
judicial, conforme artigo 187, § 1º, do Código de Processo Penal:
Art. 187. O interrogatório será constituídode duas partes: sobre a pessoa do
acusado e sobre os fatos.
§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência,
meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua
atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma
vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão
condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros
dados familiares e sociais.
(...)
A Lei nº 9.605/1998 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, também adotou o
princípio no “Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de
instrução ou escolaridade do agente;”
CONCLUSÃO
É o dever do Estado proporcionar condições dignas de sobrevivência, tais
como moradia, saúde, lazer, educação, dentre outros. Direitos de segunda geração
que vieram para colocar um fim na inércia do Estado, obrigando-o a diminuir as
desigualdades socais.
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Portanto, a quebra por parte do Estado no cumprimento dessas obrigações
levaria a uma corresponsabilidade estatal, pois o indivíduo marginalizado pela
Estado, ficando sem condições mínimas para a sua subsistência básica acaba por
infringir leis penais repressivas para a sua sobrevivência. A coculpabilidade é um
retrato da compensação direta de não cumprimento do Estado face a suas
obrigações. 
Se de um lado o agente quebra o contrato social o Estado também o faz por
não respeitar as determinações impostas pela Constituição Federal,
fundamentalmente a dignidade da pessoa humana. E por isso há de arcar com
parcela de culpa do agente infrator, pois se este comete o delito o faz porque não
teve melhores condições de vida, por omissão do Estado. O poder estatal não pode
ser punido diretamente, então deve-se atenuar a pena do sujeito ativo do crime. 
No ordenamento Brasileiro não há previsão expressa, tampouco, proibição,
para esse princípio. Encontra-se no art. 66 do CP as atenuantes inominadas que
podem ser fundadas por referido princípio. Outra sugestão, na pena base,
circunscrita na primeira fase de aplicação do art. 59, utilizar-se do piso legal de
aplicação do quantum lançando mão do princípio supra citado.
Na jurisprudência brasileira não foi encontrado aplicação efetiva da
coculpabilidade sob diversas alegações, dentre elas que “as desigualdades
marcantes que caracterizam a nossa sociedade não podem servir de justificativa
plena para lesar o direito alheio, da mesma forma que não podem ser tidas como
circunstância relevante para a prática delitiva...” (TJGO, APELACAO CRIMINAL
415946-21.2007.8.09.0051, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, 1A
CAMARA CRIMINAL, julgado em 25/10/2011, DJe 962 de 16/12/2011).
Do mesmo modo, “...eis que a jurisprudência tem entendido que a pobreza,
baixa escolaridade e o descaso do Estado não são fatores determinantes para
justificar a criminalidade” (Apelação Crime Nº 70027898212, Terceira Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado
em 19/02/2009).
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No tocante da coculpabilidade às avessas, que se trata de agravar a pena
para os mais abastados, encontra-se de forma explicita nos arts. 76, IV, “a”, da lei nº.
8.078/905 e do art. 4, §2º, da Lei nº 1.521/516. 
A propósito, como trata-se de causa agravante somente é permitido sua
aplicação no sistema penal de forma tipificada/taxativa/explicita, quais sejam nos
moldes anteriores.
Diante de tais premissas não se admite a analogia in malam partem.
Conclui-se, que no Brasil o princípio da coculpabilidade deixa de ser
aplicado pelo fato de que outros princípios, amplamente aceitos primariamente,
como o da insignificância e da intervenção mínima, são lançados como teses
defensivas.
Mesmo que o princípio da coculpabilidade fosse secundariamente
concebido, que pode ser reconhecida nas atenuantes genéricas do art. 66, não pode
ser aplicada a toda prática delitiva cometida pelos agentes infratores que se dedicam
a atividade ilícita, como forma de justificar a infração, sob o risco de banalizar essas
atenuantes e acabar por aceitar de forma oblíqua as ações criminosas. Enfim, é
necessário a análise das circunstâncias específicas do caso concreto.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acessado
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5 Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código (...) IV - quando cometidos: a) por
servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima.
6 Art. 4º - § 2º. São circunstâncias agravantes do crime de usura: (...) a) por militar, funcionário público,
ministro de culto religioso; por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da
vítima;
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ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. – Manual de
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FIORELLI, José Osmir; MANGIN, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia
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	INTRODUÇÃO
	1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA
	CAPÍTULO 2 – CONCEITO
	2.1 – CULPABILIDADE
	2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE
	2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS
	CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO
	3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL
	3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL
	3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA
	3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL
	CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO
	4.1 - DIREITO COMPARADO
	CONCLUSÃO
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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