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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JATAI- CESUT ASSOCIAÇÃO JATAIENSE DE EDUCAÇÃO FACULDADES DE DIREITO E ADMINISTRAÇÃO 2° A PERIODO DO CURSO DE DIREITO PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR – PIM O PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE JATAÍ – GO 2015 2° A PERÍODO DO CURSO DE DIREITO PROJETO INTEGRADO MULTIDISCIPLINAR – PIM O PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE Projeto Integrador Multidisciplinar – PIM, do Curso de Direito, do Centro de Ensino Superior de Jataí. Orientadora: Ms. Flávia Simões de Araújo JATAÍ – GO 2015 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................4 1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA............................................................5 CAPÍTULO 2 – CONCEITO..........................................................................................9 2.1 – CULPABILIDADE.............................................................................................9 2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE.............................................................10 2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS.....................................13 CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO......................................................................................................................14 3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL.........................14 3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.......22 3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA............23 3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL...........................24 CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO....................................................................28 4.1 - DIREITO COMPARADO.................................................................................28 CONCLUSÃO..............................................................................................................31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................33 4 INTRODUÇÃO O presente trabalho versa sobre a teoria da coculpabilidade, apontando a origem histórica, também os princípios que a norteiam e sua ligação com alguns ramos do direito. Primeiramente busca-se a raiz dessa teoria, para entender o seu surgimento e evolução ao longo da história, possibilitando, assim, o entendimento das etapas percorridas pela sociedade humana para culminar no hodierno princípio. Para tanto, são elencados personagens e autores que contribuíram diretamente ou indiretamente para a construção do princípio da coculpabilidade que se conhece hoje. Adiante, é tratado da culpabilidade, que tecnicamente é um princípio que deve ser entendido para então se trabalhar com a coculpabilidade e esta às avessas, apontando-se algumas peculiaridades daquela. Demonstra-se que atualmente as ações e serviços proporcionados pelos entes federativos brasileiros estão aquém do que é previsto na legislação, apresentando falhas, equívocos e por muitas vezes é ineficiente em cumprir o seu papel. Estes “defeitos” trazem à população prejuízos dos mais variados, além de desencadear condutas inesperadas por partes da população ou dos agentes públicos, por muitas vezes ilícitas, ficando, assim, com culpa parcial nessas ações, visto que foi falha e/ou ineficiente a ação do próprio Estado. Portanto, este trabalho se mostra necessário para possibilitar uma visão ampla dos atuais acontecimentos, possibilitando aos operadores do direito buscar soluções para amenizar ou contornar as falhas e a ineficiência do Estado. Para realizar este trabalho, foram utilizadas pesquisas bibliográficas, buscando-se autores e materiais que abordam a temática da coculpabilidade no ordenamento jurídico, seja brasileiro ou não, realizando-se um estudo de alguns pontos específicos, como sua aplicação em outras áreas. Essa reunião de conteúdos possibilitará uma visão crítica e pormenorizada do assunto, podendo servir de justificativa para novas ações no âmbito do poder judiciário, legislativo e executivo. 5 Assim, o objetivo geral do trabalho é mostrar como a coculpabilidade é/foi aplicada e, ainda, como funciona este mesmo princípio às avessas, ou seja, como é utilizado de forma contrária ao esperado. Portanto, aponta-se, também, o que acontece quando o Estado não foi falho e/ou ineficiente, mas, mesmo assim, o indivíduo comete infrações penais. Dessa forma, o operador do direito terá uma ideia da realidade e saberá como o mesmo ente federativo age quando é necessário punir aquele que sempre teve todas as suas necessidades providas. Para o desenvolvimento do trabalho, além do já elencado, é abordado o princípio da coculpabilidade em outros ramos, como o direito penal, a constituição federal, a psicologia jurídica e o direito civil. Mostrando como este princípio pode ser entendido e/ou aplicado em cada uma destas áreas. Por fim, é realizada uma comparação do direito brasileiro com o de outros países, como a Argentina, México entre outros, possibilitando, assim, o conhecimento das semelhanças e diferenças do nosso ordenamento em relação a outras nações. CAPÍTULO 1 – ORIGEM HISTÓRICA DA COCULPABILIDADE 1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA Quando se dispõe a buscar no contexto histórico a origem dos princípios que norteiam o desenvolvimento das ciências humanas em sua mais ampla dimensão invariavelmente decorre-se à antiga civilização grega e especialmente no caso do Direito à civilização romana ainda tão afeita aos nossos dias em função do Direito Romano inspirador de grande parte dos princípios do direito moderno. No caso do princípio da coculpabilidade deve-se buscar respostas em tempos mais recentes, mas, é sempre importante ter presente a história humana como um todo quando se pretende explicar algum fenômeno hodierno, visto que a história funciona como um retrovisor através do qual buscamos referências para quebrar velhos paradigmas e estabelecer as novas estruturas que regerão a partir deste momento a vida em sociedade. 6 Se o objetivo for somente produzir uma lei fria com o intuito de punir os infratores pode-se ignorar as nuances antropológicas, sociológicas e históricas e simplesmente voltar aos tempos de Hamurabi e reeditar o princípio do Talião, pois num mundo de oportunidades e desenvolvimento social minimamente igual, este seria o princípio legal mais adequado a ser aplicado. Mas a história do desenvolvimento humano nem de longe é linear ou preserva a garantia de que todos possam a ter oportunidades justas e iguais de dizer a que vieram. Sem dúvida, em plena Idade Média, os barões ingleses deram um passo decisivo, mas ainda muito isolado na direção de combater as arbitrariedades do Estado personificadas em João Sem Terra. Há neste caso uma tentativa concreta de equilibrar o jogo de forças entre a sociedade como um todo e o Estado especialmente quanto à necessidade deste próprio ser limitado pela lei. É importante lembrar que em tempos modernos Thomas Hobbes proclamava em O Leviatã a necessidade de se conter a qualquer custo a maldade humana em função do homem ser o lobo de si próprio. Por outro lado, pretendia Luis XIV rei da França de 1643 a 1715 assegurar à humanidade através de sua famosa frase “L’Etat c’est moi” (O Estado sou eu) que o Estado como instituição personificada por um indivíduo resolveria todas as disputas dos súditos entre si e mesmo destes em relação ao Estado, No século XVIII, o Iluminismo cujas primeiras sementes já haviam germinado na Inglaterra comas revoluções políticas de 1642 a 1688 e com a Revolução Industrial de 1769, a Revolução Americana de 1776 agora provocava a efervescência revolucionária que culminaria com a explosão de um dos mais importantes movimentos revolucionários da história: a Revolução Francesa. Pugnavam os iluministas pela limitação do poder estatal e pela consecução de uma sociedade na qual fossem consagrados os valores como a “égalité, liberté et fraternité” (igualdade, liberdade e fraternidade). A meta era fazer a mais completa reforma do Estado já feita até então. Um Estado que passaria a ser limitado em função dos princípios contratualistas os quais estabelecem as obrigações do agora cidadão para com o Estado e por outro lado os limites da ação e das obrigações deste Estado em relação ao cidadão. A promessa era de que todos seriam plenamente alcançados por estas novas prerrogativas. Neste sentido dizia Jean Jaques Rousseau: 7 Se quisermos saber em que consiste precisamente o maior bem de todos, que deve ser a finalidade de cada sistema de legislação veremos que ele se reduz a estes dois objetos principais, a liberdade e a igualdade. A liberdade porque toda dependência particular equivale a retirar força do corpo e do Estado; a igualdade porque a liberdade não pode subsistir sem ela. (Rousseau,2013, p.67) É a busca pela igualdade e pela liberdade que norteia a Revolução Francesa e nela encontra-se uma personagem singular: Jean Paul Marrat que, segundo o eminente jurista argentino Eugenio Zaffaroni, seria o precursor do princípio da Coculpabilidade. Marrat nasceu em 24 de maio de 1743 em Boudry, principado de Neuchâtel atual Suíça. Médico e jornalista, Jean Paul Marrat foi um dos grandes artífices da Revolução Francesa, a gênese das ideias sobre a coculpabilidade. Embora tenha passado os seus primeiros anos de vida pública entre os aristocratas parisienses, desiludiu-se com esta classe a partir de 1780, ano em que escreveu o Plan de Legislation Criminelle (Plano de Legislação Criminal) que foi considerado subversivo pela elite francesa tendo Marrat inclusive vetada a sua entrada na Academia de Ciências de Paris. Decepcionado com a elite parisiense, Marrat fundou um jornal em 1789 “L’ami Du Peuple” (O Amigo do Povo), no qual se apresenta como defensor das causas populares, o que o liga ao partido jacobino no qual passa a ocupar um cargo executivo a partir de 1792 com a proclamação da república por parte dos jacobinos, que neste instante passaram a controlar o movimento revolucionário. Delinear o horrível quadro dos crimes, triste tarefa para minha pluma. À vista de tantas baixezas, covardias, maldades, traições, barbáries e atrocidades de que são capazes os homens, que alma honrada não se enche de indignação! Que alma sensível não se estremece de espanto! Entretanto, é mais horrendo o quadro de iniqüidades ao amparo do sagrado nome das leis! Não falemos aqui da câmara ardente, da câmara estrelada, do conselho terrível (vingativo) e de tantos outros tribunais de sangue que fizeram em outras ocasiões estremecer a natureza. (MARRAT, 2000, p.61) Nada fala mais alto em termos sociais e políticos do que a absurda divisão social da França em tempos pré-revolucionários, na qual o Terceiro Estado que conformava 96% da população sendo destes 92% compostos pela massa mais simples e pobre era tratado como marionete no jogo político travado na Assembleia dos Estados Gerais. Fato que leva o abade de Séyes a lançar a especular sobre o que seria o terceiro estado naquele momento, concluindo que o mesmo era tudo, 8 que não tinha nada em face ao regime da época, mas, que buscava algo e esse algo seria seguramente participação na formulação e execução das políticas públicas. Neste contexto torna-se nítida a desilusão de Marrat com o estado de coisas de sua época. Transparece a sua inconformidade com o governo aristocrático francês e, assim, se desiludiu com o jovem governo implantado pelo partido Girondino em 1789 que, embora houvesse rompido com o nefasto poder absoluto da realeza, não fora capaz de atender aos anseios mais profundos da grande maioria das camadas marginalizadas da população. Assegurar a liberdade do cidadão em contextos como a expressão, a propriedade e a fé não seriam suficientes e capazes por si só de produzir um mundo mais justo. O Estado que a partir das teses do contratualismo herdara também o jus puniendi, tarefa de punir os crimes cometidos pelos cidadãos segue sendo incapaz de reduzir a distância entre as propostas abstratas de busca por justiça social e a sua consecução no mundo concreto. O Estado cria as leis para punir a todos de forma igual, mas, ao mesmo tempo não é capaz de criar condições mínimas de igualdade no campo social, espaço em que a vida real do cotidiano se desenrola. Cedo Marrat havia percebido que o Estado Liberal não traria respostas para as massas populares, sua eficiência e suas benesses se estenderiam a uma pequena faixa populacional e o rigor da legislação, especialmente a de cunho criminal se estenderia às massas desamparadas. A liberdade triunfara, mas, a igualdade fora esquecida. O Estado Social procurou corrigir muitas das distorções criadas pelo Estado Liberal e obteve relativo êxito especialmente em países centrais a partir da criação do Well Far State (Estado de Bem-Estar Social) que até meados do século XX obteve significativos avanços na tentativa de manter os direitos fundamentais de primeira geração criados pelo Estado liberal e avançar em garantias mínimas concretas no campo econômico e social a um número crescente de cidadãos. É preciso ponderar que com o avanço das políticas neoliberais especialmente após a Segunda Grande Guerra, a situação de desigualdade social volta a se agravar não só nas nações periféricas, mas, agora também em nações centrais do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico. Neste contexto aparece o grande sistematizador do princípio da Coculpabilidade, o jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni. Autor de mais de vinte livros, entre eles Em Busca das Penas Perdidas e Teoria do Delito, o juiz argentino suscita uma intensa discussão 9 sobre as razões de escolha de determinados comportamentos para figurarem como tipo penal e propõe uma discussão séria sobre as relações entre a violência criminal e a violência estrutural. Ressalta-se que o Estado é na maior parte o responsável pela criação e legitimação da estrutura sociopolítica em que está inserida a sociedade. A partir deste raciocínio é indiscutível um enorme déficit de legitimação do ente estatal como sujeito ator da punição. Um Estado que segue querendo punir a todos de forma igual, quando não oferece as mínimas condições de igualdade de oportunidades de desenvolvimento humano à grande massa populacional que se encontra na base da pirâmide social. O desenvolvimento humano deve ser voltado em especial ao provimento de políticas de saúde pública abrangentes e adequadas, bem como, um sistema educacional que busque reduzir o fosso que se constrói entre as classes mais abastadas e a imensa massa de marginalizados. É neste ponto que o princípio da coculpabilidade encontra eco, pois, pretende cobrar do Estado a imensa dívida que tem com as camadas menos favorecidas da sociedade e que de fato são vítimas das políticas inócuas deste mesmo Estado que normalmente favorecem um pequeno e privilegiado grupo de cidadãos. A continuar nesse caminho a sociedade estará no alvorecer o século XXI aproximando-se muito mais do Estado modelo do Leviatã de Thomas Hobbes do que dodecantado Estado Constitucional e Democrático de Direito, maravilhoso em nível abstrato, mas, mas em boa parte uma fantasia em termos práticos. O princípio da coculpabilidade é o instrumento defendido por Zaffaroni para proteger os socialmente mais vulneráveis da incompetência política, institucional e operacional do Estado e, ao mesmo, tempo defendê-los do afã punitivo deste mesmo Estado que exerce o Jus Puniendi sobre estes mesmos através do Direito Penal. CAPÍTULO 2 – CONCEITO 2.1 – CULPABILIDADE 10 Ao dizer que uma pessoa foi responsável pela derrota de algo, tem-se uma reprovação. A culpabilidade, portanto, é quando se considera alguém o causador de uma ação considerada reprovável. Assim, esse juízo de censura e reprovação sobre a conduta que alguém praticou é a culpabilidade. Logo, não é um elemento do crime, mas sim uma condição para aplicação da pena. Da mesma forma, ao reprovar o autor de um crime, a culpabilidade necessita estar fora dele, ou seja, para aferi-la, o crime já deve ter ocorrido, não podendo ser descaracterizado. Seguindo essa linha de raciocínio, CAPEZ 2009, elucida: Em hipótese alguma será possível a exclusão do dolo e da culpa ou da ilicitude nessa fase, uma vez que tais elementos já foram analisados nas precedentes. Por essa razão, culpabilidade nada tem que ver com o crime, não podendo ser qualificada com seu elemento. CAPEZ, também apresenta a ideia de culpabilidade do autor que tem como enfoque a ação do indivíduo em si, não se preocupando com a gravidade da ação ou crime e sim a personalidade entre outras características do autor. Já a culpabilidade do fato visa a reprovação da conduta, do seu dano e sua repercussão, e não do autor da ação, sendo esta última adotada pelo código penal brasileiro. Citado autor ainda expõe sobre o grau de culpabilidade, que reflete sobre a intensidade da pena, conforme o nível de reprovabilidade da conduta, podendo a pena ser de maior ou menor grau. 2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE O princípio da coculpabilidade é a corresponsabilidade do Estado no cometimento do delito praticado pelo cidadão, com menor âmbito de autodeterminação. E confirmado por Grégore Moura, como abaixo se vê: O princípio da co-culpabilidade é um princípio constitucional implícito que reconhece a co-responsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto, 11 principalmente no que se refere às condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação social, gerando consequências práticas não só na aplicação e execução da pena, mas também no processo penal. MOURA, 2014. P.90) Preceitua Guilherme de Sousa Nucci: Conceito de coculpabilidade: trata-se de uma reprovação conjunta que deve ser exercida sobre o Estado, tanto quanto se faz com o autor de uma infração penal, quando se verifica não ter sido proporcionada a todos igualdade de oportunidades na vida, significando, pois, que alguns tendem ao crime por falta de opção. Esclarecem Zaffaroni e Pierangeli que 'há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação, condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas ao sujeito e sobrecarregá-lo com elas no momento da reprovação de culpabilidade'. Assim, deveria haver a aplicação da atenuante inominada do art. 66 (Manual de direito penal brasileiro - parte geral, 2014, p. 613). O Estado tem por obrigação oportunizar igualmente todos os cidadãos, o que não ocorre, gerando uma responsabilidade implícita para o ente federativo, defini Zaffaroni e Pierangeli: Todo sujeito age numa circunstância determinada e com âmbito de autodeterminação também determinado. Em sua própria personalidade a uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a sociedade – por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens com as mesmas oportunidades. Em consequência, há sujeitos que tem um menor âmbito de autodeterminação, condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas sociais ao sujeito e sobrecarrega-lo com elas no momento de reprovação de culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma ‘coculpabilidade”, com a qual a própria sociedade deve arcar. (ZAFFARONI E PIERANGELI, 2007. P.525). O Estado sendo o titular do jus puniendi (direito de punir do Estado) não pode se autopunir, por isso terá que criar meios de compensação para equilibrar as condições de desigualdades socais. 12 Preceitua a CRFB/88 as obrigações dos entes federativos, como boa educação, emprego, acesso à saúde, dentre outras. Mas, descumprido o contrato, e por esta razão o órgão estatal tem participação indireta nos delitos cometidos pelos menos favorecidos na sociedade. Logo, esses não podem ser julgados da mesma forma que os mais abastados, tendo que existir uma compensação na dosimetria da pena, eis que desrespeitados os seguintes objetivos: “Art. 3º Constituem: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - Garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. ” “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. ” “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. ” . “Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ” “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações” Os direitos sociais, culturais e econômicos, elencados no artigo 6º da CRFB/88, são também conhecidos como direitos de segunda geração. Foram criados para proporcionar um bem-estar geral para aqueles que vivem sob a proteção do Estado, este que tem sua parcela de culpa na criminalidade existente, 13 porém não se pode inverter a lógica e considerar o ente público como criminoso e o criminoso como vítima. Por causa de sua omissão deve-se avaliar e dar melhores oportunidades para os agentes que descumpriram o contrato social e praticaram atos ilícitos, atenuando de alguma forma a pena ou criando medidas socioeducativas para atender aqueles que ficam a margem da sociedade. 2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS De outro turno, tem-se ao lado oposto o princípio da coculpabilidade às avessas, que corresponde a uma definição contrária a da coculpabilidade. Do mesmo modo, a coculpabilidade as avessas predispõe, em suas primeiras linhas, a identificação da seletividade do sistema penal e a incriminaçãoda própria vulnerabilidade. Entretanto, ao contrário da coculpabilidade primaria, aquela envolve a reprovação penal mais intensa aos crimes praticados por pessoas dotadas de poder econômico, sendo este um dos critérios fundamentais, para a consecução do delito (econômicos, financeiros, tributários). Assim, se os pobres, excluídos e marginalizados do acesso à educação, lazer, assistências sociais, dentre outros vetores da cidadania, devem ter amenizadas a aplicação da pena por causa atenuante genérica (art. 66 do Código Penal Brasileiro), por sua vez, os abrangidos pelo prisma inverso possuem acesso amplo e facilitado aos serviços públicos e topo da pirâmide do poder, devendo assim estes, não serem beneficiados com o artigo 66. Por tais razões, segundo entendimento doutrinário, deve incidir causa agravante específica de aplicação da pena, inobstante, por ausência de possibilidade de utilização malam partem das causas agravantes não há em nosso ordenamento tal tema, mas a inserção pode ocorrer por edição de nova lei. O magistrado pode na primeira fase de dosimetria de aplicação da pena utilizar-se do prisma em destaque (coculpabilidade às avessas) para considerá-la dentro das situações relativas aos motivos ou circunstâncias. 14 Frise-se, por derradeiro, que nossa legislação abraça o princípio em voga de forma explicita no art. .76, IV, “a”, da lei nº. 8.078/901 e do art. 4, §2º, da Lei nº 1.521/512. Trata-se de materialização do princípio da igualdade material ao passo que equaliza situações desiguais na medida da desigualdade, existentes nos vetores da necessidade, alcançado a suficiência da pena nos contornos repisados no art. 593 do Código Penal. CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO 3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL O princípio da coculpabilidade não tem previsão legal no nosso ordenamento jurídico, no entanto, a doutrina, a jurisprudência e o Código Processo Penal e a Lei 9.605/1998 o admitem. O art. 66 do CP dispõe: “Art. 66 A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. ” Citado artigo possibilita ao julgador a aplicação da referida teoria, dadas as circunstâncias do caso concreto, como atenuante genérica. Zaffaroni e Pierangeli: 'Cremos que a coculpabilidade é herdeira do pensamento de Marat, e hoje, faz parte da ordem jurídica de todo Estado social de direito, que reconhece direitos econômicos e sociais, e, portanto, tem cabimento no CP mediante a disposição genérica do art. 66'. 1 Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código (...) IV - quando cometidos: a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima. 2 Art. 4º - § 2º. São circunstâncias agravantes do crime de usura: (...) a) por militar, funcionário público, ministro de culto religioso; por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima; 3 Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 15 Encontra-se na jurisprudência brasileira, ainda que de forma tímida, esparsos julgados pela aplicação da referida vertente, sendo que em suas ocorrências foram levadas em consideração os aspectos econômicos-sociais que o cercam (Apelação crime nº. 7002250371 Julgado em 21 de março de 2001 TJRS). Em lado oposto os tribunais estaduais preponderam pela sua inaplicabilidade, diante da não relação entre fatores socioeconômicas e a criminalidade. A propósito segue abaixo recente julgado do STJ, a saber: AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 749.644 - PR (2015/0180289-0)RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR AGRAVANTE : ARCINDA DOS SANTOS MENDONÇA ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ART. 273, § 1º-B, I, DO CP. CRIME DE IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS DESTINADOS A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS OU SEM REGISTRO DO ÓRGÃO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA COMPETENTE. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. MÉRITO. EXAME. POSSIBILIDADE. SÚMULA 123/STJ. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA O CRIME DE CONTRABANDO. INVIABILIDADE. PRETENSÃO QUE EXIGE INCURSÃO FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. OFENSA AO ART. 40, I, DA LEI N. 11.343/2006. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 282 E 356/STF. Agravo em recurso especial improvido. AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME. ARTIGO 112 DA LEP COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N.º 10.792/2003. ANÁLISE DOS EXAMES PSICOSSOCIAIS CONSTANTES DOS AUTOS PARA AFERIÇÃO DO REQUISITO SUBJETIVO. POSSIBILIDADE, DIANTE DO PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ. SÚMULA N.º 439 DO STJ. SÚMULA VINCULANTE N.º 26. A nova redação do artigo 112 da LEP não elenca literalmente o exame psicossocial como requisito para a concessão da progressão de regime, nem para livramento condicional, mas também não o suprime objetivamente, portanto, numa interpretação sistemática do ordenamento processual vigente, pode o juiz se valer das provas contidas nos autos e determinar a realização do referido laudo para averiguar as condições pessoais e o mérito do apenado para a progressão do regime carcerário ou livramento condicional, formando sua convicção, na forma dos artigos 155 e 182 do Código de Processo Penal. Na espécie, as 16 condições subjetivas do agravante são por demais desfavoráveis à progressão de regime, é o que se denota das avaliações constantes dos autos nas fls. 19/20 e 21/22, não podendo o juiz se furtar de analisá-las, apenas por entender que, pela nova legislação, basta o atestado de bom comportamento carcerário comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. PRINCÍPIO DA CO-CULPABILIDADE. NÃO APLICAÇÃO. O princípio da co-culpabilidade não é aplicado para fins de progressão de regime, por falta de previsão legal e porque não se pode responsabilizar a sociedade pela ausência de oportunidades ao indivíduo, bem como a culpabilidade não decorre da pobreza, pois presente o crime em todas as camadas sociais. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo Nº 70047398979, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba Lucas, Julgado em 21/03/2012). No julgado acima, o princípio não foi aplicado sob a alegação de que não há previsão na legislação pátria. Na Câmara Criminal de Julgamento não foi observado o princípio, implícito na Constituição Federal. 10ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. Apelação Criminal (0026964-52.2011.8.26.0161) PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO 'Prova robusta desfavorável ao apelante, inviabilizando a absolvição. Depoimento de policiais. Não havendo motivo concreto para infirmar tais provas, necessária a manutenção da condenação. Inexigibilidade de conduta diversa. Inaplicabilidade. Desclassificação para o artigo 14, do Estatuto do Desarmamento. Impossibilidade. Numeração suprimida do artefato. Pena e regime bem aplicados. Negado provimento ao recurso. [...] Irresignado apela postulando a absolvição pelo reconhecimento da inexigibilidade de condutadiversa. Subsidiariamente, requer a desclassificação para o artigo 14, do Estatuto do Desarmamento. Alega, ainda, a inconstitucionalidade da reincidência. Busca a atenuação da pena em razão da situação de vulnerabilidade social por aplicação da teoria da co-culpabilidade. Requer, também, a fixação do regime aberto e a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (fls. 91/108). […] No tocante à teoria da culpabilidade por vulnerabilidade e da co-culpabilidade, inviável sua aplicação, visto não ser possível a responsabilização do Estado, ou mesmo da sociedade, pela criminalidade 17 daqueles que, ainda que sem muitas oportunidades, passaram à prática reiterada de crimes'. Na decisão mencionada também não foi reconhecido. O julgado retira qualquer responsabilidade do Estado pela quebra do contrato, dizendo que é “inviável sua aplicação, visto não ser possível a responsabilização do Estado, ou mesmo da sociedade, pela criminalidade daqueles que, ainda que sem muitas oportunidades, passaram à prática reiterada de crimes”. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0391034- 37.2010.8.26.0000, […] ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. […] O réu apelou solicitando absolvição, com apoio no artigo 386, incisos III e VII, do Código de Processo Penal, pretendendo o reconhecimento do princípio da insignificância ou da insuficiência probatória. Em caráter subsidiário pleiteou o reconhecimento do privilégio do artigo 155, § 2º, do Código Penal com a aplicação exclusiva da pena de multa, a exclusão das circunstâncias qualificadoras, a redução da pena-base, o reconhecimento das atenuantes inominadas da vulnerabilidade social e da co-culpabilidade, a desconsideração da reincidência, por constituir bis in idem, maior redução pela tentativa, a fixação do regime aberto ou, pelo menos, semi aberto, e a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. […] A vulnerabilidade social e a co-culpabilidade, alegadas pelos réus como atenuantes genéricas, não incidem na espécie. Isso porque, nos termos do artigo 67 do Código Penal, a reincidência, por ser preponderante, sobrepõe se às atenuantes inominadas, sobretudo considerando-se tratar-se de reincidência específica. O fato de o apelante, punido por um crime, voltar a delinqüir, já é bastante grave, fato que justifica a agravante de reincidência. Porém, tornar a cometer a mesma infração que já cometera anteriormente mostra maior recalcitrância, autorizando a aplicação de maior fração de aumento pela reincidência. Neste sentido Francesco Carnelutti que ao comentar a reincidência afirma que 'atribui a lei particular importância quando se comete o novo delito depois da condenação pelo delito anterior; em tal caso o novo delito demonstra insensibilidade do réu à condenação e, eventualmente, também o castigo'. […] Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. 18 Já de outro modo, o TJ-SP no aresto mencionado negou o provimento com a alegação de que a reincidência por ser preponderante nos termos do art.67 do CP sobrepõem-se às atenuantes inominadas ou genéricas. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0010932- 29.2012.8.26.0066, da Comarca de Barretos […] ACORDAM, em 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: 'Deram parcial provimento à apelação a fim de reduzir as penas para 01 ano e 08 meses de reclusão, além de 166 dias-multa, mantida, no mais, por seus próprios fundamentos, a r. sentença recorrida. V.U.', de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão […]De qualquer modo, DIEGO não teria condições financeiras de sustentar o seu vício, recebendo R$ 300,00 mensais e consumindo R$ 60,00 de crack a cada vinte minutos, conforme sustentou em seu interrogatório judicial. [...] De resto, inviável o reconhecimento do princípio da co-culpabilidade. Por certo, DIEGO poderia comercializar produtos permitidos pela lei e admitiu possuir trabalho. Logo, não há como carregar ao Estado a responsabilidade por conduta ilícita perpetrada pela acusado. [..]. No acordão citado, verifica-se que o réu acusado por tráfico de drogas, possui atividade laboral lícita, portanto, não há o que se falar em coculpabilidade do Estado, uma vez que possuindo trabalho optou pela atividade ilícita e não licita Nas pesquisas realizadas não foi encontrado nenhum julgado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em que foi admitido o princípio da coculpabilidade. Houve vários pedidos nos Tribunais do Rio Grande do Sul e de São Paulo fundamentados na adoção da coculpabilidade como atenuantes inominadas, sob a alegação de que o Estado quebrou seu dever de prestar oportunidades iguais aos agentes, mas nenhum obteve êxito. Observa-se que não há acolhimento do princípio da coculpabilidade pela maioria da jurisprudência, seja no que pertine ao art. 59, pena base, seja como no art.66, atenuante inominada. Encontram-se duas jurisprudências provendo recurso com base na falta de autodeterminação do agente pela falta de oportunidade. Observa-se: 19 Ementa: Embargos Infringentes. Tentativa de estupro. Fixação da pena. Agente que vive de biscates, solteiro, com dificuldades para satisfazer a concupiscência, altamente vulnerável à prática de delitos ocasionais. Maior a vulnerabilidade social, menor a culpabilidade. Teoria da co-culpabilidade (Zaffaroni). Prevalência do voto vencido, na fixação da pena-base mínima. Regime carcerário inicial. Embargos acolhidos por maioria. (Embargos infringentes n° 70000792358, Quarto Grupo de Câmeras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tupinambá Pinto de Azevedo, julgado em 28/4/2000). No caso relatado acima, levou-se em consideração o princípio da coculpabilidade para a fixação da pena no piso legal. Ementa: FURTO EM RESIDÊNCIA. CONCURSO DE AGENTES. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. FATO TÍPICO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. Além da inexistência de resultado patrimonial, a ocorrência de crime bagatela exige análise acerca do desvalor da conduta do agente. A invasão da residência da vítima imprime desvalor à ação, tornando incabível a aplicação do princípio da insignificância. JUÍZO CONDENATÓRIO MANTIDO. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE GENÉRICA PREVISTA NO ART. 66 DO CP. RÉU SEMI-ALFABETIZADO. INSTITUTO DA CO-CULPABILIDADE. REDUÇÃO DA PENA. MULTA. ISENÇÃO DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE. PENA QUE TRANSCENDE DA PESSOA DO CONDENADO POBRE, ATINGINDO SEUS FAMILIARES. Apelação parcialmente provida. (Apelação Crime Nº70013886742, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Bandeira Scapini, Julgado em 20/04/2006). No julgado supra, o TJRS admitiu o pedido de redução de pena baseando- se nas atenuantes genéricas sopesadas no art.66 do CP, sob a alegação do réu ser semianalfabeto. Portanto, verificou-se que o Estado não cumpriu com a sua parte no contrato social estabelecido na Constituição Federal, que é garantir o acesso de todos a educação, in verbis: “afinal, em uma época como a nossa, onde um simples vendedor que trabalhe atrás de um balcão de uma loja precisa ter noções de informática, a perspectiva de empregabilidade de umhomem analfabeto ou semianalfabeto é praticamente nula”. Nas palavras de Grégore Moreira de Moura: 20 Somente com o advento das ideias iluministas e a consequente criação dos Estados Liberais, bem como a adoção do princípio da secularização e laicizarão, torna-se possível determinar o surgimento do princípio da co- culpabilidade, ressaltando o seu total desrespeito pelos Estados, desde aquela época. Todavia, as ideias trazidas pelos iluministas, quando da sua aplicação pelos Estados Liberais, propiciaram um liberalismo e um individualismo exacerbado, o que ocasionou o aprofundamento das desigualdades sociais e a sensação de que o Direito é um instrumento de controle social para manter o controle das classes sociais ditas inferiores (...) a origem histórica da co-culpabilidade se confunde com o surgimento do Estado Liberal fundado com fulcro nas ideias iluministas, pois, na verdade, a co-responsabilidade estatal no cometimento de determinados delitos surgiu com advento do Estado Liberal e o seu contratualismo, ou seja, o delito como forma de quebra do contrato social. Em contrapartida, o Estado também quebra o contrato social quando deixa de propiciar aos seus cidadãos o mínimo de condições de sobrevivência, segurança e desenvolvimento da pessoa humana. Portanto, a co-culpabilidade nada mais é do que o reconhecimento jurídico, social e político da quebra do contrato social por parte do Estado, devendo, desta feita, assumir essa “inadimplência” reconhecendo a co-culpabilidade. Conclui-se que o princípio da coculpabilidade poderia atingir normatização no Código Penal Brasileiro, haja vista, que a própria Constituição não expõe impedimento, pelo contrário, dentro de suas garantias, prevê essa possibilidade. A positivação do princípio mencionado poderia ocorrer em diversos artigos, como no artigo 59 do Código Penal, que serve de base para a fixação da pena do acusado, nos termos seguintes: Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - As penas aplicáveis dentre as cominadas; II - A quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - A substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível 21 Pode-se acrescentar no referido artigo: “ O juiz, atendendo à culpabilidade (...)”, bem como as oportunidades sociais a ele oferecidas, “aos motivos, circunstâncias, (...)”. Com isso o princípio passaria a ser positivado, tornando-se lei, e obrigando o juiz a aplicá-lo pena base. É possível, ainda, incluir o fator da hipossuficiência no rol de atenuantes dos excluídos do Estado, com base na falta de autodeterminação do indivíduo por não ter tido acesso a uma base ética, moral e filosófica na formação de seu caráter; por não ter conseguido atingir o mínimo de ascensão econômica para ter uma vida digna. Sendo assim, a atenuante de “falta de autodeterminação” seria incluída no rol exemplificativo do artigo 65, da forma seguinte: Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - Ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; II - O desconhecimento da lei; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. Zaffaroni e Pierangeli sustentam, que o princípio da coculpabilidade baseando no artigo 66 do Código Penal se refere às atenuantes inominadas. Cremos que a co-culpabilidade é herdeira do pensamento de Marat, e, hoje, faz parte da ordem jurídica de todo Estado social do direito, que reconhece direitos econômicos e sociais, e, portanto, tem cabimento no Código Penal mediante a disposição genérica do artigo 66. ” “Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Paulo José da Costa Júnior menciona a respeito do artigo 66 e a imprevisão do legislador em abranger todos os casos: 22 [...] Em cada conduta humana faz-se sentir o imponderável, enquanto a miopia do legislador o impede de prever todas as hipóteses que irão surgir. Nenhuma lei será, pois, capaz de prever, de catalogar, definir e sistematizar os fatos que irão desencadear-se na realidade fenomênica futura. […] Poderá o magistrado, ao considerar ângulos não previstos, reduzir a sanção de molde a adequá-la à culpabilidade do agente. Não se dispensa, todavia, o juiz de motivar suficientemente a decisão. Assim, o cálculo da dosimetria da pena atenderia o critério de individualização da pena. Esclareça-se que o crime cometido deve ter estreita ligação com as condições sociais e econômicas do acusado. 3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL A teoria da coculpabilidade com enfoque na Constituição Federal é implícita e reconhece a responsabilidade do Estado em determinados acontecimentos delituosos, praticados por cidadãos no âmbito de auto determinar circunstâncias de um caso concreto, com grau de importância maior nas condições sociais e econômicas do agente. Visto que a Constituição é a Lei máxima que limita poderes e define os direitos e deveres dos cidadãos, inclui o princípio da coculpabilidade apreciando os problemas sociais que influenciam a prática dos atos delituosos, analisando então o Estado, a reconhecer a desigualdade entre os homens, tendo em vista a condição de hipossuficiência do sujeito ativo do crime em razão da falta de prestação estatal quanto a um direito individual. Reza o preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceito, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. É eloquente o preâmbulo da lei maior brasileira no sentido de garantir a dignidade das pessoas baseada em valores consagrados ainda no século XVIII mais especificamente durante a Revolução Francesa, garantia esta ratificada no artigo 1º inciso III da mesma. A carta magna brasileira de 05 de outubro de 1988 também conhecida como Constituição Cidadã já em seu preâmbulo estabelece um claro compromisso com a liberdade, a 23 igualdade e a fraternidade o que compromete de maneira expressa e inapelável o Estado no sentido de produzir um ambiente social e jurídico mais igual e mais fraterno no qual hajauma redução constante do fosso entre as classes mais abastadas e um grande contingente de pessoas que ainda não tem acesso aos bens mínimos que configurem na concretude a propalada igualdade constante no texto constitucional. Nesta perspectiva não cabem mais o analfabetismo de boa parte da população brasileira, a falta de políticas sanitárias abrangentes e adequadas, a precariedade dos meios públicos de transporte e tantas outras mazelas que são de responsabilidade exclusiva deste Estado em suas diversas esferas que ao não cumprir as suas obrigações hipoteca o futuro de gerações de brasileiros que são vítimas todos os dias da falta de igualdade real e concreta nos diversos campos da atividade humana. São na verdade vítimas do Estado ausente. Não há como não se considerar o quadro acima descrito no momento de se julgar e punir um cidadão por delitos cometidos. Há que o Estado ser responsabilizado pelas suas falhas em cumprir os compromissos por ele próprio e publicamente assumidos na sua lei maior, pois, ao não cumprir com as suas próprias obrigações manifestas em lei maior o Estado segundo Zaffaroni se torna co-autor do crime de ruptura do contrato social com o indivíduo autor de delito, devendo, portanto, pagar pela parte que lhe compete neste delito o que em última análise implica em responsabilizar a própria sociedade organizada. O Art. 5º da Constituição Federal prevê “Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se (...)”; por isso, é um direito resguardando todos os indivíduos para serem tratados igualmente, contudo, a teoria foi desenvolvida para o fornecimento de uma vida digna social igualitária. 3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA O indivíduo pode ter o desenvolvimento psicológico com base em “modelos”, que podem ser, conforme FIORELLI e MANGINI 2012: “pais, irmãos, professores, amigos, colegas, artistas de cinema, esportistas, políticos, supervisores, gerentes etc.” Da mesma forma, os autores acima citados apontam que seguindo essa linha de raciocino, as pessoas agressivas são oriundas de famílias agressivas, não importando a sua herança genética. Logo, não é uma simples aprendizagem, pois, a 24 função de modelo é fundamental para que a conduta seja reproduzida e, acaso não haja o modelo, não haverá a conduta. Os indivíduos em formação psicológica seguirão os modelos disponíveis, seja no lar, escola ou outro meio. O Estado ao deixar livre um modelo que pratica condutas delituosas, deixa de cumprir o seu papel da segurança pública, não o punindo e/ou retirando do meio para ser ressocializado. Esta figura poderá induzir outros a agir de igual forma, surgindo assim, novos delinquentes devido à mera observação do modelo. Pode-se corroborar a ideia apontada, de acordo com o ensinamento defendido por FIORELLI e MANGINI, 2012, p.231: É possível que pessoas com determinadas condições mentais sejam susceptíveis de escolher modelos de conduta inadequados com maior facilidade; fossem outros os modelos, não cometeriam crimes; Essas mesmas pessoas podem escolher situações e comportamentos mais favoráveis ao comportamento delituoso; elas se expõem mais e, portanto, cometem mais crimes; As pessoas que convivem com tais indivíduos os tratam de maneira diferenciada e podem estabelecer condições de relacionamento que se transformem em estímulos indiretos à prática criminosa. Essa ineficiência do Estado com corresponsabilidade dos pais, educadores etc. podem repercutir negativamente na formação dos indivíduos. Portando, os modelos que não deveriam estar no seio da comunidade influenciam de forma a prejudicar o natural desenvolvimento social como a segurança e violação de direitos individuais, acaso os entes federativos cumprissem o seu papel, os indivíduos em formação teriam apenas modelos que não transgredem as leis, assim, na falta de pessoas infratoras na sociedade, a tendência é que diminua ou não surja novos criminosos. 3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL Responsabilidade significa a obrigação de responder pelas ações próprias ou de outrem, no caso do Estado, reponde pelas ações ou omissões de seus agentes. O Código Civil foi o primeiro diploma também a constituir a obrigação do 25 Estado em reparar, como vista no art. 43 da referida lei: As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos de seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. O estado tem suas obrigações impostas pela legislação constitucional e infra, sendo que, uma vez rompido referidas cláusulas, surge para o ofendido direito ao dano indenizável. A propósito, é necessário apontar que tratando-se de conduta omissiva estatal, é assente na Jurisprudência dos Tribunais Superiores4 (REsp 1069996/RS. STJ – Segunda Turma, Rel.ª Min. Eliana Calmon, julgamento: 18.06.09, DJe:01.07.09), sendo que, além dos requisitos ordinários da responsabilidade civil estatal, quais sejam, ação/omissão, dano indenizável e nexo causal, sopesa-se a necessidade da comprovação do elemento subjetivo dolo/culpa. Nestes casos como a coculpabilidade, a omissão estatal circunscreve-se ao que é acoimado pela doutrina pátria de dano evitável. O referido dano é aquele que o ente público poderia impedir o prejuízo, mas não o fez. PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. AÇÃO POLICIAL. PERSEGUIÇÃO EM VIA PÚBLICA. VÍTIMA ATINGIDA POR PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO. "BALA PERDIDA". INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. CONFIGURAÇÃO. ÔNUS DA PROVA. SÚMULA 07. PRESCRIÇÃO. DECRETO LEGISLATIVO 20.910/32. APLICAÇÃO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DOS ATOS LESIVOS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. TEORIA DA CAUSA MADURA. CAUSA PETENDI. PRINCÍPIO NARRA MIHI FACTUM, DABO TIBI JUS.OFENSA À LEI REVOGADA. PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM. REVISÃO DO QUANTUM ARBITRADO PELA INSTÂNCIA A QUO. 4 (...) 2. No presente caso, o acordão recorrido concluiu pela conduta omissiva do Estado, tendo em vista que a recorrida, professora da rede distrital de ensino, foi agredida física e moralmente, por um de seus alunos, dentro do estabelecimento educacional, quando a direção da escola, apesar de ciente das ameaças de morte, não diligenciou pelo afastamento imediato do estudante da sala de aula e pela segurança da professora ameaçada. 3. Destacou-se, à vista de provas colacionadas aos autos, que houve negligencia quando da prestação do serviço público, já que se mostra razoável, ao tempo dos fatos, um incremento na segurança dentro do estabelecimento escolar, diante de ameaças perpetradas pelo aluno, no dia anterior à agressão física. 4. O Tribunal de origem, diante do conjunto fático-probatório constantes dos autos, providenciou a devida fundamentação dos requisitos ensejados da responsabilidade civil por omissão do Estado. Neste sentido, não obstante o dano ter sido igualmente causado por ato de terceiro (aluno), atestou-se nas instancias ordinárias que existiam meios, a cargo do Estado, razoáveis e suficientes para impedir a causação do dano, não satisfatoriamente utilizados. 5. A decisão pelo juízo a quo com base nas provas que lastreiam os autos é impassível de revisão, no âmbito do recurso especial, nos termos da Sumula 07/STJ. 6. O Tribunal de origem aplicou de maneira escorreita e fundamentada o regime de responsabilidade civil, em caso de omissão estatal. Já que, uma vez demonstrados o nexo causal entre a inação do Poder Público e o dano configurado, e a culpa na má prestação do serviço público, surgea obrigação do Estado de reparar o dano. Precedentes. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não provido (REsp 1.142.245/DF, STJ – Segunda Turma, Rel. Min. Castro Meira, julgamento: 05.10.2010, DJ: 19.10.2010) 26 SÚMULA 07. IMPOSSIBILIDADE IN CASU. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, CPC. INOCORRÊNCIA. 1. Ação de indenização em face do Estado, ajuizada por vítima de disparo de arma de fogo, efetuada por policial militar, em razão de perseguição policial, objetivando indenização por danos físicos, psicológicos e estéticos. (...) 7. A causa petendi não é integrada pela qualificação jurídica do fato, por isso que resta indiferente se a parte alude à responsabilidade estatal em face da omissão do Estado e o Tribunal entende pela conduta comissiva do Estado e a conseqüente responsabilidade objetiva estatal, por força da máxima implícita ao ordenamento jurídico de que: "narra mihi factum, dabo tibi jus." O Tribunal a quo analisou os fatos narrados: A perseguição policial e a troca de tiros relatada pela Autora, em sua petição inicial, e corroborada pelos documentos juntados aos autos, não foram negadas pelo Réu, tratando-se, pois, de fato incontroverso nos autos. Entendo, ademais, que, na hipótese em berlinda, houve importante falha no planejamento da ação policial, com severo comprometimento da integridade física de terceiro inocente. (fls. 163) E considerou a responsabilidade objetiva, em face da conduta comissiva: O ponto central de controvérsia nos autos se concentra na existência ou não de responsabilidade civil do Estado quando agentes públicos (policiais militares), empreendendo perseguição a bandidos, com estes trocam tiros em via pública de alto tráfego de veículos e pedestres, resultando, desse tiroteio, lesões de natureza grave em terceiro, vítima inocente.(...) A responsabilidade civil do Estado, pelos danos causados a terceiros, decorrentes da atuação dos agentes públicos, nessa qualidade, é objetiva. (fls. 163). (...). 14.A responsabilidade estatal restou comprovada pelo Tribunal a quo, com base nas provas dos autos, bem como escorreita a imputação da indenização fixada a título de danos materiais e morais. A análise da existência do fato danoso, e o necessário nexo causal entre a suposta conduta e os prejuízos decorrentes da mesma implica em análise fático-probatória, razão pela qual descabe a esta Corte Superior referida apreciação em sede de recurso especial, porquanto é-lhe vedado atuar como Tribunal de Apelação reiterada ou Terceira Instância revisora, ante a ratio essendi da Súmula n.º 07/STJ. Precedentes: (AgRg no REsp 723893/RS DJ 28.11.2005; AgRg no Ag 556897/RS DJ 09.05.2005; REsp 351764/RJ DJ 28.10.2002.) 15. Isto porque o Tribunal asseverou que: "Na hipótese destes autos, o conjunto probatório aponta - por exclusão e diante da ausência de elementos de convicção em sentido contrário - para a falta cometida, justamente pelos agentes públicos - policiais militares - incumbidos de zelar pela segurança da população. Com os bandidos foi 27 apreendido um único revólver, calibre 38 - arma que não produziria o furo encontrado na lataria do veículo em que se encontrava a vítima, segundo afirmação dos peritos do ICCE.(...)Os elementos de convicção já existentes nos autos permitem configurar o fato administrativo ( a perseguição policial e o tiroteio em via pública), o dano (lesões sofridas pela vítima) e o nexo causal (que tais lesões decorreram de errôneo planejamento de ação policial, com veementes indícios de que o projétil de arma de fogo que atingiu a Autora teria sido disparado de armamento utilizado pelos policiais militares). (fls. 165/166) 16. Descabe ao STJ examinar questão de natureza constitucional, qual seja a alegação de ofensa ao art. 37, par. 6º, da Constituição Federal, postulando a redução da fixação do quantum fixado à título de danos morais, porquanto enfrentá-la significaria usurpar competência que, por expressa determinação da Carta Maior, pertence ao colendo STF. A competência traçada para este Tribunal, em sede de recurso especial, restringe-se tão-somente à uniformização da legislação infraconstitucional. (REsp 1056605/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 10/03/2009, DJe 25/03/2009). PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ACIDENTE DE VEÍCULO EM RODOVIA FEDERAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. ARTS. 944 E 945 DO CÓDIGO CIVIL. ARTS. 28, 43, 150 E 220, X, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. NEXO DE CAUSALIDADE. REEXAME DOS FATOS. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. (...).3. Hipótese em que o Tribunal de origem concluiu, com base no contexto probatório, que "as provas colacionadas aos autos demonstram suficientemente a ocorrência de dano material, em conseqüência de acidente automobilístico causado pela má- conservação da rodovia. Inegável a existência de dois grandes buracos na estrada e de desnível no acostamento, à época dos fatos. Tais fatores, somados a velocidade máxima permitida no local e a falta de sinalização adequada, deram ensejo ao desastre. Além do mais, não houve prova da ocorrência de falha humana ou mecânica. Configurou- se a omissão do réu, uma vez que o autor trafegava por estrada cuja manutenção deveria ser realizada pelo DNIT, não tendo este ente público cumprido a sua obrigação de zelar pelas condições elementares de segurança de tráfego no local, daí decorrendo o nexo causal em relação ao dano percebido, devendo ser responsabilizada a autarquia federal. Dessa forma, comprovados o dano material, a omissão do 28 réu e a relação de causalidade, fica caracterizada a culpa e a responsabilidade do DNIT sobre o evento danoso, devendo o mesmo responder pelas conseqüências geradas pela falta de segurança na via pela qual trafegava a parte autora" (fl. 235, e-STJ). A revisão desse entendimento implica reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ. (AgRg no AREsp 550.829/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/11/2014, DJe 28/11/2014) CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO 4.1 - DIREITO COMPARADO O Princípio da coculpabilidade está sendo amplamente visto nos países da América Latina, em especial nos códigos penais da Colômbia, Argentina, Bolívia, Equador, México, Paraguai, Peru e no Proyeto del Código Penal de Costa Rica de 14 de abril de 1998. Mas, doutrinariamente, ainda não é muito discutido e explorado. Questiona-se a razão do porquê o Brasil não ter incluído, ainda, na legislação pátria, a previsão de tal princípio no Código Penal e por que razão os juristas não discutem e divulgam esse princípio a fim de criar argumentos sustentáveis nas peças processuais para direcionar o livre convencimento do Juiz Estado, haja vista, as jurisprudências serem imperiosamente desfavoráveis a aplicação do provimento deste argumento principiológico. O Código Penal Argentino prevê: Art. 40. En las penas divisibles por razón de tiempo o de cantidad, los tribunales fijarán la condenación de acuerdo con las circunstancias atenuantes o agravantes particulares a cada caso y de conformidad a las reglas del artículo siguiente. Art. 41. A los efectos del artículo anterior, se tendrá en cuenta: l. La naturaleza de la acción y de los medios empleados para ejecutarla y la extensión del daño y del peligro causados; 2. La edad, la educación, las costumbres y la conducta precedente del sujeto, la calidadde los motivos que lo determinaron a delinquir, especialmente la miseria o la dificultad de ganarse el sustento propio necesario y el de los suyos, la participación que haya tomado en el hecho, las reincidencias en que hubiera incurrido y los demás antecedentes y condiciones personales, así como los vínculos personales, la calidad de las personas y las circunstancias de tiempo, lugar, modo y ocasión que demuestren su mayor o menor peligrosidad. El juez deberá tomar conocimiento directo y de visu del sujeto, de la víctima y de las circunstancias del hecho en la medida requerida para cada caso. (grifo nosso) 29 O ordenamento Jurídico-Penal Colombiano preceitua: ARTÍCULO 56.- El que realice la conducta punible bajo la influencia de profundas situaciones de marginalidad, ignorancia o pobreza extremas, en cuanto hayan influido directamente en la ejecución de la conducta punible y no tengan la entidad suficiente para excluir la responsabilidad, incurrirá en pena no mayor de la mitad del máximo, ni menor de la sexta parte del mínimo de la señalada en la respectiva disposición. No Equador, o princípio da coculpabilidade somente tem aplicação nos crimes contra a propriedade, sendo atenuante da pena, conforme artigo 29, inciso 11 do Código Penal do Equador: Art. 29.- Son circunstancias atenuantes todas las que, refiriéndose a las causas impulsivas de La infracción, al estado y capacidad física e intelectual del delincuente, a su conducta con respecto AL acto y sus consecuencias, disminuyen la gravedad de la infracción, o la alarma ocasionada en La sociedad, o dan a conocer la poca o ninguna peligrosidad del autor, como en los casos siguientes: 11o.- En los delitos contra la propiedad, cuando la indigencia, la numerosa familia, o la falta de trabajo han colocado al delincuente en una situación excepcional; o cuando una calamidad pública le hizo muy difícil conseguir honradamente los medios de subsistencia, en la época en que cometió la infracción; No México, o princípio da coculpabilidade é determinado com circunstância judicial, sendo aplicado na primeira fase da dosimetria, quando fixará a pena base do agente, considerando-se fatores como: idade, educação, instrução, costumes e condições sociais e econômica do delinquente, na forma do artigo 52, inciso V do Código Penal Mexicano. Neste país, esse princípio também é aplicado nas medidas de segurança, fato peculiar desta nação, pois normalmente nas medidas de segurança não são analisadas agravantes, nem atenuantes. Artículo 52. El juez fijará las penas y medidas de seguridad que estime justas y procedentes dentro de los límites señalados para cada delito, con base en la gravedad del ilícito y el grado de culpabilidad del agente, teniendo em cuenta: 21 V. La edad, la educación, la ilustración, las costumbres, las condiciones sociales y económicas del sujeto, así como los motivos que lo impulsaron o determinaron a delinquir. No ordenamento jurídico português esse princípio é utilizado na mensuração da pena, pois esta é reduzida dependendo da condição econômica e social do agente, conforme artigo 71 do Código Penal Português: 30 Artigo 71º Determinação da medida da pena 1 - A determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita em função da culpa do agente e das exigências de prevenção. 2 - Na determinação concreta da pena o tribunal atende a todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele, considerando, nomeadamente: a) O grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das suas consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente; b) A intensidade do dolo ou da negligência: c) Os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou motivos que o determinaram; d) As condições pessoais do agente e a sua situação económica; e) A conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando esta seja destinada a reparar as consequências do crime; f) A falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto, quando essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena. 3 - Na sentença são expressamente referidos os fundamentos da medida da pena. Conclui-se, então, que o ordenamento jurídico de diversos países utiliza o princípio da coculpabilidade, diferindo, somente, quanto aos motivos e as formas de aplicação. Observa-se, abaixo, a síntese da forma de aplicação desse princípio pelos países em sua dosimetria e grau de culpabilidade do praticante do crime, conforme afirma a repórter Priscyla Costa, da revista consultor jurídico: Na América do Sul, Argentina, México, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e Paraguai reconhecem que a condição econômica do agente é critério para a mensuração da pena. Nesses países, a co-culpabilidade está prevista na legislação penal. Na Argentina, a co-culpabilidade é prevista como uma circunstância legal que agrava ou atenua a pena. No México, além de ser circunstância que atenua ou agrava a pena, o princípio é aplicado também nas medidas de segurança. No Peru, legislação e doutrina prevêem a aplicação do princípio. A Bolívia coloca a co-culpabilidade no Código Penal como circunstância judicial para aferir a personalidade do autor como atenuante, quando o agente pratica o fato impulsionado pela miséria. Na Colômbia, a co-culpabilidade é prevista como circunstância que pode até mesmo excluir a responsabilidade do agente. O Equador restringe a aplicação do princípio aos crimes contra a propriedade. O Código Penal paraguaio prevê que o juiz tem de analisar as condições pessoais e econômicas do agente antes de arbitrar a pena. Na Europa, Portugal também defende que as condições econômicas do agente são critério para a mensuração da pena. No direito pátrio existe um anteprojeto de modificação do Código Penal que prevê a aplicação do princípio da coculpabilidade, conforme abaixo, literalmente, exposição de motivos nº 318 de 11 de agosto de 2000: 31 São importantes as inovações trazidas ao Código vigente pelo Projeto que procura assegurar a individualização da pena sob critérios ainda mais abrangentes do que os previstos na Reforma de 1984. Aprimoram-se as reais possibilidades de individualização judicial da pena por meio de novos critérios considerados no art. 59. cujas diretrizes foram alargadas. Continuam a ser três as ordens gerais de fatores sobre as quais repousa a individualização da pena; as relativas: ao agente, ao fato e à vítima. As duas últimas não sofreram alterações, mas, quanto ao agente, ao lado da culpabilidade, já em seu sentido mais abrangente trazido pela Reforma de 1984, e dos antecedentes, determina o Projeto que se refira o juiz à reincidência e condições pessoais do acusado, bem como oportunidades a ele oferecidas. Tais acréscimos merecem destaque. Antes de mais nada, a reincidência deixa de ser figurar como circunstância agravante obrigatória e passa a ser considerada no curso da individualização da pena. No seara dos critérios relativos ao autor, cedem lugar a personalidade, de improvável e discriminatória aferição e a conduta social, pelas condições pessoais e oportunidades sociais a ele oferecidas, expressões mais atuais e revelam a plúrima dimensão do homem como centro de valorização do Direito Penal. No mais, permanece sem alteração o dispositivo. Tais modificações para a adequação no direito pátrio do referido refletiram na alteração do Código de Processo Penal, no ato processual do interrogatório judicial, conforme artigo 187, § 1º, do Código de Processo Penal: Art. 187. O interrogatório será constituídode duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. § 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais. (...) A Lei nº 9.605/1998 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, também adotou o princípio no “Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;” CONCLUSÃO É o dever do Estado proporcionar condições dignas de sobrevivência, tais como moradia, saúde, lazer, educação, dentre outros. Direitos de segunda geração que vieram para colocar um fim na inércia do Estado, obrigando-o a diminuir as desigualdades socais. 32 Portanto, a quebra por parte do Estado no cumprimento dessas obrigações levaria a uma corresponsabilidade estatal, pois o indivíduo marginalizado pela Estado, ficando sem condições mínimas para a sua subsistência básica acaba por infringir leis penais repressivas para a sua sobrevivência. A coculpabilidade é um retrato da compensação direta de não cumprimento do Estado face a suas obrigações. Se de um lado o agente quebra o contrato social o Estado também o faz por não respeitar as determinações impostas pela Constituição Federal, fundamentalmente a dignidade da pessoa humana. E por isso há de arcar com parcela de culpa do agente infrator, pois se este comete o delito o faz porque não teve melhores condições de vida, por omissão do Estado. O poder estatal não pode ser punido diretamente, então deve-se atenuar a pena do sujeito ativo do crime. No ordenamento Brasileiro não há previsão expressa, tampouco, proibição, para esse princípio. Encontra-se no art. 66 do CP as atenuantes inominadas que podem ser fundadas por referido princípio. Outra sugestão, na pena base, circunscrita na primeira fase de aplicação do art. 59, utilizar-se do piso legal de aplicação do quantum lançando mão do princípio supra citado. Na jurisprudência brasileira não foi encontrado aplicação efetiva da coculpabilidade sob diversas alegações, dentre elas que “as desigualdades marcantes que caracterizam a nossa sociedade não podem servir de justificativa plena para lesar o direito alheio, da mesma forma que não podem ser tidas como circunstância relevante para a prática delitiva...” (TJGO, APELACAO CRIMINAL 415946-21.2007.8.09.0051, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, 1A CAMARA CRIMINAL, julgado em 25/10/2011, DJe 962 de 16/12/2011). Do mesmo modo, “...eis que a jurisprudência tem entendido que a pobreza, baixa escolaridade e o descaso do Estado não são fatores determinantes para justificar a criminalidade” (Apelação Crime Nº 70027898212, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elba Aparecida Nicolli Bastos, Julgado em 19/02/2009). 33 No tocante da coculpabilidade às avessas, que se trata de agravar a pena para os mais abastados, encontra-se de forma explicita nos arts. 76, IV, “a”, da lei nº. 8.078/905 e do art. 4, §2º, da Lei nº 1.521/516. A propósito, como trata-se de causa agravante somente é permitido sua aplicação no sistema penal de forma tipificada/taxativa/explicita, quais sejam nos moldes anteriores. Diante de tais premissas não se admite a analogia in malam partem. Conclui-se, que no Brasil o princípio da coculpabilidade deixa de ser aplicado pelo fato de que outros princípios, amplamente aceitos primariamente, como o da insignificância e da intervenção mínima, são lançados como teses defensivas. Mesmo que o princípio da coculpabilidade fosse secundariamente concebido, que pode ser reconhecida nas atenuantes genéricas do art. 66, não pode ser aplicada a toda prática delitiva cometida pelos agentes infratores que se dedicam a atividade ilícita, como forma de justificar a infração, sob o risco de banalizar essas atenuantes e acabar por aceitar de forma oblíqua as ações criminosas. Enfim, é necessário a análise das circunstâncias específicas do caso concreto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARINELA, Fernanda. - Direito Administrativo – Ed. Impetus. 7.ed. – Niteroi - RJ, 2013. P.997. MASSON, Cleber – Direito Penal esquematizado – parte geral. Ed. Metodo. 9ª. ed. rev., atual. E ampl. – Rio de Janeiro - RJ – 2015. P.498 - 499. http://jus.com.br/artigos/39645/principio-da-co-culpabilidade-da-resistencia-a- sua-aplicacao-pratica. Acesso em: 17.09.2015. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acessado em: 15.09.2015. 5 Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código (...) IV - quando cometidos: a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima. 6 Art. 4º - § 2º. São circunstâncias agravantes do crime de usura: (...) a) por militar, funcionário público, ministro de culto religioso; por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima; 34 MOURA, Gregore Moreria de – Do Principio da Co-culpabilidade no Direito Penal – Ed. D’Placido – edição digital – Belo Horizonte – MG - 2014. ZAFFARONI, Eugenio Raul; PIERANGELI, José Henrique. – Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral – Ed. Revista dos Tribunais, 11. Ed. Rev. E atual. – São Paulo – SP - 2015 CAPEZ, Fernando – Curso de Direito Penas, volume I, parte geral: (arts. 1º a 120)/Fernando Capez. - 19. ed. - São Paulo: Saraiva, 2015. FIORELLI, José Osmir; MANGIN, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2012. http://jus.com.br/artigos/7268/breves-apontamentos-acerca-da-nocao-de-co- culpabilidade. Acessado em: 31.10.2015. http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=3cc578f087ea520a. Acessado em: 31.10.2015 http://siaibib01.univali.br/pdf/Natalia%20Allet%20Matte.pdf. Acessado em: 01.11.2015 http://www.conjur.com.br/2009-jul-05/entrevista-eugenio-raul-zaffaroni- ministro-argentino acessado em 01.11.2015 http://bastille-day.com/biography/marat-biography. Acessado em: 01.11.2015 https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Marat. Acessado em: 01.11.2015 INTRODUÇÃO 1.1 – A COCULPABILIDADE NA HISTÓRIA CAPÍTULO 2 – CONCEITO 2.1 – CULPABILIDADE 2.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE 2.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE ÀS AVESSAS CAPÍTULO 3 – O PRINCIPIO DA COCULPABILIDADE E OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO 3.1 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO PENAL 3.2 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL 3.3 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E A PSICOLOGIA JURÍDICA 3.4 - PRINCÍPIO DA COCULPABILIDADE E O DIREITO CIVIL CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO 4.1 - DIREITO COMPARADO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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