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Pandora EDIÇÃO Nº 50 Teatro Literatura Artes Plásticas Arquitetura Especial Cinema Moda Dança Música Sociedade Corrêspon- dências Lazer 5 História Cíclica do Declínio da Comédia 6 Crítica Cênica 7 Para os Pequenos 8 Semana de Arte Moderna 9 Indicações da Vez 10 Bisbilhotices Literárias 11 Entrevista com Pierre Laurent 13 Para Ver 14 Arquitetura da Beleza 15 Justos Aplausos 16 Desvendando o Tesouro da Comu- nicação 20 Louise Brookes 21 Notícias de Cinema 21 Palpites do Mês 22 Celebridades Cin- ematográficas 23 Melindrosas 25 Inspirações 25 Apostas 25 Dicas de Moda 26 Novos Tempos: A Dança Livre da América 27 Josephine Baker 29 Samba 31 III Festival Brasileiro de Choro 32 Informações sobre Cândido Portinari, Jo- sephine Baker, Zilah de Moura Brito e outras apresentações 4 Carta da Editora 29 Carta dos Leitores 34 Charge 34 Pegadinhas 34 Palavras-Cruzadas Há cerca de três anos, eu trabalhava como redatora na revista L’Esprit Noveau em Paris. Tive a sorte de fa- zer parte do núcleo de Le Cobusier, um dos mais reno- mados arquitetos da atualidade e também exímio pin- tor. Lembro que sempre que íamos a alguma exposição de arte para elaborar reportagens sobre a mostra, Cobusier di- zia: “Noter, critiquer, accepter ou nier, mais respect” (algo como “observar, criticar, aceitar ou negar, mas respeitar”). A essa filosofia do arquiteto coube, perfeitamen- te, o intuito presente no movimento da Pandora: o Pan- dorismo. A ideia de fornecer espaço e destaque a todas as formas de expressão artística, por mais utópica que pare- ça, é absolutamente incrível e inovadora – como a maio- ria das ideias que surgiram desde o início desta década. Nesta 50ª edição da revista (um selo histórico na Edi- tora Otelo Castro – a única publicação que também chegou a 50 publicações é o Jornal Canário, com 456 edições), é fornecido aos leitores um verdadeiro tesouro artístico: o re- dator João Gardel participou de uma calorosa roda de sam- ba para entrevistar o músico Paulo da Portela; a produtora Mary Morris preparou uma série de informações sobre os ritmos dançantes que estão conquistando a América; Anasta- sia Nápoles compôs um belo texto que ilustra as dificuldades por trás da inesquecível Semana de 22; Cipriano Silvestre trouxe, após sua viagem à França, uma entrevista completa com uma das maiores promessas das Artes Plásticas, Pier- re Laurent; Amélie Lepritié preparou uma matéria sobre as tão charmosas e admiradas melindrosas; na Matéria Especial, nossa equipe procurou desvendar as estratégias da Comuni- cação que prometem avanços para a próxima década. Feita com toda a intensidade e originalidade dignas de pando- ristas, a edição que chega agora às suas mãos é um convi- te às vanguardas estéticas e movimentos artísticos que fer- vilham no Rio de Janeiro e no mundo. Para uma leitura preciosa, receptiva e sempre, é claro, com muito respeito. REALIZADORES: Amélie Lepritié Corretora Cipriano Silvestre Redator Mary Morris Produtora Anna Marie Shearer Diagramadora Anastasia Nápoles Corretora Preciosa Delon Editora-Chefe João Gardel Redator Luciana Sodré Diagramadora SOBRE TESOUROS E RESPEITO Carta da Editora 5 HISTÓRIA CÍCLICA DO DECLINIO DA COMÉDIA Como Chegamos a Esse Ponto? Teatro Como sabe-se, no início da história cê- nica só havia a tragédia no gênero teatral. Sófo- cles, Eurípedes, Ésquilo e outros autores discursa- vam sobre assuntos como a religião, em Prometeu Acorrentado; a força do destino sobre a vida dos homens, em Édipo Rei; a saga de heróis, em Ulis- ses e, também, de derro- tados, em As Troianas. No entanto, com ex- ceção de uma peça ou outra, como Os Persas, as tragédias nunca ou- savam intrometer-se no cotidiano dos homens, nos acontecimentos da vida ou na atualidade do mundo. Um século depois, nasce a comédia grega — hoje conhecida prin- cipalmente pelas obras de Aristófanes, o “Pai da Comédia” — que tem como foco princi- pal a política de Atenas, as inovações e os acon- tecimentos do cotidia- no. Outrossim, Aristófa- nes incluiu Sócrates em uma de suas peças e foi um crítico da sociedade. Afinal, a comédia nasce junto à crítica social. Devido ao nascimento de Roma, a comédia perde o cunho crítico e passa a ser puro entreteni- mento, satisfazendo a política Panem et Circenses dos patrícios romanos, que consistia em alimentar e diver- tir o povo para diminuir a insatisfa- ção popular. Mas o gênero logo seria substituído por espetáculos maiores e sangrentos, como a luta de gladiado- res, e, assim, o teatro tornou-se uma esquecida arte. Mais tarde, como pode-se presumir, as representações tornam a fazer parte da vida humana, lançan- do talentosos escritores pós-Roma Antiga, como William Shakespeare, Giovanni Boccaccio, Gil Vicen- te e tantos outros. Bo- caccio, por exemplo, é o responsável por colo- car novamente em foco a comédia nos moldes gregos, como faz em De- camerão – que fala sobre a Peste que se propaga- va pela Europa naqueles anos. Pode-se, por- tanto, observar períodos em que o humor cêni- co é inteligente, crítico e benéfico à sociedade. Em épocas como a que vivemos, a comédia for- nece diversão entorpe- cente — uma continu- ação da política Panem et Circenses. Não raro, ressurge a discussão en- tre o “Teatro Sério” e o “Teatro de Comédia”. O Brasil é digno do te- atro intelectual ou das comédias pastelão? A audiência popular res- ponde: para a felicidade de Aristófanes, Ésquilo, Sófocles e os demais au- tores gregos, as comédias ainda perdurarão por bastante tempo. 6 Baseada em O Espetáculo russo de Nicolay Okhlopkov e adaptada para o con- texto e cenário brasileiros, a peça Retiran- tes, de Alexandre Menezes, narra a história de uma família de emigrantes sem nome – todos são identificados apenas por seus atributos físicos e relações de parentesco. Na família de pessoas que viajam do ser- tão brasileiro à cidade de São Paulo bus- cando uma vida melhor, há, por exemplo, uma personagem chamada de “tia” pelos sobrinhos, de “irmã” pela irmã, e de “cao- lha” pelo cunhado. RETIRANTES O TOQUE ABRASILEIRADO À ARTE DE OKHLOPKOV Crítica Cênica A obra original de Okhlopkov, um dos marcos do atual teatro russo por colocar problemas do cotidiano nos palcos, é um dos grandes sucessos do teatro brasileiro. Além de exibir problemas do dia a dia de milhares de pessoas distantes dos pólos econômicos e culturais do país, a peça dá voz à popu- lação longínqua e, não raro, esquecida pelos próprios brasileiros. Os retirantes nordesti- nos ganham voz, através dos textos da obra, que denunciam a precariedade da vida e a miséria em que encontra-se o nordeste. Como se não bastassem tantas ino- vações, Retirantes, assim como a peça original, promove inovações estéticas ao teatro brasileiro: ela não é encenada no palco. Pelo contrário, acontece na plateia. As cadeiras e o piso ganham a aparência de terra e o teatro é tomado pela atmosfera imaginária de secura e calor. É nesse espaço que os atores ficam espalhados, cada qual em seu lugar, mas ainda junto à plateia. Essa nova estra- tégia de encenação aumenta a imersão do espectador na peça. Assistir a Retiran- tes é poder caminhar pelo sertão junto aos atores e vivenciar, de perto, o so- frimento do esquecido povo sertanejo. Apresentações no Teatro Arthur de Moraes — Avenida Rio Branco, Centro da Cidade, Rio de Janeiro, RJ. Todas sextas e sábados. De 11 de junho a 14 de agosto. 7 Para os Pequenos Excelente montagem para crianças, a peça “Três Amores de Circo” passa-se emum circo e conta a história de três assistentes de mágico apaixonadas pelo mesmo palhaço. A obra, desti- nada ao público infantil, escrita por Igor Augusto em 1921, volta aos palcos após oito anos em uma moderna e agradável remontagem. Abordando o tema amor de maneira inteligente e divertida, promete arrancar gargalhadas não só da criança- da, como também dos adultos que as acompa- nharem. Teatro Flexa Ribeiro — Rua São Clemente, Bota- fogo, Rio de Janeiro, RJ Sábados e Domingos às 17 horas 8 Literatura A OUSADIA DE 22 Não se sabe certamente como e quan- do a Literatura Brasileira iniciou-se. Há quem defenda a teoria de que a sua origem é recente - na era romântica - e há outros que apoiam a ideia de que o seu berço é remoto, debutando com os escritores bar- rocos. Longínqua ou não, irradiada ou pou- co conhecida, está sendo formada uma nova concepção da Literatura: ela é a mais terna chave para conhecer-se o mundo. Há tempos, o Rio de Janeiro é a me- trópole cultural e intelectual deste país. Em 1808, quando D. João VI apresentou-se com a Côrte Portuguesa, o Distrito Federal não perdeu o crédito de ser a cidade do saber, muito embora São Paulo, Minas e San- ta Catarina também sejam magníficos eixos eruditos. Tal título possui real mérito: aqui se instituíram as primeiras escolas superiores e jornais, além das primordiais missões cul- turais europeias e companhias de teatro. O Rio de Janeiro sempre inspirou temas para a poesia, o teatro, a crônica e a ficção. As arrojadas transformações ar- tísticas Ainda no início deste século, a Lite- ratura do Brasil tinha franca preocupação em conservar a tradição e os purismos das tendências clássicas. Poucos anos atrás, en- quanto aconteciam as Vanguardas Europeias, o país ainda rejeitava a renovação e a nova estética. Por essa causa a arte acabou sendo considerada arcaica. No entanto, não eram todos os com pensamentos fechados para as inovações. Oswald de Andrade, ao chegar em São Pau- lo, acabando de regressar do Velho Mundo, trouxe em seus pensamentos colossais ideias que floresceram do novo modo europeu de concepção da arte. Para o brasileiro, es- sas ideias significavam o caos e a quebra de convenções. O ofício de Oswald não foi fácil, as novas propostas – inclusive as suas - foram recusadas pela intelectualidade oficial e os desafios foram numerosos. Todavia, para ele não convinha o desespero e uma resposta negativa. Oswald não estava sozinho, junto a ele agregavam-se outros escritores seden- tos por reformular os modelos tradicionais, muito embora, como o próprio disse, “Nós não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.”. E eles não estavam dispostos a desistir: a modernidade seria al- cançada. A Semana de Arte Moderna foi consi- derada um marco: o momento em que dis- tintos artistas, juntos, conseguiram libertar- -se da camisa de força que lhes foi imposta. 9 licioso. José Oswald de Sousa Andrade Inspirador e organizador da Semana de 22, é um dos mais significativos auto- res do Manifesto da Poesia Pau-Brasil e do Manifesto Antropófago. Ainda mais arroja- do que Mário de Andrade, é conhecido por sua polêmica. Explora o coloquialismo, o humor e a ironia. Oswald revolucionou os conceitos tradicionais da arte: quer que as palavras tenham liberdade, que a sintaxe não seja levada de forma tão rígida. Sua poesia “Vício de fala” demonstra claramente as suas intenções: “Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mio Para pior pio Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados.” “A Farewell to Arms”, Ernest Hemingway Ernest Hemingway lançou mais um livro: “A farewell to arms”. A história acontece na Itália e na Suíça, durante a Grande Guerra e conta a vida do médico Frederic Henry, que se voluntaria para trabalhar no exército italiano. Um dia, o Alto Comando Italia- no decide por enviar a sua infantaria para um ataque nas terras austríacas. Mas o que Frederic não esperava nesse momento era se apaixonar pela enfermeira inglesa Catherine. Questões graves escoltam a história, como acidentes e a derrota italiana na batalha. Ao ler o livro, vê-se certa semelhança com a Foi o momento da nova geração de talentos trazer a renovação à arte brasileira e obter vitória em sua causa. Mas a recompensa não foi unicamente deles: a cultura brasileira, desde então, tem sido renovada com novos modos de pensar. A mesmice da arte brasileira precisava ser abandonada e a poesia formal, modifica- da. Ainda que fuja à compreensão de mui- tos, esse aparentemente pequenino avanço na arte propiciou ao Brasil ponderosos pas- sos rumo ao desenvolvimento. Como ex- pôs Menotti, em 22 houve a eclosão “de um movimento de independência nacional que vinha de longe”. Os autores foram capazes de notar quão sedenta a sociedade estava por mudanças e inovações. Em músicas, livros, quadros e ou- tras artes foi refletida a grande aflição da vida dos artistas e a instabilidade do próprio país. Ao que parece, a verdadeira arte está sendo alcançada: livre, natural e germinada do in- consciente. Mário Raul de Morais Andrade Conhecido como Mário Sobral, quis libertar-se do espírito conservador e, por isso, juntou-se ao movimento de renovação da estética. Publicou, em 1917, o livro “Há uma gota de sangue em cada poema”, que considerado foi “arrojado e cheio de im- propriedades e exageros, sem falar em versos frouxos e rimas defeituosas, que afeiam, por toda a parte, as estrofes.”. Rico em inova- ções, o jovem Mário acabou por ser muito criticado pela sua ousadia: abrasileirou a lin- guajar dando-lhe um vasto cunho popu- lar. Publicou “Paulicéia desvairada” e, ainda, “Macunaíma” que, por sua vez, foi a obra mais atrevida, chegando a difundir a expres- são popular; com o personagem que é um herói sem caráter, ilógico, preguiçoso e ma- Indicações da vez 10 Literatura Bisbilhotices literárias própria vida do autor, que teve participação na Guerra – embora bem menos do que o protagonista. Hemingway acrescenta que, na vida, há poucos finais felizes. No universo da Guerra, “A Farewell to Arms” se apre- senta como uma história de amor e hero- ísmo, além de suscitar a questão: realmente vale tudo para se viver um grande amor? “Im Westen Nichts Neues”, Erich Maria Remarque Após anos sem uma obra publicada, Erich Maria Remarque causa grande impacto com o lançamento de seu novo livro. O romance é narrado por Paul Baumer, um jovem e in- teligente alemão, e relata a época da Grande Guerra. É descrito no livro a atrocidade das trincheiras – com as armas, gases e explosões -, os hospitais repletos de pessoas feridas e, além disso, o modo desumano com que elas eram tratadas. Também é relatado o perfil psicológico dos soldados que lutaram e, nis- so, evidenciam-se os horrores que a Guerra trouxe a tais seres humanos. Trata-se de um relato lastimável com algumas reflexões do autor, que merece ser lido atentamente. É, também, baseado nas próprias experiências de Erich enquanto combatente. É certo: o coração será o primeiro alvo. A preocupação excessiva com doenças fazia com que o escritor de origem tcheca Franz Kafka usasse roupas leves e só dormisse de ja- nelas abertas – para que o ar circulasse -, mesmo no ri- goroso inverno de Praga. Mário de Andrade tam- bém tem as suas manias. O autor de Macunaíma e Paulicéia Desvairada é ob- cecado por cartas. Mário responde a todas as corres- pondências que recebe. Existe uma lenda de que o poeta Álvares de Azevedo nasceu na biblioteca da Fa- culdade de Direito de São Paulo. A verdade, no entan- to, é que o autor de Lira dos Vinte Anos veio ao mundo na casa do seu avô materno. A caligrafia do escritor Machadode Assis era tão ruim que, às vezes, até ele ti- nha dificuldade de entender o que escrevia. Ainda sobre Machado de Assis: exímio jogador de xa- drez, o escritor publicou um dos primeiros simulados do jogo em jornais. A poetisa goiana Cora Co- ralina só não participou da Semana de Arte Moderna de 1922 porque seu marido não permitiu. Dom Quixote, obra-prima do espanhol Mi- guel de Cervantes, obteve um sucesso tão grande na época da sua publicação que um anô- nimo escreveu uma segunda parte do romance. 11 Pierre Laurent é defensor da ideologia de que toda arte deve ser intrinsecamente política e criticar a realidade do mundo em que está situ- ada. Seu trabalho assume uma posição inovadora e ousada no mundo das artes visuais. Movimento de um homem só, ele se denomina mais moder- no tribal e, a sua arte, ele prefere denominar como “Neo Rupestre”. Sua nascença se deu em 1895, em uma vila no norte da França, com sua colossal família à volta: pai, mãe, três irmãos e uma irmã mais velha - além de uma mais nova. Viveram nesse lugarejo até que a Grande Guerra finalmente os alcançou e, então, após a morte de seu pai e de dois irmãos, Pierre mudou-se para Paris com o restante de sua parentela. Na nação parisiense, ini- ciou os estudos na Éco- le Nationale Supérieu- re des Beaux-Arts, onde estabeleceu contato com novas ideias e com a efervescência da classe artís- tica francesa. Logo começou a expor seus trabalhos em gale- rias e museus por toda França e optou por partir para o restante da Europa. Hoje, é um dos mais aclamados artistas da contem- poraneidade e, por excelência, foi convidado para ser um dos primeiros a expor suas obras na inauguração do MoMa em Nova Iorque. Nesta entrevista, concedida exclusivamente à Revista Pan- dora, Pierre conta sobre sua in- fância, seu trabalho atual, quais são suas previsões para o futu- ro e como é ser um dos artistas plásticos mais conceituados da atualidade. Pandora: Pierre, como é fa- zer parte de um grupo sele- to de artistas escolhidos para inaugurar o que prenuncia ser um dos maiores museus do mundo? Pierre Laurent: É realmen- te incrível. Poder divulgar meu trabalho para além da Europa, para a população da América, ainda que por enquanto seja apenas Nova Iorque, e ainda estar ao lado de grandes artistas como Van Gogh, Gauguin e Cézan- ne é uma grande honra, pois nunca achei que chegaria a tal ponto. Quando pequeno, alguns pensamentos me le- varam a crer que trabalharia no campo, como meu pai. Pandora: Já que comentou sobre seu pai, como foi che- gar a Paris em meio à guerra, tendo perdido quase metade da família? Pierre Laurent: Foi extre- mamente árduo para todos nós. Minha mãe chegou a Paris sem saber aonde seria o seu ofício, mas, coinci- dentemente, rememoramos que tínhamos um paren- te distante que nos conce- deu, temporariamente, um ENTREVISTA COM PIERRE LAURENT O percursor da arte neo-rupestre Artes Plásticas Pierre Laurent em sua última exposição L’Homme Qui homme, em Marseille, sul da França 12 pequeno apartamento de sua posse. Como esclareci, minha mãe não tinha emprego e mesmo que trabalhasse não iria conseguir sustentar a nós cinco sozinha. Por causa dis- so, eu e meu irmão também passamos à la- buta, inicialmente como bagageiros na esta- ção de trem. Pandora: E como você ingressou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts? Pierre Laurent: Pois então, transcorridos alguns anos desde que havíamos chegado a Paris, não ocorreu de nenhum de nós per- dermos o emprego durante a Guerra e, por isso, conseguimos juntar algum dinheiro. Nessa época, o apartamento cedido já havia sido devolvido. Meu irmão casou-se com uma dama que cursava a École dês Beaux Arts e não estou inteirado do exato moti- vo, mas ela recomendou que eu me aplicasse para uma bolsa. Demorei a acostumar-me com a ideia, mas com o decorrer do tem- po pude amadurecer a sugestão e resolvi me aplicar. Não atingi uma bolsa integral, então tive que conciliar o estudo e o trabalho para que pudesse dar conta de pagar o restante. Pandora: Muito envolvente, Pierre. So- bre seu trabalho atual, o movimento “Neo Rupestre”, lembro-me de ter lido, em um dado momento, o seu argumento de que o homem não progrediu nada desde o tempo em que andávamos nas cavernas. Como ex- plica, então, esse chamado “progresso”, tão comentado por outrem? Pierre Laurent: Veja bem, essa ideia exis- tente de progresso humano, que tanto é di- fundida pelos quatro cantos do mundo, é simplesmente errônea. Qual o seu concei- to de progresso? Construir prédios cada vez mais altos? Carros ainda mais velozes? Armas cada vez mais letais? Certamente, não é mi- “CANUDOS” Ocorre, no Rio de Janeiro, até o fim deste mês, a exposição “Canudos”, que bus- ca retratar o horror e a barbárie presencia- dos na batalha, tanto pelos soldados quanto pelos revoltosos. A exposição é um traba- lho de Josué Alexandre com curadoria de Mirian Bartyr. Composta por mais de 100 ilustrações em preto e branco, feitas em car- vão, a mostra retrata muito bem a aura de mistério e sombra que o episódio desperta na população brasileira. Não perca! No Museu do Açude, Alto da Boa Vista, até 4 de junho. Entrada gratuita. nha visão de melhoria. Na minha concep- ção, o homem só progride quando se en- xerga como parte de um todo, parte de um único sistema, depreende? O ser humano deve contemplar-se como parte integrante do homem ao seu lado e que, por conse- guinte, está ao lado de outro homem, que está ao lado de outro – e a linha de pen- samento prossegue. Somos um só, as nossas vidas estão conectadas por um fio pratica- mente invisível que transmite — um a um — todos os pensamentos e todas as ações (e até a ausência delas) dos humanos do mun- do. É somente no fim que o homem percebe que sua vida não é somente sua, mas tam- bém é de todos que habitam e habitarão o universo depois dele. Pandora: E em que momento a sua filosofia, se assim podemos denominá-la, encaixa-se na estética do seu trabalho? Pierre Laurent: Na minha atividade, bus- co sempre germinar essa “filosofia” na ca- beça dos indivíduos. Como amostra, temos em “Home pega o Carro” a típica pintura rupestre, com elementos claramente atuais como o carro, e também a superfície de ro- cha na qual é feita a obra. Tenho como ob- jetivo instigar a confusão no observador ao analisar a arte e a atualidade do tema e com- pará-las com a antiguidade da tecnologia usada. Desejo que ele se questione “Por que isso parece uma pintura de um homem das cavernas?” e que, a partir disso, consiga ela- borar o pensamento até que alcance alguma conclusão. Entretanto, se será ela a mesma a qual cheguei? Não sei. Pandora: Qual a sua previsão para os próxi- mos anos, seja nas artes ou no mundo? Pierre Laurent: No que diz respeito às ar- tes plásticas, creio que os renomados artistas contemporâneos continuarão produzindo seus trabalhos de modo que eles ainda per- maneçam atuais por dez anos ou em torno disso. Quanto ao que tange a política, estou receoso com o que ocorre na Alemanha e na Itália, visto que tais governos cooptam, cada vez mais, a população para seus regimes se- gregacionistas. Aliás, as eleições alemãs já es- tão abeirando, veremos no que resultará. SOB OLHAR ARTÍSTICO, A BARBÁRIE PARA VER 13 14 Parque Lage Aos pés do morro do Corcovado e às margens da lagoa que banha a cidade do Rio de Janeiro, encontra-se um exemplo da arquitetura que toma cada vez mais força no exterior: a mescla entre urbano e natural. Após recuperar a propriedade – a qual permaneceu longe do domínio da família Lage durante sete anos – que era de seu avô,Henrique Lage iniciou um processo de remodelação da estética do palacete com autoria do original arquiteto italiano Mario Vodret. Com estilo bastante diferente do usual, Vodret mesclou diversas tendências – o que reforça a fama de sua arte, conhecida como “eclética”. Pensando em agradar a sua amada, a esplêndida cantora lírica Gabriela Benzazoni, Henrique Lage construiu, junto ao arquiteto, um pátio com piscina no centro da chácara e, na fachada, um pórtico muitíssimo proeminente. Os jardins também receberam especial atenção, sendo concebidos geometricamente (de acordo com a grandiosidade da mansão). Exemplar da maravilhosa e moderna arquitetura que se solidifica nos tempos atuais, a mansão dos Lage é, hoje, uma das mais belas construções da cidade carioca. Museu do Açude A inauguração do Museu do Açude ocorreu na tarde de ontem, 27 de maio, para a alegria dos apreciadores da boa arte e de um novo modelo arquitetônico que vem conquistando as principais cidades do mundo. O proprietário e responsável pela reforma foi Raymundo Ottoni de Castro Maya e o lugar será administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus. Propondo uma nova concepção arquitetônica, a ideia consiste em tornar o espaço físico do ambiente parte do conjunto da obra, proporcionando aos visitantes a harmônica sensação de contemplação representada pela comunhão entre o patrimônio físico e natural – que, segundo Castro Maya, é o trinômio Museu-Natureza-Cidade. Uma das primeiras obras modernas da nossa “Paris Tropical” tem aspecto de residência Neocolonial, situada em uma área de mais de 151 km², em plena Floresta da Tijuca. O Museu do Açude conserva um acervo amplo e diversificado, com peças adquiridas pelo próprio Castro Maya e, também, outras herdadas de seu pai. Arquitetura ARQUITETURAS DA BELEZA INFORMAÇÕES SOBRE AS MAIS ENCANTADORAS CONSTRUÇÕES DO RIO DE JANEIRO 15 Inaugurada há mais de 30 anos, a prestigiadíssima Confeitaria Colombo é, sem dúvidas, um dos projetos arquitetônicos mais esplêndidos do Rio de Janeiro. Homens de negócios, damas elegantes, cavalheiros intelectuais e as formosas melindrosas lá se reúnem nos fins de tarde para longas prosas regadas aos mais deliciosos doces e saborosos aperitivos de que se tem notícia na sociedade carioca. O local é, talvez, a representação mais próxima no Brasil do que vem a ser o luxo inglês e o estilo parisiense. Com influências europeias, a chamada Art Nouveau trouxe novas formas para a arquitetura, urbanismo e decoração da cidade. Atrevo-me a suspeitar que a própria urbanização – que já começa a ser caótica naquela região – ocorre desse modo justamente para estimular a população a prestigiar e ser prestigiada pelo belíssimo monumento material que é a confeitaria. Pois muito bem, a região central do Rio de Janeiro, que possui ruas onde os charmosos bondes da cidade mal podem circular, parece de algum modo convidar os pedestres a entrar na indescritível Colombo e simplesmente sonhar com um paraíso açucarado na Terra, deliciando-se com os melhores vinhos e especiarias da casa. A charmosa confeitaria foi fundada em 1894 pelos portugueses Joaquim Borges de Meirelles e Manoel José Lebrão. Sua construção tem ornamentação floral estilizada e um peculiar aspecto palaciano, que relembram os tempos de império do país. Os quatro andares possuem amplos salões decorados com espelhos bisotados (isto é, chanfrados com bisel), bancadas em mármore italiano, cadeiras, molduras e vitrines de jacarandá e palhinha, luxuosas luminárias e ricos entalhes de madeira. No quarto andar, há uma ampla claraboia em mosaicos coloridos que banha todo o restaurante com luz natural, fornecendo-lhe um ar ainda mais refinado. No fim de mais uma coluna, deixo o meu convite a todos os leitores: convoco-os a usufruir deste mágico lugar, como faço no exato instante em que escrevo esta matéria. Pois além dos lanches maravilhosos que a Colombo oferece, despedimo-nos daqui com a sensação de que a vida é bem mais doce após provarmos o delicioso pudim em calda com uvas passas. Aliás, confesso que também levo alguns docinhos no bolso do paletó para que não me falte nunca essa sensação. João Gardel UMA DOCE ARQUITETURA Justos Aplausos: por João Gardel Todo o charme e elegância da confeitaria mais refinada do Rio de Janeiro 16 A música escapa das salas de concerto. O cine- ma ganha cores e amadu- rece a ponto de começar a falar. A notícia é instantânea. Aparelhos como o rádio e a televisão estão em pleno andamento e podem apa- recer a qualquer momento na imprensa. Jornais e re- vistas aumentaram as suas tiragens. Os espartilhos são deixados de lado, as roupas femininas já descartam os pesados enfeites e focam-se no funcionalismo das peças. Depois da guerra, veio a di- versão. A vontade de viver todo e qualquer momen- to da maneira mais inten- sa possível. E os modos de comunicação acompanham essa energia que rege a se- gunda década do século XX. Paul Forman Godley, Mário de Andrade, Gabrielle Bonheur Chanel, John Lo- gie Baird, Walter Benjamin, Josephine Baker, Charles Spencer Chaplin, Gracilia- no Ramos, Tarsila do Ama- ral e tantos outros talentos DESVENDANDO O TESOURO DA COMUNICAÇÃO O MOVIMENTO PANDORISTA MERGULHA NO FUNDO DAS VANGUARDAS E TRAZ À TONA O MAIOR TESOURO DAS SETE ARTES: A POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO Por Preciosa Delon e Amélie Lepritié da década que se encerra ao fim deste ano constituíram o verdadeiro “Apogeu da Comunicação”, jamais visto em outros anos. Através de inéditos traços em desenhos, diferentes cortes nas roupas, animadas danças nos salões e modos de narração com- pletamente distintos de tudo o que já foi divulgado, o mundo cultural experimen- tou, a partir de 1920, cami- nhos da comunicação ini- magináveis há tempos atrás. Seguindo a tendên- cia do Manifesto Pandorista, pessoas de todos os ramos da arte buscam as mais legíti- mas formas de expressão. E todos esses meios de expor pensamentos e sentimen- tos merecem ser revelados à sociedade. Abrir a “caixa de Pandora”, descobrir os te- souros escondidos em meio a aparentes ferrugens e outros objetos oxidados que me- recem ser descartados e va- lorizar a arte genuinamente verdadeira é função de todo e qualquer pandorista. Atra- vés do cinema, teatro, pin- tura, da fala, desenho, dança, música, moda e até mesmo das construções dispersas pela cidade, estão presentes as intenções do autor da arte. O CINEMA APREN- DE A FALAR A introdução do som no cinema ainda provo- ca certo desconforto em muitos atores e cineastas. Incluir diálogos nos filmes pode destruir a personali- dade de certos personagens, prejudicar alguns atores e, ainda, acrescentar barrei- ras à universalidade que propicia o cinema mudo: a linguagem dos gestos. Ao lançar, há dois anos, o filme “The Jazz Sin- ger” (O Cantor de Jazz), a produtora Warner Bross lançou-se em um arrisca- do e desconhecido caminho. Mas a voz do protagonista, Al Jolson, ecoou pelas salas de exibição e encantou as plateias do mundo – fazen- Matéria Especial 17 18 Acima, cineastas em frente à Casa Branca; abaixo, damas brasileiras ouvem notícias no rádio do tanto sucesso que ajudou a salvar a War- ner da falência. Hoje, a produção de filmes falados já representa 51% das obras cinema- tográficas feitas em terras norte-americanas. A inserção do áudio é tão importan- te e vem contando com a adesão de tantos estúdios que está reformulando não só os fundamentos da linguagem cinematográfi- ca como também a forma de interpretação do público sobre as mensagens dos filmes. Sedutorase atraentes, as imagens acompa- nhadas de sonoridade produzem fascínio e aproximação com os espectadores, al- terando a forma de comunicação dos fil- mes que imperava há alguns anos atrás. OS APARELHOS QUE MUDA- RÃO O FUTURO Em julho no ano passado, o jornal inglês Television anunciou o incerto lança- mento de dois aparelhos que, segundo espe- culações, mudarão os ramos da comunicação no planeta. São eles: o rádio e a televisão. O primeiro não é figura nova no Brasil. Em 1922, um pequeno grupo de brasileiros privilegiados ouviu o pronun- ciamento do então presidente da Re- pública Epitácio Pessoa e a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes (que fora trans- mitida diretamente do Teatro Municipal). Cada vez mais popular como um meio de comunicação rápido e eficiente, o rádio adquire uma crescente importância na vida cotidiana dos brasileiros. O gran- de responsável por impulsionar essa difusão foi Roquette Pinto. Intelectual e visionário, ele convenceu a Academia Brasileira de Ci- ências a comprar os equipamentos necessá- rios para montar uma rádio genuinamen- te brasileira. Assim, em 1923, surge a Rádio 19 Sociedade do Rio de Janeiro. Inicialmen- te, a programação ainda era constituída de recitais de ópera, poesia e palestras cultu- rais. Tudo era mantido por doadores, já que ainda não havia permissão para a veiculação de publicidade. Somente em 1927 entraram em cena os anúncios, que ajudaram a man- ter as emissoras e a popularizar a progra- mação – já que o público ouvinte tornara- -se maior.cem fora da realidade brasileira. Ainda em fase experimental, esses aparelhos são capazes de transmitir imagens e sons em suas telas e prometem sublevar as relações entre público e notícia, emissor e receptor. Invenção brilhante, a televisão conta com o trabalho de inúmeros pesquisadores ao longo de vários anos e prepara-se para trans- formar as simulações de transmissão em situ- ações reais. As poucas pessoas que já tiveram acesso a tal fenômeno garantem que nunca viram nada mais hipnotizante do que uma TV. Resta a espera para a averiguação do fato. A década que termina neste ano viu nascer, entre tantas outras mani- festações artísticas, ideológicas e cul- turais, o som nos filmes, as narrações no rádio e as primeiras transmissões dos televisores de Baird. É custoso prever os rumos que a Comunicação das artes irá levar nos próximos anos. Contudo, se há algo certo e valiosís- simo é o legado que estes anos tão “loucos” terminam deixamna rela- ção interpessoal das novas gerações. Acima, cineastas em frente à Casa Branca; abaixo, damas brasileiras ouvem notícias no rádio 20 s20 Pele como porcelana, cabelos negros e lisos, olhos en- voltos em sombras e um talento inquestionável trans- formaram Louise Brooks em uma das personagens mais fascinantes do cinema moderno. Estrela em ascensão, Brooks chega às telas de cinema este ano protagoni- zando dois filmes do magnífico diretor George Wi- lhelm Pabst: Pandora e Diário De Uma Garota Perdida. Com interpretação naturalista e despojada em com- paração às demais atrizes americanas, a presen- ça magnética de Brooks pôde ser contemplada em O Drama De Uma Noite, de 1919, A Vênus Ame- ricana, de 1926 e vários outros belíssimos filmes de anos anteriores. Mas, ao que parece, somente ago- ra, em produções alemãs, Brooks tem consegui- do papeis protagonistas que fazem jus ao seu talento. Agora, na Alemanha, Louise Brooks une-se a George Pabst, grande nome do expres- sionismo alemão, e promete surpreender o público em suas novas e ousadas emprei- tadas cinematográficas – que já sofreram cortes em algumas cenas, . a depender do país em que são exibidas. Suas mais recentes personagens (Lulu, de A Caixa de Pandora e Thymian, de Diário de Uma Garota Perdida) abordam a vida de prostitutas e o meio ao qual suas situações degradantes se relacionam com a decadência geral da sociedade. A ácida crítica Lotte Eisner disse, certa vez: “Basta deixar que Louise evolua na tela, sem que seja necessário dirigi-la, pois sua simples presença realiza a essência de uma obra de arte”. Para o crítico surrealista Ado Kyrou: “Louise é a única mulher que possui o talen- to de transformar em obra prima qualquer filme”. Nem mesmo Henri Langlois escapou dos encantos de Brooks: “Sua arte é tão pura que se torna invisível”. Entre as gravações de A Caixa de Pandora e Diário De Uma Garota Perdida, a Paramount empenhou-se, de- sesperadamente, em fazer contato com Louise para que ela fizesse a sonorização de seus antigos filmes, propondo-lhe pagar quantias cada vez mais elevadas. Brooks recusou todas e, dizem, está sofrendo ameaças de Schulberg: “Volte ou você nunca mais trabalhará em Hollywood”. “Quem quer trabalhar em Hollywood?”, teria respondido ela. Diante das negativas, a Paramount chamou Margaret Livingston, que realizou uma das piores dubla- gens da história em O Drama De Uma Noite. Seria essa a vingança de Louise? Artista de real merecimento e talento esplêndido, é impossível ignorar a singular vida pessoal de Brooksie (como dizem os mais chegados): amiga de Peggy Fears e Pepi Lede- rer, já foi namorada de Charlie Chaplin. Corre o mundo que a atriz também teria passado “uma noite experimental” com Greta Garbo. Cintilante, leve e dona de uma personalidade de extrema intensidade, essa é Louise Brooks: um dos maiores talentos que Hollywood já deixou escapar. LOUISE BROOKS A ESTRELA QUE DISSE NÃO A HOLLYWOOD NOTÍCIAS DE CINEMA 20 21 Filme Barro Humano O primeiro filme de ro- teiro e direção de Adhemar Gonzaga possui um elenco repleto de beldades como Lelita Rosa, Gracia More- na, Eva Schnoor e Carmen Violeta. Relata a história de um rico jovem dividido entre três mulheres: uma desperta-lhe amor; outra, pecado; e a terceira é desi- ludida amorosamente. Um drama de criaturas reais que amam, odeiam, pecam e se arrependem. Filme Acabaram-se Os Otários No segundo semes- tre deste ano estreará o primeiro filme falado do cinema brasileiro: Aca- baram-se Os Otários. A produção de Luís de Barros, estrelada por Ge- nésio Arruda e Tom Bill, é baseada na história do escritor paulista Menotti Del Picchia e narra o caso de dois caipiras e um co- lono italiano que chegam a São Paulo e são enga- nados por malandros. PALPITES DO MÊS Na presente gravura é possível ver a primeira cerimônia de entrega dos Prêmios de Méri- to da Academia, no Hotel Roosevelt, em Hollywood Idealizada em 1927 por Louis B. Mayer, a Academia de Artes e Ciências Cinemato- gráficas entregou, no último dia 16 de maio, troféus para filmes da temporada 1927/28. A apresentação do evento foi feita pelo astro e presidente da Academia, Douglas Fairbanks e pelo esplêndido diretor William C. DeMille, contando com 250 convidados para um luxu- oso banquete. Também chamado informalmente de Oscar, o Prêmio de Mérito da Acade- mia nomeou Aurora como Melhor Filme, Asas como Melhor Produção, Paixão e Sangue como Melhor Roteiro Original, Emil Jannings como Melhor Ator, Janet Gaynor como Melhor Atriz, dentre outros. Com real merecimento O Circo, de Charlie Chaplin, dividiu o prêmio especial de Menção Honrosa com O Cantor de Jazz, de Alan Crosland. Entre as inúmeras celebridades presentes, encontravam-se a “namoradinha da América” e mulher de Douglas Fairbanks, Mary Pickford, além de Gloria Swanson, Louise Dresser e Ted Wild. s20 22 Mary Pickford Atriz mais bem remunera- da do cinema, a “namora- dinha da América” cortou seus famosos cachos e de- clarou-se contra o cinema sonoro: “Adicionar som a filmes seria como colocar batom na Vênus de Milo”. CELEBRIDADES CINEMATOGRÁFICAS E O NOVO CINEMA Charlie Chaplin O famoso Carlitos não se abala com o surgimen- to de um novo cinema e, aparentemente, irá man- ter a resistência: “A açãoé, geralmente, mais entendida que as palavras e o cinema é uma arte pictórica”. Laurel e Hardy Em março deste ano, o “Gordo e o Magro” entra- ram em estúdio para gravar seu primeiro filme falado, Vizinhas Camaradas, e, di- zem, suas vozes são mais en- graçadas do que se imagina! O sotaque britânico de Stan fornece franca hilaridade extra às palavras. Norma Talmadge Apesar de ter trabalhado com os melhores treinado- res de voz e uma boa atu- ação em seu primeiro fil- me falado, Noites de Nova York, a elegante Norma parece não se adaptar ao novo cinema: o filme Du- Barry, Mulher de Paixão foi um fracasso. Olga Baclanova Musa do notável sucesso As Docas de Nova York e O Homem Que Ri, a “Ti- gresa Russa” não está se adaptando muito bem ao cinema falado devido ao seu inglês com forte sota- que russo. Douglas Fairbanks O “Rei de Hollywood” e eterno Zorro tem tido di- ficuldade para decorar suas falas dos filmes sonoros. Apesar disso, ainda este ano será lançado A Máscara de Ferro, filme em que é pos- sível ouvir sua voz no pró- logo e epílogo. 23 Por dentro, modernas, de espírito li- vre, graciosas e espontâneas. Por fora, pernas e braços à mostra, cabelos curtos à la gar- çonne, bocas e olhos bem marcados, pele alva e sobrancelhas delineadas a lápis. Essas são as melindrosas, figurinha fácil nos centros urbanos de nossa década e, no final desta, dedicamos este artigo a elas. Tudo começou na França, mais pre- cisamente em Saumer, no ano de 1883, quando nascia Gabrielle Chanel, hoje co- nhecido como Coco Chanel. A menina pobre, criada em orfanato, hoje veste as mu- lheres mais chiques do mundo e é um ícone da moda dos anos 20. Arriscamos dizer, aliás, que Chanel veio para ficar e nossas gerações vindouras falarão e vestirão o nome dela A estilista abandonou o corsete e adotou a maneira elegante e ao mesmo MELINDROSAS: UM RETRATO DA NOSSA DÉCADA O ESTILO QUE INICIOU EM 1920 CONTINUA À TODA! tempo confortável de vestir, contribuindo diretamente para a composição do estilo de vida das melindrosas. Elas precisam movi- mentar-se livremente, olhar para frente e sentir-se desejadas. Para isso, recorrem às criações de Chanel que oferecem cortes simples usando tecidos leves, usam os cha- péus tipo cloche que se ajustam à cabeça, e saias mais curtas. As melindrosas estão presentes nas principais cidades. J. Carlos, um de nossos grandes ilustradores tem verdadeira adoração por elas e foi o primeiro artista a ilustrá-las. “A melindrosa é uma figurinha essencialmente decorativa. Enfeita a cidade. Gosto de pintá- -la!” Disse ao jornal “O Jornal”, em 1926. E você, concorda com o artista? Na próxi- ma página oferecemos uma gama de fotos e ilustrações dessa figura icônica para você conferir. Identifique-se, inspire-se, admire! Charmosas melindrosas passeando pela Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro Moda 24 INSPIRAÇÕES 25 APOSTA Mena Fiala: a talentosa jovem pe- tropolitana. Philomena Pagani Seller nasceu em Petrópolis, a 05 de julho de 1908. Com apenas 20 anos a modista já é uma apos- ta da moda brasileira. Mena Fiala, como é mais conhecida, começou a trabalhar con- feccionando chapéus, uma arte que apren- deu com as irmãs Falconi. Ao casar-se com o austríaco Anton Fiala, em 1928, D. Mena mudou-se para o Rio de Janeiro, para nossa sorte. Seu ateliê de chapéus está lo- calizado na Rua Sete de Setembro e conta com clientes da alta sociedade. Tudo indica que a jovem ainda contribuirá muito para a moda brasileira. Vamos aguar- dar Mary Pickford: a atriz se rendeu ao corte à la gar- çonne. Renda-se também! Gladys Marie Smith, de nome artístico Mary Pickford, é a queridinha da América. A atriz foi descoberta pelo gênio do cinema, David Griffith e já filmou mais de cem filmes. Além de todo seu talento, a estrela é também um ícone de estilo para muitas mu- lheres. Conhecida como “A moça com os ca- chos” foi com grande surpresa que o mundo assistiu a artista adotar o corte à la garçonne. O termo surgiu no romance “La Garçonne”, de Victor Margueritte, em que a heroína usava cabelos curtos e roupas mas- culinas. É um símbolo da mulher ativa e mo- derna de nossa época. O corte popularizou- -se depois da guerra, quando as mulheres se viram sozinhas em casa e precisaram ir traba- lhar em fábricas e indústrias para manter-se. Daí a necessidade de cortar os cabelos bem curtos, para facilitar esse novo dia-a-dia. De necessidade a estilo, foi um pulo! Se até a “moça dos cachos” adotou, quem somos nós para resistir? Você já reparou nos olhos das es- trelas do cinema? Provavelmente sim, pois eles são extremamente expressivos. Tal ex- pressividade não se deve apenas ao talen- to das moças, mas também às sobrancelhas delineadas a lápis e olhos bem marcados. Para copiar o estilo, é bem simples. Basta ter um pouco de atitude e raspar a sobrancelha, fazendo um delineado dela no lugar. Para completar, marque bem os olhos com lápis e se quiser ousar ainda mais, capriche na boca de carmim, desenhando um coração. DICAS DE MODA 26 Charleston A Grande Guerra acabou e deixou marcas de alegria em nossos companhei- ros norte-americanos. Vitoriosos, eles ce- lebram da melhor forma o fim de tempos difíceis: dançando. Em Charleston, na Ca- rolina do Sul, uma dança popular, apesar de ser de origem afro-americana, faz sucesso na cidade. Assim, o ritmo chegou às grandes telas do cinema no musical “Runnin Wild” estrelando a belíssima Josephine Baker. Na música “The Charleston” a artista mostra, com muito talento, a dança que ganhou o mesmo nome da cidade. O ritmo é enérgico e utiliza os pés e as mãos. Com movimentos de braços con- trários aos das pernas, as quais se cruzam num balanço para frente e para trás, o dan- çarino pode aproveitar sozinho ou com um companheiro. Pistas de clubes são lugares perfeitos para achar seu par, já que elegan- tes rapazes e belas melindrosas estão sempre aproveitando a noite. O espetáculo teatral “Dinah”, em Nova York, traz para toda sociedade a dança que se tornou uma sensação atual. Ela é originária de New Orleans, mas tomou conta dos Estados Unidos e está se espalhando para outros países. No teatro Apollo, na cidade de Harlem, a bailarina Ann Penning- ton interpreta esse bailar desde o ano passado. O Black Bottom é uma dança alegre com marcações bem definidas. O dançarino deve es- tar a todo o momento quicando: dar pequenos chutes com a perna no ar nas diagonais frente e trás, levantar o joelho encurvando as costas e empurrá-lo simultaneamente, cada perna de uma vez. É mais comum dançá-la sozi- nho, mas nada impede a formação de pares ou grupos para tornar tudo mais divertido. Black Bottom Dança 27 Josephine Baker A “Deusa de Ébano” nascida em Saint Louis, no Missouri, aprendeu a dançar nas ruas, casas e quintas da sua cidade. Batalhando muito e sempre em busca de trabalho, alcançou grandes conquistas por conta do seu talento que, agora, está se espalhando pelo mundo. Começou sua carreira numa trupe de circuito negro de teatro de variedades, os Dixie Steppers. Com a falência dos mesmos, pegou o pouco dinheiro que tinha e foi para Nova York tentar atuar no grupo de teatro negro Shuffle Along. Depois de fazer o teste, conseguiu uma vaga de coadjuvante. Passado o tempo, com o fim do grupo, entrou em outro show da companhia The Chocolate Dandies, na qual ganhava um dos maiores salários. Cada vez mais, ela se destacava e crescia no cenário mundial. Isto porque, quando a companhia Dandies encerrou suas atividades e ela foi para o Plantation Club, na esquina da Broadway Street, lhe foi oferecida uma chance. Apesar de sua fama ser feita pela es- tranha capacidade defazer movimentos mi- rabolantes com o corpo e, ao mesmo tempo, manter seus olhos vesgos, foi convidada para o espetáculo de La Révue Nègre, na França. A estreia na Cidade das Luzes foi no dia 2 de outubro de 1925, no teatro Champs-Élysées. Moderna e eletrizan- te, Joshepine contagiou plateias com a sua dança enérgica, sempre sorrindo e explo- rando todos os espaços existentes no pal- co. Ela transbordava liberdade, vitalidade e, principalmente, novidade ao público fran- cês. O jazz, o black bottom e o Charleston faziam parte do seu repertório. São dan- ças que utilizam todas as partes do cor- po, sempre muito puladas e muito rápidas. Usar muitas roupas não é uma das características de Baker. A “Vênus Ne- gra” sempre gostou de mostrar a sensu- alidade do corpo, apesar de ser criticada. Agora, ainda residente na França, faz sho- ws no Cassino de Paris e no Follies Ber- géres quase desnuda, somente com tangas e acessórios feitos com frutas. Dança, na maioria das vezes, com os seios à mostra. A dançarina já disse que futuramente fará apresentações fora da França e viajará pela Europa. Há rumores de uma apresen- tação na América do Sul e, quem sabe, no Brasil. Porém, com apresentação ou não, ela confirmou sua vinda ao Brasil e na, próxima semana, ministrará aulas no Rio de Janeiro. 28 Local: Academia de Dança Carmem Miranda Rua do Ouvidor, número 20, Centro, Rio de Janeiro. Imperdível: aulas com Josephine na Capital A ilustre Josephine Baker chega em nosso país na próxima semana para uma oficina de dança. Serão três dias: nos dois primeiros, ela ministrará uma aula com duração de duas horas cada e no último haverá uma competição, na qual ela será jurada. Os interessados em participar da com- petição devem informar na hora da inscrição no curso. Haverá prêmios para primeiro, segundo e terceiro lugares. Maiores informações no local. Dia / hora / modalidade: 07/06: 14 horas – Charleston 08/06: 14 horas – Black Botton 09/06: 16 horas – Competição 29 SAMBA A NOVA ARTE BRASILEIRA GANHA VOZ Mudanças importantes começam a ocorrer na realidade carioca e, posteriormente, no país. Percebe-se a ascensão de um novo ritmo que cativa e encanta um número crescente de pessoas e adquire, aos poucos, o seu espaço: é o Samba. No dia 20 de janeiro deste ano, ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro o I Concurso Entre Escolas de Samba do Brasil. Um ritmo novo, oriundo das classes menos favorecidas, construído com elementos peculiares da influência africana aos cidadãos alforriados. O samba já conta com suas primeiras escolas, onde tal legado começa a ser passado de geração a geração e festejado em rodas de lazer e reflexão, chamadas pelos próprios constituintes do movimento como rodas de samba. Contrariando a opinião de diversos estudiosos, críticos de cultura e alguns membros da sociedade, o samba não é composto apenas por batuques sem razão ou raras referências ideológicas. Muito menos seria um movimento desprezível, elaborado pelos netos ou bisnetos dos antigos escravos. Existe, nessa música, uma espécie de contágio irresistível que leva até o mais sisudo dos cavalheiros a testar seus dotes rítmicos; conduz a mais séria das damas a movimentar, discretamente, seu corpo para acompanhar a alegria que a melodia irradia. No primeiro concurso de sambas, a vitória foi dada ao bloco carnavalesco Conjunto Oswaldo Cruz, deixando as demais participantes – Mangueira, Estácio e Unidos da Tijuca – a ver navios. Mas, ao que parece, os pioneiros desse ritmo estão empenhados em levar o samba a um status mais elevado: os preparativos para os novos enredos do ano que vem já começaram. Paulo Benjamim de Oliveira, Paulo da Portela para os mais próximos, é o fundador da escola da samba campeã deste ano: Conjunto Oswaldo Cruz. Na manhã de um domingo, embalando uma calorosa roda de samba instalada em sua casa, Paulo da Portela recebe a equipe da Pandora para um cativante almoço acompanhado por prosas serenas. O sambista explica a mudança de nome da agremiação (agora chamada Portela), conversa sobre essa nova vanguarda criada por ele e alguns amigos (Natal e Heitor dos Prazeres) e as suas pretensões no cenário musical brasileiro. Roda de Samba, quadro pintado pela promessa baiana das artes, Carybé Música 30 Pandora: Antes das outras perguntas, não posso deixar de demonstrar-me admirado com os teus trajes. O que te leva a vestires-te de forma tão elegante em um lugar simples como este? Paulo da Portela: Uso terno, gravata e chapéu, assim como vários dos meus companheiros. Não gosto de ver a comunidade comportando-se mal e procuro dar um bom exemplo ao povo. Acredito que o samba é importante e é uma forma de representação da gente do subúrbio. Não quero que a imagem do sambista torne- se algo como “um malan drovadio perse- guido pela polícia”. P a n d o r a : Também não posso deixar de mencionar as letras das tuas canções. Apesar da baixa e s c o l a r i d a d e e adversas condições de vida, consegues expressares-te muitíssimo bem. Paulo da Portela: Agradecido. Procuro ler muito. De todo e qualquer material que pouse sobre minhas mãos, procuro extrair alguma coisa. Acredito que as minhas letras exprimam o jeito simples da vida suburbana, cantem o amor da forma mais singela e terna. Pandora: Onde pretendes chegar com o samba? Achas possível que esse gênero ganhe força entre as outras classes e culturas e popularize-se na cultura brasileira? Paulo da Portela: Tenho consciência de que isso que fazemos é rico, poderoso. Afinal, a alma do povo está no samba. Gosto de ver os pés e os pescoços das pessoas ocupados. Não posso prever o que acontecerá e dizer se o samba será apenas mais um movimento musical sufocado ou se perdurará na realidade do país. Mas espero que a sociedade enxergue a preciosidade que está nesse tipo de música para além das condições so-ciais ou estéticas desse ritmo. O samba consegue levar felicidade através de um simples acorde. E é isso que eu espero que os outros enxerguem. Pandora: Pensas em viver do samba? Isto é, usar a música como instrumento de trabalho? Paulo da Portela: Bem, aqui não fazemos música para ganhar dinheiro ou para ser melhor que alguém. Não penso em enriquecer com o samba e acredito que ninguém aqui pense isso. Tenho consciência de que a arte que fazemos é rica e pode tornar- se profissional. Eu apenas quero emergir a voz do povo. Quero cantar as necessidades do morro, o pensamento do subúrbio. Mas, acima de qualquer interesse social ou financeiro, quero cantar as causas humanas, as dores e alegrias de quem ama, de quem sofre e de quem chora. Pandora: Notei que as pessoas que aqui estão, utilizam muito a palavra “majestade’’ para se referirem ao senhor. És o criador dessa agremiação? Paulo da Portela: [risos] Majestade é um apelido carinhoso que damos à nossa escola. Portela: a Majestade do samba. Ao observar a fluidez dos acontecimentos na roda de samba e na simples – mas animada – casa de Paulo da Portela, percebe-se que a história dessa arte não há de ser breve. Uma nova linhagem cultural surge não só nos subúrbios cariocas, como no país. Talvez os moradores de Madureira e Oswaldo Cruz não tenham muita noção da revolução que estão propondo, mas o fato é que esse ritmo (entre outros), de cunho extremamente popular, está assustando alguns, encabulando outros e até mesmo horrorizando parte da sociedade. Entretanto, outra grande parte da população vem sendo conquistada pela boa música feita no quintal e rodeada de requebrados febris das suntuosas mulatas. A influência indígena e africana nos acordes, tambores e melodias mescla sorrisos, simpatiae a felicidade, tão típica do povo brasileiro. III FESTIVAL BRASILEIRO DE CHORO A Secretaria Municipal de Música Popular divulga seu III Festival Brasileiro de Choro. O evento acontecerá no dia 1º de ju- nho, a partir das 17h, na praça XV de No- vembro, localizada em frente ao Paço Impe- rial (próximo à Igreja da Candelária). Sendo um dos eventos mais aguardados do calen- dário cultural da cidade, a grande expectativa do festival será a apresentação de uma roda de choro pelos Batutas. Liderado por Pixingui- nha, o grupo, que divide opiniões na crítica e imprensa brasileiras, promete novas versões dos sucessos “Carinhoso” e “Lamentos”. Ambas as canções, gravadas no fim do ano passado, dividiram a percepção da críti- ca sobre o formato e a estrutura sono- ra do choro de Pixinguinha e Os Batutas. Após a viagem de 1922 a Paris, os músicos colheram referências e influências musi- cais, criando uma espécie de choro brasileiro miscigenado ao jazz europeu. Pois bem: no próximo dia primeiro, cada cidadão poderá tirar as suas próprias conclusões sobre o re- sultado dessa exótica mistura de estilos. 31 32 CARTAS DOS LEITORES SUGESTÕES, DÚVIDAS, CRÍTICAS E OPINIÕES DOS LEITORES DA PANDORA Foi inaugurada, no dia 15 do mês corrente e estará aber- ta até a próxima semana, a ex- posição de pintura de Cândido Portinari: o artista laureado que brevemente partirá para a Euro- pa, viagem recebida como prê- mio da Escola Nacional de Belas Artes. A solenidade estreante da exposição do jovem pintor bra- sileiro, no salão do Palace Hotel, constituiu um acontecimento de arte e elegância. A ilustre e já notável pia- nista Maria Antônia estreará, com um recital, a temporada lírica do Theatro Municipal. Apesar de sua juventude, ela pôde aperfei- çoar os seus estudos na Europa e, como se isso não satisfizesse, se fez ouvir em diversos concertos, tendo sido aplaudida com en- tusiasmo. Há, por isso, nas rodas artísticas do Rio, um grande in- teresse pelo seu recital. No próximo mês, a mul- tiartista afro-americana Jose- phine Baker virá ao Brasil para uma temporada de apresenta- ções, que estão previstas para o Rio de Janeiro - no Teatro Cassino - e também para São Paulo. Josephine Baker Na sua Festa de Outono, que se realizou sexta-feira (24) à noite na sede da “Cruzada Espi- ritualista”, o Grêmio Carioca de Letras e Artes recebeu a célebre escritora Rachel Prado. Nes- se cenário, a senhorita realizou interessante palestra, subordina- da ao tema: “O Valor da Arte e das Letras em todos os tem- pos”. Acaba de ser finaliza- da, na Praça Mauá, a constru- ção do pomposo arranha-céu “A Noite”, de 22 andares, que será a nova instalação dos nossos colegas do jornal homônimo. Predizendo ser a maior construção de concreto armado de todos os tempos, o projeto estrutural foi assina- do por Emílio Baumgart e o projeto arquitetônico por Eli- siário da Cunha Bahiana e Jo- seph Gire - arquiteto francês que projetou o Copacabana Palace Hotel há alguns anos atrás. A inauguração, no dia 25, foi uma solenidade graciosa que acolheu grande parte do jornalismo carioca, além de ícones de alta representação do mundo das finanças, política, letras e das artes que se aprouveram com a vista deslumbrante para a Baía de Guanabara. Zilah de Moura Brito é a jovem pianista auferida da Medalha de Ouro do Instituto Nacional de Música que, no próximo sábado, 1° de Junho, realizará um recital no salão nobre do mesmo Instituto. A artista brasileira interpreta- rá Bach, Beethoven, Chopin, Brahms, Strauss, Charley La- chmund, Gernshein e Liszt. O Club dos Bandei- rantes ofereceu uma homena- gem à Miss Paraná, a senho- rita Didi Caillet, que resultou em uma peripécia mundana de grande brilho. A esse encon- tro compareceram as misses Rio Grande do Sul e Minas Gerais e, ainda, as figuras mais distintas da nossa alta sociedade. Didi Caillet A grandiosa e magnífica exposição de rádio, inaugura- da no dia 16 do atual mês nos amplos salões do Beira-Mar Casino, ultrapassou a melhor expectativa dos dignos e esfor- çados promotores desse empre- endimento. O êxito obtido, não só pelos resultados mais diretos e imediatos como também pelo aspecto imponente que ofere- ce a exposição à curiosidade da grande massa que ali tem com- parecido, foi bem maior que o previsto. Fizeram-se representar diversas empresas desta capital, notadamente a Philips do Bra- sil S. A., que tanto tem contri- buído para o desenvolvimento e progresso da radiotelefonia neste lugar, além de inúmeras outras companhias. O cineasta, roteirista e es- critor Mário Peixoto regressou de sua viagem ao Velho Mundo, na qual diz ter se inspirado para realizar uma produção cinema- tográfica de vanguarda que se chamará Limite. Sociedade 33 Curiosamente, esse ano chega às telas um filme alemão de nome A Caixa de Pando- ra, estrelado pela talentosa Louise Brooks (como pode-se averiguar na página 20). Pandora, editora, redatores, corretores, repórteres, fotógrafos e demais partici- pantes da equipe: parabéns pela revista tão esplêndida que vocês fazem! Atra- vés dela tomo conhecimento das últimas inovações estéticas e ideológicas em to- dos os ramos da cultura. Justos aplau- sos à revista mais completa da nação! Confesso que sou uma nervosa admira- dora da equipe que dá vida à Pandora. Olga Maria Pinheiro, 19 anos – Rio de Janeiro Derretemos-nos em agradecimento pe- los seus elogios, Olga! Para informar leitores tão dedicados como você é que fa- zemos a Pandora com todo o carinho e competência que nos cabe. Agradecidos! Cumprimentos à revista Pandora! Soli- cito a vocês mais informações sobre as melindrosas. Adoraria saber mais de- talhes dessa moda e fazer parte das da- minhas mais espirituosas da sociedade. Ana Francisca Peixoto, 21 anos – Petrópolis Querida Ana Francisca, a redatora Amélie Lepritié preparou uma matéria especialís- sima sobre as figurinhas mais originais da década. É possível descobrir segredos de be- leza e vestuário nas páginas 23 e 24 desta edição. Mande também a sua correspondência para a Pandora: Editora Otelo Castro (Gabinete Pandora) Avenida Rio Branco, nº 726, sala 5 Centro da Cidade - Rio de Janeiro, RJ Olá, redação! Desde que me tornei leitor assíduo da revista, pergunto- -me o porquê do nome Pandora. Há algum motivo específico para esse tí- tulo? Aproveito para parabenizar as pu- blicações, sempre tão modernas e re- pletas de interessantíssimos assuntos. Danilo Alves Nascimento, 27 anos – Cabo Frio Ficamos gratos pelo elogio, Danilo! Sobre o nome da revista, rondam as mais diver- sas teses e opiniões nos bastidores de nossa redação. Mas segundo o jornalista Ote- lo Castro, grande idealizador e primeiro editor da revista, o nome procede da anti- ga lenda grega sobre a caixa de Pandora. Na mitologia da Grécia, Pandora foi a pri- meira mulher criada por Zeus e que aos nove anos ganhou uma caixa do pai, na qual po- deria guardar todos os bens do mundo, con- tanto que não fossem materiais. Certo dia, a jovem guardou no caixote um colar que recebeu de presente de seu pai, Zeus. O que para ela tinha valor sentimental, na ver- dade tratava-se de um bem material que, ao entrar em contato com a arca, autodestruiu- -se. Desde então, a caixa não pode mais ser aberta, com o risco de liberar à humanidade diversas informações (algumas malignas). Portanto, o nome Pandora faz referên- cia a algo que gera curiosidade, que é me- lhor não ser revelado. E a função que nós, como jornalistas, temos é essa: “abrir a caixa de Pandora” e revelar ao público to- das as formas de expressão artística pos- síveis. Ousadas, inovadoras, tradicionais ou formais, todas as notícias, ideologias,modas e mistérios que rondam a cultura mundial merecem ser libertados para os leitores julgarem-nos como lhes convir. CARTAS DOS LEITORES SUGESTÕES, DÚVIDAS, CRÍTICAS E OPINIÕES DOS LEITORES DA PANDORA Correspondência 34 Lazer Verticais: 3. Utilizado nas artes plásticas por Pierre Laurent, o novo estilo busca inspiração nas mais pri- mitivas formas de representação humana. 4. Ideologia defendida pela revista Pandora, que visa revelar à sociedade todas as diferentes for- mas de expressão cultural. 7. Gênero teatral que abusa do humor e provoca risos na plateia. 8. A multiartista afro-americana de sobrenome Baker, que virá ao Bra- sil para uma temporada de aulas e apresentações. Horizontais: 1. Estilo de dança que envolve mo- vimentos rápidos das mãos e pés, criado pelos negros americanos. 2. Figurinhas fáceis nos centros ur- banos, são moças modernas, gracio- sas e espontâneas. 5. Sobrenome comum aos mais po- lêmicos artistas do Modernismo brasileiro. 6. Ritmo genuinamente brasileiro que mistura instrumentos indígenas e influências africanas. Por que o namoro da goiabada e do queijo não deu certo? Porque o queijo era fresco. Qual o castigo da bigamia? Ter duas sogras. O que o livro de Matemática disse para o de Português? Pare de contar historinhas porque eu já estou cheio de problemas. PIADINHAS
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