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Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 1 CONSTITUIÇÃO E COMPONENTES DO SOLO O solo é composto por três fases: sólida, líquida e gasosa (Figura 1.). Sólida: composta por partículas minerais e matéria orgânica. Líquida: água do solo. Gasosa: ar do solo. Figura 1. Proporções dos componentes do solo. Os minerais já foram discutidos, desta forma, vamos concentrar o foco na matéria orgânica do solo, água e ar do solo. A água e o ar estão contidos nos poros do solo e são variáveis de acordo com as condições, principalmente de chuvas e radiação solar. Por exemplo: após uma chuva ou irrigação os poros do solo estarão quase totalmente preenchidos por água. Quando o solo seca por conta da incidência da radiação solar o solo seca, aumentando a proporção de ar nos poros do solo e diminuindo a proporção de água. O ideal para as plantas é uma condição em que a água e o ar ocupam proporções semelhantes e estão ocupando todos os poros do solo. 1. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) A matéria orgânica do solo (MOS) é proveniente da adição de restos de origem vegetal e animal sobre o solo. Esta adição pode ser natural (folhas, raízes, caules, frutos, restos de pequenos animais, etc.) ou artificial (aplicação de estercos ou palhadas). O ciclo do carbono é responsável pelas transformações que ocorrem no material orgânico (Figura 2). As plantas assimilam gás carbônico (CO2) da atmosfera e juntamente com a água e os nutrientes que são absorvidos do solo, sintetizam compostos carbônicos que formam as plantas (carboidratos), que após serem incorporados ao solo são decompostos por microrganismos. Os restos orgânicos decompostos formam o húmus, que libera nutrientes minerais para o solo por meio do processo denominado mineralização. Este processo é acelerado em condições de elevada temperatura, umidade e aeração, pois nestas condições, a atividade dos microrganismos é privilegiada. Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 2 Figura 2. Ciclo do carbono. Húmus São as partículas mais estáveis da MOS e funcionam de maneira semelhante aos argilominerais por serem capazes de adsorver e trocar cátions. Por isto, é considerado um colóide, com cargas elétricas negativas na sua superfície maiores que as dos minerais de argila, melhorando a capacidade do solo em “segurar” nutrientes. Portanto, a MOS é um componente totalmente desejável e importante para os solos agrícolas. Outros Benefícios da MOS Além de melhorar as propriedades químicas do solo, por meio da formação do húmus, a MOS tem função de “cimentação”, que melhora a formação dos agregados do solo elevando o potencial de retenção de água do solo. Outro benefício é a maior atividade de microrganismos do solo quando há incremento de MOS, estes se “alimentam” dos materiais orgânicos decompondo-os. Além disto, alguns destes microrganismos são benéficos para a nutrição das plantas: As plantas não são capazes de utilizar o nitrogênio atmosférico (N2), que compõe 70% do ar. Alguns microrganismos “fixam” o nitrogênio atmosférico em moléculas de amônio (NH4), que são disponibilizados pelas plantas como fonte de nitrogênio. Os principais microrganismos que apresentam esta função são os do gênero Bradyrhizobium, que atuam em plantas leguminosas. 2. ÁGUA DO SOLO O solo tem a capacidade de reter água por determinado tempo após uma chuva ou irrigação. Esta água pode ser absorvida pelas plantas, que após utilizá-la em seu metabolismo, devolvem uma porção para atmosfera na forma de vapor (processo de transpiração das plantas). Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 3 A água que está no solo e não foi utilizada pelas plantas, pode ser “perdida” por percolação, que é a descida de água no perfil do solo em profundidade pela ação da gravidade ou pode ser evaporada das camadas superficiais do solo (Evapotranspiração: evaporação da água do solo + transpiração das plantas). Quando a planta absorve a água do solo ou ela é perdida por percolação, os poros vão se esvaziando e pode ser reposta de maneira natural (chuvas) ou artificial (irrigação). O solo apresenta três estados de umidade: a) Solo Molhado: todos os poros estão preenchidos com água e o ar está praticamente ausente. Quando isto acontece, a água contida nos poros maiores é drenada para baixo ou para o lado. Esta água é denominada “gravitacional”, pois infiltra no solo sob a ação da gravidade. b) Solo Úmido: os macroporos estão preenchidos por ar e os microporos por água. Esta água que fica retida apenas nos microporos é denominada “capilar”, pois fica retida no solo com força suficiente para vencer a força da gravidade, mas, esta força não impede a raiz de extraí-la. Esta é a porção da água que está disponível para a planta. Os solos de textura arenosa tem baixa capacidade de armazenar água deste tipo, pois apresentam maior proporção de macroporos em relação aos microporos. Textura argilosa e elevado teor de matéria orgânica no solo incrementam a retenção de água no solo, pois apresentam maior proporção de microporos. c) Solo Seco: mesmo aparentemente seco, o solo pode ainda conter certa quantidade de água, mas, sob a forma de películas extremamente finas ao redor das partículas coloidais. Esta água é retida com força superior à capacidade de extração das raízes das plantas, sendo denominada “higroscópica”. Na figura 3 está a representação das formas de água no solo. Figura 3. Formas de água no solo: gravitacional, capilar e higroscópica. De acordo com esta classificação da água do solo em gravitacional, capilar e higroscópica, duas outras características do solo devem ser estudadas, principalmente por serem diretamente relacionadas com a prática de irrigação. São elas: capacidade de campo e ponto de murcha permanente (Figura 4). Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 4 Capacidade de campo (CC): é a quantidade de água no solo após ter sido drenada a água gravitacional. É a capacidade máxima de água que um solo pode reter em condições normais de campo. o O movimento descendente da água pela ação da gravidade é menor que o ascendente em direção à planta. Ponto de Murcha Permanente (PMP): é o conteúdo de água no solo no qual as folhas de uma planta que está em crescimento sobre ele, pela primeira vez, apresenta murchamento irreversível, mesmo colocando-a posteriormente em uma atmosfera saturada por água. o Ponto onde ocorre a quantidade mais baixa de água disponível para as plantas. o Corresponde a aproximadamente 50% da capacidade de campo. Variando de 40% em solos de textura arenosa a 60% em solos de textura argilosa. o É normal que a planta apresente murcha durante o dia sob elevada temperatura, mas, recupera-se durante a noite em condições mais favoráveis, por exemplo, a menor temperatura. Quando ocorre o PMP a taxa de absorção de água pela planta fica tão baixa que perde sua habilidade de recuperação e não consegue se recuperar do estresse hídrico. Figura 4. Capacidade de campo e ponto de murcha permanente relacionados com água gravitacional, higroscópica e gravitacional. A água retida no solo contém nutrientes, oxigênio e gás carbônico, formando a solução do solo (Figura 5). A quantidade e o tipo de elementos queestão contidos na solução do solo dependem dos elementos que estão adsorvidos nos coloides do solo (CTC). Os coloides do solo “guardam” os nutrientes e a solução do solo é o veículo que transporta estes nutrientes até as raízes das plantas. Os nutrientes presentes em maiores quantidades nos coloides do solo estão, também, em maiores quantidades na solução do solo. Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 5 Figura 5. Solução do solo. A planta pode alongar o sistema radicular em busca de água. A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) é onde se encontra mais de 80% do volume das raízes da planta cultivada (Figura 6). É uma característica importante na determinação da lâmina de água no solo para irrigação e para instalação de sensores no solo com objetivo de medir sua tensão (verificação da força com que a água está retida ao solo). Figura 6. Profundidade efetiva do sistema radicular (Z). Na tabela 1 estão contidos os valores de Z para algumas das plantas comercialmente cultivadas no máximo estádio de crescimento vegetativo. Tabela 1. Profundidade efetiva do sistema radicular (Z) de algumas culturas. Curso: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Disciplina: Solos - Aula 4 Professor: Rafael Henrique P. dos Reis 6 Cultura Profundidade do sistema radicular (cm) Cultura Profundidade do sistema radicular (cm) Abacaxi 20 Mamão 50 Algodão 70 Milho 40 Arroz 25 Pepino 30 Batata 20 Soja 50 Café 50 Tomate 50 Cana-de-açúcar 70 Trigo 35 Citros 60 Feijão 40 Pastagem 30 Banana 40 3. AR DO SOLO Situa-se nos macroporos e microporos do solo, entretanto, pode estar também dissolvido na água do solo na forma de bolhas de ar. À medida que a quantidade de água aumenta no solo, a quantidade de ar tende a diminuir, pois a água ocupa o espaço onde estaria o ar. No ar do solo há maior quantidade de gás carbônico (CO2), pois as raízes e os microrganismos respiram o oxigênio (O2) e liberam gás carbônico. As raízes precisam de oxigênio para produzir energia que é utilizada para absorver os nutrientes da solução do solo. Algumas plantas são mais tolerantes à baixa quantidade de ar no solo (exemplo: arroz). No entanto, não toleram a ausência completa de oxigênio. Um exemplo disto é a necessidade de oxigenar a água por meio da injeção contínua de ar em cultivos hidropônicos. Outra informação importante é que 70% do ar é composto por nitrogênio (N2), mas, a planta não tem a capacidade de utilizar diretamente esta fonte de nitrogênio (elemento essencial para as plantas). Para isto, muitas delas fazem associação com microrganismos capazes de “fixar” esta fonte de nitrogênio e disponibilizá-lo para as plantas (exemplo: Bradyrhizobium). Conhecendo os componentes do solo, estudaremos a seguir a forma como estão dispostos no solo, caracterizando o Perfil do Solo. Estudaremos também, algumas propriedades físicas do solo.
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