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A Felicidade A Bordo da Brasília Amarela - Mamonas Assassinas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
CICLO BÁSICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GABRIELA ISAIAS DE SOUSA 
 
 
 
A FELICIDADE A BORDO DA BRASÍLIA AMARELA 
O fenômeno Mamonas Assassinas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
A FELICIDADE A BORDO DA BRASÍLIA AMARELA 
O fenômeno Mamonas Assassinas 
 
 
 
 
GABRIELA ISAIAS DE SOUSA 
 
 
 
 
 
 
A FELICIDADE A BORDO DA BRASÍLIA AMARELA 
O fenômeno Mamonas Assassinas 
 
GABRIELA ISAIAS DE SOUSA 
 
Na década de 90, cinco garotos de Guarulhos tiveram o sonho de viver de 
música. Formaram a banda de rock inspirada nos anos 80, Utopia, onde permaneceram 
por cinco anos, para depois alcançarem a realidade e conquistarem os corações e lares 
brasileiros como o maior fenômeno da música brasileira: Mamonas Assassinas. O 
grupo, composto por Sérgio Rioli (bateria), Samuel Rioli (baixo), Bento Hinoto 
(guitarra), Júlio Rasec (teclado) e Alexsander Alves (vocal), o Dinho, vendeu cerca de 
2,5 milhões de cópias de seu primeiro e único álbum (o disco Mamonas Assassinas até 
hoje detém o recorde de cópias vendidas em um álbum de estreia) e ganhou o disco de 
ouro em Lisboa (sem nunca ter pisado em terras lusitanas), nos anos em que a música 
ainda não conhecia pirataria e download na Internet. 
De jovens simples e anônimos à estrelas da música pop, de 100 cópias vendidas 
com a primeira banda à quase três milhões em oito meses, o Mamonas mesclou estilos 
musicais aparentemente insolúveis – passeando pelo vira português, sertanejo, pagode, 
rock, forró, brega, reggae, música infantil, música gaúcha, música mexicana, rap e 
heavy metal –, investindo sempre no rock progressivo (de um tom irreverente caótico, 
quase punk) para dar base às suas tiradas cômicas. Unindo a música com o humor e a 
sátira, com um estilo ousado e desbocado, mas de um modo absolutamente especial de 
fazer música, a banda passava do hard rock ao heavy metal sem dificuldades, com seus 
arranjos criativos e suas letras escrachadas e divertidas – que conquistaram jovens, 
adultos, crianças e idosos. Sérgio Bueno, biógrafo dos Mamonas, explica: 
“Na medida em que eles se assumiram como palhaços (porque eles tinham um 
lado palhaço mesmo, estilo Chacrinha), explodiram, tendo acessado o que 
tinham de mais intenso dentro deles. Eles fizeram a síntese do Sepultura e a 
trilha sonora da rodoviária de Palmas, no Tocantins. Era um coquetel, uma 
mistura inusitada e incomum. Rimaram Van Damme com andaime. Uma 
ousadia poética que só quem não entende nada seria capaz de fazer.” (Sérgio 
Bueno, biógrafo do grupo: Mamonas Assassinas Para Sempre, Documentário) 
Talvez, dessa grande mistura de punk rock com gêneros populares tenha surgido 
a enorme identificação do público com as canções do grupo de Guarulhos. O escritor 
Marcos Napolitano, no texto Música e História do Brasil, lembra que, apesar da 
intensa vida musical, nem todas as regiões brasileiras conseguiram contribuir para a 
corrente de músicas que circulam no país, uma vez que não penetraram na mídia. ¹ 
Napolitano ainda lembra que a música urbana brasileira nunca foi autêntica e é fruto de 
um “entrecruzamento de culturas”.² Os Mamonas souberam ministrar como ninguém 
essas composições satíricas, dotadas dos mais diversos estilos rítmicos. A banda de rock 
pesado, aliviada por variadas influências conhecidas pelo povo, apostou no estilo 
“Sonrisal ou diet music” (como disse, certa vez, o próprio vocalista, Dinho): é possível 
notar baião em Jumento Celestino; sertanejo em Boys Don’t Cry; heavy metal em Débil 
Mental; pagode em Lá Vem O Alemão; toques mexicanos em Pelados Em Santos; rap 
em Zé Gaguinho; reggae em Onon Onon; vira em Vira Vira; brega em Mundo Animal; 
música gaúcha em Renato, O Gaúcho; sons infantis em Sabão Crá Crá; dentre tantos 
outros singles que quebraram preconceitos, deixaram os críticos “de cabelo em pé” e 
conquistaram crianças e adultos neste, que foi denominado “Furacão Brega-Trash”, 
“Triunfo da Bobagem”, “Sucesso Boca Suja”, “Palhaços da Música”, “ridículos” e 
tantos outros rótulos que os intelectuais da época queriam definir. “Foi super 
gratificante quando as pessoas começaram a deixar de lado as hipocrisias e curtir o que 
eles estavam fazendo.” (Fausto Silva, apresentador de TV: Por Toda a Minha Vida – 
Mamonas Assassinas) 
Ao invés de ler o Brasil pela lasca da fúria, da raiva, da rebeldia e da rebelião, os 
Mamonas Assassinas adotaram uma maneira única de narrar o cotidiano e os costumes 
do mundo moderno. “A gente simplesmente quer dar divertimento ao povo. O povo tem 
muito motivo pra chorar e a gente quer ser um motivo diferente na vida do brasileiro, 
quer dar um pouco de alegria pra ele”, disse um deles, Dinho, no programa Xuxa Park. 
“Eles perderam a vergonha, se despiram de qualquer senso crítico. Pensaram: 
‘Vamos fazer a coisa mais ridícula que a gente conseguir. Todo mundo fala 
besteira, porque não podemos falar no microfone?’ E a magia foi essa: deixaram 
de querer ser artistas para virarem garotos com acesso ao microfone. O 
microfone, aquela coisa restrita a artistas, com letras inteligentes e profundas.” 
(Pastor, radialista da Rádio 89 FM: Mamonas Assassinas Para Sempre, 
Documentário) 
¹ Marcos Napolitano. “Música e História no Brasil”. História & Música. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p. 40 
² Marcos Napolitano. “Música e História no Brasil”. História & Música. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p. 48 
 
Flora Sussekind, no livro Literatura e Vida Literária, relembra os tempos de 
ditadura no Brasil, no qual a televisão transmitia um verdadeiro espetáculo às massas ³ 
(por parte do governo) e cita a resistência que os conservadores exerceram sobre o 
movimento tropicalista, dos anos 60 e 70.
4
 Obviamente, o Mamonas Assassinas e a 
Tropicália diferem não apenas sonoramente, mas também em suas ideologias, propostas 
e motivos. Porém, não se pode ignorar o papel relevante que a mídia (em especial a TV) 
exerceu na produção desse fenômeno meteórico: programas de televisão lotados, 
audiências recordistas e o sucesso nas rádios fizeram da banda o espetáculo da vez para 
o público. “O que passava pela TV era tão forte, que ela não conseguia mais desgrudar 
deles” (Jon Anglister, produtor musical da banda: Mamonas Assassinas Para Sempre, 
Documentário) 
A crítica tradicional e os moralistas também repeliam o estilo do grupo, que pôs 
de “pernas pro ar” a cena musical brasileira. Como na Tropicália, o conservadorismo 
estético e comportamental abominou o escracho e a espontaneidade daquelas letras, 
fantasias, danças e jargões tão queridos pelas crianças (apesar de não ser uma banda 
infantil). Pela primeira vez na história do país uma banda de rock, que não visava um 
mercado ou uma faixa etária, conseguia unir toda a família em torno de uma música, de 
uma televisão. Foram 50 mil cópias do álbum vendidas por dia, cerca de 160 shows em 
menos de sete meses em todas as capitais do Brasil e um sucesso tão estrondoso a ponto 
de ser cantado por uma criança de dois anos e um idoso de 70. 
“Não era o momento do rock, não era o momento da irreverência, ninguém 
queria investir em artistas novos. Tinha uma enorme crise de mercado (a 
transferência do vinil para o CD) e não se vendia nem CD e nem vinil. A 
primeira remessa de álbuns era de apenas 50 mil cópias. Não tinha nada a favor 
deles. Mas eu penso que quando uma coisa tem que fazer sucesso, faz. É além 
do mercado. E isso aconteceu com os Mamonas.” (Rick Bonadio, produtor e 
empresário da banda: Mamonas Assassinas Para Sempre, Documentário)Até hoje, críticos musicais e estudiosos da sociedade se perguntam: como uma 
banda como o Mamonas conseguiu alcançar tanto sucesso entre todas as faixas 
etárias e sociais da população? Todos procuram uma explicação para a fama 
estrondosa que o grupo alcançou. O estilo, as letras, os integrantes, a época e as demais 
repostas não conseguem explicar como uma sociedade tão dotada de moralismos e 
¹ Flora Sussekind. “Censura: Uma Pista Dupla”. Literatura e Vida Literária: Polêmicas, diários & retratos. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 2004, p. 13 
4
 Flora Sussekind. “Censura: Uma Pista Dupla” Literatura e Vida Literária: Polêmicas, diários & retratos. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Editor, 2004, p. 28 
 
 
costumes tradicionais acolheu com tamanha intensidade um grupo de garotos paulistas 
que cantava sobre “cabeças de bagre” e “robocops gays”. 
Outra dúvida frequente no mundo intelectual diz respeito às letras das canções 
que o grupo tocava. Enquanto alguns defendem a ideia de que as composições não 
continham qualquer mensagem política ou tentativa de contestação da ordem vigente, 
outros, como o intelectual Assis Ribeiro, defendem a ideia de que por trás das piadas e 
letras divertidas, esconde-se certa contestação e desejo de mudança. 
5
 Os primeiros 
encaram as letras das músicas como um humor despretensioso, cuja única tentativa era a 
de identificação com o público, o compromisso com a comédia e a diversão. “Eles eram 
muito naturais para serem artistas.” (Samy Elia, empresário da banda: Mamonas 
Assassinas Para Sempre, Documentário) O outro grupo acredita que as letras até foram 
feitas sem muita presunção, mas que refletem, inconscientemente, os pensamentos e 
desejos do homem pós moderno. Assis Ribeiro, em seu texto A Contestação dos 
Mamonas, faz uma análise minuciosa sobre os significados que se escondem por trás 
das letras aparentemente medíocres e engraçadas: 
“Conformismo, pessimismo, passividade, ausência de força moral. O homem 
pós-moderno não enxerga nenhum horizonte. Notei tudo isso em quase todas as letras 
dos Mamonas. O som alegre e ruidoso, os gestos irreverentes, escondem uma profunda 
melancolia, retrato de um mundo sem rumo.” (Ribeiro, 2012) 
Seriam as letras do Mamonas Assassinas bem-humoradas e repletas de 
mensagens tendenciosamente escritas ou composições alegres que escondem a 
insegurança do homem atual? Ou, ainda: elas queriam mesmo dizer alguma coisa 
ou apenas entreter a massa receptora da música deles? 
Em dois de março de 1996, um acidente aéreo encerrou a breve carreira dos 
cinco jovens cheios de alegria que conquistaram o Brasil. Cerca de 65 mil pessoas 
acompanharam o velório em tempo real, não se via tanta tristeza no país desde a morte 
do piloto Ayrton Senna, dois anos antes. Suas músicas eram cantadas em coro pelos 
brasileiros de todas as idades e o acidente os tornou um mito no mundo da música. 
Disso, formula-se mais uma questão: o Mamonas Assassinas tornou-se ícone devido 
ao acidente que interrompeu drasticamente as suas vidas? 
5
 Assis Ribeiro. “A Contestação dos Mamonas Assassinas”. 
 
As imagens do grupo que circulam na mídia até hoje são representações dos 
integrantes fantasiados, sorrindo, contentes e eufóricos. E são essas imagens que se 
perdurarão pela eternidade e fixar-se-ão no imaginário de quem as observa. O texto O 
Mundo das Imagens, de Susan Sontag, explicita a questão: “No mundo real, algo está 
acontecendo e ninguém sabe o que vai acontecer. No mundo-imagem, aquilo aconteceu 
e sempre acontecerá daquela maneira.” (Sontag, 1973: 184) Assim, as fotos são uma 
maneira de aprisionar a realidade, de fazê-la parar. 
6
 Os Mamonas Assassinas sempre 
preencherão a mente do público com suas performances alegres, seus figurinos ousados 
e suas brincadeiras espontâneas. Mas será que se eles não tivessem partido tão 
precocemente, permaneceriam como emblemas da diversão, símbolos de uma geração e, 
ainda, originalidade musical? 
De uma “brasília amarela” a ficar “pelados em Santos”, de “crediários nas Casas 
Bahia” a “chopis centis”, os Mamonas Assassinas foram estrondosos e donos de um 
sucesso que parece resistir ao tempo: em apenas sete meses, a banda conquistou o Brasil 
e marcou uma geração inteira. Os meninos de Guarulhos surgiram e desapareceram 
como um cometa. Tornaram o ano de 1995 mais divertido e o Brasil inteiro mais feliz. 
Foram temas de canções de diversos artistas (como Alexandre Pires, Nando Reis, 
Gabriel, O Pensador, Banda 365, Lenine, Barrerito e duas escolas de samba) e suas 
músicas permanecem até hoje na mente dos que viveram ou não aquela época. 
Como grande legado na Comunicação, a banda demonstrou que a capacidade de 
inovar em uma instituição já estabelecida (como a Música) é possível e que todos os 
gêneros musicais e formas de expressão podem encontrar seu caminho e ter um público 
identificável – no caso deles, milhões de pessoas. Com um toque de magia e certa 
malícia inocente, surgiu o conjunto que renovou esperanças, fascinou as crianças e 
mostrou a cara do Brasil. 
7
 O maior fenômeno de toda a história da música popular 
brasileira deixou o país para ficar perto das estrelas, onde os astros devem ficar 
8
, mas 
continuam vivos na memória e no coração dos milhões de fãs em toda a nação. 
 
 
 
 
6
 Susan Sontag. “O Mundo das Imagens”. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1973, p. 180 
7
 Trecho da música Tributo Aos Mamonas, do grupo Só Pra Contrariar. 
8
 Trecho da música Manhã de Domingo, do grupo 365. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
Alexandre Pires e Luís Cláudio. “Tributo Aos Mamonas” 
Grupo Só Pra Contrariar, 1996. 
 
BALTAZAR, ARI. “Manhã de Domingo”. 
CD: Do Outro Lado do Rio (365), 2005. 
 
CAMARGO, Maria. “Por Toda a Minha Vida – Mamonas Assassinas”. 
Rio de Janeiro: Rede Globo, 2008. 
 
CHACAL, Carlos. “Mamonas Assassinas”. 
Disponível em: <http://whiplash.net/materias/biografias/038461-
mamonasassassinas.html>. 
Acesso em: 15 fev. 2013 
 
KANHS, Cláudio. “Mamonas Assassinas Para Sempre”. 
São Paulo: Tatu Filmes, 2012. 
 
TOMAZ, Gustavo. “Baita Som #1 – Mamonas Assassinas” 
Disponível em: <http://baitapost.com/baita-som-01-mamonas-assassinas/> 
Acesso em: 15 fev. 2013 
 
NAPOLITANO, Marcos. “Música e História do Brasil”. História & Música: História 
cultural da música popular. 
Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 
 
RIBEIRO, Assis. “A Contestação dos Mamonas Assassinas” 
Disponível em: <http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-contestacao-dos-
mamonas-assassinas)>. 
Acesso em: 15 fev. 2013 
 
SOARES, Jô. “Onze e Meia” 
Rio de Janeiro: Rede SBT, 1995. 
 
SONTAG, Susan. “O Mundo das Imagens”. Sobre Fotografia. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 
 
SUSSEKIND, Flora. “Censura: Uma Pista Dupla”. Literatura e Vida Literária: 
Polêmicas, diários & retratos. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

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