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- Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 294 Ano 8, Vol XV, Número 2, Jul-Dez, 2015, Pág. 294-311. CONSCIÊNCIA HISTÓRICA SOBRE A AMAZÔNIA – DESAFIO DA CIDADANIA BRASILEIRA Suely Aparecida do Nascimento Mascarenhas & César Martins de Souza RESUMO O texto apresenta um estudo bibliográfico sobre a história da Amazônia e um estudo de campo sobre percepções de habitantes do Amazonas sobre sua realidade histórica. Os resultados apontam que a influencia das diversas culturas que migraram para a região impactaram em diferentes medidas sobre os indicadores de desenvolvimento e inserção socioeconômica na região. Palavras- chave: Consciência histórica, Amazônia, Inserção socioeconômica, cidadania. RESUMEN El texto presenta un estudio bibliográfico sobre la historia de la Amazonía y un estudio de campo sobre las percepciones de los habitantes de la Amazonia en su realidad histórica. Los resultados indican que la influencia de las diferentes culturas que han emigrado a la región afectada en diferentes medidas en los indicadores de inserción y desarrollo socio-económico de la región. Palabras clave: conciencia histórica, la ciudadanía amazónica, Inclusión Social. “... No fim de 1499,, Pinzón (...) acabou dando em um estranho mar de água doce, reconhecido logo como o estuário de um grande rio. Ao rio majestoso, cuja foz acabava de ser atingida, Pinzón chamou de “Santa Maria de la Mar Dulce”(...) Muito embora Vicente Yañez Pinzón não tenha sido um “explorador”, o certo é que ele foi o primeiro europeu a tocar o atual território brasileiro, e a meter a proa de suas caravelas contra a corrente impetuosa do maior rio do mundo” (BRASIL, 1996, p.11). A história é uma Ciência que tem como objeto narrar os fatos ocorridos na vida dos povos, em particular da humanidade em geral. É o conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição e/ou mediante documentos, acerca da evolução do passado da humanidade. O objetivo deste artigo é realizar uma breve revisão sobre a história da Amazônia ainda em construção, associando-a ao desafio de construção de uma consciência nacional e regional sobre as raízes históricas da Amazônia no Brasil. A Amazônia ainda é uma região pouco estudada do ponto de vista histórico. Em nosso entendimento a Amazônia é portadora de um vasto tesouro histórico a ser revelado em prol do bem comum da humanidade e de seus povos tradicionais ou primeiros que ainda a habitam. O que pode ser verificado possivelmente pelas - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 295 pesquisas, apesar da presença dos descendentes dos colonizadores europeus, do oriente e escravizados da África que passaram a habitar seu território nos últimos séculos. O cenário histórico cultural vivenciado na atualidade é resultado das raízes históricas e culturais que o constituiu. E para que seja compreendido precisa ter desvendadas suas origens, bem como refletidas as intenções e interesses dominantes do ponto de vista da cidadania e do bem comum que constituem objetivos nacionais previstos na Constituição Nacional do Brasil. A Ciência História não procura apenas estabelecer fatos ou leis, mas também compreender o sentido das ações humanas. O conhecimento histórico é, portanto, uma ciência da interpretação. Como então construir o conhecimento histórico da Amazônia, sem mergulhar nas culturas de seus povos primeiros, ancestrais? Como conhecer a história da Amazônia sem mapear os conhecimentos que foram trazidos pelos colonizadores da Europa, do Oriente Médio e da Ásia? Os conhecimentos dos africanos e Nordestinos trazidos para o trabalho estes últimos para os trabalhos nos seringais? Incorporar os conhecimentos dos descendentes dos povos primeiros, imigrantes, migrantes e os que nasceram no século atual já em contexto de consolidação da História da Nação Brasileira? Cabe destacar que a História tem um sentido no duplo sentido de significações e de direção. Ela tende para um fim que é universal realizado. Este fim é também o advento e o início de uma nova história, da qual os homens serão os senhores e os sujeitos conscientes (CLÉMENT, DEMONQUE, HANSE-LOVE & KAHN, 1997). Homens de todos os tempos dos antigos e dos atuais. Segundo Souza, Reis e Mascarenhas (2015), na Amazônia, a economia da borracha foi orquestrada pelas necessidades das indústrias europeias e dos Estados Unidos, no que demandaram trabalhadores para a extração do látex das seringueiras nativas existentes na floresta amazônica. Do nordeste migraram milhares de brasileiros para a região, entendida nas entrelinhas como “terra de degredo” para onde viajam “homens e mulheres sem volta”, o que pode ser ilustrado pelo trecho abaixo. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 296 “Escuta! Sei que agora não ligas para nada, mas eu quero que sejas senhor de tua sina. Não é fugir não que não és homem para isso. Estás vendo a passar levas e mais levas de desesperados em direção aos Amazonas em busca da fortuna nos seringais? Poucos sobrevivem. Não queria esse destino pro meu melhor amigo, mas se tens que morrer, pelo menos que morra lutando. Lá é outro mundo (...) Sei que tens algum dinheiro, mas não compre passagem não para não deixar rastro e vai, vai anônimo no meio dessa cambada de desesperados”(NUNES, 2003, p. 33). Diante dos fatos e dados revisados e relatados associados ao ambiente amazônico, indagamos: O atual cenário da sociedade amazônica não está desvinculado da história do Brasil. Não podemos esquecer que o presente nunca é apenas presente, um estado temporal fechado em si mesmo, mas que lhe é de uma natureza flexível e não cessa de solicitar o passado e o porvir. Nossa vida se estende antes do seu início, rumo ao passado pelo viés da lembrança, e adiante numa perspectiva de esperanças voltadas para o porvir. O indivíduo embora seja modelado por suas experiências sociais, jamais é redutível a uma só dessas (LORIGA, 2011). Por outro lado, a História da Amazônia é marcada por extremos de exploração e injustiça social em meio a um ambienta rico e diverso. O modelo de desenvolvimento prioritariamente adotado na região Amazônica está baseado na extração e exploração insustentável dos recursos naturais, que prioriza o lucro imediato dos exploradores. Caracteriza-se por um modelo fundado na apropriação do espaço e na exploração das riquezas, sem conservar culturas locais existentes e dinâmicas naturais que regem os ecossistemas existentes (GUTBERLET, 2002). “A Amazônia é um bioma extremamente complexo e diversificado quando vista sob o ponto de vista social, cultural, ecológico e econômico. È uma região marcada pelas exuberantes e extensas riquezas e belezas naturais e, ao mesmo tempo, pela degradação e devastação ambiental e pelo quadro de pobreza econômica e miséria social sem precedentes. São, portanto, realidades antagônicas e que provocam revolta e conflito” (GUTBERLET, 2002, P. 157). De acordo com Gutberlet (2002), o estilo de desenvolvimento praticado há séculos na Amazônia traz para a região transformações rápidas com severas consequências socioambientais a médio e longo prazo e em larga escala. Impactando em - Revista EDUCAmazônia- Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 297 importantes indicadores de pobreza econômica, exclusão social e degradação ambiental o que se verifica tanto em contexto urbano como rural. No cenário econômico da atualidade, há quem entenda que a Zona Franca de Manaus é um reconhecimento da necessidade de reparação e compensação econômica uma vez que a Região historicamente foi objeto de um processo de exploração sem contrapartida de oferta de serviços públicos à sua população. Exploração que os habitantes da região sofreram e sofrem ao longo do processo de colonização que em grande medida ainda está em curso. Os atuais e históricos indicadores sociais, políticos, educacionais, econômicos da Amazônia, desfavoráveis em relação ao de outras Regiões do Brasil provocam „dor política‟ que na concepção defendida por Farge (2011) tem o seguinte significado: “A dor, sensação física e emocional – que não pode se separar da mágoa -, é uma forma de relação com o mundo. Nisso ela entra na paisagem cultural, política, afetiva e intelectual de uma sociedade. Esse contexto pode receber, rejeitar, agredir ou apaziguar essa dor: a história social se constrói nesse movimento incessantemente cambiante. A dor não é uma invariante, uma consequência inevitável de situações dadas, é um modo de ser no mundo”(FARGE, 2001, p. 19). Há um mal estar na sociedade brasileira quando o assunto à tona recai sobre as desigualdades regionais. Como podemos viver com bem-estar em uma sociedade/nação assim? Sem conhecer a nossa verdadeira história de sociedade/nação? Seria essa a razão do mal estar entre as regiões “brasileiras” na atualidade? Ou seja, estaria no encobrimento dessa história vergonhosa do ponto de vista ético a explicação da visão da Amazônia construída pelos brasileiros do centro sul e do Brasil pelos brasileiros do norte nordeste? Se somos uma nação que nasceu na mesma data, e na mesma família, como podem ser explicadas as extremas diferenças no IDH índice de desenvolvimento Humano e IDS Índice de Desenvolvimento Social entre a Amazônia e as demais regiões do Brasil? Como apagar a Cabanagem da memória social da nação brasileira? Como apagar os efeitos sobre a cognição social da nação brasileira? Como podemos (nação brasileira) continuar negando, invisibilizando o passado que não tem como passar, pois está no - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 298 sangue dos ancestrais derramado por liberdade, justiça e igualdade? Sangue que não pode ser esquecido pelos sobreviventes dos conflitos e massacres ao longo dos séculos de nossa história nacional? (Souza, Reis e Mascarenhas, 2015) Os retalhos históricos evidenciam aspectos associados à formação do Estado nacional. Estado que no contexto amazônico deve se materializar pela prestação de serviços públicos educação, saúde, estradas, habitação, segurança e outros indicadores de respeito aos direitos da cidadania brasileira. Serviços que em localidades sediadas nas profundezas do interior amazônico são insuficientes e incompletos agravando o ato de omissão da Nação sobre a falta de acesso a direitos que em outras regiões em especial a região sul são naturalmente ofertados desde séculos passados. A cidadania na Amazônia está esquecida e em grande medida abandonada há séculos como demonstram os atuais indicadores de IDS e IDH oficiais. Lembrando que de acordo com a Teoria Geral do Estado, o Estado é sempre “considerado na totalidade dos seus aspectos, apreciando-o como um conjunto de fatos integrados numa ordem e ligados a fundamentos e fins, em permanente movimento” (DALLARI, 1995, p.5). Da concepção oficial de Estado, remetemo-nos à formação social que o constitui relevando que “os fenômenos estão sujeitos a uma interação causal, uma vez que a vida social está sempre submetida a um processo dialético que faz da vida social uma permanente criação” (DALLARI, 1995, p.6). Queremos nos aproximar do processo de construção/formação histórica da região para que possam nos ajudar a compreender as raízes causais para os fenômenos sociais hoje testemunhados nos diferentes contextos do Estado Nacional Brasileiro, tendo em vista que o ser humano se constitui pela sua consciência histórica e cultural que são determinantes de sua identidade. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 299 Ainda de acordo com princípios da Teoria Geral do Estado, sabe-se que: (...) A sociedade humana tem por finalidade o bem comum, isso quer dizer que ela busca a criação de condições que permitam a cada homem e a cada grupo social a consecução de seus respectivos fins particulares. Quando uma sociedade está organizada de tal modo que só promove o bem de uma parte de seus integrantes, é sinal de que ela está mal organizada e afastada dos objetivos que justificam sua existência (DALLARI, 1995, p.20). A pessoa, entendida também como “célula” da sociedade somente pode ser entendida a partir dos seus antecedentes históricos e culturais tanto do ponto de vista individual, como coletivo. Este texto procura refletir sobre tópicos da história da Amazônia que possam contribuir para ajudar explicar o atual cenário sociocultural da população local, considerando que o comportamento tem duas origens: ou é inato ou é aprendido na interação do sujeito com o meio ambiente, tanto físico, como social, inclusive o psicossocial, o moral e o político, materializados pela Realidade que é sempre Histórica. E os autóctones, os que se querem nascidos da terra onde estão, os que nasceram e cresceram na terra antes da chegada dos colonizadores europeus? E os que nasceram e cresceram na terra após a chegada dos europeus? A ONU já procura diferenciar autóctones de „povos primeiros‟. No caso do Brasil, “povos tradicionais”, ou “povos primeiros”. Diante da complexidade dos efeitos do fato a sociedade nacional cala, não vê. Mantém-se o silêncio nacional, não se abre o diálogo, não há espaço para a fala, a escuta do outro. O que gera sofrimento psicossocial, sofrimento e dor política. É mais simples manter o discurso sobre a necessidade de construção e consolidação de uma identidade nacional harmônica desde sua origem e pacífica. Ora, a sociedade nacional e a humanidade como um todo carece de uma presença de conduta séria, não abrindo mão de seus direitos e deveres, muito menos da história da sua constituição. Neste cenário histórico de conflitos e desigualdades, diante dos direitos da pessoa humana, há silêncios, omissões, desacertos e acertos, todavia, é preciso a criação de políticas públicas que superem o sistema, que coloquem o lucro acima da pessoa humana. sistema que diverge dos valores dos povos amazônidas onde a família, a convivência em ambientes naturais prevalecem sobre o acúmulo de capital. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 300 Segundo os povos primeiros, em documento publicado no encontro latino americano das organizações indígenas, outubro de 1998 em Bogotá, Colômbia, a invasão ainda não acabou, “ Nossa história nãocomeçou há 500 anos. Nossa história aprofunda raízes num passado milenar. (...) a vida que surgia de nossos povos, foi destruída. A invasão teve como consequência o saque da mãe terra. (...) a invasão não acabou, continua até hoje, por meio de uma ideologia da dominação que tenta enganosamente negar nosso direito de existir de falar e de escolher nosso caminho (HERK & PREZIA, 1999, p. 33-34). Para a pessoa humana, ter uma história significa existir. É preciso promover o descobrimento da História da Amazônia em grande medida encoberta desde o início do processo de invasão oficial em 1499 pelos povos ibéricos ( Espanhóis e Portugueses), (Brasil, 1996) . Segundo Souza (2009), a Amazônia é constituída por um povo com visão de mundo própria, pluricultural e plurinacional mesmo antes de existir de modo formal. Destaca que no início sua formação foi fruto de um processo histórico herdado, imposto, como as línguas europeias, pelas quais se materializou. Souza (2009) refere: Assim, na Amazônia, a História foi fruto de um impacto colonial; a História do povo amazônico foi sendo construída até se tornar uma real expressão da identidade. É a trajetória que vai da chegada do homem à região aos dias atuais (SOUZA, 2009, p. 16). Sabe-se que mudanças inevitavelmente ocorrem e danificam as coisas, produzem dor, angústia e desespero, mas nunca perdemos a esperança na renovação, pois quando a desordem finalmente termina um dos ciclos de mudanças, anuncia o começo de um tempo renovado num mundo renascido. Assim, a História é o resultado de muitos ciclos de vida que surgem, mudam, entram em decadência e se destroem para voltarem a renascer... Os povos da Amazônia sempre souberam que o mundo está mudando e que cada ciclo exige respostas adequadas às contingências do momento (MEDINA, 2003). Para Gondin, (2007, p. 13), em grande medida ”(...) Amazônia não foi descoberta, sequer foi construída (...)” . Podemos afirmar que apenas foi batizada. Somente em 1801 os portugueses conseguiram formalizar seu “domínio” com o tratado de Badajós/Madri. Constituindo o vice-reino do Grão Pará, como colônia paralela ao Brasil. Há 213 anos. O que significa que dos 514 anos do início da gestão Ibérica (Portuguesa/Espanhola) deste território, 301 foram oficialmente geridos por Portugueses - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 301 do lado da Costa do Atlântico e 301 por Espanhóis do lado do Sertão Amazônico. E, após 1801, todo o território passou oficialmente a ser administrado por portugueses/brasileiros isso por 213 anos. Depois de mais de dois séculos de convivência nacional, já podemos nos considerar todos histórica e culturalmente brasileiros? Impossível. Como revelam os conflitos continuados registrados em toda a história e regiões da nação. Como explicar as desigualdades regionais do País? Entendemos que pelo exame e análise dos antecedentes históricos consultados para este estudo, as diferenças entre as regiões do Brasil podem ser explicadas. “O desafio é encontrar um caminho em que haja igualdade de qualidade de vida em todos os quadrantes do planeta, sem que esta igualdade seja ameaçada pela exaustão dos recursos naturais” (SOUZA, 2009, p.25). A incorporação oficial do território amazônico ao Império do Brasil em 1801 (via tratado de Madri) e em 1823 com o vitória sobre as forças rebeldes (SANTOS, 2010) oficialmente iniciou um processo de integração histórico cultural de duas sociedades distintas que ainda hoje não se veem como únicas. O que pode ser demonstrado pelos indicadores oficiais de desigualdades regionais em todas as esferas dos direitos de cidadania. O fato gera insatisfação, e, certa “dor política” por não poder exercer os direitos assegurados a todos os brasileiros neste contexto histórico e geográfico próprio que é a Amazônia brasileira. A dor que a ofensa ao direito provoca no homem encerra em seu íntimo a confissão forçada, mas intuitiva, do que representa para o indivíduo, mas também do que representa para a sociedade humana. Esse momento singular, sob a forma de uma reação psicológica, do sentimento humano (...) Quem nunca sentiu essa dor, em si mesmo ou em outrem, ainda não compreendeu o que é o direito, mesmo que saiba de cor todo o corpus júris. Não é o raciocínio, mas o sentimento que pode dar-nos essa compreensão, e é por isso mesmo que o sentimento de justiça costuma ser designado com toda razão como fonte psicológica primordial do direito (...) A força do direito reside no sentimento, tal qual a força do amor. (IHERING,1891 2008, p. 54). Segundo pesquisadores, os povos classificados como primitivos consideram-se parte da natureza, nem superiores nem inferiores às outras criaturas (MEGGERES, 1987), de onde destaca-se que: - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 302 A dificuldade de compreender o lugar do homem na biosfera é dificultada por um grave problema: nossa incapacidade de nos olharmos sem preconceito. Sendo que a cultura sempre encobre ou desvia nossas percepções em virtude de nossas próprias idéias, atitudes e crenças, e os processos de pensamento estão integralmente vinculados ao fenômeno que pretendemos estudar. (MEGGERS, 1987, p..25). No que se refere à adaptação dos habitantes tradicionais ao bioma amazônico, considera-se que a abundância da região é reflexo do equilíbrio da adaptação conseguido pelos mesmos. O que remete a constatação de que “a Amazônia, longe de ser a terra da promissão, não passa de um paraíso ilusório” (MERGGERS, 1987, p. 172). O mais grave é que o império do Brasil via a Amazônia apenas como um espaço geopolítico, demonstrando incapacidade para superar o tradicional relacionamento colonial por algo mais condizente com o estatuto de uma região pertencente a um país independente. (SOUZA, 2009, p. 209). Após a Cabanagem, desabafo dos fracos contra os fortes, se instalou o silêncio imposto pela desilusão e pela repressão que matou no nascedouro a cultura solidária, meio ibérica e meio indígena fazendo surgir uma cultura pragmática e alienada. É possível dizer que a população amazônica encontrou um estilo para resistir, uma maneira de enfrentar a voracidade de tantos projetos e até mesmo para resistir às elites regionais. Esse estilo que é uma demonstração de superioridade cultural pode ser chamado de leseira (SOUZA, 2009). A leseira como fenômeno comportamental verificado em cenário amazônico pode ser entendido como resistência e até resiliência frente a valores que lhes são estrangeiros (...) Leseira como um estilo de resistência. Segundo o autor, os nativos da Amazônia sabem que não formam feitos para obedecer certas leis, especialmente as econômicas. Pode ser uma forma de esnobismo ou uma ironia. Entende a leseisa como uma prática existencial poderosa que ainda vai livrar a região de tanta solidariedade não solicitada, pois há uma exata medida de leseira em todos os escalões, em todas as classes sociais, em todas as almas. (SOUZA, 2009, p..230-231). Na Amazônia, “ (...) O homem adaptado não é um estranho à natureza, e sim, um prolongamento do meio ambiente (...)” (HUGO, 1995, p.19). O sofrimento dos brasileiros e das brasileiras da Amazônia privados e privadas de acesso aos direitos da cidadania nacional básicos como: água tratada, educação, saúde, habitação dentreoutros - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 303 acumula sofrimentos. Sofrimentos que devem ser superados por qualidade de vida e acesso a serviços básicos de cidadania e inserção socioeconômica. Em suma, a História é o fundamento de todo o conhecimento geral. Nossos pensamentos têm uma forma temporal, e a trama dos nossos relatos e de nossas conversações é sempre inevitavelmente histórica. Desta forma, a pessoa não faz nada além de representar a história. O que dizemos é apenas seu relato; bem mais, nesse sentido mais amplo, nossa vida espiritual inteira se edifica sobre ela, todos os seres humanos têm uma história, neste sentido, todos somos historiadores (LORIGA, 2001). Acreditamos que este texto pode ser útil para ampliar a compreensão do comportamento das unidades psicofísicas da história nacional impressas na memória de cada integrante da sociedade nacional atual. Pois ...Na justa memória, o presente se reconcilia com o passado pela rememoração no espaço público, pela expressão pública do sofrimento das vítimas. (...) A proposta seria um esforço de verdade e reconciliação, o presente fez emergir uma memória que pede perdão ao outro e o Ocidente precisa perder a sua arrogância e reconhecer o mal feito ao outro. (...) E o que dizer do planeta: se o perdão só pode ser um dom da vítima, será que os ditos indígenas das Américas, africanos e asiáticos poderão esquecer e perdoar o ocidente/os europeus? (...) Em Ricoeur, o desafio da história seria o perdão ou a justiça? (REIS, 2013, p.446). Cabe refletir e indagar sobre a quais interesses e valores serve a visão de um projeto de nação que silencia sobre os conflitos da formação do mapa e das fronteiras nacionais, construindo um imaginário de um país sem conflitos, e potencialmente próspero? Sabe-se que o Brasil é ...Um país que se faz de maneira harmônica e consensual a partir de contribuições diversas de seu povo, mas também um Brasil que exige abnegação e recusa, uma vez que em tais formulações, os dilemas pessoais e locais não devem jamais se interpor diante do projeto nacional (...) essa perspectiva escamoteia e omite os conflitos étnicos, religiosos, regionais e de classe que sempre estiveram presentes na sociedade brasileira ao longo de sua história. (PINHEIRO, 2000, p.83). Salienta-se que esta perspectiva é artificial, produz silêncios e consensos e “unifica” uma memória de nação até mesmo onde ela não existe. O desafio é ajustar o currículo do sistema educacional no sentido de ensinar aos brasileiros a história da formação do Estado Nacional Brasileiro, de modo a que o conteúdo curricular sobre a integração do então vice-reino do Grão Pará / Maranhão ao Império do Brasil seja - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 304 aportado à memória desbotada das atuais gerações, e que possamos trilhar o caminho de construção da identidade nacional brasileira, de modo a integrar o pais, tendo os seus habitantes como cidadãos portadores de direitos e deveres que esses possam ser efetivamente exercidos em condição de igualdade em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e IDS (Índice de Desenvolvimento Social), via implantação de novas políticas públicas afirmativas para o acesso a serviços públicos de qualidade para todos. Tal perspectiva poderá favorecer o protagonismo coletivo para construção de uma nação brasileira fundada na verdade de suas raízes e que se constrói historicamente como um país menos desigual e justo do que o que histórica e atualmente vivenciamos. Seria oportuno buscar refugio na explicação de que temos duas sociedades desiguais que integram a mesma nação Brasileira, nação que reconhece suas desigualdades no texto fundamental quando estabelece como um dos objetivos nacionais a busca da superação das desigualdades regionais. Neste artigo apresentamos resultados de pesquisa de campo desenvolvida com a participação de estudantes universitários do Amazonas visando captar percepções sobre consciência histórica associada à região e em que medida os antecedentes históricos regionais determinam ou influenciam a realidade atual do cenário estudado. Há quem entenda que a desigualdade social da região se deve ao fato de se criar um imaginário no centro sul do país de que a “Região só tem índios” e que sua população carrega um estigma desfavorável em relação ao estigma dos habitantes de outras regiões nacionais. MÉTODO Participantes Participaram da pesquisa 41 estudantes universitários de ambos os sexos que responderam ao instrumento após serem informados dos seus objetivos, observando procedimentos éticos vigentes. Instrumento O instrumento utilizado para a coleta de dados foi a Escala sobre “Contexto histórico, cultural e desenvolvimento social e econômico” (MASCARENHAS, 2015). A escala é constituída por 6 itens, organizados em escala likert de 5 pontos 1. Não influenciou em nada, 2. Influenciou muito pouco, 3. Influenciou pouco, 4. Influenciou - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 305 bastante e 5. Influenciou muitíssimo ou totalmente. A escala também conta com dois itens para comentários e um item de resposta objetiva sim ou não. Procedimento de coleta de dados Os dados foram coletados em horário de aula cedido pelos professores, por pesquisadores treinados que acompanharam os participantes instruindo-os quanto aos procedimentos de respostas, observando aspectos éticos vigentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Da análise das informações aportadas pela pesquisa, verificou-se frágil conhecimento sobre aspectos históricos que determinam a materialização da realidade amazônica na atualidade. Por outro lado, constatou-se forte percepção dos participantes sobre o impacto do processo de imigração e migração para a região sobre aspectos culturais existentes na realidade regional. Tabela 1: Percepção sobre a influência de aspectos históricos Tratado de Tordesilhas (1498) e Tratado de Madri (1750) sobre o desenvolvimento da Região Amazônica. Item F % Válida % Acumulada Não influenciou em nada 5 12,2 12,2 Influenciou muito pouco 2 7,3 19,5 Influenciou pouco 21 51,2 70,7 Influenciou muitíssimo ou totalmente Total 2 41 4,9 100 100 Fonte: Base de dados LAPESAM, UFAM. Conforme Tabela 1, quanto ao conhecimento do fato histórico registrado no item 1. “A Região Amazônica até 1750 pertencia à Espanha, de acordo com o Tratado de Tordesilhas. Em 1750 com o Tratado de Madri passou a pertencer a Portugal como o segundo vice-reinado na América do Sul. Em que medida esse fato histórico pode ter afetado as diferenças culturais e de desenvolvimento social e econômico, em comparação com as demais regiões do Brasil?” 12,2% dos participantes acreditam que “ não influenciou em nada”, 7,3% que influenciou muito pouco, 51,2% que “”influenciou pouco”, 24,4% que “influenciou bastante”, 4,9% que influenciou muitíssimo ou totalmente. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE306 Tabela 2: Percepção de habitantes do Amazonas sobre o impacto dos processos de migração sobre a economia da região Amazônica. Item F % Válida % Acumulada Não influenciou em nada 2 4,9 4,9 Influenciou muito pouco 5 12,2 17,1 Influenciou pouco 18 43,9 61,0 Influenciou bastante 9 22,0 82,9 Influenciou muitíssimo ou totalmente 7 17,1 100,0 Total 41 100 Fonte: Base de dados LAPESAM, UFAM. Conforme Tabela 2, as respostas ao item 2. “O processo de migração em função dos ciclos da borracha, do ouro e da agricultura influenciaram mudanças econômicas, culturais e soc. em contexto amazônico com o fortalecimento do setor produtivo, criação de novas cidades, assentamentos e indústrias” demonstram que para 4,9% dos participantes “não influenciou em nada”, para 12,2% influenciou muito pouco”, para 43,9%” influenciou pouco”, para 22% “influenciou bastante”, para 17,1% “influenciou muitíssimo ou totalmente”. A percepção dos participantes sobre o item 3. “A criação da UEA e a instalação da UFAM e IFAM´s no interior do estado do Amazonas influenciaram positivamente os indicadores de qualidade de vida, educação, cidadania e inserção socioeconômica “indica que para 4,9% dos participantes “não influenciou em nada” para 4,9%” influenciou muito pouco”, para 41.5% “ influenciou pouco”, para 17,1% “influenciou bastante” e para 31,7% “influenciou muitíssimo ou totalmente” (Tabela 3). Tabela 3: Percepção de habitantes do Amazonas sobre o impacto da instalação da UEA, UFAM e IFAM´s os processos de migração sobre a economia da região Amazônica. Item F % Válida % Acumulada Não influenciou em nada 2 4,9 4,9 Influenciou muito pouco 2 4,9 9,8 Influenciou pouco 17 41,5 51,2 Influenciou bastante 7 17,1 68,3 Influenciou muitíssimo ou totalmente 13 31,7 100,0 Total 41 100 Fonte: Base de dados LAPESAM, UFAM. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 307 Quanto às respostas ao item 4. “O processo de migração de populações do sul, nordeste e outras regiões do Brasil para o Amazonas influenciam mudanças culturais, econômicas, políticas e sociais onde se instalam”, 4,9% entende que” não influenciou em nada”, 9,8 que “influenciou muito pouco”, 39% que “influenciou pouco”, 19,5% que “influenciou bastante” e 26,8% que “influenciou muitíssimo ou totalmente” (Tabela 4). Tabela 5: Percepção de habitantes do Amazonas sobre em que medida o impacto da chegada de migrantes de outras regiões ao estado do Amazonas influenciou no fortalecimento das tradições e cultura regional, influenciando a valorização dos costumes e tradições locais. Item F % Válida % Acumulada Não influenciou em nada 2 4,9 4,9 Influenciou muito pouco 5 12,2 17,1 Influenciou pouco 20 48,80 65,9 Influenciou bastante 8 19,5 85,4 Influenciou muitíssimo ou totalmente 6 14,6 100,0 Total 41 100 Fonte: Base de dados LAPESAM, UFAM. As respostas ao item 5. “A chegada de migrantes de outras regiões ao estado do Amazonas contribui para o fortalecimento das tradições e cultura regional, influenciando a valorização dos costumes e tradições locais”, 4,9% entende que não influenciou em nada; 12,2% que influenciou pouco; 48,8% que influenciou pouco, 19,5% que influenciou bastante e 14,6% que influenciou muitíssimo ou totalmente (Tabela 5). Tabela 6: Percepção de habitantes do Amazonas sobre em que medida o impacto da convivência com espanhóis, portugueses e brasileiros influenciou a cultura e os costumes dos povos primeiros (indígenas) que habitam a região desde antes da chegada de espanhóis, portugueses e brasileiros.”. Item F % Válida % Acumulada Não influenciou em nada 3 7,3 7,3 Influenciou muito pouco 4 9,8 17,1 Influenciou pouco 19 46,3 63,4 Influenciou bastante 8 19,5 82,9 Influenciou muitíssimo ou totalmente 7 17,1 100,0 Total 41 100 Fonte: Base de dados LAPESAM, UFAM. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 308 Respostas ao item 6 .” A convivência com espanhóis, portugueses e brasileiros influenciou a cultura e os costumes dos povos primeiros ( indígenas) que habitam a região desde antes da chegada de espanhóis, portugueses e brasileiros.”, 7,3% dos participantes entendem que não influenciou em nada; 9,8% que influenciou muito pouco, 45,3% que influenciou pouco, 19,5% que influenciou bastante e 17,1% que influenciou muitíssimo ou totalmente (Tabela 6). Quando perguntados no item 7 do questionário “Você sabia que a nossa região não pertencia ao Brasil desde 1500, mas à Espanha desde 1498?” 41.5% respondeu que sim e 58,5% que não. O que sugere a necessidade de fortalecer o currículo da educação básica no que se refere aos antecedentes históricos da formação do estado brasileiro em especial no que se toca à incorporação do país estrangeiro Grão Pará ao Brasil, após o tratado de Madri entre 1750 e 1823. Quanto às perguntas abertas dois participantes responderam: P X:“Eu não sabia e ponto final” e PY: “Todos esses acontecimentos ocorreram acentuando o quanto fragilizados somos”. A realidade que não é dita é sentida na violência nacional que excluí tratando desiguais como iguais ampliando o abismo de exercício da cidadania entre as regiões nacionais em desvantagem para a Região Amazônia como se colônia fosse da Nação. O colono não se pertence. A riqueza da Amazônia parece que não pertence aos amazônidas; o que pode ser constatado nos indicadores de acesso a educação básica, superior (graduação e pós-graduação), saúde, habitação, saneamento básico, segurança pública, urbanização. O difícil começo precisa ser revisitado, refletido e reparado por meio de políticas públicas afirmativas que contribuam para a elevação dos indicadores de IDH e IDS da região em comparação com os das demais regiões em especial as localidades isoladas às margens de rios nas profundezas do interior Amazônico brasileiro. Eis o desafio da construção da consciência histórica lançado há século e ainda não superado. CONCLUSÃO Da análise dos dados e informações aportados na pesquisa é possível afirmar que a região recebeu influencia do processo de migração impactando fortemente sobre sua cultura. E que em grande medida o fato faz parte das percepções de suas populações. O que pode ser aprimorado por meio da promoção de um processo intencional e sistemático de revisão histórica por parte das instituições promotoras da educação - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 309 formal, informal e de comunicação de massa. Por outro lado também foi possível constatar que aspectos históricos importantes são desconhecidos de boa parte dos participantes. A riqueza e a complexidade sociocultural da Amazônia costumam ser desconsideradas nos processos e formulação de políticas para ordenamentos e políticas de desenvolvimento regional. O que é insustentável. É pouco valorizado o conhecimento local das populações tradicionais da Amazônia. Esse conhecimento é transmitido entre as gerações por via oral e não são registrados, não sendo considerado conhecimento acadêmico. Eis o desafio para o seu adequado registro científico emprol da preservação do conhecimento da humanidade que certamente será ampliado significativamente quando a ele for incorporado os conhecimentos dos povos primeiros que habitam o contexto Amazônico. A descoberta da América foi o acontecimento fundacional da Revolução Científica. Não apenas ensinou os europeus a preferirem observações presentes a tradições passadas, mas o desejo de conquistar a América também obrigou os europeus a buscarem novos conhecimentos o mais rápido possível. Se eles realmente quisessem controlar os vastos territórios, precisariam coletar uma enorme quantidade de dados sobre geografia, o clima, a flora, a fauna, as línguas, a cultura e a história do novo continente. As Escrituras cristãs, os velhos livros de geografia antigas tradições orais eram de pouca ajuda. Daí em diante, não só os geólogos europeus como também os estudiosos europeus em quase todas as áreas de conhecimento começaram a desenhar mapas mundí com espaços a serem preenchido. Começaram a admitir que suas teorias não eram perfeitas e que havia coisas importantes que eles não ainda não conheciam (HARARI, 2015, p. 298-299). A instalação da universidade federal no interior da Amazônia favorece a criação de condições para a realização de pesquisas nos diferentes campos do conhecimento, inclusive o Conhecimento Histórico de modo a aportar a enriquecer o seu conjunto. O que certamente poderá contribuir para o resgate da identidade histórica da região ainda encoberta, em grande medida invisível e desconhecida pela conhecimento acadêmico científico na atualidade. O que poderá ainda contribuir para o fortalecimento da construção da consciência histórica da população amazônica e brasileira sobre suas raízes históricas nacionais. - Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, LAPESAM/GISREA/UFAM/CNPq/EDUA – ISSN 1983-3423 – IMPRESSA – ISSN 2318 – 8766 – CDROOM – ISSN 2358-1468 - DIGITAL ON LINE 310 REFERÊNCIAS BRASIL, A. B. Desbravadores do rio Amazonas, Porto Alegre: Poseato, Arte e Cultura, 1996. CLEMÉNT, Élisabeth; DEMONQUE, Chantal; HANSE-LOVE, Laurence & KANH, Pierre. Dicionário prático de filosofia, Lisboa, Terramar, 1997. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado, 19ª Edição, São Paulo:Saraiva, 1995. FARGE, Arlette, Lugares para a história, Belo Horizonte: Autêntica, 2011. GONDIN, Neide. A invenção da Amazônia, 2ª Ed. Manaus: Valer, 2007. GUTBERLET, J. Zoneamento da Amazônia: uma visão crítica. Estudos Avançados 16 (46), pág. 157-174, 2012. HARARI, Y, N. 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E-mail: cesar@ufpa.br Recebido em: 10/1/2015. Aceito: 20/5/2015.
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