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Órgão Oficial da Divisão de Medicina de
Reabilitação do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP
e-mail: dmr@hcnet.usp.br
Apoio: Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação e
Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação
EDITOR
Linamara Rizzo Battistella (SP)
EDITORES ASSOCIADOS
Raimundo Edson Araújo Leitão (RJ)
Satiko T. Imamura (SP)
CONSELHO EDITORIAL
Claudete Lourenço (SP)
Paulo Yazbek Júnior (SP)
Marta Imamura (SP)
Satiko Tomikawa Imamura (SP)
José Maria Santarém (SP)
José Brenha Ribeiro Sobrinho (SP)
Marcelo Alves Mourão (SP)
Marcelo Saad (SP)
Marcelo Riberto (SP)
Margarida Harumi Miyazaki (SP)
Armando Carneiro (MG)
Carmem L. N. de Castro (RJ)
Carlos Alberto Issa Musse (RS)
ASSESSORIA EDITORIAL
Maria Izabel de Paiva
Judith C. S. de Oliveira
Fonte de indexação
LILACS – Literatura Latino-
americana e do Caribe de Infor-
mação em Ciências da Saúde.
EXPEDIENTE
ISSN 0104-7795
LEMOS EDITORIAL & GRÁFICOS LTDA.
Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista – São Paulo, SP
CEP 01326-010 – Telefax: (0xx11) 3371-1870
E-mail: lemos@lemos.com.br
Diretor-Presidente: Paulo Lemos
Diretor Superintendente: José Vicente De Angelo
Vice-Presidente de Negócios: Idelcio D. Patricio
Gerente Comercial: Jorge Rangel
Gerentes Comerciais: Lilian Romão, Marielza Valente,
Maurício dos Santos Alvarenga
Publicidade: Rosangela Moura Aguiar
Coordenação Comercial: Edileuza Machado, Patricia Costa e Patricia Mirra
Representante no Rio de Janeiro: Roberto Amoêdo – Tel.: (0xx21) 262-9817
Produção Editorial: Ligia Ricetto (coord.), Caline Devèze, Danielle Sales e
Márcia M. da Mata (ass. coord.), Rita Chabo (diagr.),
Jandira Queiroz e Patrizia Zagni (rev.), Rogério L. da Camara (arte-final capa)
Produção Gráfica: Altamir França
Periodicidade: quadrimestral
Presidente de Seções:
Pres. Seção de Medicina
Jairo Vale (RJ)
Pres. Seção de Cirurgia
Donato D’Angelo (RJ)
Pres. Seção de Ciências Aplic. à Medicina
Linamara Rizzo Battistella (SP)
SOCIEDADE BRASILEIRA DE
MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO
Diretoria – 1999-2001
e-mail: fisiatria@hospitalvirtual.org.br
Presidente
Claudio Gomes
Vice-Presidente (Região Centro-Oeste)
Osvaldo dos Santos
Vice-Presidente (Região Sudeste)
Claudia Fonseca Pereira
Vice-Presidente (Região Norte)
Sonia Maria Carneiro Chaves
Vice-Presidente (Região Sul)
Anthero Sarmento Ferreira
Vice-Presidente (Região Nordeste)
José Henrique D. Carvalho
Secretário
Marcelo Saad
1o Secretário
Cyro Scala Almeida Junior
Tesoureira
Anita Weigand de Castro
1ª- Tesoureira
Nadine Renzi Rossi
Diretora Científica
Linamara Rizzo Battistella
Diretor de Defesa Profissional
Carlos Alexandrino de Brito Junior
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE
MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE
SÃO PAULO
Presidente do Conselho Deliberativo
Prof. Dr. Irineu Tadeu Velasco
Diretor Clínico
Prof. Giovanni Guido Cerri
Superintendente
Dr. José D’Elia Filho
Presidente do Conselho Diretor
do Instituto Central
Prof. Dr. Dario Birolini
Diretora da Divisão de Med. de Reabilitação
Profa. Dra. Linamara Rizzo Battistella
ACADEMIA BRASILEIRA DE MEDICINA DE
REABILITAÇÃO
Diretoria do Biênio 2000-2002
Presidente
R. E. de Araujo Leitão (RJ)
1o Vice-Presidente
Francisco Amarante Neto (RJ)
2o Vice-Presidente
José L. de Sá Cavalcanti (RJ)
Secretário-Geral
Mauro Meirelles Pena (RJ)
1a Secretária
Licia Vilhena Saadi (RJ)
2o Secretário
Antonio Cardoso Santos (RS)
Tesoureiro
Virmar Ribeiro Soares (RJ)
2o Tesoureiro
Oswaldo dos Santos (DF)
Orador
Jayme Specterow (RJ)
ÍNDICE
Volume 8 Número 1 Abril 2001
EDITORIAL
Medidas de Independência Funcional
Linamara Rizzo Battistella ................................................................................5
ARTIGO DE REVISÃO
Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
Claudia Eunice Neves de Oliveira, Maria Elisabete Salina,
Nelson Francisco Annunciato...........................................................................6
ARTIGOS ORIGINAIS
Avaliação das funções corticais superiores em pessoas acometidas
por lesão cerebral
 Sandra Schewinsky de Lima, Harumi Nemoto Kaihami ........................... 14
Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, variando a
carga contínua e intermitente em jogadores de futebol
Paulo Roberto Santos Silva ............................................................................. 18
Padrões mínimos de conduta em medicina eletrodiagnóstica
Armando Pereira Carneiro .............................................................................. 24
Hemartroses recidivantes do tornozelo em hemofílicos –
“Diagnóstico funcional pela podobarometria dinâmica
computadorizada e uso profilático de órteses para os pés –
Relato de um caso”
Linamara Rizzo Battistella, Claudete Lourenço,
Donaldo Jorge Filho.......................................................................................... 34
Reprodutibilidade da versão brasileira da Medida de
Independência Funcional
Marcelo Riberto, Margarida H. Miyazaki, Donaldo Jorge Filho, Hatsue
Sakamoto, Linamara Rizzo Battistella........................................................... 45
CARTA AO LEITOR ......................................................................................... 53
AGENDA ............................................................................................................... 54
NOTÍCIAS ............................................................................................................. 55
ACTA FISIÁTRICA
ACTA FISIÁTRICA publicará Artigos Originais, Artigos de Revisão, Pontos de Vista, Resumos de
Artigos Publicados no Exterior, Notícias e informações sobre entidades fisiátricas. Trabalhos de outra
natureza somente serão publicados a critério da Comissão Editorial.
1. Os artigos devem ser encaminhados à:
ACTA FISIÁTRICA – A/C Editora Profa. Dra. Linamara Rizzo Battistella
Rua Diderot, 43 – São Paulo/SP – CEP 04116-030.
2. Os artigos devem ser redigidos em português correto. Devem constar, além do título do trabalho,
nome(s), sobrenome e qualificação do(s) autor(es), nome e endereço da instituição onde foi
realizado, título resumido (não exceder 50 caracteres, contando os espaços), endereço, número
de telefone e fax do primeiro autor. Solicitam-se três vias. Fica previamente acordado que os
Direitos de Publicação passam a pertencer à ACTA FISIÁTRICA, de tal sorte que a utilização do
artigo, ou parte dele, somente poder-se-á fazer após consentimento da Publicação.
Os artigos de autores internacionais serão publicados na língua original.
3. Os trabalhos deverão ser digitados e enviados em disquete, acompanhados de três cópias
impressas. Há limite máximo de dez laudas por trabalho. Todas as páginas, excluída a do título
do trabalho, deverão ser numeradas.
4. Todos os trabalhos serão enviados para dois relatores independentes para julgamento. Havendo
divergências, caberá ao conselho editorial a solução.
RESUMO
O resumo com, no máximo, 250 palavras deverá conter objetivo, material ou casuística e método,
resultados, discussão e conclusões. Após o resumo, deverão ser indicados, no máximo, seis unitermos.
SUMMARY
O Summary visa permitir a perfeita compreensão do artigo. Deverá conter até 250 palavras e seguir
a disposição: título em inglês, Background, Material, Methods, Results, Conclusions. Deve ser seguido de
Keywords, para o qual se recomenda o uso do “medical subject heading of Index Medicus”.
ARTIGOS ORIGINAIS
Os artigos originais deverão conter, obrigatoriamente, Introdução, Material ou Casuística e
Método, Resultados, Discussão, Conclusões e Referências Bibliográficas.
Referências de “resultados não publicados” e “comunicação pessoal” devem aparecer entre
parênteses, seguindo o(s) nome(s) individual(is) no texto. Exemplo:A.C. Oliveira, P.A. Silva e L.C.
Gaden (resultados não publicados). O autor deve obter permissão para usar “comunicação pessoal”.
ARTIGOS DE REVISÃO
Nos artigos de revisão, é importante que a sistemática de apresentação seja didática.
REL ATOS DE CASOS
Os relatos de casos, salvo os de caráter excepcional, não deverão ultrapassar três laudas, conter
no máximo três ilustrações e quatro autores. O número de referências bibliográficas não deve exceder
oito citações.
Os relatos de casos e as correlações anatomoclínicas deverão conter Introdução, Apresentação
do Caso, Discussão, Conclusões e Referências bibliográficas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As referências bibliográficas devem ser dispostas por ordem de entrada no texto e numeradas
consecutivamente, sendo obrigatória sua citação.
Devem ser citados todos os autores, quando até cinco; acima desse número, citam-se os três
primeiros e, a seguir, et al. O periódico deverá ter seu nome abreviado segundo o Cummulated
Index Medicus ou, se não for possível, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Exemplos:
1. BASMAJIAN, J.V. – Therapeutic exercise . 5ª ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1990.
2. BENNET, R.M. – Current issues concerning management of the fibrisites/fibromyalgia syndrome.
Amer. J. Med., 81 (5): 15-36, 1986.
Referências de “resultados não publicados” e “comunicação pessoal” devem aparecer, entre
parênteses, seguindo o(s) nome(s) individual(is) no texto. Exemplo: A.C. OLIVEIRA, P.A. SILVA &
L.C. GARDEN (resultados não publicados). O autor deve obter permissão para usar “comunicação
pessoal”.
FIGURAS E TABELAS
Devem ser apresentadas apenas quando necessárias, para efetiva compreensão do texto e dos
dados.
a) As figuras, sempre em preto-e-branco, devem ser originais e de boa qualidade. As letras e
símbolos devem estar na legenda.
b) As legendas das figuras e tabelas devem permitir sua perfeita compreensão, indepen-
dentemente do texto.
c) As tabelas, com título e legenda, deverão estar em folhas individuais.
d) Cada figura deverá conter, no verso, o nome do primeiro autor, o número da figura e sua
posição deverá ser indicada com uma seta. Figuras e tabelas, em folhas individuais, deverão ser
numeradas, separadamente, usando algarismo arábico, na ordem em que aparecem no texto.
TODOS OS ARTIGOS DEVERÃO CONTER OBRIGATORIAMENTE
Resumo, Unitermos, Summary, Keywords e Referências bibliográficas.
NORMAS PARA
PUBLICAÇÃO
EDITORIAL
Medidas de Independência
Funcional
Uma mudança conceitual na compreensão dos aspectos
relacionados a deficiência, incapacidade e invalidez exige de todos
os profissionais da saúde novas ferramentas para a avaliação do
paciente portador de deficiência.
O processo de medir, avaliar e registrar desempenho não é novo
na área da saúde. A novidade é o entendimento sobre a capacidade
de adaptação que se pode observar na realização de tarefas, algumas
vezes complexas, do cotidiano.
Classificar e registrar o grau de independência é mais positivo
que enfatizar a dificuldade e a limitação. Neste sentido, o Sistema
FIM (Functional Independence Measure) vem ao encontro de
expectativas da comunidade científica. Esse instrumento é utilizado
nos EUA, em alguns países da Europa, na Austrália e no Canadá e
representa um modelo confiável para o acompanhamento do paciente
dependente desde a fase aguda da lesão. Concluímos a análise dos
dados do primeiro estudo multicientífico para tradução e validação
do Sistema FIM, que será conhecido, tanto no Brasil quanto em
Portugal, como Medidas de Independência Funcional (Sistema MIF).
Este grande estudo multicientífico mobilizou dez centros
universitários e vários pesquisadores em um esforço inédito que
contou com o apoio da FAPESP.
Para confirmar a importância desse projeto e garantir que o
registro da funcionalidade possa ser codificado com o mesmo interesse
e importância com que se registra a doença, a Organização Mundial
da Saúde está editando e estimulando a internalização do Código
Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Doenças (ICIDH-2).
Essa codificação documenta, de forma inequívoca, a especifi-
cidade que deve ter a assistência ao paciente portador de lesão
incapacitante e de doenças crônico-degenerativas.
O próximo passo é certificar os avaliadores e garantir a uni-
formidade de registros.
Ao utilizar essa nova sistemática de registro, os organismos
internacionais estão evidenciando a necessidade de viabilizar
profissionais e serviços capacitados para assistir o paciente, limitando
a lesão, prevenindo seqüelas e promovendo saúde!
Este importante trabalho está sob a direção do Prof. Dr. Ruy
Laurentis e deverá, até o final deste ano, ser traduzido e validado
para o Brasil.
Linamara Rizzo Battistella
Editora
ARTIGO
DE REVISÃO
Fatores ambientais que influenciam
a plasticidade do SNC
Claudia Eunice Neves de Oliveira*
Maria Elisabete Salina**
Nelson Francisco Annunciato***
* Fisioterapeuta graduada pela Universidade do Grande ABC, pós-graduanda em
Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Endereço para correspondência:
Rua Ataulfo Alves, 352, Jd. Panorama – São Paulo, SP – CEP 03251-190
Tels.: (0XX11) 9706-7868, 6702-6284, 6702-1188. E-mail: claudia.eunice@ig.com.br
** Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade do Grande ABC, Universidade
da Cidade de São Paulo, pós-graduanda do Departamento de Morfologia da
UNIFESP – EPM.
*** Professor do Curso de Pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Prof. Dr. em Neurociências pelo Instituto
de Ciências Biomédicas da USP e pela Universidade Médica de Lübeck (Alemanha),
pós-doutorado em “Programas de Reabilitação Neurológica” pelo “Kinderzentrum”
de Munique (Alemanha).
Instituição responsável: Universidade do Grande ABC
Av. Industrial, 3330 – Santo André – SP
Data de recebimento do artigo: 6/11/00 – Data de aprovação: 27/12/00
RESUMO
O SNC possui uma rede neural complexa, com células altamente especializadas, que
fazem milhares de conexões a todo momento e determinam a sensibilidade e as ações
motoras, traduzindo-as em comportamento. Na presença de lesões, há um desarranjo
nesta rede neural e o SNC inicia seus processos de reorganização e regeneração. A
plasticidade neural refere-se à capacidade que o SN possui em alterar algumas das
suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. A
análise dos aspectos plásticos do SNC permite-nos relacioná-los a vários fatores, como
a influência do meio ambiente, o estado emocional, o nível cognitivo, entre outros,
que interferem direta ou indiretamente na plasticidade do SNC e, conseqüentemente,
na reabilitação do paciente neurológico. Assim, por meio da revisão da literatura,
procuramos uma fundamentação teórica, a qual trará bases para a prática clínica,
buscando uma nova visão sobre as perspectivas de reabilitação do paciente neurológico
adulto.
UNITERMOS
Plasticidade neural. Lesão no SNC. Ambiente terapêutico. Reabilitação física. Adulto.
SUMMARY
The central nervous system (CNS) possesses a complex neural net, with highly
specialized cells, making thousands of connection at every moment; these cells
determine sensitivity and motor activity, translated into behavior. Following lesion, a
derangement of this neural net occurs, and the CNS begins processes of reorganization
and regeneration. Neural plasticity refers to the NS’s capacity to alter some of its
morphological and functional properties in response to environmental changes.
Analysis of the plastic aspects of the CNS, allows us to relate them to factors like
among others, environmental influences, emotional condition, and cognitive level
interfering direct or indirectly with CNS plasticity and the rehabilitation of the
neurological patient. By searching for theoretical support, we now expect to bring
basicknowledge to clinical practice and new views on the perspectives for rehabilitation
of this patient.
KEYWORDS
Neural plasticity. CNS lesions. Therapeutic environment. Phisycs rehabilitation. Adults.
7OLIVEIRA, C. E. N. e cols. – Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
Acta Fisiátrica 8(1): 6-13, 2001
Introdução
Durante muito tempo, acreditou-se que o
sistema nervoso central (SNC), após seu desen-
volvimento, tornava-se uma estrutura rígida, que
não poderia ser modificada, e que lesões nele se-
riam permanentes, pois suas células não poderiam
ser reconstituídas ou reorganizadas. Hoje, sabe-
se que o SNC tem grande adaptabilidade e que,
mesmo no cérebro adulto, há evidências de
plasticidade na tentativa de regeneração1.
A plasticidade neural refere-se à capacidade
que o SNC possui em modificar algumas das suas
propriedades morfológicas e funcionais em res-
posta às alterações do ambiente. Na presença de
lesões, o SNC utiliza-se desta capacidade na
tentativa de recuperar funções perdidas1,2 e/ou,
principalmente, fortalecer funções similares rela-
cionadas às originais.
A reabilitação física faz parte do meio am-
biente em que o paciente neurológico encontra-se
inserido, dessa forma, faz-se necessário que o
terapeuta seja conhecedor de alguns fatores que
interferem direta ou indiretamente nos processos
plásticos do SNC, para a otimização da terapia.
Estágios da plasticidade do SNC
A plasticidade do SNC ocorre, classicamente,
em três estágios: desenvolvimento, aprendizagem
e após processos lesionais.
Desenvolvimento
Na embriogênese, tem-se a diferenciação
celular, em que células indiferenciadas, por ex-
pressão genética, passam a ser neurônios. Após a
proliferação, migram para os locais adequados e
fazem conexões entre si3. Os neurônios dispõem
de uma capacidade intrínseca sobre sua posição
em relação a outros neurônios, e seus axônios
alcançam seus destinos graças aos marcadores de
natureza molecular e à quimiotaxia. A secreção de
substâncias neurotróficas, neste caso, os fatores de
crescimento ajudam o axônio na busca de seu
alvo4. A maturação do SNC inicia-se no período
embrionário e só termina na vida extra-uterina.
Portanto, sofre influências dos fatores genéticos,
do microambiente fetal e, também, do ambiente
externo, sendo este último de grande relevância
para seu adequado desenvolvimento.
Aprendizagem
Este processo pode ocorrer a qualquer mo-
mento da vida de um indivíduo, seja criança,
adulto ou idoso, propiciando o aprendizado de
algo novo e modificando o comportamento de
acordo com o que foi aprendido. A aprendizagem
requer a aquisição de conhecimentos, a capacidade
de guardar e integrar esta aquisição5, para pos-
teriormente ser recrutada quando necessário.
A reabilitação física, entre outros fatores, tem
por objetivo favorecer o aprendizado ou reapren-
dizado motor, que é um processo neurobiológico
pelo qual os organismos modificam temporária
ou definitivamente suas respostas motoras, me-
lhorando seu desempenho, como resultado da
prática6.
Durante o processo de aprendizagem, há mo-
dificações nas estruturas e funcionamento das
células neurais e de suas conexões, ou seja, o
aprendizado promove modificações plásticas,
como crescimento de novas terminações e botões
sinápticos, crescimento de espículas dendríticas,
aumento das áreas sinápticas funcionais7, estrei-
tamento da fenda sináptica, mudanças de confor-
mação de proteínas receptoras, incremento de
neurotransmissores8.
A prática ou a experiência promovem, também,
modificações na representação do mapa cortical9-11.
Pascual-Leone et al.12 demonstraram que a aqui-
sição de uma nova habilidade motora, neste caso,
tocar piano, reorganizava o mapa cortical, au-
mentando a área relacionada aos músculos flexores
e extensores dos dedos. Em um estudo com leitores
de Braille, verificaram que o dedo indicador
utilizado para a leitura tem maior representação
cortical que o dedo contralateral13.
Jueptner et al.14 e Grafton et al.15, por sua vez,
encarregaram-se de mapear as áreas do SNC que
são ativadas durante o processo de aprendizagem
motora, em que eram realizados movimentos com
as mãos, e verificaram que várias regiões agem em
conjunto, como o córtex motor primário, o córtex
pré-motor, a área motora suplementar, a área
somatossensorial, os núcleos da base, entre outras.
Após lesão neural
A lesão promove no SNC vários eventos que
ocorrem, simultaneamente, no local da lesão e
distante dele. Em um primeiro momento, as célu-
las traumatizadas liberam seus aminoácidos e seus
neurotransmissores, os quais, em alta concen-
tração, tornam os neurônios mais excitados e mais
vulneráveis à lesão. Neurônios muito excitados
podem liberar o neurotransmissor glutamato, o
qual alterará o equilíbrio do íon cálcio e induzirá
seu influxo para o interior das células nervosas,
ativando várias enzimas que são tóxicas e levam
os neurônios à morte. Esse processo é chamado
8
Acta Fisiátrica 8(1): 6-13, 2001
OLIVEIRA, C. E. N. e cols. – Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
de excitotoxicidade16. Ocorre, também, a ruptura
de vasos sanguíneos e/ou isquemia cerebral, di-
minuindo os níveis de oxigênio e glicose, que são
essenciais para a sobrevivência de todas as células.
A falta de glicose gera insuficiência da célula
nervosa em manter seu gradiente transmem-
brânico, permitindo a entrada de mais cálcio para
dentro da célula, ocorrendo um efeito cascata17.
De acordo com o grau do dano cerebral, o
estímulo nocivo pode levar as células nervosas à
necrose, havendo ruptura da membrana celular,
fazendo com que as células liberem seu material
intracitoplasmático e, então, lesem o tecido vi-
zinho; ou pode ativar um processo genético
denominado apoptose, em que a célula nervosa
mantém sua membrana plasmática, portanto, não
liberando seu material intracelular, não havendo
liberação de substâncias com atividade pró-
inflamatória e, assim, não agredindo outras cé-
lulas18,19. A apoptose é desencadeada na presença
de certos estímulos nocivos, principalmente pela
toxicidade do glutamato, por estresse oxidativo e
alteração na homeostase do cálcio20.
A lesão promove, então, três situações dis-
tintas: (a) uma em que o corpo celular do neurônio
foi atingido e ocorre a morte do neurônio, sendo,
neste caso, o processo irreversível1; (b) o corpo
celular está íntegro e seu axônio está lesado ou (c)
o neurônio se encontra em um estágio de excitação
diminuído16. Os mecanismos de reparação e reor-
ganização do SNC começam a surgir imediata-
mente após a lesão e podem perdurar por meses e
até anos21,22. São eles:
a) Recuperação da eficácia sináptica
Este processo consiste em fornecer ao tecido
nervoso um ambiente mais favorável à recupera-
ção23. Assim, nesta fase, a recuperação é feita por
drogas neuroprotetoras17, que visam a uma melhor
oferta do nível de oxigenação e glicose, à redução
sanguínea local e do edema24;
b) Potencialização sináptica
Este processo consiste em manter as sinapses
mais efetivas, por meio do desvio dos neurotrans-
missores para outros pontos de contatos que não
foram lesados24;
c) Supersensibilidade de denervação
Em caso de denervação, a célula pós-sináptica
deixa de receber o controle químico da célula pré-
sináptica25; para manter seu adequado funciona-
mento, então, a célula promove o surgimento de
novos receptores de membrana pós-sináptica26,27;
d) Recrutamento de sinapses silentes
No nosso organismo, em situações fisioló-
gicas, existem algumas sinapses que, morfologi-
camente, estão presentes, mas que, funcional-
mente, estão inativas. Essas sinapses são ativadas
ou recrutadas quando um estímulo importante
às células nervosas é prejudicado. No caso de
lesão das fibras principais de uma determinada
função, outras fibras que estavam dormentes
poderão ser ativadas28,29,30;
e) BrotamentosEste fenômeno consiste na formação de novos
brotos de axônio, oriundos de neurônios lesados
ou não-lesados31,
• brotamento regenerativo: ocorre em axô-
nios lesados e constitui a formação de novos
brotos provenientes do segmento proximal, pois
o coto distal, geralmente, é rapidamente degene-
rado. O crescimento desses brotos e a formação
de uma nova sinapse constituem sinaptogênese
regenerativa24,
• brotamento colateral: ocorre em axônios
não lesionados, em resposta a um estímulo que
não faz parte do processo normal de desenvolvi-
mento. Este brotamento promove uma sinapto-
gênese reativa28,31.
Fatores responsáveis pelo crescimento axonal
A capacidade de formação de novos brotos e
crescimento dos axônios pode ser programada
geneticamente ou pode depender do meio. Existe
uma classe de proteínas regenerativas, as quais
promovem esse evento e são denominadas fatores
tróficos. São eles: fator de crescimento do nervo
(NGF – nerve growth factor), fator neurotrófico
derivado do cérebro (BDNF – brain derived neu-
rotrophic factor), neurotrofina 3 (NT-3 – neuro-
trophin-3), neurotrofinas 4, 5 e 6, fator neurotrófico
ciliar (CTNF – ciliary neurotrophic factor)32,33, fator
neurotrófico derivado da glia (GDNF – glial de-
rived neurotrophic factor)34,35, fator de crescimento
fibroblástico ácido (aFGF – acidic fibroblast
growth factor), fator de crescimento fibroblástico
básico (bFGF – basic fibroblast growth factor),
fator de crescimento epidérmico (EGF – epidermal
growth factor)36, entre outros.
Esses fatores são produzidos pelas células-
alvo, ou seja, por outros neurônios, glândulas e
tecido muscular, e cada fator trófico parece sus-
tentar uma determinada classe de neurônios32.
Contudo, para que esses fatores atuem sobre um
neurônio, é necessária a presença de um receptor
nos terminais axônicos. Assim, os fatores tróficos
ligam-se a esses receptores e este complexo é inter-
nalizado pelo mecanismo de endocitose e trans-
portado retrogradamente até o corpo celular. No
soma, o DNA é ativado e promove o aumento de
organelas citoplasmáticas, o que favorece o cres-
cimento de dendritos e axônio36.
9OLIVEIRA, C. E. N. e cols. – Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
Acta Fisiátrica 8(1): 6-13, 2001
Com o avanço tecnológico, principalmente da
engenharia genética, muitos desses e outros fatores
neurotróficos podem ser produzidos em labora-
tório, na tentativa de ofertar ao SNC maiores
condições de regeneração. Essas moléculas têm
grande potencial terapêutico, principalmente no
tratamento de doenças degenerativas, como
Alzheimer, Parkinson, esclerose lateral amiotrófi-
ca, entre outras4,16.
Fatores ambientais que influenciam a
plasticidade do SNC
Para a adequada reabilitação física, é neces-
sário que o terapeuta seja conhecedor de vários
fatores que interferem direta ou indiretamente nos
processos plásticos, de aprendizagem e, conse-
qüentemente, na reabilitação do paciente neu-
rológico adulto. Assim, segue-se alguns itens que
auxiliarão o terapeuta em suas intervenções, com
o intuito de otimizar o processo terapêutico.
Características da lesão
Tempo em que ocorreu a lesão
Lesões que ocorrem lentamente deixam me-
nos seqüelas que lesões súbitas. Por exemplo, um
tumor cerebral cresce vagarosamente, demorando
mais para danificar o tecido vizinho, oferecendo
maior oportunidade para este tecido reagir e ten-
tar se acomodar ao tecido estranho, promovendo
o crescimento de seus ramos dendríticos e/ou axo-
nais, para, assim, manter suas conexões funcionais.
Já as lesões súbitas, como acidente vascular cere-
bral ou traumatismo cranioencefálico, não forne-
cem às células que estão ao redor da lesão um tem-
po hábil para se reestruturarem1.
Extensão da lesão
Quanto menor a extensão da lesão, mais fácil
é o crescimento axonal e melhor será o prognóstico
terapêutico37 e, de acordo com a morfologia do
axônio, existe também uma maior ou menor con-
tribuição para a neuroplasticidade. Assim, neu-
rônios com axônios mais longos e que possuem um
número maior de dendritos são menos vulneráveis
à degeneração que neurônios com axônios curtos e
com pouca ramificação dendrítica1.
Local da lesão
Microscopicamente, danos que afetam o axô-
nio em sua região mais distal do corpo celular es-
tão mais propensos à regeneração que lesões que
atingem o axônio em sua porção mais proximal
ao soma1.
Macroscopicamente, alguns danos, em de-
terminados locais, deixam alguns indivíduos mais
debilitados que outros. Por exemplo, um atleta que
sofre uma lesão em qualquer área do córtex motor
e um indivíduo sedentário que sofre a mesma le-
são, no mesmo local, na mesma proporção, certa-
mente mostrar-se-á o atleta, aparentemente, mais
debilitado que o indivíduo sedentário, porém, terá
maior facilidade em recuperar suas funções devi-
do às suas experiências anteriores37.
Biografia do paciente
Neste caso, compreende tudo o que aconte-
ce com um indivíduo desde a sua fecundação,
quando o indivíduo herda um programa genéti-
co básico que poderá lhe facilitar o desenvolvi-
mento adequado ou poderá dificultá-lo, se hou-
ver alguma mutação genética. Compreende, as-
sim, o desenvolvimento pré, peri e pós-natal, a
infância, a adolescência, a fase adulta e a velhice.
Colher a maior quantidade de dados sobre a bi-
ografia do paciente favorece o tratamento, pois,
assim, o terapeuta poderá se beneficiar desses
dados para, durante a terapia, utilizar materiais
e linguagens que sejam apreciados e entendidos
pelo paciente. Por exemplo, se o paciente for um
marceneiro, a terapia poderá utilizar-se de alguns
materiais em madeira para estimulá-lo37.
Idade
Apesar das afirmações de que a capacidade
neuroplástica decresce com o envelhecimento e
possui seu ápice no início da ontogênese38, já se
verificou que os processos neuroplásticos ocorrem
tanto em crianças quanto em adultos ou idosos.
Em geral, a maioria dos trabalhos sugere que
os danos precoces no SNC debilitam menos do que
quando ocorrem no sistema mais maduro. Outros,
porém, informam que quando os danos cerebrais
ocorrem em adultos, afetam menos o comporta-
mento do que quando o mesmo tipo de dano ocorre
em crianças. Stein et al.1 relatam que não há regras
rígidas e que o SNC age diferentemente à lesão em
diferentes estágios do seu desenvolvimento.
Entretanto, o que parece realmente impor-
tante é saber que o SNC se reorganiza após o dano
e este pode ser o fator determinante para que haja
a recuperação, ainda que parcial.
10
Acta Fisiátrica 8(1): 6-13, 2001
OLIVEIRA, C. E. N. e cols. – Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
Diagnóstico
O correto diagnóstico, baseado em uma óti-
ma anamnese, exame físico, testes neurológicos,
exames de imagens e exames laboratoriais, favo-
rece um adequado programa terapêutico. Quan-
to antes for diagnosticado o distúrbio, mais pre-
coce se inicia a intervenção terapêutica e maiores
as chances de reabilitação37.
Início e duração da terapia
Os processos de reparação e reorganização
do SNC começam a acontecer logo após a lesão21.
Não se sabe qual processo começa primeiro ou
qual acontece em maior quantidade, mas isso é o
suficiente para saber que a reabilitação deve
começar precocemente, evitando maiores falhas,
procurando resgatar padrões de comportamen-
tos mais próximos da normalidade e, para este
fim, recomenda-se também a intensificação da
terapia na fase inicial em que a plasticidade é efe-
tivamente mais intensa, embora se saiba que ela
pode durar anos39.
Determinar a duração da terapia não é racio-
nal, uma vez que cada paciente responde de forma
diferente à terapia e, certamente, não há um cálcu-
lo matemático em que se possa chegar a um nú-
mero determinado de terapias. Esperar mudan-
ças rápidas, na presença de danos extensos, não
parece lógico. Bach-y-Rita28 verificou que a recupe-
raçãoda função em pacientes com AVC continua
a ocorrer mais de cinco anos após a lesão. Assim,
programas terapêuticos intensivos, por longo
período de tempo, podem favorecer a recuperação
da função.
Freqüência e intensidade da terapia
É importante que o trabalho de reabilitação
seja intensivo e contínuo para que possa surtir
melhor efeito, isto é, deve ocorrer diariamente,
durante algumas horas, quando possível. E esta
prática, distribuída por vários dias, produz taxas
mais altas de aprendizagem do que quando
concentrada em um único dia40. O aprendizado
motor utiliza a memória de procedimento, que é
um tipo de memória que está a mercê do treina-
mento5. Assim, para aprender um ato motor, é
necessário repetir inúmeras vezes a mesma ação
para ela se fixar. Determinar quantas vezes se deve
repetir cada ato motor para que ocorra a fixação
não parece ser possível, pois há muitas variações,
principalmente de acordo com o grau de complexi-
dade da tarefa. Freqüência e intensidade signi-
ficante permitem uma melhor qualidade dos
feedbacks sensoriais, favorecendo a fixação do ato
motor6. Essas freqüência e intensidade da tarefa
motora são importantes, pois a restituição
aprendida pode perder-se novamente, caso não
seja utilizada a longo prazo24, sendo adequado
manter uma ativação contínua ou periódica do
sistema neural envolvido38.
Nos programas terapêuticos em que não é
possível um atendimento intensivo e contínuo, as
orientações familiares são de enorme importância.
Ensinar à família do paciente e orientá-la para
determinadas condutas, que auxiliam a terapia,
trarão grandes benefícios.
Estado emocional
O estado emocional interfere diretamente no
tratamento terapêutico e nos vários estados emo-
cionais que o paciente pode apresentar. Dois são
muito relevantes: motivação e depressão.
Motivação
É o processo que mobiliza o indivíduo para a
ação; compreende desejo, vontade, interesse ou
pré-disposição para agir. O paciente precisa estar
ou ser motivado para a terapia. As tarefas devem
ter um grau adequado de complexidade. Não po-
dem ser muito difíceis, pois o paciente não con-
seguirá realizá-las, gerando frustração, e não
podem ser muito fáceis porque não motivarão.
Quando o paciente obtém sucesso com a tarefa,
este sucesso é um modo de reter a motivação37.
Mas não é somente o paciente que precisa
estar motivado, a família do paciente e os profis-
sionais da saúde também precisam desfrutar
essa mesma condição emocional. Os profissio-
nais da saúde precisam se precaver ao informar
o diagnóstico ao paciente e/ou à sua família,
para não desmotivá-los, pois, se isso acontecer,
neste momento quebrar-se-á o vínculo terapeu-
ta-paciente.
Depressão
A depressão é um estado facilmente encon-
trado nos pacientes neurológicos adultos, princi-
palmente nos portadores de doença de Parkinson
e AVC. A depressão pode ser vista como conse-
qüência das alterações físicas e psicossociais que
suas patologias podem trazer ou pode fazer parte
integrante do quadro clínico. Independentemente
de sua etiologia, a depressão deve ser adequada-
11
mente tratada, pois dificulta a reabilitação mo-
tora, visto que é comum o paciente apresentar
sentimentos de desesperança e pessimismo,
sensação de desânimo e dificuldade para se con-
centrar41. Robinson-Smith et al.42 informam que
estimular a autoconfiança nos pacientes por-
tadores de AVC melhora o autocuidado, com is-
so, diminui a depressão e consegue-se uma me-
lhor qualidade de vida.
Ambiente terapêutico
O ambiente terapêutico deve fornecer con-
dições adequadas para o aprendizado ou rea-
prendizado motor do paciente, propiciando a
maior qualidade de estímulos possíveis, pois a in-
tegração do paciente neurológico com o meio pos-
sibilita o surgimento de caminhos, tanto do ponto
de vista do substrato morfológico quanto funcio-
nal, que viabilizam a superação de obstáculos ge-
rados pela lesão cerebral37.
Entre os ambientes terapêuticos menos en-
riquecedores, podemos citar o ambiente hospita-
lar, visto que os hospitais são projetados para ofe-
recer tecnologia médica eficaz e, geralmente, não
estão preocupados com os aspectos psicológicos
do ambiente. Possuem um ambiente estéril e im-
pessoal, que pode limitar a capacidade de reor-
ganização funcional dos pacientes. Contudo, am-
bientes terapêuticos muito poluídos também di-
ficultam a reabilitação. Oferecer diferentes e inú-
meros estímulos sensoriais simultaneamente não
viabiliza a terapia, pois durante o processo de ha-
bilitação ou reabilitação o SNC precisa receber a
mesma informação, repetidas vezes, com certa or-
dem para poder integrar essas informações e tor-
ná-las funcionais28.
O ambiente terapêutico está além dos hospi-
tais e clínicas, incluindo também o lar do paciente,
onde o mesmo poderá realizar um auto-apren-
dizado. Nesse contexto, constata-se mais uma vez
a importância da participação dos familiares e/ou
cuidadores, que devem trabalhar a terapêutica
desse indivíduo, desde a utilização de um correto
posicionamento até a preocupação com sua in-
teração psicossocial. O paciente deve receber es-
tímulos sensoriais proprioceptivos e exteroceptivos
adequadamente, em todos os ambientes.
Comunicação
A comunicação na área da saúde é funda-
mental para o bom entendimento entre paciente e
terapeuta, família e terapeuta, paciente e família,
bem como dentro de toda a equipe multidisciplinar
ou interdisciplinar. A comunicação não se consti-
tui apenas na palavra verbalizada, mesmo porque
muitos dos pacientes neurológicos não conseguem
pronunciar fonemas. Portanto, a comunicação não-
verbal, que compreende toda a informação obti-
da por meio de gestos, posturas, expressões
faciais, orientações do corpo, singularidade
somática, organização dos objetos no espaço e até
pela relação de distância mantida entre os indiví-
duos43 será um recurso muito apropriado para o
terapeuta interpretar com maior precisão os sen-
timentos do paciente, suas dúvidas, seus medos e
anseios, criando assim maior vínculo terapêutico
e, desse modo, potencializando a fisioterapia.
Condições físicas
O estado nutricional e o bom condicionamen-
to musculoesquelético propiciam maiores con-
dições físicas ao paciente neurológico, permitindo-
lhe uma melhor reabilitação37.
Cognição
O nível cognitivo do paciente neurológico é
importante no processo terapêutico e este pode
ou não estar afetado pela lesão. Certamente, os
indivíduos com menor déficit cognitivo, respon-
dem de maneira mais adequada à terapia, por
manterem sua esfera de funcionamento intelectual
preservada.
A cognição também pode ser usada como
técnica terapêutica. Por exemplo, a prática mental
de uma habilidade física tem sido utilizada para
facilitar o desempenho de uma rotina já aprendida
e para a aquisição de uma habilidade motora.
Decety et al.44 utilizaram a tomografia de emissão
de pósitrons (PET) em um experimento com su-
jeitos normais para comprovar que durante a prá-
tica mental há a ativação dos caminhos neurais
relacionados com as áreas de controle motor; as-
sim, verificaram que a área 6 de Brodmann, o nú-
cleo caudado e o cerebelo bilateralmente foram
ativados.
Saber quão eficaz é a prática mental para as
habilidades motoras ainda é um desafio. A prática
mental é melhor do que nenhuma prática, apesar
de não ser tão eficaz quanto a prática real; porém,
a combinação da prática mental com a física, na
proporção adequada, pode levar a resultados tão
bons quanto uma quantidade igual de prática
apenas física. Essa mentalização parece facilitar
a armazenagem do movimento na memória12.
OLIVEIRA, C. E. N. e cols. – Fatores ambientais que influenciam a plasticidade do SNC
Acta Fisiátrica 8(1): 6-13, 2001
12
Programa terapêutico
O programa terapêutico do paciente neuro-
lógico adulto, geralmente, envolve muitas áreas,
como especialidades médicas, fisioterapia,fo-
noaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, tra-
tamento medicamentoso, cirúrgico e quaisquer
outros planos de tratamento que visam à recu-
peração funcional do paciente.
A reabilitação motora, nesses pacientes, tem
como função promover o mais alto nível de funcio-
namento do aparelho neuromusculoesquelético e a
aprendizagem ou reaprendizagem e automatização
de habilidades motoras a serem realizadas pelo
paciente em seu dia-a-dia ou, ainda, promover a
adaptação do paciente a uma nova realidade.
Sempre que se planeja uma intervenção, é pre-
ciso saber por que fazê-la e quais objetivos de-
vem ser atingidos. Além disso, as intervenções
devem ser significativas para o paciente, e este
deve saber por que está realizando aquela tare-
fa, não bastando apenas executá-la. Assim, a ta-
refa requer uma estratégia funcional e
comportamental.
O tratamento de seqüelas motoras dos
pacientes com lesões neurológicas deve sempre
ser fundamentado em mecanismos fisiológicos.
O potencial de reabilitação dependerá do ade-
quado restabelecimento dos diversos estímulos
sensoriais, tais como visuais, auditivos, proprio-
ceptivos e exteroceptivos, os quais são captados
e conduzidos ao SNC para serem identificados,
analisados, programados e, assim, fixarem cir-
cuitos neurais que permitam a adequada emis-
são de comportamento.
A plasticidade no processo de aprendizagem
ou reaprendizagem do controle motor depende-
rá da otimização da informação sensorial. Nelles
et al.21 demonstraram a importância do estímulo
proprioceptivo, por meio da manipulação passiva
em pacientes com AVC isquêmico, com seqüelas
de hemiplegia. Esse tipo de manipulação provo-
cou um aumento do fluxo sanguíneo cerebral re-
gional (rCBF) no córtex sensoriomotor e iden-
tificou a ativação cerebral, que pode ser crítica
para o retorno do controle motor voluntário.
Mayville et al.45 demonstraram a importância
do estímulo auditivo para a coordenação senso-
riomotora. Por meio da emissão de sons, era so-
licitado aos sujeitos que realizassem um movi-
mento com os dedos, verificando-se uma melho-
ra da coordenação rítmica. Da mesma forma, o
terapeuta, por meio do comando verbal, pode
potencializar o movimento, preparando o paciente
para a ação, informando-o como realizar o movi-
mento e oferecendo as orientações de correção
do movimento, quando necessário.
Wickelgren46 e Dobkin47 enfatizam a impor-
tância dos estímulos sensoriais periféricos exa-
tos para a reabilitação. Assim, afirmam que para
ensinar pacientes com lesões medulares a andar,
é necessário, além de colocá-los na posição ortos-
tática, fornecer-lhes um meio para que movam
seus membros inferiores (MMII) como se estives-
sem andando. Dessa forma, utilizam uma estei-
ra sobre o solo, que possibilita a descarga do
peso do corpo sobre os MMII, oferecendo pro-
priocepção de seus segmentos. Este fato é rele-
vante, porém, esse tipo de treinamento ainda
está em fase de estudos.
Por fim, o programa terapêutico do paciente
neurológico adulto precisa considerar todos es-
ses fatores citados, entre outros, e precisa, princi-
palmente, fazer com que o próprio paciente e sua
família participem ativamente do programa, to-
dos com a finalidade de restabelecer o bem-es-
tar biopsicossocial do paciente.
Conclusão
A plasticidade do SNC viabiliza a re-
cuperação do paciente neurológico adulto, ain-
da que parcialmente. A interação com o meio
ambiente é capaz de provocar transformações
estruturais e funcionais no SNC. E, como a rea-
bilitação física manipula os fatores intrínsecos e
extrínsecos, permitindo uma adaptação cada vez
melhor das respostas motoras emitidas, isso sig-
nifica dizer que este método de tratamento,
adequadamente aplicado, contribui efetivamente
para a neuroplasticidade.
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14
ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação das funções corticais
superiores em pessoas acometidas
por lesão cerebral
 Sandra Schewinsky de Lima*
 Harumi Nemoto Kaihami**
RESUMO
O artigo aborda a importância de se considerar as pessoas com acometimentos
mórbidos cerebrais que podem apresentar hemiplegia como seqüela incapacitante,
que pode afetar os atos motores voluntários no hemicorpo contralateral, problemas
nas funções corticais superiores, distúrbios nas esferas emocional e comportamental.
O paciente ao ser inserido no processo de reabilitação na Divisão de Medicina de
Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo é avaliado na Assistência Psicológica, a fim de se averiguar a dinâmica
afetivo-emocional, o desempenho intelecto-cognitivo, os déficits das funções
neuropsicológicas e a dinâmica familiar.
O entrelaçamento dos dados permite traçar um perfil do paciente e possibilita
delimitar a intervenção psicológica pertinente, bem como traduzir suas dificuldades
e eficiências para a equipe e familiares.
UNITERMOS
Lesão cerebral. Hemiplegia. Funções corticais superiores. Família.
SUMMARY
This article refers to the understanding of persons with brain injury who may present
hemiplegia as an incapable sequela, which may affect motor volunteer acts in the
opposite side of the body, problems in the cortical superior functions, disturbances
in the emotional and conductal spheres.
When the patient is introduced in the rehabilitation process at Divisão de Medicina
de Rehabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, he is evaluated in the Psychological Assistance in order
to investigate the affective-emotional dynamics, intellectual-cognitional
performance, deficit of neuropsychological functionns and family dinamics.
The interlacement of data permits to delineate a profile of the patient and enables
to delimit a pertinent psychological intervention, as much as translate theirs
difficulties and efficiences to the team and the relatives.
KEYWORDS
Brain injury. Hemiplegia. Cortical superior functions. Family.
* Psicóloga encarregada do Serviço de Psicologia da Divisão de Medicina de
Reabilitação do Hospital das Clínicas da FMUSP, mestranda em Psicologia pela
Universidade São Marcos.
** Psicóloga Chefe do Serviço de Psicologia da Divisão de Medicina de Reabilitação do
Hospital das Clínicas da FMUSP, mestranda em Ciências pela Faculdade de
Medicina da USP.
Endereço para correspondência:
Rua Diderot, 43
CEP 04116-030 – São Paulo – SP
Data de recebimento do artigo: 10/10/00 – Data de aprovação: 10/11/00
15LIMA, S. S.; KAIHAMI, H.N. – Avaliação das funções corticais superiores em pessoas acometidas por lesão cerebral
Acta Fisiátrica 8(1): 14-17, 2001
Entre os vários grupos de deficientes aten-
didos na Divisão de Medicina de Reabilitação –
HCFMUSP, há os que se inserem na Equipe de
Hemiplegia; são pessoas que sofreram acome-
timentos mórbidos do sistema nervoso central, tais
como acidente vascular cerebral, traumatismo
cranioencefálico, tumores e outros. Tais lesões
cerebrais podem acarretar a hemiplegia como
seqüela incapacitante e conforme a região afetada,
ocorre também como conseqüência distúrbios dos
atos motores voluntários do hemicorpo contrala-
teral, alterações das funções corticais superiores
como memórias, praxias, gnoses, abstrações, or-
ganização e planejamento, organização temporal
e espacial, linguagem em um ou mais de seus
vários aspectos, consciência e distúrbios na esfera
emocional e comportamental.
Os portadores de hemiplegia enquadrados no
processo de reabilitação nesta instituição passam
por uma avaliação psicológica a fim de perceber-se
sua performance geral nesse determinado mo-
mento. Os objetivos principais são averiguar a di-nâmica afetivo-emocional, o desempenho inte-
lecto-cognitivo, a presença de déficits das funções
neuropsicológicas e a dinâmica familiar.
Os recursos para avaliar a dinâmica emocional
são os usualmente utilizados para qualquer po-
pulação; ressalta-se a existência de pacientes que
apresentam distúrbios de linguagem, bem como
déficit de funções corticais implicando a necessi-
dade de complementar as entrevistas com familia-
res, modificar a forma de comunicação e adequar
o material utilizado, usando outros instrumentos
pertinentes.
Outro aspecto importante a ser averiguado é
se a lesão cerebral desencadeou uma depressão
endógena, ou seja, uma mudança de humor no
sentido das “emoções negativas”; nesta, o tônus
baixa e o paciente pode tornar-se melancólico,
mostra-se pessimista tanto em relação à sua
situação presente quanto à futura; queixa-se de
não se sentir bem, sendo difícil reverter essa si-
tuação. Quanto à depressão exógena, esta nor-
malmente ocorre em virtude do sofrimento ad-
vindo das perdas e sentimentos de impotência sus-
citados pela própria instalação da deficiência.
Há pacientes que também manifestam labi-
lidade de humor, ora rindo, ora chorando, sem
haver necessariamente uma relação contextual e
sem se aperceberem do motivo. As lesões cerebrais
também alteram o domínio das emoções, podendo
haver um estado de espírito melhor, com maior
entusiasmo e euforia, apresentando comportamen-
to jocoso e crítica rebaixada (Alves & Schewinsky
et al., 1992).
O nível intelecto-cognitivo e as funções
corticais também devem ser cuidadosamente ava-
liadas, pois se apresentam algumas vezes pre-
judicadas em virtude do acometimento mórbido
cerebral existente, estabelecendo-se assim, em
conjunto com a equipe médica, uma relação entre
o déficit de uma determinada função, a localização
da lesão e a especificidade cerebral. O interesse do
profissional de psicologia não é só o de estudar as
estruturas cerebrais e qualificar os sintomas, mas
sim poder relacionar esses fatores, averiguando a
dinâmica funcional dos pacientes, e como as
disfunções interferem em seu desempenho global.
A atividade mental do homem é um sistema
funcional complexo, envolvendo a participação de
um grupo de áreas do córtex operando em concerto,
podendo às vezes se tratar de zonas cerebrais
bastante distantes uma da outra; uma lesão de
qualquer uma dessas regiões pode acarretar
desintegração de todo o sistema funcional (Luria,
1978 ). Ressalta-se a existência de lesões difusas,
colaborando para uma maior complexidade dos
casos acometidos de traumatismo cranioencefálico.
A organização cerebral é proposta de acordo
com a atividade integrada de todas as regiões
cerebrais que governam os processos psicológicos
superiores, contudo a específica contribuição de
cada zona pode ser diferente no nível da função
psicológica volitiva ou automática. Citaremos
brevemente a especificidade cerebral e suas res-
pectivas disfunções decorrentes de lesões.
O hemisfério esquerdo é o responsável por
todo o maquinismo para a função lingüística, a
fala, os cálculos e o controle motor fino. Todo
processo seqüencial ou ordenação em série é fun-
ção desse hemisfério, realizando os programas
fonêmicos da fala, percepção e generalização das
conexões sintáticas (Gazzaniga, 1988). Lesões no
HE podem acarretar colapso da consciência mais
elaborada, na organização da escrita, agrafia
afásica e alexia, acalculia primária, desorganização
lógica para pensamento ou percepção, afasia
semântica, apraxia ideatória, labilidade emocional
e amnésia para conteúdos verbais.
O hemisfério direito é importantíssimo na
complexa tarefa visuoespacial, perceptual, com-
portamento emocional e o aspecto paralingüístico
da comunicação. Responsável pela representação
do espaço extrapessoal, distribuição da motivação
e esquema motor de exploração. Danos no HD
podem causar anormalidades no comportamento,
que incluem apraxia construtiva, apraxia no
desenho, agrafia espacial, alexia, acalculia
espacial, negligência no hemicorpo contralateral,
extinção da estimulação dupla simultânea,
aprosódia, amusia, prosopagnosia, agnosias e
anosognosias. Prejuízo na memorização de ma-
terial não-verbal, e sim perceptual, como, por
exemplo, a perda da memória topográfica.
16 LIMA, S. S.; KAIHAMI, H.N. – Avaliação das funções corticais superiores em pessoas acometidas por lesão cerebral
O sistema límbico assume importante papel
na regulação da memória e aprendizagem, mo-
dulação do impulso, colorido afetivo da expe-
riência e controle do balanço hormonal e tônus
autônomo. Está diretamente ligado ao estado
emocional, à agressividade e ao comportamento.
Agindo de forma integrada, fica claro o porquê
de um estímulo associado com forte emoção é
melhor memorizado.
A região frontal é responsável pela interpre-
tação do mundo (Dalgalarrondo, 2000), ou seja,
tem a capacidade de monitorar a performance de
uma série de ações ou evocar a ordem de ocor-
rência de uma seqüência de eventos, sendo es-
sencial para o desenvolvimento e execução de
planos e ações. Acometimentos mórbidos das
regiões frontais podem ocasionar déficit da cons-
ciência de si próprio (atividade consciente), no
comportamento moral (consciência de normas
sociais), iniciativa, intenção, formação de planos
e programação de ações. Prejuízo na fala narrativa
(compreensão do significado geral), analisar o pen-
samento ativamente, pensamento abstrato e jul-
gamento; incluem-se também funções integrati-
vas, motivação, memória recente, atenção seleti-
va e planejamento.
A região temporal tem a função de orga-
nização da percepção auditiva, análise e síntese
de sons (compreensão da fala) memória audio-
verbal e condição operante para o pensamento.
Lesões nas regiões temporais interferem no apren-
dizado e na memória, sendo verbais no HE e
visuais no HD. Regiões temporais esquerdas
influenciam a evocação da informação da memó-
ria de curto prazo, a memória episódica, para
eventos pessoais também pode estar alterada, e
há ainda prejuízos para a memória semântica, para
fatos e regras. Observam-se dificuldades na me-
mória que envolve o material verbal ou léxico, com
dificuldade em codificar, que é a base da memória
verbal.
A região occipital constitui o centro cortical
do sistema visual, desempenha o papel de sin-
tetizar estímulos visuais, codificá-los e formá-los
em sistemas complexos. Lesões nessas zonas acar-
retam principalmente um distúrbio do proces-
samento de informações visuais e se refletem nos
processos mentais em que a análise e a síntese
participam de forma direta. Esses distúrbios são
descritos como agnosia visual, em que a pessoa é
incapaz de perceber formas visuais inteiras, como
também desenhá-las.
Existem processos gnósticos que desempe-
nham um importante papel na atividade cons-
ciente e que dependem do funcionamento com-
binado de vários analisadores. A região parietal
realiza um papel básico na organização de sínteses
simultâneas complexas; acometimentos nesta área
causam dificuldade na compreensão de estruturas
lógico-gramaticais complexas e na execução de
operações matemáticas.
O cerebelo lista e ordena eventos no tempo e
é essencial para algumas funções cognitivas
envolvendo seqüências; em lesados cerebelares,
encontra-se déficit da memória procedimental
(aquisição de ações e habilidades) e da memória
declarativa (aquisição de fatos e recordação da
informação determinada por um tempo específico
e contextual).
Por meio de recursos pertinentes ao profis-
sional de psicologia, averiguamos as funções
gerais e específicas, como as já citadas: processo
mnemônico, processo perceptivo, organização
(temporal, espacial, acústica e planejamento),
praxias, abstração, pensamento lógico, crítica,
síntese, cálculo e fluência verbal, e os distúrbios
de atenção e concentração que interferem
diretamente na performance geral do paciente.O entrelaçamento dos dados obtidos na ava-
liação psicológica permite que se tenha um perfil
do paciente no momento em que este é inserido
no programa de reabilitação. Possibilita delimitar
melhor a intervenção pertinente ao caso, no que
se refere ao tipo de psicoterapia que se faz ne-
cessária, incluindo a reorganização cognitiva.
Entre as dificuldades apresentadas pela pes-
soa acometida de lesão cerebral, observa-se que
muitas vezes esta não se apercebe de suas
dificuldades. Por exemplo, há casos em que o
paciente, quando questionado se notou alguma
dificuldade de memória, responde negativamente,
entretanto apresenta prejuízo significativo em sua
performance diária, como participar de eventos e
não se lembrar mais deste; logo não possui
consciência de suas falhas. Neste paciente, o
aprendizado, a orientação e a adequação na
realização das tarefas e atividades sociais podem
ficar prejudicados, atrapalhando o processo de
reabilitação.
A consciência é a síntese de todas as outras
funções psicológicas, ou seja, é uma forma es-
pecialmente complexa de atividade mental, que
permite analisar a informação, avaliar os elemen-
tos significativos, usar os traços mnemônicos e
analisar as próprias atitudes.
 Nas palavras de Luria:
“A consciência é uma forma complexa de
recepção ativa da realidade, a consciência é
semântica (formada pelas relações sociais)
e localizada em sistemas funcionais estru-
turalmente definidos. Ao refletir o mundo,
reflete a realidade e seu próprio compor-
tamento. As impressões do mundo são ana-
lisadas, recodificadas, abstraídas e genera-
Acta Fisiátrica 8(1): 14-17, 2001
17LIMA, S. S.; KAIHAMI, H.N. – Avaliação das funções corticais superiores em pessoas acometidas por lesão cerebral
lizadas. Formula intenções, programas,
ações e subordina seu comportamento a
ações. É capaz de comparar as ações que
executou com suas intenções originais, e
corrigir seus erros cometidos” (1988, 221).
Neste sentido, fica fácil pensar o quanto uma
lesão cerebral pode prejudicar a atividade cons-
ciente da pessoa, sendo necessário trabalhar esse
processo de conscientização do déficit, tanto para
o paciente quanto para seus familiares, que muitas
vezes desconhecem a complexidade da proble-
mática deste membro da família.
Por meio da conscientização, o paciente será
mais participativo de seu programa de reabilitação
cognitiva e poderá lançar mão de estratégias e
recursos externos que lhe possibilitarão um me-
lhor desempenho geral, visando inclusive à rein-
serção profissional.
Referências bibliográficas
1. ALVES, V.L. & BEGNINI, M.P. & SCHEWINSKY, S.R. & ZANUZZO,
M.G. – A abordagem psicológica frente aos portadores
de hemiplegia. In: Battistella, L.R. & Sobrinho,J.B.R.
Hemiplegia e Reabilitação. São Paulo, Atheneu, 1992.
2. DALGALARRONDO, P. – Psicopatologia e Semiologia dos
Transtornos Mentais. Porto Alegre, Artes Médicas Sul Ltda,
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of conscious experience. In: Marcel, A.J. & Biasiach, E.
(eds.). Consciousness in Comtemporay Science, Oxford,
Clarendon Press, !988, p. 218-38.
4. LURIA,A R. – Fundamentos da Neuropsicologia .1978.
5. VYGOTSKY, L.S. & LURIA, A.R. & LEONTIEV, A.N. – Linguagem,
Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo, Editora da
USP, 1988.
Acta Fisiátrica 8(1): 14-17, 2001
18
ARTIGO
ORIGINAL
Efeito do treinamento muscular
realizado com pesos, variando a
carga contínua e intermitente em
jogadores de futebol
Paulo Roberto Santos Silva*
* Fisiologista do Laboratório de Avaliação Cardiorrespiratória e Metabólica da
Ortocity – Divisão de Medicina Esportiva – SP.
Endereço para correspondência:
Rua Frederico Bartholdi, 566 – Saúde
CEP 04193-000 – São Paulo – SP
Tels.: (0XX11) 6331-6481 – 9998-2591
Data de recebimento do artigo: 5/11/00 – Data de aprovação: 5/12/00
RESUMO
O objetivo deste estudo foi comparar o efeito do treinamento físico muscular com
pesos, realizando exercícios de maneira contínua e intermitente. Foram estudados 20
jogadores de futebol, com idade variando entre 18 e 20 anos, categoria juniores, antes
e após 12 semanas de treinamento. Todos foram submetidos a teste máximo por
repetição do grupo muscular extensores dos joelhos, utilizando o exercício Leg Press
na posição horizontal em equipamento (modelo Cybex, EUA). Eles foram divididos
em dois grupos: (I) contínuo e (II) intermitente. Os exercícios foram realizados duas
vezes por semana, em dias alternados. Ambos os grupos treinaram somente nas formas
contínua e intermitente até o final do estudo. Na forma contínua, os futebolistas
realizaram 3 séries de 12 repetições a 70% e após recuperação de 2 minutos mais 3
séries de 25 repetições a 50%. Na forma intermitente, os futebolistas realizaram
também, na mesma sessão, 3 séries de 12 repetições a 70% e 3 séries de 25 repetições
a 50% de maneira alternada, ou seja, uma série a 70% e logo após outra a 50%, e assim
sucessivamente. Em ambas as formas de trabalho, a recuperação entre as repetições
variou de 30 a 60 segundos. Antes e após o período de treinamento, os seguintes
resultados foram verificados: o grupo I atingiu valores de força nos extensores dos
joelhos de 132,0 ± 4,0 kg vs. 145,0 ± 5,0 kg, ganho significante de 10% (p < 0,05); o
grupo II atingiu valores de 131,0 ± 7,0 kg vs. 161,0 ± 9,0 kg, ganho significante de 23%
(p < 0,05). Quando comparamos o delta diferencial entre as duas modalidades de
trabalho, o treinamento intermitente foi 11% maior (p < 0,05). Concluindo, ambas as
formas de treinamento aumentaram a força muscular. Contudo, a alternância de
intensidade dos exercícios, realizada na mesma sessão pela forma intermitente, foi
mais eficiente e parece se ajustar melhor às características de solicitação motora
realizada pelos futebolistas durante uma partida de futebol.
UNITERMOS
Força muscular. Treinamento físico. Carga contínua e intermitente. Jogadores de
futebol. Medicina esportiva.
19
Acta Fisiátrica 8(1): 18-23, 2001
SILVA, P. R. S. – Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, variando a carga
contínua e intermitente em jogadores de futebol
SUMMARY
Muscular training effect with weights varying continuous and intermittent load in soccer
(football) players. The purpose of this investigation was to compare the effect of
muscular exercise training with weights varying continuous and intermittent load.
This is a study covering twenty soccer players with ages ranging from 18 to 20 (junior
category) before and after 12 weeks of physical muscular training. They were all
submitted to maximum load tests through a repetition of the knee extensors muscular
group, by using the Leg Press exercise in horizontal position with equipment (model
Cybex, USA). They were divided into two groups: group I (continuous) and group II
(intermittent). The exercises were performed twice a week on alternate days. The
group I players underwent continuous training while those belonging to group II
only trained intermittently. The players whose training was continuous carried out 3
sets of 12 repetitions at 70% and soon after a 2-min-long recovery, they performed 3
sets of 25 repetitions at 50%. During the same training session, the players who trained
intermittently carried out 3 sets of 12 repetitions at 70% and 3 sets of 25 repetitions at
50% alternately. In other words, they carried out a repetition at 70% followed by
another at 50%, and so on. Recovery between each repetition for both forms of work
ranged from 30 to 60 seconds. The following results were recorded: the strength values
in the knee muscular extensors reached by group I were 132.0 ± 4.0 kg and 145.0 ±
5.0 kg with a 10% gain (p < 0.05) and group II reached values of 131.0 ± 7.0 kg and
161.0 ± 9.0 kg with a 23% gain (p < 0.05). When we compared the differential delta
between the two forms of work, the intermittent trainingwas 11% greater (p <
0.05). In conclusion, both forms of training proved their efficacy by increasing the
muscular strength. The intermittent form, however, seems to adjust it self better to
the characteristics of movement requirements by soccer players during a match.
KEYWORDS
Muscular strength. Physical training. Continuos and intermittent load. Soccer players.
Sports medicine.
Introdução
A necessidade de se atingir o alto rendimento
em atletas é uma busca permanente e um desafio
constante de profissionais que estão envolvidos
com o aprimoramento da aptidão atlética, como é
o caso do futebol.
À semelhança do que se verifica em várias
modalidades desportivas coletivas, o futebol tem
passado, nos últimos anos, por uma evolução que
foi alcançada graças à participação da ciência.
Podemos dizer que, no extrínseco, a participação
de áreas do conhecimento, como fisiologia do
exercício, metodologia do treinamento, biome-
cânica, nutrição esportiva, oftalmologia, odon-
tologia, fisioterapia, psicologia, cardiologia, entre
outras, tem dado sua contribuição para o progres-
so desse esporte1-9.
A partir disso, em decorrência do envolvi-
mento do futebol com essas áreas, toda a atividade
passou e continua passando por um maior e mais
pormenorizado conhecimento do jogador, com
repercussão evidente na melhoria do seu nível de
aptidão atlética para a prática competitiva desse
esporte.
No Brasil, a modalidade futebol é, sem dú-
vida, a principal em todos os aspectos, porém não
deixando de se verificar algumas contradições.
Uma delas está relacionada com a investigação
científica, que infelizmente é extremamente redu-
zida, principalmente em relação aos aspectos
relacionados com as capacidades físicas10-11.
Como em qualquer modalidade, o futebol
apresenta características próprias que devem ser
estudadas para melhorar o rendimento atlético do
futebolista. Nos últimos anos, tem sido dada
grande importância à condição física específica,
pois é a responsável pela manutenção da forma
ao longo da temporada desportiva.
Nesse contexto, a força explosiva ou força
rápida, conhecida como potência muscular, e a re-
sistência de força ou força lenta, conhecida como
resistência muscular, apresentam-se como meios
importantes para o desenvolvimento e manuten-
ção de um nível melhor de capacidade muscular
para jogar futebol11,15.
Na atualidade, é reconhecido que o desem-
penho do futebolista deve-se à íntima relação da
execução do gesto técnico, utilizado devidamente
nas mais diferentes situações táticas do jogo, com
a capacidade de realizá-lo de uma forma cada vez
mais explosiva15.
Desse modo, a força explosiva ou força rápida,
ou ainda a potência muscular, que controla desem-
penhos em que a atividade rápida do ciclo mus-
cular de alongamento-encurtamento é determi-
nante, ganha destaque especial no futebol10-13. Pois
a boa condição de força explosiva incide claramen-
te na estrutura de rendimento no jogo e, especifi-
camente, no nível dos músculos de membros in-
20
Acta Fisiátrica 8(1): 18-23, 2001
SILVA, P. R. S. – Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, variando a
carga contínua e intermitente em jogadores de futebol
feriores, em virtude de permitir ao jogador rea-
lizar de forma dinâmica, rápida e eficaz as mais
diversas ações durante o jogo.
Durante uma partida de futebol, a corrida e o
salto têm uma grande importância para a perfor-
mance, desse modo, a energia elástica do músculo,
caracterizada pelos movimentos rápidos, desem-
penha papel essencial nos jogadores10-13,15.
O objetivo deste estudo foi comparar o efeito
do treinamento físico muscular com pesos, reali-
zando exercícios de maneira contínua e intermi-
tente em jogadores de futebol.
Material e métodos
Foram estudados 20 jogadores de futebol, ca-
tegoria juniores, com idade variando de 18 a 20
anos, peso de 61 kg a 78 kg e estatura entre 162 cm
e 185 cm. Todos pertenciam a um clube da pri-
meira divisão da cidade de São Paulo e foram
submetidos a teste de carga máxima em quilagem
(100%), por meio de uma repetição em aparelho
de leg-press horizontal (modelo Cybex, EUA). O
critério utilizado para se verificar a força máxima
do músculo foi a completa extensão dos joelhos
ao empurrar o peso. Eles foram aleatoriamente
divididos de acordo com a posição em dois
grupos: I (contínuo) e II (intermitente). Nesse
estudo, analisamos somente o grupo muscular
extensores dos joelhos. Os futebolistas foram sub-
metidos à avaliação pré-temporada e reavaliados
após três meses de treinamento e jogos compe-
titivos. Nesse período, o treinamento muscular foi
desenvolvido objetivando a melhoria das valên-
cias físicas potência e resistência, com realização
de duas sessões semanais a intensidades de 70%
e 50% do máximo, respectivamente.
Procedimento
Nessa categoria, os jogadores realizavam um
jogo aos finais de semana pelo campeonato
paulista de juniores. Quando da realização do
programa de treinamento, independentemente
das atividades planejadas para aquele dia, os jo-
gadores sempre iniciavam pelo treinamento com
pesos. Eles eram previamente submetidos a
aquecimento geral e específico com duração entre
10 e 15 minutos.
Dinâmica do treinamento
Grupo I (Contínuo)
Duas sessões semanais em dias alternados,
com as mesmas intensidades realizadas na mesma
sessão, ou seja, terças e quintas feiras, musculação
primeiro: a 70%, 3 séries de 12 repetições e recu-
peração de 30 a 60 minutos, recuperação entre
cada série de 2 minutos; logo em seguida a 50%,
3 séries de 25 repetições e recuperação de 30 a 60
minutos entre cada repetição.
Grupo II (Intermitente)
Duas sessões semanais em dias alternados, com
duas intensidades (70% e 50%), sendo realizadas
no mesmo dia e de maneira intermitente. Terça-fei-
ra, musculação: 1ª série a 70%; 12 rep., rec. 30 a 60
minutos; 2ª série a 50%; 25 rep.; rec. 30 a 60 minutos;
3ª série a 70%; 12 rep.; rec. 30 a 60 minutos; 4ª série
a 50%; 25 rep.; rec. 30 a 60 minutos; 5ª série a 70%;
12 rep.; rec. 30 a 60 minutos; 6ª série a 50%; 25 rep.;
rec. 30 a 60 minutos.
Análise estatística: Foi utilizada análise de
variância (ANOVA) de um caminho (one way) pa-
ra verificar se existia diferença entre as médias.
Foi adotado um nível crítico de significância de
p £ 0,0516.
Resultados
Os jogadores do grupo I (contínuo) no teste
de carga máxima (100%), no leg press horizontal,
apresentaram antes da pré-temporada e após três
meses de treinamento valores de 132,0 ± 4,0 kg e
145,0 ± 5,0 kg, respectivamente. Os jogadores do
grupo II (intermitente) no teste de carga máxima
(100%) antes da pré-temporada e após três meses
de treinamento apresentaram valores de 131,0 ±
7,0 kg e 161,0 ± 9,0 kg, respectivamente. Os
resultados dos grupos I e II, quando comparados,
mostraram que os jogadores que treinaram de
modo contínuo e intermitente aumentaram signi-
ficantemente (p < 0,05) sua força muscular em 10%
e 23%, respectivamente. Contudo, quando com-
parados, o grupo intermitente apresentou melhora
significante de 11% (p < 0,05) sobre o grupo con-
tínuo (Tabela 1).
Discussão
É importante lembrar que ao definirmos o
conceito de força, convém distingui-la como
grandeza física e entendida como suporte para
execução de ações motoras. Considerada como
grandeza física, a força é a causa dos movimentos.
Se ela é aplicada sobre um corpo móvel, este será
acelerado ou retardado.
Em treinamento desportivo, entende-se por
força a capacidade que permite ao atleta superar
resistências ao seu movimento.
Segundo o italiano Bosco10, um dos pesquisa-
dores mais importantes da área de força mus-
cular, as avaliações sobre a evolução da força
21SILVA, P. R. S. – Efeito do treinamento muscular realizado com pesos, variando a carga contínua
 e intermitente em jogadores de futebol
Acta Fisiátrica 8(1): 18-23, 2001
reativa devem ser

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