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WEBAULA 1 
Unidade 1 – Uma Viagem do Mundo Antigo ao 
Medieval 
ANTIGUIDADE 
Um grande estudioso português, chamado António Nóvoa, hoje Reitor 
da Universidade de Lisboa, explica bastante bem a importância da 
História da Educação - especialmente para os pedagogos que vocês 
em breve serão - quando faz sua defesa dessa área do conhecimento 
em quatro tópicos: 
- A História da Educação deve ser justificada, em primeiro lugar, 
como História e deve procurar restituir o passado em si mesmo, isto 
é, nas suas diferenças com o presente. 
- A História da Educação pode nos ajudar a aprender a relativizar as 
idéias e as propostas educativas e compreende-las no seu tempo. 
Essa é uma condição de sobrevivência de qualquer educador na 
sociedade pedagógica dos nossos dias. 
- A História da Educação fornece aos professores um conhecimento 
do passado coletivo da profissão, que serve para formar a sua cultura 
profissional. O fato de possuir um conhecimento histórico, não 
significa ter uma ação profissional mais eficaz, mas estimula uma 
atitude crítica e reflexiva. 
- A História da Educação amplia a memória e a experiência. Propicia 
um leque de escolhas e de possibilidades pedagógicas o que permite 
um alargamento do conjunto de conhecimentos dos professores e 
lhes fornece uma visão da extrema diversidade de instituições 
escolares do passado. Para além disso, mostra que a educação não é 
um “destino”, mas uma construção social, o que renova o sentido e a 
importância da ação cotidiana de cada professor1. 
 
Dito isto, bem vindos ao mundo da História da Educação! Espero que 
juntos possamos refletir, reconstituir e compreender 
a historicidade2 do processo educativo ao longo do tempo. 
Nessa unidade vamos trabalhar a Educação no mundo antigo, suas 
principais características e a educação na época medieval. 
Começaremos com uma rápida viagem pelo tempo antigo. 
Passaremos pela região mediterrânea; Grécia e finalmente, Roma. 
Depois vamos nos deter um pouco mais na época medieval, pois 
apesar dela ter sido erroneamente interpretada por tanto tempo 
como um período de trevas, foi lá que a escola, tal como a 
conhecemos hoje, se constituiu. 
Estudada a educação nesse período, entraremos na unidade II. 
Nesta parte do nosso trabalho vamos estudar a época moderna, 
riquíssima na sua diversidade e prodigiosa nos seus avanços e 
promessas de futuro, como as grandes navegações e a descoberta 
das Américas3, por exemplo. Chegaremos à contemporaneidade, que 
se inicia com a famosa Revolução Francesa. É aqui que se inauguram 
os Estados Nacionais e os sistemas educativos. É aqui que estão 
todas as nossas referências de sociabilidade, de valores, enfim e 
sobretudo, é aqui que se situa o mundo que conhecemos e com o 
qual nos identificamos. Como isso tudo se passa na Europa, a última 
etapa será estudar a educação no Brasil. Começaremos pela 
educação que chega com os portugueses e, é claro, com os jesuítas 
até chegar aos nossos dias. Prontos para a viagem? 
 
É importante explicar, antes de entrarmos propriamente na educação 
Antiga, que a pesquisa histórica contemporânea modificou 
profundamente a imagem que tínhamos do mundo antigo. Começou, 
por assim dizer, redefinindo em grande parte a concepção clássica do 
antigo, ou seja, do homem grego e do romano. O homem antigo, 
como aprendemos desde o segundo grau, era sinônimo de harmonia, 
de quietude, de síntese equilibrada, tanto na arte como no 
pensamento. Pensaram em Platão ou Sócrates? Pensaram naqueles 
monumentos maravilhosos, gregos e romanos? Os modernos, ou 
seja, aquelas pessoas que viveram na época moderna (depois da 
Idade Média), sentiam-se nostálgicos de uma Antiguidade assim 
concebida, que continuava em seus imaginários a parecer como um 
modelo insuperável de beleza, de vida ética, de reflexões filosóficas, 
enfim, de perfeição. (CAMBI, 1999) 
 
Dessa forma de olhar o mundo, especialmente o Greco-helenístico, 
hoje praticamente nada se mantém em pé. Atualmente, nossa forma 
de ver a época clássica é muito diferente: não pensamos mais o 
homem antigo (grego ou romano, por exemplo) separado do 
cotidiano e completamente imerso num mundo “ideal”, mas 
pensamos no Antigo como um ser humano – como nós - com 
problemas e lutas políticas, de classes sociais, de etnias, envolvido 
em projetos de domínio e de hegemonia tanto na vida 
da polis (Cidade-Estado) grega, como da república romana e mesmo 
do império romano, alimentando de tensões toda aquela cultura. 
Também não se pensa mais o Antigo envolto somente em problemas 
ligados ao conhecimento (científico e filosófico), mas também – e 
prioritariamente – pelo trabalho, pelas técnicas, pelas atividades 
desempenhadas no ambiente natural próprio do homem. A história da 
educação antiga também foi repensada, desta vez de maneira mais 
problemática, menos unitária e mais plural, enfim, como diz Franco 
Cambi “a unidade do mundo clássico foi quebrada, sua identidade 
tornou-se mais problemática, um rico pluralismo invadiu seus limites, 
complicações e dissonâncias posteriores estão se anunciando nesse 
horizonte, agora em movimento e em transformação”1. 
Mas para falarmos de Grécia e Roma, precisamos antes, pensar em 
toda a região banhada pelo mar mediterrâneo. 
 
E por que pensar no mediterrâneo, se o que nos interessa 
particularmente são Grécia e Roma? Porque o mundo antigo nasce no 
mediterrâneo. Precisamos lembrar que a região, desde tempos 
imemoriais foi habitada por povos de culturas muito diversas entre si, 
com seus deuses, suas religiões, seus conhecimentos técnicos, entre 
outros tantos elementos. Ainda assim, foi um mundo no qual seus 
habitantes se comunicaram, apesar das dificuldades que isso 
representava naquela época. Trocaram mercadorias, conhecimento e, 
evidentemente, se influenciaram mutuamente. Embora a Grécia seja 
a interprete mais madura dessa região, segundo autores como Franco 
Cambi, por exemplo, o mundo grego é devedor do mundo 
mediterrâneo: na religião, nas técnicas, no pensamento, na arte e até 
na política. Ou seja, é devedor de uma série de influências recíprocas. 
 
Também do ponto de vista educativo, o antigo mediterrâneo, 
sobretudo a Grécia foi a origem, a célula embrionária da nossa 
tradição ocidental. Foi de lá que vieram nossos modelos de cultura, 
arte e civilização. A escola, enquanto instituição, se afirmava cada 
vez mais no centro da vida social dessa região, que entre o Egito e a 
Grécia vai se articulando tanto no aspecto administrativo como no 
aspecto cultural. Essas escolas, estatais ou particulares, recebem os 
filhos da classe dirigente e da classe média, dando-lhe uma instrução 
básica. Essa instrução se configurava como cultura retórico-literária 
do bem falar e do bem escrever, sempre respeitando as regras da 
época, rigidamente estabelecidas. 
É nesse cenário que surge a figura do pedagogo, que na Grécia era 
um acompanhante da criança, que a controlava e a estimulava. Essa 
figura, com o passar do tempo, se transforma e se destaca nomundo 
mediterrâneo3 com a experiência dos “mestres de verdade”. Basta 
pensar no famoso filosofo grego Sócrates: diretor da vida espiritual e 
mestre de almas. Os pedagogos serão verdadeiros protagonistas da 
formação juvenil e o mundo antigo colocará como central esta figura 
de educador, espiritualizada e extremamente ativa na vida do 
individuo, reconhecendo-lhes qualidades e objetivos que vão muito 
além daqueles típicos do “mestre-docente”. Esses mesmos aspectos 
vão se caracterizar mais tarde como próprios dos pedagogos, dos 
filósofos-educadores ou ainda, dos pensadores da educação que 
devem “iluminar os fins e o processo de educar”4. (CAMBI, 1999) 
Foi, contudo, na época helenística – mais ou menosentre 323 a.c até 
147 a.c5, quando Roma anexa a Grécia aos seus territórios, que se 
organiza o sistema de estudos, do nível elementar ao superior. A 
escola elementar permaneceu inalterada ao longo dos séculos. Nessa 
escola, que compreendia a leitura, escrita, gramática, musica e 
desenho, entrava-se aos sete anos de idade. Já na escola secundária 
a idade de ingresso era aos doze anos. Lá se estudava gramática e o 
docente ensinava ditando regras e preparando exercícios, depois 
eram dados alguns princípios da retórica e da lógica6, aplicados aos 
estudos da literatura. A formação superior, por sua vez, encontrava 
seu modelo nas escolas filosóficas, sobretudo nas de Alexandria 
(Egito). Nesse sentido, o museu ou casa das musas foi ao mesmo 
tempo um grande centro cultural e centro máximo de instrução do 
mundo helênico1, freqüentado por jovens de todo mundo grego. Ao 
lado dele ficava a biblioteca, que recolhia todas as obras da 
antiguidade. Esta famosa biblioteca, possuidora de inúmeros tratados 
de medicina, de gramática, de filosofia, entre tantas outras áreas do 
conhecimento, infelizmente não sobreviveu ao tempo. Foi consumida 
pelo fogo ainda na antiguidade. 
 
E para finalizar esta parte da nossa viagem, convém reforçar 
questões muito importantes para o conhecimento do futuro pedagogo 
e futuro professor: entre as heranças que recebemos da Grécia, e 
que pesam muito sobre a tradição educativa ocidental encontra-se: a 
pedagogia como teoria que se destinava a universalizar e tornar 
rigoroso o tratado dos problemas educacionais. Assim, nasce um 
saber de educação, com todos os riscos de abstração, de teorismos 
excessivos e de normativismos que isso representa, mas mesmo 
assim, fundamental para a construção de uma ciência da educação. 
Outra herança importante foi o questionamento da relação educativa, 
indo muito além do vinculo entre pedagogo e pais, docentes e 
discentes. Relação esta bastante formalista, geralmente impessoal, 
para traçar essa mesma relação como eminentemente espiritual, ou 
seja, que faz do mestre o interlocutor fundamental do processo de 
formação. E não vai ser por acaso que no campo educativo a “idade 
moderna”, especialmente entre os séculos XV e XVI, recupere e 
assimile a tradição dos clássicos antigos, começando por Platão. 
Gostaram da educação grega? Então vamos agora para Roma. 
 
A Roma antiga, ou seja, aquele pedaço de terra na Península itálica, 
que mais tarde se desenvolveu, se expandiu e se tornou um dos 
maiores impérios que o mundo já conheceu, estava comprimida entre 
duas realidades sociais, políticas e culturais bastante diferentes entre 
si: ao norte estavam os etruscos2, povo desenvolvido, refinado e 
poderoso e, ao sul a Grécia, da qual já tivemos noticias. Roma 
mantinha relações estreitas com estas duas fronteiras mas, mesmo 
assim, criou um modelo próprio de civilização, de economia, de 
estado e de cultura com características bastante originais, embora 
tenha absorvido muito da cultura grega. Aliás, isso explica sua 
expansão e a profunda influência que acabou por exercer no mundo 
antigo, chegando até nossos dias. Pensemos no Direito Romano, por 
exemplo, cujos princípios e normas irão constituir a base do Direito 
de vários países, inclusive o nosso. 
Entretanto, a educação na Roma arcaica (ou antiga), teve caráter 
prático, familiar e civil, destinada a formar o civis romanus7 que de 
certa maneira foi mais desenvolvido que os outros povos porque 
tinha consciência do Direito, como fundamento da própria 
“romanidade”, ou seja, da própria identidade. O homem romano era 
educado, de certa forma, para ter consciência do vinculo que esta 
romanidade iria estabelecer entre os povos, até com os escravos – 
que na Grécia e Roma foram muito diferentes dos nossos aqui do 
Brasil. 
O homem romano, contudo, era formado em família tendo o pai no 
papel central. Mas também era formado pela mãe, que era menos 
submissa e mais participativa na família se comparada à mulher 
grega. Foi a partir do século II a.c. que foram se organizado escolas 
como o modelo grego, que acabamos de ver. Essas escolas se 
destinavam a dar uma formação gramatical e retórica, ligada à língua 
grega. Somente no século I a.c. que se fundaram escolas de retórica 
latina, ou seja, que privilegiavam a língua latina. E o que isso 
significa para nós? O português, assim como o italiano, o francês, o 
espanhol, o catalão e o romeno, são originários do latim, língua oficial 
de Roma naquela época. E não é só. Muitos dialetos hoje falados na 
França, Suíça e em algumas regiões da Europa Central, também se 
originaram do latim. 
Pouco tempo depois, o espírito prático dos romanos, levou-os a uma 
sistemática organização das escolas, divididas por graus e com 
materiais didáticos específicos, como os manuais. No que se refere 
aos graus, a escola era dividida em elementares, destinada a ensinar 
a ler, escrever e até calcular. A particularidade dessas escolas é que 
funcionavam em locais alugados ou na casa dos ricos. Assim, a 
criança – sempre acompanhada do pedagogo – passava boa parte do 
dia na escola e era submetida a disciplina rígida. Depois vinha a 
escola secundária, na qual se aprendia a cultura nas suas diversas 
formas, como musica, geometria, astronomia, literatura entre outros 
e, por fim, as escolas retóricas, que podem ser pensadas como de 
nível superior. 
 
Acho importante relembrá-los que Roma teve regime monárquico, 
depois se tornou uma república e por fim um império de grandes 
proporções, com seus famosos imperadores como Julio Cesar, 
Augusto, Claudio, Nero, que perseguiu os cristãos e colocou fogo em 
Roma, entre outros. Muitos imperadores como Julio Cesar, por 
exemplo, preocuparam-se ativamente com os problemas escolares. 
Este imperador concedeu cidadania romana aos mestres residentes 
em Roma. Augusto deu bolsas de estudos. Vespasiano, o imperador 
que construiu o famoso coliseu romano, estatizou as escolas e 
isentou alguns mestres do pagamento de impostos. 
O império romano se tornou poderoso e imenso em seu território. 
Tanto que em determinado momento, dividiu-se em Império Romano 
do, com a capital em Roma e Império Romano do Oriente, conhecido 
também como Império Bizantino, com capital em Constantinopla, 
atual Istambul na Turquia. No império romano do ocidente (Roma), 
sob o impulso das invasões bárbaras, houve um empobrecimento das 
escolas e da cultura de um modo geral. Assim, quando o império 
romano ocidental caiu, por volta de 456 d.C., os sucessivos eventos 
de destaque no campo da educação estavam no Oriente, que 
sobreviveu resplandecente até por volta de 1453.1 
 
Embora não esteja privilegiado na ementa da disciplina, gostaria de 
falar rapidamente sobre o advento do cristianismo e suas 
conseqüências para a educação. Não se pode compreender a 
educação como um todo, sem entender a profunda revolução cultural 
que o cristianismo promoveu no mundo antigo ocidental. Foi uma 
revolução das mentalidades, antes mesmo da cultura, das instituições 
sociais e depois, também políticas. Trata-se da afirmação de um novo 
tipo de homem, caracterizado pela virtude da humildade, do amor 
universal, enfim, esta revolução de cunho religioso veio modelar toda 
visão de sociedade, dos comportamentos coletivos e da família. A 
revolução do cristianismo é também uma revolução pedagógica e 
educativa, que durante muito tempo irá marcar o Ocidente, 
constituindo uma das suas mais complexas matrizes. 
 
Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa entra na 
chamada Idade Média. Algumas coisas precisam ser ditas antes de 
entrarmos nessa etapa do nosso estudo. Em primeiro lugar, a Idade 
Média esteve restrita à Europa! O restantedo mundo habitado 
continuou sua vida e a construção da sua própria história. Outro 
aspecto importante a ser pontuado é que não se pode pensar a idade 
média como um único período, uniforme e coeso, mas sim como 
fases diferenciadas, marcadas por vários eventos, alguns 
catastróficos, como foi o caso da peste negra que dizimou parte da 
população européia. Enfim, períodos de altos e baixos, de avanços e 
retrocessos, como qualquer época, aliás. 
 
IDADE MÉDIA 
Uma das formas mais aceitas dessa partição é aquela que a divide 
em três períodos distintos, cada qual com suas particularidades: Alta 
Idade Média (século V ao X); Idade Média Clássica (séc. XI ao XIII) e 
Baixa Idade Média, que vai do século XIV ao século XV, quando se 
inicia a Época Moderna. 
A idade média, nas palavras de Franco Cambi, foi sobretudo a época 
da formação da Europa cristã e da gestação dos pré-requisitos do 
homem moderno. Foi também um modelo de sociedade cujos 
membros cooperavam entre si, marcada por forte espírito 
comunitário e uma etapa da evolução de alguns saberes 
especializados como a matemática ou a lógica. Em outras palavras, a 
Idade Média, com o cristianismo, com a Igreja, com o feudalismo, 
com a formação dos Estados-nações4, com a vida intelectual dirigida 
por escolas e universidades, com o incremento de um ideal 
humanista1 da cultura, foi o longo caminho da formação da Europa. 
 
A Europa, de fato, nasceu cristã e foi nutrida de espírito cristão, de 
modo a colocá-lo no centro de todas as suas manifestações, 
sobretudo no âmbito cultural. O cristianismo, como já falamos, terá 
um papel fundamental na cultura ocidental. Caso exemplar é o da 
educação, que se desenvolve em estreita simbiose com a Igreja, com 
a fé cristã e com as instituições eclesiásticas que são as únicas 
delegadas a educar e a formar. Da Igreja partem os modelos 
educativos e as práticas de formação, organizam-se as instituições 
com este objetivo e programam-se as intervenções, como também 
nela se discutem tanto as práticas como os modelos para as classes 
altas, uma vez que é típica da Idade Média a divisão social, das 
teorias e das práticas educativas, como tinha sido no mundo antigo. 
 
Também a escola como nós a conhecemos é um produto da idade 
média. A sua estrutura ligada à presença de um professor que ensina 
a muitos alunos de diversas procedências e que deve responder pela 
sua atividade à Igreja ou a outro poder, local ou não; suas práticas 
ligadas à discussão, ao exercício, ao comentário, à argüição, etc.; as 
suas praticas disciplinares avaliativas vêm daquela época e da 
organização dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais, 
sobretudo nas universidades. Vêm de lá também alguns conteúdos 
culturais da escola moderna e até mesmo contemporânea: o papel do 
latim, o ensino gramatical e retórico da língua, a imagem da filosofia, 
entre outras. 
Já no século V (entre os anos 401 e 500 d.C.), as escolas monásticas 
vinham acompanhando as escolas estatais romanas de gramática e 
de retórica, substituindo-as depois, gradativamente, e propondo uma 
formação não literária, mas religiosa5. Nas escolas monásticas 
predomina uma cultura ascética, ou seja, de disciplina estrita e 
autocontrole do corpo e do espírito, ligada ao estudo dos textos 
sagrados, dedicada à formação espiritual. É no curso do século VII 
que vem se formando a educação medieval, com a difusão do 
monasticismo2 e com a cristianização dos bárbaros3: uma educação a 
cargo da Igreja, dirigida para o menino-monge, tendo como centro a 
leitura e memorização, o cálculo e o canto. Foi o modelo Beneditino 
de Monte Cassino, que foi imposto por Carlos Magno em 788 como 
regra primária dos seus domínios (Cambi, 1999). 
Entre os séculos XII e XVIII, assiste-se a duas grandes inovações: a 
criação das universidades, que nessa época se configurava como 
uma corporação de mestres6 e alunos e a organização e proliferação 
dos colégios como lugar de formação de letrados. Mas é importante 
ressaltar que as definições de universidades, faculdades e colégios 
possuíam naquele tempo outras significações (Veiga, 2007). Elas 
traduziram uma organização diferenciada, evidenciada nos seus 
métodos, disciplinas e nos seus saberes. O aparecimento dessas 
formas escolares na Idade Média foi em grande parte associado à 
história da reurbanização européia ocorrida a partir dos séculos X e 
XI. 
 
E por que reurbanização européia, se a Europa já era bastante 
urbanizada muito antes dessa época? Porque com a queda de Roma, 
os chamados “povos bárbaros” que na verdade eram diversos grupos, 
vindos principalmente da Ásia, muito diferentes entre si, não tiveram 
mais nenhum empecilho para conquistar a Europa. O problema é que 
alguns desses povos eram bastante belicosos, ou seja, quando 
entravam em uma aldeia ou cidade saqueavam, matavam, enfim, 
causavam verdadeiro terror na população. Portanto, em parte da 
idade média, a população não mais se concentrou nas cidades, mas 
na zona rural, migrando novamente para as cidades, como vimos, a 
partir do século X. 
Talvez por isso, nesse período tenham proliferado as corporações de 
oficio (universitates), denominação geral para associações 
juridicamente reconhecida por todos (universi). Essas associações 
decorreram das demandas da urbanização e seu comercio. 
Organizadas de forma sistemática, agregavam pessoas de um mesmo 
oficio que se submetiam a estatutos regimentais e tinham seus 
serviços legitimados por meio dessas corporações. 
 
Por volta do século XII, na Europa, organizou-se um tipo bastante 
particular de corporação: aUniversitas studii, uma associação de 
alunos e mestres para transmissão e aprendizagem de 
conhecimentos “desinteressados”, ou seja, sem aplicabilidade 
imediata. Esse era o inicio da Universidade! (Veiga, 2007). A 
educação na Idade Média foi basicamente um monopólio da Igreja. 
Durante um bom tempo os representantes eclesiásticos, isto é, 
representantes da Igreja, controlaram os procedimentos relativos às 
formas de transmissão do conhecimento, da definição dos saberes e 
dos métodos de transmissão, assim como os processos de concessão 
de licença para ensinar. Em outras palavras, quem dava a permissão 
para que alguém se tornasse mestre, era a Igreja. 
A organização dos estudos à época tem origem Greco-romana. Os 
estudos se dividiam em trivium e quadrivium. O trivium estudava 
gramática latina, dialética e retórica e o Quadrivium geometria, 
aritmética, astronomia e musica. Entretanto, no período medieval e 
pela influência e necessidade da Igreja, estes conhecimentos não 
foram abordados de forma sistemática e abrangente, restringindo-se 
principalmente aos estudos do Trivium. 
 
A concessão para a licença de ensinar, como vimos, era centralizada 
nas mãos dos eclesiásticos e esse costume expunha os futuros 
mestres a muitas arbitrariedades, numa dependência total dos 
poderes da Igreja. Estabeleceu-se então um conflito entre os mestres 
e as instancias eclesiásticas locais, levando tanto mestres como 
alunos a buscar uma forma autônoma de organização, com estatutos 
próprios mas, curiosamente, invocando a proteção da Santa Sé1. Por 
isso é que as corporações universitárias, por suas fortes e 
contraditórias relações com a Igreja, diferiram das demais 
corporações. Mas é preciso lembrar que a Igreja, naquele momento, 
centralizava também o poder político (Veiga, 2007). 
Criado no final da Idade Média, o colégio foi uma instituição de muita 
relevância, que aos poucos substituiu os estudos dispersos. A partir 
do século XVI, devido ao prestigio acumulado, os colégios deixam de 
servir de abrigo para estudantes pobres e as suas funções se 
invertem. E é nessa mesma época que os colégiosse fixam como 
estágio para ingresso nos estudos superiores da maioria das 
universidades, além de contar com alunos procedentes das classes 
mais abastadas. E o que eram, afinal, os colégios antes de se 
tornarem instituições importantes? Quando os estudos 
das universitasteve inicio, muitos jovens de outras localidades 
procuraram os mestres. Essas pessoas precisavam se hospedar em 
algum lugar. Os ricos, se alojavam nas estalagens ou em casas 
particulares. Já aos pobres, só restavam as casas de caridade 
religiosas. Para poderem estudar, esses alunos realizavam serviços 
domésticos, pediam esmolas ou recebiam ajuda da igreja. 
Diante disso, as primeiras edificações para abrigar estes alunos 
surgiram em fins do século XIII em Paris (França), Oxford 
(Inglaterra) e Cambridge (Inglaterra) e de lá se disseminaram por 
toda a Europa. 
 
O século XIV foi um século de crises que leva ao declínio da Idade 
Média. Trata-se, no dizer de Cambi, de uma crise plural que abala em 
muitos níveis a sociedade européia. É a crise demográfica causada 
pela peste negra, a crise institucional da Igreja com o grande Cisma 
do Ocidente que põem em cena católicos e protestantes, é a crise de 
uma visão de mundo cristã medieval que abrirá espaços para 
individualismos, realismos e novas classes sociais. 
 
A Idade Média configura uma longa e complexa época de profundas 
transformações geográficas, sociais, políticas, econômicas e culturais, 
ainda que envoltas em torno da mensagem cristã posta como 
cimento espiritual de toda essa época. Os efeitos históricos da Idade 
Média constituirão, no campo educacional, estruturas de longa 
duração: 
 A Universidade e seu modelo didático; 
 A formação profissional artesanal ligada ao saber 
corporativamente organizado e separado da cultura geral, como 
vimos (as corporações de ofícios); 
 As instituições sociais de caráter religioso que também no 
Estado Moderno serão preferencialmente núcleos de formação 
de base; 
 A família vista como investida de um dever essencial de 
educação, colocada antes de qualquer intervenção pública e, 
por isso, fundamental; 
 O surgimento de instituições de caridade-educativas que, de 
certa maneira, irão modificar o empenho da sociedade em 
relação às diversas classes de indivíduos que nela convivem. 
Na Idade Média todo o universo da educação se transforma, se 
especializa, se articula, se socializa e gradativamente também se 
laiciza (se torna laico, não religioso) e se separa do predomínio da 
igreja. Sob vários aspectos, enfim, esse período põe em ação os 
primeiros germes, os primeiros sinais da Idade Moderna. 
IDADE MODERNA 
A Idade moderna – século XV ao século XVIII - é um ciclo histórico 
que tem características profundamente diferentes do período 
anterior, a Idade Média. Com a modernidade, prepara-se primeiro o 
declínio, depois o desaparecimento daquela sociedade de ordens 
(clero, nobreza e povo) que tinha sido característica da Idade Média. 
Aquela sociedade, que de certa maneira negava o exercício das 
liberdades individuais para, ao contrário, valorizar os grandes 
sistemas coletivos: a Igreja e o Império1. É importante relembrar das 
aulas de história, que a individualidade é exercida na antiguidade, 
mas em parte da Idade Média, esse conceito desaparece. Tudo gira 
em torno do coletivo. 
 
A chegada da modernidade se apresenta, portanto, como uma 
revolução em muitos campos: geográfico, econômico, político, social, 
ideológico, cultural e também pedagógico. Como revolução 
geográfica, a modernidade vai deslocar o eixo da história do 
Mediterrâneo para o Atlântico. Do oriente para o ocidente. E com os 
descobrimentos e a colonização de novas terras, cria-se a 
possibilidade de contatos bastante estreitos entre diferentes áreas do 
mundo. Diferentes povos, etnias, culturas, entre diferentes modelos 
antropológicos, como o contacto do europeu com o índio, por 
exemplo. 
 
Do ponto de vista econômico, esta revolução pôs fim ao modelo 
feudal, com seu sistema econômico fechado, baseado na agricultura, 
para impulsionar uma economia de intercâmbio, baseada na 
mercadoria e no dinheiro. Nasce o sistema capitalista, que já vinha se 
desenvolvendo desde meados da Idade Média. Como revolução 
política, a modernidade tem como centro o nascimento do estado 
Moderno, que é um Estado centralizado, controlado pelo rei em todas 
as suas funções. O Estado Absolutista. Como revolução social, 
promove a formação e afirmação de uma nova classe: a burguesia, 
que nasce nos centros urbanos e promove um novo processo 
econômico – o capitalismo – assim como determina uma nova 
concepção de mundo e novas relações de poder. 
 
Evidentemente, tudo isso irá implicar também numa revolução na 
educação e na pedagogia. Agora, a formação do homem acompanha 
novos caminhos sociais, orienta-se segundo novos valores, 
estabelece, enfim, novos modelos. Acontece uma radical virada 
pedagógica que segue percursos muito diferentes daqueles 
empreendidos pela era cristã, destinado a formar o homem para 
Deus. Mudam-se, assim, os fins da educação. Esta educação terá 
por objetivo formar um individuo ativo e produtivo na sociedade. Mas 
vão mudar também os meios educativos. Embora a família e a Igreja 
permaneçam instituições formativas, a escola ocupará um lugar cada 
vez mais central para o desenvolvimento da sociedade moderna. 
Com a modernidade, nasce a pedagogia como ciência. Como saber de 
formação humana. Mas nasce também uma pedagogia social que se 
reconhece como parte integrante do processo da sociedade em seu 
conjunto, na qual ela irá desempenhar uma função insubstituível e 
cada vez mais central: formar o homem-cidadão. Na modernidade, 
enfim, a pedagogia e a educação se renovam, configurando-se como 
saber e como prática para poder responder de maneira condizente à 
passagem do mundo antigo para o mundo moderno. 
Duas instituições educativas irão sofrer uma profunda redefinição e 
reorganização na Modernidade: a família e a escola. Ambas as 
instituições serão cada vez mais centrais na experiência formativa 
dos indivíduos e também na reprodução da sociedade, tanto no 
aspecto cultural como no aspecto profissional. A criança, que na 
idade média permaneceu à margem do grupo familiar, terá o seu 
espaço social na família. Cria-se um modelo de formação para a 
criança, privatizado e familiar. Cria-se um saber pedagógico, médico, 
psicológico da infância, que nasce em virtude dos cuidados familiares 
e da própria redefinição da família como instituição educativa da 
criança, que agora passa a ser o centro-motor da vida familiar. E é 
aqui que nasce o sentimento moderno de família. 
 
É preciso, no entanto, pensar na educação como um projeto de 
civilização em curso nas sociedades ocidentais a partir do século XV e 
sua consolidação nos séculos XIX e XX. E o que significa isso? 
Significa dizer que a educação era encarada como a melhor forma de 
“moldar” os indivíduos e assim construir a sociedade adequada à 
época. Com valores e comportamentos determinados. Muitos1podem 
ter sido os motivos que justificam esse estado de coisas. Contudo, o 
crescente processo de expansão da educação esteve intimamente 
ligado: 
 A organização e à evolução do Estado Moderno; 
 As divergências religiosas; 
 Ao avanço da urbanização; 
 As alterações econômicas e a diversificação das classes sociais 
que essas alterações produziram; 
 O desenvolvimento das ciências e as mudanças no 
comportamento humano, rumo a um comportamento civilizado, 
caracterizado principalmente pelo aparecimento do capitalismo 
e pela conseqüente racionalização do pensamento e 
autocontrole das atitudes. E por que isso? Para o trabalho, ou 
melhor, para o tipo de organizaçãosocial e do trabalho que o 
capitalismo exigia. 
Como falamos na unidade I, uma grande inovação surgida em fins da 
Idade Média foi a organização e a multiplicação do Colégio, como 
lugar de formação de letrados. Pois bem. É importante destacar que 
os colégios instituíram uma nova forma escolar e esta forma estava 
integrada aos processos de racionalização de que falamos acima. 
Esse novo modelo supunha a existência de uma nova organização do 
espaço físico, ou seja, com prédios próprios, construídos para este 
fim. Isso mesmo! Antes dessa época, não existiam prédios 
construídos com a finalidade de se tornar escolas. A partir daí, não só 
se inaugurou essa nova tendência, como também os prédios 
passaram a ter uma arquitetura apropriada para aquele fim. Com 
dependências especializadas, com alunos divididos em classes 
estabelecidas conforme o nível do seu saber e idade aproximada, 
assim como os colégios dos dias atuais. 
 
Além disso, a gradação escolar exigiu também uma nova organização 
do tempo escolar. Isso significou dividir os dias em horários, 
estabelecer tarefas prefixadas e organizar os meses de acordo com 
os conteúdos a serem ministrados num determinado tempo, no fim 
do qual os alunos deveriam prestar exames. 
O rigor dos colégios no controle administrativo e na organização 
pedagógica, contudo, aos poucos produziu uma dimensão disciplinar 
que contrariava a liberdade usufruída pelos escolares e pelos mestres 
cooperados na época medieval. Lembram-se dos mestres e alunos 
na universitas? As modificações implicadas nessa nova organização 
integraram as reformulações sociais e políticas ocorridas entre os 
séculos XVI e XVII, das quais já falamos. Data do século XVI 
um grande Cisma (dissidência) da Igreja conhecido como o 
movimento de Reforma e Contra-Reforma religiosa, católicos e 
protestantes. Embora com formas diferentes de devoção religiosa, 
tanto os protestantes quanto os católicos tinham na educação e na 
escola suportes fundamentais. Já na esfera política, o poder feudal 
apresentava sinais de crise desde o século XIV e crescia o movimento 
em favor de Estados centrados na figura dos reis – os Estados 
Nacionais Absolutistas. Portanto, as mudanças políticas dessa época 
tiveram especial influência nas concepções de educação e no 
aumento dos colégios. 
 
Entre os séculos XVI e XVIII vai se enfatizar a idéia de riqueza como 
virtude e fonte de prestigio, o que acabou sendo reforçado pelo 
aparecimento de novos objetos e produtos de ostentação e 
diferenciação social. Assim, ter conhecimento, em outras 
palavras, saber, se torna um importante diferencial para se ter 
prestigio na sociedade. Também a noção de publico e privado vai se 
modificar significativamente. Philippe Áries, um importante 
historiador francês, destaca o impacto da crescente alfabetização dos 
membros importantes da sociedade. Isso mesmo! Naquela época, 
mesmo sendo pessoa “importante”, destacada na sociedade, 
não significava que se soubesse ler e escrever. Alguns sabiam, 
mas muitos nobres e senhores feudais eram analfabetos. Para 
os alfabetizados, contudo, a difusão da imprensa tornou o ato 
de ler e escrever cada vez mais individual, tanto pela leitura 
silenciosa, como pela escrita de diários, cartas entre outros. 
As mudanças brevemente apontadas permitem compreender que os 
séculos XVI, XVII e XVIII foram marcados por uma intensa busca de 
conhecimento e de novos saberes. Isso significou que o aprendizado 
ganhou um papel de destaque e uma importância talvez nunca vista. 
A sociedade tornou-se mais heterogênea (composta de partes ou 
elementos de diferente natureza) e os mecanismos de diferenciação 
entre as pessoas se ampliaram: riqueza, poder político, prestigio 
social e conhecimento são os novos elementos de distinção. Observe-
se que na Idade Média isso praticamente não existia e por duas 
razões: primeira porque o feudalismo, o sistema econômico da época, 
pelas suas características não abria espaço para isso. Segundo 
porque a Igreja, leia-se católica, condenava principalmente o lucro e 
a ostentação. Aliás, motivos da reforma protestante. 
Devido a esta diversidade social que agora existia, era impossível 
qualquer unanimidade em torno de propostas educacionais, 
organização de escolas e discussões pedagógicas, mas é possível 
identificar algumas predominâncias: os colégios jesuítas e os colégios 
protestantes, a pedagogia humanista, a crise nas universidades e os 
poucos empreendimentos em favor da educação dos pobres. 
O desenvolvimento da chamada pedagogia humanista, no entanto, 
deixou claro os limites das praticas educacionais em vigor, mas não 
houve uniformidade na sua elaboração, principalmente devido às 
diferentes óticas religiosas de alguns desses humanistas e às 
concepções leigas partilhadas por outros. Entretanto, importa 
enfatizar que os humanistas irão propor um modelo educacional mais 
adequado às necessidades da época, modificando o desinteresse pela 
alfabetização da população pobre, a restrição ao ensino do latim, a 
não-valorização da língua mãe, a negligência quanto aos saberes do 
quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e musica) e a falta de 
uma didática adequada, entre outros. 
Uma unanimidade entre os pedagogos humanistas foi a ampliação 
dos currículos, incentivando os estudos das ciências em geral, com 
destaque para as matemáticas, as artes e a estética, além da 
formação profissional. Estimula-se a competição e a premiação 
pública como incentivos à aprendizagem e ao estabelecimento de 
relações civilizadas entre mestres e alunos. O que se pretendia era 
uma educação cujas bases fossem o autocontrole e a autodisciplina. 
Novamente lembro a vocês: ambos têm tudo a ver com as exigências 
do sistema econômico vigente e da nova sociedade que estava se 
constituindo. 
As formas escolares da época se caracterizavam por regras 
disciplinares que embasavam a busca de uma educação moral – e 
essa vigilância imposta pela escola, de certa maneira se estende a 
toda a população, mesmo que com fins e objetivos diferentes. 
Embora a escolaridade só se estenda ao todo social ao longo 
do século XIX1, é possível identificar algumas iniciativas para a 
educação dos pobres. Nos países protestantes, a formação religiosa 
era mais liberal porque partia da livre consulta dos textos bíblicos e 
admitia a leitura na língua mãe. Algumas ações também ocorreram 
nos países católicos, embora mais voltadas para a caridade do que 
para o combate à ignorância, como predominava entre os 
protestantes. Tais escolas, evidentemente, não se dirigiam para o 
público dos colégios, mas para a formação moral do futuro 
trabalhador. 
Nos países protestantes a alfabetização se estendeu para meninos e 
meninas, assumida pelas autoridades municipais. Entre os 
representantes da pedagogia protestante, podemos destacar 
Martinho Lutero, Melanchton e João Calvino, que partilhavam a idéia 
de que a língua materna deveria ser a base da educação, embora 
também favoráveis ao estudo do grego, do latim e do hebraico, além 
da literatura dos clássicos, traduzidos para o vernáculo. 
 
E como se processou o desenvolvimento dos colégios e das 
universidades nos países católicos? Na Europa, diferentes ordens 
religiosas disputaram entre si a clientela dos colégios, a saber: a 
burguesia e a nobreza. Entretanto, o grande marco do ensino nas 
sociedades católicas foram os colégios jesuítas. Eles tiveram no 
centro da Igreja contra-reformada e estimularam a cultura geral 
erudita2, integrando a pedagogia humanista ao espírito da 
cristandade, enquanto favoreciam distinções sociais e formavam 
jovens na moral cristã. Esses colégios se afirmaram como 
propedêuticos aos estudos superiores de teologia, medicinae direito. 
Os jesuítas fundaram diferentes tipos de colégios, conforme a origem 
social dos estudantes. No entanto, todos eles eram regidos pelo 
mesmo regulamento: o Ratio Studiorum. 
 
Desse plano de estudos constavam desde a regulamentação dos 
estudos e da vida no colégio até a disciplina, mas a ênfase estava no 
método de ensino. Diferentemente do que ocorria antes, o novo 
método fazia largo uso da escrita. Toda a aula tinha uma parte 
destinada aos exercícios escritos e à redação. Outra ênfase era a 
retórica1. As escolas jesuítas permitiram certa homogeneização 
cultural das elites. Além da formação de turmas por faixa etária e da 
designação de um professor especifico para cada turma, outras 
materialidades ajudaram a unificar o processo de formação: o uso 
recorrente da escrita, como vimos, a composição de textos, o uso de 
livros impressos e a promoção anual dos alunos, com distinção e 
prêmios. 
Observe-se que os colégios jesuítas representavam espaços de 
disseminação de conhecimento que contribuíam para estabelecer 
distinção social e com isso atender às exigências das novas formas de 
civilidade e de sociedade. Contudo, a formação em humanidades 
reforçava a separação entre o trabalho intelectual e o trabalho 
manual e com isso ajudava a estabelecer diferenciações sociais, 
embora também preparasse para o ingresso nas universidades e 
abrisse portas para a carreira jurídica e administrativa. Entretanto, 
faltou às escolas jesuítas proporcionar a seus alunos uma formação 
mais pragmática, o que ficou muito claro quando estas escolas foram 
fechadas no século XVIII. 
Em meados do século XVIII os colégios jesuítas foram fechados pela 
imposição das monarquias, entre outras razões, pela disputa política 
em torno do monopólio da educação. Os representantes da 
companhia de Jesus foram expulsos de Portugal, do Brasil, da França 
e da Espanha e as elites políticas e intelectuais defendiam a idéia de 
que a educação moral e cientifica deveria ser privilégio do Estado, 
sobretudo pela necessidade de formar os quadros administrativos do 
governo. Nessa época, expandiu-se o movimento intelectual 
denominado Iluminismo, que entre tantas outras propostas, 
apresentava a necessidade de laicização do ensino, ou seja, o ensino 
não religioso e da educação escolar como elemento essencial de 
desenvolvimento da civilização. Era a necessidade de associar razão e 
progresso. 
 
No final do século XVIII e inicio do século XIX, assiste-se ao declínio 
das monarquias absolutistas, a separação do Estado e da Igreja e a 
instalação de governos constitucionais, além de mudanças 
econômicas tecnológicas e culturais. Nesse contexto, situa-se a 
contribuição de um dos maiores críticos da Igreja, do Absolutismo, 
dos colégios e da sociedade de maneira geral: o filósofo suíço Jean-
Jacques Rousseau, cujas idéias tiveram significativa influencia na 
pedagogia do século XIX. 
 
BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO 
Como vocês perceberam, até aqui só falamos de Europa. Por quê? 
Porque as nossas referências em termos sociais e pedagógicos vêm 
da Europa. É de lá que herdamos nossa cultura. E é de lá que veio o 
nosso modelo escolar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, 
trouxeram consigo na bagagem toda uma estrutura social, política, 
religiosa e pedagógica entre outras coisas. 
No inicio da colonização, na primeira metade do século XVI em 
Portugal, Igreja e Estado estão unidos por interesse comum, que são 
ainda medievais (tardios medievais, como diz Alfredo Bosi). Portanto, 
há de se considerar em primeiro lugar, que a educação nesse período 
foi exclusivamente baseada nos valores e conteúdos vigentes em 
Portugal. 
 
Os principais agentes da educação na colônia foram os sacerdotes 
jesuítas, até serem expulsos pelo Marques de Pombal em 1759. É 
preciso considerar que a associação entre a colonização portuguesa e 
as iniciativas missionárias da Igreja, serviu tanto aos interesses 
econômicos e políticos de Portugal quanto às estratégias do Vaticano 
para impedir a propagação do protestantismo no novo mundo. Os 
jesuítas foram o mais importante grupo religioso na manutenção dos 
princípios da reação católica ao protestantismo. 
 
O documento que oficializou esta mudança foi o “Alvará Régio” de 
1759, no qual se extinguem todas as Escolas reguladas pelo método 
dos jesuítas e se estabelece um novo regime administrativo, o cargo 
de Diretor de Estudos e a nomeação de professores régios de 
Gramática Latina, de grego e retórica. Assim, as denominações 
“aula”, “aula regia” “escola” e “cadeira” designavam um mesmo 
modelo: estudos avulsos ministrados por um professor régio – isto é, 
autorizado e nomeado pelo rei.Somente no século XIX, com a criação 
dos liceus e de novos colégios, retoma-se a reunião dos estudos, que 
convive por um bom tempo com a estrutura de aulas avulsas. 
Voltando aos jesuítas, antes de serem expulsos, a ação desses 
religiosos distinguia-se por ser eminentemente prática, não 
contemplativa. Introduzir-se no mundo foi uma referencia básica de 
suas ações. Embora com um objetivo bastante explícito – o de viver 
em Cristo e ganhar o mundo para Cristo – suas intenções se voltaram 
para a necessidade de conhecer o outro para converter e não apenas 
a mera pregação. De acordo com as orientações do Ratio 
Studiorum, o objetivo da educação seria o de promover a integração 
harmoniosa dos súditos de Deus e do reino para com seus legítimos 
superiores. 
Tal harmonia deveria se estabelecer pela servidão livre e não pela 
obediência cega. Para aproximarem sua cultura da cultura dos 
indígenas, por exemplo, os jesuítas produziram estratégias 
pedagógicas nada convencionais. Os padres combinaram escrita, 
expressão corporal, oralidade nas ações educativas, chegando até 
mesmo a aprender o idioma dos índios, especialmente o tupi-guarani, 
idioma mais falado na costa brasileira. 
O marco inaugural e prioritário das atividades jesuítas foi, em 
meados do século XVI, a construção de igrejas, aldeamentos e 
colégios. Os colégios da época colonial constituíram a base 
administrativa das atividades dos religiosos. Além de bibliotecas, os 
colégios possuíam oficinas, enfermarias e boticas e prestavam 
assistência à população em geral. As Igrejas e os colégios fundados 
pelos jesuítas foram as primeiras referencias de urbanidade da 
civilização cristã ocidental. 
 
Entretanto, outros modelos educacionais, além do jesuíta também 
marcaram presença no período colonial. Existiram outros espaços e 
formas de educação e socialização. Dentre seus agentes se 
destacaram outras ordens religiosas, bispado, governo geral, 
corporações, irmandades, confrarias e sociedades literárias. Apesar 
da hegemonia dos jesuítas, foram os franciscanos os primeiros 
religiosos a se instalarem no Brasil. A primeira missa, inclusive, foi 
rezada por um integrante dessa ordem. 
 
No século XVII, os franciscanos inauguraram no Rio de Janeiro o 
convento de Santo Antonio, que oferecia estudos superiores de 
teologia moral e filosofia. Havia ainda os seminários criados pelo 
bispado – internatos destinados ao clero e à educação dos órfãos e 
dos filhos dos colonizadores que se multiplicaram no século XVIII. 
 
Até a instalação dos seminários, os filhos dos moradores locais 
recebiam lições em aulas domésticas ocasionais ou eram enviados 
para os colégios em outras capitanias ou até mesmo para Portugal. 
Existiam ainda modelos educacionais não vinculados à Igreja ou ao 
Estado. Professores ou padres mestres costumavam ensinar na 
residência dos alunos e em suas próprias casas, em aulas muitas 
vezes abertas ao publico. 
No entanto, foi somente no século XIX nos países da Europa central, 
que se criou uma correspondência entre a idéia deconstrução de 
Estado-Nação e a montagem do sistema público de ensino. 
Historicamente, na visão dos pesquisadores do tema, no quadro das 
revoluções modernas (Revolução Industrial, Revolução Francesa e 
Revolução Americana), as orientações que se imprimiram à educação 
responderam a problemas específicos da ordem social de cada um 
desses países. Em alguns países europeus, a universalização do 
ensino básico foi um instrumento de superação de diferenças locais, 
remanescentes do feudalismo. 
No caso brasileiro, é importante observar que o processo de 
encampamento da estrutura educacional pelo Estado foi iniciado 
ainda no período colonial, sob a autoridade da monarquia portuguesa. 
E esteve em sintonia com as reformas iluministas em 
desenvolvimento nas outras sociedades ocidentais. Em 1822, com a 
independência do Brasil e a vigência da monarquia constitucional, a 
disseminação da escola pública integrava um projeto de construção 
da nação, combinando pressupostos iluministas com o ideário liberal, 
ainda que num contexto escravocrata. (Veiga, 2007) 
 
Ao mesmo tempo em que buscava governar, o Estado revalidava e 
estabelecia hierarquias e distinções sociais marcadas pela criação de 
instituições educacionais destinadas a públicos distintos, como foi o 
caso do Imperial Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e dos cursos 
superiores de medicina e de direito, por exemplo. Estas instituições 
foram erigidas para a formação das elites afinadas ao projeto 
civilizatório do Império e para a constituição de quadros para o 
governo do Estado. 
Para o conjunto de cidadãos e súditos do Império, a instrução 
elementar, por meio das escolas públicas de primeiras letras, era 
considerada um dos mecanismos fundamentais para a constituição de 
laços de identidades para a “formação do povo brasileiro”. A criação 
de aulas públicas, escolas, liceus, colégios, instituições de ensino 
primário, secundário e superior relacionavam-se às preocupações 
com a “formação do povo brasileiro” e as intenções políticas mais 
amplas de construção da nacionalidade e dos espaços públicos. 
Portanto, observemos que a construção de uma nacionalidade 
brasileira, nasce ainda no império. 
Por esta razão, a instrução surgiu como um dos direitos fundamentais 
de garantia individual dos cidadãos brasileiros, estabelecido pela 
Constituição outorgada em 1824. “A instrução primária era garantida 
a todos os cidadãos”. Seguindo as diretrizes liberais que 
estabeleceram o direito à instrução como uma das garantias de 
liberdade e de igualdade entre os cidadãos, a Constituição imperial de 
1824 definia a abrangência e os limites de cidadania. 
Conseqüentemente, definia também o direito à educação escolar. 
É importante destacar que houve lutas e protestos em torno das 
definições de cidadania imposta pela Constituição de 1824, inclusive 
entre negros e mestiços. O Período Regencial (1831-1840), na cidade 
do Rio de Janeiro, por exemplo, assistiu a proliferação de pasquins 
(jornal que tem pouca repercussão) exaltados e radicais, os quais 
lutavam pela igualdade de direitos entre os cidadãos brasileiros, 
independentemente de origem étnica. 
 
De acordo com a hierarquia e as distinções entre os cidadãos, o 
direito à instrução primária, garantida pela constituição dos membros 
da sociedade política, foi sendo estabelecido no decorrer dos 
oitocentos1, com base no processo de construção das leis 
educacionais e dos sistemas de instrução pública das províncias. 
Contudo, os escravos como não-cidadãos, eram expressamente 
excluídos das políticas de instrução oficial. 
Ao longo do século XIX, o desenvolvimento da escolarização na 
sociedade brasileira pode ser observado por meio de diversos 
mecanismos articulados, tais como: 
a) a criação de uma legislação escolar e política educacional; 
b) a constituição de um aparato técnico e burocrático de inspeção e 
controle dos serviços de instrução para recrutar e empregar, criar 
uma rede de poder e saber e desenvolver uma economia política da 
educação; 
c) a produção de dados estatísticos para conhecer e produzir 
representações sobre o próprio Estado e a sua população, elementos 
fundamentais para a governabilidade moderna. 
Historiadores da educação têm observado que a partir de 1830, em 
várias localidades do país, houve intensas discussões sobre a 
implantação das escolas públicas elementares, assim como debates 
sobre a pertinência ou não de se escolarizar crianças, negros, índios, 
mulheres, em um momento em que se procurava afirmar a 
necessidade da escola. Necessidade essa que foi se consolidando a 
partir da presença estatal, que instituiu, aos poucos, a 
obrigatoriedade da instrução elementar, através do estabelecimento 
de normas, nas quais ficam claras as relações entre os processos de 
estruturação do Estado e a educação escolar. 
Ou seja, também aqui do outro lado do Atlântico, a escola aparece 
como elemento principal na construção do Estado. Um bom exemplo 
disso é que em algumas províncias do Império a instrução elementar 
foi regulamentada por leis provinciais, sobretudo após o ato adicional 
de 1834, que atribuiu às Províncias a autonomia de legislar, organizar 
e fiscalizar o ensino primário e o secundário. 
Em que pese o predomínio e a coexistência de múltiplas formas de 
educação (familiar, religiosa, artesanal, profissional, entre outras) ter 
sido característica da formação social brasileira no decorrer de todo 
os Oitocentos, pesquisas recentes têm apontado que a idéia de 
educar e instruir a população livre por meio de instituições escolares 
adquiriu consistência no âmbito das províncias e do Estado imperial. 
Na província do Rio de Janeiro, desde 1835, o governo procurou 
regulamentar a instrução pública. A criação da Escola Normal em 
Niterói (então capital da Província), para a formação de professores 
primários, foi uma das primeiras medidas tomadas. 
 
O processo de construção das formas de educação escolar no Brasil 
do século XIX não foi uniforme, nem indiferenciado ou continuo o que 
resultou na desigualdade de condições educacionais entre as 
Províncias, na profusão de reformas e na complexidade de normas 
então produzidas. Este processo também não se resumiu à ação do 
Estado, na medida em que houve a participação das famílias e 
parcelas da população local, seja por meio de criação de escolas ou 
apoiando os mestres particulares, seja pelas demandas 
encaminhadas aos poderes públicos, contendo queixas e reclamações 
sobre as condições materiais das escolas ou sobre os professores e 
seu trabalho docente (Veiga, 2007). 
A difusão de saberes elementares, da cultura escrita e as disputas 
pelo acesso às escolas, permaneciam latentes em uma sociedade 
marcada pela diversidade de culturas regionais e locais. A construção 
do Brasil e dos brasileiros, ao contrário do que normalmente se 
divulga nos manuais clássicos de História, foi objeto de lutas e 
confrontos entre projetos políticos distintos e de tensões entre 
sonhos, caminhos possíveis e formas plurais de nação e da educação 
brasileira. (Gondra e Schueler, 2008). 
E para finalizar essa parte da nossa aula, vale lembrar Ângela de 
Castro Gomes (2002), quando diz que a grande dificuldade colocada 
para os historiadores da educação quanto à realização de um balanço 
preciso sobre a situação educacional, no Império e mesmo na 
Republica, reside na desigualdade e na diversidade historicamente 
construída no ensino brasileiro. Cada província ou estado da 
federação apresenta singularidades significativas nos processos de 
construção dos sistemas, normas e redes de ensino primário e 
secundário. 
BRASIL SÉCULO XX 
Pessoal, peço desculpas mas a história é longa. O processo 
educacional também. Para vocês, futuros professores,tais 
conhecimentos são muito importantes, não só para compreender 
como chegamos até aqui, que mecanismo nos regeu desde a 
colonização até os nossos dias, mas acima de tudo para que nos 
situemos historicamente. Para termos noção do que somos e porque 
somos. Isso, talvez, seja o aspecto mais importante dessa disciplina. 
Dispostos a viajar mais um pouquinho? Escolhi um texto, bastante 
recente, que faz parte de um livro organizado por um autor de quem 
gosto muito, Dermeval Saviani e este mesmo autor, num dos 
capítulos do livro, faz uma síntese do século XX no Brasil que me 
parece perfeita para o entendimento da educação em nosso país 
nesse período. Vamos lá? 
 
Diz esse autor que o século XX será lembrado no futuro como o 
período da história da humanidade que alcançou grandes conquistas 
tecnológicas que se reverteram num novo modo de viver para 
parcelas privilegiadas da população e, paradoxalmente, na falta 
dessas mesmas conquistas para a maior parte dos seres humanos. 
Foi também no “longo século XX”, como ele o denomina, que 
ocorreram as transformações mais decisivas no nosso país nos planos 
econômico, político, social, cultural e educacional. 
Na história da educação brasileira, a periodização mais 
freqüentemente adotada guiava-se pelo parâmetro político, 
abordando-se assim a educação no perídio colonial, no Império e na 
República. Atualmente se desenvolve uma tendência de se buscar a 
periodização centrada não mais nos aspectos externos, mas naqueles 
internos ao processo educativo. Neste sentido, se nos guiarmos pelos 
aspectos internos, poderíamos considerar como marco inicial da 
história da educação brasileira a chegada dos jesuítas em 1549. 
 
Tem inicio aí o primeiro período, que se estende até 1759, quando os 
jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal. O ensino jesuíta 
então implantado, já que contava com incentivo e subsidio da coroa 
portuguesa, poderia ser entendido como a nova versão da “educação 
pública religiosa” (Saviani, 2006). Entretanto, se o ensino ministrado 
pelos jesuítas podia ser considerado como público por ser mantido 
em partes com recursos públicos e pelo seu caráter de ensino 
coletivo, ele certamente não preenchia os demais critérios. Isso 
porque, tanto as condições matérias como as pedagógicas, normas 
disciplinares, entre outras, se encontravam sob controle da ordem 
jesuíta, portanto, sob domínio privado. 
O período seguinte, por sua vez, (pedagogia pombalina 1759-1827) 
correspondia aos primeiros ensaios para se instituir uma escola 
pública estatal. Pelo alvará de 28 de junho de 1759, determinou-se o 
fechamento dos colégios jesuítas, instituindo-se as “Aulas Régias” a 
serem mantidas pela Coroa. Para isso foi criado, em 1772, o “subsidio 
literário”1. As reformas pombalinas contrapõem-se às idéias religiosas 
e, com base nas idéias laicas inspiradas no iluminismo, instituem o 
privilégio do Estado em matéria de ilustração, surgindo assim o que 
Saviani chama de sua versão de “educação pública estatal”. Embora 
também neste caso, a responsabilidade do Estado se limitava apenas 
ao pagamento do salário do professor e às diretrizes curriculares da 
matéria a ser ensinada. 
Observe-se que logo no inicio da nossa história educacional, nos 
primeiros passos dados pela educação brasileira rumo a um sistema 
de ensino, o Estado deixou a cargo do próprio professor, providenciar 
as condições materiais para poder ensinar. A escola era geralmente 
sua própria casa, assim como também os recursos pedagógicos 
usados para as aulas. O professor, nomeado pelo rei, como vimos, 
sempre depois de prestar concurso público, tinha uma imensa 
responsabilidade nas mãos. Ele conduzia uma turma formada por 
alunos de diversas faixas de idade, diferentes níveis de conhecimento 
e pagava por isso, pois precisava mantê-los. À primeira vista, a 
criação das “Aulas Régias” parece ter sido um retrocesso em relação 
ao ensino jesuítico, que já mantinha turmas graduadas, ou seja, 
separadas por idade e por nível de conhecimento. 
 
Após a proclamação da independência em 1822, uma escola pública 
nacional poderia ter decorrido da aprovação da Lei das Escolas de 
Primeiras Letras, em 1827, mas isso acabou não acontecendo. O Ato 
Adicional de 18342 colocou as escolas primárias e secundárias sob a 
responsabilidade das províncias. Isso, sem dúvidas, acabou por adiar 
um projeto de escola pública nacional. Ao longo do século XX, o 
poder público foi normatizando pela via legal os mecanismos de 
criação, organização e funcionamento de escolas que, por esse 
aspecto, adquiriram o caráter de instrução pública. Mas, de fato, 
essas escolas continuavam em espaços privados, a saber, as próprias 
casas dos professores. (Abaixo: currículo das primeiras letras) 
 
Foi somente com a proclamação da Republica, ainda sob a égide 
dos estados federados3, que a escola pública, entendida em sentido 
próprio fez-se presente na história da educação brasileira. É a partir 
daí que o poder público assume a tarefa de organizar e manter 
integralmente as escolas, tendo como objetivo a difusão do ensino a 
toda a população. Essa tarefa materializou-se na instituição da escola 
graduada a partir de 1890 no Estado de São Paulo de onde se 
irradiou para todo o país. Eram os famosos Grupos Escolares. 
No âmbito dos ministérios, pode-se dizer que enquanto Francisco 
Campos (1931-1934) se concentrou no ensino superior, secundário e 
comercial, Gustavo Capanema (1934-1945) nas leis orgânicas, 
começou pelo ensino industrial, depois o secundário e atingindo na 
seqüência os ensinos comercial, normal, primário e agrícola. Embora 
por este caminho todo o arcabouço da educação tenha sido afetado, 
prevalecia ainda o mecanismo de se recorrer a reformas parciais, 
fazendo falta um plano de conjunto que permitisse a ordenação 
unificada da educação nacional em seu todo. Essa exigência 
manifestou-se com a promulgação da nova Constituição Federal de 
setembro de 1946, que definiu como privativa da União a 
competência para “fixar as diretrizes e bases da educação nacional”. 
Sob a gestão do Ministro Clemente Mariani, constituiu-se uma 
comissão de professores de diferentes tendências para que se 
cumprisse esse dispositivo e a partir do trabalho preliminar da 
comissão encaminhou-se ao presidente da República para ser 
submetido à apreciação do Congresso Nacional, um projeto que após 
longa e tumultuada tramitação se converteu na primeira Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 
dezembro de 1961. 
O terceiro período, de 1961 a 1996, foi o de unificação normativa da 
educação nacional e a concepção produtivista da escola1. 
Expressando a supremacia do movimento renovador, aquele que 
defendia os preceitos da Escola Nova, a década de 60 foi uma época 
de intensa experimentação educativa. Além dos colégios de aplicação 
que se consolidaram neste período surgiram também os ginásios 
vocacionais2. Além disso, deu-se grande impulso à renovação do 
ensino de matemática e ciências, colocando em ebulição o campo da 
pedagogia. Contudo, esta década não deixou de assinalar o 
esgotamento do modelo renovador, o que se evidenciou pelo fato de 
que as experiências feitas até então se encerraram no final dos anos 
de 1960, época em que foram fechados o Centro Brasileiro de 
Pesquisa Educacional (CBPE) e os Centros Regionais a ele ligados, 
obras de Anísio Teixeira, grande intelectual e educador, ligado ao 
movimento renovador. As funções essenciais das pesquisas 
desenvolvidas no Centro Brasileiro de Pesquisas eram a de fornecer 
elementos exatos para o planejamento de política educacional eficaz 
para o país e, também, reforçar a construção do que ele chamava de 
nova “mentalidade educacional do magistérionacional”. 
 
Sob a égide do regime militar de 1964, desencadeou-se um processo 
de reorientação geral do ensino no país. Em 1961, foi criado por 
iniciativa de um grupo de empresários o IPES, Instituto de Pesquisas 
e Estudos Sociais. Este Instituto funcionou como um verdadeiro 
partido ideológico que, segundo alguns estudiosos, teve papel 
decisivo na deflagração do Golpe Militar de 1964. E neste mesmo 
ano, nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro o IPES 
dedicou-se à preparação de um “simpósio sobre a reforma da 
educação” realizado em dezembro de 1964. Em continuidade com 
esta iniciativa, o IPES organizou, em colaboração com a Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro, um fórum de educação, 
denominado de “a educação que nos convém” (IEPES/GB, 1969). 
Paralelamente a estes eventos que trouxeram vários subsídios às 
reformas do ensino, o governo procedeu à assinatura dos 
acordos MEC-Usaid3, mediante os quais o Ministério da Educação do 
Brasil, estabelecia mecanismo de cooperação com a agencia dos 
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, visando 
reformular aspectos específicos do ensino brasileiro. 
Ocorre que a nova situação instaurada com o golpe militar exigia 
adequação que implicava em mudanças na legislação educacional. 
Mas o governo militar não considerou necessário modificá-la 
totalmente mediante a aprovação de uma nova lei de diretrizes e 
bases da educação nacional. Isso porque, já que o golpe visava 
garantir à continuidade da ordem socioeconômica que havia sido 
considerada ameaçada no quadro político do presidente deposto em 
março de 1964, João Goulart, as diretrizes gerais da educação em 
vigor, não precisavam ser alteradas. Bastava ajustar a organização 
do ensino à nova situação. Este ajuste foi feito pela Lei 5.540/68, que 
reformulou o ensino superior, e pela Lei 5692/71, que alterou os 
ensinos primário e médio, modificando sua denominação para ensinos 
de primeiro e segundo graus. 
Com a abertura política e uma nova Constituição promulgada em 
1988, manteve-se o dispositivo que atribui à União, em caráter 
privativo, a competência para fixar as diretrizes e bases para a 
educação nacional. Em conseqüência, deu-se inicio à elaboração da 
nova LDB, 9.394, que fixou as novas diretrizes da educação nacional. 
Nesse novo quadro jurídico, a competência das três instâncias do 
regime federativo em matéria de educação ficou mais claramente 
estabelecida: Aos municípios cabe a responsabilidade pela educação 
infantil, assumindo também em conjunto com o estado a que 
pertencem o ensino fundamental. Aos estados, a lei destinou a 
responsabilidade pelo ensino médio e, em conjunto com os seus 
municípios, o ensino fundamental. À União cabe coordenar e articular 
os sistemas exercendo função normativa, redistributivas e supletivas 
em relação a outras instancias. Cabe-lhe ainda, estabelecer as 
diretrizes para os currículos de todos os níveis de ensino e avaliar o 
rendimento escolar tanto dos alunos como das instituições, 
abrangendo todos os níveis e todas as instancias responsáveis pelo 
ensino. Curiosamente, a nova LDB não especificou a instancia que se 
responsabilizaria pela manutenção do ensino superior, já que esta 
atribuição não está explicita na definição de responsabilidades da 
União, diferentemente da educação infantil, ensino fundamental e 
ensino médio, cuja manutenção esta explicitamente referida como 
atribuição dos estados e Distrito Federal e dos municípios. 
O autor conclui que, no decorrer do século XX, o Brasil passou por um 
atendimento educacional de pequenas proporções, próprio de um país 
predominantemente rural, para serviços educacionais em grande 
escala, acompanhando o incremento populacional e o crescimento 
econômico que o conduziu a altas taxas de urbanização e 
industrialização. Relativamente à trajetória do século XX representou, 
do ponto de vista quantitativo, um significativo avanço no campo 
educacional. Historicamente, a emergência dos estados nacionais do 
decorrer do século XIX foi acompanhada da implantação dos sistemas 
nacionais de ensino nos diferentes países como via para a erradicação 
do analfabetismo e universalização da instrução popular. O Brasil foi 
retardando estas iniciativas e com isso, foi acumulando um déficit 
histórico em contraste com os países que instalaram os respectivos 
sistemas nacionais de ensino. Considerando, sobretudo, que o Brasil 
sequer chegou a universalizar a escola elementar, assim a conclusão 
a que se chega é que o grande desafio que ainda se impõe para o 
Brasil em termos educacionais ao ingressar no século XXI nos vem do 
século XIX. Trata-se da tarefa de organizar o ensino fundamental e, 
por esse caminho, erradicar o analfabetismo.

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