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WEBAULA 2

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WEBAULA 2 
Unidade 2 – “Conhecendo a Filosofia” 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR 
Olá, tudo bem? Sou o professora Márcia Bastos, graduada em 
Filosofia com mestrado em Educação e um dos seus professores 
neste módulo I de Pedagogia. Estarei ministrando a disciplina de 
Teoria Geral do Conhecimento e buscando com você uma reflexão 
sobre a importância desta na formação do Pedagogo. Por isso, 
buscando um maior aprofundamento, além das teleaulas, quero 
desenvolver algumas discussões com você neste espaço de 
interatividade. Neste sentido, desafie-se, ouse e busque ir além do 
trivial, do exigido. 
É fundamental sua dedicação e busca por novos conhecimentos e 
pela complementação dos estudos. Não se acomode no discurso que 
existe por aí de que a "aula é só uma vez por semana". É preciso 
fazer mais, se você quer realmente ser um bom profissional. 
Portanto, estude muito, busque ampliar suas fontes de pesquisa e 
não espere que as coisas venham prontas. Você está num curso 
superior, de formação superior e, deste modo, deve agir como um 
estudante de ensino superior. Logicamente, isto não implica que você 
está sozinho. Há uma estrutura proposta para auxiliá-lo. 
De minha parte, farei o que estiver ao meu alcance. Mas, 
evidentemente, você deve estudar muito. Você só tem a ganhar com 
isso. 
Bem, antes de iniciarmos, quero dar um panorama geral do trabalho 
que será desenvolvido. Acompanhe-me. 
Inicialmente, tratarei da questão do pensamento mítico, seus 
fundamentos e a perspectiva deste como uma das formas de 
expressão humana. Na seqüência, ainda na primeira unidade, 
falaremos da passagem do mito para a Filosofia e do contexto que 
proporcionou o nascimento da mesma na Grécia. Fechamos assim a 
primeira unidade. Procurando aprofundar nossa discussão, veremos 
dois pré-socráticos interessantes, Heráclito e Parmênides. Suas 
teorias discutem a questão da permanência e do movimento, 
levando-nos a um exercício de elaboração de conceitos. Isto nos 
ajudará a compreender nossa última webaula, que trata de Sócrates, 
considerado um divisor de águas na Filosofia. A partir dele, a Filosofia 
apresenta sua grande perspectiva conceitual. 
No intuito de firmarmos bem os nossos estudos, você desenvolverá 
algumas atividades durante os mesmos e fará uma avaliação 
específica ao final das unidades, que nos permitirá um feed-back do 
trabalho desenvolvido. Esta avaliação final é obrigatória e será 
considerada para conceito final e carga horária da disciplina. Para o 
fórum, fica aberta a proposta de debates e comentários sobre as 
webaulas aqui apresentadas, unidades I e II, e dos capítulos do livro 
"Teoria Geral do Conhecimento", que você recebeu como texto base 
da disciplina. Portanto, mãos à obra e bons estudos! 
O PENSAMENTO MÍTICO E O MITO NA GRÉCIA 
Para melhor compreendermos como nasce a Filosofia, é fundamental 
entendermos primeiro como se dá e o que representa um tipo de 
pensamento tão antigo quanto o próprio homem: o mito. 
Compreender a questão do mito não implica em estabelecer um olhar 
negativo, condenatório, mas na realidade, buscar as bases desta 
forma quase natural, ou imediata, do homem dar respostas aos 
problemas que o afligem. Na Filosofia não entenderemos o mito de 
forma pejorativa ou completamente negativa. Para nós, o mito é a 
primeira forma de explicação que o homem encontra para aquilo que 
ele desconhece. Todos os povos, todas as culturas possuem seus 
mitos: egípcios, babilônios, caldeus, romanos, gregos... Hoje ainda 
transmitimos nossos mitos de geração em geração, tornando 
plausíveis explicações que poderiam ser no mínimo constrangedoras 
para os nossos filhos se recorrêssemos apenas à racionalidade. Por 
exemplo, quando os pais recorrem ao mito da cegonha, buscam dar a 
explicação para a indagação da criança supondo que o interesse dela 
é o mesmo que eles pensam como resposta: o sexo. O que a criança 
espera é uma reposta à sua pergunta sobre a sua origem, se ela é 
filha deles na verdade e não um tratado de sexologia. Recorremos a 
vários tipos de mitos, como o Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, ou a 
mitos de “heróis”, buscando tranqüilizar nossa realidade, nossos 
sentimentos. Num determinado momento, contudo, o mito não 
satisfará mais como resposta à criança que amadureceu e, nem 
tampouco será coerente com a realidade que ela observa. Neste 
sentido, ela buscará uma explicação mais racional. Assim acontece 
com o homem na história do pensamento. No início, tudo era 
explicado através dos mitos, mas em determinado momento, é 
preciso uma racionalidade maior, a necessidade de uma explicação 
mais coerente e científica para os fenômenos. 
PARA SABER MAIS sobre a mitologia grega, 
acesse:http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u33.jhtm 
O mito, portanto, pode ser compreendido já de início, como a 
primeira forma de explicação que o homem tem para os fenômenos 
que contempla e para as realidades em que se encontra e, cujas 
respostas, ele desconhece. Mas, qual a definição de mito? Um olhar 
apressado pode levar-nos ao “olhar negativo” sobre o mesmo, e o 
mito aparece-nos apenas como sendo algo fabuloso, alegórico, sem 
realidade. Podemos ver, por exemplo, no mini-dicionário Silveira 
Bueno a seguinte explicação:fato, passagem dos tempos fabulosos, 
tradição que, sob forma de alegoria, deixa entrever um fato natural 
histórico ou filosófico; (fig.) coisa inacreditável, sem 
realidade (BUENO, 199-, p. 435). A definição não está errada, mas, 
dentro da concepção filosófica, porém, interessa-nos aprofundar um 
pouco mais esta questão. 
Vinda do grego mythos, a palavra mito é derivada de dois verbos 
especificamente: mytheyo (que significa contar, narrar, falar alguma 
coisa para outros) e mytheo (que apresenta a idéia de conversar, 
contar, anunciar, nomear, designar). A importância disto é que os 
gregos entendiam o mito como sendo um discurso pronunciado ou 
proferido para ouvintes que recebem a narrativa como verdadeira 
porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, 
baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do 
narrador (CHAUÍ, 2002, p. 35). Este narrador ou presenciou os fatos 
narrados, testemunhou-os pessoalmente ou conheceu quem o fez e 
recebeu dele a narrativa. Na tradição grega, quem detinha esta 
autoridade eram os poetas, ou os chamados aedose rapsodos. Eram 
cantores ambulantes que apresentavam de forma poética os relatos 
populares, recitando-os de cor em praça pública (ARANHA & 
MARTINS, 2003, p. 79). Sua narrativa era respeitada porque se 
acreditava que o poeta era um escolhido dos deuses. Estes, ao 
escolherem-no, mostravam-lhe os acontecimentos passados e 
permitiam que eles vissem a origem de todos os seres e de todas as 
coisas para que pudessem transmiti-las aos ouvintes (CHAUÍ, 2003, 
p. 35). Portanto,sua palavra – o mito – é sagrada porque vem de 
uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e 
inquestionável (CHAUÍ, 2002, p. 35). 
Apesar de o mito pertencer à cultura dos mais diversos povos, 
dedicaremos nossa atenção de forma especial aos gregos. O motivo 
disto está em que, a Filosofia, no entendimento que nos interessa 
abordar, é grega e fundamentou todo o pensamento Ocidental a 
partir do pensamento grego. Veremos que a Filosofia nasce na Grécia 
e que, somente lá houve uma sistematização do pensamento de tal 
forma a propiciar a passagem deste pensamento mítico para o que os 
gregos chamaram delogos, ou seja, a razão, a palavra, o discurso 
racional. 
A preocupação do mito não está na veracidade, no provar a 
realidade, mas, apenas e tão somente em explicá-la. Sem respostas 
para os sentimentos, fatos e fenômenos que contempla, o homem 
recorre a mitos e encontra respostas que lhe dão segurança. Saber o 
que é oamor, por que o universo está estruturado como está, por 
que a colheita foi boa ou não, são algumas das indagações que 
tomam conta do homem antigo. Procurando respostas, os gregos 
apresentaram seus mitos relacionados às genealogias. Tais 
genealogias são compreendidas como teogonias e cosmogonias. A 
palavra gonia, do verbo grego gennao (engendrar, gerar, fazer nascer 
e crescer) e do substantivo genos(nascimento, gênese, descendência, 
gênero, espécie), unida à palavra theos (deuses, coisas divinas ou 
seres divinos), representa a idéia do nascimento, da origem dos 
deuses, ou seja, teogonia. No caso da cosmogonia, a mesma 
palavra gonia aparece unida à palavra cosmos (mundo ordenado e 
organizado, o contrário de caos), o que nos remete à idéia 
do nascimento e a organização do mundo a partir de forças geradoras 
(pai e mãe) divinas (CHAUÍ, 2002, p. 36). 
Para apresentar estas origens, do mundo e das coisas, os mitos 
narram-nas de três maneiras: relatam o nascimento de tudo a partir 
da relação sexual entre os seres divinos que governam o mundo e os 
homens (mitos sobre o nascimento dos titãs, dos heróis, dos 
humanos, dos animais, dos materiais da natureza e das qualidades, 
como bem e mal, justo e injusto, o nascimento do amor através do 
mito de Eros...), da luta entre estes deuses que afeta o mundo 
humano (o ciúme das deusas na origem da Guerra de Tróia, por 
exemplo) e das alianças destes com os homens (o mito de Prometeu, 
que protegia os homens e lhes dá a “luz divina” como presente). Os 
deuses gregos, neste sentido, eram antropomórficos (do 
grego antropós = homem e morfo = forma), ou seja, criados à 
imagem e semelhança dos homens, diferentemente da concepção 
judaico-cristã, em que Deus nos fez a sua imagem e semelhança. 
Criando e crendo em vários deuses – era uma cultura politeísta -, a 
relação que estabeleciam com o divino era uma relação com a 
natureza. Por isso o antropomorfismo, no qual estes seres divinos 
não se diferenciavam muito dos homens em seus sentimentos e 
atitudes (eram bons ou maus, invejosos, ciumentos, apaixonavam-se 
por humanos ou humanas e protegiam os homens ou faziam deles 
seus joguetes...) e representavam a própria natureza (a beleza, o 
amor, a colheita, a fertilidade...). 
Toda esta tradição mítica dos gregos foi construída, como já 
apontamos, a partir da autoridade dos poetas. Os dois grandes 
representantes desta tradição foram Homero e Hesíodo. Ao primeiro 
atribuem-se duas grandes obras clássicas: a Ilíada e a Odisséia. 
A Ilíada trata da Guerra de Tróia (Ílion é o original grego de Tróia) e 
a Odisséia refere-se ao retorno de Ulisses (cujo nome em grego 
éOdisseu) para casa após a guerra. É bem verdade que não temos a 
confirmação histórica de que Homero realmente as tenha escrito. O 
mais provável é que tenha sido o compilador dos mitos e tradições 
que se mantinham por gerações. O fato é que sua importância é 
fundamental na construção desta tradição. E é exatamente esta 
tradição, a chamada “tradição homérica” que Platão criticará quando 
“expulsa” os poetas da sua “cidade perfeita”. Homero representa o 
ápice e a vitalidade de todo um impulso cultural dos gregos. É 
considerado o “pai” da cultura helênica, pois dele deriva a idéia 
marcante da mitologia grega: o destino, que comanda a vida dos 
homens e dos deuses. E esta força, atrelada ao mito é a pergunta 
básica na formação do bpensamento ocidental: o que é essa força do 
destino que domina tudo? Por isso, a originalidade de Homero 
consiste no fato de ter legado à posteridade uma visão clara do 
espírito grego, em que a existência humana é profundamente 
permeada da presença do divino: cada momento da vida, nenhum 
detalhe da vida parece ter sentido sem referência à divindade. O ser 
divino não representa explicação, interrupção ou suspensão do curso 
natural do mundo: é o próprio mundo natural (PAIM; PROTA & 
RODRIGUEZ, 1999, p. 45) Durante os séculos homéricos a narração 
se organiza em torno dos personagens divinos, sendo os humanos 
reduzidos a essências com o estatuto da quase-dependência. Por isso 
tudo se explica pelascosmogonias e teogonias, conforme já foi 
relatado. 
Num determinado momento, contudo, o pensamento mítico começará 
a ser questionado. Não perderão suas crenças, mas buscando 
respostas de forma mais racional, os gregos darão nascimento ao 
pensamento filosófico. Por que isto acontece na Grécia e não nos 
demais povos? No Egito e na China, entre os Caldeus e Babilônios, 
saberes também se construíram, mas nada como a Filosofia grega. O 
que permitiu à Grécia desenvolver tal condição? É o que tentaremos 
entender na próxima web aula. Antes disto, leia um fragmento de um 
dos grandes mitos gregos. 
FRAGMENTOS: UM PAI CRUEL 
No alto da luminosa montanha grega do Olimpo, na qual o ar era 
claro e transparente e onde reinava uma eterna primavera, habitava 
Cronos, o rei do Universo, num magnífico palácio. 
Cronos, chamado Saturno pelos romanos, era filho de Géia (a Terra) 
e de Urano (o Céu), os quais haviam tido, antes, muitos filhos, 
chamados os Urânidas: doze Titãs, seis varões e seis mulheres; três 
Ciclopes (Brontes, Esteropes e Arges) e três Centímanos (Briareu, 
Cotos e Gias), que haviam sido todos precipitados pelo pai no 
Tártaro, para que não pudessem destroná-lo. 
Cronos tomou por esposa a Réia, que se sentia muito infeliz porque 
tinha tido muitos filhos formosos e o cruel marido os havia devorado. 
Um oráculo anunciara ao feroz pai que seria destronado por um dos 
filhos e ele tratava de evitar essa desdita, engolindo-os quando 
nasciam. 
A pobre mãe estava desesperada. Ao nascer-lhe um novo filho, ao 
qual pôs o nome de Zeus, saiu do Olimpo com o menino nos braços 
envolto no manto da Noite. Levou-o a uma gruta escondida na ilha de 
Creta e confiou-o ao cuidado das Ninfas. Depois, tranqüila quanto à 
sorte de seu último rebento, voltou aos altos cimos de sua régia 
morada e apresentou ao marido uma pedra envolta em paninhos, que 
ele engoliu, pensando que era o novo recém-nascido. 
Titãs, Ciclopes e Centímanos. 
Zeus, a quem os romanos, mais tarde, chamaram Júpiter, cresceu 
belo, forte e bom. Quando se tornou adulto, obedeceu ao que o Fado 
havia estabelecido: subiu ao Olimpo, destronou o pai e reinou em seu 
lugar. Mas os primeiros tempos do seu reinado foram turbulentos: ele 
era jovem e, portanto, inexperiente. Num momento de generosidade, 
pôs em liberdade os Titãs, monstros gigantescos, que, desde, muitos 
séculos, haviam sido encarcerados nas entranhas da Terra por 
Saturno. Eles, porém, em vez de ficarem agradecidos ao generoso 
soberano, saíram de sua morada subterrânea e, julgando-se com 
mais direito a reinar do que o próprio Zeus, assaltaram o Olimpo. 
A luta contra os Titãs durou dez anos. Foi terrível e sem tréguas. Ao 
ver que não conseguia dominá-los, Zeus recorreu ao auxílio dos 
Ciclopes, irmãos dos Titãs, enormes gigantes de um olho só, no meio 
da testa e, para assegurar a vitória, pôs igualmente em liberdade os 
Centímanos (por ter cem mãos cada um). Desencadeou-se, então, 
uma espantosa luta: os Centímanos atiravam enormes penhascos 
contra os Titãs e os Ciclopes feriam-nos e queimavam-nos com raios 
de fogo. O ardor e a cólera dos combatentes sacudiam toda a terra, 
desde os seus alicerces, e seus gritos raivosos rasgavam o céu. Zeus, 
no meio da peleja, resplandecente no seu carro doirado, animava os 
seus defensores e lançava contra os inimigos poderosos raios, 
acompanhados de relâmpagos e trovões. 
Por fim, decidiu-se a vitória e os Titãs foram precipitados no 
tenebroso Tártaro, por toda a eternidade. 
Apenas vencidos os Titãs, Zeus teve de lutar novamente contra cem 
gigantes, nascidos do sangue de Urano, aos quais sua mãe, a Terra, 
incitou contraZeus, para vingar aqueles; mas foram também 
derrotados. Depois desta nova e dura luta, chamada a 
Gigantomaquia, todos os deuses do Olimpo se submeteram a Zeus, 
que pode, então, reinar em paz sobre o Universo. 
NASCE A FILOSOFIA 
Filha dos gregos, a Filosofia tem data e local de nascimento 
específicos e, também, um “pai”, considerado o primeiro filósofo 
datado historicamente: Tales. Mileto, a cidade de Tales, ficava na 
Jônia, atual Turquia, uma das colônias micênicas desenvolvidas após 
a invasão dos dóricos. É exatamente aí, portanto, na Jônia, no 
século VI a. C. que surge a primeira proposta filosófica. Neste 
sentido, vamos entender o contexto de formação do povo grego e o 
processo que levou ao nascimento do pensamento filosófico. 
Geograficamente dispersa, a Grécia Antiga constituía-se por um 
grande número de pequenas comunidades independentes, no mar 
Mediterrâneo, desde a Jônia – atual Turquia -, na Ásia Menor até o 
sul da Itália. Apesar desta dispersão, havia uma certa unidade 
cultural, expressa por uma língua comum, formas de organização 
política semelhantes e mesmas crenças religiosas. A dispersão destas 
comunidades deveu-se, em grande parte, às invasões em busca de 
terras para cultivo mas, também, devido aos conflitos entre dois 
povos que praticamente formaram a cultura grega. Vindos da 
Europa, os micênicos, um povo mais avançado culturalmente, chega 
à Grécia por volta do ano 2.000 a. C. e, encontrando um povo mais 
atrasado na região, logo se estabelece como a cultura dominante. Os 
micênicos – ou aqueus, como também ficam conhecidos – 
encontravam-se na idade do bronze e tornam-se uma grande 
civilização, representada pela punjância da cidade de Micenas. Isto 
prevalece até que, por volta do séc. XII a. C., os dóricos – povo 
guerreiro que já dominava o ferro – invade a região e obriga o êxodo 
dos micênicos em busca de novas terras. Emigrando para a Ásia 
Menor - chamada Jônia na época -, os gregos fundaram novas 
colônias para fugir ao domínio dórico e preservar suas tradições. 
Desta colonização surgem duas cidades que se tornaram grandes 
centros culturais e econômicos: Mileto e Éfeso. Portanto, é nesse 
conjunto de comunidades independentes que, no século VI antes de 
Cristo, vai se formando um dos elementos que marcaram o 
surgimento do pensamento ocidental: a racionalidade (PAIM, PROTA 
e RODRIGUEZ, 1999, p. 45). 
Para conhecer um pouco mais sobre a Grécia Antiga, ver um mapa da 
região e um pouco da história deste povo, acesse o link abaixo: 
http://www.suapesquisa.com/grecia/ 
Como já podemos perceber a filosofia não nasce na Grécia 
propriamente dita, mas na Jônia e na Magna Grécia, colônias desta 
no Oriente e no Ocidente. Mas, por que nasce na Grécia e não nas 
culturas orientais antigas como Egito, Babilônia, China, Índia ou entre 
os Hebreus? Sofreu influência destas pelo menos ou, terá sido apenas 
um "milagre" o que aconteceu na Grécia? Este é um ponto que nos 
interessa discutir. Durante algum tempo duas teses foram defendidas 
para o fato de a Filosofia ter tido seu início na Grécia. Uma 
considerava o fato um “milagre”, ou seja, algo “a-histórico”, 
desconsiderando as condições sócio-econômico-culturais e políticas 
que faziam parte da cultura grega. A outra considerava o nascimento 
da Filosofia como sendo devida a “ensinamentos esotéricos que os 
gregos adquiriram em suas viagens pelo Oriente, ou seja, a Filosofia 
nasceu por influência dos povos orientais, sem mérito algum dos 
gregos e não, novamente, por um contexto sócio-cultural próprio que 
existia na Grécia. Estas duas correntes, portanto, “milagre 
grego” versusinfluência oriental, estão desacreditadas 
academicamente. A tese aceita atualmente defende o nascimento da 
Filosofia devido a uma série de fatores sócio-político-econômico-
culturais que aconteceram somente na Grécia. Por isso, neste 
entendimento não foi possível o mesmo acontecer em outras 
culturas, não da forma como se dá no Ocidente. Com isto 
esclarecemos que, no entendimento acadêmico estamos falando da 
Filosofia Ocidental e não das “filosofias orientais”, que apresentam 
sua sabedoria e importância mas, num olhar mais depurado, não 
desenvolveram uma sistematização do pensamento de tal forma que 
permitisse o nascimento do que viria a ser conhecido posteriormente 
como ciência. 
REVISANDO: você sabe explicar por que as teses do “milagre grego” 
e da perspectiva da “influência oriental” como possibilidades do 
surgimento da Filosofia não são aceitas academicamente? 
Retomando a questão da formação da Grécia, alguns contextos então 
contribuirão para uma construção diferente da cultura grega com 
relação às outras culturas. No mesmo período, as outras civilizações 
existentes apresentavam algumas características que, contrapostas à 
cultura grega, podem nos ajudar a esclarecer porque estes últimos 
apresentaram um terreno fértil para o surgimento da ciência 
filosófica. Nas demais culturas geralmente existia uma casta 
sacerdotal dominante, responsável pela interpretação dos livros 
sagrados e de verdades reveladas, o que determinava o 
comportamento moral, político e econômico do povo. A escrita era 
restrita aos escribas – tratada como segredo e, portanto, acessível 
apenas a iniciados -, proibida aos homens comuns, o que impedia a 
ampla difusão e discussão de idéias. Religiões com dogmas e uma 
certa teologia elaborada eram outros fatores que impediam o livre 
desenvolvimento do pensamento, tornando a religião um instrumento 
de poder. Aliado a isto ainda, a cultura do poder vitalício do Rei e a 
figura do súdito, o que impedia qualquer manifestação política ou 
reflexão sobre a questão do poder. Pois bem, o contexto grego era 
contrário a este modo de ser. 
Com o fim do domínio dórico, nós vemos a reconstrução da sociedade 
grega. Há um renascimento do comércio em torno do século VIII a.C. 
e a tendência à formação de centros maiores ao redor daágora, - a 
praça pública - local das transações comerciais e das discussões 
sobre a vida da cidade. É o nascimento da política. Esclarece-nos 
Paim, Prota & Rodriguez (1999): 
Vencendo o princípio de que todos são iguais diante da lei, a discussão torna-se a 
forma normal de tratar-se não só a política mas os acontecimentos em geral; 
prevalece a opinião de quem expõe suas idéias corretamente e com argumentos 
válidos, quer dizer há a supremacia do logos (que significa "palavra", "razão"). 
Assim que, enquanto antes os fenômenos divinos, naturais e humanos 
confundiam-se e eram vivenciados sem necessidades de explicação, com a pólis, 
esses fenômenos tornam-se problemas, à procura de explicação (PAIM, PROTA e 
RODRIGUEZ, 1999, p. 47). 
Na estruturação política, cada comunidade grega era uma cidade-
Estado – as chamadas polis -, autônoma, com a dimensão de 
pequeno município. Na Pólis é que se efetua a conquista política do 
estatuto cívico, da ordem da cidadania, na qual o destino de cada um 
é definido não pela obrigação de lealdade à um chefe, mas pela 
relação ao princípio abstrato que é a lei - primeira etapa. Num 
segundo momento. A democracia se instaura em Atenas. Apresenta-
se a idéia de governo do povo ou, governo no "meio" do povo e não 
governo do "povinho". O grego tem consciência de sua cidadania 
porque participa da vida pública da cidade. Os destinos da pólis são 
de responsabilidade comum de todos os cidadãos, acima dos quais 
nada a não ser as leis que eles mesmos elaboraram. Escreve 
HOWART (1984): 
Pode parecer exagero, porém acredito que seja justo afirmar que as realizações 
políticas e as experiências práticas de governo dos gregos, nas quais se basearam 
todas as formas modernas de política da Europa ocidental, pelo menos até a 
aparição do marxismo, não poderiam ter acontecidoem outro ambiente que não 
fosse o da pólis. Conceitos tão familiares como, por exemplo, governo 
constitucional, império da lei, democracia e, acima de tudo, cidadania, eram 
completamente desconhecidos até que os gregos começaram a experimentá-los 
(HOWART, 1984, p. 170-171). 
O modelo de governo da pólis como esforço coletivo e exclusivo dos 
cidadãos, até então desconhecida em outras civilizações tem por 
fundamento a idéia de que os deuses abandonaram os homens. E a 
idéia do Destino, como força superior aos próprios deuses, sugere a 
visão democrática de que a lei está acima dos indivíduos. É nesse 
quadro que surge a reflexão filosófica, que busca uma lei universal, 
acima de todas as coisas, que possa explicar o homem e o mundo 
sem recorrer a forças divinas. 
Outras condições histórico-sociais também foram proporcionando o 
questionamento do mito. O renascimento comercial citado exigiu do 
homem grego o “lançar-se ao mar” para encontrar novos mercados. 
Com o desenvolvimento das viagens marítimas, os gregos começam 
a confrontar os fatos reais com as tradições míticas. Chegando às 
ilhas e regiões que constituem o pano de fundo das epopéias e dos 
relatos poéticos, o grego não encontra as “divindades” e as 
“criaturas” citadas pela tradição. Singrando os mares não encontra as 
sereias e nem tampouco é confrontado com Posseidon1. Em Creta não 
depara-se com o Minotauro2 mas sim, com um povo que está 
disposto a comercializar também, como nas demais regiões. 
Questionamentos surgem sobre a veracidade do mito e a 
possibilidade ou não de encontrar novas explicações para os fatos e 
fenômenos antes entendidos apenas de forma mítica. Concomitante a 
isto, há a invenção da moeda e umdesenvolvimento da 
escrita e do calendário. Criada pelos sumérios, a escrita ganha 
novo sentido com os gregos que se descobrem capazes de expressar 
seu pensamento não mais de forma verbal apenas, mas, a partir da 
concepção do alfabeto e da construção fonética, de forma mais 
elaborada, por escrito. Estes fatos exigem uma abstração do 
pensamento, um maior rigor na formulação das idéias e, 
conseqüentemente, uma mudança cultural. O grego descobre que 
não precisa trocar as mercadorias através de coisas concretas (um 
cavalo por um boi, por exemplo), mas sim, que é possível uma troca 
abstrata (um cavalo por 20 moedas, por exemplo). É o 
desenvolvimento da capacidade de elaboração do pensamento de 
forma diferente. O calendário produz condições semelhantes ao 
permitir uma observação sobre os dias e as estações do ano e, desta 
forma a percepção da natureza em seu curso, desmistificando a ação 
divina sobre os fenômenos da natureza (como no caso de a colheita 
ter sido boa ou ruim devido ao “deus” e não às condições climáticas 
ou época do ano). Por fim, o surgimento da vida urbana, que 
impulsiona este renascimento comercial e diminui o prestígio da 
classe aristocrática, proprietária de terras, faz nascer a política, que 
exige a construção de uma nova relação social, como já foi explicado 
anteriormente. 
Por todos estes fatores, portanto, e não por um “milagre” ou por 
“influência do oriente” como já esclarecemos, é que, no século VI 
a.C. Tales inicia a jornada que se tornará a grande aventura na 
História do Ocidente: o pensamento filosófico. 
As mudanças começam a acontecer. Em torno do século V a.C. o 
homem, como cidadão-guerreiro, que fala e que combate, aparece 
como assumindo o seu destino. Nesta época, os gêneros culturais 
mudam de sentido e de estilo. A tragédia, antes fundamentalmente 
religiosa, torna-se cerimônia política. A história-geografia se afirma. 
As descrições lendárias e as genealogias míticas dão lugar a 
paisagens e costumes analisados e descritos com precisão. No campo 
da medicina surge um apelo pela investigação das causas das 
enfermidades e não mais aos recursos ambíguos da adivinhação. Na 
física o grego passa pouco a pouco das especulações mágicas para o 
estudo das relações fenomenais. A “arte da palavra” por sua vez 
deixa de ser privilégio das famílias nobres para ser o meio pelo qual 
todo cidadão dispõe, pelo menos em direito, para fazer valer suas 
opiniões e interesses. 
O mito, contudo, não perdeu sua beleza, seu sentido que propiciou 
todo este progresso. É uma forma diferente de olhar a realidade. 
Hesíodo fala em suas obras do "abandono dos deuses" com relação 
aos homens. Há um princípio de "secularização" do pensamento. O 
homem não precisa mais recorrer aos deuses para explicar o mundo. 
Na Teogonia – de Hesíodo - o homem encontra-se sem deuses, 
abandonado, mas livre para agir e pensar. Entre os séculos VIII e V 
a.C., portanto, desenvolve-se o esforço para a construção de uma 
sociedade justa, propiciada pelas condições históricas próprias do 
mundo grego. É neste contexto que nasce a filosofia e aparecem os 
primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos. 
HERÁCLITO E PARMÊNIDES: SOBRE O SER E O DEVIR 
Heráclito (544-484 a. C.) 
Nascido em Éfeso, na Jônia (atual Turquia), Heráclito é aquele que 
trata do devir. É a idéia do movimento, de que tudo flui, nada é 
imóvel e os contrários formam uma unidade. Neste 
entendimento, para Heráclito, a unidade do mundo resulta da 
contínua tensão da oposição das coisas: a harmonia nasce da própria 
oposição. Aliás, a contradição não só produz a unidade do mundo, 
mas também a sua transformação. O mundo é como um rio que flui 
continuamente. É impossível banhar-se duas vezes na mesma 
água (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 48). 
Buscando compreender a multiplicidade do real, mas contrariando os 
pré-socráticos anteriores, Heráclito não rejeita as contradições e quer 
aprender a realidade na sua mudança, no seu devir. Conforme o 
esclarecimento de ARANHA & MARTINS (2003), todas as coisas 
mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento 
é diferente do que foi há pouco e do que será depois(ARANHA e 
MARTINS, 2003, p. 119). Por isso é impossível nos banharmos duas 
vezes no mesmo rio, pois, na segunda vez nós já mudamos e o rio 
também. Portanto, no entendimento heraclitiano não há ser estático 
e, o dinamismo de tudo pode ser representado pela metáfora do 
fogo, forma visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do 
devir, ‘o fogo eterno e vivo, que ora se acende e ora se 
apaga’ (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). 
O ser em Heráclito é múltiplo. Esta multiplicidade não se refere à 
idéia da existência de múltiplas coisas apenas, mas ao entendimento 
que o ser é composto de oposições internas, por isso múltiplo em si 
mesmo. Para este pré-socrático, o que mantém o fluxo do movimento 
não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, 
pois ‘a guerra é pai de todos, rei de todos’. E é da luta que nasce a 
harmonia, como síntese dos contrários (ARANHA e MARTINS, 2003, 
p. 119). Heráclito intui, com muita antecedência, a lógica dialética, 
uma das grandes contribuições do pensamento hegeliano - e depois 
marxista, no século XIX -, para a filosofia. 
Parmênides (540-470 a. C.) 
Tendo vivido em Eléia, sul da Magna Grécia (que é configurada na 
atual Itália), Parmênides é o principal expoente da escola eleática. 
Defendendo a imobilidade do ser, afirmará que os contrários jamais 
podem coexistir. Elaborou importantíssima teoria filosófica na medida 
em que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental. 
Ocupou-se longamente em criticar a filosofia heraclitiana opondo ao 
"tudo flui" (panta rei) de Heráclito, a imobilidade do ser. Na sua 
teoria entende comoabsurdo e impensável considerar que uma coisa 
pode ser e não ser ao mesmo tempo. À contradição opõe o princípio 
segundo o qual ‘o ser é’ e o ‘não-ser não é’. Mais tarde, os lógicos 
chamarão a isto de princípio de identidade, base de toda construção 
metafísicaposterior (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). 
Considerando que só o ser existe, isto deve ser para sempre, de 
forma única, permanente, imóvel, imutável e eterna. Ou seja, não 
pode mudar a todo instante. Por isso ele pode concluir que o ser é 
único, imutável, infinito e imóvel. 
Para explicar a questão do movimento (as coisas nascem, morrem, 
mudam de lugar...), Parmênides afirmará que as mudanças, as 
contradições e os aspectos diferentes que o mundo apresenta são 
simples ilusões, aparências, fruto de opiniões e não de conhecimento 
do verdadeiro ser (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 49). Tudo 
isto existe apenas no mundo sensível e, este, é o mundo da ilusão. 
Desta forma, só o ‘mundo inteligível’ é verdadeiro, pois está 
submetido ao princípio que hoje chamamos de identidade e de não-
contradição (ARANHA e MARTINS, 2003, p. 119). Em consenso com 
ARANHA & MARTINS (2003), afirmamos que a teoria parmenídea 
produz como conseqüência a identidade entre o ser e o pensar, ou 
seja, a idéia de que o que eu não posso pensar equivale a dizer que 
não existe. O que está fora de mim deve ser idêntico ao meu pensar 
e, deste modo, o ser é pensável e por isso existe. Assim, ser e 
pensável se equivalem (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 49). 
Parmênides estaria aqui inaugurando a lógica com esta teoria, que se 
encontra no seu poema Sobre a Natureza. Dividido em três partes – 
introdução, “via da verdade” e “via da opinião” -, o poema 
parmenídeo permite deduzir que ele inaugura ao mesmo tempo a 
lógica e a metafísica. Enquanto a lógica se coloca contra a “via da 
opinião”, a metafísica investiga o que está por trás das coisas 
naturais e físicas; procura algum princípio ou essência das coisas. Em 
Parmênides, a idéia abstrata de Ser indica precisamente o conjunto 
de toda realidade como a sua essência (PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 
1999, p. 49). Por isso a identidade entre o ser e o pensar. 
QUESTÃO: em que se baseia a tese de Parmênides para afirmar que 
não há o movimento, como afirmava Heráclito? 
FRAGMENTOS: 
Veja a seguir algumas partes que foram conservadas dos textos de 
Heráclito e Parmênides. 
Heráclito: 
“Este mundo, que é o mesmo para todos, não foi feito nem pelos 
deuses nem pelos homens; mas sempre foi, é e será um Fogo eterno, 
com unidades que se acendem e unidades que se apagam. [...] As 
transformações do Fogo são, antes de tudo, os mares; e o mar é 
metade terra, metade turbilhão. [...] Os homens não sabem – diz êle 
[sic!] – de que maneira o que não concorda está de acôrdo [sic!] 
consigo mesmo. É uma harmonia de tensões opostas, como a do arco 
e a lira. [...] As coisas pares são inteiras e não inteiras, o unido e o 
separado, o harmonioso e o discordante. O uno é feito de tôdas [sic!] 
as coisas, e tôdas [sic!] as coisas provém do uno. [...] Deus é dia e 
noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome; mas Êle [sic!] 
adota várias formas, como o fogo, que, quando é misturado a 
especiarias, é chamado segundo o sabor de cada uma delas. [...] O 
fogo vive a morte do ar, e o ar vive a morte do Fogo; a água vive a 
morte da terra, a terra a da água. [...] Devemos saber que a guerra é 
comum a tudo, e que a luta é justiça. [...] Não se pode pisar duas 
vêzes [sic!] nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre 
fluindo sôbre [sic!] ti (in.: RUSSEL, 1967, p. 50-51).” 
Parmênides. 
“Não podes saber o que não é – isso é impossível – nem manifestá-
lo; porque é a mesma coisa que pode ser pensada e existir. [...] 
Como pode, então, o que é vir a ser no futuro? Ou como poderia vir a 
ser? Se vem a ser, então não é; tampouco o é, se vai ser no futuro. 
Assim, o tornar-se desaparece, e o passar não se percebe. [...] A 
coisa que pode ser pensada, e aquilo pelo qual existe o pensamento, 
é o mesmo; porque não podes encontrar uma idéia sem algo que é, e 
a respeito do qual ela se manifesta (in.: RUSSEL, 1967, p. 56).” 
SÓCRATES E A BUSCA DO CONCEITO 
Sócrates (469 ou 470 - 399 a.C.) 
Considerado um marco na filosofia, nunca escreveu nada. Filho de um 
escultor – Sofronisco - e de uma parteira – Fenareta - nasceu em 
Atenas, onde viveu o apogeu e a crise da democracia. Levando a 
filosofia para a ágora, criticando os sofistas e atraindo a admiração 
dos jovens, Sócrates provoca também o desafeto de outros que o 
combatem por considerá-lo um perigo para as tradições da pólise 
uma má influência para a juventude. Admirado e criticado, Sócrates 
foi figura controversa e causou problemas à sociedade da época. O 
que sabemos de Sócrates foi-nos legado por seus discípulos ou 
detratores. Dentre os discípulos, os principais são Platão e Xenofonte. 
Platão é o grande divulgador do mestre, colocando-o como o principal 
interlocutor de seus diálogos e enaltecendo sua sabedoria. Na crítica, 
o principal desafeto socrático era Aristófanes, um comediante. 
Valoroso, virtuoso e destemido, Sócrates foi levado a julgamento 
acusado de “não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas 
divindades e corromper a juventude”. O julgamento, relatado por 
Platão no texto Apologia de Sócrates, apresenta-nos o pensador 
enfrentando seus opositores – o poeta Meleto, o político Anitos e 
Licão, um personagem de pouca importância – e mantendo sua 
integridade, suas convicções. Condenado por uma pequena margem 
de votos, Sócrates beberá cicuta e morrerá entre os seus amigos de 
forma serena e confiante. Poderia ter evitado a morte – ele podia 
fixar outra pena para si – mas não abriu mão de sua consciência, 
pois, escapar à morte seria admitir a culpa no processo. Que ela 
recaísse sobre seus algozes. Ele cumpriria a lei. 
Mas, por que Sócrates incomodou tanto? Conversando com todos, 
discutindo e instigando seus interlocutores, o filho do escultor 
buscava a essência dos conceitos, a definição destes para fugir ao 
relativismo sofístico, tão comum naquele momento. A crítica socrática 
aos sofistas está tanto na cobrança pelos ensinamentos que eles dão 
quanto na “manipulação” que eles fazem dos conceitos para atender 
aos interesses de quem os contrata. Tal atitude mantém os homens 
na ignorância, sem desenvolverem o verdadeiro conhecimento. Aqui 
Sócrates entende sua missão: “libertar” os homens desta ignorância. 
Sobre esta “missão”, ela teria tido início praticamente depois da visita 
de um amigo seu, Querofonte, ao oráculo de Delfos. Este, querendo 
saber se havia homem mais sábio do que Sócrates, obtém uma 
resposta negativa dos deuses, ou seja, Sócrates é o mais sábio. 
Recebendo o relato do amigo, e não se considerando sábio, Sócrates 
fica pensativo e resolve descobrir por que é considerado sábio. 
Intrigado, aborda um político considerado sábio e, na discussão 
descobre que este na realidade se considera sábio, sem saber de 
nada. Entende então que ele – Sócrates - é mais sábio por saber que 
nada sabe, ou seja, tem consciência de sua ignorância. Lembrando-se 
da inscrição na entrada do Templo de Delfos, o “conhece-te a ti 
mesmo”, e afirmando que “de tudo quanto sabe só sabe que nada 
sabe”, Sócrates entende que o conhecimento está dentro do homem 
e que este o desconhece por não buscá-lo. Para encontrá-lo, ele 
entende que é necessário produzir-se um “parto”, um “parto de 
idéias.” Neste sentido Sócrates cria um método que, em homenagem 
a sua mãe, que era maieuta – parteira em grego -, chama-se 
maiêutico. “Parir idéias” é a proposta para o “conhecer-se a si 
mesmo”, encontrar a essência dos conceitos e compreender do que 
se está falando. É deixar o mundo da opinião e alcançar a ciência. 
Como funciona este método? Pautado na ironia, o grande mérito 
dele é a busca do conceito. A ironia tem um duplo aspecto: a 
refutação e a maiêutica. A primeira significa não responder à 
pergunta formulada, mas retomar a resposta do interlocutor e 
demonstrar as contradiçõesnela contidas. A função da refutação 
portanto, é a libertação do espírito, preparando-o para encontrar a 
solução. Esta será encontrada pelo próprio interlocutor, já que 
Sócrates finge ser capaz de atuar unicamente como parteiro, porém 
incapaz de conceber por conta própria; quer dizer, capaz de 
interrogar e não de ensinar, porque o conhecimento já está dentro de 
nós. Trata-se tão somente de extraí-lo do nosso interior. Aqui temos 
a maiêutica propriamente dita. Um claro exemplo da aplicabilidade 
do método está na obra chamada Laqués, de Platão. Laqués e Nícias 
são dois famosos generais que travam uma discussão com dois 
cidadãos sobre o exercício militar. A questão levantada é se “é útil ou 
não este exercício, se ele serve ou não para formar homens 
corajosos”. Convidado a participar da discussão, Sócrates muda o 
rumo da conversa: para sabermos se a arte militar é útil para formar 
homens corajosos, deve-se saber em primeiro lugar, o que 
é coragem. É a busca pela essência do conceito, aquilo que é o 
verdadeiro ponto da discussão. Conforme nos indicam PAIM, PROTA & 
RODRIGUEZ (1999), as questões que Sócrates privilegia são as 
referentes à moral. Por exemplo: o que é a coragem? O que é a 
justiça? O que é a virtude? Quer saber o que é a "coragem em si", o 
universal que representa, ou seja, um conceito que seja o mesmo 
para todos e não apenas construído conforme o interesse de quem o 
expõe. Dando novo sentido ao termo logos - que na linguagem 
comum significava conversa, palavra -, Sócrates desenvolve a idéia 
do mesmo com o sentido de “a razão que se dá de algo”, o conceito. 
Por isso, buscando a essência das coisas nunca vai diretamente a 
pergunta o que é. Antes, ouve e apresenta objeções aos argumentos 
dos outros. A pergunta remonta ao tempo dos jônios. Enquanto estes 
buscavam resolver o problema da natureza - physis –, Sócrates 
pretende indagar o problema dos valores. Acompanhando a 
decadência da democracia ateniense, momento em que os valores 
políticos e morais aparecem sempre mais conflitantes, Sócrates 
procura algo que constitua a essência de todas as virtudes 
particulares como a coragem, a sabedoria, a justiça. Ele identifica a 
virtude com o Bem que, por sua vez, é identificado com a 
própriaRazão. Conhecer a virtude, portanto, é o objetivo da ciência, 
do verdadeiro conhecimento. No entendimento socrático só pratica o 
mal quem desconhece o que seja a Virtude. Quem tem o verdadeiro 
conhecimento só pode praticar o bem. A ciência para Sócrates é, 
desta forma, a ciência do universal, do permanente. Do indivíduo 
mutável só se dá opinião. Desta forma Sócrates prepara a doutrina 
de Platão: se com efeito, somente o conhecimento dos conceitos é 
verdadeiro conhecimento, será verdadeira realidade, unicamente, o 
objeto destes conceitos, isto é, o mundo das Idéias 
eternas(MONDOLFO, in.: PAIM, PROTA e RODRIGUEZ, 1999, p. 51). 
Este é outro assunto. 
FRAGMENTOS: discurso Socrático. 
 
“Enquanto viver, não deixarei jamais de filosofar. E, de instruir quem 
quer que eu encontre, dizendo-lhe à minha maneira habitual: Querido 
amigo, és um ateniense, um cidadão da maior e mais famosa cidade 
do mundo, pela sua sabedoria e pelo seu poder; e não te 
envergonhas de velar pela tua fortuna e pelo seu aumento constante, 
pelo teu prestígio e pela tua honra, sem em contrapartida te 
preocupares em nada conheceres o bem, e a verdade, e com tornares 
a tua alma o melhor possível? E se algum de vós duvidar disto e 
asseverar que com tal se preocupa, não o deixarei em paz; nem 
seguirei tranqüilamente o meu caminho, mas interrogá-lo-ei, 
examiná-lo-ei e refutá-lo-ei; e se me parecer que não tem 
qualquer arete, mas que apenas a aparenta, investigá-lo-ei, dizendo-
lhe que sente o menor respeito pelo que há de mais respeitável, e o 
respeito mais profundo pelo que menos respeito merece. E farei isto 
com os jovens e com os anciãos, com todos os que encontrar, com os 
de fora e com os de dentro; mas sobretudo com os homens desta 
cidade, pois são por origem os mais próximos de mim. Pois ficai 
sabendo que Deus assim me ordenou, e julgo que até agora não 
houve na nossa cidade nenhum bem maior para vós do que este 
serviço que eu presto a Deus. É que todos os meus passos se 
reduzem a andar por aí, persuadindo novos e velhos, a não se 
preocuparem nem tanto, nem em primeiro lugar, com o seu corpo e 
com a sua fortuna, mas antes com a perfeição da sua alma”. 
Sócrates, Livro Paidéia.

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