Prévia do material em texto
DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 1. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS 1.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE A realização de despesas com programas ou projetos somente é possível quando autorizadas por lei, sob pena de configuração de crime de responsabilidade. O art. 167 da CF prevê vedações orçamentárias relacionadas ao princípio da legalidade. Vejamos: Os créditos orçamentários se dividem em: . Ordinários: são os comuns, no sentido de que todos os anos já são previstos. Adicionais: suplementares (reforçam dotações insuficiente), especiais (para novas despesas não previstas); Extraordinários: emergenciais, podendo ser objeto de medidas provisórias, conforme visto acima. O inciso V do art. 167 da CF, utilizado como um dos fundamentos do impeachment de Dilma Rousseff, que, em tese, abriu créditos suplementares descumprindo a autorização legislativa existente. Isto porque na lei orçamentária de 2015 ficou autorizado a abertura de créditos suplementares, desde que compatíveis com as metas fiscais. Contudo, no entender dos parlamentares, a Presidente abriu créditos suplementares que eram incompatíveis com a meta fiscal pré-estabelecida. Vale salientar que a EC 85/2015 trouxe importante exceção ao princípio da legalidade, ao permitir, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, a transposição , o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra sem prévia autorização do Legislativo. Art. 167, V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; Art. 167, § 5º A transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo. Art. 167. São vedados: I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual; Trata-se da LOA. II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 1.2 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE As leis orçamentárias, antigamente, tratavam de matérias diversas, não apenas sobre orçamento. Por isso, eram chamadas de orçamentos rabilongos e cauda orçamentária. Por isso, o art. 165, §8º da CF passou a prever que a lei orçamentária deve conter matéria exclusivamente orçamentárias: previsão de receita e autorizações de despesas, salvo quando se tratar de: Abertura de crédito suplementares (autoriza ampliação de despesa); Contração de operações de crédito (empréstimos públicos), ainda que por antecipação de receita orçamentária. 1.3 PRINCÍPIO DA UNIDADE (TOTALIDADE) Está previsto no art. 2º, da Lei 4.320/1964. Como o tema foi cobrado em concurso? (MPE/MS – Instituto AOCP – 2022): É vedada a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta. Correto! CF, art. 165, § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho (contrabando legislativo) à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF3 – VUNESP – 2022): O princípio da exclusividade exige que a lei orçamentária contenha apenas matéria de receitas e despesas, não permitindo exceções como a autorização para abertura de créditos suplementares e contratações de operações de crédito. Errado! (TRF4 – TRF4 - 2022): É vedada a inclusão na lei orçamentária anual de dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Correto! (DPE/BA – FCC - 2021): No que diz respeito ao orçamento público, o princípio da exclusividade diz respeito à lei orçamentária anual não conter dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa. Correto! (TCE/PE – CESPE - 2017): Em razão do princípio da exclusividade orçamentária, a lei orçamentária deve conter todas as receitas e despesas, qualquer que seja a sua natureza, procedência ou o seu destino. Errado, trata-se do princípio da universalidade. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 De acordo com o princípio da unidade, em cada ente federativo deve existir apenas um orçamento, a fim de evitar autorizações paralelas. Trata-se de uma unidade política, não é sinônimo de unidade documental, tendo em vista que a CF (art. 165, §5º) prevê suborçamentos (fiscal, investimento e seguridade social). 1.4 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Trata-se de princípio expresso na Lei 4.320/1964, segundo o qual a lei orçamentária deve conter todas as receitas, inclusive de operações de crédito (empréstimos) autorizadas em lei, bem como todas as despesas. O princípio da universalidade relaciona-se com o princípio da legalidade. São exceções à universalidade: Operações de crédito por antecipação de receita (operação iniciada e finalizada no mesmo ano); Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade universalidade e anualidade. CF, Art. 165,§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF4 – TRF4 – 2022): O princípio da unidade consiste na exigência de elaboração de um único documento orçamentário, sem discriminação dos órgãos abrangidos. Errado! Art. 2º A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei. Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada (autarquias também fazem parte, leitura conforme CF), ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no art. 2º. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 Emissões de papel-moeda (Poder Público emitindo moeda e não recebendo receita); Outras entradas compensatórias (recurso que entra nos cofres públicos já marcado para sair), no ativo e passivo financeiro, como, por exemplo, depósitos e cauções; Não impede a cobrança de tributo não previsto no orçamento. O fato de determinado tributo não estar previsto na lei orçamentária, não impede o Poder Público de cobrar esse tributo ao longo do exercíciofinanceiro (não se aplica a anterioridade orçamentária). Nesse sentido: Súmula STF 66: É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro. 1.5 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE (PERIODICIDADE) O orçamento é ânuo, significa que o intervalo de tempo em que se estimam as receitas e se fixa as despesas é de um ano, coincidente com o exercício civil (1º de janeiro a 31 de dezembro). Lei 4.320/1964 - Art. 34. O exercício financeiro coincidirá com o ano civil. A dotação orçamentária é prevista na lei para que o gasto ocorra no exercício de sua aplicação. Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF3 – VUNESP – 2022): O princípio da universalidade determina que todas as receitas e todas as despesas estejam previstas no orçamento, sendo indispensável para o controle parlamentar. Correto! (TRF4 – TRF4 – 2022): O princípio da universalidade traduz a exigência de inclusão de todas as receitas e despesas públicas no orçamento anual, exceto os investimentos das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. Errado! (AGE/MG – FGV – 2022): Pelo Princípio da Universalidade, o orçamento deve conter todas as despesas e todas as receitas, compreendendo o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta, não incluindo, no entanto, o orçamento referente à administração indireta. Errado. Art. 167, § 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF4 – TRF4 – 2022): O princípio da anualidade delimita a periodicidade da lei orçamentária para o exercício financeiro, que poderá não coincidir com o ano civil. Errado! (AGE/MG – FGV – 2022): O Princípio da Anualidade, segundo o qual o orçamento tem vigência limitada ao ano civil, não sendo coincidente com o exercício financeiro, deve ser obedecido pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Errado! DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 1.6 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO Relaciona-se com o princípio da universalidade, está previsto no art. 6º da Lei 4320/1964: O Estado deve discriminar todas as receitas e despesas sem deduções (não apenas os valores líquidos), o intuito é dar transparência a toda atividade financeira do Estado. Vale salientar que a LC 178/2021 incluiu o §3º ao art. 18 da LRF, determinando que na despesa com o pessoal deve-se considerar a remuneração bruta, sem deduções. 1.7 PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO OU DISCRIMINAÇÃO A lei orçamentária deve especificar e detalhar de forma clara e transparente as dotações, a fim de facilitar seu entendimento e acompanhamento, nos termos do art. 5º da Lei 4320/1964: Vale salientar que não se admite dotações globais, a dotação não pode ser ilimitada. Há duas exceções ao princípio da especialidade: a) reserva de contingência (art. 5º, III, LRF) – tem por finalidade atender aos passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. b) programas especiais de trabalho (art. 20, da Lei 4.320/1964) Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. § 1º As cotas de receitas que uma entidade pública deva transferir a outra incluir-se-ão, como despesa, no orçamento da entidade obrigada a transferência e, como receita, no orçamento da que as deva receber. LRF art. 18, § 3º Para a apuração da despesa total com pessoal, será observada a remuneração bruta do servidor, sem qualquer dedução ou retenção, ressalvada a redução para atendimento ao disposto no art. 37, inciso XI, da Constituição Federal. Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 (programas especiais de trabalho) e seu parágrafo único. LRF, art. 5º, § 4o É vedado consignar na lei orçamentária crédito com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada. LRF – art. 5º, III - conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, destinada ao: a) (VETADO) b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 1.8 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE ESTORNOS DE VERBAS Relaciona-se com o princípio da legalidade, previsto no art. 167, VI, da CF: É proibido, de forma discricionária, remanejar, transferir ou alocar recursos de uma categoria de programação para outra sem prévia autorização do Poder Legislativo, salvo no caso de transferência de dotações entre as categorias da ciência, tecnologia e inovação (art. 167, §5º). Por conta da crise financeira dos Estados, os Tribunais de Justiça passaram a determinar o pagamento das verbas alimentares (salário do funcionalismo público), com o bloqueio das dotações orçamentárias, mitigando o princípio da proibição de estornos de verbas. Diante disso, o STF, na ADPF 405, afirmou que quando o recurso está escriturado para determinada despesa não cabe ao Poder Judiciário fazer o estorno de despesas. ADPF 405 - ”suspende-se os efeitos de todas as decisões judiciais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT1) que tenham determinado o arresto, o Lei 4.320/1964 – art. 20 s investimentos serão discriminados na Lei de Orçamento segundo os projetos de obras e de outras aplicações. Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa poderão ser custeadas por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital. Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF3 – VUNESP - 2022): O princípio da especialização exige que as receitas apareçam de maneira discriminadas, de forma que as origens dos recursos sejam detalhadas para concessões genéricas de despesas. Errado! (TRF5 – CESPE - 2017): O princípio da especialidade ou especificação do orçamento define que somente o orçamento pode tratar de matéria orçamentária, podendo conter autorização para a abertura de créditos suplementares e operações de crédito. Errado! CF, Art. 167. São vedados: (...) VI – a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa. § 5º A transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro, para atender a demandas relativas a pagamento de salários, a satisfação imediata de créditos de prestadores de serviços e tutelas provisórias definidoras de prioridades na aplicação de recursos públicos, (...) Exclusivamente nos casos em que estas determinações tenham recaído sobre recursos escriturados, com vinculação orçamentária específica ou vinculados a convênios e operações de crédito, valores de terceiros sob a administração do PoderExecutivo e valores constitucionalmente destinados a municípios, devendo, ainda, ser devolvidos os recursos que ainda não tenham sido repassados aos beneficiários dessas decisões judiciais. A aparente usurpação de competências constitucionais reservadas ao Poder Executivo (exercer a direção da Administração) e ao Poder Legislativo (autorizar transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro) sugere configurada, na hipótese, provável lesão aos arts. 2º (11); 84, II (12); e 167, VI e X, da Carta Política. (ADPF 405 MC/RJ) 1.9 PRINCÍPIO DA QUANTIFICAÇÃO O princípio da quantificação também se relaciona com o princípio da legalidade. 1.10 PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO Previsto no art. 4º da LRF:: As despesas devem ser compatíveis com as receitas, permitindo-se certo nível de endividamento. Diante do desequilíbrio do orçamento, editou-se a EC 96/2016, chamada de novo regime fiscal ou de PEC do fim do mundo. Importante, aqui, lembrar da Regra de Ouro que limita as operações de créditos às despesas de capital, especialmente os investimentos. Art. 167. São vedados: (...) VII – a concessão ou utilização de créditos ilimitados. LRF, Art. 4º A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2º do art. 165 da Constituição e: I – disporá também sobre: a) equilíbrio entre receitas e despesas. Obs. A regra de ouro visa limitar o endividamento do Estado. O valor das operações de crédito (empréstimos) não pode ser superior às despesas de capital, salvo quando houver aprovação da maioria absoluta do Congresso Nacional. Art. 167. São vedados: (..) III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 Vale salientar que o STF entende que não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras com a finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas versada no art. 167, III, da CF/88, segundo a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário para realizar suas despesas de capital, não impede a contratação de operações de crédito para o custeio de despesas correntes. O estado pode financiar suas despesas correntes mediante receitas de operações de crédito, desde que estas não excedam o montante das despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo chefe do Poder Executivo quando fizer a operação financeira autorizada por lei. Ademais, o art. 167, X, da CF/88 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de pessoal. O dispositivo veda, contudo, que os empréstimos realizados junto a instituições financeiras dos governos federal e estaduais sejam utilizados para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação das receitas obtidas com instituições financeiras estatais para o custeio de pessoal ativo e inativo. Por oportuno, nada impede a realização de empréstimos com instituições financeiras privadas para pagamento de despesas com pessoal, porquanto a proibição não as alcança. STF. Plenário. ADI 5683/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051). 1.11 PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO DAS RECEITAS Previsto no art. 167, IV da CF, aplica-se apenas aos impostos. 1.12 PRINCÍPIO DA UNIDADE DE CAIXA Como o tema foi cobrado em concurso? (TRF3 – VUNESP – 2022): O princípio do equilíbrio como regra de ouro das finanças públicas significa que a despesa autorizada em casa exercício não pode ser superior ao total de receitas estimadas, não se admitindo como exceção o endividamento para investimento. Errado! Art. 167. São vedados: (...) IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo. Como o tema foi cobrado em concurso? (AGE/MG – FGV – 2022): Segundo o Princípio da Não-Afetação, é proibida a vinculação da receita de taxas, contribuições e impostos a órgão, fundo ou despesa. Errado. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 Observe o art. 164, §3° da CF: A ideia é que cada tesouro possua uma conta única. A lei a que se refere o §3º, de acordo com o STF, deve ser nacional, só a União poderia criar a exceção (art. 43, §1º da LRF). Observe o entendimento do STF, na ADI 3075: STF ADI 3075: As disponibilidades de caixa dos Estados-membros, dos órgãos ou entidades que os integram e das empresas por eles controladas deverão ser depositadas em instituições financeiras oficiais, cabendo, unicamente, à União Federal, mediante lei de caráter nacional, definir as exceções autorizadas pelo art. 164, § 3º, da Constituição da República. 1.13 PRINCÍPIO DA ECONOMICIDADE Possui relação direta com a capacidade de um órgão ou instituição pública gerir adequadamente os recursos financeiros colocados à sua disposição. Seu objetivo é minimizar os gastos públicos, sem comprometimento dos padrões de qualidade. O art. 70 da CF é expresso nesse sentido: A economicidade está relacionada com o dever de eficiência na efetivação dos gastos públicos, na busca de melhores resultados com a visão da limitação dos recursos e da sua correta utilização, sem os desperdícios tão comuns na área pública. CF, art., 164, § 3º As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei. Lei 4320/1964, Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais. LRF, ART. 43, § 1º As disponibilidades de caixa dos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos, ainda que vinculadas a fundos específicos a que se referem os arts. 249 e 250 da Constituição, ficarão depositadas em conta separada das demais disponibilidades de cada ente e aplicadas nas condições de mercado, com observância dos limites e condições de proteção e prudência financeira. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 1.14 PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA Aplica-se também ao orçamento público a transparência, conforme disposições contidas nos arts. 48, 48-A e 49 da LRF, que determinam ao governo, por exemplo: divulgar o orçamento público de forma ampla à sociedade; publicar relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal; disponibilizar, para qualquer pessoa, informações sobre a arrecadação da receita e a execução da despesa. Art. 48. São instrumentos de transparênciada gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. § 1o A transparência será assegurada também mediante: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II - liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A. § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disponibilizarão suas informações e dados contábeis, orçamentários e fiscais conforme periodicidade, formato e sistema estabelecidos pelo órgão central de contabilidade da União, os quais deverão ser divulgados em meio eletrônico de amplo acesso público. § 3o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios encaminharão ao Ministério da Fazenda, nos termos e na periodicidade a serem definidos em instrução específica deste órgão, as informações necessárias para a constituição do registro eletrônico centralizado e atualizado das dívidas públicas interna e externa, de que trata o § 4o do art. 32. § 4o A inobservância do disposto nos §§ 2o e 3o ensejará as penalidades previstas no § 2o do art. 51. § 5o Nos casos de envio conforme disposto no § 2o, para todos os efeitos, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios cumprem o dever de ampla divulgação a que se refere o caput. § 6o Todos os Poderes e órgãos referidos no art. 20, incluídos autarquias, fundações públicas, empresas estatais dependentes e fundos, do ente da Federação devem utilizar sistemas únicos de execução orçamentária e financeira, mantidos e gerenciados pelo Poder Executivo, resguardada a autonomia. Como o tema foi cobrado em concurso? (AGE/MG – FGV – 2022): Segundo o Princípio da Economicidade, os gastos e custos públicos devem ser minimizados, sem comprometimento dos padrões de qualidade, com eficiência na gestão financeira e na execução orçamentária. Correto. DIREITO FINANCEIRO 5º BLOCO – DIREITO –NOTURNO 2024.1 Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a: I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado; II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. Parágrafo único. A prestação de contas da União conterá demonstrativos do Tesouro Nacional e das agências financeiras oficiais de fomento, incluído o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, especificando os empréstimos e financiamentos concedidos com recursos oriundos dos orçamentos fiscal e da seguridade social e, no caso das agências financeiras, avaliação circunstanciada do impacto fiscal de suas atividades no exercício.