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SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA DE PSICANÁLISE – SCOPSI CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE DARLAN DE ALMEIDA LIMA O INCONSCIENTE FREUDIANO NA LINGUAGEM SOCIAL FORTALEZA - CE 2014 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA DE PSICANÁLISE – SCOPSI CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE DARLAN DE ALMEIDA LIMA O INCONSCIENTE FREUDIANO NA LINGUAGEM SOCIAL Artigo científico apresentado como requisito para conclusão do Curso de Formação em Psicanálise e obtenção do título de Psicanalista pela Sociedade Contemporânea – SCOPSI. Orientador: Dr. França da Silva (Psicanalista Clínico – CPNC 2515-50/19) FORTALEZA – CE 2014 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, a quem dedico minha vida e a meu pai José Eliézio de Almeida e Silva (In Memorian), de quem muito me inspirei a estudar e a ser ético. Também, à minha mãe Maria do Socorro Lima e Silva, que tem me amparado até a presente data que tem me ensinado a dar o melhor de si, sendo uma grande mulher virtuosa, espiritual, batalhadora e de exemplo ilibado, bem como aos meus irmãos James, Divânia e Wagner e seus cônjuges Kennya, Alexandre e Juliana. Da mesma forma, agradeço à querida esposa Zínnia de Fátima Lima Freitas, fiel companheira e grande incentivadora, mulher maravilhosa que me amparou e me orientou ao longo dos 18 anos de casados, bem como à querida sogra Maria de Fátima Pereira Lima (In memoriam); também aos meus filhos André, Renan, Rebecca e Samuel, que têm sido sustentáculos de amor. Faço notório o apoio recebido da SCOPSI, por dar ênfase a um curso que considero importante para a sociedade, especialmente aos meus professores ao longo da jornada acadêmica, servidores, colegas de curso, ao Professor Orientador Doutor França da Silva por seu apoio e orientação e a todos quantos, no transcorrer do curso, contribuíram direta ou indiretamente para a minha especialização acadêmica e ao meu sucesso profissional. Deus nos abençõe! RESUMO A linguagem é motivada pelas necessidades sociais. Nessa relação, há uma distorção, carente de uma tradução no contexto das representações envolvendo os comportamentos pessoais, numa diversidade simbólica social que envolve uma associação entre a cultura da especulação mercadológica acumulativa e o desafio de autonomia individual. Nessa simbologia experiencial se estabelece um sistema que controla o imaginário, pela mediação do espaço entre a realidade e a fantasia, pela produção de imagens, símbolos e sintaxes, alienando, massificando e normalizando a construção social pautada pelos interesses das elites, produzindo violência simbólica social e corporal, não dialógica e impositiva, gerando um grande risco de que o sentido motivacional da vida se torne insatisfação e solidão e as escolhas em riscos. Essas disfunções sociais carecem de reflexão sobre a formação de conceitos na construção de significados, num processo de internalização sobre a compreensão da identidade e da existência em relação à identidade coletiva no sentido de explicar, explanar ou aclarar o sentido dos conceitos significativos capazes de produzir mudanças comportamentais. Segundo a Psicanálise, ocorre, nos indivíduos, conteúdos internos reprimidos, emergindo do inconsciente, como sucessões de sintomas repressores, numa rede de significantes (palavras e fonemas), articulados entre si por mecanismos próprios, dentro de um sintoma neurótico. O presente artigo trata de ampliar a dialética sobre o inconsciente Freudiano, envolvendo a internalização construtiva simbólica, perceptiva da convenção social sígnica que emerge do inconsciente para o consciente, na relação social (sistema de expressão) e nas redes relacionais; supõe que a castração e a linguagem são, também, fenômenos sociais e que o mercado de trabalho é um sistema de resíduos, depósito das necessidades sexuais que desempenharam o papel principal na origem e no desenvolvimento da linguagem. Articula a distorção social como consequência de um conflito complexo da pulsão contra o desejo recalcado individual e pontua a questão da censura psicanalítica no contexto social tendo o sistema mercadológico como uma internalização construtiva simbólica, perceptiva a uma convenção social sígnica, também emergindo do inconsciente para o consciente; hipotetiza a questão do entendimento sobre a linguagem do inconsciente como algo fundamental na procura do entendimento das questões sociais, aonde analisa a relação entre o erótico e o social desde o processo individual ao processo coletivo; interpela a linguagem do ser dentro do conflito ideológico e social, procurando entender sobre a satisfação do desejo pessoal e a visão do outro, comparando o desejo pessoal na neurose obsessiva e a visão do outro no contexto social em relação à conversão histérica, vendo na diversidade simbólica disfarçada de representações de pensamentos latentes, as dependências comerciais em suas ambigüidades emocionais, envolvendo as vinculações de pensamento entre idéias estabelecidas e a pseudo-verdade fabricada. Pensa sobre a repressão individual e a construção da linguagem social, na forma de pensar do sujeito inserido na condição social. Finalmente, relaciona a omissão social como esvaziamento do ser inconsciente pessoal na relação dinheiro e poder, que simboliza a representatividade significativa desse inconsciente coletivo, envolvendo fatores extremos presentes nas relações sociais narcisistas, como forças opositoras que incitam o pensamento mágico na massa social. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem, identidade, ambiguidade, inconsciente ABSTRACT The language is motivated by social needs. In this respect, there is a distortion, lacking a translation in the context of representations involving personal behavior, a symbolic social diversity that involves an association between the culture of cumulative marketing speculation and the challenge of individual autonomy. In this experiential symbolism establishes a system that controls the imaginary, through the mediation of space between reality and fantasy, the production of images, symbols and syntax, alienating, massifying and normalizing the social construction guided by the interests of elites, producing symbolic social violence and body, not dialogical and imposing, generating a great risk that the motivational meaning of life becomes dissatisfaction and loneliness and choices in risk. These social dysfunctions lack of reflection on the formation of concepts in the construction of meanings, a process of internalization on understanding the identity and existence in relation to collective identity in order to explain, explain or clarify the meaning of concepts capable of producing significant changes behavioral. According to psychoanalysis, occurs in individuals, repressed internal contents, emerging from the unconscious as a succession of repressive symptoms, a network of signifiers (words and phonemes), articulated mechanisms by themselves within a neurotic symptom. This article deals with larger dialectic on the Freudian unconscious, involving the symbolic, perceptual constructive internalization of social semiotic convention that emerges from the unconscious to the conscious, social relationship (expression system) and the relational networks; assumes that castration and language are also social phenomena and that the labor market is a system of waste deposit of sexual needs that played a major role in the origin and development of language. Articulates social distortion as a result of a complex conflict of drive against individual repressed desire and punctuates the issue of censorship in psychoanalyticsocial context with the marketing system as a symbolic internalisation constructive, perceptive signic a social convention, also emerging from the unconscious to the conscious; hypothesizes the question of understanding the language of the unconscious as something fundamental in the understanding of demand, where he analyzes the relationship between the erotic and the social process from the individual to the collective social process issues; challenges the language of being within the ideological and social conflict, trying to understand about the satisfaction of personal desire and the vision of the other, comparing personal desire in obsessional neurosis and the view from the other in the social context in relation to conversion hysteria, seeing in diversity disguised as symbolic representations of latent thoughts, trade dependencies in their emotional ambiguities involving the linkages between established ideas of thought and manufactured pseudo-truth. Think about individual repression and the social construction of language in thinking the guy inserted and social status. Finally, it relates to social failure as emptying of being unconscious personal money and power in the relationship, which symbolizes the significant participation of this collective unconscious, involving extreme factors present in the narcissistic social relations such as opposition forces urging magical thinking in the social mass. KEYWORDS: Language, Identity, ambiguity, unconscious O INCONSCIENTE FREUDIANO NA LINGUAGEM SOCIAL INTRODUÇÃO A princípio, procurei fazer um texto sobre a problemática social envolvendo a mídia e a implicação estética. Contudo, atentei para a questão da linguagem e das motivações decorrentes das necessidades sociais, aonde observei que as representações e comportamentos pessoais, possuíam uma diversidade simbólica social e cultural, apresentando um contraste entre a especulação mercadológica acumulativa e o desafio de autonomia individual, numa normatização simbólica que propiciava a violência, gerando insatisfação e solidão. Tive a necessidade de entender sobre as disfunções sociais e a construção de significados e conceitos significativos envolvendo as mudanças comportamentais, pelo que, atentei na relação do inconsciente individual na obra Freudiana, buscando relacionar os conteúdos internos reprimidos na rede de significantes com a internalização construtiva simbólica, perceptiva da convenção social envolvendo os fenômenos sociais e o mercado de trabalho, observando uma distorção social passível de ser envolvida na questão do complexo da pulsão contra o desejo recalcado individual, sendo o sistema mercadológico, como uma internalização construtiva simbólica da linguagem do inconsciente como algo fundamental na procura do entendimento das questões sociais. Esse artigo, portanto, trará uma visão sobre a comparação entre o processo individual e o processo coletivo dentro de uma ótica Freudiana, envolvendo a linguagem do ser dentro do conflito ideológico social, procurando entender a satisfação do desejo pessoal e a visão do outro, na diversidade simbólica e nas representações de pensamentos latentes, envolvendo as ambigüidades emocionais, as vinculações de pensamento e as idéias estabelecidas de cunho social. Trata-se de um pensar sobre a repressão individual e a construção da linguagem social, envolvendo o sujeito inserido na condição social, na omissão social, carente de um esvaziamento do ser inconsciente, pessoal, na relação dinheiro e poder, dentro de uma representatividade simbólica social significativa inconsciente coletiva. O que me anima bastante a fazer este estudo é a importância do conhecimento e da aplicabilidade do entendimento envolvendo fatores extremos presentes nas relações sociais narcisistas, como forças opositoras que incitam o pensamento mágico na massa social, dentro de uma ótica Freudiana, que pode ajudar muito na prática clínica de pacientes neuróticos, oprimidos socialmente por causa de diversos fatores sociais. É importante, porém deixar claro, que esse trabalho não finaliza toda a essência da busca da resolução da problemática social, mas penso que pode ser muito importante para a todos os que se propõe a olhar o ser humano de forma mais humanizada. Espero que esse artigo seja o primeiro a desbravar o cenário social, inserido uma produção simbólica social, como uma proposta de resolução para uma outra visão sobre a proposta de estudo do inconsciente individual, na mediação pessoal, pela aplicação da psicanálise Freudiana no entendimento da linguagem social. DESENVOLVIMENTO O cenário social Conforme os teóricos Naissbit (1996), Andrade (1996), Rattner (1995), Dowbor (1999), Ianni (1995), Castoriadis (1996), Giddens (1996), Dreifuss (1996), Sader(1996) e Hall (2000), a cultura global paradoxal do mercado força uma especulação acumulativa, que, em busca da lucratividade, exclui do sistema, pessoas não tidas como modernizadas e deliberantes, gerando nos indivíduos, um desafio de autonomia e absorção e interiorização de idéias, atitudes e comportamentos fundamentados pelo sistema, cujos parâmetros levam a buscas de respostas, pela preocupação com ajustamentos sociais, agravando desigualdades e desidentificando o homem contemporâneo, que se torna contraditório diante das mudanças estruturais e institucionais. Beltran (1981), Key (1993), Downing (1990), McChesney (2003), Hardt e Negri (2000), Pacheco (1998), Guattari (1990), Giddens (1991) Adorno e Horkheimer (1985), defendem que a maneira de sentir, pensar e agir, ou seja, o comportamento resultante dessa simbologia experiencial se estabelece pela comunicação entre as pessoas que desejam reduzir a ansiedade, quebrar o silêncio de fatos que questionam a confiança no sistema que controla o imaginário, pela mediação do espaço entre a realidade e a fantasia, pela produção de imagens, símbolos e sintaxes, alienando, massificando e normalizando o modelo que integra diferentes contextos sociais impondo aos sujeitos uma paulatina desconstrução da sua capacidade criativa e de pensamento, numa construção social pautada pelos interesses das maiorias. A produção simbólica social Tavares e Brasileiro (2003), Theodor Adorno (1986), Serra e Santos (2003), Michel Foucault (1987, 1999), Gilbert Durand (1998), Kurz (2001), Camargo & Hoff (2002), Breen (1998) e Giddens (1998) falam sobre a mercadorização do corpo como dispositivo de poder do consumo capitalista, perdendo a identidade como pessoa. Bourdieu (1997), Costa (1999), Andrade (1996), Bosi (1988), Habermas e Siebbeneichler (1989), Frank (1962), Critelli (1996), Guerreiro (1981) e Lessa (1999) concordam que a subjetividade fabricada, produz violência simbólica, não dialógica e impositiva, excluindo e invadindo os valores pessoais, fazendo com que os sujeitos narcísicos e hedonistas deleguem ao mercado falsa felicidade, gerando uma cultura banalizada, conflitante, que produz dores psíquicas que eclodem em dores somáticas, gerando um grande risco de que o sentido motivacional da vida se torne insatisfação e solidão e as escolhas em riscos. Chauí (1999), Fadiman (1979), João da Penha (1982), Rego (2003), Kreppner (2000), Oliveira & Bastos (2000), Cória-Sabini (1986), Piaget (1994) e Puig (1995), postulam que a angústia e a monotonia geradas limitam talentos, capacidades, potencialidades aonde as consciências são atormentadas por medos e ansiedades neuróticas causadas por disfunções sociais, políticas e educacionais tidas como superficiais, banais, cujos valores, crenças, idéias e significados geram uma normose de laços afetivos estressores, numa moral baseada em regras que precisam ser reavaliadas.Uma proposta de resolução Macedo (1996), Kant (apud Macedo) (1996), Piaget (1994), Vygotsky (1988), Combinato & Queiroz (2006), Cruz & Jawars (2001 apud Rocha et al, 2004), Bernier & Hirdes (2006), Kubler-Ross (1998), Bernier & Hirdes (2006) falam que a universidade de um princípio universal baseado na prudência, interesse ou conformidade com as regras sociais, independente de conceitos próprios, só será conveniente equilibrada quando houver reflexão sobre a formação de conceitos que se dá através das relações entre o pensamento e a linguagem, questões culturais na construção de significados, num processo de internalização sobre o ato de morrer, aonde o fato do tabu sobre o assunto, gera medo, fuga e espanto, numa postura defensiva, na negação e no distanciamento de pensar, ao se discutir e dialogar sobre a própria finitude da vida. Queiroz (2006), Canclini (1995), Mouffe (1993), Boff (2000), Hardt (2001), Rojas (1996), Bauman (2004), Darsie (1999), Freitas (2000), Rogers e Kinget (1975) e Maturana e Varela (1995) concordam que existe um deslocamento de cenário que desagrega a compreensão da identidade e da existência em nome de uma aparente identidade coletiva que distancia e descontinua a percepção das regras e lógicas da subjetivação, provocando uma sensação de insegurança generalizada pelo fato de que o que é constituído como algo atraente, dinâmico e divertido, é na verdade, vazio, sem idéias, evasivo e contraditório pelo fato de que o homem moderno, atingido por tantas notícias, cria mecanismos de defesa, sendo insensível e pragmático; vivendo em comunidades marcadas pela mesmice de ambientes narcisistas, cujos não-vínculos dos seres humanos com os seus grupos, soma-se ao não-vínculo com os seus territórios. Uma outra visão Darsie (1999), Guedes (1981), Ausubel (1980), Maximiliano (1997), Ricouer (1988), Peirce (1983), Gomes (1997), Alves (2000), Ludke e André (2005) e Kosik (2002), pensam sobre o fato de que o desenvolvimento de potencialidades, autonomia e socialização passam por um direcionamento não apenas a nível de conhecimento, mas comportamental, numa leitura dinâmica contextualizada, numa aprendizagem de assimilação de conteúdos significativos, cuja influência envolve o sentido de explicar, explanar ou aclarar o sentido de (palavra, texto, lei, etc.). Nessa interpretação simbólica e perceptiva ocorrente em uma relação entre sujeitos, se vê o que está diante dos olhos, assimilar o que é signficativo é o generalizar as leituras da linguagem (Signo, Símbolo, Paradigma e Arquétipo), observando, interpretando, contrastando e ressignificando conceitos significativos, num processo de socialização do saber, o que favorece o engajamento de grupos e assegura a transmissão de valores universais, pela fundamentação psicológica de processos de ação, capazes de produzir mudanças comportamentais em quem deseja aprender o conhecimento. Contudo, Weber (1982), Morin (2002), Andrieu (2006), Jodelet (1982, 1984, 1986, 1994), Moscovici (1961/1976, 1978, 1982, 1990, 2003), Vala (1993), Durkheim (1986), defendem que essas mudanças sociais ocorrem em meio a representações sociais, gerando uma consciência coletiva, em mecanismos de controle social, por sanções e recompensas. Dessa forma, Bhaskar (1996), Rouanet (1996), Perrusi (1995), Alexander (1987) tratam dos mecanismos de controle social e do fenômeno do pensamento social, onde a imagem externa corporal é uma aparente mediadora simbólica desse lugar social. Ohana, Besis-Monino e Dannenmuller (1982), Althusser (1996), Gramsci (1978), Duveen (2003) e Moscovici (1961/1976, 1978, 1982, 1990, 2003) relacionam a saúde com o equilíbrio psíquico e a conservação da aparência estética, como forma de disciplina e de controle moral, na ideologia de regras de orientação e de conduta social dentro desse espaço ou lugar social. Castro (2003), Lotman (1981), Barthes (1980), Baudrillard (1985), Featherstone (1993, 1995) e Bourdieu (1988), então, fazem distinção social e (re)definição de identidade contemporânea, alertando sobre o culto ao corporal, numa dimensão sígnica, cuja construção de estilos pelo consumo define o poder social, como resultante de coerções sociais, onde o homem objetiva a representativa revelação das disposições e interações dos hábitos sociais em sua vida social relacionada ao ambiente. A proposta de mediação Na tentativa de tentar mediar estes diferentes posicionamentos acerca da saúde psíquica, envolvendo o homem e seu lugar social, Peirce (1983), Santaella (2004), Pignatari (2004), Lexikon (1990), Netto (2003), Eco (1997) concordam que há uma responsabilidade de se nomear o que se descobre, aonde o signo é a resposta como uma convenção social aceita e entendida, substituindo, representando e possuindo efeitos posteriores, dando ao corpo ao pensamento, às emoções, às reações externalizadas, as traduções mais ou menos fiéis de signos internos para signos externos, cujos fenômenos mentais são o que aparecem à percepção da mente. Goffman (apud Wolf, 2002), vê a sociedade, indivíduo e mente como três entidades indissociáveis, que compõem o ato social, caracterizado como interacionismo simbólico. Em seqüência, surge a semiótica, outra abordagem teórica, que se constitui um campo autônomo de estudos, composto por diversas perspectivas, buscando a compreensão, precedente do próprio mundo de experiência do intérprete, mas que pode ser enriquecida por meio da captação de conteúdos novos, que envolvem conteúdos externos e conteúdos internos. Segundo Peirce (1983), em relação à interpretação envolvendo o signo: O significante e significado são indissolúveis gerando uma riqueza de interpretações tão ampla que mesmo significados opostos podem combinar- se em um único signo; ou seja, o signo tríade que pode ser intérprete, interpretante e interpretação, que torna possível analisar e classificar os fenômenos da realidade em ícones, índices e símbolos; o ícone envolve alto poder de sugestão quando há qualidade na relação; o índice quando se refere com qualidade em comum com esse objeto como tudo o que atrai a atenção que indica e liga algo real, concreto, singular que irradia para múltiplas direções e o símbolo quando só é entendido com a ajuda do seu interpretante, associa uma lei, uma associação de idéias produzidas convencionadas. Ainda o autor afirma sobre a tríade semiótica: A primeiridade, secundidade e terceiridade, tal qual o ícone, índice e símbolo; para eles, toda e qualquer coisa enquadram-se nessas três categorias, aonde a primeiridade seria o que é sem se referir a outra coisa independente de força e de razão, algo que não se compara, não se relaciona, não se diferencia e não se descreve; a secundidade seria como dependente, determinada que reage entre si, conectada e ligada às reações secundárias, que reage conscientemente com o mundo e a terceiridade, generealiza e continua crescendo conforme a inteligência numa força generalizadora de provocar uma ligação e reconhecimento convencional no sentido de gerar uma compreensão, interpretação e tradução de pensamentos. A Aplicação da Psicanálise no Entendimento da Linguagem Social Neste contexto de tríade envolvendo compreensão, interpretação e tradução de pensamentos do ser humano, envolvendo primeiridade, secundidade e terceiridade, para Freud, esta realidade ou cenário social descritos, abrange a teoria dos conteúdos internos reprimidos, que acabam retornando à consciência, de forma disfarçada, emergindo do inconsciente, funcionando como uma rede de significantes (palavras e fonemas), articulados entre si segundo mecanismos próprios, fora das regras da gramática e os princípios lógicos do pensamento consciente., ou seja: os problemas sociais refletem problemas internos inconscientes,possíveis de serem conhecidos através da linguagem do inconsciente. O discurso de Freud é enriquecido por Lacan, que afirma que entre língua e fala, entre significante e significado, o sujeito do inconsciente é “barrado”, traspassado pela significação diferenciada do signo, aonde os traços individuais geram seu próprio contexto em combinação pela seleção e escolha dentro de uma mesma operação de subjetividade, como a aplicação da arte, por exemplo. Defendendo a ação da psicanálise para entender esta questão entre o homem e o seu sofrimento social, Freud (1914-16) destaca no Volume XIV, no Capítulo “A história do movimento psicanalítico, aonde trata sobre metapsicologia e outros trabalhos”, Fluctuat nec mergitur (no brasão da cidade de Paris), que: (...) existe uma estreita ligação entre a interpretação psicanalítica (...) e a arte (...) segundo a prática (...) característica essencial (...) que a distorção (...) é conseqüência de um conflito interno, uma espécie de desonestidade interna e que o termo “complexo”, (...) naturalizado (...) pela linguagem psicanalítica; é um termo conveniente e muitas vezes indispensável para resumir um estado psicológico de maneira descritiva. Nesta questão de compreender a descrição do estado psicológico e a linguagem na psicanálise, Freud (1974) afirmou que a fala poderia ser entendida como expressão do pensamento por palavras, incluindo a linguagem da escrita, expressando a atividade mental. Lacan (1966, 1975, 1986, 1994, 2001) afirma uma fase de repressão decisiva na vida de uma criança, por exemplo, que gera sucessões de sintomas repressores, aonde o inconsciente é formado por conteúdos reprimidos, podendo simbolizar o real como uma linguagem estruturada em combinações de palavras, sistema de signos, como as formações das palavras que aparecem nas combinações do alfabeto. Dessa forma, a psicanálise afirma que uma vez que o conteúdo do inconsciente retorna ao consciente de forma disfarçada, pode, inclusive, funcionar como uma rede de significantes (palavras e fonemas), articulados entre si por mecanismos próprios, aonde o recalque é um significante que pode ser expresso por um sintoma neurótico e que castração e a linguagem são fenômenos sociais, podendo o inconsciente ser articulado com base na linguagem, transcendendo o ser individual que gera o saber. Freud (1976), Lacan (1985, 1988, 2003), Dor (1992), Coutinho (2002), Lemaire (1989), Saussure (1997), Arrivé (1999), Carvalho (2006) e Jakobson (1995), apresentam a palavra envolvendo a imagem sonora, a imagem visual da letra, a imagem motora da fala e a imagem motora da escrita ligadas a um objeto num complexo, diversificado, aberto e ampliado contexto, aonde o inconsciente fala mais dialeticamente, representando suas mudanças de expressão envolvendo impulsos psíquicos com suas maneiras distintas de se verificar as suas formações. Nas formações inconscientes, opera uma lógica nos significantes em relação de exterioridade com o sujeito do inconsciente, dividido entre letra e imagem, que se manifesta na linguagem, condensando e deslocando quaisl metáforas e metonímias. Freud (1910) destaca no volume XI, no capítulo Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos, aonde trata da significação antiética das palavras primitivas que “a linguagem serve não só para expressar os próprios pensamentos, mas, essencialmente, para comunicá-los a outrem”, como ocorre na “linguagem escrita, com o auxílio dos chamados sinais alfabéticos, aonde afirma: (...) a relatividade essencial de todo conhecimento, pensamento ou consciência, não se pode mostrar a não ser na linguagem. Se tudo que podemos conhecer é visto como transição de alguma outra coisa, toda experiência deve ter dois lados; e, ou cada nome deve ter uma significação dupla, ou,então, para cada significação deve haver dois nomes. Portanto, se percebe que existe uma possibilidade de que a internalização construtiva simbólica, perceptiva de uma convenção social sígnica seja “um lado da mesma moeda” que o que emerge do inconsciente para o consciente, nessa transição significativa dupla envolvendo a fala, individual e social. Freud, ainda afirma no mesmo capítulo que existe um trabalho envolvendo uma prática a ser descoberta na expressão de pensamentos aonde o melhor entendimento envolve uma tradução que carece do saber sobre o desenvolvimento da linguagem. Freud (1913) destaca no Volume III, no Capítulo “Totem e tabu e outros trabalhos” aonde trata do interesse científico da psicanálise para as ciências não psicológicas, aonde aborda o interesse filológico da psicanálise, justamente na relação social (sistema de expressão) e individual destacada acima sobre a fala, aonde diz que: (...) a expressão ‘fala’ deve ser entendida não apenas como significando a expressão do pensamento por palavras, mas incluindo a linguagem dos gestos e todos os outros métodos; por exemplo a escrita, através dos quais a atividade mental pode ser expressa. Assim sendo, pode-se salientar que as interpretações feitas por psicanalistas são, antes de tudo, traduções de um método estranho de expressão para outro que nos é familiar. Quando interpretamos (...) estamos apenas traduzindo um determinado conteúdo de pensamento (os pensamentos (...) latentes (...) para a nossa fala (...). À medida que fazemos isso, aprendemos as peculiaridades dessa linguagem (...) parte de um sistema (...) de expressão. Freud, ainda afirma que existe uma grande relação entre a linguagem, os símbolos e a tradução do conteúdo, havendo semelhanças, como partícipes de uma evolução lingüística associada a uma construção conceitual, aonde os meios de representação como as imagens visuais e palavras, envolvem esse sistema de escrita e uma linguagem, cuja interpretação é um deciframento, aonde há, também, certos elementos que não se destinam a ser interpretados (ou lidos, segundo for o caso), mas têm por intenção servir de ‘determinativos’, ou seja, estabelecer o significado de algum outro elemento. Nesse caso, a linguagem pode ser encarada como o método pelo qual a atividade mental inconsciente se expressa, aonde o inconsciente fala, podendo envolver diferentes condições psicológicas que orientam e distinguem as diversas formas de neurose, cujas modificações regulares se relacionam aos impulsos mentais inconscientes que se expressam na linguagem de gestos, na linguagem de pensamentos e até mesmo nas peculiaridades idiomáticas sociais, que envolve a capacidade de se compreender e inter-relacionar pessoas num ambiente globalizado. Dessa forma, os processos inconscientes que estruturam e articulam a própria manifestação do significante, que independem do significado como redes relacionais de noções de signos, acabam valorizando e dividindo a linguagem como algo simbólico. Esse processo também envolve a linguagem do inconsciente relacionando-se com a linguagem consciente, aonde a expressão dessa linguagem com a ação do significante e do significado operam nas ideias como um tipo de escrita que se expressa numa linguagem falada exteriormente caracterizada como a língua do paciente que fala. Freud (1915-16) destaca no Volume XV, no Capítulo “Conferências introdutórias sobre psicanálise (Partes I e II)” aonde trata dos simbolismos dos sonhos, que existem outras indicações de que a relação simbólica pode ultrapassar os limites da linguagem, como exemplificou na fantasia de um paciente psicótico cuja imaginação resultou numa ‘linguagem básica’, cujas relações Freud considerou como “resíduos”. Seria o mercado, um sistema de resíduos, depósito das necessidades sexuais que desempenharam o papel principal na origem e no desenvolvimento da linguagem, conforme Freud pontuou o filólogo, Hans Sperber [1912], de Uppsala?Segundo esse autor, conforme citado por Freud, os sons originais da linguagem se destinavam à comunicação e atraíam o parceiro sexual; a evolução ulterior das raízes lingüísticas deveriam acompanhar as atividades laborativas do homem primitivo. Freud escreve ainda sobre este autor, que este afirma que as atividades, são executadas em comum e acompanhadas por expressões ritmicamente repetidas, fato aonde se pressupõe que há uma censura não facilmente inteligível, aonde teríamos de nos defrontar com a tarefa de traduzir a linguagem simbólica visando um pensamento desperto, cujo simbolismo é um segundo e independente fator de deformação. Freud afirma: (...), ao lado da censura (...). É plausível supor, porém, que a censura (...) julgue conveniente fazer uso do simbolismo, porque isso conduz ao mesmo fim: o caráter estranho e incompreensível (...) das pessoas, que vivem iludidas, vivendo o que consideram realidade, como uma espécie de “sonho acordado” ou torpor existencial. A fala é o discurso ouvido pelo analista, que traz em sua comunicação uma mensagem invertida oculta ao emissor pelo receptor, como uma propriedade subjetiva respondente, pois o sujeito que fala, possui um cabedal de conhecimentos e um desejo de respostas, ainda que cale, diante do contexto social apresentado. Então, podemos supor, numa analogia teórica, que a distorção social ou residual inicialmente individual, seria ocasionada por uma distorção, como consequência de um conflito complexo? Nesse caso, a implicação da pulsão no sintoma se apresenta ou como defesa contra o desejo recalcado, que precisa ser descarregado ou como uma combinação entre o desejo e o que deve ser descarregado, como o que ocorre nos sonhos. Freud (1900-1901) destaca no Volume V, no Capítulo “A interpretação dos sonhos (Segunda parte) e Sobre os sonhos aonde trata sobre a psicologia dos processos oníricos, que existem pensamentos que se revestem da linguagem sóbria e outros, simbolicamente representados por meio de símiles e metáforas, em imagens semelhantes às do discurso poético, aonde Freud afirma que: (..) os meios de expressão (...) podem ser (...) escassos em comparação com (...) linguagem intelectual; ainda assim, (...) toda uma série de fenômenos da vida cotidiana das pessoas sadias — como o esquecimento, os lapsos de linguagem, os atos falhos e uma certa classe de erros — deve sua origem a um mecanismo psíquico (...). O âmago do problema está no deslocamento(...). Daí, decorre que se diferencia a mensagem, o sentido e o gozo do sintoma, uma vez que a interpretação estruturada como linguagem do sintoma pode ser acompanhada de atos falhos, sonhos e outras reações, cujo registro simbólico pode ser decifrado; dando-nos a noção de que o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito é o sintoma, como material linguístico da análise aonde opera o efeito inconsciente que dá suporte, relaciona e sustenta a língua, base do que ocorre nas relações sociais que carecem do diálogo, aonde fazem uso das línguas. Freud (1915-16) destaca no Volume XV, no Capítulo “Conferências introdutórias sobre psicanálise (Partes I e II) que a imaginação ‘criativa’ é incapaz de inventar qualquer coisa; podendo apenas combinar entre si componentes que são estranhos, cujo material disponível consiste de pensamentos que podem ser censurados ou inaceitáveis, porém são corretamente construídos e expressos. Seria este conflito cotidiano a capacidade de criar, mesmo possuindo uma imaginação criativa, no sentido de que a elaboração desses pensamentos constitui fato singular e incompreensível, carente de uma tradução (transmitindo essa mensagem, digamos assim, através de um outro texto da linguagem), carecendo de métodos de mistura e combinação no contexto social? Assim como uma tradução se esforça por preservar as diferenças constantes do texto original e especialmente por manter separadas as coisas que são apenas semelhantes, estaria vinculada à representação social a ideia de um ‘não’ — ou, de qualquer modo, uma representação isenta de ambiguidade, oportunizando os estranhos comportamentos sociais, carentes de uma evolução da linguagem social? Freud afirma que nos idiomas mais antigos, os contrários eram expressos pelas mesmas raízes verbais e que havia os correspondentes na evolução da linguagem e que a ordem dos sons numa palavra poderia ser invertida, ao mesmo tempo conservando a mesma significação. Será que a partir das comparações, as conexões que se revelaram entre os estudos psicanalíticos e outros campos do conhecimento — especialmente os referentes à evolução da linguagem e do pensamento poderão formar uma idéia da transcendente importância destas descobertas envolvendo o mecanismo da construção inconsciente e o modelo social, do qual se formam os sintomas neuróticos, principalmente no que concerne aos instintos de vida e morte? Dessa forma, no forjamento das palavras, ou expressão da “fala”, num sentido mais amplo, a expressão do pensamento inclui a linguagem dos gestos e todos os outros métodos, como a escrita, através dos quais a atividade mental (inconsciente+pré-consciente+consciente) que pode ser expressa como um simbolismo ‘inato’ que deriva do mesmo desenvolvimento presente entre todos os povos de diferentes culturas. Freud (1925-26) destaca no Volume XVIII, no Capítulo “Além do princípio de prazer (1920), psicologia de grupo e outros trabalhos”, um discurso que parece formatar esta questão, quando afirma: (...) não precisamos sentir-nos grandemente perturbados em ajuizar nossas especulações sobre os instintos de vida e de morte pelo fato de tantos processos desnorteantes e obscuros nelas ocorrerem, tal como um instinto ser expulso por outro, ou um instinto voltar-se do ego para um objeto, e assim por diante. Isso se deve simplesmente ao fato de sermos obrigados a trabalhar com termos científicos, isto é, com a linguagem figurativa, peculiar à psicologia (ou, mais precisamente, à psicologia profunda). É verdade que a linguagem figurativa há muito tempo é usada por ser mais simples; contudo pode-se inquirir qual a necessidade de se relacionar o inconsciente com a questão social. Freud (1910) destaca no Volume XI, no Capítulo “Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos”, envolvendo a lembrança da infância, o que pode ser considerada como resposta a esta questão, quando afirma que: (...) quando se chega ao clímax de uma descoberta, pode-se vislumbrar uma vasta porção de todo o conjunto, como quem se deixa dominar pela emoção e, em linguagem exaltada, louva o esplendor da parte da natureza que estudara ou, em sentido religioso, a grandeza do seu Criador., dessa forma o que alguém crê lembrar (...) não pode ser considerado com indiferença; como regra geral, os restos de recordações — que ele próprio não compreende — encobrem valiosos testemunhos dos traços mais importantes de seu desenvolvimento mental. Freud ainda afirma que as técnicas da psicanálise envolvem excelentes métodos que ajudam a trazer para a superfície os elementos ocultos, aonde se pode tentar preencher a lacuna que existe na história da vida (...) analisando a sua fantasia infantil. Dessa forma surge outra questão a ser inquirida, que é o conceito de infância na questão social dentro de uma explicação psicanalítica; Freud afirma que traduzir a linguagem da fantasia em palavras mais facilmente compreensíveis revelará então um conteúdo erótico, aonde a linguagem, os costumes e as superstições da humanidade de hoje contêm ainda remanescentes de todas as fases de um processo de desenvolvimento. Dessa forma, se o sistema mercadológico é uma internalização construtiva simbólica, perceptiva a uma convenção social sígnica, também emergindo do inconscientepara o consciente, a questão do entendimento sobre a linguagem do inconsciente se torna algo fundamental na procura do entendimento das questões sociais. Freud (1913-14) destaca no Volume XIII, no Capítulo “Totem e tabu e outros”, envolvendo a parte 1, sobre a questão do interesse psicológico da psicanálise, que há muitos fenômenos envolvendo os movimentos faciais — e outros movimentos expressivos — com a fala, bem como com muitos processos intelectuais (tanto em pessoas normais, como nas doentes), que até o momento escaparam à atenção da psicologia por terem sido considerados simples resultados de distúrbios orgânicos ou de uma falha no funcionamento do aparelho mental, mas que de alguma forma estão inseridos nas relações sociais, pois envolvem pessoas, indivíduos e o todo. Outra questão que surge é entender a relação entre o erótico e o social desde o processo individual ao processo coletivo como forma de entender até que ponto a visão psicanalítica pode estar embasada para ter o direito de adentrar no aspecto social. Freud (1913-14) destaca no Volume XIII, no Capítulo “Totem e tabu e outros”, envolvendo a parte 1, sobre a questão do interesse psicológico da psicanálise, que há muitos fenômenos envolvendo as relações dos movimentos faciais — e outros movimentos expressivos - com a fala, bem como com muitos processos intelectuais (tanto em pessoas normais, como nas doentes), que até o momento escaparam à atenção da psicologia por terem sido considerados simples resultados de distúrbios orgânicos ou de uma falha no funcionamento do aparelho mental. O aspecto erótico sexual pode envolver as ‘parapraxias’ (lapsos de linguagem ou da escrita, esquecimentos etc.), às ações casuais e aos sonhos das pessoas normais assim como às crises convulsivas, delírios, visões e idéias ou atos obsessivos dos pacientes neuróticos como esquecimento de palavras e nomes que normalmente familiares; esquecimento de ações a fazer; incursão em lapsos de linguagem e escrita; erros de leitura, colocação de coisas em lugares errados e incapacidade de encontrá-las; perda de objetos; enganos em assuntos conhecidos e certos gestos e movimentos habituais. A base do entendimento que envolve o caráter erótico com inclusão da psicanálise no social decorre do discurso de Freud que atentou: A intenção de evitar o desprazer não é a única que pode encontrar (...) escoadouro nas parapraxias. Em muitos casos a análise revela outros propósitos que foram reprimidos numa situação específica e que só se podem fazer sentir, por assim dizer, como perturbações secundárias. Assim, um lapso de linguagem freqüentemente servirá para trair as opiniões que a pessoa que fala deseja ocultar de seu interlocutor. Os lapsos de linguagem foram entendidos nesse sentido por vários grandes escritores e com esse intuito empregados em suas obras. A perda de objetos preciosos com freqüência mostra ser um ato de sacrifício destinado a impedir algum mal esperado; muitas outras superstições também sobrevivem sob a forma de parapraxias em pessoas instruídas. A colocação de objetos em lugares errados via de regra significa a intenção de livrar-se deles; os estragos que uma pessoa causa aos seus próprios objetos (ostensivamente por acidentes) podem ter o sentido de tornar necessário a aquisição de algo melhor — e assim por diante. Não obstante, a despeito da aparente trivialidade destes fenômenos, a explicação psicanalítica das parapraxias implica algumas ligeiras modificações em nossa visão do mundo. Nessa visão freudiana de mundo, a busca do prazer e evitação do desprazer envolvem a possibilidade volutiva de repressão, atrair a atenção, impedimento e desejo de afastar o mal ou querer algo melhor, o que pode ser vislumbrado tanto no âmbito do erótico como no social, uma vez que as visões de mundo das pessoas estão relacionadas ao modo de como elas vivem sua relação consigo mesmas. Freud ainda afirma que não gostaria de abandonar o tema do simbolismo (...) envolvendo resistência uma vez que o simbolismo nos mitos, na religião, na arte e na linguagem possui uma conexão com a sexualidade. Freud (1901-1905) destaca no Volume VII, no Capítulo “Um caso de histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos” envolvendo as notas preliminares aonde aborda sobre o quadro clínico de pacientes, que sofriam sobre a longa trama de relações tecida entre um sintoma da doença e uma idéia patogênica: (...) aprender a traduzir a linguagem (...) em formas de expressão (...) própria (...) do pensamento, compreensíveis sem maior auxílio (...) é imprescindível para o psicanalista, pois (...) aceder à consciência o material psíquico (...) em virtude da oposição criada por seu conteúdo (...) bloqueado da consciência, recalcado, (...) patogênico (...) é (..) um dos principais recursos do (...) modo (...) de representação no psíquico. Freud afirma que, na esfera da vida sexual, as alusões claras oferecem pouco risco em traduzir para a linguagem direta e que a resposta que envolve o conhecimento envolve o enigma das lembranças não resolvidas, esquecidas as fontes de todos esses conhecimentos. Freud (1907(1906)) destaca no Volume IX (1906-1908), no Capítulo “Delírios de Sonhos na Gradiva de Jensen”, que o encanto da linguagem e a engenhosidade das idéias envolvem tanto a recompensa provisória da confiança depositada na simpatia injustificada e dispostamente concedida à figura de um “herói”, quanto à visão criada de “espíritos atormentadores”. Estes, são representações mentais que se fundem numa unidade envolvendo uma recordação imaginativa que está inserida na linguagem interpelada tanto pelo querer adorar algo quanto inclui o descontentamento envolvendo um resultado não esperado oriundo de circunstâncias externas, contendo uma origem interna, aonde a pessoa se sente insatisfeita porque lhe falta algo, embora muitas vezes não possa informar com precisa o que pode ser. Freud trata do ensino desta concepção fria e arqueológica do mundo, fazendo propositadamente, uso de uma linguagem filológica e morta, que em nada contribui para uma compreensão requerida, ensejando que a premissa de se atingir o desejo deve envolver a permanência solitária, única do ser vivente de refletir sobre o passado, e ver, mas não com os olhos do corpo, e ouvir, mas não com os ouvidos físicos. Assim, na visão de mundo, existe uma linguagem inapropriada que deseja interpelar a verdadeira linguagem do ser dentro de um conflito ideológico e social, culminando com um duplo aspecto de vida e de morte, alternando a figura do figura de um herói e do espírito atormentador, conforme a situação apresentada pela mídia, por exemplo.. Freud (1917-1919) destaca no Volume XVII (1906-1908), no Capítulo “História de uma neurose infantil – e outros trabalhos”, envolvendo o Estranho, que existe uma indagação sobre o que na verdade se nega que exista, existindo apenas como figura de linguagem e a possibilidade de haver uma informação mais precisa capaz de ser dada; Freud falou a respeito de Otto Rank (1914) o qual aborda esta dupla relação: Otto Rank (1914) (...) penetrou nas ligações que o ‘duplo’ tem com reflexos em espelhos, com sombras, (...) com a crença na alma e com o medo da morte; mas lança também um raio de luz sobre a surpreendente evolução da idéia. Originalmente, o ‘duplo’ era uma segurança contra a destruição do ego, uma ‘enérgica negação do poder da morte’, como afirma Rank; e, provavelmente, a alma ‘imortal’ foi o primeiro ‘duplo’ do corpo. Essa invenção do duplicar como defesa contra a extinção tem sua contraparte na linguagem (...), que gosta de representar a castração pela duplicação ou multiplicação de um símbolo genital. O mesmo desejo levou os antigos egípcios a desenvolverem a arte de fazer imagens domorto em materiais duradouros. Tais idéias, no entanto, brotaram do solo do amor-próprio ilimitado, do narcisismo primário que domina a mente da criança e do homem primitivo. Entretanto, quando essa etapa está superada, o ‘duplo’ inverte seu aspecto. Depois de haver sido uma garantia da imortalidade, transforma-se em estranho anunciador da morte. A crença e o medo, relacionadas com a ideia e a visão, envolvendo ego e poder, segurança e destruição, corpo e linguagem, denota a simbolização genital, envolvendo a ideia narcísica na mente, envolvendo o desejo de superação de etapas aonde a inversão de uma garantia social estendida parece estranha porque parece supor a destruição do amor próprio, apesar do desejo da posse do ilimitado. A questão envolvendo o individual e o social está subliminarmente presente na história de ‘O Anel de Polícrates’, descrita por Freud: ... o rei do Egito afasta-se horrorizado do seu anfitrião, Polícrates, porque vê que cada desejo do seu amigo é imediatamente satisfeito, cada cuidado seu prontamente anulado por um amável destino. O anfitrião tornou-se ‘estranho’ para ele. A sua própria explicação, de que também o homem feliz tem que temer a inveja dos deuses, parece-nos obscura; o seu significado está dissimulado em linguagem mitológica. A satisfação do desejo pessoal e a visão do outro parecem estar profundamente enraizadas na relação entre a estruturação psíquica individual e a psicologia social, na qual a psicanálise procura se inserir. Freud (1909) destaca no Volume X, no Capítulo “Duas histórias clínicas (O "Pequeno Hans" e o "Homem dos ratos)”, envolvendo a Introdução às notas sobre um caso de Neurose Obsessiva, que o que se acrescenta à dificuldade de ação humana envolvem as resistências dos pacientes e as formas como elas se expressam, aonde se pode comparar com a questão ora conflitante entre a satisfação do desejo pessoal e a visão do outro, aonde Freud afirma que: (...) é preciso admitir que uma neurose obsessiva não é, em si, algo fácil de compreender — é muito menos fácil do que um caso de histeria. Na realidade, o fato é que esperaríamos achar o contrário. A linguagem de uma neurose obsessiva, ou seja, os meios pelos quais ela expressa seus pensamentos secretos, presume-se ser apenas um dialeto da linguagem da histeria; é, porém, um dialeto no qual teríamos de poder orientar-nos a seu respeito com mais facilidade de vez que se refere com mais proximidade às formas de expressão adotadas pelo nosso pensamento consciente do que a linguagem da histeria. Sobretudo, não implica o salto de um processo mental a uma inervação somática — conversão histérica — que jamais nos pode ser totalmente compreensível. Seria possível destacar que um desejo pessoal poderia se constituir de uma neurose obsessiva e que a visão do outro em um contexto social poderia implicar em uma conversão histérica social? Notemos que a expressão de pensamentos está relacionada com a forma de expressão adotada, aonde caso haja e surja um salto no sentido de interrupção do processo, pode ser uma conversão de fatos não compreensíveis totalmente, como por exemplo, atitudes pessoais ou grupais que envolvem a participação em inserção de outros grupos, sem propósitos definidos. Freud (1900) destaca no Volume IV, no Capítulo “A interpretação dos sonhos (primeira parte)”, envolvendo a literatura científica que trata dos problemas dos sonhos, no item (g) que fala sobre as teorias do sonhar e de sua função: ...a imaginação envolve a destituição do poder da linguagem conceitual, sendo obrigada a retratar o que tem a dizer de forma pictórica e, como não há conceitos que exerçam uma influência atenuante, faz pleno e poderoso uso da forma pictórica. Assim, por mais clara que seja sua linguagem, ela é difusa, desajeitada e canhestra. A clareza de sua linguagem sofre, particularmente, pelo fato de ela se mostrar avessa a representar um objeto por sua imagem própria, preferindo alguma imagem estranha que expresse apenas a imagem específica dos atributos do objeto que ela busca representar. Temos, assim, que o poder da linguagem conceitual que deveria ter uma influência acima do pictórico, num contexto social, a linguagem social é avessa à uma representação do que deveria ser a própria imagem do ser, aonde a busca de uma representatividade de atributos é preferida à uma imagem particularizada do próprio ser, aonde o poder social busca anular o poder individual como uma imagem estranha à própria essência da realidade do ser. Usando a fala de Freud (1900-1901) que destaca no Volume V, no Capítulo “A interpretação dos sonhos (segunda parte)” que na representação por símbolos nos sonhos, há o envolvimento de outros sonhos típicos e uma simbologia específica. Será que, assim como ocorrem nos sonhos, há, na sociedade, diversos símbolos (muitos antigos quanto a própria linguagem e outros que estão sendo continuamente cunhados inclusive em nossos dias), uma diversidade simbólica disfarçada de representações de pensamentos latentes, sendo apenas dependências comerciais, no uso de materiais a serem lidados e no uso de modificações na linguagem, visando apenas lucro? E que repercussão esta realidade tem para a psicanálise e para o próprio ser humano na descoberta de si mesmo? Freud (1900-1901) destaca no Volume V, no Capítulo “A interpretação dos sonhos (segunda parte)” sobre os sonhos, no item (f) – alguns exemplos – cálculos e ditos nos sonhos, sobre o sonho em que as “Ähren”, eram cortadas, e não arrancadas, figurando como espigas de milho, enquanto, condensadas com “Ehren”, representavam um grande número de outros pensamentos latentes. Dessa forma, sonhos e cálculos representando figurações condensadas de pensamentos latentes que são passíveis de corte, mas com o não arrancar, implicando em alguma ligação, podemos usar a simbologia descrita para supormos que poderá haver “pessoas cortadas e não arrancadas do cenário social”, aonde como no curso da evolução linguística, a linguagem tem sob seu comando toda uma gama de palavras que originalmente possuíam um significado pictórico e concreto, mas são hoje empregadas num sentido descolorido e abstrato; da mesma forma a sociedade imprime uma necessidade social usando palavras num significado interior em nome de uma plenitude, inserindo um aparente desenvolvimento, se constituindo num sempre pequeno recuo da individualidade em nome do social. Para Freud, segundo Henzen (1890), os sonhos envolvem trocadilhos e jogos de linguagem com particular freqüência possuindo ambigüidades ou um jogo de palavras, o que da mesma forma acontece na sociedade, aonde parece que a sociedade é o sonho do acordar para a realidade da necessidade de ser individual. Freud (1932 - 1936) destaca no Volume VOLUME XXII (1932-1936) I – nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos, tratando sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos e sobre comunicação preliminar (1893), envolvendo Breuer e Freud, aonde fala sobre as reações pessoais que podem ser inseridas no social: ... o esmaecimento de uma lembrança ou a perda de seu afeto dependem de vários fatores. O mais importante destes é se houve uma reação energética ao fato capaz de provocar um afeto. Pelo termo “reação” compreendemos aqui toda a classe de reflexos voluntários e involuntários — das lágrimas aos atos de vingança — nos quais, como a experiência nos mostra, os afetos são descarregados. Quando essa reação ocorre em grau suficiente, grande parte do afeto desaparece como resultado. O uso da linguagem comprova esse fato de observação cotidiana com expressões como “desabafar pelo pranto” |“sich ausweinen”| e “desabafar através de um acesso de cólera” |“sich austoben”, literalmente “esvair-se em cólera”|.Quando a reação é reprimida, o afeto permanece vinculado à lembrança. Uma ofensa revidada, mesmo que apenas com palavras, é recordada de modo bem diferente de outra que teve que ser aceita. A linguagem também reconhece essa distinção, em suas conseqüências mentais e físicas; de maneira bem característica, ela descreve uma ofensa sofrida em silêncio como “uma mortificação” |“Kränkung”, literalmente, um “fazer adoecer”|. — A reação da pessoa insultada em relação ao trauma só exerce um efeito inteiramente “catártico” se for uma reação adequada — como, por exemplo, a vingança. Mas a linguagem serve de substituta para a ação; com sua ajuda, um afeto pode ser “ab-reagido” quase com a mesma eficácia. Em outros casos, o próprio falar é o reflexo adequado: quando, por exemplo, essa fala corresponde a um lamento ou é a enunciação de um segredo torturante, por exemplo, uma confissão. Quando não há uma reação desse tipo, seja em ações ou palavras, ou, nos casos mais benignos, por meio de lágrimas, qualquer lembrança do fato preserva sua tonalidade afetiva do início. No curso de como a sociedade imprime uma necessidade social usando palavras num significado interior em nome de uma plenitude, aonde há um recuo da individualidade em nome do social, as ambigüidades ou jogos de palavras, envolvem o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos e sobre comunicação preliminar, numa procura de se entender as reações pessoais inseridas no social, tanto o esquecimento, como a perda de afetos. As classes de reflexos voluntários e involuntários - das lágrimas aos atos de vingança, envolvendo experiências aonde os afetos são descarregados, individualmente, refletem na sociedade como ocorre em diferentes graus de suficiência, o uso da linguagem, pela observação cotidiana aonde os afetos permanecem vinculado às lembranças, tanto de ofensas revidadas, quanto às ofensas sofridas em silêncio como “uma mortificação” provocando reações das pessoas insultadas em relação aos traumas sociais. Depois, a linguagem serve de substituta para a ação e os afetos podem ser “ab-reagidos” quase com a mesma eficácia, como o lamento ou enunciação de um segredo torturante, por exemplo, uma confissão, de algo que provoque comoção social, aonde qualquer lembrança do fato preserva a tonalidade afetiva do início; aonde pensamos na possibilidade do “herói passar a ser vilão, morrer e depois ser notório de que houve algum tipo de injustiça, fazendo da massa vilã de sua própria história, aonde há uma ressurreição de algo que só afirma o poder dos formadores do herói através da mídia”, que de alguma forma expressa seu próprio simbolismo elitista. Freud (1937 - 1939) Parte 1 - destaca no Volume VOLUME XXIII – no Capítulo “Moisés e o monoteísmo”, aonde trata do esboço de psicanálise e outros trabalhos, item E, aonde fala das dificuldades, sobre o simbolismo: Não obstante, a pesquisa analítica trouxe-nos alguns resultados que nos dão motivo para reflexão. Temos, em primeiro lugar, a universalidade do simbolismo na linguagem. A representação simbólica de determinado objeto por outro — a mesma coisa aplica-se a ações — é familiar a todos os nossos filhos e lhes vem, por assim dizer, como coisa natural. Ademais, o simbolismo despreza as diferenças de linguagem; investigações provavelmente demonstrariam que ele é ubíquo — o mesmo para todos os povos. Aqui, então, parecemos ter um exemplo seguro de uma herança arcaica a datar do período em que a linguagem se desenvolveu. Mas ainda se poderia tentar outra interpretação. Poder-se-ia dizer que estamos lidando com vinculações de pensamento entre idéias — vinculações que foram estabelecidas durante o desenvolvimento da fala e que têm de ser repetidas agora, toda vez que, num indivíduo, o desenvolvimento da fala tem de ser percorrido. Seria assim um caso de herança de uma disposição instintual, e, mais uma vez, não constituiria contribuição para nosso problema. O trabalho da análise, entretanto, trouxe à luz algo mais que excede em importância o que até agora consideramos. Sobre a possibilidade do “herói passar a ser vilão, morrer e depois ser notório de que houve algum tipo de injustiça, fazendo da massa vilã de sua própria história, aonde há uma ressurreição de algo que só afirma o poder dos formadores do herói através da mídia”, na obra de Freud, acima, sobre Moisés e o monoteísmo”, onde trata do esboço de psicanálise e outros trabalhos, item E, Freud fala das dificuldades, sobre o simbolismo, havendo um motivo para essa reflexão possível. A universalidade do simbolismo na linguagem de determinado objeto por outro, envolvendo a naturalidade das ações despreza as diferenças de linguagem, aonde as vinculações de pensamento entre idéias estabelecidas durante o desenvolvimento da fala são repetidas agora, numa disposição instintual, que não geram nenhuma contribuição para esclarecer a importância do que deve ser considerado, aonde uma pseudo-verdade fabricada é repetida para encobrir o verdadeiro sentido da ausência de sentido no que é gerado socialmente em relação à repressão individual sobre o verdadeiro sentido da vida que gera felicidade e bem- estar, inclusive social. Freud (1913 - 1914) Parte 2 - destaca no Volume VOLUME XIII – no Capítulo “Totem e tabu e outros trabalhos”, aonde trata sobre o tabu e a ambivalência emocional, retrata sobre a questão da consciência envolvendo o processo acima descrito. Se traduzirmos isto da linguagem do tabu para a da psicologia normal, significa algo mais ou menos assim: um súdito, que teme a grande tentação que lhe é apresentada pelo contato com o rei, pode talvez suportar tratar com um alto funcionário do qual não precisa ter tanta inveja e cuja posição poderá até mesmo lhe parecer acessível. Um ministro pode atenuar sua inveja do rei pela reflexão sobre o poder que ele próprio exerce. (...) no dos estímulos que afluem do mundo externo e que as únicas informações dessa função sobre os processos endopsíquicos era recebida a partir de sentimentos de prazer e desprazer. Foi somente após uma linguagem de pensamento abstrato ter sido desenvolvida, ou seja, somente após os resíduos sensoriais das apresentações verbais terem sido ligados aos processos internos, que os últimos pouco a pouco foram se tornando capazes de serem percebidos. (...) Sim, porque o que é a consciência? Segundo as provas da linguagem, ela está relacionada com aquilo de que se está ‘consciente com mais certeza’. Na verdade, em algumas línguas, as palavras para designar ‘consciência’ (no sentido moral, conscience, N. do Trad.) e ‘consciência’ (no sentido de percepção do que se passa em nós ou ao redor de nós, consciousness, N. do Trad.) mal podem ser distinguidas. (...) A consciência (conscience, N. do Trad.) é a percepção interna da rejeição de um deteminado desejo a influir dentro de nós. A universalidade do simbolismo, as vinculações de pensamento entre idéias estabelecidas e a pseudo-verdade fabricada no que é gerado socialmente em relação à repressão individual sobre o verdadeiro sentido da vida envolve a questão da consciência que denota a tradução da linguagem envolvendo a conceituação do que é algo normal, que sustenta o contato e suporta refletir sobre o poder dos estímulos e processos que envolvem sentimentos de prazer e desprazer. Os resíduos sensoriais dessas representações ligadas aos processos internos, quando percebidas, são provas da linguagem relacionada ao que o consciente tem por certeza no sentido de que a percepção passada no ser e ao redor do ser, gera uma percepção interna da rejeição de um deteminado desejo que deseja influir dentro do indivíduo. Na obra de Freud (1886-99) destaca no Volume I – no Capítulo “Publicações pré-Psicanalíticas e esboços inéditos”, no prefácio envolvendo os extratos das notas derodapé à tradução das conferências de terças-feiras de Charcot (1892-94), Freud ilustra o exemplo de que a percepção interna envolve a rejeição de um deteminado desejo que deseja influir dentro do indivíduo. Charcot descrevera casos em que meninos de esmerada educação tinham ataques histéricos acompanhados por explosões de linguagem obscena. Seria casual que os ataques em jovens de cuja boa educação e boas maneiras Charcot fala elogiosamente assumam a forma de delírio furioso e linguagem desaforada? Penso que isso em nada difere do fato conhecido de que os delírios histéricos das monjas se manifestam sob a forma de blasfêmias e imagens eróticas. Charcot estivera dando conselhos técnicos sobre o uso da sugestão: “Os ingleses, que certamente são pessoas práticas, têm na sua linguagem um conselho: ‘Não faça profecias, a menos que você tenha certeza’. Gostaria de me juntar a essa maneira de pensar e os aconselharia a que agissem da mesma forma. Na verdade, se, em caso de indubitável paralisia de origem psíquica, você diz ao paciente, com plena confiança: ‘Levante-se e ande!’, e se ele realmente o faz, você de fato pode atribuir a si mesmo e ao seu diagnóstico o milagre que realizou. Os resíduos sensoriais que envolvem as representações ligadas aos processos internos, envolvendo a percepção interna da rejeição de um deteminado desejo que deseja influir dentro do indivíduo podem ser exemplificados na história dos meninos de esmerada educação que tinham ataques histéricos acompanhados por explosões de linguagem obscena e no caso das monjas blasfemas, aonde tanto a educação secular quanto à religiosa poderem apresentar linguagens delirantes, ainda que os conhecimentos sejam práticos, uma vez que falas imprecisas aliadas a maneiras de pensar paralisantes pela condicional de se afirmar apenas o que se deseja realizar, geram apenas comportamentos condicionados sociais sem liberdade de sentir e se descobrir o que se pode ser ou quem verdadeiramente se é. Na obra de Freud (1932-1936) destaca no Volume XXII – no Capítulo “Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos”, no prefácio envolvendo o Caso 5 – Srta. Elisabeth Von R., Freud afirma sobre a linguagem envolvendo as sensações e o entendimento: Percebe-se que ele é da opinião de que a linguagem é pobre demais para que ele encontre palavras para descrever suas sensações e de que essas sensações são algo único e até então desconhecido do qual seria inteiramente impossível dar uma descrição completa. Por esse motivo, ele jamais se cansa de acrescentar novos detalhes sem cessar e, quando é obrigado a parar, com certeza fica com a convicção de que não conseguiu se fazer entender pelo médico.(...) O que poderia ser mais provável do que a idéia de que a figura de linguagem “engolir alguma coisa”, que empregamos ao falar de um insulto ao qual não foi apresentada nenhuma réplica, originou-se na verdade das sensações inervatórias que surgem na faringe quando deixamos de falar e nos impedimos de reagir ao insulto? Todas essas sensações e inervações pertencem ao campo da “Expressão das Emoções”, que, como nos ensinou Darwin |1872|, consiste em ações que originalmente possuíam um significado e serviam a uma finalidade. Na questão do delírio paralisante condicional envolvendo a limitação do desejo e da liberdade, no Caso 5 – Srta. Elisabeth Von R., nota-se que quando a linguagem é pobre demais para que ele encontre palavras para descrever as sensações e de que essas sensações são algo único e até então desconhecido do qual seria inteiramente impossível dar uma descrição completa existe uma paralisação de convicção diante do não entendido ainda que seja mais provável do que a idéia de não expressar as ações que originalmente possuíam um significado e serviam a uma finalidade, como o que pode ocorrer a nível social diante de uma crise pessoal, aonde a restrição do interior acaba coibindo a ação externalizada. Na obra de Freud (1914-1916) destaca no Volume XIV – no Capítulo “A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos”, no prefácio envolvendo o Inconsciente (1915) – no apêndice C, palavras e coisas, o trecho aborda sobre Freud desejar expressar uma linguagem técnica da psicologia ‘acadêmica’ do fim do século XIX, aonde a sucessão de argumentos anatômicos e fisiológicos destrutivos e construtivos, conduziram Freud a um esquema hipotético a respeito do funcionamento neurológico por ele descrito como o ‘aparelho da fala’. Freud cita que a linguagem é construída por quem fala, aonde associamos diversos sons verbais exteriores a um único som produzido por nós mesmos, conforme esquema abaixo apresentado: Dessa forma, se a construção da linguagem envolve uma associação entre diversos sons verbais exteriores a um único som produzido, seria a construção de uma linguagem social, um mesmo processo? Na obra de Freud (1901-1905) destaca no Volume VII – no Capítulo “Um caso de histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros trabalhos”, no prefácio envolvendo as aberrações sexuais, está escrito: O fato da existência de necessidades sexuais no homem e no animal expressa-se na biologia pelo pressuposto de uma “pulsão sexual”. Segue-se nisso a analogia com a pulsão de nutrição: a fome. Falta à linguagem vulgar [no caso da pulsão sexual] uma designação equivalente à palavra “fome”; a ciência vale-se, para isso, de “libido”. O conceito de sadismo oscila, na linguagem corriqueira, desde uma atitude meramente ativa ou mesmo violenta para com o objeto sexual até uma satisfação exclusivamente condicionada pela sujeição e maus-tratos a ele infligidos. Num sentido estrito, somente este último caso extremo merece o nome de perversão. Neste texto, tomado por analogia, envolvendo a questão da construção da linguagem como associação na construção de uma linguagem social, as necessidades sexuais ou “pulsão sexual” que se relacionam à pulsão de nutrição ou fome, preceituada como libido, fazem oscilar o grau de satisfação condicionado pela sujeição e maus-tratos, podendo ocorrer rejeição ou aceitação do processo como uma forma de perversão, denotando o fato de que a construção social envolve conflitos, da mesma forma que a associação de sons, aonde há uma escolha ativa. Na obra de Freud (1886-99) destaca no Volume I – no Capítulo “Publicações pré-Psicanalíticas e esboços inéditos”, no prefácio envolvendo esquema geral, item 16 sobre cognição e pensamento reprodutivo, envolvendo a catexia neuronal: A linguagem aplicará mais tarde o termo juízo a essa análise e descobrirá a semelhança que de fato existe [por um lado] entre o núcleo do ego e o componente perceptual constante e [por outro] entre as catexias cambiantes no pallium [em [1] e [2]] e a componente inconstante: esta [a linguagem] chamará o neurônio a de a coisa, e o neurônio b, de sua atividade ou atributo — em suma, de seu predicado. Neste texto, tomado por analogia, envolvendo a questão da libido e os conflitos da construção social, a escolha ativa social está assemelhada ao que existe entre o núcleo do ego e o componente perceptual constante e entre as catexias cambiantes e a componente inconstante da linguagem envolvendo as atividades e predicados neuronais aonde componentes constantes e inconstantes têm que de alguma forma se relacionar. Na obra de Freud (1915-1916) destaca no Volume XV – (Partes I e II), no Capítulo “Conferências introdutórias sobre psicanálise”, no prefácio envolvendo Sonhos, Conferência XIII e os Aspectos Arcaicos do Infantilismo dos Sonhos, está escrito: Temos dito que ele retorna a estados de nossa evolução intelectual que há muito foram suplantados: à linguagem por imagens, às conexões simbólicas, a condições que, talvez,existiram antes de se desenvolver nossa linguagem de pensamento. Temos descrito, por essa razão, o modo de expressão da elaboração onírica como arcaico ou regressivo. A questão dos conflitos envolvendo a relação perceptual e a linguagem envolve o fato de que a evolução intelectual envolve a percepção da linguagem por imagens, conexões simbólicas como condições para se desenvolver uma linguagem de pensamento, pelo que o modo do social expressar essa elaboração pode regredir ou fazer progredir a forma de pensar do sujeito inserido na condição social. Na obra de Freud (1915-1916) destaca no Volume XV – (Partes I e II), no Capítulo “Conferências introdutórias sobre psicanálise”, no prefácio envolvendo Parte II - Sonhos, Conferência XV envolvendo incertezas e críticas, está escrito: Do ponto de vista de nossa comparação, é ainda mais interessante verificar que este idioma praticamente não tem gramática. É impossível dizer se uma das palavras monossilábicas é um substantivo, ou um verbo, ou um adjetivo; e não há flexões verbais, pelas quais se possa reconhecer gênero, número, desinência, tempo e modo. Assim, a linguagem consta, poderia dizer-se, apenas de matéria-prima, assim como nossa linguagem- pensamento fica reduzida, através da elaboração onírica, à sua matéria- prima, e se omite qualquer expressão de relação. Na proposição de que o modo do social expressar essa elaboração está inserido na forma de pensar do sujeito, a analogia do pensar e do socializar está relacionado ao idioma e sua gramática. Sem a matéria-prima do pensamento, qualquer expressão de relação social se torna “monossilábica”, “insubstantivada”, sem ação, sem sentido, sem reflexões que reconheçam gênero, número, desinência, tempo e modo, ficando reduzida a uma omissão social por esvaziamento do ser. Na obra de Freud (1900) destaca no Volume IV – (Partes I e II), no Capítulo “A interpretação dos sonhos (Primeira parte)”, no prefácio envolvendo Parte II - Sonhos, Conferência XV envolvendo o sonho é uma realização do desejo, está escrito: É fácil provar que os sonhos muitas vezes se revelam, sem qualquer disfarce, como realizações de desejos, de modo que talvez pareça surpreendente que a linguagem dos sonhos não tenha sido compreendida há muito tempo. (...) Como se vê, poderíamos ter chegado mais depressa a nossa teoria do sentido oculto dos sonhos simplesmente observando o uso lingüístico. É verdade que a linguagem comum às vezes se refere aos sonhos com desprezo. Tal qual a análise de um sonho, a expressão de relação social tem ação e sentido quando reflete a realização do desejo de compreender o sentido oculto do uso linguístico, da simplicidade que torna comum algo expressivo, aonde Freud parece explicar o modo de como tornar alço comum, de forma expressiva: O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre o mesmo e a realidade. A linguagem preservou essa relação entre o brincar infantil e a criação poética. A irrealidade do mundo imaginativo do escritor tem, porém, conseqüências importantes para a técnica de sua arte (...). Nossos sonhos noturnos nada mais são do que fantasias dessa espécie, como podemos demonstrar pela interpretação de sonhos. A linguagem, com sua inigualável sabedoria, há muito lançou luz sobre a natureza básica dos sonhos, denominando de ‘devaneios’ as etéreas criações da fantasia. Se, apesar desse indício, geralmente permanece obscuro o significado de nossos sonhos, isto é por causa da circunstância de que à noite também surgem em nós desejos de que nos envergonhamos; têm de ser ocultos de nós mesmos, e foram conseqüentemente reprimidos, empurrados para o inconsciente. A expressão criativa cria uma grande quantidade de emoção, ainda que mantenha uma separação nítida da realidade. A linguagem preserva a relação entre a irrealidade do mundo imaginativo e a sabedoria, lançando luz sobre a natureza básica da causa da circunstância do que surge de forma reprimida, empurrada para o inconsciente. Se há um inconsciente pessoal, o que dizer do inconsciente social? Na obra de Freud (1932-1936) destaca no Volume XXII, no Capítulo “Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos”, na conferência XXXII sobre ansiedade e vida instintual, está escrito: Primeiro, devo admitir que tentei traduzir para a linguagem de nosso pensar normal aquilo que de fato deve ser um processo que não é consciente, nem pré-consciente, realizando-se entre quantidades de energia em algum substrato inimaginável. Esta, porém, não é uma objeção sólida, pois não se pode expressar essas coisas de outra maneira. (...) Se não se está cônscio dessas conexões profundas, é impossível orientar-se nas fantasias dos seres humanos, nas suas associações, que são tão influenciadas pelo inconsciente, e na sua linguagem sintomática. Fezes — dinheiro — dádiva — bebê — pênis são aí tratados como se significassem a mesma coisa, e representados, também, pelos mesmos símbolos. Envolvendo o assunto da natureza básica do inconsciente social, toda tentativa de traduzir para a linguagem do pensar normal o que não é consciente, parece ser inimaginável; contudo, a expressão profunda das conexões das coisas associadas que influenciam a linguagem sintomática, como dinheiro e poder, simbolizam a representatividade significativa desse inconsciente coletivo. Na obra de Freud (1900) destaca no Volume IV, no Capítulo “O trabalho do sonho”, item (c) sobre os meios de representação nos sonhos, que a descrição do curso da vida que envolve a linguagem visual, tem a ver com o ego cuja representatividade denota tanto inocência quanto pecaminosidade sexual, fatores extremos presentes nas relações sociais. Na obra de Freud (1906-1908) destaca no Volume IX, no Capítulo “Caráter e Erotismo Anal”, está escrito: Mas só alcançaremos esse resultado com a psicanálise se nos ocuparmos do complexo monetário dos pacientes e os induzirmos a trazê-lo à consciência, como todas as suas conexões. Talvez a neurose aqui apenas siga um indício fornecido pela linguagem popular, que qualifica o indivíduo muito apegado ao seu dinheiro de ‘sujo’ ou ‘imundo’. Mas essa explicação seria demasiadamente superficial. Na realidade, onde quer que tenham predominado ou ainda persistam as formas arcaicas do pensamento — nas antigas civilizações, nos mitos, nos contos de fadas e superstições, no pensamento inconsciente, nos sonhos e nas neuroses — o dinheiro é intimamente relacionado com a sujeira. (...) Assim, aqui como em outras ocasiões, a neurose, acompanhando os usos da linguagem, toma as palavras no seu sentido original e significativo; parecendo utilizá-las em seu sentido figurado, está na realidade simplesmente devolvendo a elas seu sentido primitivo. A representatividade significativa desse inconsciente coletivo cuja descrição do curso da vida envolve induções à consciência, se conecta à neurose social nos indícios fornecidos pela linguagem popular, que qualifica o indivíduo muito apegado ao seu dinheiro de ‘sujo’ ou ‘imundo’. Essa real e superficial forma de pensar do pensamento inconsciente social relaciona poder à sujeira; dessa forma os usos da linguagem tomam das palavras o sentido original e significativo de serem utilizadas em seu sentido figurado de denotar poder bradando contra as sujeiras oriundas dos desvios financeiros e discriminações econômico-sociais. Na obra de Freud (1925-1926) destaca no Volume XVIII, no Capítulo “Além do princípio de prazer psicologia de grupo e outros trabalhos”, envolvendo os sonhos e telepatias, Freud afirma que interpretar não é difícil de compreender, carecendo de
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