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Aula 3 - APRESENTAÇÃO

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HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
O Direito na Colônia: da Decadência do Sistema à Independência do Brasil
O Direito na Colônia: da Decadência do Sistema à Independência do Brasil
Entre 1694 e 1698, o Brasil começa a viver nova fase econômica, marcada pela descoberta do ouro nas Minas Gerais. Fazia-se necessária uma legislação que atendesse às exigências do novo cenário econômico. 
Em 19 de Abril de 1702 foi publicado o Regimento do Superintendente, Guardas-Mores e Oficiais para as Minas de Ouro, estabelecendo a autoridade real na administração da atividade mineradora. Daí em diante a legislação visava garantir a exploração do ouro e o envio desse ouro para Portugal. 
Ao passo que a produção de ouro aumentava significativamente, houve um interesse cada vez maior do governo português em controlar essa atividade, daí a necessidade de criar uma legislação especifica para esse setor. Dentre outros, pode-se citar o Código Mineiro de 1603 e 1618 e o Regimento de 1702.
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O Código Mineiro estabelecia que todos poderiam extrair livremente o ouro, desde que reservassem para a Fazenda Real um quinto (20%) de tudo o que fosse capturado. Esse tributo já era cobrado, anteriormente, sobre tudo o que era produzido na colônia. Essa taxação altíssima era chamada de “o quinto”;
Para controlar melhor a cobranças de tais tributos, são criadas as Casas de Fundição, que era para onde todo o ouro extraído devia ser levado para que fosse purificado, deduzidos o quinto e transformado em barras. Nessas barras eram colocadas um cunho identificando-as como ouro quintado, ou seja já deduzido o imposto do quinto. Era também expedido um certificado que deveria acompanhá-la daí em diante.
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O Regimento de 1702 pode ser considerado o mais importante porque alterou os códigos anteriores e traçou linhas básicas do sistema que durou até o fim do período colonial. Foi por esse regimento que a metrópole criou na região das minas uma administração subordinada diretamente à Coroa Portuguesa, sem ligação alguma com o Governo Geral da Colônia.
O Regimento de 1702 substituiu o Provedor, criado pelo Código Mineiro, por um Superintendente. Ele seria uma pessoa com conhecimento em legislação para defender os interesses da Metrópole, ele só precisava ser eficiente na cobrança do quinto, sem necessidade de conhecer nada de mineração.
 
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O regimento criou a Intendência das Minas, que era um governo especial para as zonas auríferas, vinculada somente à Lisboa.
As atribuições dessa Intendência eram amplas:
- policiamento da mineração;
- fiscalização e direção das explorações;
- cobrança de impostos; e
- tribunal de primeira e última instância (nas questões referentes às suas atribuições).
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Em 1735, Portugal cria um sistema mais eficiente: a “Taxa de Capitação dos Escravos e do Censo das Indústrias”, que cobrava 17 gramas de ouro do minerador por cada escravo que possuísse, além de cobrar a mesma taxa também de pessoas livres que mineravam.
Por volta de 1751, a Coroa Portuguesa voltou atrás, aboliu o sistema de 1735 e implantou o sistema de quotas anuais, onde o pagamento mínimo do quinto seria de 100 arrobas de ouro por ano. Como 1 arroba equivale a, mais ou menos, 15kg o que deveria ser pago ficava em torno de 1500kg de ouro/ano.
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Como nesse sistema de 1751 o valor mínimo era muito alto, ele dificilmente era cumprido. E como os valores não pagos eram cumulativos, foi necessário intensificar a cobrança confiscando-se bens e objetos de ouro. Essa prática de cobranças extorsivas e excessivas de valores para atingir a meta estipulada pela Coroa, era chamada de derrama. A derrama, em 1789, motivou e deu origem a chama Conjuração (ou Inconfidência) Mineira.
Entre os objetivos estabelecidos pelos conjuras estavam a criação de um regime republicano, tendo a Constituição dos Estados Unidos como modelo, o apoio a industrialização e a adoção de uma nova bandeira, tendo ao centro um triângulo com os dizeres: Libertas quae sera tamen, quem em latim, significa "Liberdade ainda que tardia".
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O líder da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, foi condenado pelo crime de lesa-majestade, conforme previsto no Livro V das Ordenações Filipinas. (Ver sentença que condenou Tiradentes)
 Na Bahia a partir de 1798, circulam panfletos dirigidos à população, conclamando a todos a uma revolução e a proclamação da República Baiense. Os panfletos defendiam a igualdade social, a liberdade de comércio, o trabalho livre, extinção de todos os privilégios sociais e preconceito de cor. Este movimento apresenta um forte caráter social popular, sendo por isto também conhecido como a "Conjuração dos alfaiates“ ou “Inconfidência Baiana”.
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No início do século XIX, a Europa estava agitada pelas guerras. Inglaterra e França disputavam a liderança no continente europeu.
Em 1806, Napoleão Bonaparte, imperador da França, decretou o Bloqueio Continental, proibindo que qualquer país aliado ou ocupado pelas forças francesas comercializasse com a Inglaterra. O objetivo do bloqueio era arruinar a economia inglesa. Quem não obedecesse, seria invadido pelo exército francês.
Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe D. João, que não podia cumprir as ordens de Napoleão e aderir ao Bloqueio Continental, pois tinha longa relação comercial com a Inglaterra, por outro lado o governo português temia o exército francês.
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Sem outra alternativa, Portugal aceitou o Bloqueio, mas, continuou comercializando com a Inglaterra. Ao descobrir a trama, Napoleão determinou a invasão de Portugal em novembro de 1807. Sem condições de resistir à invasão francesa, D. João e toda a corte portuguesa fugiram para o Brasil, sob a proteção naval da marinha inglesa. A Inglaterra ofereceu escolta na travessia do Atlântico, mas em troca exigiu a abertura dos portos brasileiros aos navios ingleses.
Seis dias após a chegada D. João cumpriu o seu acordo com os ingleses, abrindo os portos brasileiros às nações amigas(documento denominado de Abertura dos Portos às Nações Amigas), isto é, a Inglaterra. 
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Não demorou muito tempo para que as pressões inglesas cobrassem a conta da transferência da família real para o Brasil e assim, a 19 de fevereiro de 1810, foi firmado com a Grã-Bretanha o Tratado de Aliança e Amizade e a Convenção de Comércio e Navegação que reduzia as tarifas alfandegárias inglesas no Brasil. 
Tal acordo estabelecia tarifas alfandegárias preferenciais para a Inglaterra nos portos brasileiros, passando a pagar tarifas de 15%, enquanto os produtos portugueses pagavam 16% e os de outras nações 24%. 
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Para além do significado de fim da era Colonial, essa abertura dos portos resultou em um grande desenvolvimento do comércio interno e externo brasileiro, a tal ponto das cidades se desenvolverem e a balança comercial brasileira com Portugal que antes era deficitária(e devia ser dentro do pacto colonial) tornar-se extremamente favorável ao Brasil.
Alvará de 1º de abril de 1808 liberava a indústria manufatureira no Brasil.
O tratado e a convenção provocaram o adiamento do processo de industrialização brasileiro porque, apesar da existência do Alvará para Liberdade de Indústrias no Brasil e da Autorização para se estabelecer qualquer gênero de manufaturas, ambos de 1º de abril de 1808. A partir do Tratado e Convenção de 1810, tudoisso se tornou um verdadeiro 1º de abril, já que o produto estrangeiro inglês chegava muito mais barato no Brasil. 
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Era interessante a condição do Brasil depois da transmigração da Família Real portuguesa, não se podia mais afirmar que o Brasil era colônia, mas não tinha havido a preocupação de dizer o que era o país. Com certeza não era independente, mas então como qualificar?
Somente após sete anos nessa condição de “sei lá o quê” jurídico que o governo de D. João decidiu tomar providências e definir a condição jurídica do que apenas era chamado, oficialmente de Sede do Governo. Mas por que tanta demora? Por que não definir de imediato? Por que manter tudo provisório mesmo no primeiro ato que abriu os portos brasileiros?
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A resposta é simples: elevar o Brasil a Reino seria colocá-lo como igual a Portugal, seria dar-lhe um status jurídico que não poderia ser retirado, seria assinar um papel que afirmaria que o Brasil jamais poderia voltar à condição de colônia.
Mas não havia muito como evitar, o Brasil não era colônia desde 1808 e daqui saíam as decisões que interferiam em todos os domínios portugueses, mesmo no território da antiga metrópole. Era necessário tornar essa situação de fato em uma situação de direito. O que faltava era o aval legal da Lei Portuguesa. Isso foi feito pela Carta de Lei de 16 de dezembro de 1815 que elevava o Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves.
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Fatores externos que tendem a enfraquecer as bases do sistema colonial:
Políticos: independência das Colônias Inglesas da América do Norte e Revolução Francesa;
Econômicos: Revolução Industrial e o surgimento de ideia de livre comércio com o paulatino abandono de princípios mercantilistas;
Ideológicos: eclosão dos ideais iluministas.
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Estrutura Judiciária Brasileira no Final do Período Colonial
A Justiça Brasileira, no fim do período colonial, possuía seus magistrados e tribunais próprios, mas com as instâncias recursais derradeiras instaladas em Portugal, estruturando-se da seguinte forma:
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JUSTIÇA BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL
1ªInstância
Juiz de Vintena
Juiz de paz para os lugares com mais de 20 famílias, decidindo verbalmente pequenas causas cíveis, sem direito a apelação ou agravo (nomeado por um ano pela Câmara Municipal)
 
Juiz Ordinário
Eleito na localidade, para as causas comuns.
 
Juiz de Fora
Nomeado pelo rei, para garantir a aplicação das leis gerais (substituía o ouvidor da comarca).
2ªInstância
Relação da Bahia
Fundada em 1609, como tribunal de apelação (de 1609 a 1758, teve 168 desembargadores)
 
Relação do Rio de Janeiro
Fundada em 1751, como tribunal de apelação
3ªInstância
Casa da Suplicação
Tribunal supremo de uniformização da interpretação do direito português, em Lisboa.
 
Desembargo do Paço
Originariamente fazia parte da Casa da Suplicação, para despachar as matérias reservadas ao rei, tornou-se corte autônoma em 1521, como tribunal de graça para clemência nos casos de penas de morte e outras.
 
Mesa da Consciência e Ordens
Para as questões relativas às ordens religiosas e de consciência do rei (instância única).
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Com a vinda da família real ao Brasil em 1808, a Relação do Rio de Janeiro foi transformada em Casa da Suplicação para todo o Reino, com 23 desembargadores (Alvará de 10 de maio de 1808), criando-se, então, as Relações do Maranhão, em 1812, e de Pernambuco, em 1821.
Como órgãos superiores das jurisdições especializadas, foram instituídos nessa época:
Conselho Supremo Militar (Alvará de 1 de abril de 1808);
Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens (Alvará de 22 de abril de 1808);
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Juiz Conservador da Nação Britânica (Decreto de 4 de maio de 1808), como garantia de foro privilegiado para os súditos ingleses, sendo exercido por um juiz brasileiro, mas eleito pelos ingleses residentes no Brasil e aprovado pelo embaixador britânico (foi mantido após a independência brasileira, como parte do tratado de reconhecimento da independência pela Inglaterra, sendo extinto pela Lei de 7 de dezembro de 1831);
Intendente Geral de Polícia (Alvará de 10 de maio de 1808), com jurisdição sobre os juízes criminais, que recorriam para ele, podendo prender e soltar presos para investigação;
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O século XVIII, no Império Português, foi marcado por três reinados:
o de D. João V – de 1707 a 1750.
o de D. José I – de 1750 a 1777.
o de Dª Maria I – de 1777 a 1816.
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O reinado de D. José I se confunde com a atuação de seu ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.
Durante o reinado de D. José I, a Coroa Portuguesa buscou a realização de algumas reformas econômicas, administrativas e jurídicas que permitissem a adaptação do império colonial à nova realidade que se impunha, na segunda metade do século XVIII, às monarquias européias nos campos político, econômico e social.
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A administração do Marquês de Pombal buscou tornar a administração portuguesa mais eficiente e procurou introduzir modificações no relacionamento entre a Metrópole e a Colônia.
Buscou-se também coibir o contrabando do ouro e diamantes e melhorar a arrecadação tributária – ao mesmo tempo, a administração pombalina procurou tornar a Metrópole menos dependente das importações de produtos industrializados, incentivando a instalação de manufaturas em Portugal e no Brasil.
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O programa econômico de Pombal foi parcialmente frustrado pela depressão de alguns dos principais produtos coloniais - a crise do açúcar do início da segunda metade do século XVIII e a queda da produção de ouro a partir de 1760, juntamente com o crescimento das despesas do governo (reconstrução de Lisboa destruída por um terremoto em 1755 e as guerras contra a Espanha pelo controle da região que se estende de S.Paulo ao Rio da Prata).
Do ponto de vista da organização judicial na Colônia, em 1751 foi criado o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, formado por dez desembargadores e presidido pelo Governador da Capitania do Rio de Janeiro e em 1765 foram criadas as Juntas de Justiça, onde quer que existissem ouvidores de capitania.
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As leis pátrias, oriundas do rei-legislador, ganharam importância com a Lei da Boa Razão e passaram a ser mais relevantes do que o direito romano, o qual só era utilizado diretamente em situações excepcionais e dentro dos limites traçados em 1769.
Os juristas sentiram dificuldades para aplicar as leis pátrias em primeiro lugar; a pouca importância conferida a essas leis até 1769 era referendada por uma formação universitária de cunho romanista e canônica. Três anos depois da Lei da Boa Razão, contudo, promulgaram-se os Estatutos da Universidade de Coimbra, reformados justamente com a intenção de preparar os juristas para essa nova realidade do Direito Português.
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Do ponto de vista da legislação, a promulgação da “lei da boa razão” em 1769, visava submeter todas as leis e costumes vigentes em Portugal e nas colônias ao crivo da “boa razão” (interpretação dos juristas leais ao regime);
A reforma dos Estatutos da Universidade de Coimbra em 1772 e a constituição de uma Junta do Novo Código, prenunciavam,para Portugal, o fim da tradição jurídica do Antigo Regime e o advento da “era das codificações” sob a égide da nacionalização e da “razão natural” moderna.
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OBS: Direito natural: É aquele que se compõe de princípios inerentes à própria essência humanas. Os princípios que constituem o Direito Natural são entre outros: "o bem deve ser feito", "não lesar a outrem", "dar a cada um o que é seu", "respeitar a personalidade do próximo", "as leis da natureza", etc.

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