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Sociologia Antonio Carlos Banzato A. Santos Rafael Lopes Sousa Revisada por Rafael Lopes Sousa (setembro/2012) APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Sociologia, parte in- tegrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apre- sentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA ..................................................................................................... 7 1.1 O Nascimento da Sociologia .......................................................................................................................................8 1.2 O Contexto do Pensamento Positivista ...................................................................................................................8 1.3 Os Fundamentos do Positivismo ...............................................................................................................................9 1.4 Estratificação da Sociedade Positivista ...................................................................................................................9 1.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................11 1.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................11 2 A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM .................................................................................................. 13 2.1 A Objetividade do Fato Social ..................................................................................................................................14 2.2 A Consciência Coletiva ...............................................................................................................................................14 2.3 A Escola de Frankfurt ...................................................................................................................................................15 2.4 A Indústria Cultural ......................................................................................................................................................15 2.5 Cultura de Massa ...........................................................................................................................................................16 2.6 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................18 2.7 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................18 3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS ............................................................................................................. 19 3.1 Escola Sociológica Europeia .....................................................................................................................................19 3.2 Sociologia Alemã: a Contribuição de Max Weber ............................................................................................21 3.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................22 3.4 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................22 4 A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .................................................. 23 4.1 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................24 4.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................24 5 KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM ................................... 25 5.1 O Método do Pensamento Marxista .....................................................................................................................26 5.2 A Práxis .............................................................................................................................................................................26 5.3 A Mais-Valia .....................................................................................................................................................................27 5.4 Modos de Produção ....................................................................................................................................................28 5.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................30 5.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................30 6 CONCEITOS DE SOCIOLOGIA ...................................................................................................... 31 6.1 Estrutura Social ..............................................................................................................................................................31 6.2 Status e Papéis ...............................................................................................................................................................32 6.3 Relações Sociais.............................................................................................................................................................32 6.4 Grupos ..............................................................................................................................................................................33 6.5 Fenômenos Sociais ......................................................................................................................................................34 6.6 Relações Sociais.............................................................................................................................................................35 6.7 Fim ou Objetivos da Sociologia ..............................................................................................................................35 6.8 Teoria Sociológica Geral .............................................................................................................................................36 6.9 Teorias Sociológicas Especiais .................................................................................................................................386.10 Pesquisas Sociológicas Concretas .......................................................................................................................38 6.11 Leis Sociais ....................................................................................................................................................................39 6.12 Processo Social ............................................................................................................................................................40 6.13 Teoria do Indivíduo Social .......................................................................................................................................41 6.14 Fato Social .....................................................................................................................................................................41 6.15 Ideologia ........................................................................................................................................................................42 6.16 Alienação .......................................................................................................................................................................43 6.17 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................45 6.18 Atividades Propostas ................................................................................................................................................45 7 GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................................................... 47 7.1 Histórico ...........................................................................................................................................................................47 7.2 Globalização e/ou Mundialização ..........................................................................................................................48 7.3 Meio Ambiente ..............................................................................................................................................................50 7.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................52 7.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................52 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 53 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 55 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 57 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Bem-vindo(a) a esta nova modalidade de aprendizado. A Sociologia possui uma quantidade enorme de pensadores. O objetivo geral de nosso estudo é problematizar e confrontar as ideias, conceitos e teorias de alguns importantes pensadores que contri- buíram para a afirmação da Ciência Sociológica. Esperamos, dessa maneira, fornecer a você um panora- ma do pensamento sociológico desde o seu surgimento até os nossos dias. Esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam detalhar o contexto em que surgiu a disciplina Sociologia e o legado que ela deixou para o mundo contemporâneo, repercutida na obra de seus prin- cipais teóricos: Comte, Durkheim, Weber e Marx. Em seguida, analisaremos o desdobramento dos con- ceitos das obras de cada um desses pensadores. A importância, a influência e que tipo de interferência exerceu no modo de ser, pensar e agir do homem contemporâneo. Nesse sentido, a apostila está organizada de forma a promover sempre um debate sobre, e com, os autores, além de mostrar as transformações metodológicas e teóricas que as mesmas sofreram ao longo do tempo. O assunto por ela abordado tem, assim, uma relevante importância para a compressão das re- lações humanas em diferentes momentos históricos. Desde o século XIX, quando o projeto de sociedade burguesa estava sendo engendrado, até o início do século XXI, quando esse projeto foi definitivamente consolidado, nós temos o auxílio teórico dos mais diferentes segmentos da sociologia para pensar rela- ções e o convívio do homem em sociedade. Nesse percurso, as contribuições de Augusto Comte, bus- cando fundamentar a importância da técnica e da ciência nos primórdios do mundo urbano-industrial, foram fundamentais. Em seguida, as análises críticas que Karl Marx faz desse mundo urbano-industrial apontam para uma nova conformação social: a hegemonia burguesa. Max Weber é outro importante autor que procura também estender o alcance das análises sobre o mundo burguês. Introduz, assim, no campo sociológico uma análise inovadora que relaciona o desenvolvimento do capitalismo à religião protestante. Émile Durkheim é outro importante autor que, com suas análises sobre os fenômenos dos fatos sociais, lançou luz também para uma melhor compreensão das relações do homem em sociedade. O estudo aprofundado desses autores subsidiará as nossas investigações sobre os temas mais ur- gentes do mundo contemporâneo, como, por exemplo, o neoliberalismo e suas consequências humanas e econômicas. Será um prazer acompanhá-lo(a) ao longo deste percurso. Esperamos que, ao final dele, você seja um cidadão mais pleno de seus direitos e mais consciente de seus deveres, só assim construiremos uma sociedade mais plural e democrática onde a diversidade e as diferenças sociais, étnicas, culturais e reli- giosas serão respeitadas. Antonio Carlos Banzato A. Santos Rafael Lopes de Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA1 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo abordaremos o tema do positivismo e a sua importância para as ciências humanas. Esperamos que ao final dele você com- preenda a importância desse sistema de pensa- mento para a afirmação das ciências humanas e a influência que exerceu sobre a organização das sociedades ocidentais. Vejamos então as suas principais contribuições. A Sociologia é uma ciência da observação. Durante milhares de anos, os homens vêm refle- tindo e tentando compreender o comportamen- to de seus semelhantes. As primeiras tentativas de compreender a ação humana esbarraram-se, todavia, em interpretações teológicas, mitoló- gicas e muitas vezes fantasiosas. Assim, para os gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base de explicação mitológica, isto é, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era quem mantinha a or- dem do mundo moral e físico. Na Idade Média, os acontecimentos sociais estavam, por sua vez, relacionados a um princípio teológico que cingia a liberdade do indivíduo, visto que as explicações para todas as mazelas sociais estavam fundamen- tadas no discurso da vontade “divina”. Obviamen- te, o homem sempre buscou escapar desses pen- samentos totalizantes. Foi essa inquietação, aliás, que fez o homem avançar no caminho da ciência. De tal sorte que no século XVIII, aproveitando-se do capital cultural das gerações anteriores, o ho- mem inaugura uma nova fase do pensamento crí- tico e estabelece novos parâmetros para explicar os fenômenos sociais. Nessa nova conjuntura, merece destaque Giambattista Vico, que escreve a obra: A Nova Ciência. Nessa obra, Vico afirma que a sociedade subordina-se a leis definidas, que podem ser des- cobertas pelo estudo e pela observação objetiva. Entre outras contribuições, afirma: “o mundo so- cial é obra do homem”. Podemos entrever nessa afirmação certo distanciamento das questõesmitológicas e o aprofundamento das reflexões contra a interferência divina sobre a vida e o co- tidiano do homem. Tempos depois, Jean-Jacques Rousseau reconhece que a sociedade tem uma influência decisiva sobre a vida do indivíduo. Em sua obra O Contrato Social afirma: “O homem nas- ce puro, a sociedade é que o corrompe”. Em ou- tras palavras, Rousseau estabelece que o homem é um ser social. Conforme você pode perceber, as bases para a constituição do pensamento sociológico estavam, portanto, dadas. O fundamental agora era organizar para, em seguida, oferecer um sta- tus científico para essa nova maneira de pensar as relações humanas. Essa preocupação intensificar- -se-ia no século XIX, quando autores, como Au- gusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, estabelecem critérios mais objetivos para investigar os fenômenos sociais, emprestando a estes um caráter verdadeiramente científico. Es- ses quatro pensadores são considerados os prin- cipais representantes da Sociologia Clássica. O objetivo deste curso é oferecer ao aluno elemen- tos para a compreensão de alguns dos conceitos criados por esses autores. Em seguida, pretende- mos verificar os desdobramentos desses concei- tos e a interferência que eles exercem na organi- zação da sociedade contemporânea. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Você verá, agora, como teve início a Socio- logia. Preparado(a)? Então, ao trabalho! Pode-se dizer que o positivismo foi nas ciências humanas a primeira tentativa verdadei- ramente sistematizada de conhecer a realidade social. Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso co- mum por meio das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. O principal representante do positivismo foi Augusto Comte (1798-1857). Comte nasceu na França, numa família católica e monarquista, talvez esteja aí uma das explicações para sua con- cepção de mundo. Estudou em Paris, na Escola Politécnica, e testemunhou os turbulentos tem- pos da era napoleônica. Tornou-se discípulo de Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência. Devotou seus estudos à filosofia positivista, con- siderada por ele uma religião, da qual era o seu principal pregador. De acordo com sua filosofia política, a história da humanidade era composta por três estados: um teológico, outro metafísico e finalmente o positivo. Este último representa- va o apogeu do progresso da humanidade. Para Comte, a sociologia era a ciência mais profunda e a que mais contribuições poderia oferecer para a humanidade. 1.1 O Nascimento da Sociologia 1.2 O Contexto do Pensamento Positivista O século XVIII havia consagrado o poder da burguesia, que impôs o uso da ciência e da técni- ca como metas para a nova sociedade, provocan- do, assim, modificações sociais, políticas e eco- nômicas jamais vistas. A consagração desse novo saber, isto é, da ciência e da técnica, leva para um novo entendimento das questões humanas, que passam, agora, pela concepção do cientificismo, ou seja, a ciência é o único conhecimento possí- vel para a humanidade. O idealismo, pensamento predominante até a primeira metade do século XIX, passa a ser combatido e o positivismo é que primeiro leva esse combate adiante. O positivismo representa, então, uma reação contra o idealismo. Veja a di- ferença fundamental entre idealismo e positivis- mo: o primeiro procura uma interpretação, uma unificação da experiência mediante a razão; o se- gundo, ao contrário, quer limitar-se à experiência imediata. Além de ser uma reação contra o idea- lismo, o positivismo é ainda tributário do grande progresso das ciências naturais, particularmente das biológicas e fisiológicas do século XIX. Pode-se dizer que a filosofia de Comte de- fende alguns princípios consagrados da socieda- de, como a propriedade, a família, o trabalho e a religião. Com esses princípios rigidamente segui- dos, a sociedade alcançaria, segundo Comte, o progresso e a ordem. A ideia de ordem está, nes- te caso, associada à ideia de hierarquia, que gera consequentemente uma disciplina para a socie- dade. É importante dizer que, para Comte ou para o positivismo, o entendimento da história se dá por meio de documentos oficiais, isto é, a história só se explica e se justifica com a visão predomi- nante de sua época. Saiba maisSaiba mais Para os idealistas, a filosofia é o estudo dos processos pelos qual a realidade deriva dos princípios constituti- vos do espírito, sendo o mundo o produto de um mo- vimento do pensamento. Entre os principais idealistas podemos destacar: Schelling e Hegel. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Observe de que forma Comte estabelece no livro Curso de Filosofia Positiva os três princípios básicos do estado positivista. De acordo com esse princípio, a vida da humanidade compreende em três estágios, sendo o atual, isto é, aquele no qual vivia Comte, o principal deles. O primeiro está- gio está relacionado à maneira de a humanidade explicar o mundo, uma explicação que sempre provinha dos mitos e das crenças religiosas. Esse estágio é chamado de teológico e Comte assim o descreve: No estágio teológico, o espírito humano dirige essencialmente suas investigações para a natureza intima dos seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam, numa palavra para o conheci- mento absoluto; apresenta os fenômenos como ação direta e contínua de agentes sobrenaturais. (COMTE, 1973, p. 9). O segundo estágio, dito metafísico, uma cresça em Deus, mas sem fundamentação cientí- fica, é assim descrito: “No fundo nada mais é que a modificação geral do primeiro, os agentes so- brenaturais são substituídos por forças abstratas, concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados”. Final- 1.3 Os Fundamentos do Positivismo mente o estado positivo é o terceiro estágio e é marcado pelo triunfo da ciência. A vida da huma- nidade passa agora a ser explicada pela razão em contraponto às explicações mitológicas e religio- sas das fases anteriores. No estado positivo, o espírito humano, re- conhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia de procurar a origem e o destino do universo, [...] para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do racio- cínio e da observação, suas leis efetivas que regem a vida humana”. O positivismo representa, então, o real frente ao quimé- rico, o útil frente ao inútil, a segurança frente à insegurança, o preciso frente ao vago, o relativo frente ao absoluto. (RIBEI- RO JR., 1987, p. 18). Saiba que o positivismo combate também a sociedade individualista e liberal, divulgando que o homem como individualidade não existe; aliás, para esse pensamento, o homem só pode existir como membro de outros grupos, desde o familiar, que é núcleo fundador de toda sociedade, até ou- tros grupos mais complexos, como, por exemplo, o político. 1.4 Estratificação da Sociedade Positivista Perceba que para o positivismo, a humani- dade é formada só de homens. Nessa ordem so- cial, as mulheres estão condenadas à inferiorida- de, é claro, pelas leis irrevogáveis da natureza. Na sociedade positivista, a classe dos sacer- dotes é a mais importante. Ela está dividida em três classes, a saber: DicionárioDicionário Estratificação: é o processo social que leva à super- posição de camadas sociais, isto é, à formação de um sistema social mais ou menos fixo e rígido, de estados, classes ou castas. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 a) Os aspirantes: estes precisam ter ao menos 28 anos, pois só com essa idade alcançam a cultura enciclopédicaexigi- da pelo estado positivista; b) Os vigários: estes precisam ter ao me- nos 35 anos e exercem a função supe- rior de ensinar; c) Os sacerdotes: precisam ter uma idade superior aos 42 anos; são os maiores sa- cerdotes da humanidade, uma espécie de conselheiros para arbitrar as causas do estado positivista. O patriciado é a classe detentora do po- der temporal. Essa classe é composta pelos seg- mentos que controlam os meios de produção: banqueiros, fabricantes, comerciantes; sempre colocados em escala hierárquica. Os banquei- ros, portanto, nessa sociedade, são investidos de maior autoridade. Ao se apresentar como a religião da huma- nidade, o positivismo defende a existência de nove sacramentos para os membros de sua socie- dade. Vejamos alguns deles: a) Apresentação, quando a família apre- senta o recém-nascido; b) Iniciação, quando a criança, com cator- ze anos, passa da educação materna à instrução sacerdotal; c) Admissão, aos vinte e um anos, quan- do está pronto para servir a humanida- de, retribuindo tudo que recebeu dela; d) Destinação, momento em que recebe dos sacerdotes o seu ofício; e) Casamento, sacramento obrigatório, já que no estado positivista o celibato é condenado. Você sabia que no Brasil, o positivismo teve uma importância decisiva no Império e na insta- lação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade? Suas primeiras manifestações em território nacional acorreram em 1844 na aca- demia, isto é, na Faculdade de Medicina da Bahia. Contudo, sua primeira manifestação social acon- tece anos mais tarde. Inicialmente, o positivismo brasileiro é composto por dois grupos: um defen- dendo, como proposto por Comte, o positivismo como religião da humanidade; havia, por outro lado, um grupo que desprezava o movimento da religião da humanidade e defendia apenas a me- todologia científica de observação, experimenta- ção e comparação proposta por Comte. Esse segundo grupo constituirá a base do movimento republicano aglutinado em torno do jovem oficial Benjamin Constant. O positivismo enfrenta, porém, a resistência de um grupo de republicanos que, diferentemente dos princípios rígidos do positivismo, defendiam os preceitos democráticos do liberalismo constitucional nor- te-americano. De qualquer forma, perpetuou suas marcas na vida e no cotidiano do homem brasilei- ro, sendo que a principal dessas marcas está re- gistrada em nosso símbolo maior. Ou seja, a nossa bandeira, com seu Ordem e Progresso, mostra de maneira inquestionável o quanto a doutrina posi- tivista influenciou os nossos republicanos1. Finalmente é preciso insistir que para o posi- tivismo aquilo que não pode ser verificado como “algo dado” é metafísica estéril. Daí a importância dada ao documento escrito, sobretudo aos docu- mentos oficiais, como prova histórica de determi- nado fato. Assim, para os positivistas, apreender o real seria conhecer os fatos e conhecer os fatos significa acesso a documentos, que são, na pers- pectiva positivista, quase sempre, institucionais. Reflita, agora, sobre o positivismo e posicio- ne-se em relação a essa filosofia. 1 Mais elementos sobre essa discussão ver Ribeiro Jr. (1987). Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 1.5 Resumo do Capítulo 1.6 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), neste capítulo observamos que a Sociologia é observação, reflexão a fim de com- preender o comportamento de seus semelhantes. Giambattista Vico afirma que a sociedade subordina- -se a leis definidas e que: “o mundo social é obra do homem.” Pode-se dizer que o positivismo foi nas ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente sistematizada de conhecer a realidade social. Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso comum, por meio das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. No Brasil, o positivismo teve uma im- portância decisiva no Império e na instalação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade. 1. Quais as diferenças fundamentais entre o idealismo e o positivismo? 2. Cite e comente dois sacramentos do positivismo. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 Você entrará em contato com um autor que contribuiu para que a sociologia se estabelecesse como ciência autônoma. David Émile Durkheim presenciou em sua juventude uma série de acontecimentos que marcou decisivamente a sua vida e sua obra. Na década de 1880, a França aprovou a chamada Lei Naquet, que instituiu o divórcio em seu território. Nessa mesma época, o ensino público tornou- -se gratuito e obrigatório para todos dos 6 aos 13 anos; além disso, ficava proibido formalmen- te o ensino da religião. O vazio correspondente à ausência do ensino de religião na escola pública tenta-se preencher com uma pregação patrióti- ca representada pela que ficou conhecida como “Instrução Moral e Cívica”. Ao mesmo tempo que essas questões polí- ticas e sociais balizavam o seu tempo, as contradi- ções do trabalho traziam também preocupações continuadas para sua militância intelectual. Uma repercussão decisiva dessas contradições ficou conhecida como questão social, ou seja, as dispu- tas e conflitos decorrentes da oposição entre o capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e em- pregado, entre burguesia e proletariado, seriam doravante objetos de intervenção dos estudos sociológicos. No final do século XIX, Durkheim reuniu um grupo de colaboradores que se esforçaram para emancipar a sociologia das demais teorias sobre a sociedade e constituí-la como disciplina rigo- rosamente científica. Buscou sempre definir com precisão o objeto, o método e as aplicações dessa nova ciência. Respondendo, assim, as preocupa- ções da sociedade e da Sociologia de sua época, elegeu os fatos sociais como o principal objeto da sociologia. A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM2 De acordo com suas análises, o fato social é experimentado pelo indivíduo como uma rea- lidade independente dele, que ele não criou e não pode rejeitar, como as regras morais, as leis, os costumes, os rituais e as práticas burocráticas, por exemplo. É importante você saber que para Dur- kheim, os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exer- cem sobre os indivíduos, levando-os a aceitar as regras da sociedade em que vivem, independen- temente da sua vontade e escolha. Essa força ma- nifesta-se, por exemplo, quando o indivíduo ado- ta determinado idioma, ou quando se submete a um código de leis. A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja, são exteriores aos in- divíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira característica apontada por Dur- kheim é a generalidade, isto é, aquilo que se repe- te em todos os indivíduos, o ritual do banho, por exemplo. Portanto, nem tudo que uma pessoa faz é um fato social, para ser um fato social tem de atender a três características: generalidade, exte- rioridade e coercitividade. Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem, independentemente de suas vontades individuais, é um comporta- mento estabelecido pela sociedade. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas2. 2 Mais elementos sobre as características do fato social ver Costa (1997). Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Assim, você pode observar que, com essa caracterização feita por Durkheim dos fatos so- ciais, encontramos elementos para compreender- mos melhor os grupos sociais queestão distribuí- dos na sociedade. Da infância até a maturidade, o indivíduo participa de vários grupos sociais, pois em cada fase ou etapa de sua vida ele busca apoio de um determinado grupo. Temos assim, o grupo familial (família); o grupo educativo (escola) e o grupo religioso (igreja). O primeiro pode ser defi- nido como grupo primário, pois é aquele onde os contatos pessoais são mais constantes, como a fa- mília e os vizinhos; o segundo grupo é chamado de secundário e manifesta-se na igreja e no tra- balho e é geralmente constituído por uma rede de relações mais complexa em que os contatos são mais formais, sem a intimidade verificada no primeiro; o terceiro grupo, também chamado de intermediário, combina elementos do primeiro e do segundo grupo e cria outros rituais de perten- cimento para sua identidade social. Um exemplo são as coletividades juvenis. 2.1 A Objetividade do Fato Social Você verá, agora, como Durkheim definiu o método de conhecimento da Sociologia. Segun- do Durkheim, o sociólogo precisa deixar de lado seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado, pois só assim alcançaria a objetividade de sua análise. Procurando garantir à Sociologia um mé- todo tão eficiente quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim desenvolve métodos para fugir do “senso comum”, que analisava de maneira superficial a realidade social. Sentencia- va, assim, que para compreender os fatos sociais o cientista precisa ter visão ampla e identificar os acontecimentos que apresentavam característi- cas exteriores comuns na sociedade. O suicídio, por exemplo, apesar de ser resultado de razões particulares, apresenta em todas as sociedades características comuns e certa regularidade e, por isso, é um fato social. Saiba maisSaiba mais Chamamos senso comum ao conhecimento adquiri- do por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um con- junto de ideias que nos permite interpretar a realidade, bem como um corpo de valores que nos ajuda a ava- liar, julgar e, portanto, agir. Observe como se pode entender a ideia de consciência coletiva. A consciência coletiva está espalhada pela sociedade e, em certo sentido, re- vela o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. A consciência coletiva inibe e controla os impulsos do indivíduo na sociedade, padronizando o comportamento. Mas a consciência coletiva pode servir também de máscara para o indivíduo esconder sua perso- 2.2 A Consciência Coletiva nalidade no jogo do teatro social. Por exemplo, ao tripudiar sobre um juiz no estádio de futebol, o indivíduo só o faz porque está protegido por uma consciência coletiva, que o impede de ser pron- tamente identificado, ou seja, responsabilizado. Quando sai do estádio e vai embora sozinho para sua casa sem a proteção do grupo, isto é, da cons- ciência coletiva, ele adota uma outra postura, pois agora ele responde sozinho por seus atos. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 Entre os muitos desdobramentos que as re- flexões de Durkheim abriram para os estudos so- ciológicos, merecem destaque aqueles derivados da escola de Frankfurt, os quais trouxeram contri- buições para se pensar os caminhos da sociedade contemporânea. É sobre essa escola que você re- fletirá a seguir. 2.3 A Escola de Frankfurt Denominada teoria crítica apresentou-se como um contraponto às simplificações que de- terminadas correntes sociológicas vinham fazen- do dos estudos da sociedade. Os principais inves- tigadores da Escola de Frankfurt – Adorno, Walter Benjamim, Marcuse e Horkheimer, entre outros – caracterizavam-se por serem mais acadêmicos, envolvidos com uma concepção teórica global da sociedade e nitidamente influenciados por Marx e Freud. A identidade da Teoria Crítica liga-se à uti- lização dos pressupostos marxistas e de alguns elementos da psicanálise, na análise das temáti- cas novas que as dinâmicas sociais da época con- figuravam – o totalitarismo, a indústria cultural, entre outros – numa preocupação com a superes- trutura ideológica e a cultura. Assim, não pense que o tema dessa corrente seja apenas os meios de comunicação de massa, mas que, entre os vá- rios assuntos abordados por essa Escola, os mais próximos a este tema seriam aqueles relativos à indústria cultural – marcados pelo enfoque da manipulação do agente social. Você também não pode perder de vista todo o contexto histórico no qual os estudos de Frankfurt se desenvolvem. A Alemanha vivendo a crise do pós-guerra, a Revolução Russa vitoriosa, o movimento operário alemão rechaçado, e o na- zismo, que começava a se firmar. Tudo isso incidia de forma decisiva nas ideias dos jovens judeus marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer. 2.4 A Indústria Cultural Conforme você pode observar, com o avan- ço tecnológico e industrial, mais o crescimento econômico e urbanístico, sobretudo a partir das primeiras décadas do século XX, os meios de co- municação reorganizaram sua produção artística e cultural, sob o ponto de vista mercadológico, utilizando as novas linguagens do marketing. Em meio a esse processo, surge um grupo de teóricos em Frankfurt na Alemanha. Preocupados com a postura e interferência dos meios de comunica- ção na sociedade, esses teóricos começaram a analisar de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”. Impulsionada pelo inces- sante desenvolvimento da tecnologia e a inevi- tável popularização dos aparelhos eletroeletrôni- cos, a indústria cultural ampliou a participação e Saiba maisSaiba mais Para Morin, a Terceira Cultura é decorrência do boom tecnológico que o mundo viveu depois da Segunda Guerra Mundial e que levou a uma popularização do cinema, da imprensa, do rádio, da televisão etc. a interferência do indivíduo – principalmente dos jovens – no meio circundante. Edgar Morin (1969) chama esse fenômeno de Terceira Cultura. Pode-se dizer, então, que o século XX trouxe novos meios de sociabilidade e integração social – o rádio, o cinema, a indústria fonográfica etc. –, tornando decisivas suas influências sobre a vida Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 da juventude. Essas novas técnicas logo serão in- corporadas pelos jovens como forma mais coti- diana de interferência em um mundo social para eles amplificado. A juventude deixa, assim, de ser apenas receptora de cultura; suas manifestações ganham notoriedade, e, de receptora, ela passa a criadora de uma nova maneira de ser e viver. Saiba que essa nova configuração cultural da juventude ganha vulto, de maneira mais es- pecífica no pós-guerra devido ao aquecimento ocorrido no setor industrial; ele possibilitou um aumento da demanda de empregos e, concomi- tantemente, levou mais recursos financeiros para um número cada vez maior de famílias, que pas- sam a investir seu tempo livre em diversão e lazer. Edgar Morin, ao analisar essas novas carac- terísticas da sociedade moderna, pondera que a ampliação do tempo de lazer, combinada com a popularização das novas técnicas de integração social, possibilitou o surgimento de uma cultura de massas na sociedade moderna. Você pode perceber, portanto, que foi no compasso dessa terceira cultura que o fulcro do que era uma subcultura juvenil cede espaço para o surgimento de uma ampla cultura juvenil, que no decorrer dos anos 50 articula-se em torno de novos referenciais (principalmente cinema e mú- sica rock’n roll) para granjear uma posição de des- taque na sociedade. Temos aí uma nova problematização no ce- nário juvenil, que, estimuladopelo aumento do poder aquisitivo e pelo tempo livre, cria espaços específicos para suas reuniões. As praças já não lhes são suficientes; agora eles querem o cinema, as lanchonetes, enfim, eles querem visibilidade e atenção. Morin, ao analisar os problemas com- portamentais dos jovens numa sociedade pauta- da pela massificação cultural, alerta que: O desenvolvimento dessa cultura está ligado a uma conquista da autonomia dos adolescentes no seio da família e da sociedade. A aquisição de relativa auto- nomia monetária (dinheiro para o gasto diário dado pelos pais nas sociedades avançadas e, alhures, dinheiro para o diário conservado pelos adolescentes que ganham a vida e entregam o que ga- nham aos pais) e de relativa liberdade no seio da família (o que nos conduz ao pro- blema da liberalização aqui, da desestru- turação acolá, da família) permitem aos adolescentes adquirir material que lhes insuflará sua cultura (transistor, toca-dis- cos e mesmo violão), que lhes dá sua li- berdade de fuga e de encontro (bicicleta, motocicleta, automóvel) e lhes permitirá viver sua vida autônoma no lazer e pelo lazer. Essa cultura, essa vida, aceleram em contrapartida as reivindicações dos ado- lescentes que não se satisfazem com a semi-liberdade adquirida e fazem crescer sua contestação a propósito de um mun- do adulto cada vez menos semelhante ao deles. (MORIN, 1969, p. 140). 2.5 Cultura de Massa Você sabe o que é cultura de massa? Certa- mente, já ouviu falar disso. Então, convido você a refletir um pouco e tentar estabelecer algumas hipóteses que a definam. O termo ‘Indústria Cultural’ foi utilizado pela primeira vez em 1947, por Theodor Adorno, para substituir a expressão “Cultura de Massa”, pois esta induz ao engodo de que são satisfeitos os in- teresses dos detentores dos veículos de comuni- cação de massa. Os defensores da cultura de mas- sa acreditam que esta surge espontaneamente das próprias massas em ressonância com a arte popular, enquanto a indústria cultural diferencia- -se totalmente, pois vem atribuída de vários ele- mentos, conceituando um novo estilo e qualida- de. “A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores” (ADORNO, 1977, p. 287). Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 A prioridade da Indústria Cultural é explorar o gosto popular, e não os anseios do povo; por isso, seu objetivo não está voltado para a educa- ção e a cultura em si, mas para a obtenção de lu- cro. Waldenyr Caldas, em seu livro, O que todo cidadão precisa saber sobre cultura, conceitua a cultura de massa dessa forma: A cultura de massa consiste na produção industrial de um universo muito grande de produtos que abrangem setores como moda, o lazer no sentido mais amplo, in- cluindo os esportes, o cinema, a impren- sa escrita e falada, a música, a literatura, enfim... tudo o que envolve a vida do homem contemporâneo [...]. (CALDAS, 1986, p. 83). A cultura de massa, portanto, não tem a ver com a cultura popular, pois a cultura de massa tem por meta a fantasia e o consumo compulsivo. Ela apropria-se dos meios de comunicação – so- bretudo do rádio, por este ser um veículo de gran- de influência e penetração na classe trabalhado- ra periférica. Além de destacar outros locais com penetração restrita, como: casas noturnas, shows, boates, circos, festivais, de música regional, que são realizados nos bairros da periferia das gran- des cidades. A espetacularização dos produtos culturais não se encontra apenas nos conteúdos ou nos meios de comunicação, está presente também na recepção. O consumidor da cultura de massa faz a leitura, decodifica a mensagem de acordo com seu interesse, sua vivência, sua expectativa. Não há, portanto, uma dominação e um controle rígi- do por parte dos meios de comunicação, pois as produções culturais de massa, de elite ou popu- lar, apesar de serem produtos culturais de nature- za diferente, ocupam os mesmos espaços. A cultura popular, então, é produzida a par- tir das manifestações das classes populares, que recebem influências das culturas de massa e de elite, e pode até ser difundida nos espaços típicos dos segmentos da cultura de massa. Em se tratan- do da música popular, esta toma conta pratica- mente de todo o mercado, pois abrange desde as manifestações folclóricas até as manifestações de contexto urbano. Certamente, você deve concordar com o fato de que os meios de comunicação de massa têm um forte poder a curto prazo para construir ou destruir a imagem de um ídolo popular, seja na política, seja em qualquer outra atividade profis- sional. Em se tratando da persuasão de consumo, presenciaram-se nos últimos anos, aqui no Brasil, vários fenômenos criados pela indústria cultural. No campo da música foram reinventados: a lam- bada, o “axé music”, a música sertaneja, o samba e o pagode, o funk carioca, o forró eletrônico, o “calypso” paraense e, inclusive, músicas religiosas, como a “Aeróbica do Senhor”, bastante difundida pelo padre Marcelo Rossi. Diante disso, podemos destacar dois aspec- tos importantes da cultura de massa: a) Saber a quem são dirigidos seus produ- tos; b) Identificar quais as repercussões sociais desse consumo e as informações ideo- lógicas e políticas da cultura de massa. A cultura de massa é conservadora, pois jamais abre questões, apenas vulgariza ou repete conceitos estabelecidos nas ca- madas superiores da sociedade, fazendo valer os conceitos e o poder da ideologia dominante. (CALDAS, 1999, p. 56). Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 Caro(a) aluno(a), notamos que, no final do século XIX, Durkheim procurou emancipar a sociologia das demais teorias e constituí-la como disciplina científica; elegeu os fatos sociais como o principal objeto da sociologia. Os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos. A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade, ou seja, são exteriores aos indivíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira é a generalidade, aquilo que se repete em todos os indivíduos, como tomar banho. Durkheim levantou a ideia da consciência coletiva que busca revelar o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. O mesmo trouxe contribuições da escola de Frankfurt, no sentido de pensar os caminhos da sociedade contemporânea. Os teóricos em Frankfurt, preocupados com a interferência dos meios de comunicação na sociedade, começaram a ana- lisar de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”. 2.6 Resumo do Capítulo 2.7 Atividades Propostas 1. Na perspectiva de Durkheim, como o fato social participa da vida do indivíduo? 2. Faça um breve comentário do contexto histórico em que foi criada a Escola de Frankfurt. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 Na década de 1960, surge na Itália e na França um grupo de pesquisadores que penetra- ram nos estudos de comunicação de massa pelo viés da mensagem, utilizando a técnica da análise de conteúdo. Tratava-se de um grupo de estrutu- ralistas, formado por Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Seus estudos estavam centrados no entorno dos meios acadêmicos, artísticos, em peças publicitá- rias, histórias em quadrinhos e “estrelas de cine- ma pela pop art” (SANTOS, 2003, p. 93). Os produtos culturais veiculados pelos meios de comunicação de massa passaram, no início da década de 1960, a receber atenção da intelectualidade, pormeio de estudos feitos em centros universitários ou por obras de artistas, como Andy Warhol, Roy Lichtennstein e Richard Hamilton (próceres do movimento da Pop Art, que sacralizaram, em seus trabalhos artísticos, pe- ças publicitárias, histórias em quadrinhos e estre- las de cinema). Suas obras exploraram o potencial formal dos signos da cultura de massa, transfor- mando-os em ícones da arte. Nesse contexto, diversos teóricos europeus lançaram-se a estudar e analisar o conteúdo das mensagens da cultura de massa. Esses intelectuais tinham em comum uma postura crítica – mas não preconceituosa – em relação a esses produtos culturais, utilizavam os princípios da semiologia e ESCOLAS SOCIOLÓGICAS3 3.1 Escola Sociológica Europeia aplicavam a análise estrutural em seus trabalhos. Todos divergiam tanto das posturas funcionalis- tas quanto das frankfurtianas. Assim, você pode observar que essa visão da comunicação e da cultura de massa era com- partilhada por intelectuais franceses ou que de- senvolviam suas pesquisas na França, como Ro- land Barthes, Edgar Morin, Jean Baudrillard, Julia Kristeva, Chistian Metz, entre outros, e pelo italia- no Umberto Eco. “Seus trabalhos teóricos passa- ram a ser publicados a partir de 1968 na revista Communnications e editados pelo Centro de estu- dos da comunicação de Massa (CECMAS), criado em 1960 no interior da Escola Prática de Altos Es- tudos e dirigido Por Georges Friedman.” (SANTOS, 2003, p. 94). Em consequência disso, em Apocalípticos e Integrados3, Umberto Eco faz críticas aos “integra- dos” (funcionalistas) pela passividade com que se colocavam “diante das questões relativas à cultu- ra de massa”. Quanto à teoria crítica de Frankfurt, a crítica de Eco estava centrada no “pessimismo diante da sociedade de massa por negar a cul- tura de massa sem realmente analisá-la”. Dessa maneira, Eco apontava a utilização de “conceitos- -fetiche (massa, indústria cultural)”, por parte das duas teorias, para fazer proposições de maneira genérica sobre “um fenômeno complexo como a cultura de massa”. 3 Principal obra publicada por Umberto Eco. Faz crítica ao modelo funcionalista – Escola norte-americana e aos Frankfurtianos – Escola Alemã. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 Umberto Eco parte do pressuposto de que a cultura de massa é a cultura do homem contem- porâneo e aponta o momento histórico de seu aparecimento “no momento em que a presença das massas, na vida associada, se torna o fenôme- no mais evidente de um contexto histórico” (ECO apud SANTOS, 2003, p. 94). Assim, Eco manifesta seu pensamento e afirma que nem mesmo os frankfurtianos como críticos da cultura de massa poderiam estar fora da abrangência dela. Ainda, nessa abordagem, Eco complementa que a cultu- ra de massa passa a ser “uma definição de ordem”. Os meios de comunicação de massa, na visão de Umberto Eco, ajustam o gosto e a linguagem dos produtos culturais que veiculam as capacidades receptivas da média do público. Para ele, as carac- terísticas fundamentais dos produtos da cultura de massa são a efemeridade e a reprodutibilidade em série. Seu conteú- do é produzido para agradar o público, constituindo-se em material de evasão, mas pode também informar e educar. (SANTOS, 2003, p. 94). Saiba que outro expoente dessa Escola é Edgar Morin, que identificou dois métodos de estudar a cultura na sociedade: o da “totalidade que encerra o fenômeno em suas interdepen- dências e inclui o próprio pesquisador no sistema de relações” (SANTOS, 1992, p. 18); e o método “autocrítico – em que o pesquisador despe-se de preconceitos, acompanhando e apreciando seu objeto de estudos”. A cultura, para ele, é um sis- tema constituído de valores, símbolos, imagens e mitos, que dizem respeito à vida prática e ao ima- ginário coletivo, compondo uma dimensão sim- bólica que permite aos indivíduos se localizarem no grupo. A sociedade não pode ser conhecida a partir de indivíduos e grupos isolados. É necessá- rio juntar as partes ao todo e o todo às partes. Desde então, Morin elaborou outras ideias desse modo: a ideia de circularidade, que expõe o caráter retroativo do sistema; o efeito volta à cau- sa e a causalidade circula em espiral, onde o efeito é, ao mesmo tempo, causa; os indivíduos produ- zem a sociedade, mas ela própria retroage sobre os indivíduos, com sua cultura e sua linguagem: o indivíduo é produto e produtor ao mesmo tempo (WOLF, 1999). Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da cultura de massa: é o novo público que consome. Assim, a cultura massificada pres- supõe “o único terreno de troca e de comunicação para a classe [...] a nova camada de assalariados” (WOLF, 1999, p. 103), uma vez que esta vai adqui- rindo valores cada vez maiores da classe anterior. Dessa maneira, para além da diversidade de “prestígio, hierarquia, conversações etc.”, é de- marcada uma zona comum, uma “identidade dos valores de consumo”. Nesse viés, esses valores da cultura de massa põem em comunicação os dife- rentes estratos sociais. Esse diálogo contém em seu interior a ética do consumo; a lei fundamental da cultura de massa é do mercado e sua dinâmi- ca, produção e consumo. Sobre essa dinâmica ou continuidade dialógica entre o produtor e o con- sumidor, Edgar Morin assim a define: [...] um diálogo desigual. E, a priori, um diálogo entre o prolixo e um mudo. A produção (o jornal, o filme, a transmissão etc.) distribui relatos, histórias, exprime- -se através de uma linguagem. O consu- midor – o espectador – responde apenas com reações pavlovianas, com um sim ou com um não, que determinam o sucesso ou o insucesso. (MORIN, 1962, p. 39 apud WOLF, 1999, p. 103). Outra de suas contribuições é quanto ao estudo dos paradigmas. Nesse viés moriniano, paradigmas são estruturas de pensamento que comandam nosso discurso de maneira incons- ciente. O paradigma da separação, por exemplo, reina, sobretudo, desde a Renascença, no mundo ocidental (mágica/lógica, arte/ciência etc.). Sepa- rou-se o sujeito do conhecimento, do objeto do conhecimento e ficou cada vez mais difícil de se estabelecer ligações. Edgar Morin também desta- ca o valor da solidariedade para o equilíbrio e a sobrevivência de uma dada cultura: Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 A única maneira de salvaguardar a liber- dade é que haja o sentimento vivido de comunidade e solidariedade, no interior de cada membro, e é isso que dá uma realidade de existência a uma sociedade complexa. A solidariedade é constituinte dessa sociedade. (MORIN, 1983, p. 22). E você, caro(a) aluno(a), o que pensa sobre a indústria cultural? Reflita e posicione-se. 3.2 Sociologia Alemã: a Contribuição de Max Weber Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da Socio- logia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso de- cisivo. A sua abordagem diferia da de Marx (que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas). Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim (que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade). Para Weber, o núcleo da análise social consistia na in- terdependência entre religião, economia e socie- dade. Max Weber (1864-1920) participou da co- missão redatora da Constituição da República de Weimar. Sua maior influência nos ramos especia- lizados da sociologia foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações políticas e crenças religiosas. Suas principais obras foram: Artigos Reunidos de Teoria da Ciência; Economia e Sociedade (obra póstuma) e A éticaProtestante e o Espírito do Capitalismo. Saiba maisSaiba mais A República de Weimar foi instaurada na Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como sis- tema de governo o modelo parlamentarista democrá- tico. O Presidente da República nomeava um chance- ler que seria responsável pelo Poder Executivo. Cada formação social adquiriu, para Weber, es- pecificidade e importância próprias. Mas o ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma justi- ficativa subjetivamente elaborada. Assim, o ho- mem passou a ter, enquanto indivíduo, na teoria weberiana, significado e especificidade. É ele que dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Você se lembra de que para a sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles? Entretanto, para Weber não existe oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. Assim, cada sujeito age levado por um motivo que é dado pela tradição. Nos séculos XVII e XVIII, A França e a Ingla- terra contribuíram decisivamente para a conso- lidação do pensamento burguês. A Inglaterra foi a sede do desenvolvimento industrial; a França, por sua vez, difundiu para o mundo uma outra possibilidade de sistema político. Paralelamente a esses acontecimentos, o desenvolvimento da in- dústria e a expansão marítima e comercial coloca- ram esses países em contato com outras culturas e outras sociedades, obrigando seus pensadores a um esforço interpretativo da diversidade social. O sucesso alcançado pelas ciências físicas e bio- lógicas, impulsionadas pela indústria e pelo de- senvolvimento tecnológico, fizeram com que as primeiras escolas sociológicas fossem fortemente Segundo Weber, cada indivíduo age levado por motivos que resultam da influência da tradi- ção, dos interesses racionais e da emotividade. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 influenciadas pela adaptação dos princípios e da metodologia dessas ciências à realidade social. Na Alemanha, em decorrência de sua des- centralização política, o pensamento burguês organiza-se tardiamente, prejudicando o desen- volvimento e a modernização da sociedade, que só vai ser concretizada na etapa do capitalismo concorrencial, no século XIX. Por essa razão, as preocupações dos alemães com a sociedade fun- damentam-se de modo diferente daquelas preo- cupações encontradas nas sociedades francesa e inglesa. 3.3 Resumo do Capítulo 3.4 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), nesse período, Weber, Karl Marx e Émile Durkheim são considerados os fundado- res da Sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião. Marx utilizou o materialismo dialé- tico como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Durkheim considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e socieda- de. Surge nesse momento na Itália e na França estudos referentes à análise de conteúdo dos meios de comunicação de massa, realizados por um grupo de estruturalistas, como Umberto Eco, Edgar Morin, Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da cultura de massa: é o novo público que consome. 1. Localize o campo de maior influência nos ramos especializados da sociologia de Max Weber. 2. Por qual motivo o pensamento burguês organizou-se na Alemanha tardiamente? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Conforme você estudou em capítulo ante- rior, para Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição; o resultado dessa ação permite estabelecer parâmetros para descobrir os senti- dos da ação humana. Em seu conhecido ensaio A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber ex- punha porque haviam surgido no âmbito ociden- tal, e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir um significado e uma validade universais. Para Weber, o protestantismo carregava uma proemi- nente tendência ao racionalismo econômico. Essa tendência estava, por sua vez, ausente no catoli- cismo. De acordo com seu raciocínio, a natureza ascética do catolicismo o distanciava do mundo, ao passo que o caráter obreiro do protestantismo deixava-o cada vez mais ligado aos problemas mundanos. Talvez por isso, nas famílias protestan- tes, os filhos eram criados para o ensino especiali- zado e para o trabalho fabril, optando sempre por atividades mais adequadas à obtenção do lucro. Por isso o protestantismo, especialmente a sua vertente calvinista, é constantemente associado ao sucesso econômico e à racionalização da so- ciedade ocidental e do desenvolvimento do capi- talismo. A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA4 Para Weber, as investigações sociológicas só eram possíveis quando se utilizavam de uma multiplicidade de casos individuais. Assim, sua concepção de sociologia era abrangente e partia do conceito de conduta social, segundo o qual a Ciência devia explicar o fenômeno social a partir da investigação do comportamento subjetivo, que vincula o indivíduo a seus atos. Weber argu- menta que a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Estas são todo tipo de ação que o indivíduo pratica, orientando-se pela ação de outros. Portanto, só existe ação social quando o indivíduo tenta esta- belecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações com os demais. A partir desses pressupostos, Weber estabe- leceu quatro tipos de ação social. Estes são con- ceitos que explicam a realidade social, mas não são a realidade social. Veja quais os quatro tipos de ação social: a) Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraiga- do; b) Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais; c) Racional com relação a valores: de- terminada pela crença consciente num valor considerado importante, inde- pendentemente do êxito desse valor na realidade; d) Racional com relação a fins: determi- nada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários. Saiba maisSaiba mais O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou com a definição do raciocínio, que é a operação men- tal, discursiva e lógica. Este usa uma ou mais proposi- ções para extrair conclusões se uma ou outra propo- sição é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Nos conceitos de ação social e definição de seus diferentes tipos, Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Para ele, as normas e regras sociais são o resulta- do do conjunto de ações individuais. Outra particularidade da sociologia de We- ber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparciali- dade dos fatos como propunha Durkheim. Os fa- tos sociais não são coisas, eles estão carregados de sentimentos e emoções, o que contagia as in- tervenções do cientista. O estudo e a pesquisa de- vem, de qualquer maneira, ser conduzidos com objetividade em suas análises, impondo, assim, limites para as crenças e ideias pessoais, ou seja, evitando uma tomada de posição pessoal dopes- quisador frente ao fato estudado. E você, o que pensa sobre essa questão? Será que o cientista consegue mesmo a total neutralidade diante dos fatos que analisa? Na busca de uma melhor adequação para as análises dos fatos sociais, Weber propôs um instrumento de análise denominado por ele de tipo ideal. Partindo de pressupostos do estudo das mais distintas manifestações culturais, o cien- tista constrói um modelo com os traços caracte- rísticos dessa ou daquela manifestação e elege um tipo ideal para suas análises. Nesse sentido, o capitalismo ocidental constitui um tipo ideal de capitalismo por ser uma organização econômica racional voltada para o trabalho livre e para o lu- cro independentemente de sua localização. 4.1 Resumo do Capítulo 4.2 Atividades Propostas Caro(a) aluno(a), segundo Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição que nos permite estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos da ação humana. Para Weber, o protestantismo carre- gava uma proeminente tendência ao racionalismo econômico. O autor argumenta ainda que a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Outra particularidade da sociologia de Weber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparcialidade dos fatos, como propunha Durkheim. 1. Quem escreveu e do que trata a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo? 2. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Indique e explique dois. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Você estudará agora um dos mais signifi- cativos nomes das ciências sociais: Karl Marx, de quem, possivelmente já ouviu falar. Pronto(a)? En- tão, vamos lá! Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1842, mudou-se para Paris, onde conheceu Friedrich Engels (1820- 1895), seu companheiro de ideias. Em 1845, foi expulso da França, deslocando-se para Bruxelas e lá participando da recém-fundada liga dos comu- nistas. Em 1848, escreveu com Engels O manifesto do Partido Comunista. Estabeleceu-se em Londres a partir de 1848 e lá deu continuidade aos seus estudos. Suas principais obras são: O Manifesto do Partido Comunista, A ideologia Alemã e O capital. O marxismo surgiu com a sociedade moder- na, com a grande indústria e com o proletariado industrial. Aparece como a concepção de mundo que expressa esse mundo moderno, suas contra- dições e seus problemas, para os quais aponta so- luções racionais em contraposição às alternativas metafísicas. Com o objetivo de entender o capitalismo, Marx produziu obras de filosofia, economia e so- ciologia. Não se limitou, porém, em interpretar o mundo, queria antes de tudo transformá-lo. Po- demos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do pensamento de Marx. Em primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filo- sofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou de modo peculiar, o método dialético. Também significativo foi seu contato com o pensamento socialista francês e inglês do século XIX, sobretu- do com Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Marx destacava o pioneirismo desses críticos da socie- KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM5 dade burguesa, mas reprovava o “utopismo” de suas propostas de mudança social. Saiba maisSaiba mais ‘Utopia’ tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro quanto no presente. A palavra significa literalmente “não lugar” ou “lugar que não existe”. Foi inventada por Thomas More, servindo de título para uma de suas obras por volta de 1516. O utopismo é um modo absurdamente otimis- ta de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem. Para Marx, as três teorias desenvolvidas ti- nham por traço comum o desejo de impor de uma só vez uma transformação social total, implantan- do, assim, o império da razão e da justiça eterna. Nos três sistemas elaborados, havia a eliminação do individualismo, da competição e da influência da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de descobrir um sistema novo e perfeito de ordem social, vindo de fora, para implantá-lo na socie- dade, por meio da propaganda e, sendo possível, com o exemplo, mediante experiências que ser- vissem de modelo. Com essa formulação, os três desconsideravam a necessidade da luta política entre as classes sociais e o papel revolucionário do proletariado na realização dessa transição. Fi- nalmente, há toda a crítica da obra dos economis- tas clássicos ingleses, em particular Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tomou a atenção de Marx até o final da vida e resultou na maior par- te de sua obra teórica. Essa trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes, como alienação, ideologia valor, mercadoria, tra- balho, mais-valia, infraestrutura e práxis. Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 É um pensamento materialista, que parte do objetivo para o subjetivo. A realidade é o campo de ação do homem. A realidade social é, porém, obra dos próprios homens. A história é, pois, fei- ta pelos homens, não a partir das condições que desejariam, mas a partir da herança deixada pelas gerações passadas. É um pensamento dialético, que busca nas intervenções humanas e em suas contradições as explicações para a sociedade. Pode-se dizer, então, que é um pensamen- to que não se limita a interpretar o mundo, mas busca também transformá-lo. Até o advento do marxismo, não havia nenhuma descrição nem ex- plicação científica da divisão social que acompa- nhava a humanidade desde os primórdios. Perceba que para Marx, a sociedade estru- tura-se em níveis. O primeiro é a infraestrutura, que é constituída pela base econômica, aliás, esse é, segundo Marx, o aspecto fundamental de toda sociedade, isto é, transformar matérias-primas e fontes de energia em riqueza. Assim, a infraestru- tura engloba a relação do homem com a nature- za, no esforço de produzir a própria existência. Condiciona, assim, as relações dos homens entre si e o desenvolvimento das forças produtivas. 5.1 O Método do Pensamento Marxista Assim, cada grande etapa do desenvolvi- mento das forças produtivas corresponde a uma forma diferente de organização da sociedade. Por exemplo, no século XVIII, os agentes daquela so- ciedade fizeram uma mudança na técnica: com as mesmas matérias-primas e ferramentas que usavam os artesãos individualmente, agruparam operários em grandes oficinas, onde cada grupo fazia uma parte da produção total, que até então era feita separadamente por cada artesão. Essa nova técnica ficou conhecida como manufatura e substituiu a fase doméstica da produção. O segundo nível é chamado de superestru- tura e é constituído de uma base jurídico-política, que é representada pelo estado que repercute as ideias da classe dominante. É composto também por uma estrutura ideológica repercutida nas for- mas de consciência social, entre as quais se des- tacam: a religião, a educação, a arte e as leis. Por esses mecanismos, a classe dominada acaba sen- do sujeitada ideologicamente e seus valores de vida passam a refletir as ideias e valores da classe dominante. Observe a força da ideologia na produção dos discursos sociais. O que você pensa sobre isso? 5.2 A Práxis Para Marx não existe uma “natureza hu- mana” idêntica em todo tempo e lugar. O existir humano decorre do agir, pois o homem se au- toproduz à medida que transforma a natureza pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano e como tal depende da consciência que antecipa a ação humana pelo pensamento. Marxchama essa ação humana, de transformar a realidade, de práxis. AtençãoAtenção O conceito de práxis é muito anterior à filosofia marxista, com raízes no pensamento de Aristóte- les, mas foi por intermédio do pensador alemão Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se aprofundou, passando a ser o elemento central do materialismo histórico. Marx concebe a prá- xis como atividade humana prático-crítica, que nasce da relação entre o homem e a natureza. A natureza só adquire sentido para o homem à medida que é modificada por ele, para servir aos fins associados à satisfação das necessidades do gênero humano. Sociologia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Você verá agora um conceito-chave do pen- samento marxista: a questão da mais-valia. Para Marx, tudo no sistema capitalista está vinculado à produção de mercadoria. Mercado- ria é tudo aquilo que é produzido não tendo em vista o valor de uso (por exemplo, o cachecol que a vovó faz para o próprio uso), mas que tem por objetivo o valor de troca, isto é, a comercialização do produto. Como o operário não detém os meios de produção nem é dono das matérias-primas, pre- cisa necessariamente vender seu trabalho para sobreviver. O capitalista compra essa mercadoria, isto é, a força de trabalho do operário, que passa a trabalhar para o capitalista num regime de traba- lho aparentemente livre. Como vendeu sua força de trabalho ao capitalista, todo produto por ele criado pertence ao capitalista, que o paga pelo trabalho realizado. Ocorre que o pagamento nun- ca corresponde ao tempo trabalhado, por exem- plo, se o operário gastou quatro horas para fazer uma cadeira, o capitalista lhe paga apenas duas, as outras duas horas ficam para o capitalista. Cha- ma-se mais-valia, portanto, aquilo que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo capitalista. Analisando as consequências da mais-valia para a vida do trabalhador, Chauí (1984) argu- menta: O preço da mercadoria no comércio é uma aparência, pois a determinação do valor dessa mercadoria depende do tempo de trabalho de sua produção e esse tempo o dos demais trabalhadores que tornaram possível a fabricação dessa mercadoria. (...) o produtor da mercadoria recebe um salário, que é o preço de seu tempo trabalho, pois este é também uma mercadoria. Suponhamos, então, que, para fabricar um metro de linho e para extrair um quilo de ferro, os trabalhado- res precisem de 8 horas de trabalho. Su- ponhamos que o preço desses produtos 5.3 A Mais-Valia no mercado seja de R$ 16,00. Diremos, então, que cada hora de trabalho equiva- le a R$ 2,00. Porém, quando vamos verifi- car qual é o salário desses trabalhadores, descobrimos que não recebem R$ 16,00, mas sim R$ 8,00. Há, portanto, 4 horas de trabalho que não foram pagas, apesar de estarem incluídas no preço final da mer- cadoria. Essas 4 horas de trabalho não pagas constituem a mais-valia, o lucro do proprietário da fábrica de linho. Formam seu capital. A origem do capital, portanto, é o trabalho não pago. Graças à mais-va- lia, a mercadoria não é um valor de uso e um valor de troca qualquer, mas um valor capitalista. (CHAUÍ, 1984, p. 50-51). Marx sistematizou essas reflexões em sua obra máxima, O capital, onde analisa detalhada- mente o funcionamento do sistema capitalista e mostra como suas próprias contradições produzi- riam a sua crise estrutural. Através do conceito da mais-valia, Marx demonstrou que o capitalismo baseia-se na ex- ploração do trabalho. Como verificamos anterior- mente e que agora exemplificaremos com outra ordem de pensamento: O sistema capitalista se ocupa da pro- dução de artigos para a venda, isto é, de mercadorias. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente encerrado na sua produção. O trabalhador não possui os meios de produção (terras, ferramentas, fábricas etc.), que pertencem ao capitalista. O va- lor de sua força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é o total necessário a sua reprodução – no caso, a soma ne- cessária para mantê-lo vivo. Os salários que lhe são pagos, portanto, serão iguais apenas ao necessário a sua manutenção. Mas esse total que recebe o trabalhador pode produzir em parte de um dia de tra- balho. Isso significa que apenas parte do dia de trabalho o trabalhador estará tra- balhando para si. O resto do dia ele está Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 trabalhando para o patrão. A diferença entre o que o trabalhador recebe de salá- rio e o valor da mercadoria que produz é a mais-valia. A mais-valia fica com o empre- gador - o dono dos meios de produção. É a fonte do lucro, dos juros, das rendas - as rendas das classes que são proprietárias. A mais-valia é também a medida da ex- ploração do trabalhador no sistema capi- talista. (HUBERMAN, 1972, p. 232-233). Ao patrão o que interessa é o aumento constante da mais-valia, porque assim seus lucros também aumentam. Para fazer isso, o capitalista usa algumas formas básicas: aumentando ao má- ximo a jornada de trabalho, mais-valia absoluta, de modo que depois de o operário ter produzido o valor equivalente ao de sua força de trabalho, possa continuar trabalhando muito tempo mais; essa forma de obter maior quantidade de mais- -valia é muito conveniente ao capitalista, porque ele não aumenta seus gastos nem em máquinas nem em locais, e consegue um rendimento mui- to maior da força de trabalho. Era o método mais utilizado no começo do capitalismo. Mas não se pode prolongar indefinidamente a jornada de trabalho. Existem limites para isso: limites físicos – porque se o operário trabalha durante muito tempo, não pode descansar o suficiente para re- fazer sua força de trabalho na forma devida, o que irá produzindo um esgotamento intensivo, logo, uma baixa no rendimento, o que não interessa ao patrão; limites históricos – porque, à medida que o capitalismo foi se desenvolvendo, a classe operária também se desenvolveu, se organizou e começou a lutar contra a exploração capitalis- ta. Através de árduas lutas, a classe operária foi conseguindo reduzir a jornada de trabalho, obri- gando o capitalista a buscar outras medidas para aumentar a mais-valia. Então, para isso, o patrão teve de lançar mão de outras formas para fazer com que o operário produzisse mais, reduzindo o tempo de trabalho necessário (mais-valia relativa) sem reduzir a jornada de trabalho: introduzindo máquinas mais modernas, incentivando a produ- tividade etc. Portanto, segundo Marx, a exploração do trabalhador não decorre do fato de o patrão ser bom ou mau, e sim da lógica do sistema: para o empresário vencer a concorrência entre os demais produtores e obter lucros para novos investimen- tos, ele utiliza-se da mais-valia, que constitui a verdadeira essência do capitalismo. Sem ela, este não existe. Mas a exploração do trabalho acabaria por levar, por efeito da tendência decrescente da taxa de lucro, ao colapso do sistema capitalista. 5.4 Modos de Produção A mais-valia só existe no mundo do traba- lho, sobretudo, do trabalho capitalista. Trabalho é toda atividade desenvolvida pelo homem, seja ela física ou mental, da qual resultam bens de consumo para a humanidade. Karl Marx afirmou alhures que foi o trabalho o primeiro responsável pela educação do homem. Trabalho aqui com- preendido como a atividade manual e intelectual que visa produzir bens de serviços para o uso diá- rio do homem. Há que se considerar, porém, que o peso de cada atividade é diferente. O trabalho do operário da construção civil é mais manual, apesar de exigir um mínimo de esforço mental. O trabalho do arquiteto e do engenheiro oferece a concepção de uma forma para
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