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1 Marie Cristine Fortes Rocha Gestão da Qualidade ULBRA 2 Nota sobre o autor Marie Cristine Fortes Rocha é graduada em Administração de Empresas (1998) pela Faculdade Portoalegrense de Ciências Contábeis e Administrativas, mestre em Engenharia Ambiental (2004) pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e doutoranda em Gestão Integrada pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em Portugal. Atuou como docente do curso técnico de Gestão da Qualidade da Ulbra. Possui experiência de 11 anos no mercado automotivo, no qual exerceu por oito anos a função de coordenadora de gestão da qualidade e gestão ambiental, e na área de administração, com ênfase em sistemas e gestão da qualidade, meio ambiente e saúde e segurança ocupacional, atuando principalmente com os seguintes temas: Sistema de Gestão Integrado (SGI), programas de melhoria contínua e auditorias do sistema de gestão da qualidade. Atualmente, é professora de graduação e pós-graduação da Ulbra e também de pós-graduação do Instituto Educacional do Rio Grande do Sul (Iergs) e da empresa Planquality Desenvolvimento Organizacional. Atua também como membro do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e como consultora de empresas na área de sistemas integrados de gestão da qualidade. 3 Sumário 1 – A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE 1.1 A Evolução da qualidade 1.2 As eras da qualidade 2 – CONCEITOS E ABORDAGENS DA QUALIDADE 2.1 Dimensões da qualidade 2.2 Abordagens da qualidade 3 – OS MESTRES (GURUS) DA QUALIDADE 3.1 Alguns mestres e suas respectivas contribuições para qualidade 4 –FERRAMENTAS, METODOLOGIAS E PROGRAMAS DA QUALIDADE 4.1 Brainstorming 4.2 Histograma 4.3 Folhas de verificação 4.4 Cartas de controle 4.5 5W2H 4.6 Diagrama de Pareto 4.7 Diagrama Espinha de Peixe ou Diagrama de Causa e Efeito 4.8 Metodologias para melhoria do desempenho da qualidade 4.9 Outros programas, ferramentas e metodologias para gestão da qualidade 5 - MÉTODOS E TÉCNICAS PARA MELHORIA DA QUALIDADE 5.1 Excelência e qualidade 5.2 O que é qualidade e por que ela é tão importante? 5.3 A visão do consumidor 5.4 A visão no processo 5.5 Variáveis e atributos 5.6 Conceito de variabilidade 5.7 Controle estatístico do processo (CEP) 6 – SISTEMAS DA QUALIDADE 6.1 Objetivo e aplicação 6.2 Princípios da qualidade 6.3 Atualizações da norma ISO9000 - sistemas de gestão da qualidade 6.4 ISO 9001:2008 – Requisitos para certificação do sistema 7 – AUDITORIAS DA QUALIDADE 4 7.1 Processo de certificação 7.2 Avaliação e retroalimentação do sistema da qualidade 7.3 Auditorias de sistema de gestão 8 – ESTRATÉGIAS DA QUALIDADE 8.1 - A origem da gestão estratégica e sua contribuição para a qualidade total 8.2 A utilização do benchmarking como estratégia para qualidade 8.3 Avaliação de custos como uma estratégia competitiva 9 – MONITORAMENTO E MEDIÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE 9.1 Produtividade significando eficiência 9.2 Produtividade significando eficácia 9.3 Produtividade significando efetividade 9.4 Produtividade fabril ou gerencial 9.5 E a produtividade no Brasil? 9.6 Economia da qualidade 9.7 Melhoria contínua 10 – QUALIDADE COMO GESTÃO DO NEGÓCIO 10.1 O Processo de Gerencial da Qualidade 10.2 A gestão da qualidade por processos 10.3 Gestão para a competitividade 10.4 A qualidade nos dias atuais 10.5 O foco na excelência 10.6 A inovação 5 APRESENTAÇÃO A qualidade vem, há muito tempo, deixando de ser um diferencial no mercado para ser uma questão de sobrevivência para as organizações. O consumidor, cada vez mais exigente, leva-as a buscar métodos que direcionem seus processos e sua gestão para a qualidade, garantindo, assim, a geração de valor e a competitividade da empresa. A definição de qualidade constante e preventiva começou durante a Segunda Guerra Mundial, onde dados estatísticos começaram a ser usados para controle de qualidade na indústria bélica. A partir daí, essa concepção de qualidade espalhou-se pelas indústrias de todas as áreas. No início da década de 1960, no Japão já se falava em qualidade estendida às outras áreas das organizações, como recursos humanos, financeiro, administrativo. Cabe salientar que o tema Gestão da Qualidade, vem ocupando um papel decisivo dentro das organizações, por apresentar através de seus fundamentos, ferramentas, métodos e programas, resultados muito positivos e competitivos num mercado globalizado. Atualmente, as organizações precisam garantir a qualidade com redução de custos internos, por isso necessitam trabalhar com sistemas sólidos de metodologias avançadas, para atender às necessidades dos clientes e acompanhar os novos desafios de mercado, buscando sistemas de informação, tecnologia de ponta e atendimentos às legislações e assim garantindo seu sistema de gestão de qualidade. Para manter o padrão e monitoramento dos processos, é necessário que a empresa faça uma combinação integrada de recursos humanos, financeiros e tecnológicos para garantir os requisitos de seus clientes e se tornar cada vez mais competitiva. Para que a empresa consiga definir e manter seus ideais, é necessário que sejam traçados objetivos estratégicos que se desdobram por toda organização através da disseminação de suas políticas, missão, visão, procedimentos, diretrizes, normas, requisitos de certificação, programas que deem suporte e forneçam recursos para que seus objetivos possam ser alcançados. O clima organizacional é um fator importante que deve favorecer todas as pessoas envolvidas nos processos, fazendo com que elas se sintam valorizadas e responsáveis por cada atividade, com o objetivo de garantir a qualidade e o bom desempenho do negócio. Toda essa visão de crescimento e competitividade justifica o interesse das empresas em implementar um Sistema de Gestão da Qualidade para fortalecer a sua manutenção dentro de um mercado globalizado e expandir-se cada vez mais, usando modelos e padrões de qualidade internacionais e modernos. As metodologias, ferramentas, procedimentos e certificações adotados nas organizações como padrões e modelos de sistemas de gestão contribuem com o aprimoramento dos processos visando maiores níveis de competitividade, nos quais a melhoria contínua é um processo que 6 contribui cada vez mais com a evidência de excelência em resultados e gestão de qualidade dentro das organizações. Os capítulos deste livro estão divididos de forma que o leitor consiga estabelecer uma linha de raciocínio na construção do conceito de qualidade, tomando conhecimento da história da evolução e as abordagens dos grandes gurus, além da aplicação das ferramentas, metodologias e programas dentro das empresas. Estas, através da evolução de métodos e técnicas, passaram a entender os processos de melhoria da qualidade, buscando o entendimento dos sistemas, certificações, auditorias e estratégias que deram origem a uma nova visão, a qual denominamos de Sistema de Gestão da Qualidade. Dessa forma, este livro traz fundamentos e exemplos de práticas para que o leitor possa entender, de forma clara e didática, através de textos, exercícios e vídeos, o tema em questão. 7 Marie Cristine Fortes Rocha Capítulo 1 – A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE A evolução da história da qualidade vem sendo contada ao longo dos anos. Conforme bibliografias e técnicas aplicadas nas organizações, podemos observar que essa evolução vem acompanhando as necessidades humanas e em busca da competitividade e excelência no mercado global. Conforme Marshall Junior etal.: O tema Gestão da Qualidade é dinâmico, sendo sua evolução fruto da interação dos diversos fatores que compõem a estrutura organizacional e sua administração. Alguns fatores estruturais e tendências apontam para ciclos de vida e perfis quantitativos com influência decisiva nos paradigmas vigentes, pois: • Criam desafios e transformações multidisciplinares na gestão organizacional, causando impactos surpreendentes na Gestão da Qualidade; • Afetam a estruturação, a abrangência, os conceitos e o portifólio de competências, conhecimentos, habilidades, ferramentas, técnicas e metodologias; • Expandem as fronteiras atuais e interligam áreas do saber e de especialização em um novo conceito da qualidade, diversificado e holístico1 É importante considerar o que cada autor traz em suas respectivas obras, pois cada um viveu uma situação diferente em um lugar diferente, contribuindo, através de suas pesquisas, práticas e experiências, com a mudança de cenário do conceito e das práticas de qualidade. As questões da Qualidade têm existido desde que chefes tribais, reis e faraós governavam. O código de Hammurabi, datado de 2150 a.C., estabelece que “se um construtor erguer uma casa para alguém e seu trabalho não for sólido, e a casa desabar e matar o morador, o construtor deverá ser imolado”. Inspetores fenícios eliminavam quaisquer violações reincidentes de padrões de Qualidade amputando a mão do fabricante do produto defeituoso. Inspetores aceitavam ou rejeitavam produtos e faziam cumprir as especificações governamentais. Por volta de 1450 a.C., inspetores egípcios conferiam a forma de bloco de pedra com um barbante, enquanto também usavam esse método. Essas civilizações antigas enfatizavam a retidão do negócio e tratamento de reclamações2 Observando historicamente, a qualidade é um conceito originário das práticas de engenharia de produção da indústria americana. Difundiu-se no Japão pós-Guerra com os chamados sistemas de gestão pela qualidade total. Na Europa, assumiu a forma contratual de Sistema de Gestão da 8 Garantia da Qualidade, espalhando-se rapidamente pelo mundo no bojo das exigências e requisitos de compra do mercado comum europeu3. A criação de padrões de controle de qualidade evidenciou-se como necessária durante a Guerra Mundial, onde os aliados viram-se em situações adversas, possuindo munições e canhões no mesmo local, mas que, por diferentes origens, não podiam ser usados. Cabeda4 revela que, a partir desse fato, surge um dos primeiros padrões internacionais: o calibre das armas de fogo. A indústria americana desenvolveu as primeiras estruturas formais do controle de qualidade, as técnicas estatísticas de amostragem e os controles estatísticos de processo, inclusive o conceito de qualidade como uma forma de gestão, dando origem ao termo qualidade total. 1.1 A Evolução da qualidade Segundo Robes Junior e Bonelli5, a partir da implementação da economia globalizada, a palavra qualidade adquiriu o status de bem econômico, porque ninguém mais compra um produto ou serviço para simplesmente satisfazer seu desejo ou necessidade de consumo: o comprador, pessoa física ou jurídica, deseja usufruir, na verdade, do potencial de benefícios e resultados esperados da qualidade do bem adquirido. A qualidade passou a ser um importante resultado a ser considerado no desenho de um modelo de gestão em qualquer setor da atividade econômica. Em matéria de eficácia organizacional, a qualidade tornou-se, hoje em dia, importante variável para se avaliar a viabilidade de um plano estratégico de negócios, pois ela poderá definir quais serão, em nível de excelência, os direcionadores básicos dos resultados econômico-financeiros dos negócios ou do projeto de uma empresa, em um ambiente de forte competitividade confrontacional. Em suma, a evolução do conceito e da história da qualidade, começou a se desenvolver no início do século, onde tivemos a forte influência de Taylor, o qual promoveu a análise científica do trabalho do operário, visando maior qualidade e produtividade na empresa. Cada década trouxe a sua contribuição para a história da qualidade, conforme ilustrado por período no Quadro 1. 9 Quadro 1 – Gestão da qualidade no processo: a qualidade através dos tempos (compacto) Evolução histórica Acontecimentos Lições do período para os dias de hoje Primeiro período: Antiguidade Esse primeiro período pode ser caracterizado pela alta qualidade e por padrões para as artes em geral e a arquitetura de extrema precisão na Grécia e em Roma. Houve ainda avanços no Egito, onde foram feitas descobertas fundamentais na matemática. * A qualidade é, antes de tudo, um objetivo a atingir. * As ferramentas desenvolvidas sob motivação da qualidade ou com o objetivo de produzi-la tendem a adquirir vida própria. * Seus benefícios, sua utilização e sua área de abrangência vão além do que se esperava em sua concepção original. Segundo período: Idade Média Período marcado pelo aparecimento dos primeiros operadores de controle da qualidade, surgido a partir do crescimento de pequenas empresas e da diversificação de suas linhas de produção. Na Europa, a formação de associações de artesões contribuiu para a regulamentação da economia; estipulavam condições de trabalho, controle de matéria-prima e regulagem dos processos. As Indústrias da época contavam com indivíduos que produziam bens e serviços e eram responsáveis pela qualidade do que faziam. * Reflexos muito amplos da qualidade, envolvendo benefícios em uma grande diversidade de áreas. * Desde sua origem, a avaliação da qualidade é uma atividade que não pode ser dissociada da própria ação produtiva. Terceiro período: de 1900 a 1930 O início do século XX marca o surgimento do Jornal of the American Statistical Society, um veículo de divulgação da qualidade que se mantém ainda hoje como um dos mais relevantes na área. Esse período registra o aparecimento dos supervisores de controle da qualidade. São formulados conceitos relevantes que perduram até hoje como: "probabilidade de aceitação", "fração defeituosa tolerável" e " nível de qualidade aceitável". Surgem também os primeiros métodos de controle estatístico da qualidade ( A Western Eletric e a American Bell Telepohone Company). * A primeira avaliação da qualidade ocorre nos produtos e serviços, mas a avaliação afetiva se dá no nível do processo produtivo. * A produção e avaliação da qualidade são atividades técnicas. 10 Quarto período: as décadas de 1930 e 1940 No início dos anos 1930, foram desenvolvidas, de forma consistente, as aplicações estatísticas nos processos produtivos com um princípio de popularização de conceitos como os gráficos de controle e a aceitação por amostragem. Na Inglaterra, são criados padrões para produtos e serviços e nos Estados Unidos diversos produtos são regulamentados, sobretudo em termos de higiene e segurança. Há a estruturação de planos de amostragem, a preocupação com os recursos humanos e a estruturação dos processos motivacionais. Durante a Segunda Guerra Mundial, acelerou-se o desenvolvimento de técnicas de inspeção e controle de qualidade, sobretudo em termos das relações com os fornecedores. A utilização de mão de obra pouco preparada e o incremento da produção foram aspectos que contribuíram para criação de procedimentos, grupos de pesquisa e programas formais de qualificação de pessoal. * A produção e a avaliação da qualidade não são atividades intuitivas, mas requerem consistentes sustentações técnicas. * O elemento humano, embora não seja único, é o fator fundamental para a produção da qualidade. * A qualidade é uma estratégia de alta estabilidade para se enfrentar situaçõesde crise e elevada competitividade. * Seus benefícios permanecem mesmo quando o ambiente se altera Quinto período: anos 1950 A década de 1950 pode ser caracterizada, na história da qualidade, como o período da solidificação e disseminação dos sistemas já existentes (ex.: planos de amostragem). Há o reconhecimento e a popularização dos métodos e da essência conceitual do controle da qualidade, descobertos e aplicados principalmente no Japão. Ganha credibilidade o trabalho de Deming, Juran e Ishikawa, por introduzirem técnicas de controle de processo e conceitos revolucionários (1955). Década também marcada pela implantação e desenvolvimento de modelos de controle de qualidade em vários outros países, como, por exemplo, Inglaterra (1952). * A meta de todo esforço de e para a qualidade em processos produtivos é a qualidade de vida. * A qualidade é, antes de tudo, uma questão de cultura (qualidade = valor social). * A exigência da qualidade na ação produtiva decorre da exigência da qualidade na sociedade como um todo e não o contrário. * Até pela sua importância, a produção da qualidade não é intuitiva, mas requer conceitos consistentes e técnicas fundamentais. 11 Sexto período: anos 1960, 1970 e 1980. Décadas que se caracterizam pela extensão do conceito básico da qualidade para novos horizontes, principalmente nos métodos e estratégias que focavam a viabilização da produção e qualidade em função dos processos de bens e serviços. A estruturação do Controle da Qualidade Total (TQC) por Armand Feigebaun, em 1963. Criação do modelo Americano de Defeito Zero. Década marcada ainda pela criação de veículos importantes da qualidade como a Revista Quality (1962), o Jornal of Quality Technology (1965), e a Revista Quality Progress (1967). Na dácada de 1970, a criação da abordagem Sistêmica, Controle da Qualidade Participativo e início de estudos sobre o Custo da Qualidade. O computador ampliou e facilitou o uso de técnicas estatísticas, o cliente passou a ganhar atenção especial e criação de leis de proteção ao consumidor. * A qualidade é tarefa e responsabilidade de todos. Ela depende de todos e todos dependem dela. * Produzir qualidade não é difícil, pois as ferramentas para tanto existem e estão disponíveis. A qualidade é fundamentada como uma questão de decisão. * A estrutura mais adequada para a qualidade é o sistema. * Qualidade: atenção aos clientes. Desenvolvimento recente e tendências futuras Esforço direcionado para alcançar maior garantia da qualidade desde o projeto do produto. Estruturação de auditorias técnicas, utilização de sistemas como o CAD e o CAM, que unificam a função de projeto e produção com o auxílio do computador. Fornecedores estreitam as relações e começam a ser tratados como parceiros. Aplicação de normas de avaliação do controle da qualidade de nível internacional (ISO900). Envolvimento de todas as pessoas. Dessa forma, o futuro da qualidade parece ser o de que, proximamente, desapareçam os setores específicos da qualidade, pois a empresa toda será um laboratório voltado para produzir com qualidade. * A qualidade é um processo evolutivo. * Toda crise contribui para o processo de evolução e mudanças no contexto da qualidade total. Fonte: Adaptado de Paladini, 1995, p. 32-40. 12 1.2 As eras da qualidade Existem várias classificações para os diversos períodos ou eras da qualidade. Garvin1 foi quem desenvolveu uma estrutura para classificar as eras correspondentes à história e à evolução do pensamento da qualidade, na qual cada época apresentava uma peculiaridade e eram divididas da seguinte forma: • Era da inspeção. • Era do controle estatístico da qualidade. • Era da garantia da qualidade. • Era da qualidade total. Era da inspeção A inspeção foi implementada através de critérios e definições especificadas pelo próprio artesão e sua equipe. Era considerada uma atividade corriqueira até que a evolução das atividades transformou-a rapidamente em um processo independente e associado ao controle da qualidade2. Era do controle estatístico A qualidade passou a ganhar um espaço científico através da publicação de livros ao longo dos anos. Por meio dessa forma documentada, tornou-se mais fácil o entendimento e o cumprimento padronizado da aplicação dos critérios de qualidade, utilizando controle e amostragens durante o processo de produção. Segundo Marshall Junior et al.3, um marco dessa nova era foi a publicação, em 1931, da obra Economic control of quality of manufactured product, de Walter A. Shewhart, a qual esclarece a questão dos fundamentos, procedimentos e técnicas que transformaram efetivamente a qualidade mais presente no processo de produção em todos os estágios. Era da garantia da qualidade Conforme Marshall Junior et al.4: por volta do final da II Guerra Mundial, a qualidade já conquistara seu lugar e passou a ser uma disciplina bem aceita no ambiente organizacional, com técnicas específicas e resultados efetivos, com profissionais especializados e bem caracterizados na especialidade, basicamente esta era consagrou-se por: • Abordar a qualidade desde a fase do projeto de desenvolvimento do produto, incluindo os aspectos funcionais e atributos de desempenho; • Envolver todos os funcionários, de todos os níveis hierárquicos, assim como fornecedores e clientes, nos processos de melhoria da 13 qualidade, objetivando o comprometimento e a confiança recíproca e por; • Manter e aperfeiçoar as técnicas clássicas da qualidade. Ainda segundo esse autor, a garantia da qualidade foi um importante fator no processo de amadurecimento do conceito qualidade. Em síntese, a era da garantia da qualidade segundo Campos5 foi marcada pela valorização do planejamento e coordenação dos processos, o estabelecimento de padrões e técnicas estatísticas em busca da qualidade. Com a contribuição dos fundamentos de outros mestres da qualidade, como Feigenbaum e Juran, a função especialista da qualidade passou a ser mais do que ter conhecimento estatístico: surgiu então a definição do que chamamos de engenheiros da qualidade, aos quais atribuía-se funções não só técnicas, mas também gerenciais. Era da qualidade total A era da qualidade total passa a acumular a preocupação com inspeção, controles estatísticos de processo e atendimento às necessidades do cliente, que passa a ser o papel principal dentro da razão de existência das organizações, de maneira que seus requisitos transformam-se em regras e critérios dentro dos objetivos destas. Uma das características mais relevantes desta era é a de que a organização direciona seus esforços para garantir a qualidade dos produtos, serviços, funcionários e processos de sua responsabilidade. Segundo Barçante6, após a era da garantia da qualidade, o conceito começa a ganhar uma nova forma, evoluindo em termos de estrutura e estratégias, cujos processos passam a ser geridos de forma sistêmica, de tal modo que os inter-relacionamentos e interdependências sejam considerados entre todos os níveis da empresa, e recebendo a denominação de era da qualidade total. Durante a evolução da qualidade, muitos programas foram desenvolvidos e incorporados nos processos visando à busca incessante da melhoria contínua, como, por exemplo, o Programa Zero de Defeito de Crosby . Ainda segundo o mesmo autor7, para aperfeiçoar técnicas de confiabilidade, foi necessário aprofundar os estudos das teorias de probabilidade e de estatística . Essas técnicas estudadas por ele têm por objetivo evitar que ocorram falhas do produto ao longo do seu ciclo de vida útil. As indústrias foram pioneiras nessa abordagem preventiva, desenvolvendo técnicasbaseadas na detecção de falhas e na análise do quanto essas falhas poderiam impactar no produto ou processo. Essa prévia ocorre por meio de uma ferramenta que foi denominada Análise de Efeito e Modo de Falha (FEMEA), a qual avalia preventivamente todas as possibilidades de um componente de sistema vir a falhar durante o uso, através de procedimentos e técnicas que detectem o problema 14 antes que ele ocorra e da elaboração de ações para eliminar as causas de falha, os quais buscam garantir efetivamente a sua qualidade de processamento e aplicação. A Figura 1 evidencia a evolução das quatro eras da qualidade: Figura 1 – Interação das eras da qualidade Fonte: Adaptado de Barçante, 1998. No Brasil, segundo Figueira e Ramalho8, os sistemas de garantia da qualidade começaram a ser implementados a partir das filiais das empresas multinacionais, como forma de unificação dos respectivos processos de gestão pela busca da competitividade. Duas medidas governamentais estimularam o desenvolvimento dos programas de qualidade das empresas brasileiras: a sanção do código de defesa do consumidor, instrumentalizando e dando poder ao consumidor para exigir a garantia da qualidade dos produtos e serviços, e o lançamento do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP). Este capítulo visou oferecer ao leitor um melhor entendimento sobre a essência de história da qualidade e como esta evoluiu ao longo dos anos, referenciando alguns conceitos e pensamentos de autores que contribuíram com as primeiras técnicas e fundamentos que originaram a criação de algumas abordagens distintas, as quais estudaremos no próximo capítulo. 15 Atividades 1. Como vem sendo explicada a evolução da história da qualidade ao longo dos anos? 2. Historicamente falando, em quais países a qualidade se difundiu rapidamente? 3. Fale resumidamente sobre como foi o processo de evolução da qualidade em cada período. 4. Explique como foram caracterizadas a primeira e a segunda era da qualdiade. 5. Explique como foram caracterizadas a terceira e a última era da qualidade. 16 Marie Cristine Fortes Rocha Capítulo 2 – CONCEITOS E ABORDAGENS DA QUALIDADE A qualidade basicamente depende da percepção de cada indivíduo. O que tem qualidade para uns, pode não atender às necessidades de outros. Dessa forma, o primeiro conceito a ser entendido é o de que a noção de qualidade depende da visão e da necessidade de cada pessoa. Segundo Caravantes1, as definições da palavra qualidade incluem certas palavras-chave que requerem, elas próprias, definições: • Produto: é a saída de qualquer processo. Consiste, principalmente, em bens, software e serviços. Característica do produto: uma característica de produto é uma prioridade de um produto que visa atender a certas necessidades dos clientes e, dessa maneira, prover satisfação ao cliente. • Cliente: é qualquer um que recebe ou é afetado pelo produto. É propriedade do produto que visa atender a certas necessidades dos clientes e, dessa maneira, prover satisfação deste. • Satisfação com o produto e satisfação do cliente: atinge-se a satisfação com o produto quando suas características correspondem às necessidades do cliente. • Deficiências: é a falta de um item ou aspecto que resulta na insatisfação com o produto. Segundo Bonato2, o conceito de qualidade é relativo, pois está centrado na necessidade de quem avalia. O produto ou serviço passa a ser de qualidade se atender aquilo que se espera dele. Logo, qualidade é aquilo que o cliente diz que é qualidade. O contexto qualidade depende do contexto que é aplicado, podendo se considerar diversas percepções em relação à ela, em face da subjetividade e da complexidade. Segundo Almeida3, qualidade é cumprir o especificado. Entende-se por especificado aquilo que é o certo, o que o cliente espera. A qualidade é feita de itens como seriedade, perseverança, treinamento, participação de todos e respeito. Qualidade não é, por exemplo, encantar o cliente com brindes para compensar erros; é fazer o certo já da primeira vez e sempre. Esse processo exige persistência, pois a busca da qualidade deve ser uma constante nas empresas. À medida que essa cultura se solidifica, os resultados aparecem, o que motiva os funcionários a continuarem a busca pela melhoria contínua. Gil4 conceitua qualidade com a seguinte frase: A qualidade nas organizações é interpretada como um fator necessário aos processos e resultados empresariais, os quais, para serem consubstanciados, necessitam da caracterização dos recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros vigentes ou existentes nos diversos ambientes da entidade. 17 O conceito da qualidade total é uma generalização relevante do conceito da qualidade, principalmente porque atuou em duas dimensões simultaneamente: a externa e a interna. Essa ampliação do conceito fica mais bem caracterizada com a noção de melhoria contínua, a qual dá ideia da componente evolutiva que identifica o esforço pela qualidade. Para Paladini5, as abordagens que geraram uma visão mais generalista da qualidade enquanto “adequação ao uso” guardam relação direta com a noção de multiplicidade, o que leva o consumidor a ter não apenas uma , mas várias razões para decidir adquirir um produto ou utilizar um serviço. As abordagens de Garvin6 reforçam a ideia de que o conceito da qualidade é dinâmico, pois as razões que determinam a seleção de um produto pelo consumidor alteram-se continuamente. Em seu trabalho, esse autor fixou cinco abordagens básicas, as quais estão voltadas: ao processo, ao produto, ao valor, à transcendência e ao usuário. O conceito qualidade vai mudando ao longo do tempo e, assim, a organização também vai criando novas diretrizes de operação. Dessa forma, as abordagens conceituais da qualidade passam a ser vistas como etapas pelas quais a empresa passa no esforço de diferenciar-se, criando, para bens e serviços produzidos, consistência no mercado. 2.1 Dimensões da qualidade Segundo Bonato7, para entregar ao nosso cliente o produto que ele deseja, é preciso controlar a sua qualidade. Esse controle se faz por meio de medidas. Nesse contexto, a pergunta a ser respondida é: O que vai se medir para controlar a qualidade do produto? A resposta a essa pergunta está no conceito de qualidade total, que estabelece cinco dimensões para qualidade: 1. Qualidade Intrínseca – Características específicas do produto, que definem a sua adequação à necessidade do cliente. 2. Custo – Refere-se ao custo operacional para produzir o produto. A dimensão econômica é fundamental para o cliente, que tem prioridades a considerar. O custo é componente gerencial de preço e, portanto, se torna uma dimensão significativa. 3 – Entrega – Significa entregar ao cliente a quantidade certa, no local certo e na hora certa. O tempo é uma grande dimensão da qualidade. No entanto, caso de serviços prestados na empresa do cliente, esta dimensão engloba o tempo de espera na fila, o tempo de serviço propriamente dito, enfim, a qualidade do atendimento. 4 – Segurança – O cliente e a equipe de trabalho devem se sentir seguros ao utilizar os produtos, ou seja, o produto não deve causar danos físicos ao usuário. O conceito moderno de segurança abrange, inclusive, o respeito a natureza, o combate a qualquer forma de depredação dos 18 recursos naturais, assim o conceito segurança liga-se ao de confiança e exatidão. 5 – Moral – O gerente sabe que o produto a ser entregue ao cliente é aquele produzido por sua equipe; portanto, se ele deseja um produto de qualidade, deverá promover um ambiente de qualidade, que é a única forma de assegurar a satisfação de todos os clientes.8 Todos os produtos têm essas dimensões, mas como qualidadeé um conceito relativo, algumas delas terão maior relevância que outras, dependendo do processo e do cliente. Assim, o que vamos medir para controlar a qualidade do produto são as dimensões mais importantes sob a ótica do cliente9. As dimensões da qualidade foram classificadas por meio de diferentes características, oferecendo uma visão ampla sobre as principais variáveis que devem ser consideradas na medição da qualidade do produto fornecido. 2.2 Abordagens da qualidade Embora já tenhamos identificado as diferentes características das dimensões da qualidade, é importante analisarmos os aspectos de qualidade sob diversos pontos de vista, Por meio da definição dos tipos de abordagens, é possível identificar que fator pode estar interagindo com a qualidade do produto, processo ou serviço. 2.2.1 Abordagem centrada para o processo Segundo Paladini10, o que determina a aquisição de um produto é a confiança que o consumidor tem no processo produtivo que o gerou. O consumidor entende como o produto é feito, conhece o processo, sabe que ele é confiável e, por isso, resolve adquiri-lo. Essa abordagem prioriza o processo produtivo e os aspectos a ele relacionados, como atendimento a especificações básicas, normas operacionais, requisitos legais ou contratuais. O princípio que norteia essa abordagem é simples: “se o processo de produção não pode desenvolver um produto conforme suas especificações, automaticamente a qualidade estará comprometida.”11 2.2.2 Abordagem centrada no produto Esta abordagem caracteriza o primeiro movimento do consumidor em direção à seleção do que vai adquirir, pois nesse momento ele se guia pelas características que vê no produto em si. Para Crosby, citado por Marshall et al., “qualidade, quer dizer, conformidade com as exigências”12 e, ainda, é “o grau em que o produto específico está de acordo com o projeto ou especificação”13. 19 Para Paladini14, a abordagem centra-se na ideia segundo a qual, em um primeiro momento, o consumidor avalia o produto pelas características que ele apresenta. A seguir, começa a compará- lo com artigos similares. Assim, em termos operacionais, a abordagem viabiliza-se pelo esforço das organizações em diferenciar seus produtos, criando características que os tornam “melhores” que os demais. Como melhor é um termo relativo, devemos defini-lo: um produto “melhor” tem características que o consumidor acha mais relevantes, bonitas, úteis, práticas etc. que o concorrente. 2.2.3 Abordagem centrada no valor De acordo com Paladini15, inicialmente essa abordagem considera o valor financeiro, mas, logo em seguida, começa a levar em conta valores dos mais diferentes tipos: culturais, éticos, morais, locais, sentimentais, determinados pela estima, pela consideração ou, ainda, decorrentes da importância, do interesse, do mérito, da validade que o consumidor confere ao produto. Dessa forma, a noção da qualidade “passa a ser associada a baixo preço, visto como oportunidade de aquisição, ou a preço elevado, visto como status.”16 Pode também envolver, valores afetivos ou sentimentais ou, ainda, valores morais como, por exemplo, um consumidor que se nega a adquirir um quadro que mostra uma pessoa fumando, o que, segundo ele, pode motivar hábitos inadequados. Ainda segundo o mesmo autor, dentro desta abordagem existe um comportamento do consumidor em que é evidente que o preço determina a escolha do produto. De fato, é comum o consumidor investir em produtos cujo preço ele chama de razoável: não tão barato que pareça falsificação, nem tão caro que pareça muito sofisticado para o uso esperado. Atuar nessas faixas intermediárias é uma estratégia de lojas de departamento. Marshall Junior et al.17 salientam que a qualidade é baseada no “grau de excelência, levando em consideração o preço adequado e o controle da variabilidade a um custo aceitável”. Qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Essas condições são: a) o verdadeiro uso; b) o preço de venda do produto18. 20 2.2.4 Abordagem transcendental Essa abordagem esclarece claramente que a qualidade vai muito além da fabricação do produto ou fornecimento do serviço. Para Paladini19, a relação do consumidor com o bem ou o serviço está centrada em elementos que não estão presentes no produto, nem na forma como foi produzido. O consumidor adquire um produto porque tem identificação com a marca. De forma mais ampla, esta abordagem consolida as marcas que são de tal modo conhecidas, que o nome do produto confunde-se com a própria marca, determinando ações que, embora pareçam especificamente dirigidas a certo produto, são gerais. Exemplo: Tomar uma Brahma, tirar um xérox, fazer a barba com “gillete”. Estas marcas, assim surgem como referencial para todos os produtos similares. E fixam-se na mente do consumidor, como as mais representativas entre os produtos similares. A abordagem transcendental “é uma condição de excelência que implica ótima qualidade distinta de má qualidade. Qualidade é atingir ou buscar o padrão mais alto em vez de se contentar com o malfeito ou fraudulento.”20 Assim, “Qualidade não é uma ideia ou uma coisa concreta, mas uma terceira entidade independente das duas [...] embora não se possa definir qualidade, sabe-se o que ela é”21. 2.2.5 Abordagem centrada no usuário Conforme Paladini22, essa abordagem estabelece uma hierarquia nas ações do consumidor, embora todas tenham uma mesma raiz. A primeira razão que determina a aquisição de um produto é o atendimento a uma necessidade. A seguir, vêm outras razões, associadas às questões de prioridades, oportunidades, conveniências, utilidade, seleção entre algumas opções para o momento ou para o futuro, maior proveito, preferências, vantagens, benefícios imediatos (ou não), gostos, desejos etc. Movida por estes ou quaisquer outros motivos, a compra é realizada. Ainda segundo o autor, surgem, então, três novas situações: 1- O consumidor fica insatisfeito com o produto e deixa de comprá-lo no futuro. 2- O consumidor fica satisfeito com o produto, e pode ser que volte a comparar outro da mesma marca (ou não). 3- O produto supera as expectativas do consumidor e, por isso, ele voltará a comprar outros da mesma marca. Paladini23 considera que somente essa terceira opção pode determinar a fidelidade do consumidor e, por essa razão, as empresas que investem nessa direção são as únicas que se posicionam estrategicamente, com ações que apontam para a sobrevivência da organização. 21 Para Edwars, citado por Marshall Junior et al.24, “Qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos”. Assim, “Na análise final de mercado a qualidade de um produto depende de até que ponto ele se ajusta aos padrões das preferências do consumidor.”25. Reforçando essa linha de raciocínio: “Qualidade é a adequação ao uso”26. Segundo Garvin, citado por Marshall Junior et al.27: O conceito qualidade pode ser desdobrado em elementos básicos, como os elencados a seguir: * Desempenho – refere-se às características operacionais básicas do produto. *Características – são as funções secundárias do produto, que suplementam seu funcionamento básico; * Confiabilidade – reflete a probabilidade de mau funcionamento de um produto; * Conformidade – refere-se ao grau em que o projeto e as características operacionais de um produto estão de acordo com padrões preestabelecidos; * Durabilidade – refere-se à vida útil de um produto, considerando suas dimensões econômicas e técnicas; * Atendimento – refere-se à rapidez, cortesia, facilidade de reparo ou substituição; * Estética – refere-se ao julgamento pessoal e ao reflexo das preferências individuais; * Qualidade Percebida – refere-se à opinião subjetiva do usuárioacerca do produto. Dessa forma, podemos perceber que o conceito e as abordagens da qualidade servem como direcionadores para que as organizações possam definir os métodos e as técnicas (fundamentadas e desenvolvidas pelos grandes mestres ou gurus da qualidade) mais adequadas para os seus respectivos processos. Atividades: 1. Segundo Caravantes (2005), quais são as palavras-chave que melhor caracterizam a qualidade e suas respectivas definições? 2. Quais foram as cinco abordagens da qualidade definidas para Garvin (2006)? 3. Cite e explique as cinco dimensões da qualidade, segundo Bonato (2008). 4. Explique a abordagem centrada no processo e no produto. 5. Explique a abordagem centrada no usuário. 22 Marie Cristine Fortes Rocha Capítulo 3 – OS MESTRES (GURUS) DA QUALIDADE As contribuições de Juran, Deming, Crosby, Feigenbaum e Ishikawa (entre outros mestres da qualidade que revolucionaram o mundo dos negócios contribuindo com técnicas e metodologias de qualidade para organizações) integram um seleto grupo de especialistas da área de gerenciamento, considerados os maiores gurus ou mestres da qualidade em nível mundial. Segundo Marshall Junior et al.1,“Juran e Deming foram os dois principais responsáveis pelo movimento da qualidade no Japão. Os Japoneses os consideram os inspiradores do milagre industrial de seu país, iniciado na década de 1950. Os norte-americanos só lhes deram o devido valor nos anos 1980.” A melhoria da qualidade nos processos produtivos desencadeia a diminuição de custos envolvidos com a produção de bens e serviços. Essas melhorias foram possíveis através das técnicas, desenvolvidas e utilizadas na indústria japonesa e americana, que foram evoluindo ao longo do tempo em busca do controle de qualidade. Para aplicação das teorias e práticas de qualidade, foi preciso que o Japão e a América do Norte adaptassem as suas respectivas culturas a esse novo padrão de conduta, o qual exigia uma postura mais técnica e o desenvolvimento de ferramentas, estatísticas e controles de processo em prol da qualidade dos produtos e serviços Segundo Marshall Junior et al2: do lado norte-americano, Philip Crosby contribuiu com sua teoria do zero defeito e Armand Feigenbaum foi o grande impulsionador do conceito de controle da qualidade total. Do lado Japonês, Kaoru Ishikawa e Genichi Taguchi são dois nomes importantes. Ishikawa foi o responsável pela adaptação da cultura japonesa aos ensinamentos de Deming e Juran, também criando as sete ferramentas do controle estatístico da qualidade. Foi ainda o grande inspirador dos círculos de controle da qualidade (CCQ). Taguchi deu forte impulso à produção do design industrial, que marcou a segunda onda do movimento da qualidade no Japão após a primeira fase, assentada no controle estatístico. Os grandes mestres da qualidade definem o conceito de qualidade dentro de seus respectivos princípios, conforme Quadro 2: 23 Quadro 2 – Os grandes mestres e seus respectivos conceitos sobre a qualidade. Mestres O conceito na visão de cada mestre Garvin Qualidade existe há muito tempo, mas recentemente emergiu como forma de gestão. Essa nova abordagem é resultante de um processo evolutivo e vem passando novamente por uma evolução considerável nas organizações do primeiro mundo. Juran Qualidade é fitness for use (adequação ao uso), ou seja, o usuário de um produto ou serviço pode contar com ele para desempenhar o que lhe foi determinado. Essa definição aponta para duas direções: atendimento às características do produto e ausência de deficiência nos processos. Moller Concebe a qualidade como integrada por dois fatores: a qualidade técnica e a qualidade humana. A qualidade técnica: visa satisfazer às exigências e às expectativas concretas, como, por exemplo, tempo, qualidade, finanças, taxa de defeitos, função, durabilidade, segurança, garantia. A qualidade humana, por sua vez, visa satisfazer às expectativas e desejos emocionais, como lealdade, comprometimento, consistência, comportamento, credibilidade, atitudes, atenção. É importante ressaltar que os conceitos de "qualidade técnica" e de "qualidade humana" são complementares. Teboul A qualidade é, antes de mais nada, a conformidade às especificações. É, ainda, a resposta ajustada à utilização que se tem em mente, na hora da compra e também a longo prazo. Mas é também aquele algo mais de sedução e de excelência, mais próximo do desejo que da qualidade. A qualidade é a capacidade de satisfazer as necessidades tanto na hora da compra, quanto durante a utilização, ao melhor custo possível, minimizando perdas e fazendo melhor do que os concorrentes. Ishikawa A gestão da qualidade consiste em desenvolver, criar e fabricar mercadorias mais econômicas, úteis e satisfatórias para o comprador. Administrar a qualidade é também administrar preço, custo, preço venda e lucro. Taguchi A qualidade consiste em minimizar as perdas causadas pelo produto não apenas ao cliente, mas à sociedade a longo prazo. Crosby Qualidade quer dizer conformidade com as exigências. 24 Feigenbaum Julga que a qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Essas condições são: a) o verdadeiro uso e b) o preço de venda do produto, a satisfação completa do cliente Lee Qualidade é mais do que um modelo de gestão, é uma filosofia e terá um impacto maior que qualquer outro movimento na economia global deste século. Baker Afirma que o paradigma da qualidade é essencial à excelência e que, na virada do século, já era necessária até para se manter no mercado Fonte: Adaptado de Caravantes et al., 2007, p. 239. 3.1 Alguns mestres e suas respectivas contribuições para qualidade As principais linhas de pensamento da qualidade foram elaboradas pelos grandes mestres já mencionados: Deming, Juran., Crosby, Feigenbaum, Taguchi e Ishikawa. Algumas considerações sobre esses principais estudiosos do conceito qualidade serão vistas a seguir. W. Edwards Deming Segundo Brocka e Brocka3, W. Edwards Deming nasceu em 14 de outubro de 1900 na cidade de Sioux, Iowa. Logo após, sua família se mudou para Powell, Wyoming. Deming graduou-se com o bacharelado em Física, pela Universidade de Wyoming, em 1921, e com o título de doutor em Física Matemática por Yale em 1928. Trabalhou para o bureau do censo americano durante e após a 2ª Guerra Mundial. Em 1950, Deming foi ao Japão ajudar no censo japonês e fez conferências aos líderes empresarias sobre Controle Estatístico da Qualidade. O executivo deve compreender, através dos fundamentos de Deming, que o mais importante na gestão da qualidade é fazer com que os colaboradores trabalhem melhor, e não mais. Com isso a qualidade do processo que determina o produto passa a ser mais importante do que a quantidade de volumes produzidos. Segundo Bonato4 O sistema empresarial norte-americano foi criticado por Deming por não apostar na participação dos trabalhadores no processo de decisão. Ele argumenta que os gestores são responsáveis por 94% dos problemas de qualidade. O seu principal papel é remover as barreiras na empresa que impedem a realização de um bom trabalho. “Os executivos devem fazer os outros trabalharem melhor, e não apenas mais” é uma de suas frases famosas. 25 Para Marshall Junior et al.5, os 14 pontos de Deming para a melhoria da qualidade tornaram-se uma referência universal no ensino e na prática da qualidade. São eles: 1. Criar uma constância de propósitos para a melhoria dos produtos e serviços. Uma visão organizacional deve guiar a cultura corporativa e fornecer uma meta para a organização. Tal visão equipa a organização com uma perspectiva de longo prazo. Meça o compromisso do gerenciamentoe os marcos de excelência da situação da organização em relação às outras. 2. Adotar uma nova filosofia. O gerenciamento do ocidente deve despertar para o desafio e assumir um novo papel de liderança. A Revolução na Qualidade é a mesma na economia de importação como na Revolução Industrial. Ela é concomitante com a globalização da economia. 3. Acabar com a dependência da inspeção para alcançar a qualidade. Introduza modernas ferramentas de qualidade, como controle estatístico de processo, operações revolucionárias, projetos de experimentos e o desdobramento da função qualidade. A inspeção somente mede um problema, e não permite qualquer correção dele. Frequentemente se diz que ninguém pode inspecionar em qualidade. 4. Acabar com a prática de negócio compensador baseado apenas no preço. Em vez disso, minimizar o custo total. Insistir na idéia de um único fornecedor para cada item, desenvolvendo relacionamentos duradouros, calcados na qualidade e na confiança. 5. Aperfeiçoar constantemente e continuamente todo o processo de planejamento, produção e serviço, com o objetivo de aumentar a qualidade e a produtividade e, consequentemente, reduzir os custos. 6. Fornecer treinamento no local de trabalho. 7. Adotar e estabelecer liderança. O objetivo da liderança é ajudar as pessoas a realizar um trabalho melhor. Assim como a liderança dos trabalhadores, a liderança empresarial necessita de uma completa reformulação. 8. Eliminar o medo. 9. Quebrar barreiras entre departamentos. Os colaboradores dos setores de pesquisa, projetos, vendas, compras ou produção devem trabalhar em equipe, tornando-se capazes de antecipar problemas que possam surgir durante a produção ou durante a utilização dos produtos ou serviços. 10. Eliminar slogans, exortações e metas dirigidas aos empregados. 26 11. Eliminar padrões artificiais (cotas numéricas) para o chão de fábrica, a administração por objetivos (APO) e a administração através de números e metas numéricas. 12. Remover barreiras que despojem as pessoas de orgulho no trabalho. A atenção dos supervisores deve voltar-se para a qualidade e não para números. Remover as barreiras que usurpam dos colaboradores das áreas administrativas e de planejamento/engenharia o justo direito de orgulhar-se do produto de seu trabalho. Isso significa a abolição das avaliações de desempenho ou de méritos e da administração por objetivos ou por números. 13. Estabelecer um programa rigoroso de educação e autoaperfeiçoamento para todo o pessoal. 14. Colocar todos da empresas para trabalhar de modo a realizar a transformação. A transformação é tarefa de todos. Philip B. Crosby Philip B. Crosby nasceu em 1926 em Wheeling, Oeste da Virgínia. Crosby graduou-se em ortopedia (profissão de seu pai), mas decidiu não seguir carreira nessa área. Em 1952, tornou-se engenheiro na área de confiabilidade na Crosley Corporation, em Richmond, Indiana. Posteriormente, de 1957 a 1965, trabalhou na Martin Corporation. Foi encarregado da qualidade no projeto do míssil Pershing e, de 1965 a 1979, foi diretor (status de vice-presidente) da Qualidadena ITT. Em 1979, fundou a Philip Crosby Associates (PCA) em Winter Park, Flórida. Em 1991, retirou-se da PCA e foi para a Career IV, Inc. auxiliar na formação de executivos. Segundo Brocka e Brocka6, Crosby contribui com a melhoria da qualidade através da definição dos seus 14 passos, que são os seguintes: 1. Esteja certo de que o gerenciamento está comprometido com a qualidade 2. Forme equipes de melhorias da qualidade com representantes de cada departamento. 3. Determine como medir onde os problemas correntes e potenciais com a qualidade se assentam. 4. Avalie o custo da qualidade e explane a sua utilização como uma ferramenta de gerenciamento. 5. Faça seguir as advertências a respeito da qualidade e o interesse pessoal de todos os empregados. 6. Efetive ações formais para corrigir problemas identificados por meios dos passos anteriores. 7. Estabeleça um comitê para o programa de zero defeito. 27 8. Treine todos os empregados para carregarem ativamente as suas partes no programa de qualidade. 9. Estabeleça um dia do zero defeito para permitir que todos os empregados realizem o que tem sido uma mudança. 10. Encoraje as pessoas a estabecerem metas de melhorias para si mesmas e para seus grupos. 11. Encoraje os empregados a comunicar à gerência os obstáculos encontrados em face dos objetos de melhoria. 12. Reconheça e dê apreço a quem participe 13. Estabeleça um conselho de qualidade para comunicação sobre uma base regular. 14. Faça tudo normalmente para enfatizar que o programa de melhoria de qualidade nunca termine. Segundo Marshall Juniot et al.7, Crosby considera as técnicas não preventivas, como inspeção, teste e controle da qualidade, pouco eficazes.Tal como Deming, ele também definiu os 14 passos citados para a melhoria da qualidade, os quais são encarados como um processo e não como um programa, e devem ser perseguidos de modo permanente. Armand Vallin Feigenbaum Feigenbaum contribuiu de forma relevante para tornar os conceitos de qualidade em estratégias de negócio. Com sua visão apurada para a aplicabilidade das técnicas de qualidade, buscou lapidar as metodologias e atitudes corporativas em busca da gestão e do comprometimento com a excelência dos processos, visando um melhor desempenho para a organização e a obtenção de um padrão que qualidade orientada ao cliente. Segundo Marshall Junior et al.8: Feigenbaum foi um dos formuladores do conceito de “controle da qualidade total” – TQC. De acordo com a sua abordagem, qualidade é um instrumento estratégico pelo qual todos os trabalhadores devem ser responsáveis. Mais do que uma técnica de eliminação de defeitos nas operações industriais, qualidade é uma filosofia de gestão e um compromisso com a excelência. Volta-se para fora da empresa e tem por base a orientação para o cliente. A premissa básica do TQC é que a qualidade está ligada a todas as funções e atividades da organização e não apenas à fabricação e à engenharia. Feigenbaum é reconhecido como pioneiro no estudo dos custos da qualidade. Ainda segundo autor, o comprometimento positivo com a qualidade é fundamental para os programas de TQC. As formas de desenvolver e de atingir esse comprometimento dependem da 28 cultura, da história, da política, dos recursos e da personalidade da empresa. Mas é fundamental que o comprometimento ocorra a partir da alta administração. Joseph M. Juran De acordo com Marshall Junior et al.9, Juran foi pioneiro na aplicação dos conceitos de qualidade nas estratégias de negócios da empresa, no lugar de meramente ficar associando-a somente aos controles e aos métodos da qualidade para os processos. A gestão da qualidade divide-se em três pontos fundamentais, denominados Trilogia Juran. São eles: • Planejamento. • Controle. • Melhoria. Para Juran, o processo de negócio é a maior e mais negligenciada oportunidade de melhoria. Uma parcela expressiva dos problemas de qualidade é causada por processos de gestão. Juran considera a melhoria da qualidade a principal prioridade do gestor, e o planejamento a segunda, esforço que deve contar com a participação das pessoas que irão implementá-lo. Na sua visão, separar planejamento e execução é uma noção obsoleta, que remonta aos tempos de Taylor. A terceira prioridade consiste em promover o controle da qualidade. Juran aconselha a sua delegação aos níveis operacionais da empresa. Devido à crescente qualificação dos trabalhadores ele acredita em equipes autogerenciadas.10 Kaoru Ishikawa Conhecido como o pai do Controle Total da Qualidade (TQC) japonês, Ishikawa enfatizou os aspectos humanos e a implementação dos Círculosde Controle da Qualidade (CCQ). De acordo com Marshall Junior et al.11, cada elemento da empresa tem que estudar, praticar e participar do controle da qualidade. O TQC enseja que, com a participação de todos os colaboradores, incluindo o presidente, qualquer empresa ofereça produtos (ou serviços) melhores a um custo mais baixo, aumente as vendas, melhore os lucros e se transforme em uma organização melhor. Genichi Taguchi O Mestre Taguchi desenvolveu bastante a questão da eliminação de desperdícios durante todo o processo de produção – desde o projeto até a destinação final. O planejamento de todo o desenvolvimento e aplicação do produto começa obedecer a padrões de qualidade que estabeleçam 29 controles que possam ser monitorados durante o processo, para garantir a boa qualidade do produto ou o serviço final oferecido ao consumidor. Segundo Marshall Junior et al.12, a filosofia de Taguchi, por seu turno, abrange todo ciclo de produção, desde o design até a transformação em produto acabado. Ele define a qualidade em função das perdas geradas pelo produto para a sociedade. Essas perdas podem se estimadas em função do tempo, que compreende a fase de expedição de um produto até o final de sua vida útil. Para Taguchi, o segredo para que se consiga reduzir os desperdícios não está na conformidade com as especificações, mas na redução da variabilidade estatística em relação aos objetivos fixados. Desta forma o processo de design e fabricação são fatores fundamentais para garantir a qualidade e reduzir os custos relacionados a cada produto. Dessa forma, a qualidade passa a ser vista não mais como um produto ou atividade isolada, mas como um processo que apresenta elementos de entrada, transformação e saída, e que ainda pode ser monitorada, após a venda dos produtos, através das atividades de pós-vendas, como assistência técnica por exemplo. Masaaki Imai Para Marshall Junior et al.13, o mestre Masaaki Imai definiu que o melhoramento contínuo depende de uma profunda transformação na mentalidade, na filosofia, nos métodos e nos objetivos das empresas, pois, para ele, o melhoramento contínuo é a chave do sucesso competitivo japonês. Os mestres da qualidade contribuíram com o processo da qualidade total, cada um trazendo a sua respectiva contribuição. Para melhor entendermos como foi a construção desse processo, segue o modelo representado na Figura 2, que demonstra todos os seus elementos. 30 Figura 2 – Componentes da qualidade total Fonte: Campos, 2004. As dimensões da qualidade servem para ajudar no controle desta, por meio de medidas que podem ser facilmente identificadas e quantificadas. Dessa forma, fica mais fácil satisfazer as necessidades dos clientes quando eles apontam as dimensões de maior relevância para o atendimento de suas expectativas. Atividades 1. Quais foram os principais mestres responsáveis pelo movimento da qualidade no Japão. 2. Resuma, em tópicos, quais foram os 14 princípios da qualidade segundo Deming. 3. Quais foram os 14 pontos de Crosby, identificados para a melhoria da qualidade? 4. Quais são os três pontos fundamentais da Trilogia de Juran? 5. Qual a contribuição dos mestres para a história da evolução da qualidade? 31 Marie Cristine Fortes Rocha Capítulo 4– FERRAMENTAS, METODOLOGIAS E PROGRAMAS DA QUALIDADE Segundo Pimentel1, a história da origem e evolução dos métodos e ferramentas da qualidade encontradas até hoje nas bibliografias da área administrativa/organizacional e descritas por Taylor, Fayol, Mayo, Maslow, McGregor, Herzberg, entre outros autores da época – verdadeiros missionários da qualidade – se propagam até os dias atuais, evidenciadas pela prática da qualidade dentro das organizações. Muitas obras desses autores percorreram o mundo com a finalidade de nortear as organizações sobre quais seriam os melhores métodos de gestão da qualidade. Cabe-nos salientar que a inovação do processo de gestão da qualidade se deu devido à incansável crítica e às pesquisas realizadas por especialistas da área da qualidade e das diversas Teorias Administrativas estudadas na ciência da Administração. Vejamos, a seguir, as ferramentas utilizadas nos processos de gestão da qualidade que foram se reestruturando, principalmente a partir de 1950, com base em conceitos e práticas desenvolvidos pelos grandes mestres no Japão e na América do Norte. 4.1 Brainstorming Ferramenta consiste em grupos formados entre cinco e doze pessoas, cujas ideias são lançadas por todos em uma atmosfera de descontração, porém com foco. Essa ferramenta auxilia na formação de equipes, incentiva a criatividade livre e coloca em evidência a questão de lidar com as diferenças entre colegas. Sua aplicação é resumida em três fases: apresentação clara do assunto, geração e registro das ideias e, por fim, a seleção destas. Segundo Brocka e Brocka2, o Brainstorming existe desde 1928 e foi criado por Walt Disney, cuja técnica continuou sendo usada e auxiliou diretamente no planejamento do Walt Disney World. Essa é uma ferramenta de grupo na qual as ideias são geradas livremente e a criatividade não é impedida, por exemplo, pelo medo das críticas. As ideias são lançadas de forma livre, mas com o enfoque necessário. Um profissional qualificado com o conhecimento da ferramenta e do comportamento humano deve participar, mas não influenciar nas ideias geradas; deverá apenas garantir a ausência das críticas e o clima de paz entre os participantes, não considerando nem mesmo as diferenças hierárquicas. O Brainstorming por si só não garante a solução do problema apresentado, mas várias opções para esse objetivo. Deve-se usar outra ferramenta para determinar qual é a melhor opção. 32 4.2 Histograma A finalidade do histograma é mostrar e entender como um conjunto de dados se distribui, demonstrando a variabilidade de um processo. Para Marshall Junior et al.3, O histograma pode ser representado por um gráfico de barras que associa os valores de uma característica da qualidade, divididos em pequenos intervalos, com a frequência com que ocorreram na amostra. Este gráfico representa a distribuição de frequência dos dados. O objetivo é resumir um grande conjunto de dados, ressaltando suas características globais, tais como faixa de valores observados, dispersão ou forma de variação Podemos encontrar vários tipos de histograma, como os representado nos gráficos a seguir: Gráfico 1– Tipo geral etc. (diagramador, por favor, verifique comigo ao diagramar estes gráficos, separar um por um... vai do nº1 ao nº6. Fonte: Marshall Junior et al., 2006. O histograma representa, também, a distribuição dos resultados coletados em uma amostra. A curva sobreposta sobre o histograma representa a distribuição de todos os resultados do processo. 33 Quando ela apresenta um formato de sino, é denominada de distribuição normal, também chamada de curva de Gauss, ilustrada no Gráfico 7: Gráfico 7 – Distribuição normal Fonte: Marshall Junior et al., 2006. 4.3 Folhas de verificação Conforme manual do Sebrae4, as folhas de verificação são tabelas ou planilhas usadas para facilitar a coleta e análise de dados, cuja utilização economiza tempo, elimina o trabalho de se desenhar figuras ou escrever números repetitivos e evita o comprometimento da análise dos dados, (Tabela 1). É uma das sete ferramentas básicas da qualidade, representada por uma espécie de lista de itens pré-estabelecidos que serão marcados a partir do momento que forem realizados ou avaliados. Tabela 1 – Modelo de aplicação da folha de verificação Fonte: Marshall Junior et al., 2006. 34 4.4Cartas de controle “É um tipo específico de gráfico de controle de dados ao longo do tempo, que serve para acompanhar a variabilidade de um processo, identificando as causas comuns e especiais”5. As causas comuns estão ligadas ao funcionamento da rotina do sistema de trabalho, enquanto as causas especiais estão relacionadas às falhas não previstas no processo (Gráfico 8). Gráfico 8 – Exemplo de uma carta de controle Fonte: Marshall Juniot et al., 2006. 4.5 5W2H O 5w2h ajuda a empresa a organizar suas ações e a definir os respectivos responsáveis e recursos que devem estar disponíveis para que ela consiga a efetiva conclusão de suas ações. O 5w2h, confome exemplo do Quadro 3, representa as iniciais das seguintes palavras em inglês: why (por que), what (o quê), where (onde), when (quando), who (quem), how (como) e how much (quanto custa). Surgiu no mercado uma variação dessa ferramenta, que passou a se chamar 5w3h, correspondendo o terceiro H à how many (quantos).6 35 Quadro 3 – Modelo de 5w2h Fonte: Marshall Junior et al., 2006. Nesse plano, todos os detalhes da estratégia são analisados para que os erros que normalmente são vistos durante a aplicação sejam evitados. Essa é uma das ferramentas mais utilizadas nas empresas que buscam uma certificação de qualidade, uma vez que é um plano de ação para resolver tanto os problemas existentes quanto para implantar as melhorias. Esse plano pode ser aplicado para estabelecer ações de não conformidades ou eliminação de falhas potenciais identificadas no processo, sistema ou produto desenvolvido na organização. Para melhorar a forma de controle, podem ser utilizados, como apoio, os serviços de tecnologia para gerenciamento de datas e geração e envio de relatórios de acompanhamento a todos os envolvidos. Caso contrário, esse monitoramento também poderá ser realizado manualmente, porém demandará um pouco mais de tempo para o alinhar e calcular todos os dados relevantes. 36 4.6 Diagrama de Pareto O Diagrama de Pareto, segundo Marshall Junior et al.7, é uma ferramenta muito usada para organizar e utilizar os dados estatísticos da empresa. Através dela, podemos verificar onde focar as soluções de problemas, pois a imagem no gráfico deixa claro onde o problema é maior e onde ocorre poucas vezes, evitando, assim, o desperdício de tempo e energia em situações que não representam tanta gravidade à empresa. Para a aplicação correta da ferramenta, faz-se necessário atentarmos a alguns passos: 1º Definir quais problemas terão sua frequência analisada. 2º Deverá haver um padrão para essas análises. Assim se o primeiro item foi considerado com base no custo atual, todos os outros deverão ser analisados da mesma forma. 3º Essas medições devem ser feitas com um padrão estabelecido de tempo e todos os problemas devem ser verificados com a mesma base, que pode ser, por exemplo, anual ou mensal. 4º Os dados coletados devem ser reunidos por categorias. 5º Cada categoria deverá ter seus dados comparados com as outras, formando, assim, uma lista de ordem crescente. 6º As categorias devem ser listadas em ordem decrescente no gráfico, da esquerda para a direita. 7º No gráfico, faz-se uma barra para cada categoria, representando proporcionalmente sua quantidade. Dessa forma, estará pronta a visualização, como podemos verificar no gráfico a seguir: 37 Gráfico 9 – Modelo de implementação do Gráfico de Pareto Fonte: Campos, 2004. No exemplo mostrado, foi adicionada uma linha de frequência acumulada, a qual mostra o crescimento de ocorrências que serão solucionadas em cada caso. 4.7 Diagrama Espinha de Peixe ou Diagrama de Causa e Efeito Segundo Brocka e Brocka8, o Diagrama de Causa e Efeito ou Diagrama Espinha de Peixe, é uma representação em desenho das causas que podem ter levado ao problema estudado. A aplicação dessa ferramenta inicia-se com uma análise em grupo do problema que, uma vez discutido, é registrado no lado direito do diagrama. A seguir, completa-se com suas causas divididas em categorias. Existem várias causas para cada problema ou efeito ocorrido em uma organização, as quais deverão ser agrupadas. Para isso, o autor sugere os 4M: método, mão de obra, material e máquinas. Para as ocorrências administrativas, o mesmo autor sugere, ainda, agrupar em 4P: políticas, procedimentos, pessoal e plantas. Essas são sugestões do autor, mas cada organização pode e deve organizar conforme sua realidade. 38 O diagrama pode ser elaborado individualmente ou em grupo. A partir da montagem dessa ferramenta, as causas mais prováveis devem ser separadas e analisadas mais detalhadamente. Assim, é resolvida a questão principal, que é a detecção da causa raiz do problema, a fim de que ele seja efetivamente eliminado (Figura 3). Figura 3 – Modelo de utilização da ferramenta Diagrama de Causa e Efeito Fonte: Campos, 2004. 4.8 Metodologias para melhoria do desempenho da qualidade No Brasil, a maioria das organizações, ao decidirem pela implantação de um programa de qualidade total, normalmente buscam a assessoria de consultorias especializadas para melhor esclarecer o conceito e aplicabilidade de cada ferramenta ou metodologia, a fim de verificar qual a melhor maneira de incorporá-las aos seus respectivos processos. Segundo Bonato9, é fundamental ressaltar a diferença entre método e ferramenta. “O método é sequência lógica para se atingir uma meta desejada e as ferramentas são os recursos a serem utilizados no método.” De nada adianta conhecer várias ferramentas se o método não é 39 dominado. É muito comum dar-se mais importância às ferramentas que ao método. Como consequência, as pessoas ficam exímias conhecedoras de ferramentas, mas não sabem o que fazer com elas. As metodologias para melhoria do desempenho da qualidade vêm, então, fortalecer as práticas já desenvolvidas pelas ferramentas da qualidade, porém com técnicas um pouco mais complexas, uma vez que tem como objetivo a manutenção e a melhoria contínua dos processos. 4.8.1 Ciclo do PDCA O Ciclo do PDCA foi inicialmente desenvolvido por Walter Shewhart, em 1920, e, posteriormente, popularizado por Edward Deming. Essa metodologia contribuiu com a manutenção do controle dos processos. “O ciclo do PDCA é composto das quatro fases básicas do controle: planejar, executar, verificar e atuar corretivamente.”10 O PDCA representa um ciclo dinâmico possivelmente desdobrado em cada etapa do processo de uma organização. É uma metodologia que está associada ao planejamento, à implementação, ao controle e à melhoria contínua da realização de produto ou serviços resultantes de um processo e do sistema de gestão da qualidade (Figura 4). Figura 4 – Ciclo do PDCA Fonte: Robes Junior; Bonelli, 2006. 40 Segundo Marshall Junior et al.11, a filosofia da melhoria contínua possui, como sua mais conhecida representação, o ciclo do PDCA, também conhecido como ciclo de Shewhart, seu idealizador, ou como ciclo de Deming, o responsável por seu desenvolvimento e reconhecimento. O ciclo de PDCA é um método gerencial para a promoção da melhoria contínua e reflete, em suas quatro fases, a base da filosofia do melhoramento contínuo. Sendo praticado de forma cíclica e ininterrupta, acaba por promover a melhoria contínua e sistemática da organização. As quatro fases, mostradas anteriormente na Figura 4, podem ser conceituadas da seguinte forma: 1ª Fase: Plan (planejamento) – os objetivos e as metas devem ser estabelecidos para que sejam desenvolvidos métodos, procedimentos e padrões para alcançá-los. Normalmente, as metas são desdobradas do planejamento estratégico e representamrequisitos do cliente ou parâmetros e características de produtos, serviços e processos. 2ª Fase: Do (execução) – essa é a fase de implementação do planejamento, na qual é preciso fornecer educação e treinamento para a execução dos métodos desenvolvidos na fase de planejamento. 3ª Fase: Check (verificação) – é quando se verifica se o planejamento foi consistentemente alcançado através da comparação entre as metas desejadas e os resultados obtidos. 4ª Fase: Act (agir corretivamente) – nessa fase têm-se duas alternativas: a primeira consiste em buscar as causas fundamentais a fim de prevenir a repetição dos efeitos indesejados, no caso de não terem sido alcançadas as metas planejadas; a segunda, em adotar como padrão o planejado na primeira fase, já que as metas planejadas foram alcançadas. 4.8.2 Metodologia para análise e solução de problemas (Masp) A Masp tem como objetivo analisar e solucionar problemas e pode projetar as organizações para a chamada melhoria contínua tanto em processos de fabricação de bens como em processos de realização de serviços. A sua metodologia é simples e bem estruturada, pois, ao atendermos cada etapa do seu processo, é possível organizar, orientar e disciplinar a forma como atuamos, solidificando e direcionando ações efetivas em busca da solução de um problema. O Masp tem como objetivos principais: • A adoção de uma mesma linguagem facilitando e estimulando a comunicação e a troca de experiência entre os grupos de melhorias da organização; • Organização e otimização dos esforços e recursos através de uma atuação conduzida por um planejamento e uma análise bem esquematizados e direcionada sobre os pontos prioritários para o alcance de melhorias significativas; 41 • Estímulo e orientação para pensar, analisar e avaliar os problemas de uma forma mais estruturada, para agir com base em fatos e evidências e para consolidar as experiências e conhecimentos adquiridos.12 A metodologia para análise e solução de problemas segundo Marshall Junior et al.13, apresenta as etapas apresentadas na sequência. Identificação do problema - Definição A identificação do problema ocorre quando se percebe que algo está saindo errado. Quando possuímos um histórico, podemos visualizar o problema através de gráficos, que é o ideal, pois nele buscamos todas as informações necessárias e, assim, priorizamos os problemas mais relevantes juntamente com uma meta, que deve descrever o objetivo, ou seja, aonde se quer chegar com a solução do problema identificado. Reconhecimento dos aspectos do problema: observação A observação dos aspectos do problema é realizada através da coleta de dados, que visa descobrir quais são as características do problema, ou seja, de que forma o problema se apresenta e é percebido. A coleta de dados deve ser realizada observando-se o problema sob vários pontos de vista, como: • Tempo: Os resultados são diferentes dependendo do turno (manhã, tarde etc.)? • Local: Os resultados são diferentes dependendo de sua localização (frente, atrás etc.)? • Indivíduo: Trocando o funcionário muda o resultado? • Tipo: Os resultados são diferentes dependendo do tipo de material utilizado? Descoberta das principais causas: análise O objetivo dessa etapa é descobrir a causa raiz do problema, ou seja, descobrir a causa mais provável e que determina a ocorrência do problema, através do estabelecimento de hipóteses oriundas de suas prováveis causas. Em um segundo momento, devemos testar cada hipótese, a fim de selecionar e investigar as causas mais prováveis relacionadas ao resultado esperado. Elaboração e adoção de ações : atuação Deve ser elaborado, pelos responsáveis e envolvidos no problema, um plano de ação com foco na eliminação da causa raiz e a definição de prazos, de preferência curtos, para que sejam cumpridos, evitando, assim, a reincidência de ocorrência do mesmo problema ou outros desencadeados por eles. 42 Verificação dos resultados das ações: avaliação Nessa etapa, deve ser feita uma análise dos resultados obtidos, utilizando instrumentos confiáveis de comparação como tabelas, gráficos, diagramas, entre outros. Lembrando que deve ser definida uma frequência para o acompanhamento das ações. Estabelecer conclusões e definir padrões e ações: aprendizado Se os resultados indicarem uma melhora nos itens comparados, significa que o processo utilizado foi eficaz e que a causa raiz foi eliminada. Devemos, então, padronizar as ações como sendo rotina normal das atividades e também comunicar e treinar os envolvidos na nova sistemática de maneira que o problema não torne a ocorrer. Essa é a etapa de padronizar os métodos e garantir que as atividades serão sempre executadas da mesma forma, assegurando a continuidade do nível de melhoria alcançado com o uso do método de análise e solução de problemas. Segundo Cerqueira14, a forte tendência de globalização, de inovação tecnológica e de sistemas de gestão focados em processos de melhoria dentro das organizações demonstram, cada vez mais, que é necessário realizar a gestão de processos de dentro para fora da empresa, a fim de garantir um padrão de qualidade e se torne competitiva no mercado. Porém, o crescimento acelerado das exigências e dos requisitos de clientes – parte interessada no que diz respeito à qualidade dos produtos ou serviços oferecidos – e, até mesmo, requisitos estatutários que devem ser considerados, podem causar certo desconforto e desestabilização dos controles dos processos, em função das mudanças de circunstâncias oriundas de alguma causa imprevisível, ou inerente ao processo, ou, também, o não atendimento de alguma especificação dos clientes. Todos esses fatores citados podem, de certa forma, dar origem a diversos tipos de problemas dentro de uma organização. Estes podem ser solucionados, controlados e até mesmo eliminados. Suas potenciais ocorrências podem ser pré-identificadas se uma metodologia de análise de causas e de soluções, criteriosa e adequada, for aplicada sistematicamente em todos os níveis da organização. A metodologia de Masp, segundo Marshall Junior et al.15, é um dos métodos mais utilizados por empresas que são referência em gestão de qualidade e melhoria contínua, pois, através de suas ferramentas, a empresa consegue definir as situações e estágios de análise e, assim, concluir suas ações efetivamente, com embasamentos técnicos praticados em muitos casos de sucesso organizacional. 43 Por isso, é importante, segundo Cerqueira16, que uma organização, antes de perder tempo procurando culpados ou utilizando meios ineficientes de encontrar respostas para seus problemas, adote um método confiável de analise e solução como o Masp, para garantir e dar credibilidade na execução de suas ações, buscando a eliminação da causa raiz do problema direto em sua origem e dessa forma, desperdiçando menos tempo de seu processo em investigações e retrabalhos relacionados a ações ineficientes para resolução de seus problemas. 4.9 Outros programas, ferramentas e metodologias pra gestão da qualidade Segundo Campos17, em japonês, chama-se muda a qualquer atividade que consome recursos, mas não cria valor. Ainda existem outros métodos e técnicas que podem ser utilizados em prol da qualidade, nos quais a definição de ambos pode ser realizada conforme a necessidade do processo, do tipo de segmento da empresa, do estudo de viabilidade de projeto, do nível de tecnologia e de inovação em que a empresa está disposta a investir. Como opção a essas empresas, podemos citar, ainda, técnicas ou programas de qualidade como: * Kaizen; * Kanban; * Desdobramento da Função Qualidade (QFD); * 8D (solução de problemas); * Just-in-Time;
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