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DIREITO DO CONSUMIDOR PROFESSOR CAIO (1)

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UNIME – UNIÃO METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO E CULTURA
DIREITO
EMERSON RIBEIRO
JULIANA NICÁCIO
KAIZA NAYNHÃ
TAYUÃ PAIXÃO
VANESSA SILVA
DIREITO DO CONSUMIDOR
 ITABUNA-BA, 2016
EMERSON RIBEIRO
JULIANA NICÁCIO
KAIZA NAYNHÃ
TAYUAN PAIXÃO
VANESSA SILVA
DIREITO DO CONSUMIDOR
TRABALHO APRESENTADO COMO REQUISITO
DE AVALIAÇÃO PARCIAL, DA UNIME – UNIÃO METROPOLITANA
DE EDUCAÇÃO E CULTURA, DA DISCIPLINA DE DIREITO
 DO CONSUMIDOR, SOLICITADO PELO DOCENTE CAIO MONTEIRO.
ITABUNA-BA
2016
RESUMO
 Neste presente trabalho será abordado aspectos relevantes da responsabilidade civil, como o conceito de responsabilidade civil, que está em reparar o dano causado injustamente, a forma de reparação deste dano, entretanto, foi transformando-se ao longo do tempo, sofrendo desta forma uma evolução. Bem como, abordaremos os elementos, princípios, prazos prescricionais, proteção aos direitos individuais e coletivos no que diz respeito à responsabilidade civil pelos danos causados no direito do consumidor. Uma vez que, o Código de Defesa do Consumidor visa facilitar o alcance do equilíbrio nas relações de consumo, tal como a efetiva proteção do consumidor, que é: adoção da Responsabilidade Civil Objetiva como regra geral nas relações consumeristas. Vale dizer, que os direitos do consumidor surgem como uma forma balancear as relações de consumo, compensando a vulnerabilidade do consumidor em relação ao fornecedor.
SUMÁRIO
1. RESUMO ......................................................................................................
2. INTRODUÇÃO..............................................................................................
3. CONCEITO ...................................................................................................
4. ELEMENTOS ................................................................................................
5. PRINCÍPIOS...................................................................................................
6. PRAZOS PRESCRICIONAIS............................................................................
7. PROTEÇÃO AOS DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS............................
8. RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
9. CONCLUSÃO ...................................................................................................
10. REFERÊNCIAS ................................................................................................
INTRODUÇÃO
 As mudanças ocorridas na sociedade trazem modificações, também, para o ordenamento jurídico, este tenta se adaptar e se adequar às transformações, de modo a não perder sua eficácia, nem se tornar ultrapassado.
 Desde sua criação, o Código de Defesa do Consumidor tem sido um grande colaborador para a atualização hermenêutica do ordenamento jurídico, e uma referência para todas as áreas do Direito.
 O presente trabalho tem por finalidade analisar como se dá o instituto da responsabilidade civil nas relações de consumo, abordando o conceito, elementos, princípios, prazos prescricionais, proteção a responsabilidade civil pelos danos causados no direito do consumidor. 
 Será analisado, ainda, o Direito do Consumidor na Constituição Federal, sua origem, elementos, finalidade, hipóteses em que incidirá a responsabilidade civil e as regras e exceções de aplicação da responsabilidade dentro dos acidentes de consumo.
CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL
 
 O termo responsabilidade é capaz de designar diversas situações no campo jurídico. A responsabilidade acarreta a alguém o dever de assumir as conseqüências de um evento ou uma ação.
 A responsabilidade civil, é uma responsabilidade que implica na obrigação de indenizar.
"Neste sentido, temos o conceito de Responsabilidade Civil definido por Savatier, que define a responsabilidade civil como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam." (RODRIGUES, 1998, p. 6)
 
ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO
 Relação de consumo
 Apesar do conceito de consumidor e fornecedor estarem previsto no CDC, o legislador não definiu o conceito de relação de consumo, “deixando o conceito em aberto justamente para lhe dar a maior amplitude possível” [6].
 A relação de consumo deve ser composta por dois sujeitos, o fornecedor (art. 3º do CDC) e o consumidor (art. 2º do CDC). Caso esses sujeitos não estejam presentes não poderá ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor.
 Consumidor
 O conceito de consumidor pode suscitar dúvidas em relação ao significado do termo “destinatário final” utilizado no final do art. 2° do CDC. “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”, esse é o conceito de consumidor standard ou strictu sensu.
Existem duas teorias acerca da definição do termo “consumidor”, a teoria maximalista e a teoria finalista. Para a teoria maximalista basta que o produto seja retirado do mercado para que aquele que o adquiriu seja compreendido como consumidor.
 Já para a teoria finalista, para ser compreendido como consumidor não basta apenas que aquele sujeito retire um produto do mercado, é preciso, ainda, que ele seja o destinatário final daquele produto. Pode ser entendido como destinatário final aquele que consome, adquire, utiliza, esgota o produto adquirido para seu uso próprio, “e não para desenvolvimento de outra atividade negocial” [7].
 A teoria pioneira, sem dúvidas, é a finalista. Contudo, há jurisprudências recentes que consideram a hipossuficiência e vulnerabilidade daquele que adquiriu o produto independente da finalidade que ele dê para este produto[8], mesmo que seja uma finalidade profissional, ele será considerado consumidor.
 Ora, de fato não se pode comparar um taxista autônomo que trabalha em veículo próprio, com uma fábrica multinacional de veículos, sendo aquele vulnerável e hipossuficiente em relação a este. Logo, dependerá do caso concreto se será ou não aplicado o Código de Defesa do Consumidor.
 Da mesma forma, aquele que vende sua única casa, propriedade de sua família por motivos de mudança, por exemplo, sem intermediação de uma imobiliária não pode se comparar a uma imobiliária multinacional com vários empreendimentos.
 O CDC, ainda em seu art. 2°, parágrafo único, equiparou a consumidor[9] a “coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. Esse consumidor por equiparação é também chamado pela doutrina de consumidor bystander.
 Fornecedor
 Alguns elementos da relação de consumo e sua definição podem ser encontrados no próprio CDC. Segundo o art. 3 ° do CDC fornecedor é “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação e distribuição ou comercialização de produtos ou prestações de serviço”.
 Logo, o fornecedor pode ser o Estado, pois o artigo fala em empresas públicas ou privadas. Devendo ser incluídas as concessionárias de serviços públicos. Os fornecedores podem ser ainda, entes despersonalizados, ou seja, aqueles que “embora não dotados de personalidade jurídica quer no âmbito mercantil, quer no civil, exercem atividades produtivas de bens e serviços” [10].
 O conceito de fornecedor trazido pelo CDC já é bastante esmiuçado e auto-explicativo. O fornecedor, contudo, não pode configurar no outro pólo da relação de consumo, uma vez que lhe falta a vulnerabilidade. Logo, se houve uma negociação entre fornecedores, esta será reguladapelo Código Civil.
 “Em primeiro lugar, o fato de que bens adquiridos devem ser bens de consumo e não bens de capital. Em segundo lugar, que haja entre fornecedor e consumidor um desequilíbrio que favoreça o primeiro. Em outras palavras, o Código de Defesa do Consumidor não veio para revogar o Código Comercial ou o Código Civil no que diz respeito a relações jurídicas entre parte iguais, do ponto de vista econômico”[11].
 Existem três modalidades de fornecedores: os reais, são aqueles que integram o processo de criação, produção e fabricação do produto; os aparentes, são aqueles que “apõe no produto seu nome, sinal, marca”[12] e por fim os presumidos, como o importador, por exemplo, que apesar de o produto ser de outro país, ele responderá por seus defeitos.
SISTEMA DE PRINCÍPIOS NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
 A Política Nacional das Relações de Consumo tem fundamento na busca pelo equilíbrio entre consumidores e fornecedores e o seu objetivo é assegurar a proteção e a defesa do consumidor, criando diretrizes para a sociedade e para o Poder Público.
 Para nortear essa política, seus objetivos e fundamentos, o Código de Defesa do Consumidor formou um sistema de princípios. Estes são conceituados como comportamentos normativos ideais, expressam os valores a serem buscados na interpretação e aplicação das normas que regulamentam as relações de consumo.
Entre os princípios aplicados a essas relações jurídicas estão:
         Princípio da intervenção estatal ou da obrigação governamental que determina que o Estado tem o dever de promover a defesa do consumidor. Ou seja, o Estado tem obrigação de, mediante ação direta ou indireta, proteger os interesses dos consumidores, bem como garantir a efetividade dos direitos desses;
         Princípio da harmonia das relações de consumo que tem por objetivo equilibrar os interesses envolvidos nesta relação jurídica. Nas relações de consumo o tratamento dado ao consumidor e ao fornecedor deve ser efetuado de forma a possibilitar a harmonização dos interesses, com o fim de possibilitar o desenvolvimento econômico e social, bem como a pacificação entre as partes;
                   
 Princípio da boa-fé objetiva que busca assegurar que as partes nas relações contratuais se tratem com lealdade e com ética, coibindo comportamentos abusivos;
         Princípio da transparência e da informação que determina que o fornecedor tem a obrigação de prestar as informações sobre os produtos ou serviços de forma clara, precisa e adequada, desde o momento da oferta até a execução do contrato;
 Princípio da educação que tem a finalidade de minimizar a desigualdade existente entre as partes nas relações de consumo; e
          Princípio da vulnerabilidade do consumidor que reconhece, iure et de iure, que o consumidor é a parte mais frágil na relação jurídica de consumo, merecendo a proteção de tutela específica da lei, da sociedade e do Poder Público.
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO CDC
 No Código Civil os conceitos de prescrição e decadência são formados pela doutrina e pela jurisprudência. A prescrição pode ser entendida como uma lesão à um direito, que faz com que nasça uma pretensão, e o não exercício dessa pretensão causa a prescrição. Já a decadência é o não exercício de um direito potestativo dentro de certo lapso temporal, que faz com que o indivíduo perca este direito.
 No Código de Defesa do Consumidor ocorre que nos casos de responsabilidade pelo fato do produto ou serviço ocorrerá prescrição, e nos casos de responsabilidade pelo vício do produto ou serviço correrá decadência.
 Em seu art. 27, o CDC aduz sobre a prescrição, estabelece um prazo de cinco anos que começará a correr depois de descoberto o dano e sua autoria. Assim como no Código Civil, a concepção de prescrição aqui está ligada à lesão de um direito, a um dano. 
  É importante ressaltar que o prescreve “não é o direito subjetivo do consumidor, mas a pretensão à reparação do dano” . O art. 27, in verbis, “prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”.
 Em relação às hipóteses de suspensão – em que há uma interrupção do tempo transcorrido – e interrupção – em que há a eliminação do tempo já transcorrido – do prazo prescricional são as mesmas previstas no Código Civil em seus arts. 198, 199 e 200.
 A decadência ocorrerá nos casos da responsabilidade por vício do produto ou serviço, em caso de produtos não duráveis o direito de reclamar caduca em trinta de dias, se forem produtos duráveis, em noventa dias. Iniciando-se o prazo a partir da entrega do produto ou do término da execução do serviço nos casos do vício aparentes, assim como prevê o art. 26 do CDC, uma vez que no caso de vício oculto o prazo começa da constatação do vício.
 Produtos não duráveis são aqueles de natureza temporária, como alimentos e remédios. Os produtos duráveis são aqueles “que têm uma vida útil duradoura, como veículos, eletrodomésticos, móveis, imóveis, etc.”.
A PROTEÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
 A aprovação da Lei 8.078/90 provocou uma verdadeira revolução nas concepções vigentes no direito pátrio, notadamente no que diz respeito à responsabilidade civil e as regras processuais, impondo alguns postulados que visam facilitar o efetivo exercício dos direitos do consumidor, e dentre estes, pela importância, destacamos (de ‘A’ à ‘Z’) os seguintes:
a) Principio da boa-fé objetiva, pelo qual se exige das partes que procedam segundo um mínimo de lealdade, de padrão ético e em estrito respeito às leis (art. 4°, III), decorrendo deste princípio outros deveres anexos tais como: o dever de informação, de lealdade, de cooperação mútua e de assistência técnica.
b) A possibilidade cumulação do dano moral e patrimonial, de forma efetiva, isto é, integral e sem tarifação, com vista a efetiva prevenção e reparação de danos individuais ou coletivos (art. 6°, VI).
c) A inversão do ônus da prova, como forma de facilitação da defesa do consumidor em juízo (art. 6°, VIII).
d) A possibilidade de utilização de todos os direitos possíveis, fixados em leis, tratados ou regulamentos, desde que sejam mais favoráveis ao consumidor, bem como dos princípios gerais de direito, da equidade, da analogia e dos bons costumes (art. 7° caput).
e) A solidariedade entre todos os participantes da cadeia de produção e distribuição de produtos ou serviços ao mercado de consumo, bem como aos causadores de danos, ampliando e facilitando a possibilidade de sucesso nas ações que versem sobre ressarcimentos de danos propostas por consumidores (art. 7°, parágrafo único., art. 18, caput e art. 25, § 1°).
f) A responsabilidade objetiva do fornecedor de produtos ou serviços em face de acidentes de consumo envolvendo o próprio consumidor, o utente ou qualquer outra pessoa eventualmente atingida pelo evento danoso (art. 12, art. 14 e art. 17 c/c art. 6°, VI).
g) A garantia de qualidade e quantidade de produtos ou serviços adquiridos, garantindo-se ao consumidor o direito de troca, restituição ou abatimento do preço quando o vício não for sanado (art. 18 e 20). 
h) A obrigatoriedade dos órgãos públicos ou suas concessionárias e permissionárias, de oferecerem serviços adequados e eficientes e quanto aos essenciais, de forma continua (art. 22)
i) A segurança da garantia legal, independente do termo expresso assumido pelo fornecedor, vedado também a sua exoneração, mesmo que por cláusula contratual expressa (art. 24).
j) A expressa proibição de inserção, nos contratos, da cláusula de não indenizar (art. 25).
k) A desconsideração da personalidade jurídica com o fim de assegurar a efetiva reparação de dano (art. 28).
l) A obrigatoriedade de cumprimento pelo fornecedor de toda e qualquer informação ou publicidade atinentes a produtos ou serviços, realizada por qualquer meio, que passarão a integraro contrato de fornecimento (art. 30).
m) A responsabilidade solidária do fornecedor por seus prepostos ou representantes autônomos, em face da teoria da aparência (art. 34).
n) A proibição de cobrança de dívida de forma abusiva ou vexatória (art. 42).
o) O direito de recebimento em dobro do que o consumidor pagou em excesso, quando cobrado por dívida inexistente (art. 42, parágrafo único).
p) A obrigatoriedade dos bancos de dados de cadastros de consumidores (tipo Serasa e SPC), de informar previamente ao consumidor sobre abertura de fichas e cadastros e de suas fontes de informação (art. 43).
q) A exclusão da força obrigatória dos contratos quando o consumidor não tiver prévio conhecimento de seu conteúdo ou forem redigidos de modo a dificultar a sua compreensão (art. 46).
r) A interpretação das cláusulas contratuais sempre de forma mais favorável ao consumidor (art. 47).
s) O direito de arrependimento e de devolução do produto, no prazo de sete dias, quando adquirido fora do estabelecimento comercial (art. 49)
t) A expressa determinação de que a garantia contratual, quando ofertada de forma expressa pelo fornecedor, é complementar à legal (art. 50).
u) A expressa previsão de nulidade no que diz respeito às cláusulas que possam ser consideradas abusivas (art. 51 e incisos).
v) A proibição de perdimento das parcelas pagas, em face do inadimplemento do consumidor, nos contratos de compra e venda de bens móveis ou imóveis à prestação, bem como nos de alienação fiduciária (art. 53).
w) A possibilidade de proposição de ações coletiva com vista à reparação e prevenção de danos, não só pelos entes públicos bem como por entidades representativas e até por órgãos despersonalizados, tudo em nome da defesa dos interesses da coletividade (art. 81).
x) A possibilidade de propositura de quaisquer tipos de ação, desde que assegurem a defesa dos interesses tutelados pelo Código (art. 83).
y) A proibição de denunciação à lide, prevista no Código apenas no que diz respeito aos comerciantes (art. 88 c/c art. 13, § único), porém alargado sua aplicação em face da interpretação doutrinária e jurisprudencial vigente.
z) A facilitação da defesa do consumidor com o estabelecimento de foro privilegiado, em se tratando de ação por responsabilidade civil, visto que a demanda poderá ser proposta no foro do domicílio do autor (art. 101, I).
 É importante ressaltar que, apesar destes postulados serem de clareza meridiana, constatamos quotidianamente, resistências junto aos operadores do direito quanto à aplicação das normas protetivas agasalhadas no Código de Defesa do Consumidor. Sob esta ótica, quando falamos em relação de consumo em sentido amplo e, de outro lado na responsabilização civil contratual ou extracontratual do fornecedor de produtos e/ou serviços, é comum nos depararmos com conceitos privativistas que estão, de há muito superados, não só pelos princípios informativos da relação de consumo contidos na lei consumerista (vulnerabilidade, hipossuficiência, transparência, boa-fé objetiva, etc.), como também pela teoria da responsabilidade objetiva do fornecedor que advém dos deveres inerentes à atividade econômica, ou seja, da responsabilidade pelo risco da atividade.
AS ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
 
 Responsabilidade Civil Contratual ou Extracontratual
 
 A Responsabilidade Civil poderá ser contratual, quando decorre de uma obrigação preexistente, contrato ou negócio jurídico unilateral ou extracontratual, quando não decorre de uma relação contratual.
 Na responsabilidade contratual, anteriormente à obrigação de indenizar, existe um vínculo jurídico entre o inadimplente e o seu co-contratante, vinculado de uma convenção. Já na responsabilidade extracontratual, também chamada de aquiliana, haja vista haver sido consagrada com a Lei Aquiliana, não há nenhum liame jurídico entre o agente causador do dano e a vítima. A obrigação de indenizar nesta última se dá no momento em que o agente causador do dano põe em prática os princípios geradores de sua obrigação de indenizar.
 As supracitadas espécies de responsabilidade civil possuem a mesma natureza, em ambas se faz necessário, em regra, a existência do dano, a culpa do agente e a relação de causalidade entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima ou pelo outro contratante.
 Diferenciam-se as referidas espécies quanto ao fundamento da culpa, enquanto na culpa contratual examinamos o inadimplemento, na culpa aquiliana, leva-se em conta a culpa do agente e a culpa em sentido lato.
 
    Responsabilidade por fato de terceiro
 
 A responsabilidade por fato de terceiro se dá em certos casos em que  um indivíduo será responsabilizado por danos provocados pela conduta de outra pessoa.
 O artigo 932 do Código Civil regula a responsabilidade civil por fato de terceiro. Dispõe o seguinte:
                               
"Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,  no exercício do trabalho que lhes competir, ou em  razão dele;
IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se alugue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V – os que gratuitamente houverem participado no produto do crime, até a concorrente quantia.”
 
 Desta forma, as pessoas a que se refere o supracitado artigo irão responder pelo dano causado por aqueles sobre a quem possuem o dever de vigiar ou escolher.
Em todos esses casos, as pessoas indicadas nos incisos, responderão pelos danos, quer tenham agido com culpa in vigilando ou in eligendo, quer não, conforme determina  o art. 993 ao dispor:
                               
“As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.”
 
 O fundamento da responsabilidade civil por terceiro que mais se aproxima da realidade é a idéia de risco. Se pai põe filhos no mundo, se o patrão se utiliza do empregado, ambos correm o risco de que da atividade daqueles surja dano para terceiro. (RODRIGUES, 1998, p. 61)
 
    
 Responsabilidade por fato de coisa
 
 As coisas em geral estão sempre ligadas a uma pessoa que é o seu titular ou o seu possuidor. Tais coisas podem servir de instrumentos causadores de danos a terceiros.
 A responsabilidade do guarda ou do guardião pelo fato da coisa não possui  disposição expressa no ordenamento jurídico brasileiro, porém é definida de forma clara em nossa jurisprudência. Trata-se a responsabilidade por fato de coisa quando decorrente da culpa in custodiendo.
 O detentor de animal causador de dano, também incorrerá nesta responsabilidade. Neste caso, há uma diferença, a culpa do detentor é presumida, exceto quando conseguir provar que houve culpa do ofendido, ou que o caso resultou de força maior. É o que determina o Código Civil ao dizer:
 
“Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.”
 
 Falar-se em responsabilidade por fato de coisa diferente de animal, ou seja, coisa inanimada, é algo um tanto quanto estranho, tendo em vista que  as coisas inanimadas nunca agem por si próprias. Neste sentido, podemos até dizer que por trás do fato da coisa, está a culpa ou o dolo da pessoa.
 
    Responsabilidade Civil Subjetiva e Responsabilidade Civil Objetiva
 
 Na verdade não se trata em rigor de espécies de responsabilidade civil, mas de maneiras diversas de reparação do dano. Chamamos de responsabilidade subjetiva aquela inspirada na idéia de culpa, e de objetiva quando baseada na teoria do risco. Nestes termos, a diferença entre a responsabilidadecivil subjetiva e objetiva se encontra no fundamento da responsabilidade civil.
 A responsabilidade civil subjetiva é a mais tradicional, em que a responsabilidade do agente causador do dano só resta configurada se o causador do dano agiu culposamente ou dolosamente. Assim, é imprescindível provar a culpa do agente causador do dano para que possa surgir o dever de indenizar. O nome subjetiva se deu em face da referida responsabilidade depender do comportamento do sujeito. Neste caso, na ação reparatória é necessário que a vítima prove a autoria, a culpabilidade, o dano e o nexo causal.
 Já na responsabilidade objetiva não é relevante que o agente tenha causado o dano culposamente ou dolosamente, pois para que surja o dever de indenizar basta que exista relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e o ato do agente.
 A responsabilidade objetiva é baseada na Teoria do Risco, também chamada de Teoria Objetiva da Responsabilidade Civil. Segundo esta teoria, a responsabilidade civil é baseada no dano, que é um elemento objetivo, daí o nome responsabilidade civil objetiva. Para esta teoria, surge o dever de reparação apenas em razão da ocorrência de um dano. Esta teoria surgiu em face do alto risco de determinadas atividades e pela impossibilidade prática de se provar a culpabilidade, em certas circunstâncias.
 A responsabilidade civil subjetiva é a regra em nosso Código Civil. É o que se pode ver através da redação dos artigos 186 e 927 caput, que dizem:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
 
 A responsabilidade objetiva é aplicada excepcionalmente, em virtude de disposição expressa em lei, neste caso bastará que a vitima prove a autoria e o dano, para obter êxito na ação reparatória. Porém, o suposto autor poderá eximir-se da indenização no caso de ocorrência de alguma excludente de sua responsabilidade, que será vista mais detalhadamente no capítulo 4 deste trabalho.
 O Código Civil atual ampliou sua esfera de aplicabilidade, ao remeter à teoria objetiva todos aqueles casos em que a natureza da atividade do autor acarrete riscos para as demais pessoas. Neste sentido, dispõe o parágrafo único do artigo 927:
 
“Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem.”
 
 Algumas hipóteses de incidência da responsabilidade objetiva são: a responsabilidade dos pais pelos seus filhos menores, sob seu poder e companhia; a responsabilidade do empregador pelos danos que seus empregados, no exercício de suas funções, causarem a terceiros e; a responsabilidade do dono de objeto caído ou lançado de prédio, ainda que se prove o fortuito. Nesta última, quando for um condomínio, todos condôminos responderão, dividindo-se os prejuízos, mas caso seja identificada a unidade de onde veio a coisa, o condomínio terá direito de regresso contra a referida unidade.
 
 A efetividade da aplicação da Responsabilidade Civil Objetiva
 
 A grande virtude do CDC resume na consciência do legislador pátrio em relação à necessidade dos direitos do consumidor e a efetiva aplicação da responsabilidade ao fornecedor, atendo-se à teoria da responsabilidade objetiva, quando esses mesmos direitos forem violados.
 A Teoria da Responsabilidade Civil Objetiva representou um avanço substancial para a reparação integral dos danos sofridos pelos consumidores. Tendo em vista o desenvolvimento tecnológico que se têm vivido na sociedade atual, há a necessidade de soluções jurídicas compatíveis com a realidade social.
 A aplicação da teoria da responsabilidade civil objetiva nas relações de consumo deriva da função social do direito, já que busca a efetiva reparação do prejuízo da vítima e a defesa de seus direitos. É evidente que na impossibilidade da aplicação da Responsabilidade Civil Objetiva nas relações de consumo, o consumidor, parte vulnerável na relação, teria suas pretensões frustradas na maioria das demandas, já que  a produção de provas acerca da culpa do fornecedor traria um encargo difícil de ser suportado pelo consumidor.
 No Código de Defesa do Consumidor estão previstas a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (arts. 12 a 17) e a responsabilidade pelo vício do produto ou do serviço (arts. 18 a 25).
 A primeira ocorre nas situações em que a segurança e saúde do consumidor são colocadas em risco. Já a segunda refere-se à adequação qualitativa e quantitativa do produto ou serviço oferecidos.
 É  importante  ressaltar que, seja  qual for a espécie  de responsabilidade civil, haverá, via de regra, a adoção da Teoria da Responsabilidade Objetiva. Caso contrário, o consumidor, em razão de sua vulnerabilidade, dificilmente conseguiria ser ressarcido pelos danos sofridos em decorrência da relação de consumo.
 Percebe-se a efetividade da aplicação da Responsabilidade Civil Objetiva na defesa do consumidor a partir da análise dos julgados obtidos após a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor. Abaixo segue exemplo da aplicação da Responsabilidade Civil Objetiva  nas relações de consumo:
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ACIDENTE DE CONSUMO – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
É objetiva a responsabilidade do produtor na hipótese de acidente de consumo. Responde, assim, perante o consumidor ou o circunstante, fábrica de refrigerantes em razão do estouro de vasilhame, ocorrido em supermercado. Não é o comerciante terceiro, ao efeito de excluir a responsabilidade do produtor...ainda que o fosse, incumbe ao fabricante a demonstração inequívoca de que o defeito inexistia no produto, a caracterizar exclusividade de ação (dita culpa exclusiva) do comerciante (TJRS – 6ª Câm. Civ. – ApCiv 598081123 – rel. Des. Antônio Janyr Dall’Agnol Junior – j. 10.02.1999).
 
 Na prática, observa-se que o consumidor tem ultrapassado os obstáculos de sua cultura, não “aceitando calado” como anteriormente, mas sim reclamando seus direitos. Os julgados de todo o Brasil vêm realizando a justiça social por meio da eficácia dada a regra da Responsabilidade Objetiva, é o que se pode constatar com os ensinamentos jurisprudenciais abaixo:
 
EMENTA: CONTRATO DE TRANSPORTE – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO PRESTADOR DE SERVIÇOS. 
Hipótese de roubo praticado durante viagem. Inteligência do artigo 14, § 3º, II, do Código de Defesa do Consumidor. Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro não comprovada.
"Evento não equiparável a caso fortuito ou a força maior, que mesmo reconhecidos não excluiriam a responsabilidade da transportadora. Inaplicabilidade da disciplina da culpa prevista no Código Civil. Inteligência do artigo 14, § 3º, II, do Código de Defesa do Consumidor .Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro não comprovada. Responsabilidade do fornecedor do serviço inclusive por dano moral. Ação procedente. Decisão mantida. Recurso improvido. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - Excludentes de responsabilidade. Admissibilidade tão-somente das hipóteses constantes do artigo 14 da Lei nº 8.078/90. (TJSP - 2ª Câm. de Direito Privado; Ap. nº 28.560-4/4-São Paulo; Rel. Des. Francisco de Assis Vasconcellos Pereira da Silva; j. 03.06.1997; maioria de votos). BAASP, 2028/356-j, de 10.11.1997. BAASP, 2051/116-e, de 20.04.1998, RT 745/223".
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ACIDENTE DE CONSUMO – RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO. 
É objetiva a responsabilidade do produtor na hipótese de acidente de consumo. Responde, assim, perante o consumidor ou o circunstante, fábrica de refrigerantes em razão do estouro de vasilhame, ocorrido em supermercado. Não é o comerciante terceiro, ao efeito de excluir a responsabilidadedo produtor...ainda que o fosse, incumbe ao fabricante a demonstração inequívoca de que o defeito inexistia no produto, a caracterizar exclusividade de ação (dita culpa exclusiva) do comerciante (TJRS – 6ª Câm. Civ. – ApCiv 598081123 – rel. Des. Antônio Janyr Dall’Agnol Junior – j. 10.02.1999).
 
EMENTA: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – CONSUMIDOR – ACIDENTE DE CONSUMO – COMBUSTÃO DE GÁS DOMÉSTICO EM RAZÃO DE DEFEITO DE BOTIJÃO.
1. Fato do produto. Defeito intrínseco. Art. 12, CDC. ÔNUS DA PROVA. Tratando-se de acidente de consumo, decorrente de defeito intrínseco do produto – vício de fabricação ou montagem da válvula reguladora do botijão -, não se cogita da investigação da culpa. Para elidir a sua responsabilidade, cumpre ao fornecedor comprovar que não colocou o produto/serviço no mercado, que o defeito não existe, ou que a culpa é exclusiva (não concorrente) do consumidor ou de terceiro. O encargo probatório – mediante distribuição legal – é do fornecedor. 2. Responsabilização da fornecedora. Demonstrada a existência do fato danoso, do nexo causal e , ainda, da ausência de culpa da vítima, impõe-se à responsabilização da fornecedora. 3. Dano moral. Valor. Circunstâncias devidamente sopesadas pela sentença, considerando a repercussão de ordem moral do dano imputado à autora, que não recomendam a almejada alteração no quantum arbitrado. (TJRS – 2ª Câm. De Férias Cível – ApCiv 599007002 – rel. Des. Jorge Luis Dall’Agnol – j. 11.05.1999).
 
 Responsabilidade Solidária
 
 O Código de Defesa do Consumidor, visando a maior tutela possível ao consumidor estabelece em seus artigos 12, 13, 18 e 19 a Responsabilidade Solidária.
 O legitimado passivo na relação de consumo é o fornecedor do produto ou serviço que causou o dano. Ocorre que este é um conceito incompleto, já que diversas vezes é necessária uma extensão deste conceito para que se possa alcançar outros responsáveis.
 Na maioria das relações de consumo o produto ou serviço fornecido ao consumidor passa por diversas relações, ou seja, diversas pessoas, até que se chega ao consumidor, o que, a princípio, dificultaria ainda mais ao consumidor ter ressarcido o seu direito lesado. Tomemos um exemplo: José compra um celular Nokia 3320 no Hipermercado Carrefour. Decorridos 20 dias da compra o aparelho apresentou um problema relativo à bateria do mesmo, passando a ter que ser recarregado todos os dias. Observa-se que aqui há uma relação entre três pessoas, a Nokia, o Carrefour e José.
 Isso posto, quando ocorrer um dano ao consumidor e a relação envolver um fabricante e um comerciante, ambos são responsáveis pelo dano causado ao consumidor, pois como este, em razão de sua vulnerabilidade, não precisa provar a culpa para que se configure a responsabilidade, tão pouco precisa provar quem foi o responsável pelo dano que sofreu, se foi o fabricante ou o comerciante, tal prova seria muito difícil de ser produzida pelo consumidor.  É o que se pode constatar com o ensinamento jurisprudencial abaixo:
 
EMENTA: CÓDIGO DO CONSUMIDOR – OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DO COMERCIANTE E DO FABRICANTE – CONSERTOS.
 Tem o comerciante, que presta os serviços de assistência técnica, a obrigação solidária com o fabricante de consertar veículo adquirido pelo consumidor. Recurso improvido. Os embargos de declaração merecem ser desacolhidos quando prequestionam matéria já objeto do acórdão, que, embora de forma sucinta, enfrentou os argumentos do recurso, não se mostrando omisso, obscuro ou contraditório. Também não repelindo ou acolhendo a alegação de prescrição, fê-lo em face de disposição expressa do Código do Consumidor, que afasta o Código Comercial e o Código Civil, sendo que a invocação de prescrição com base naqueles diplomas legais afronta a Lei 8.078/90, o que se configura litigância de má-fé, por força do inc. I do art. 17 do CPC (TJRS – Resp em ApCiv 596.141.819 – rel. Des. Cacildo de Andrade – j. 30.05.1997).
 
Neste sentido pronuncia:
 
(...) o produto para chegar às mãos do consumidor foi projetado, criado, fabricado, montado, etc., e, finalmente, vendido. Entre a existência da matéria-prima, sua transformação industrial e sua comercialização, várias atividades foram exercidas por pessoas físicas ou jurídicas diferentes, autônomas entre si.(NASCIMENTO, 1991)
 
 Tendo em vista a solidariedade existente entre todos aqueles que de alguma forma fizeram, em razão de sua atividade, com que o produto ou serviço chegasse ao consumidor final, há a formação de uma relação externa e outra interna.
 A relação externa é aquela existente entre o consumidor e todos aqueles que participaram do fornecimento do produto ou serviço. Já a relação interna é aquela existente entre os responsáveis solidários.
 É importante lembrar, que cada devedor solidário é responsável pelo pagamento integral do valor fixado para o ressarcimento do consumidor. Mas caso um apenas pague a integralidade, este terá direito de regresso contra os demais, conforme dispõe o artigo 13, § único do Código de Defesa do Consumidor ao dizer:
 
“Parágrafo único: Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do efeito danoso.”
 
 O Código de Defesa do Consumidor trata de dois tipos de co-autoria, a co-autoria presumida e a co-autoria fática.
 A co-autoria presumida ocorre em razão do Código de Defesa do Consumidor responsabilizar todos aqueles fornecedores que contribuíram para que produto ou serviço chegasse até o consumidor, lhe causando um dano. Esta é uma presunção absoluta feita pela lei.
 Já a co-autoria fática é aquela prevista no parágrafo único do artigo 7° do Código de Defesa do Consumidor, que diz:
 
“Parágrafo único: Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela realização dos danos previstos nas normas de consumo.”
 
 Conforme o supracitado parágrafo, é necessário no mínimo um fornecedor e um consumidor para que ocorra a co-autoria fática. Mas, permite também o referido artigo que o consumidor demande juntamente ao fornecedor, um terceiro, pessoa estranha à relação de consumo.
 Tendo em vista a adoção da teoria da Responsabilidade Civil Objetiva pelo Código de Defesa do Consumidor fica clara a hipótese de co-autoria presumida, pois poderá responder pelo dano causado ao consumidor até quem não teve uma ação ou omissão direitamente vinculada ao evento danoso, ou cuja participação tenha sido mínima. Já a co-autoria fática em razão de responsabilizar pessoa que não pertença à relação de consumo, será objetiva em relação ao fornecedor, porém subjetiva em relação ao terceiro, já que este não participou da relação de consumo, e poderá muitas vezes, ser tão vulnerável quanto o consumidor.
 Muitas vezes, a Responsabilidade Solidária deixa de ser efetivada pelo fato de não se conseguir identificar todos os responsáveis. Neste caso, a responsabilidade pela reparação perante o consumidor ficará a cargo do fornecedor imediato, quando não houver identificação clara acerca dos fabricantes no produto, ou, quando os produtos forem  perecíveis, o comerciante não os conservar adequadamente, é o que dispõe o art. 13, I, II e III do CDC, que versa o seguinte:
 
“Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
 
I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis ”
 
 O fornecedor imediato também será responsável pela reparação do dano quando o produto  forin natura e não houver identificação clara do produtor, conforme o §5° do art. 18 do CDC, que diz:
 
“§5°. No caso de fornecimento de produto in natura, será responsávelperante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.”
 
 
AS EXCEÇÕES À RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NO CÓDIGODE DEFESA DO CONSUMIDOR
 
    Causas Excludentes
 
 As excludentes de responsabilidade são causas que eliminam a obrigação  do fornecedor de ressarcir o consumidor quanto ao dano sofrido. A exclusão da responsabilidade se dá sempre em virtude de lei, constituindo uma exceção à regra geral da reparabilidade dos danos.
 No Direito Civil Brasileiro, tanto no Código Civil atual quanto no anterior, são estabelecidas algumas causas excludentes de responsabilidade. Porém, tais excludentes estão atreladas a responsabilidade originada de um ato ilícito, o que nem sempre ocorre na responsabilidade objetiva, já que a culpa não é pressuposto para a caracterização da responsabilidade civil. O art. 188 do Novo Código Civil dispõe o seguinte:
 
“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
 
I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.”
 
 No inciso I do referido artigo, o Código Civil determina como excludentes de responsabilidade a legítima defesa e o estado de necessidade. A legítima defesa encontra sua definição no art. 25 do Código Penal, que dispõe:
 
“Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”
 
 Na legítima defesa é fundamental a legitimidade do direito a ser protegido, ou seja, que não atente contra a moral, os bons costumes e a ordem pública.
 No que tange ao exercício regular do direito, este pode ser entendido mais facilmente a partir da idéia de abuso de direito, que é o seu antônimo. Abusa-se de um direito na medida em que se utiliza o poder que ele confere contra os fins abstratos deste mesmo direito. Isso posto, no caso do agente atuar com uso legítimo e útil do direito não poderá ser responsabilizado, tendo em vista serem estes danos socialmente admitidos.
 Já o inciso II do mesmo artigo estabelece o estado de necessidade como outra excludente de responsabilidade, sendo esta uma situação de perigo atual, para interesses legítimos, que só pode ser afastada por uma lesão de interesses de terceiro, também legítimos.
 Quanto ao Direito do Consumidor, o CDC determina no § 3° do art. 12 que o fabricante, o construtor, o produtor ou importador terão excluída a sua responsabilidade quando provarem que  não colocou o produto no mercado, ou que o defeito inexiste, apesar de ter colocado o produto no mercado, ou ainda quando a culpa for exclusiva de consumidor ou de terceiro.
 Conforme o art. 12, §3° inciso I, ocorrerá a exclusão da responsabilidade do fornecedor quando este provar que não colocou o produto no mercado. Isso porque a responsabilidade do fornecedor inicia-se com a colocação do produto no mercado, que consiste na entrega do produto a qualquer pessoa pelo fornecedor. É importante ressaltar que, para a ocorrência da responsabilização do fornecedor é mister que a colocação do produto no mercado pelo fornecedor seja voluntária. As hipóteses de falsificação, roubo ou furto de produtos introduzidos no mercado se enquadram na presente excludente.
 Ademais, o fornecedor não pode eximir-se de sua responsabilidade alegando que a colocação dos produtos no mercado tenha si dado a título gratuito, caso contrário, como seria tutelado um consumidor que ganhou o produto do fornecedor. Ora, se assim fosse, o consumidor que ganhou um produto defeituoso e este lhe causa um dano, não poderia jamais ser ressarcido pelo dano sofrido. Isto seria injusto e ninguém mais aceitaria um produto ou serviço a título gratuito, já que seria responsável por qualquer prejuízo superveniente.
 Ressalta-se que, apesar  de  provado  que  o produto  foi colocado no  mercado contra a vontade do fornecedor, este apenas se exonera da responsabilidade prevista no código de Defesa do Consumidor, pois é possível que ele seja responsabilizado por negligência, quando provado que não foi tomado os devidos cuidados à guarda do produto, nos termos do artigo 927 c/c artigo 186 do Código Civil.
 O inciso II do art. 12, § 3° do CDC estabelece a inexistência do defeito como outra causa de exclusão de responsabilidade.
 Os acidentes de consumo pressupõem a manifestação de um defeito do produto ou serviço, bem como um posterior evento danoso. Provada a inexistência de defeito do produto ou serviço, rompe-se à relação causal que ocasiona o dano, ocorrendo, assim, a exclusão da responsabilidade do fornecedor. Neste caso, caberá ao fornecedor do produto ou serviço provar este rompimento do nexo causal.
Outra excludente de responsabilidade ocorre quando ocorrer culpa exclusiva da vítima. Quando a vítima agir, positiva ou negativamente, de forma a acarretar um dano. Neste caso, a responsabilidade objetiva deixará de ser aplicada, já que o dano só ocorreu em razão da culpa da vítima. Para tanto, é imprescindível que o fornecedor produza a prova da culpa exclusiva da vítima para a ocorrência do dano. Neste diapasão, ressalta-se que qualquer participação do objetivamente responsável em colaborar para a ocorrência do prejuízo, acarreta em sua responsabilidade.
 A prova da culpa da vítima para a ocorrência do fato danoso poderá ocorrer nas seguintes formas:
 
“a) a vítima aceita o risco da atividade, porém associa-se indevidamente a ela. Exemplo: andar pendurado no trem;
  b) a vítima aceita o risco da atividade, no exercício de um direito ou de um dever.” (LISBOA, 2001)
 
 Restando comprovada a participação culposa da vítima para a ocorrência do evento danoso e  entendendo o aplicador da norma que apenas o ofendido causou o efeito danoso, será o explorador da atividade de risco exonerado de sua responsabilidade, o que acarreta o rompimento do vínculo causal. É o que se pode verificar com o ensinamento jurisprudencial a seguir:
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – PACOTE TURÍSTICO. A responsabilidade pelo fato do serviço, do art. 14 do CDC, tecida nos mesmos moldes da responsabilidade pelo fato do produto, exige acontecimentos externos causadores de dano material ou moral decorrentes de defeitos do serviço, não das atitudes do consumidor. Inexiste culpa ou falha do serviço, ou falta de informação adequada sobre os mesmo, que foi fornecida por escrito, em documento juntado pelos próprios recorrentes e também verbalmente, consoante a prova oral. Não incide responsabilidade civil. Apelação desprovida (TJRS – 9ª Câm. ApCiv 70000119768 – rel. Des. Rejane Maria Dias de Castro Bins –j. 06.10.199)
 
 No caso de concorrerem a vítima e o agente para a ocorrência do efeito danoso, haverá concurso de responsabilidade, o explorador arcará com a parte equivalente à proporção dos efeitos danosos  oriundos de sua participação para a ocorrência do prejuízo, conforme se pode observar  pela análise do ensinamento jurisprudencial abaixo:
 
EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR – CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA – HOTEL – PSCINA – AGÊNCIA DE VIAGENS – RESPONSABILIDADE DO HOTEL, QUE NÃO SINALIZA CONVENIENTEMENTE A PROFUNDIDADE DA PSCINA, DE ACESSO LIVRE AOS HÓSPEDES – ART. 14 DO CDC. A culpa concorrente da vítima permite a redução da condenação imposta ao fornecedor. Art. 12, §2°, III, do CDC. A agência de viagens responde pelo dano pessoal que decorreu do mau serviço do hotel contratado por ela para hospedagem durante o pacote de turismo. Recursos conhecidos e providos em parte (STJ – 4ª T. – Resp 287849/SP – rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar – j. 17.04.2001).
 
 Também exclui o explorador da atividade de reparar o dano quando houver culpa exclusiva de terceiro.
 O terceiro será considerado culpado no caso de agir com imperícia, imprudência ou negligência durante o exercício da atividade perigosa do explorador.
 Da mesma forma que na responsabilidade exclusiva da vítima, para que um terceiro seja responsável exclusivo, a sua culpa terá que ser provada pelo explorador da atividadeperigosa, sua responsabilidade será, portanto, subjetiva. 
 A princípio, o fornecedor do produto ou serviço será responsabilizado pelo dano sofrido pelo consumidor, mas em seguida poderá, por meio de ação regressiva, reaver o que dispendiou  para ressarcir a vítima. Também pela ação regressiva poderá cobrar do terceiro na proporção de sua participação para a causação do evento danoso. Neste sentido se manifesta o ensinamento jurisprudencial a seguir:
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – CONTRATO DE TRANSPORTE – ACIDENTE SOFRIDO POR PASSAGEIRO – VÍTIMA FATAL – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – DEC. 2.681/12 – FATO DE TERCEIRO – FATOR DE EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE – INEVITABILIDADE E IMPREVISIBILIDADE – REEXAME DE PROVA – CONFLITO APARENTE DE NORMAS – DANO MORAL. É dever da transportadora conduzir o passageiro incólume até o local de destino. Falecendo passageiro em razão de acidente em estrada, há culpa presumida da empresa de transporte interestadual, somente elidida pela demonstração de caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima (art. 17 do Dec. 2.2681/1912). O Dec. 2.681/1912 não se encontra revogado pelo CDC no que tange à responsabilidade das estradas de ferro e, por analogia, das rodovias, e suas excludentes. Persiste assim aplicável a Súmula 187/STF, que determina que “a responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.” Inserindo-se o fato de terceiro nos riscos próprios do deslocamento e estabelecendo o acórdão a quo não ter sido imprevisível o sinistro, não é este fator excludente da responsabilidade transportadora. Vitimando o acidente indivíduo ainda jovem, estudante, já assalariado, que contribuía para o sustento materno, justa se afigura a condenação a título de danos morais fixados no acórdão recorrido no importe de 300 salários mínimos. Centralizando o acórdão recorrido sua fundamentação na responsabilidade objetiva e contratual da empresa de transporte, os juros moratórios devem ser aplicados a partir da citação. Recurso provido, na parte em que conhecido (STJ – 3ª T. – Resp293292/SP – rel. Min. Fátima Nancy Andrighi – j. 20.08.2001).
 
 O Código Civil, em seu artigo 393, determina que são excludentes de responsabilidade o caso fortuito e a força maior, é o que diz o caput do referido artigo ao dispor:
 
“Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.”
 
 Entende-se como caso fortuito evento previsível quanto à existência, mas imprevisível quanto ao momento e a forma de manifestação, relacionado com a atuação humana. Enquanto a força maior está relacionada com eventos naturais. Porém, alguns afirmam exatamente o contrário, dizendo que o caso fortuito é relativo a acontecimento natural e a força maior relativa à atividade humana. A referida divergência quanto ao conceito de caso fortuito ou força maior torna igualmente divergente a doutrina e a jurisprudência. Neste sentido, não há como definir precisamente se o caso fortuito e a força maior são excludentes da responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor como é no Código Civil.
 Para a caracterização da força maior, bem como do caso fortuito devem estar presentes os requisitos da necessidade, da inevitabilidade e da imprevisibilidadde. A necessidade é a capacidade fática de o evento causar o dano sem que para isso tenha contribuído o sujeito. A inevitabilidade é a impossibilidade de o agente evitar o dano. E a imprevisibilidade é a impossibilidade de previsão do evento danoso. 
 No que tange a imprevisibilidade, Caio Mário da Silva Pereira não a considera um requisito à configuração do caso fortuito ou da força maior, com o qual concordo, tendo em vista que um evento pode ser previsto mas não evitado, como é o caso de abalos sísmicos.
 Há na doutrina uma subdivisão entre caso fortuito e força maior, que são o fortuito interno e o fortuito externo. O fortuito interno está relacionado à pessoa, à coisa ou à empresa do agente. E o fortuito externo está relacionado à natureza.
O Código de Defesa do Consumidor nada pronuncia acerca do caso fortuito e da força maior. E na doutrina há grande divergência quanto à possibilidade ou não da exclusão da responsabilidade do fornecedor com fulcro no caso fortuito ou na força maior.
 Dentre os riscos inerentes à atividade do fornecedor, muitas vezes estão incluídos riscos que poderiam ser classificados como caso fortuito ou força maior, mas que na relação de consumo não excluem a responsabilidade do consumidor.
 
(...) a doutrina mais atualizada já advertiu que esses acontecimentos – ditados por forças físicas da natureza ou que,  de qualquer forma, escapam ao controle do homem – tanto podem ocorrer antes como depois da introdução do produto no mercado de consumo.(GRINOVER at alli, 2001, p. 170-171)
 
 Assim, conforme esta concepção atual, o caso fortuito ou a força maior só poderão ser argüidos pelo fornecedor, quando se manifestarem após a introdução do produto no mercado de consumo, já que há neste caso uma ruptura do nexo causal.
 Sílvio Luís Ferreira da Rocha defende que “o caso fortuito não exclui a responsabilidade quando interior ao processo produtivo.” (ROCHA, 1992, p. 112.). James Marins entende que o caso fortuito, bem como “a força maior excluem a responsabilidade quando ocorrer após a colocação do produto no mercado.” (MARIS, 1993, p. 153). Para Zelmo Denari, “haverá a responsabilidade quando o caso fortuito ou a força maior se derem quando já introduzido o produto no mercado de consumo, momento em que ocorre uma ruptura do nexo de causalidade entre o defeito e o efeito danoso.” (GRINOVER at alli, 2001, p. 155).
Em posicionamento diverso, José Reinaldo de Lima Lopes afirma que “tanto a  força maior quanto o caso fortuito não excluem a responsabilidade dos fornecedores, já que tais excludentes não estão expressas no Código de Defesa do Consumidor.” (LOPES, 1992, p. 153)
 
(...) a doutrina mais atualizada já advertiu que esses acontecimentos – ditados por forças físicas da natureza ou que,  de qualquer forma, escapam ao controle do homem – tanto podem ocorrer antes como depois da introdução do produto no mercado de consumo.(GRINOVER at alli, 2001, p. 170-171)
 
 Assim, conforme esta concepção atual, o caso fortuito ou a força maior só poderá ser elidido pelo fornecedor, quando se manifestar após a introdução do produto no mercado de consumo, já que há neste caso uma ruptura do nexo causal.
A seguir estão dispostas algumas jurisprudências que demonstram as divergências dos tribunais brasileiros quanto ao caso fortuito e à força maior:
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – PROCESSUAL CIVIL E CIVIL – AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL – TRASPORTE DE MERCADORIA – ROUBO – RESPONSABILIDADE DA TRASPORTADORA – O roubo de mercadoria praticado mediante ameaça exercida com arma de fogo é fato desconexo do contrato de transporte e, sendo inevitável, diante das cautelas exigíveis da transportadora, constitui-se em caso fortuito ou força maior, excluindo a responsabilidade dessa pelos danos causados. Agravo não provido. (STJ – AGRESP 470520 – SP – Relª Min. Nancy Andrighi – j. 25.08.2003).
 
EMENTA: DIREITO CIVIL – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – TRANSPORTE RODOVIÁRIO – ROUBO OCORRIDO DENTRO DO Ônibus – inevitabilidade – força maior – exclusão da responsabilidade do transportador precedentes – recurso desprovido – I – A presunção de culpa da transportadora comporta desconstituição mediante prova da ocorrência de força ,maior, decorrente de roubo, idemonstrada a desatenção da ré quanto Às cautelas e precauções normais ao cumprimento do contrato de transporte. II – Na lição de Clóvis, caso fortuito é, “o acidente produzido por força física ininteligente, em condições que não poderiam ser previstas pelas partes”, enquanto força maior é “o fato de terceiro, que criou, para a inexecução da obrigação, um obstáculo, quea boa vontade do devedor não pode vencer”, com a observação de que o traço que os caracteriza não é a imprevisibilidade, mas a inevitabilidade. (STJ – RESP 264589 – RJ – 4ª T. – Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira – j. 18.12.2000).
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – TRANSPORTE COLETIVO – ASSALTO À MÃO ARMADA – FORÇA MAIOR – Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa transportadora o fato inteiramente estranho ao transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do coletivo. Precedentes. Recurso especial conhecido e provido. (STJ – RESP 435865 – RJ – 2ª S. – Rel. Min. Barros Monteiro – j. 12.05.2003).
 
EMENTA: INDENIZAÇÃO – TRANSPORTE DE CARGA – AVARIA NA MERCADORIA TRASPORTADA – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – TRANSPORTE DE CARGA – ACIDENTE E AVARIA DA MERCADORIA TRANSPORTADA – Responsabilidade objetiva da transportadora, ante a falta de comprovação quanto às hipóteses dela excludentes. Ausência de prova inequívoca do parcial aproveitamento da carga e condenação no sentido do ressarcimento integral do prejuízo. Manutenção da sentença. Improvimento do recurso. (TJBA – AC 14.001 – 5/01 – (26.480) – 4ª C. CÍV. – Rel. Dês. João Pinheiro – j. 19.02.2003).
Profissional Liberal
 Conforme  já foi  explicado  neste  trabalho,  a  regra  na  relação  de  consumo  é  a responsabilização objetiva do fornecedor quanto ao dano sofrido pelo consumidor. Mas o Código de Defesa do Consumidor estabelece uma exceção em seu artigo 14, parágrafo quarto, que dispõe:
 
“§4°. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”
 
 A princípio, é mister verificar-se o conceito de profissionais liberais, que é uma categoria de pessoas que exerce atividade laboral diferenciada pelos conhecimentos técnicos reconhecidos por meio de um diploma de nível superior.
 Apesar dos profissionais autônomos também exercerem sua atividade livremente, sem nenhuma subordinação, diferenciam-se dos liberais em razão de não possuírem graduação em nível superior. Assim, o que caracteriza o profissional liberal é a sua formação universitária, o desenvolvimento de um trabalho predominantemente intelectual, livre de subordinação, exercido  dentro  da área de sua  formação e baseado na confiança depositada pelo consumidor.
 O profissional liberal recebe um tratamento especial pelo Código de Defesa do Consumidor em razão de que o mesmo exerce sua atividade predominantemente apenas com suas forças pessoais. Aparentemente há uma paridade entre esta espécie de fornecedor de serviço e o consumidor, a ponto de também ser merecedor de proteção.
 Ora, tendo em vista o conceito de profissional liberal, não há como referido profissional sujeitar-se a uma responsabilização objetiva, pois nem se compara a disparidade de forças econômicas existente entre o consumidor e uma grande empresa e a existente entre o consumidor e um profissional liberal. Se não existisse a exceção determinada pelo art. 14, § 4° do CDC estaria o profissional liberal sujeito ao pagamento de indenizações que poderia não suportar, inviabilizando o exercício de sua profissão. Neste sentido, poderia até mesmo ocorrer uma diminuição da oferta destes serviços, já que, como são exclusivos, ou seja, que somente podem ser prestados com a autorização do órgão competente, acabaria por restringir o mercado de trabalho destes profissionais, tendo em vista o risco da profissão.
 É importante a exigência do registro no órgão competente para certas profissões, porque assim, pelo menos teoricamente, há segurança de que o serviço prestado é exercido por um profissional competente, já que este é habilitado para o exercício da profissão.
 No que tange à escolha de um profissional liberal pelo consumidor, há presença da confiança depositada no profissional liberal contratado. Assim, a contratação de um profissional liberal é intuitu personae. Neste sentido, segue ensinamento jurisprudencialem que adotada a responsabilidade civil subjetiva do profissional liberal:
 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL – CIRURGIÃO DENTISTA – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS. 1. No sistema do Código de Defesa do Consumidor, a “responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” (art. 14, §4º). 2. A chamada inversão do ônus da prova, no Código de Defesa do Consumidor, está no contexto da facilitação da defesa dos direitos do consumidor, ficando subordinado ao “ critério do juiz, quando for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências” (art. 6º, VIII). Isso quer dizer que não é automática a inversão do ônus da prova. Ela depende de circunstâncias concretas que serão apuradas pelo juiz no contexto da “facilitação da defesa” dos direitos do consumidor. E essas circunstâncias concretas, nesse caso, não foram consideradas presentes pelas instâncias ordinárias. 3. Recurso especial não conhecido (STJ – 3ªT. – Resp 122505-SP – rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – j. 04.06.1998).
 
 As obrigações do profissional liberal podem ser divididas em obrigações de meio e de resultado. Porém, a teoria da culpa muitas vezes não se mostra adequada para todos os casos de responsabilidade civil do profissional liberal. Entende grande parte da doutrina que culpa é imprópria para a responsabilização quando a obrigação for de resultado, pois se na oferta e na propaganda do serviço promete-se um resultado, há que se cumprir com o mesmo. Ademais, entendo que o profissional liberal deveria apenas prestar serviços em que se obriga pelo meio, pois nem sempre é certo o resultado. Como exemplo temos o caso de um cirurgião plástico que promete a seus pacientes um nariz igual ao da Xuxa. Ora, se o cirurgião prometeu ao seu paciente que ele sairia da sala de cirurgia com um nariz igual ao da Xuxa, o paciente sofrerá um dano se o seu nariz ficar diferente do nariz da Xuxa, porque o resultado foi diferente daquele contratado.
 Assim, sendo obrigação de resultado, a solução seria a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6°, VIII do CDC, o que facilitaria a defesa do consumidor. Oscar Ivan Prux entende que“a inversão do ônus da prova neste caso deve ser obrigatória.” (PRUX, 1998)
No que diz respeito à obrigação de meio, há perfeita adequação da teoria da culpa na responsabilização do profissional liberal, já que o profissional não esta fazendo sua propaganda afirmando um determinado resultado, mas sim a prestação de um serviço que poderá ou não lhe garantir um resultado favorável. Utilizando-se como exemplo o advogado, temos que este tem uma obrigação de meio quando presta seu serviço na tentativa de alcançar uma decisão favorável ao seu cliente.
 É importante ressaltar, que no caso do cirurgião plástico a jurisprudência tem entendido que quando é assegurado ao paciente que o resultado será melhor do que o estado atual, a obrigação será de resultado, pois o cirurgião está prometendo um resultado melhor. Há neste caso um dano ao direito subjetivo do consumidor,tendo em vista que este é que saberá o que é um resultado melhor. Neste sentido, manifesta-se jurisprudência abaixo:
 
 Assim, quando a obrigação puder ser dividida em de meio e em de resultado, deverá a responsabilidade do fornecedor ser apurada de forma subjetiva quanto à obrigação de meio e de forma objetiva quanto à obrigação de resultado.
CONCLUSÃO
 Em síntese, o presente destacou a importância da defesa do consumidor, em especial da adoção da Responsabilidade Civil Objetiva como regra geral nas relações consumeristas. Desta forma, o Direito do Consumidor visa alcançar um equilíbrio nas relações de consumo, tendo em vista que na maioria destas relações é enorme a desproporção entre consumidor e fornecedor, assumindo aquele uma condição de vulnerabilidade. Para tanto foi elaborado e promulgado o Código de Defesa do Consumidor que trouxe ao ordenamento jurídico diversas normas que viabilizam a defesa do consumidor.Dentre as diversas formas adotadas pelo CDC para a obtenção de uma efetiva tutela do consumidor está a adoção da Responsabilidade Civil Objetiva.
 Com a adoção da Responsabilidade Civil Objetiva pelo CDC, o fornecedor será responsabilizado, independentemente de haver agido com culpa, pelos danos sofridos pelo consumidor, em razão do produto ou serviço colocado no mercado e utilizado pelo consumidor.  Nestes sentido, para que o fornecedor seja responsabilizado pelo dano e tenha o dever de ressarcir o consumidor, basta que este prove o dano, a colocação do produto ou serviço no mercado e o nexo de causalidade existente entre ambos.
 Por fim, com o desenvolvimento deste trabalho fica demonstrado que a utilização da Responsabilidade Civil Objetiva nas relações de consumo é de suma importância para que se estabeleça um equilíbrio em tais relações, já que em vista da vulnerabilidade do consumidor, seria para este um ônus muito pesado ter que produzir provas da culpa do agente causador do dano. Ademais, conclui-se que a aplicação da responsabilidade civil objetiva tem se mostrado bastante eficiente à reparação dos danos sofridos pelo consumidor, o que se pode constatar com os julgados de todo o país. Logo, entendo que às vezes é necessário tratar desigual os desiguais para que se atinja um equilíbrio entre as partes em qualquer relação civil.
 
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 3.ed.atual.ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro. Responsabilidade Civil. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência.6.ed.atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 1995.
CAVALCANTI, Flávio de Queiroz Bezerra. Responsabilidade civil: por fato do produto no Código de Defesa do Consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
 
 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação; referências e elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
 
–––––. NBR 10520: informação e documentação; apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2002.
 
–––––. NBR 14.724:informações e documentação; trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
 
 BRASIL. Constituição Federal (1998). Brasília – DF: Senado, 1998.
 
–––––. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em vigor a partir de 11.01.2003. Institui o Código Civil Brasileiro. Brasília: Senado, 2002.
 
–––––. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília: Senado, 1990.

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