Logo Passei Direto
Buscar

Manual do letramento racial

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

LETRAMENTO
RACIAL
LUIZA MANDELA 
A AUTORA
Pedagoga, Doutoranda em educação no Programa de Pós-
Graduação em Educação – Processos Formativos e
Desigualdades Sociais (UERJ/FFP, Mestra em Relações
Étnico raciais , escritora ,coordenadora editorial e
consultora antirracista. Atuou como professora da
educação básica por onze anos. Idealizadora dos cursos
Letramento Racial, Educar para a diversidade étnico racial
, Onã Infâncias (2020-2021) ,da Mentoria Preta Próspera e
dos cursos de extensão universitária Letramento racial e
educação, Ananse Ntontan por uma educação infantil
antirracista , da Pós Graduação em Relações Étnico -
Raciais e da Comunidade Ori. Premiada, recebeu cinco
moções pelo seu trabalho em prol de uma educação
antirracista, o Diploma Zumbi dos Palmares e o título de
Doutora Honoris Causa. Produtora de conteúdo ,
podcaster do Mandela Pod e empresária da Mandela
Consultoria Antirracista, empresa de cursos , palestras e
consultorias voltadas para as relações étnico- raciais.
2
CAPÍTULO 1
O QUE É
LETRAMENTO
RACIAL??
CAPÍTULO 1 - O QUE É LETRAMENTO
RACIAL ?
Você provavelmente já ouviu falar de
racismo. Mas será que sabe nomear suas
manifestações? Reconhecê-lo nos espaços
que você ocupa? Agir com consciência
para transformá-lo?
Essas são algumas das perguntas que o
letramento racial nos ajuda a responder.
Letrar-se racialmente é mais do que ter
acesso à informação — é ser capaz de
reconhecer, nomear e intervir
criticamente nas estruturas racistas que
moldam a sociedade brasileira.
O conceito "letramento racial" nasce da
interseção entre os estudos do letramento
(alfabetização crítica) e os estudos raciais.
É uma proposta que exige consciência
crítica, escuta ativa e ação intencional
diante do racismo estrutural.
Na prática, isso significa compreender
como o racismo opera — de forma
histórica, estrutural, institucional e
cotidiana — e desenvolver uma leitura
crítica da realidade a partir da
perspectiva racial.
“Ser letrado racialmente é entender que o racismo não
é apenas um problema individual, mas um sistema que
estrutura relações, oportunidades e acessos.'’Luiza
Mandela 
4
A ORIGEM DO CONCEITO 
A antropóloga afro - americana France
Widdance Twine formulou o conceito de
racial literacy, traduzido pela psicóloga e
pesquisadora Lia Vainer Schucman como
“letramento racial”. O letramento racial é
uma forma de responder individualmente às
tensões raciais. Ao lado de respostas
coletivas, na forma de cotas e políticas
públicas, ele busca reeducar o indivíduo em
uma perspectiva antirracista. A ideia
subjacente é a de que quase todo branco é
racista, mesmo que não queira, porque o
racismo é um dado estrutural de nossa
formação social.
5
FRANCE WIDDANCE TWINE
NÃO É SÓ SOBRE SABER !
É comum vermos pessoas que “sabem” que o racismo
existe, mas continuam reproduzindo práticas
discriminatórias ou se silenciando diante da injustiça
racial. Isso acontece porque **informação não é
transformação
O letramento racial vai além da leitura superficial: ele
mobiliza afetos, responsabiliza consciências e convida à
ação É, portanto, uma prática contínua — e não um
destino final.
🧩 Os 3 pilares do Letramento Racial
1. Reconhecer
 Perceber o racismo nos espaços que frequentamos,
nas narrativas que consumimos e nas estruturas que
organizam a sociedade.
2. Nomear
 Desenvolver vocabulário crítico para falar sobre raça,
racismo, branquitude, privilégio e desigualdade sem
rodeios nem eufemismos.
3. Intervir
 Agir com responsabilidade, comprometimento e
estratégia para transformar práticas, relações e
políticas racistas.
⚠ Spoiler importante: letrar-se racialmente também é
um caminho de desconstrução, dor, escuta e
humildade. Mas é esse processo que abre as portas para
uma atuação mais ética, justa e potente.
6
CAPÍTULO 2
RACISMO NO
BRASIL: UMA
BREVE
CARTOGRAFIA
Quando falamos em racismo, muitas
pessoas ainda pensam em atos isolados —
um insulto, uma recusa, um comentário
ofensivo. Mas o racismo é um sistema de
poder e dominação, como explica Silvio
Almeida em sua obra Racismo Estrutural
(2019). Ele opera de forma ampla,
silenciosa e persistente, atravessando a
história e moldando a realidade social
brasileira.
Para se letrar racialmente, é essencial
reconhecer as múltiplas formas do racismo,
sua origem e os mecanismos que o mantêm
operando — mesmo em contextos que se
dizem democráticos ou “neutros”.
CAPÍTULO 2 - RACISMO NO BRASIL :
UMA BREVE CARTOGRAFIA
Racismo estrutural: o cimento da
desigualdade
Segundo Silvio Almeida (2019), o racismo estrutural é
aquele que organiza a estrutura social, estando presente
nas instituições políticas, econômicas, educacionais,
jurídicas e culturais. Ele não depende da intenção de
indivíduos — ele está no funcionamento do sistema.
“O racismo estrutural não se resume a atos de
discriminação, mas se manifesta na normalização da
desigualdade.”
— Silvio Almeida, Racismo Estrutural
Essa forma de racismo é a base das desigualdades que
vemos hoje: a população negra é maioria entre os mais
pobres, os mais encarcerados, os mais vulnerabilizados
— e minoria nos espaços de decisão e prestígio social.
Esse mito impede que o Brasil enfrente suas feridas
coloniais e escravocratas. Ele **silencia denúncias e
neutraliza ações afirmativas**, fazendo com que o
racismo pareça “coisa do passado”.
9
.
Racismo institucional: quando a estrutura
rejeita corpos negros
Nilma Lino Gomes (2017) nos lembra que o racismo
também atua nas políticas públicas e no cotidiano
institucional. Nas escolas, nos hospitais, nos tribunais e
nas empresas, regras e práticas aparentemente neutras
mantêm privilégios brancos e limitam o acesso da
população negra.
Por exemplo:
* Escolas que não abordam a história e cultura afro-
brasileira, contrariando a Lei 10.639/03.
* Universidades com currículos eurocentrados.
* Empresas que se dizem “diversas”, mas onde
nenhuma liderança é negra.
 “A neutralidade é a nova face do racismo
institucional.”
 Nilma Lino Gomes
10
Nilma Lino Gomes
Racismo interpessoal
Frantz Fanon, em ''Pele Negra, Máscaras
Brancas ''(1952), fala sobre como o racismo
estrutura também a subjetividade. No Brasil, a
face mais visível do racismo é o interpessoal —
os atos cotidianos, as piadas racistas, os olhares
de desconfiança, as agressões.
Essas ações são naturalizadas, mas representam
''a ponta do iceberg''’ de um sistema mais
profundo. É aqui que o racismo se disfarça de
“brincadeira” ou “opinião” e continua
violentando.
11
 Racismo internalizado: a dor silenciosa que
adoece
Sueli Carneiro (2003) nos ensina que o racismo também atua
dentro das pessoas negras , gerando sentimentos de
inferioridade, autodepreciação e vergonha da própria
identidade.
Essa dimensão subjetiva do racismo — chamada de ''racismo
internalizado '' — é um dos seus efeitos mais perversos: o de
convencer a vítima de que ela é o problema.
 “É preciso disputar o imaginário, resgatar a
autoestima e fortalecer a identidade negra.”
 — Sueli Carneiro
12
Sueli Carneiro
 A falsa democracia racial: um mito fundante
do Brasil
Lélia Gonzalez, em textos como *Racismo e sexismo na cultura
brasileira* (1984), desmonta a ideia de que o Brasil é um país
“sem racismo”. A noção de democracia racial, como aponta
também Abdias do Nascimento, serviu para ocultar o
genocídio simbólico e físico da população negra. 
Esse mito impede que o Brasil enfrente suas feridas coloniais e
escravocratas. Ele **silencia denúncias e neutraliza ações
afirmativas , fazendo com que o racismo pareça “coisa do
passado”.
"Não vejo cor": a negação como violência simbólica
Dizer que “não vê cor” pode parecer um gesto de igualdade,
mas na prática é uma forma de invisibilizar o racismo. Lélia
Gonzalez nos lembra que a ideologia do “mestiço” e da
“cordialidade” é um instrumento sofisticado do racismo
brasileiro.
Ver a cor é necessário para reconhecer as desigualdades que ela
implica.
13
Lélia Gonzalez
Para não concluir ...
Compreender o racismo em suas múltiplas camadas é o
primeiro passo para interromperseu ciclo de reprodução. O
letramento racial não começa com culpa, mas com
responsabilidade.
Você não precisa saber tudo para começar. Mas precisa
começar para não continuar sustentando o que já está aí há
séculos.
No próximo capítulo, vamos refletir sobre identidade racial e
pertencimento — e por que saber quem somos é um ato de
resistência.
Lélia Gonzalez, em textos como Racismo e sexismo na cultura
brasileira (1984), desmonta a ideia de que o Brasil é um país
“sem racismo”. A noção de democracia racial, como aponta
também Abdias do Nascimento, serviu para ocultar o
genocídio simbólico e físico da população negra. 
Esse mito impede que o Brasil enfrente suas feridas coloniais e
escravocratas. Ele silencia denúncias e neutraliza ações
afirmativas , fazendo com que o racismo pareça “coisa do
passado”.
"Não vejo cor": a negação como violência simbólica
Dizer que “não vê cor” pode parecer um gesto de igualdade,
mas na prática é uma forma de invisibilizar o racismo. Lélia
Gonzalez nos lembra que a ideologia do “mestiço” e da
“cordialidade” é um instrumento sofisticado do racismo
brasileiro.
14
 Referências deste capítulo:
 ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo:
Pólen, 2019.
CARNEIRO, Sueli. “Dispositivo de racialidade: A
construção do outro como não-ser como fundamento do
ser”.Zahar, 2003.
 GOMES, Nilma Lino. Movimento negro educador :
saberes construídos nas lutas por emancipação. Vozes,
2017.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura
brasileira*. São Paulo: Zahar, 2018.
FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas*.
Salvador: EDUFBA, 2008 \[1952].
 CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: A
construção do outro como não-ser como fundamento do
ser”. 2003.
NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do Negro
Brasileiro. Perspectiva, 1978.
15
CAPÍTULO 3 
IDENTIDADE E
CONSTRUÇÃO
RACIAL
 Identidade e Construção Racial: Quem nos
disseram que somos?
Identidade não nasce pronta. Ela é construída a partir das
experiências, da cultura, da linguagem e, sobretudo, das
relações de poder. No Brasil, ser uma pessoa negra ou
branca não significa apenas ter certa tonalidade de pele —
mas sim carregar histórias, sentidos e posicionamentos
que foram sendo socialmente produzidos.
Entender como se forma a identidade racial é uma etapa
essencial do letramento racial. Afinal, quem não conhece a
própria história pode acabar reproduzindo narrativas que
o silenciam ou o oprimem.
17
 Identidade racial: uma construção social
A identidade racial não é biológica. A ciência já desmentiu a
existência de “raças humanas” do ponto de vista genético. O
que existe são construções sociais que se baseiam na aparência
e em heranças culturais para estabelecer hierarquias e
exclusões.
Segundo Stuart Hall (2003), identidade é uma construção em
constante transformação, atravessada por história, linguagem
e poder. Somos quem somos em relação a outros e dentro de
contextos sociais.
 Quem nos ajuda a entender isso?
Nilma Lino Gomes (2017) fala sobre socialização racial o
processo pelo qual aprendemos (ou não) a nos ver como
pessoas racializadas, desde a infância. Ela destaca que há uma
diferença entre ser negro e sentir-se negro — algo que exige
consciência, vivência coletiva e referências positivas.
 Frantz Fanon (1952) discute o impacto da colonização na
subjetividade negra. Para ele, o racismo impõe uma “máscara
branca” sobre o sujeito negro, gerando conflitos internos e
crises de identidade.
Kabengele Munanga (2003) argumenta que o Brasil criou um
modelo de mestiçagem que dissolve a identidade negra, ao
passo que exalta o embranquecimento como ideal de beleza,
sucesso e civilidade.
18
 Socialização racial: aprendemos a ver
cor — e a hierarquizá-la
A forma como nos enxergamos racialmente tem
tudo a ver com o que nos foi dito, mostrado ou
escondido desde a infância:
Uma criança negra que só vê bonecas brancas,
livros sem protagonistas como ela, e é
chamada de “cabelo ruim” na escola, aprende
a se ver como “errada”.
 Uma criança branca que não ouve falar de
racismo e nunca vê pessoas negras em cargos
de poder, aprende a se ver como
“naturalmente” no topo.
O racismo é pedagógico. Ele ensina desde
cedo quem pode e quem não pode sonhar.
— Luiza Mandela
Por isso, letrar-se racialmente é reeducar o olhar e
o imaginário.É oferecer referências positivas,
nomear as violências e recontar as histórias que
foram apagadas.
19
 Branquitude: o lugar da norma
Quando falamos de identidade racial, é comum
associarmos essa discussão apenas às pessoas
negras, indígenas ou racializadas. Mas a identidade
branca também é racial — e exerce poder histórico
e simbólico.
Autores como Sueli Carneiro (2003) e Lia Vainer
Schucman (2014) chamam atenção para a
branquitude como lugar de privilégio não
nomeado, que se afirma como norma universal.
* A branquitude raramente é questionada: ela é
vista como neutra, como “gente”, como “normal”.
* Isso torna o racismo ainda mais difícil de ser
reconhecido — já que a norma não se enxerga
como posição, mas como padrão.
Reconhecer a branquitude é um passo fundamental
para que pessoas brancas assumam
responsabilidade no enfrentamento ao racismo.
20
Identidade em movimento
A identidade racial não é um ponto de partida fixo, mas
um campo em disputa. Ao longo da vida, podemos
revisitar nossas experiências, ressignificar traumas,
reconectar com a ancestralidade e (re)construir o modo
como nos vemos.
 Tornar-se negra(o) é também um ato político — de
resistência, de autoestima e de enfrentamento.
Como diz a filósofa Angela Davis: ''Quando a mulher
negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se
movimenta com ela.''
21
Angela Davis
 ✍🏾 Exercício de letramento racial
Pense nas perguntas abaixo e, se quiser, escreva
suas respostas:
 Quando foi a primeira vez que você se
percebeu como pessoa racializada?
Que tipo de comentários você ouviu sobre seu
corpo, cabelo ou aparência durante a infância?
Você consegue nomear as suas referências
negras de poder e beleza?
Se você é branco(a), quando começou a pensar
sobre sua branquitude?
22
 Referências deste capítulo:
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no
Brasil. Autêntica, 2003.
 CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser
como fundamento do ser”. 2003.
 SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o Encardido, o Branco e o
Branquíssimo: Branquitude, hierarquia e poder na cidade de
São Paulo. Annablume, 2014.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.
DP\&A, 2003.
23
CAPÍTULO 4 
PRÁTICAS
COTIDIANAS DO
LETRAMENTO
RACIAL
 
Práticas Cotidianas do Letramento Racial:
Antirracismo começa no dia a dia
Letramento racial não é apenas um acúmulo de
leituras. É uma forma de ler o mundo com lentes
críticas e se comprometer com ações antirracistas,
mesmo nos pequenos gestos.
Muita gente pergunta:
"Mas o que eu posso fazer na prática?"
A resposta é: muito. Porque o racismo é sistêmico, mas
ele se sustenta em atitudes cotidianas— nas escolhas de
quem contratamos, ouvimos, indicamos, silenciamos
ou citamos.
Neste capítulo, vamos listar formas de aplicar o
letramento racial nos espaços que você ocupa,
mostrando que não é necessário ser “especialista” para
começar a agir — basta estar disposto a se
responsabilizar.
25
Na educação: do currículo à convivência
Educadores têm um papel estratégico. Segundo Nilma
Lino Gomes (2017), o currículo é também um campo de
disputa racial. Ensinar é sempre também uma forma de
narrar o mundo — e de incluir ou apagar sujeitos.
Aplicar a Lei 10.639/03 , que torna obrigatória a história
e cultura afro-brasileira e africana.
Evitar o uso de livros didáticos que reproduzem
estereótipos raciais (negros como escravizados,
subalternos ou sem protagonismo).
Estimular referências negras nas ciências, nas artes, na
filosofia e na literatura.
 Intervir em situações de racismo entre estudantes com
mediação pedagógica, e não silêncio.
Respeitar os saberes das famílias negras e acolher suas
narrativas.
“Ser educador antirracista é ensinar com os olhos
abertos para a dor e paraa potência.”
— Luiza Mandela
26Luiza Mandela
 No ambiente de trabalho: quem sobe e quem
some?
A branquitude corporativa no Brasil ainda é regra.
Segundo dados do IBGE e do Instituto Ethos (2019),
pessoas negras representam menos de 5% dos cargos
de liderança nas grandes empresas.
Aplicações práticas:
Incluir diversidade racial nos processos seletivos ,
mas também no plano de carreira.
Valorizar fornecedores, parceiros e consultores
negros.
 Rever códigos de vestimenta e aparência que
criminalizam a estética negra.
 Criar canais de denúncia seguros e ações
corretivas contra racismo institucional.
Promover formação continuada em letramento
racial com especialistas negros.
27
 Nas redes sociais: para além dos likes
A internet é um espaço potente para aprendizagem e
mobilização racial. Mas também é terreno fértil para
discursos de ódio, silenciamento e performatividade.
Cuidados e sugestões:
Evite “lacrar” em nome do antirracismo sem
compromisso prático.
 Priorize conteúdos de criadores negros e
indígenas , amplifique suas vozes.
 Cuidado com o uso de linguagem que fetichiza
ou estereotipa corpos negros.
Não consuma pautas raciais apenas em datas
comemorativas.
 Se errar (e você vai), assuma, repare e aprenda —
não apague ou silencie.
28
Na família e nas relações íntimas: o racismo começa em
casa
Muitas vezes, o desafio maior está nos espaços de
intimidade. Conversas de jantar, brincadeiras “de
época”, avós e tios que “falam sem maldade”.
Práticas possíveis:
Corrigir falas racistas com firmeza e afeto.
Ensinar crianças a valorizarem a diversidade
étnico -racial desde cedo.
Presentear com brinquedos, livros e conteúdos
com protagonismo negro.
Reconhecer o silêncio como cumplicidade: não
rir, não ignorar, não deixar passar.
29
 Estratégias para todos os contextos:
Pergunte: “Essa decisão é inclusiva racialmente?”
Revise: “O que estou reproduzindo sem
perceber?”
Redirecione:“Como posso incluir uma perspectiva
negra nessa pauta?”
Repare:
 “Quem foi silenciado ou apagado aqui?
Redistribua:“Como compartilho poder, visibilidade e
renda?”
30
✊🏾 Um compromisso de longo prazo
Antirracismo não é um “projeto de marketing
pessoal” nem uma fase. É um compromisso ético e
político com a justiça racial.
Como lembra bell hooks, em Ensinando a
Transgredir (1994), o ato de ensinar e aprender pode
ser radicalmente libertador quando se enraíza na
escuta, na empatia e na responsabilização.
 
31bell hooks
 ✍🏾 Desafio prático: ação em 7 dias
Durante os próximos 7 dias, registre
diariamente:
1. Um comportamento racista que você
reconheceu ao seu redor.
2. Uma ação concreta que você tomou (ou
poderia tomar).
3. Uma reflexão pessoal sobre o que aprendeu
com essa situação.
Esse exercício ajuda a transformar o olhar em
prática, e a prática em hábito.
32
Referências deste capítulo:
 
CARNEIRO, Sueli. Racismo, Sexismo e
Desigualdade no Brasil. Selo Negro, 2011.
hooks, bell. Ensinando a Transgredir: A
Educação como Prática da Liberdade. WMF
Martins Fontes, 2013.
INSTITUTO ETHOS. *Perfil Social, Racial e
de Gênero das 500 Maiores Empresas do
Brasil e suas Ações Afirmativas*, 2019.
33
CAPÍTULO 5 
CAMINHOS PARA
UMA FORMAÇÃO
CONTÍNUA 
 
Indicações de livros, filmes, podcasts e perfis
Livros
Pequeno Manual Antirracista* – Djamila Ribeiro
Como ser um educador antirracista ? Bárbara
Carine
A invenção das mulheres* – Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí
Tornar-se Negro* – Neusa Santos Souza
O genocídio do negro brasileiro* – Abdias do
Nascimento
Memórias da plantação* – Grada Kilomba
Seja Potência Negra Luiza Mandela, Cleber
Barros (Orgs)
Filmes e documentários:
AmarElo – É tudo pra ontem* (Netflix)
O Caso do Homem Errado* (Vimeo)
Estrelas além do tempo*
13ª Emenda* (Netflix)
A Negação do Brasil* (Joel Zito Araújo)
Panteras Negras: Vanguarda da Revolução*
35
Podcasts
Mandela Pod – com Luiza Soares
Afetos – com Gabi Oliveira e Karina Vieira
Mano a Mano
Angu de Grilo – com Flávia Oliveira e Isabela
Reis
Perfis e iniciativas nas redes sociais :
@luizamandela
 @pretaaletrada
@sankofamily
@ricardotassilo
@agatapauer
36
 ✍🏾 Exercício: Plano de ação pessoal
antirracista em 3 passos
1. Identifique um comportamento, crença ou prática
que você deseja transformar
 Exemplo: Costumo evitar me posicionar
quando vejo falas racistas em reuniões de
trabalho.
2. Estabeleça uma meta de curto prazo para agir de
forma diferente;
 Exemplo: Em situações de racismo velado,
quero intervir com firmeza, usando referências e
argumentos que venho estudando.*
3. Escolha um conteúdo ou mentor que possa apoiar
sua continuidade
 Exemplo: Vou seguir os conteúdos da
Comunidade ORI e fazer anotações semanais
para revisar o que estou aprendendo.*
Você pode usar este plano como um mapa inicial.
Lembre-se: é mais importante construir constância
do que tentar ser "perfeito" desde o início.
37
Convite para a próxima etapa: sua jornada
antirracista não termina aqui
Se você chegou até aqui, é porque tem coragem.
Coragem de se olhar no espelho da história, de
revisar crenças, de reconhecer privilégios ou dores
silenciadas. Coragem de começar.
Mas o letramento racial não é uma etapa que se
conclui com a leitura de um manual ou a
participação em um curso. Ele é um compromisso
contínuo com a justiça racial, com a equidade e
com a construção de um mundo em que nossas
existências — pretas, indígenas, racializadas — não
apenas sobrevivam, mas prosperem.
38
É por isso que, a partir deste ponto, queremos te
fazer um convite honesto, profundo e necessário:
seguir nessa jornada com a gente na Comunidade
ORI.
O que é a Comunidade ORI?
A ORI é um espaço vivo de trocas, formação e
fortalecimento, pensado para quem quer
transformar teoria em prática e manter-se em
movimento na construção de uma atuação
antirracista consistente.
Lá você vai encontrar:
Aulas mensais com especialistas
convidados
Encontros de aprofundamento e debate
Materiais exclusivos e atualizados
Rede de apoio com pessoas comprometidas
com a mesma causa
39
Para quem é a ORI?
Para quem atua como:
Educadora ou educador da educação básica
ou superior
Psicóloga, advogada
Gestora pública ou privada
Comunicadora, jornalista ou produtora de
conteúdo
Profissional de RH, liderança institucional
ou empresarial
Militante ou articulador de políticas
públicas
Integrante de coletivos ou organizações
sociais
Se você quer mais do que informação — quer
consistência, prática e comunidade — a ORI é
para você.
🔗 Garanta agora sua entrada:
https://lp.professoraluizamandela.com.br/comu
nidade-ori?
_gl=1*y9clss*_gcl_au*MTg5ODA1NTEyNS4x
NzQ5MDAwNTAx
40
Conclusão: O compromisso com o longo prazo
O letramento racial não termina com a leitura de
um livro, nem com um curso rápido. Ele se sustenta
na autorrevisão constante na escuta das pessoas
negras, na coragem de errar e refazer.
Como afirma bell hooks, a educação como prática
de liberdade começa quando aceitamos que “a
transformação pessoal e coletiva é um processo que
dura a vida inteira”.
Que este manual seja o início — e não o fim da sua
jornada.
41

Mais conteúdos dessa disciplina