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(Organizador) Leonardo Batista Pedroso TEORIAS E EXPERIÊNCIAS ENSINO DE GEOGRAFIA (Organizador) Leonardo Batista Pedroso TEORIAS E EXPERIÊNCIAS ENSINO DE GEOGRAFIA Ensino de Geografia [livro eletrônico]: teorias e experiências Leonardo Batista pedroso (organizador). Ituiutaba, MG : Editora Zion, 2021. Formato: PDF Vários autores. ISBN 978-65-994954-2-7 DOI 10.29327/543350 1. Ensino - Metodologia 2. Geografia - Estudos e ensino 3. Prática de ensino I. Pedroso, Leonardo Batista. Dr. Antonio Guimaraes Brito Universidade Federal do Rio Grande Dr. Leonardo Batista Pedroso Instituto Federal Goiano Dr. Luiz Carlos Goiabeira Rosa Universidade Federal de Uberlândia Dr. Marcus Vinícius Costa da Conceição Instituto Federal Goiano Dra. Mariana Velasque Borges Okinawa Institute of Science and Technology Dr. Matheus Silva de Paiva Universidade Católica de Brasília Dr. Paulo Ricardo dos Santos Universidade Federal do Cariri Dr. Rildo Aparecido Costa Universidade Federal de Uberlândia Dra. Risely Ferraz Almeida Universidade de São Paulo Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Direção Editorial Revisão Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Organizadores Dra. Fernanda Pereira Martins Eliete Marques da Silva - CRB-8/9380 Leonardo Batista Pedroso Biliotecária Os Autores Editora Zion Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 21-75898 Elaborado por Eliete Marques da Silva - CRB-8/9380 CDD:910.07 Índices para catálogo sistemático: 1. Geografia: Ensino 910.07 1.a Edição - Copyright© dos autores Direitos de Edição reservados à editora ZIon O conteúdo dos capítulos que compõem esta obra são de inteira responsabilidade dos seus respectivos autores, os quais tem propriedade intelectual sobre a mesma. Os autores também se responsabilizam pela revisão gramatical e ortográfica, bem como pelo cumprimento das normas da ABNT NBR6023. 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É permitida a livre distribuição da publicação, bem como sua utilização como fonte de pesquisa, desde que sejam seguidas as normas da ABNT NBR6023. contato@editorazion.com.br www.editorazion.com.br Conselho Editorial https://www.cblservicos.org.br/servicos/meus-livros/visualizar/?id=d078631a-b6e1-eb11-bacb-000d3ac19f01 https://doi.org/10.29327/543350 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .............................................................................. 4 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E LEITORES DE MUNDO EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: OS MAPAS MENTAIS, OS CROQUIS CARTOGRÁFICOS E O OLHAR ESPACIAL DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA EJA NA UNIDADE DE ASSIS/SP ..................................................................... 5 João Marcos Garcia Vieira/ Andréa Aparecida Zacharias DOI 10.29327/543350.1-1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS CONDENADOS DE IMPERATRIZ, MARANHÃO: DEBATES E ANALISES PRELIMINARES ............................................................................. 36 Karolayne Carneiro dos Santos / Allison Bezerra Oliveira / José Alencar Viana e Araújo / Daniely Lima Silva / Maria do Rosário Sá Araújo DOI 10.29327/543350.1-2 O PAPEL DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DE EDUCANDOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS: SABERES E FALAS COMO CAMPO INVESTIGATIVO ................................................................ 56 Elvis Reis de Oliveira / Maicon Lemos Sathler DOI 10.29327/543350.1-3 AFRICANIDADES E ENSINO: LIVRO DIDÁTICO E FORMAÇÃO ACADÊMICA .................................................................................. 75 Rafaela Pacheco Dalbem / Adilar Antonio Cigolini DOI 10.29327/543350.1-4 A UTILIZAÇÃO DO KAHOOT NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO A DISTÂNCIA ................................................................... 103 Carolina dos Santos Camargos / Fernanda Pereira Martins / Raquel Balli Cury DOI 10.29327/543350.1-5 SOBRE O ORGANIZADOR .............................................................. 112 ÍNDICE REMISSIVO ...................................................................... 113 4 APRESENTAÇÃO Compreender o espaço geográfico e suas múltiplas relações é uma tarefa que perpassa os diversos campos de conhecimentos inerentes à Geografia. Promover relações de ensino-aprendizagem que favoreçam essa compreensão é, notoriamente, uma tarefa de suma importância para entender as relações que se estabelecem na sociedade. O ensino reflexivo da Geografia promove bases para a edificação de cidadãos críticos, aptos a enxergarem o mundo para além de como é posto pelos atores sociais. Cria condições para que o educando se veja como parte dos processos sociais e entenda o espaço geográfico sob a ótica do viés identitário, isto é, como parte do seu ser, assumindo seu lugar e sua função nessa perspectiva. Tão nobre é a arte de ensinar a Geografia, que pode ser contemplada enquanto uma ciência única, capaz de gerar nos indivíduos mudanças e/ou compreensão de paradigmas inerentes à sua rotina e história nunca antes percebidos ou analisados. Quando essa transformação acontece, a mente se abre e o mundo passa a ser percebido de forma diferente, como um universo de possibilidades, mas também palco de disputas, conflitos e desigualdades. Se tão relevante, necessário é compartilhar experiências e saberes que dialoguem entre si, que venham a somar sobretudo na perspectiva da inclusão. Diante deste contexto, essa obra traz 5 capítulos, dos quais será possível constatar a riqueza da diversidade da percepção da importância do ensino de Geografia. Desejo uma excelente leitura. Que os conhecimentos aqui compartilhados possam ampliar seus horizontes! Leonardo Batista Pedroso 5 CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E LEITORES DE MUNDO EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: OS MAPAS MENTAIS, OS CROQUIS CARTOGRÁFICOS E O OLHAR ESPACIAL DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA EJA NA UNIDADE DE ASSIS/SP1 João Marcos Garcia Vieira Bacharel em Direito pela Universidade Paulista – UNIP Profº de Sociologia e Filosofia na SEE/São Paulo Profº de Ciências Humanas - Projeto “Educação nas Prisões” na D.R de Ensino de Assis/SP Profº de Geografia do Colégio Paraguaçu em Paraguaçu Paulista Graduando em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP/Câmpus de Ourinhos http://lattes.cnpq.br/1670349183025333 Andréa Aparecida Zacharias Doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Câmpus de Rio Claro/SP Profª Drª da Universidade Estadual Paulista - UNESP/Câmpus de Ourinhos/SP Profª do Programa de Pós-graduação em Geografia (M e D) - UNESP/Câmpus de Rio Claro/SP Líder do GP em Geotecnologias e Cartografia Aplicadas à Geografia – GEOCART/CNPq Coordenadora do GT “Geotecnologias e Método de Representação Espacial” – ENANPEGE/ANPEGE http://lattes.cnpq.br/8074996481293417 1 As discussões apesentadas neste capítulo traz novas abordagens, análises e acréscimos, daquelas já iniciadas durante o XI Colóquio de Cartografia para Crianças e Escolares, realizado no ano de 2020, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde pelo formato online não houve a publicação dos trabalhos em Anais, garantindo sua originalidade. http://lattes.cnpq.br/1670349183025333 http://lattes.cnpq.br/8074996481293417 Ensino de Geografia – Capítulo 1 6 RESUMO: O presente artigo trata da importância da Cartografia Social e dos mapas mentais e croquis cartográficos, como método e metodologias, para a formação de alunos críticos e mapeadores conscientes, durante as atividades com o uso de mapas, em sala de aula, a partir da percepção do aluno sobre os elementos e componentes geográficos representados. Assim, a partir de práticas espaciais, envolvendo alunos do 2º ano do EM do Ensino de Jovens e Adultos, em situação de privação de liberdade, por meio do sistema prisional da Unidade de Assis/SP, explicita sobre as diferentes representações cartográficas elaboradas, tendo como base o mapa mental do bairro de local de vivência dos alunos. Através dos métodos da Cartografia Social, os alunos elaboram os mapas mentais de seus bairros de vivências, onde a partir da análise espacial: a) num primeiro momento, investigamos como os alunos percebem, veem, sentem, entendem, interpretam e, sobretudo como viviam e conviviam com o seu espaço cotidiano quando em liberdade; b) num segundo momento, construímos uma aprendizagem significativa dos conceitos geográficos, desenvolvendo nos alunos a capacidade crítica da percepção, da interpretação e da leitura sobre a espacialidade dos espaços vividos pelos croquis elaborados e; c) num terceiro momento, avaliamos os mapas mentais obtidos por meio dos croquis cartográficos considerando as cinco operações cognitivas espaciais para a leitura e domínio espacial do mapa - Alfabetização Cartográfica – AC; Letramento Cartográfico – LC; Pensamento Espacial – PE; Raciocínio Geográfico – RG; Raciocínio Gráfico e Cartográfico – RGC) - entendo-as como marco de avaliação das práticas espaciais representadas pelos reeducados. Os resultados obtidos podem ser observados nos 05 (cinco) croquis cartográficos elaborados por 05 (cinco) reeducandos, matriculados no Ensino Médio, durante a aplicação das aulas de Geografia, no mês de fevereiro de 2020, cujas propostas mostraram a representação espacial do bairro de vivência, destacando seus espaços percebidos, vividos e afetivos. Os mapas mentais, por meio de croquis cartográficos, na leitura de mundo, é um importante caminho metodológico para a leitura crítica e reflexiva sobre os espaços vividos, percebidos e afetivos pelos alunos em situação de privação de liberdade. Ensino de Geografia – Capítulo 1 7 PALAVRAS-CHAVE: Cartografia Social; Croqui Cartográfico, EJA; Ensino; Educação nas Prisões. NON-FORMAL EDUCATION AND WORLD READERS IN DEPRIVATION OF FREEDOM: MENTAL MAPS, CARTOGRAPHIC SKETCHES AND SPATIAL VIEWS OF EJA HIGH SCHOOL STUDENTS FROM THE ASSIS/SP UNIT ABSTRACT: This article deals with the importance of Social Cartography and mental maps and cartographic sketches, as method and methodologies, for the formation of critical students and conscious mappers, during activities with the use of maps, in the classroom, from of the student's perception of the represented geographic elements and components. Thus, based on spatial practices, involving students of the 2nd year of the MS of Youth and Adult Education, in a situation of deprivation of freedom, through the prison system of the Assis / SP Unit, it explains about the different cartographic representations elaborated, having based on the mental map of the neighborhood where students live. Through the methods of Social Cartography, students prepare mental maps of their neighborhoods of experiences, where from the spatial analysis: a) at first, we investigate how students perceive, see, feel, understand, interpret and, above all, how they lived and lived with their everyday space when in freedom; b) in a second moment, we build a significant learning of the geographical concepts, developing in the students the critical capacity of perception, interpretation and reading about the spatiality of the spaces lived by the elaborated sketches and; c) in a third moment, we evaluated the mental maps obtained by means of cartographic sketches considering the five spatial cognitive operations for the reading and spatial domain of the map - Cartographic Literacy - AC; Cartographic Literacy - LC; Spatial Thinking - PE; Geographic Reasoning - RG; Graphical and Cartographic Reasoning - RGC) - I understand them as a framework for evaluating the spatial practices represented by the re-educated. The results obtained can be seen in the 05 (five) cartographic sketches prepared by 05 (five) Ensino de Geografia – Capítulo 1 8 reeducated, enrolled in high school, during the application of Geography classes, in February 2020, whose proposals showed the spatial representation of the neighborhood of experience, highlighting their perceived, lived and affective spaces. Mind maps, by means of cartographic sketches, in the reading of the world, are an important methodological path for critical and reflective reading about the spaces experienced, perceived and affective by students in situations of deprivation of liberty. KEYWORDS: Social Cartography; Cartographic Sketch, EJA; Teaching; Education in prisons. INTRODUÇÃO A Educação para pessoas em situação de privação de liberdade se insere na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e deve ser entendida como um processo contínuo ao longo da vida, que requer clara aplicabilidade sobre o desenvolvimento de competências e habilidades para a eficiência do ensino. No hodierno, encontramos duas realidades nas prisões, uma opressora, que tem como finalidade adaptar o indivíduo ao isolamento social e cárcere e, outra que é libertadora e transformadora, a partir da educação. Realidades que, trabalhar com pessoas em situação de privação de liberdade torna-se um desafio permanente e constante, se refletirmos que a escola está inserida dentro de um local totalmente adverso do contexto e da dinâmica que compõem as relações sociais de vida na/da sociedade. Romper esses paradigmas significa inventar e se reinventar, diariamente, como professor, efetivando-se muitas vezes em um trabalho astucioso, ardiloso e perspicaz que requer dedicação, vocação, além de estudos constantes sobre o cotidiano do sujeito/indivíduo (aluno) e o conteúdo (componente curricular) que são inseridos no mesmo ambiente e mundo escolar. Ou seja, buscar caminhos para desenvolver algo libertador e transformador Ensino de Geografia – Capítulo 1 9 pela educação, em um lugar de prisão, marcado pela opressão, sempre serão os maiores exercícios no ensino e a aprendizagem durante a prática docente. É notório que o atual sistema prisional, que dê atual não tem nada, é extremamente falho, fracasso e não cumpre seu principal papel que é a ressocialização da pessoa em privação de liberdade. No, Brasil existem poucas, ou quase inexistentes, políticas públicas eficientes para trabalhar tal realidade, havendo necessidades de buscar respostas sobre quem são essas pessoas dentro da sociedade? São sujeitos (alunos) historicamente marginalizados, privados de direitos básicos, negligenciados pelo Estado e pela sociedade? São pessoas esquecidas (por quem e porquê?) que cometeram delitos, assim definido pelo grupo social aos quais nunca pertenceram? São muitas inquietações, que: [...] quem, melhor que os oprimidos, se encontrarão preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até mesmo quando está se revista da falsa generosidade referida. (FREIRE, 2011, p. p.59). A proposta educacional traçada para essas escolas, baseada nos princípios da EJA, enfatiza que a ação educativa deve promover o indivíduo como agente do seu aprendizado, levando em conta o conhecimento já apresentado por ele, suas visões de mundo e buscar transformar o mundo em que ele esteve e/ou está inserido. Ensino de Geografia – Capítulo 1 10 Assim, o processo de ensino da EJA deve sempre levar em conta a vocação ontológica – o ser; e as condições nas quais estão inseridos, analisando todo seu contexto. A educação não deve ser utilizada como instrumento de ajuste e, sim como um meio que permita ao indivíduo vislumbrar, através da educação, outras possibilidades de vida. E, dentro desta lógica social, composta por inúmeras diversidades e pluralidades, no Brasil, ainda temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como o documento norteador dos Currículos – estaduais – e das Propostas Pedagógicas das escolas na educação básica brasileira. Sua grande finalidade é determinar além, das competências gerais e específicas, também, as habilidades e as aprendizagens essenciais que os alunos devem desenvolver, durante cada etapa da educação, independentemente das heterogeneidades culturais dos lugares e regiões de moradias onde estudam as crianças, os adolescentes ou os jovens. Na BNCC, o componente curricular Geografia, se insere na área de Ciências Humanas (Ensino Fundamental) e nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (Ensino Médio), adotando-se de diferentes linguagens cartográficas para mediar conhecimentos para a leitura de mundo de forma a “permitir que os alunos se tornem produtores e leitores de mapas dos mais variados lugares vividos, concebidos e percebidos” (Brasil, 2018, p. 353 – grifo nosso). Nessa perspectiva, ler o mundo vai além dos livros e das linguagens cartográficas, uma vez que, não é apenas uma leitura do mapa ou pelo mapa. E, sim compreender tudo aquilo que faz parte da dinâmica do espaço. Por isso sua leitura traz uma marca na vida dos homens, visto que o exercício de compreensão do mundo irá levá-lo ao resultado da vida em sociedade. A partir desta relação dialógica, é preciso criar possibilidades para encontrar formas de ler o mundo, produzindo um conhecimento que possa Ensino de Geografia – Capítulo 1 11 ser empregado, no decorrer do desenvolvimento da metodologia do ensino de Geografia, em sala de aula, uma vez que: [...] o conhecimento geográfico produzido na escola pode ser o explicitamente do diálogo entre a interioridade dos indivíduos e a exterioridade das condições do espaço geográfico que os condiciona (REGO, 2000, p.8). Face ao exposto, este capítulo tem como objetivo apresentar alguns croquis cartográficos, elaborados a partir do mapa mental do bairro de vivência dos alunos do Ensino de Jovens e Adultos do 2º ano do Ensino Médio, da E.E Prof. Léo Pizzato, alocada na unidade prisional do Município de Assis/SP2, para que se possa entender os saberes dos alunos, frente à toda complexidade de mundo que os rodeiam, transformando-os em leitores críticos das contradições de mundo as suas voltas. METODOLOGIA O grande desafio, na atualidade, do ensino é fazer com que os professores busquem formas de tornar suas aulas mais atrativas e dinâmicas. Assim, incluir os alunos neste processo é fundamental 2 Vale esclarecer que, esta pesquisa traz como recorte espacial a unidade prisional de Assis2, por meio da Escola E.E Prof. Léo Pizzato, onde o pesquisador é professor. Vinculada ao Programa Educação nas Prisões, a Escola conta com 10 (dez) salas de aulas, sendo 3 (três) salas de Ensino Fundamental I, 4 (quatro) salas de Ensino Fundamental II e 3 (três) salas de Ensino Médio, onde são oferecidas em média de 400 (quatrocentas vagas) a cada semestre que, em detrimento da alta rotatividade de alunos são atendidas, em média, (380) trezentos e oitenta alunos por semestre. A Diretoria Regional de Ensino de Assis compreende 14 (quatorze) municípios - Assis, Borá, Candido Mota, Cruzália, Florínea, Iepê, Lutécia, Maracaí, Nantes, Palmital, Paraguaçu Paulista, Pedrinhas Paulista, Platina e Tarumã -, e conta com 3 (três) unidades prisionais de ensino nos municípios de Assis, Florínea e Paraguaçu Paulista. Ensino de Geografia – Capítulo 1 12 para que possam ser sujeitos críticos, reflexivos e acima de tudo, cidadão. Constatação de que, a pesquisa tem como objeto de análise o método da Cartografia Social (CS), que traz reflexões sobre as realidades de comunidades fragilizadas, a partir de atividades escolares, compostas pela tríade ENSINO DE GEOGRAFIA - ESPAÇO - LINGUAGEM CARTOGRÁFICA, CUJOS resultados protagonizam leituras críticas acerca da realidade vivida por um grupo social. Nesta lógica, a CS: [...] não é meramente uma técnica de representação, mas sim uma construção de um processo social, a partir da percepção da visão de mundo daqueles que elaboram os mapas [...] onde passa a ser compreendida, como um processo e não uma técnica de representação em si, a CS tem como princípio a autorrepresentação do sujeito que se apropria do território e ali constrói sua identidade. Esse processo envolve percepção, concepção e representação (GOMES, 2017, p. 99). E, para a prática da CS, o estudo adota os caminhos metodológicos propostos por Simielli (1996), ao estimular a elaboração de croquis cartográficos para a formação do aluno leitor crítico e mapeador consciente, reflexivos a partir de práticas espaciais por eles representadas. De acordo com Simielli (1996), partindo do pressuposto que os alunos já tenham noções de uma alfabetização cartográfica, pelos anos anteriores, o professor deve trabalhar o mapa em dois eixos (Figura 1 e Quadro 1): a) um primeiro eixo, onde se trabalha com o produto cartográfico já elaborado - os mapas, as cartas e as plantas – partindo de uma escala menor para uma escala maior, Ensino de Geografia – Capítulo 1 13 tendo ao final do processo um leitor crítico. O aluno trabalha com produtos já elaborados, portanto, será um leitor de mapas, porém um leitor crítico e não um aluno que simplesmente usa o mapa para localizar fenômenos; b) num segundo eixo, o aluno é participante efetivo do processo, tendo como resultado um aluno mapeador consciente que trabalhará tanto com imagem tridimensional, quanto imagem bidimensional. Como? Através de maquetes (que é uma representação tridimensional) e os croquis (que são desenhos e mapas mentais cuja representação é bidimensional). A grande diferença em relação ao primeiro eixo é que o aluno efetivamente vai participar do processo de mapeamento ao confeccionar a maquete, o mapa ou o croqui. Figura 1. Caminhos Metodológicos para a formação do aluno leitor crítico e mapeador consciente – Simelli (1996) Fonte: Simielli (1996), adaptado pelos autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 14 Quadro 1. Produtos Cartográficos para a formação de alunos críticos e mapeador consciente Simielli (1996) PRODUTO CARTOGRÁFICO DEFINIÇÃO MAPA Representação plana, em pequena escala, de uma área da superfície terrestre, vista de cima, delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas, etc.) e político-administrativos, apresentando seus aspectos naturais e artificiais (construídos pelo homem). É obtido da redução de escala e das informações contidas nas cartas e representa uma unidade (município, estado, país, continente, etc.), geralmente em escala pequena (IBGE, 1985, p. 9). CARTA Representação gráfica dos aspectos naturais e artificiais da Terra, permitindo a medição precisa de distâncias, áreas, direções, altitudes e a localização geográfica dos detalhes representados. É subdividida em folhas, obedecendo a um plano nacional ou internacional, podendo apresentar-se em es_calas grandes, médias ou pequenas (IBGE, 1985, p. 7) PLANTAS Representação gráfica em escala grande, destinada a fornecer informações detalhadas de determinada área. As plantas geralmente se apresentam numa só folha, podendo ser subdividida em folhas denominadas cartas. A PLANTA CADASTRAL, por exemplo, representa detalhadamente ruas, edificações e muitas outras características, inclusive o perímetro urbano. Se a área cadastrada for apresentada em folhas, teremos a CARTA CADASTRAL (IBGE, 1985, p. 7). ANAMORFOSES São mapas representados por uma imagem disforme (os polígonos), que torna as superfícies dos territórios proporcionais aos dados que se deseja representar. Esse modo de representação gráfica é mais adequado para apresentação de fenômenos sociais, como: projeção da população, índice de mortalidade e natalidade, pesquisas de opinião com repostas “sim” ou “não”, pois esse tipo de mapa procura adaptar a representação das superfícies com o tamanho da população, apresentando os dados de forma mais proporcional do que se fossem apresentados através da cartografia temática clássica (Tobler, 2004, apud TOBIAS, 2001, p. 16) CROQUIS De acordo com o IBGE (1985, p. 9) O croqui é um esboço e não obedece à rotina técnica para a· elaboração de mapas. Ensino de Geografia – Capítulo 1 15 Não tem como finalidade a divulgação para o público; contém informações sobre uma pequena área e supre a falta de uma representação cartográfica detalhada. MAPAS MENTAIS O mapa mental é uma representação gráfica de um determinado espaço geográfico feita a partir da percepção e subjetividade do autor do processo. Nesse caso, as informações contidas nesse tipo de mapa partem da intencionalidade, da leitura e da visão de mundo particular desse indivíduo, levando em consideração sua imaginação e vivências próprias (KOZEL, 2007 apud RICHTER, 2011). Assim, o mapa mental contém informações consideradas desnecessárias ou sem valor científico para os padrões da cartografia cartesiana, como: escala, orientação, título, uso de variáveis visuais, coerência entre legenda-conteúdo, entre outros aspectos. Contudo, ainda para o mesmo autor, a importância de se trabalhar o mapa mental está no fato de que essa concepção de mapa possibilita a formação de indivíduos capazes de compreender o mapa para além do processo de cópia, tornando-se uma linguagem que contribui para a expressão e interpretação do cotidiano. (RICHTER, 2011). MAQUETES É a representação em miniatura de uma construção civil ou de parte restrita da superfície terrestre, com todos os seus aspectos. Na construção de maquetes em sala de aula, cabe ao professor incentivar a criatividade dos estudantes na busca de material, no exercício do trabalho coletivo e nas representações dos objetos. A maquete não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio didático pelo qual elementos da realidade devem ser trabalhados em conjunto (SIMIELLI et al.,1991). BLOCO- DIAGRAMA De acordo com o Dicionário Cartográfico, o bloco- diagrama é a representação tridimensional (comprimento, largura e altura) de mapa ou fotografia, representando uma determinada área da superfície da Terra, a fim de mostrar, além das formas do relevo, os cortes geológicos e seus aspectos naturais e artificiais (OLIVEIRA,1987). PERFIL TOPOGRÁFICO O desenho do perfil topográfico, ou transecto, do terreno é obtido através de um corte, que dá a ideia do delineamento topográfico da área. Permite calcular com exatidão as distâncias horizontais e verticais (altitudes), (IBGE, 1985, p. 116). Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 16 Tendo como meta de que a característica social desta modalidade de cartografia, por um lado valoriza os espaços percebido, afetivo e vivido pelos indivíduos e, de outro contempla suas experiências levando-os as diferentes leituras espaciais, buscamos desenvolver os croquis cartográficos, tendo como sequência pedagógica a ficha de trabalho do MAPA MENTAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA DOS ALUNOS, onde são indicados os objetivos, conteúdo, material, tempo de aplicação, marcos de avaliação, além das habilidades e competências propostas pela BNCC, observados na figura 2. Figura 2. Ficha de Trabalho do Mapa Mental do Bairro de Vivência Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 17 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos constatam que, a Cartografia Social foge aos métodos tradicionais de representação gráfica e visual da cartografia. Constatação que a utilização de croquis cartográficos, na leitura de mundo, é umas das melhores formas de representar o espaço vivido, percebido e sentido pelos alunos em situação de privação de liberdade. Através dos croquis, os alunos são convidados a estabelecer situações a serem cartografadas, levantando dados e informações para que possam futuramente analisar as demandas visibilizadas nos mapas. Assim, cabe lembrar que o croqui cartográfico é um desenho, um esquema rápido, geralmente feito à mão, dos principais elementos de um determinado espaço geográfico. Há tempos é utilizado por geógrafos nos trabalhos de campo e pelos professores de Geografia em sala de aula para explicação de fenômenos e processos físicos, naturais, sociais e culturais. E, para sua elaboração, o aluno geralmente parte da representação de um lugar conhecido, criando esta representação gráfica e visual, a partir de mapa mental. Para Richter (2011), neste processo, o mapa mental é: [...] analisado como um recurso que permite a construção de uma expressão gráfica mais livre, tendo a perspectiva de que o estudante possa transpor para essa representação espacial os conteúdos geográficos aprendidos ao longo da educação básica. Assim, além de utilizar a fala, a escrita, a imagem ou o próprio mapa convencional/tradicional, o aluno terá a oportunidade de apresentar num mapa mental suas interpretações a respeito de um determinado lugar, provenientes de leituras mais científicas da realidade (Richter, 2011, p. 18). Ensino de Geografia – Capítulo 1 18 De acordo Simielli (1996), os principais tipos de croquis que interessam à área da cartografia são: croqui de análise-localização, croqui de correlação e croqui de síntese (Quadro 2). Quadro 2. Tipos de Croquis Cartográficos (Simielli, 1996) TIPO DE CROQUI FINALIDADE LOCALIZAÇÃO E ANÁLISE É aquele em que o aluno apresenta apenas um determinado fenômeno geográfico para poder analisá-lo CORRELAÇÃO É aquele que correlaciona dois ou mais fenômenos geográficos que ocorrem no mesmo espaço. A escolha dos elementos correlacionados será feita pelo estudante. Isso é importante, pois o estudante terá a autonomia de escolher os elementos mais pertinentes para a situação didática proposta. SÍNTESE É quando o estudante analisa, correlaciona e chega a uma determinada síntese daquele espaço geográfico, elaborando um mapa (croqui) de síntese. O interessante é que o estudante é o próprio autor do processo e do produto final, isto é, do croqui. Fonte: Simielli (1996), organizado pelos autores (2020) Nesta lógica, a seguir, discutiremos os resultados obtidos com os 5 (cinco) croquis cartográficos elaborados por 5 (cinco) reeducandos - M.H.L.S (30 anos), M.T. (27 anos), J.G.T.R (28 anos), I.F.S (26 anos) e A.F.G (38 anos) -, matriculados no 2º ano do Ensino Médio, durante a aplicação das aulas de Geografia, no mês de fevereiro de 2020. Este foi o primeiro passo adotado na construção dos mapas regionais dos alunos em situação de privação de liberdade. Nesses mapas, os alunos apresentaram a delimitação do território do seu bairro, ruas, estradas, comércios, escola, postos de saúdes, pontos de vendas de drogas e prostituição. Além de aspectos naturais, como lagos, rios, vegetação e plantações. Ensino de Geografia – Capítulo 1 19 Ao inserir esse procedimento em sala de aula durante as aulas de geografia foi possível um maior engajamento dos alunos, dada a possibilidade de justapor teoria e prática, onde a prática metodológica permitiu aos alunos autoria do próprio mapa, refletindo teoricamente sobre suas realidades sociais, ambientais, naturais, culturais, políticas, além da história de vida no local de vivência, a partir dos mapas por eles elaborados. Ainda, após o término dos croquis, os alunos continuaram a fazer levantamento de dados até a produção final do mapa. As informações foram ampliadas e o mapa foi produzido com diferentes elementos cartográficos apontados pelos reeducando. Os croquis cartográficos representados pelos alunos foram avaliados considerando as principais discussões acerca dos caminhos das operações cognitivas espaciais para a leitura e domínio espacial, no processo de ensino-aprendizagem do mapa (conforme o Quadro 3) – ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA (AC) / LETRAMENTO CARTOGRÁFICO (LC) / PENSAMENTO ESPACIAL (PE) / RACÍOCINIO GEOGRÁFICO (RG) / RACÍOCINIO GRÁFICO E CARTOGRÁFICO (RGC) -, entendo-as como marco de avaliação das práticas espaciais representadas pelos reeducandos. Além de refletir sobre seus espaços percebidos, vividos e afetivos, quando em privação de liberdade. Quadro 3. Principais discussões acerca dos caminhos das operações cognitivas espaciais para o processo de ensino- aprendizagem do mapa OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAIS DEFINIÇÕES ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA (AC) A Alfabetização Cartográfica está fortemente relacionada ao processo metodológico de aprendizagem do mapa a partir dos seus elementos e conteúdos básicos, como signos, escalas, normativas, simbologia, orientação etc. [...] Ou seja, seu termo faz menção aos próprios códigos cartográficos que são Ensino de Geografia – Capítulo 1 20 essenciais para possibilitar a sua leitura. Vale lembrar que neste caso estamos nos referindo a um mapa na perspectiva mais cartesiana, que se estrutura a partir de normativas e convenções universais. Entendo que esta aprendizagem permite que os alunos possam fazer a leitura e a interpretação de representações cartográficas presentes em atlas, mapas temáticos, mapas turísticos, entre outros, que utilizam as referências da ciência cartográfica para construir seus mapas. (RICTHER, 2017, p. 291) LETRAMENTO CARTOGRÁFICO (LC) Se estabelece na ação e no processo de desenvolver o uso do mapa para as práticas sociais dos indivíduos, de entender o mapa como um instrumento que possibilita compreender nossas ações e vivências cotidianas. Para isso é pertinente que o professor integre o mapa em diferentes atividades e propostas tornando esta linguagem mais viva e presente na vida do aluno. Representar seus caminhos, suas leituras espaciais, correlacionar diferentes formas de mapear com os conteúdos geográficos ensinados em aula são atividades que podem contribuir neste trabalho. Ou seja, fazer que o mapa seja efetivamente um material que contribua na leitura espacial e nas práticas cotidianas dos indivíduos (RICHER, 2017, p. 291). PENSAMENTO ESPACIAL (PE) Está associado ao desenvolvimento intelectual que integra conhecimentos não somente da Geografia, mas também de outras áreas (como Matemática, Ciência, Arte e Literatura). Essa interação visa a resolução de problemas que envolvem mudanças de escala, orientação e direção de objetos localizados na superfície terrestre, efeitos de distância, relações hierárquicas, tendências à centralização e à dispersão, efeitos da proximidade e vizinhança etc. (BRASIL, 2018, p. 359); (RICHTER; MORAES, 2020, p. 157). Para os autores (op. cit), baseados em Silvia, Roque Ascenção e Valadão (2018), este tipo de raciocínio se caracteriza por ser um “exercício intelectual em que são produzidas compreensões relativas à espacialidade de fenômenos” (Silvia, Roque Ascenção e Valadão, 2018, p. 74 apud Richter e Moraes, 2020, p. 159). Assim, é “um tipo de pensamento baseado em três elementos: conceitos espaciais, instrumentos de representação e processos Ensino de Geografia – Capítulo 1 21 de raciocínio (NRC, 2006, apud RICHTER; MORAES, 2020, p. 159). RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO (RG) Se destaca como sendo a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e as ações antrópicas (RICHTER; MORAES, 2020). Para obter o Raciocínio Geográfico, a BNCC pressupõe trabalhar estruturas próprias de um pensamento geográfico, um pensamento conceitual de fundamentação geográfica, por meio de conceitos clássicos da Geografia: espaço, território, lugar, região, natureza, paisagem e tempo. (RABELO, BORBA, SOUZA, 2020, p. 39). RACIOCÍNIO GRÁFICO E CARTOGRÁFICO (RGC) Se destaca pela capacidade de representar gráfica e cartograficamente, no plano bidimensional, as informações do espaço geográfico traduzidos pelos fenômenos físicos, econômicos, sociais, culturais, a partir das mais variadas formas de representações utilizadas como ferramentas de análise espacial. Diferenciam-se dos textos alfabéticos por se apresentarem como figura espacial: linhas, pontos, áreas, formas, superfícies, distâncias, extensões, volumes e suas várias dimensões – comprimento, largura e altura (BRASIL, 2018). Fonte: Autores (2020) Neste sentido, compartilhamos com as ideias de Richter e Moraes (2020), ao destacarem que: [...] tendo essas leituras como parâmetros do que vem a ser a contribuição da Geografia na escola é preciso reconhecer que existem os aliados a este processo, pois [...] se o objeto da Educação Geográfica é o da formação de pensamentos ou raciocínios geográficos como defendem diversos autores (Cavalcanti, 2000 e 2002; Castellar, 2005, apud RICHTER; MORAES, 2020) e se queremos que o mapa deixe de ser utilizado apenas para localização dos fenômenos e que, em acréscimo a isso os Ensino de Geografia – Capítulo 1 22 alunos/cidadãos sejam capacitados a avançar para além do nível elementar de leitura dos mapas (Simielli, 2007, p. 80 apud (RICHTER; MORAES, 2020), precisamos pautar nossa metodologia da Cartografia Escolar na compreensão das operações cognitivas que envolvem o entendimento de fenômenos socioespaciais com forte conteúdo geográfico. (RICHTER; MORAES, 2020, p. 159). CROQUI CARTOGRÁFICO 1 O croqui cartográfico 1 (Quadro 4) foi elaborado pelo reeducando M.H.L.S., de 30 anos, onde representa o bairro Parque Colinas, localizado na cidade de em Assis/SP. Quadro 4. CROQUI CARTOGRÁFICO 1 – Bairro Parque Colinas em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 23 Neste croqui observarmos uma representação espacial voltada para a elaboração de uma planta urbana, onde foi feito o uso da escala grande, com detalhes espaciais, para retratar uma parte do bairro periférico. Mas que pela afetividade e olhar espacial do aluno, foi transcodificado como sendo um bairro harmônico, onde os aspectos físicos, representados por meio de cores fortes, são os maiores locais de lazer, retratando quase 1/3 de todo desenho e, assim da relação de pertencimento do aluno a este espaço. Nele, também, identificamos apenas algumas moradias de familiares, de forma isolada, sem vizinhos, amigos e, assim sem a necessidade do convívio social. Todavia, como contraditório, a igreja do bairro mostrou-se como um ponto de referência. OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, com pleno domínio das relações (topológicas, projetivas e euclidianas), conseguindo codificar sua representação espacial para a leitura do mapa. LC Observa-se um domínio de letramento cartográfico onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar, correlacionou os conteúdos geográficos ensinados na aula, com sua forma de mapear as afetividades ao lugar vivido, posta no croqui. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, possibilitando perceber maiores detalhes e as interações de proximidade e distanciamento entre a casa dos familiares separados pela área verde do bairro e a não representação de outros moradores. RG Ao representar o bairro de forma harmoniosa com essa grande interação entre a área verde e as moradias de seus familiares, além da representação da linha férrea que é um marco econômico para as cidades do Oeste Paulista, o aluno apresentou satisfatório raciocínio geográfico. Um fato curioso é que não identificou, nenhum ponto de venda de Ensino de Geografia – Capítulo 1 24 droga, que é uma geograficidade ilícita recorrente no bairro. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa do bairro no plano bidimensional, diante de uma visão vertical, utilizando linhas, pontos, zonas, textos, além de símbolos pictóricos e linhas curvas. Fonte: Autores (2020) CROQUI CARTOGRÁFICO 2 O croqui cartográfico 2 (Quadro 5) foi elaborado pelo reeducando M.T., 27 anos, matriculado no 2º ano do EM, apresentando, também, o bairro Parque Colinas, como o aluno supracitado, localizado na cidade de Assis/SP. Quadro 5. CROQUI CARTOGRÁFICO 2 – Bairro Parque Colinas em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 25 Neste Croqui, igualmente ao aluno anterior, observamos uma representação espacial, composta uma planta urbana que, pela escala representada nos permite uma visão mais geral e regional do bairro e seu entorno. E, para isto, utilizou a legenda para personalizar os fenômenos geográficos espaciais. Neste, a representação dos aspectos físicos do bairro foi voltada as atividades agrícolas, corpos hídricos e áreas verdes. Também, em seu olhar espacial, foi identificado diversas moradias, chácaras, escolas, centro de referência de assistência social, uma grande linha férrea, além do ponto de venda de droga no bairro periférico. OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, com pleno domínio das relações (topológicas, projetivas e euclidianas), conseguindo codificar e decodificar pelas suas geometrias uma excelente representação espacial do real para o mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresenta sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala média, possibilitando sua síntese e interações de proximidade e distanciamento entre outros bairros limítrofes. Além de codificar, simbolizar através do uso da legenda as informações que melhores conhecem, desses bairros, no primeiro plano do desenho. RG O aluno consegue territorializar as atividades agrícolas que ocorrem neste bairro e alteram toda sua paisagem, bem como o ponto de venda de droga e o local de busca para a comercialização como “malote”. Podemos perceber que ele utiliza seu croqui para demonstrar as relações de poder que se constitui entre os grandes Ensino de Geografia – Capítulo 1 26 agricultores, pontos de venda de droga e os moradores desses dois bairros. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa do bairro no plano bidimensional, utilizando linhas, pontos, zonas, textos, além de símbolos pictóricos expressos na legenda, diante de um ponto de vista com visão vertical. Fonte: Autores (2020) O CROQUI CARTOGRÁFICO 3 O croqui cartográfico 3 (Quadro 6) elaborado pelo reeducando J.G.T.R, de 28 anos, matriculado no 2º ano do EM e, apresenta o bairro San Fernando do Valley, localizado na cidade de Assis-SP. Quadro 6. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro San Fernando do Valley em Assis/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Ensino de Geografia – Capítulo 1 27 O mapa mental, apresentado por este croqui cartográfico, revela por meio de uma escala de detalhe e inúmeros símbolos pictóricos apenas um pequeno trecho da área urbana do bairro, no qual possui infraestrutura (área residencial, área comercial, ruas largas com rotatórias e jardinagens, áreas verdes, além de áreas de lazer com práticas de atividades esportivas). OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC O aluno apresenta domínio das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC Observa-se um domínio de letramento cartográfico onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar, correlacionou os conteúdos geográficos ensinados na aula, com sua forma de mapear as afetividades ao lugar vivido, posta no croqui. PE Podemos, também, identificar que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, onde possibilitou melhor detalhamento sobre o uso e ocupação do espaço urbano, localizando as áreas de residências, comércio e área verde e lazer. RG Ao representar o bairro de forma harmoniosa com essa grande interação entre a área comercial, as áreas verdes e as moradias, o aluno mostrou atenção para as políticas públicas de planejamento. Também, explicitou que a área comercial, que é a principal fonte de renda do município. Evitou localizar e identificar os conflitos sociais, presentes no urbano, e assim não houve a inserção de nenhum ponto de violência ou venda de droga. RGC Para o Raciocínio gráfico e cartográfico fez uso da representação no plano bidimensional destacando os componentes geográficos por meio da visão vertical, horizontal e obliqua das informações espaciais. Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 28 O CROQUI CARTOGRÁFICO 4 O croqui cartográfico 4 (Quadro 7) elaborado pelo reeducando I.F.S, de 26 anos, apresenta o Bairro Itatinga, localizado na cidade de Campinas-SP. Quadro 7. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro Itatinga em Campinas/SP A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Neste Croqui podemos perceber que se trata de uma área periférica da cidade, com a presença de uma marcante área comercial, dotada de diversas casas de prostituição, tendo seu acesso marcado por grandes avenidas. O bairro conta com supermercado 24h, posto de combustível, academia e posto de saúde. Além de contar com uma parcela de locais, que o aluno não soube representar por não mais se lembrar atentamente de sua vivência real. Ensino de Geografia – Capítulo 1 29 OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, conseguindo apresentar domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresentou sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala de detalhe, onde por meio das áreas comerciais, posto de saúde e entre outras ele configurou o território da prostituição, além de suas territorialidades. RG Houve a apresentação harmoniosa do bairro, porém trata-se de um bairro com tendência a prostituição, tanto de mulheres, quanto de homens. Percebemos que existe uma territorialização da região onde maior é a presença deste tipo de atividade – lado direito do croqui. Não houve a identificação de pontos de droga. Esse bairro é o maior bairro da América latina, em quantidade de casas de prostituição. Nota-se, que essa foi sua lembrança viva e afetiva. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho da planta baixa em representação bidimensional do bairro, onde os componentes geográficos foram representados pela visão vertical das informações espaciais. Fonte: Autores (2020) Ensino de Geografia – Capítulo 1 30 O CROQUI CARTOGRÁFICO 5 O croqui cartográfico 5 (Quadro 8) elaborado pelo reeducando A.F.G, de 38 anos, apresenta o Bairro Copacabana, localizado na cidade de Belo Horizonte-MG. QUADRO 8. CROQUI CARTOGRÁFICO – Bairro Copacabana em Belo Horizonte/MG A REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DO BAIRRO DE VIVÊNCIA espaços percebidos / espaços vividos / espaços afetivos Neste Croqui a representação espacial é repleta por símbolos pictóricos, onde trata-se de um bairro de periferia, com pleno destaques para as habitações do tipo barracos (comunidades) e de alvenaria (denominada de “casa boa”), além dos pontos de venda de droga, locais de violências e, na parte central uma casa de prostituição. Também, neste pertencimento, trata-se de um bairro onde o patrulhamento militar é recorrente, pela forte existência das drogas, prostituição e criminalidade. Ensino de Geografia – Capítulo 1 31 OPERAÇÕES COGNITIVAS ESPACIAS COMPETÊNCIAS HABILIDADES AC Denota que o aluno apresenta alfabetização cartográfica, conseguindo apresentar domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa. LC O domínio do letramento cartográfico foi inserido nas discussões prévias e durante a realização do croqui, onde o aluno através de seu conhecimento sobre o lugar apresenta sua afetividade ao lugar vivido. PE Podemos identificar também, que o aluno possui o pensamento espacial, representando o bairro em uma escala grande, possibilitando um melhor detalhamento dos tipos de residência, bares, ponto de venda de droga e casa de prostituição. As ruas são estreitas, o que denuncia a falta de planejamento adequado para o bairro. RG O aluno apresentou geograficamente, os diversos problemas estruturais e sociais que um bairro periférico contém: violência, moradias inadequadas, desigualdade social, droga, prostituição e criminalidade. RGC O Raciocínio gráfico e cartográfico é percebido pelo desenho no plano bidimensional, utilizando muitos símbolos pictóricos expressos na legenda, diante de um ponto de vista com visão vertical, horizontal e obliqua da realidade. Fonte: Autores (2020) Pelas práticas espaciais, denotamos que os alunos apresentam: a) AC, com plenos domínios das relações topológicas, projetivas e euclidianas na representação espacial do mapa; b) LC, ao correlacionarem os conteúdos geográficos ensinados na aula, com suas formas de mapearem as afetividades ao lugar vivido; c) PE pela capacidade de espacializar o bairro em uma escala grande, Ensino de Geografia – Capítulo 1 32 possibilitando melhor detalhamento dos tipos de residências, bares, pontos de vendas de droga, além das casas de prostituição; d) RG, pela forma de localização a distribuição dos fatos e fenômenos conforme o ordenamento territorial dos bairros e; e) RGC ao utilizarem a representação no plano bidimensional, para destacarem os componentes geográficos do espaço urbano por meio da visão vertical, horizontal e obliqua das informações espaciais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelos croquis cartográficos elaborados podemos constatar que as práticas de representação e percepção dos fenômenos geográficos, a partir do bairro de vivência, ganharam dimensão em relação à mensuração das operações cognitivas e suas noções espaciais, uma vez que, os envolveu de tal forma que podemos dizer que as aprendizagens foram significativas e (res)significativas, dando-lhes a oportunidade do processo de (re)construção das noções de localização, proporção, distância e legenda, além da leitura crítica das diferentes paisagens do espaço urbano, durante a leitura mundo, pelos reeducandos avaliados. Desta forma, os mapas mentais dos lugares de vivências, viabilizados pelos croquis, mostram-se metodologias eficientes para que entender os caminhos das operações cognitivas espaciais na leitura e domínio espacial durante o processo de ensino- aprendizagem que, quando em conjunto com a construção de conceitos geográficos e sua socialização no ambiente escolar, desenvolvem as competências e habilidades de alunos mapeadores perceptivos, críticos e conscientes sobre a sua realidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Rio de Janeiro. 2º vol. 1985. Disponível em: Ensino de Geografia – Capítulo 1 33 https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca- catalogo?view=detalhes&id=281663 BRASIL. Educação para jovens e adultos: ensino fundamental: proposta curricular – 1º segmento / coordenação e texto final (de) Vera Maria Masagão Ribeiro. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. 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Universidade de São Paulo/SP. 2011. 36 CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS CONDENADOS DE IMPERATRIZ, MARANHÃO: DEBATES E ANALISES PRELIMINARES Karolayne Carneiro dos Santos Graduanda em Geografia da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1698-5900 Allison Bezerra Oliveira Professor da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0003-0320-5661 José Alencar Viana e Araújo Professor da Prefeitura Municipal de Imperatriz, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-7014-120X Daniely Lima Silva Graduada em Geografia pela Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-1666-9038 Maria do Rosário Sá Araújo Professora na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL, MA, Brasil https://orcid.org/0000-0002-5966-4536 RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo dialogar sobre a educação inclusiva em ambientes carcerários no Brasil além de apresentar breves aspectos do perfil educacional do apenado na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no município de Imperatriz, estado do Maranhão. Para tal, além de debate https://orcid.org/0000-0003-0320-5661 Ensino de Geografia – Capítulo 2 37 teórico, apresenta dados preliminares de questionários socioeconômicos relacionados ao perfil daqueles em processo de ressocialização atendidos na instituição. PALAVRAS-CHAVE: Educação Inclusiva. Associação de Proteção e Assistência aos Condenados. Imperatriz-MA. INCLUSIVE EDUCATION IN THE ASSOCIATION FOR THE PROTECTION OF PRISONERS OF IMPERATRIZ, MARANHÃO: PRELIMINARY DEBATES AND ANALYSES ABSTRACT: This work aims to dialogue about inclusive education in prison environments in Brazil and to present brief aspects of the educational profile of the convict in the Association of Protection and Assistance to the Sentenced (APAC), in the city of Imperatriz, state of Maranhão. To this end, in addition to a theoretical debate, it presents preliminary data from socioeconomic questionnaires related to the profile of those in the resocialization process attended at the institution. KEYWORDS: Inclusive Education. Association for the Protection and Assistance of Convicts. Imperatriz-MA. INTRODUÇÃO Uma das grandes lacunas sociais presente no Brasil está ligado diretamente ao sistema carcerário e o processo de ensino como ferramenta de reintegração do apenado na sociedade. No âmbito educacional a ressocialização das pessoas privadas de liberdade no país está longe de ser uma realidade uma vez que segundo os dados do Sistema de Informações Estatísticas do Sistema Penitenciário Brasileiro - INFOPEN (2017) aproximadamente 65% dos presos no Brasil possuem o ensino fundamental incompleto, 9% são analfabetos, e menos de 13% têm acesso a atividades educativas no período de cumprimento da pena. Nesse contexto, nota-se que a aplicação de um modelo educacional adaptado às condições do ambiente carcerário é um desafio muito Ensino de Geografia – Capítulo 2 38 complexo. Vários são os fatores que contribuem para dificultar a prática escolar nestas condições. Entender os desafios que perpassam o espaço geográfico no âmbito da educação dentro do sistema carcerário requer renovação e inovação perante as mazelas que ainda existe nas práticas metodológicas de ensino fundamentadas na pedagogia da esperança e da liberdade. (PRADO, 2015; OLIVEIRA, et al., 2016; MASULLO, et al., 2020) No sistema carcerário são inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas para alcançar a finalidade da ressocialização. Segundo Freire (1987) a educação promovida para o sujeito em espaços de reclusão, é uma forma de ressocialização, uma vez que esta é capaz de provocar transformações e facilitar a reinserção dos sujeitos privados de liberdade na sociedade, de maneira que estes não voltem a cometer novos delitos. Tomando como base essa compreensão, o presente trabalho tem por objetivo dialogar sobre a educação inclusiva em ambientes carcerários no Brasil além de apresentar breves aspectos do perfil educacional do apenado na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), no município de Imperatriz, estado do Maranhão. Além desta introdução, metodologia e considerações finais, o trabalho está dividido em quatro tópicos: o primeiro, trata do “sistema prisional brasileiro e o acesso a educação no cárcere”, o segundo, discute “história do sistema prisional do maranhão e a ressocialização como agente fundamental para a reinserção do indivíduo na sociedade”, e por fim, resultados empíricos são discutidos em “breves apontamentos sobre a educação na APAC de Imperatriz-MA”. METODOLOGIA A pesquisa tem como recorte de análise a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC (Centro de reintegração social Dr. Ensino de Geografia – Capítulo 2 39 Franz de Castro Holzwarth), localizada no município de Imperatriz, estado do Maranhão (figura 1). Figura 1. APAC de Imperatriz - MA Fonte: os autores (2021). O universo da pesquisa compreende os apenados em processo de ressocialização que fazem parte atualmente do quadro de atendidos pela unidade. De caráter quali-quantitativo, a pesquisa compreende uma análise situacional dos indivíduos atendidos na APAE buscando compreender o perfil socioeconômico dos mesmos. Para tal, foram realizadas visitas de campo destinadas ao conhecimento das rotinas institucionais além da realização de questionários para análise das informações primária entre os internos. Do total de 53 pessoas que estão atualmente na unidade, 32 participaram da pesquisa. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E O ACESSO A EDUCAÇÃO NO CÁRCERE A debilidade de atuação do Estado brasileiro em muitas áreas da vida social se mistura com a história do desenvolvimento do sistema prisional vigente. Ainda há enorme dificuldade de aproximação do preconizado por lei e o que realmente acontece no encarceramento brasileiro. Ensino de Geografia – Capítulo 2 40 A reformulação do Código Penal brasileiro de 1890 estabeleceu novas modalidades de prisões, cancelando o sentenciamento para penas perpétuas. Limitando-se à penas restritivas de liberdade individual, penalidade de no máximo 30 anos, além de reclusão, prisões com trabalho obrigatório e prisão disciplinar (MACHADO et al, 2013; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). Segundo Dullius e Hartmann (2011), ao passar dos anos o sistema carcerário brasileiro passou por diversas alterações estruturais e legislativas até os dias de hoje. Entre essas mudanças destacam-se o Código Penitenciário da República de 1935, Código Penal Brasileiro de 1940, Lei de Execução Penal (Lei N° 7.210/1984) e a própria Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, que incorporou questões preestabelecidas em atos normativos, reforçando aspectos ligados aos direitos humanos. Salienta-se, que as diferentes legislações foram alteradas diversas vezes, sempre se adequando a ideologia preponderante vigente. Ainda, de acordo com o art. 39 da Lei n° 7.210 (Lei de Execução Penal) de 11 de julho de 1984, o condenado tem direito à alimentação suficiente, ao vestuário e à previdência social; distribuição do tempo entre trabalho, descanso e recreação; direito à assistência material, de saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; visita de parentes em dias determinados; e contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não venham comprometer a moral e os bons costumes (BRASIL, 1984). Em declaração o Conselho Nacional de Justiça – CNJ expõe que, o Brasil é o terceiro país do mundo com maior quantitativo de população carcerária. No ano de 2019 os dados do INFOPEN (2017), contabilizavam cerca de 748.009 pessoas privadas de liberdade no País. Sendo que os maiores quantitativos de unidades prisionais se concentram no Sudeste do Brasil. Ensino de Geografia – Capítulo 2 41 Os dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN (2017) apontam que aproximadamente 65% dos presos no Brasil possuem apenas o ensino fundamental incompleto, e 9% são analfabetos. Os dados ainda mostram que aproximadamente 76% dos presos ficam ociosos na prisão e em todo o país, apenas 17% deles estudam no cárcere, ou seja, participa de atividades educacionais de alfabetização, ensino fundamental, ensino médio e supletivo, uma vez que estatísticas mostram que o estudo na prisão diminui as chances de reincidência criminal em até 40%. A educação no Brasil é regulamentada pela Lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Sua base jurídica está no texto constitucional art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse contexto, a LDB (Lei nº 9.394/1996), regulamentada na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, inciso I, estabelece que toda a população brasileira tenha direito ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, sendo assegurada, inclusive, essa oferta no sistema penitenciário. Ainda de acordo com essa legislação, os artigos 17 aos 21 descrevem como deverá ser aplicada a assistência educacional no âmbito carcerário, uma vez que estes estabelecem assistência educacional, instrução escolar, formações do preso, obrigatoriedades do ensino fundamental, alem da instalação de uma biblioteca por unidade prisional - para uso de todas as categorias de reclusos - provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos. (BRASIL, 1984). No sistema carcerário são inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas para alcançar a finalidade da ressocialização; sendo a educação a mais preciosa delas. Segundo Freire (1987) a educação promovida para o sujeito privado de liberdade, é uma forma de ressocialização, uma vez que esta promove aos detentos outros meios Ensino de Geografia – Capítulo 2 42 para sua reinserção na sociedade que não seja o retorno ao mundo do crime, capacitando-o para ter um trabalho e uma vida dignos, de tal maneira que não volte ao meio criminoso. Dessa forma, segundo Oliveira e Pereira (2018), o processo de ressocialização através da educação é um dos métodos mais eficazes para o Estado combater o retorno à criminalidade dos detentos e egressos, uma vez que através da educação é possível promover um retorno a sociedade de maneira com que estes se reintegrem na sociedade de forma igualitária e democrática capazes de retomar suas vidas com competência e qualificação. Vale ressaltar que, a assistência à educação no âmbito penitenciário não se trata de um privilégio concedido aos presidiários, embora esse discurso seja erroneamente disseminado na sociedade, mas trata-se de um direito garantido a ele pela Constituição de 1988 e pela Lei de Execução Penal de 1984, assegurado pela própria Carta Magna segundo a qual “todos são iguais perante a lei”, e também está presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu art° 26, onde se estabelece o direito à educação, cujo objetivo é o pleno desenvolvimento da pessoa e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos (BRASIL, 1988). Outro ponto a evidenciar, é o dever que cabe ao Estado, de não só punir aqueles que cometem delitos, mas também garantir que os direitos dessas pessoas sejam respeitados enquanto estiverem sob- responsabilidade do estado pagando pelo crime que cometeram. Assim sendo, seus direitos não podem ser atingidos pela sua perda de liberdade. Nesse sentido, o Estado assume a responsabilidade de garantir que um processo de ressocialização ocorra de forma eficiente para que, esses indivíduos sejam reinseridos na sociedade e não venham a cometer mais delitos, visto que a finalidade da pena não é punir, mas também ressocializar e prevenir (OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). Ensino de Geografia – Capítulo 2 43 Para tanto, faz-se necessário conhecer essa dinâmica socioespacial e as pessoas que estão interligadas ao sistema prisional. O problema do sistema prisional no Brasil vem se desenvolvendo abruptamente em todos os estados da Federação, seja no que se refere à violência entre os encarcerados, ou pela ausência do Estado em dar um tratamento digno para os presidiários, um problema se relaciona com o outro. Sob essa perspectiva, analisa-se a seguir de forma específica, o perfil social do sistema carcerário do Maranhão. PRISIONAL DO MARANHÃO E A RESSOCIALIZAÇÃO COMO AGENTE FUNDAMENTAL PARA A REISERÇÃO DO INDIVIDUO NA SOCIEDADE Assim como no Brasil, o Estado do Maranhão também apresenta uma população carcerária resultante de uma política de repressão e criminalização à pobreza. Esse modelo, parte do pressuposto de que o encarceramento em massa e a construção de novos presídios reduzem as ocorrências criminais. No entanto, é preciso salientar que a segurança pública influencia e é influenciada por fatores socioeconômicos e políticas públicas ligadas a educação, saúde, lazer e turismo (MASULLO, 2020). A primeira penitenciaria do Estado do Maranhão foi construída no Bairro dos Remédios, no centro da capital, com o objetivo de separar os presos pela ordem ou grau das penas, fazendo o papel apenas de casa da correção. Em seguida começou a apresentar características de Penitenciaria Estadual, uma vez que começou a se utilizar recursos do governo para a obtenção de agentes de segurança, vestuário, alimentação e demais serviços (FREITAS, 2016; BRITO, 2017) Em 1948, dois anos após a aberturada unidade no Centro, foi feita a transferência desta para o município de Alcântara. A mudança para a mais nova penitenciaria do Estado, intitulada como Penitenciaria de Pedrinhas, só veio a ocorrer em 12 de Dezembro de 1965, quando o município de Alcântara, importante cidade histórica, teve sua renda Ensino de Geografia – Capítulo 2 44 “turística e cultural” prejudicada, já que a situação do presídio demonstrava insegurança para os visitantes (FREITAS, 2016; BRITO, 2017) Situada a 15 km de São Luis, a margem da BR-135, com área de 122 hectares, a então Penitenciaria de Pedrinhas passou por varias adaptações e desencadeou a criação de um complexo para atender as necessidades quanto a quantidade de detentos. O presídio, desde então, passou por diversas reformas, sempre com intuitos ou de aumenta-lo ou de concertá-lo. Porém, as reformas de um prédio-base completamente sem infraestrutura adequada nunca saíram de acordo com o planejado. Assim, desde a sua construção até os dias atuais a estrutura física do presídio de pedrinhas é completamente comprometida. (FREITAS, 2016; BRITO, 2017; MASULLO et al., 2020) Segundo os dados do INFOPEN (2019), o complexo penitenciário de pedrinhas encontra se em estado de superlotação, com cerca de 3.187 detentos e em todo o Estado a população carcerária alcançou 12.346. A construção de novos presídios no interior do Estado reduziu a concentração dos presos na capital maranhense e contribuíram para o aumento do quantitativo de pessoas com privação de liberdade, em municípios como Balsas, Caxias, Codó, Coroatá, Imperatriz e Timom (SOUZA, 2019; MASULLO, et al., 2020) Em 2018, o Maranhão passou a contar com 45 UPRs e 7 APACs, concentrando 46,6% dos presos do Estado. Ao Leste do Estado (Caxias, Timom, Codó e Coroatá) situam-se 13% e na região Sudoeste 7,5% (Imperatriz, Açailândia, Davinópolis e Porto Franco) da população carcerária lotada nos presídios maranhenses. Ensino de Geografia – Capítulo 2 45 Gráfico 1. Escolaridade das pessoas privadas de liberdade no Maranhão Fonte: INFOPEN, 2017. Organizado pelos autores (2021) A baixa escolaridade dos apenados influencia questões como o alto percentual de entrada e reentrada no sistema prisional. Segundo dados da SEAP (2019), aproximadamente 47,5% das pessoas que passam pelos presídios do Estado retornam, seja pelo mesmo crime anteriormente cometido, ou por cometer outro ato criminoso. Nitidamente, isso revela que a reinserção ou ressocialização do indivíduo não é cumprida, uma vez que dentro do sistema presidiário mais da metade das pessoas custodiadas possuem baixa escolaridade. No que concerne ao grau de escolaridade, o gráfico abaixo mostra que 45% dos detentos não possuem ensino fundamental completo, cerca de 10% são analfabetos e menos de 5% possuem ensino superior (MASULLO, et al, 2020). No que tange a realidade do sistema prisional brasileiro, os detentos maranhenses não se diferenciam dos demais apenados em todo o cárcere brasileiro, uma vez que estes em sua maioria são jovens, negros, primários e com um baixo grau escolar. Estes dados enfatizam a fragilidade dos modelos de aprisionamento e reforça a realidade de exclusão e marginalização que acontece com grande parcela da 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Analfabeto Alfabetizado Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Ensino acima de Superior Completo Não Informado Q u an ti ta ti v o e m % Ensino de Geografia – Capítulo 2 46 população, constatando assim que a educação fica em segundo plano para o estado (JUNIOR, 2014; CASTIGLIONI; FILHO, 2017). Dessa forma, as questões sociais relacionadas às desigualdades como as más condições de vida e falta de acesso à educação levam esses jovens a praticarem atividades ilícitas como um rápido meio de conseguir bens ou ate mesmo sobreviver. A relação escola e crime andam lado a lado, uma vez que a educação é uma condição para o acesso a uma qualidade de vida melhor, respaldando assim que o baixo nível escolar significa dificuldade de acesso à renda. O indivíduo uma vez excluído do mercado de trabalho por falta de qualificação, mesmo que mínima, o índice do individuo cometer delitos é alta, e o índice de saída é baixo (JUNIOR, 2014; CASTIGLIONI; FILHO, 2017). A educação para a ressocialização em um ambiente insalubre é um desafio extremo. Esta inserida em espaços de privação de liberdade enfrenta diversos desafios, desde a parte de estrutura física até a de metodologias de ensino adequadas à situação e ao meio, e principalmente a difícil tarefa de propiciar às pessoas que foram muitas vezes excluídas do ambiente escolar ou que devido a diversas circunstâncias abandonaram a educação formal, o retorno à escola (MASULLO, et al., 2020). Para que ocorra o processo de ressocialização do individuo faz-se necessária não somente a aplicação de uma privação de liberdade, mas também uma junção de ações destinadas a incentivar o apenado a resignificar sua percepção de mundo, uma vez que a efetivação do objetivo de ressocialização do apenado concerne na aplicação de mecanismos que possibilitem sua reinserção social, de forma que seja reintegrado à sociedade da melhor forma possível – sem que volte a realizar atos delituosos (ANDRADE, 2015). Nessa perspectiva, a chamada Educação em Espaços de Privação de Liberdade busca propiciar um reencontro do aluno com o ambiente escolar e promover neste ambiente, a construção individual e coletiva do Ensino de Geografia – Capítulo 2 47 conhecimento objetivando novas perspectivas para o futuro. O acesso à educação permite que o aluno construa um conhecimento critico do mundo, promovendo debates sobre questões políticas, econômicas e sócias, de modo que estes consigam resignificar o conteúdo com suas vivencias (SANTOS; FRANCO, 2018). BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EDUCAÇÃO NA APAC DE IMPERATRIZ-MA Em Imperatriz, a Unidade prisional da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados - APAC foi criada em 31/10/2006, por meio de um convênio com o Poder Judiciário. Parte da manutenção e assistência da unidade prisional provem de voluntários que se identificam com a metodologia da APAC. As unidades prisionais APAC tem o método que possibilita uma maior integração entre o preso, a família e a sociedade, e isso faz com que ele sinta necessidade de corrigir seu erro e de reintegrar-se ao convívio social, seja por meio do estudo, seja por meio do trabalho (ZENKNER, 2017). Atualmente, a Unidade da APAC de Imperatriz possui 53 recuperandos. Todos os internos em situação de cárcere participam das atividades educativas, cursos de profissionalização e artesanato a partir da inserção nos seguintes projetos: Modalidade Educação de Jovens e Adultos - EJA; revisão de literatura; cursos profissionalizantes; religião com o projeto “viagem de um Prisioneiro”; malharia/artesanato, com cursos de costureiro (produção de tapetes de crochê); cursos de culinária com a produção de bolos, bombons e salgados; trabalhos de limpeza do ambiente alem do método APAC (ZENKNER, 2017). Nesse contexto, esta pesquisa buscou conhecer o perfil socioeconômico nos internos que são atendidos por esta Unidade. Os resultados aqui obtidos foram expostos a partir de gráficos, na qual nos dão uma maior visão acerca do perfil dos internos desta unidade. Ensino de Geografia – Capítulo 2 48 Dito isso, verifica-se a partir dos resultados do questionário que dos 32 internos que estão na Unidade Prisional APAC, 12 se encontram com faixa etária entre 50 a 60 anos de idade, representando 37% de todos os internos; 7 internos com idade entre 30 a 40 anos, representando 22% dos reclusos; 19% com idade de 20 a 30 anos; 16% com idade de 40 a 50 anos e com idades de 60 a 70 anos somam apenas 6% os apenados, como mostra o gráfico 2. Gráfico 2. Faixa Etária dos Internos – APAC de Imperatriz/MA Fonte: Os autores (2121) Em relação à questão étnico-racial dos internos da APAC, observa- se no gráfico 3, que 18 dos 32 internos reclusos na unidade se reconhecem como pardo, representando 58% de todos os internos; 7 internos se reconhecem como negro, representando 23% dos apenados; e apenas 19% dos internos se reconhecem como branco, gráfico 3. Isso reforça a vulnerabilidade social, e evidencia a diferença marcante entre os pardos e os brancos no cárcere. Mesmo com a maior parcela da sociedade maranhense, sendo composta por pardos e negros, segundo o IBGE (2020), os estereótipos de cor parecem funcionam efetivamente, como reflexo das desigualdades sociais no país. Outra 0 5 10 15 20 - 30 anos 30 - 40 anos 40 -50 anos 50 - 60 anos 60 - 70 anos Q u a n ti ta ti v o Faixa Etaria Ensino de Geografia – Capítulo 2 49 questão a ser ressaltada, é o baixo nível escolar, que amplia a vulnerabilidade das pessoas dentro do sistema prisional. Gráfico 3. Cor dos internos da APAC de Imperatriz/MA Fonte: Os autores (2021) Dentro da unidade prisional APAC são desenvolvidas atividades de ensino que dão certificação escolar para a aquisição do diploma do ensino fundamental. Dentre eles, destaca-se o da Escola Municipal Santa Laura, com uma extensão de uma sala de aula dentro da unidade em que são ofertadas duas turmas, sendo elas do 1º ao 3º ano e de 4º ao 5º ano do ensino fundamental, que mesmo com a propagação da pandemia da Covid-19 continuaram de forma online. Apesar de a Unidade possuir em seu quadro 32 reclusos, somente 15 encontra-se matriculadas na modalidade EJA. Os demais optaram por não serem incluídas ao programa ou não se encaixam no perfil das turmas oferecidas. No gráfico 4, nota-se que mesmo com o desenvolvimento de atividades de ensino dentro da unidade, o número de apenados que possuem o ensino fundamental incompleto é grande, como mostra o gráfico 4. Dos 32 internos, 45% não possuem o ensino fundamental completo; 10% possuem ensino fundamental completo; 26% possuem o 0 5 10 15 20 Pardo Negro Branco Q u a n ti ta ti v o Cor Ensino de Geografia – Capítulo 2 50 ensino médio completo; 3% possuem ensino médio incompleto; 10% dos internos são analfabetos; e apenas 6% tiveram acesso ao ensino superior incompleto. Gráfico 4. Nível de escolaridade dos internos da APAC de Imperatriz/MA Fonte: Os autores (2021) Esse cenário se complexifica, quando identificamos a maioria das pessoas privadas de liberdade, não possuem nem o ensino fundamental completo, enquanto aproximadamente 6% da população carcerária conseguiram ingressar, mesmo com uma futura evasão, ao nível superior (INFOOEN, 2017). Esse indicador demonstra com clareza o perfil social e econômico das pessoas que entram e permanecem no sistema prisional brasileiro. Nesse contexto, nota-se que a aplicação de um modelo educacional adaptado às condições do ambiente carcerário é algo muito complexo. Vários são os fatores que contribuem para dificultar a prática escolar nestas condições. Entender essas transformações que perpassam o espaço geográfico no âmbito da educação no sistema carcerário demanda renovação e inovação perante o descaso que ainda existe nas 0 2 4 6 8 10 12 14 Q u a n ti ta ti v o Grau Escolar Ensino de Geografia – Capítulo 2 51 práticas metodológicas de ensino fundamentadas na descontextualização e na desconexão do espaço vivido (PRADO, 2015; OLIVEIRA, et al., 2016). Segundo Freire (1992) a educação promove a transformação e nesse processo o aluno e o professor constroem conhecimentos em favor dessa transformação, os espaços de reclusão são considerados um alvo para a inserção de práticas fundamentadas na pedagogia da esperança e da liberdade. No ensino de Geografia, o professor, ao considerar o espaço vivido do aluno, pode modificar a forma como os alunos enxergam o espaço e promover a análise dos fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, uma vez que vez que compreender a dinâmica espacial analisar a produção do espaço geográfico é umas das praticas pedagógicas do ensino de geográfica (OLIVEIRA, et al., 2016). Explicitar as desigualdades sociais e econômicas vividas nas diferentes escalas geográficas por meio do ensino de geografia garante a formação de cidadãos críticos capazes de atribuir significados aos acontecimentos sociais e naturais que se difundem nesse espaço de vivência. Dessa forma, a aplicação do ensino de Geografia fornece instrumentos que o ajudem a refletir criticamente, pesquisar informações sobre o mundo, ser criativa e tomar decisões (OLIVEIRA, et al., 2016; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). CONSIDERAÇÕES FINAIS A reflexão feita neste trabalho leva à constatação da realidade vivenciada por muitos internos em complexos presidiários brasileiros. Neste passo, verificou-se a necessidade de uma compreensão histórica do sistema prisional e suas divergências no que tange a implantação de atividades educativas dentro destas unidades prisionais. A Educação em Espaços de Privação de Liberdade, ainda carece de metodologias e discussões sobre esse espaço em si. O papel do ensino de Ensino de Geografia – Capítulo 2 52 Geografia dentro destas unidades, parte do pressuposto de que por ser uma ciência humana – e, sobretudo, crítica - apresenta elementos de diversas vertentes sobre o mundo em suas mais diversas escalas. O professor ao considerar o espaço vivido do educando pode transformar a forma com que estes enxergam o espaço no qual inserido, contribuindo assim para a construção de um pensamento critica que promova a cidadania e autonomia do individuo. Portanto, a ciência geográfica por estar presente no cotidiano dos sujeitos em suas mais diversas formas, deve ser ensinada como uma ciência que nos permite vivenciar o nosso dia a dia de forma mais consciente da nossa realidade. No que tange aos dados colhidos na unidade prisional APAC, percebe-se que há um déficit nas series iniciais em que o apenado nem sequer concluiu o ensino fundamental, visto que o grau de instrução dos apenados tem um maior índice nas séries iniciais. Nota-se também que o grau de escolaridade é fruto de sua vida escolar antes da prisão, uma vez que as atividades educativas na unidade tiveram inicio apenas no ano de 2019. Agradecimentos: os autores agradecem ao programa de extensão da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – uemasul. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, T. L. S.; NETO, A. R. C. Discurso e mídia: as condições de vida dos encarcerados no complexo penitenciário de pedrinhas – São Luís – Maranhão: Uma violação ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. V Congresso ibero-americano de investigadores e docentes de direito e informática. Anais ISSN 2238-9121. 27 a 29 de maio. UFSM - Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2015. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: Ensino de Geografia – Capítulo 2 53 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 1 de maio de 2021. BRASIL. Lei Federal Nº 7.210 de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm.> Acesso em: 17 de maio de 2021. BRITO, R. F. Ressocialização de mulheres encarceradas: um estudo do complexo penitenciário feminino de São Luís - MA. Monografia de graduação em Direito. Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 2017. 61f. DULLIUS, A. 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A educação nas prisões brasileiras, estudo de caso: penitenciária de segurança máxima criminalista Geraldo Beltrão em https://http/dados.mj.gov.br/dataset/infopen-levantamento-nacional-de https://http/dados.mj.gov.br/dataset/infopen-levantamento-nacional-de Ensino de Geografia – Capítulo 2 54 João Pessoa – PB. Monografia do curso de Geografia. Universidade Federal da Paraíba – UFPB. João Pessoa, 2014. 49f. MASULLO, Y. A. G.; ROCHA, A.; MELO, S. N. de. O cárcere brasileiro e o perfil social do sistema prisional do Maranhão. Geosul, Florianópolis, v. 35, n. 76, p. 662-683, set./dez. 2020. OLIVEIRA, A. B; PEREIRA, E. da S. Educação, cinema e cidadania: o ensino de geografia em presídios de Imperatriz – MA. Revista Ensino de Geografia (Recife) v. 1, n. 2, mai./ago. 2018. OLIVEIRA, A. S. de. CARVALHO, I. S. de M. MENEZES, S. de S. M. O ensino de geografia para além dos muros das escolas: Experiências vivenciadas no PREFEM-Sergipe. InterEspaço Grajaú/MA v. 2, n. 5 p. 466-489 jan./abr. 2016. PRADO, A. S. do. Educação nas prisões: desafios e possibilidades do ensino praticado nas Unidades Prisionais de Manaus. Dissertação de mestrado em sociologia. Universidade Federal Do Amazonas – UFAM, Manaus, 2015. 107f. SANTOS, M. de F.; FRANCO, F. Práticas de ensino de geografia em espaços de privação de liberdade. Pesquisar: revista de pesquisa e estudo em ensino de geografia. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. ISSN 2359-1870, v. 5, n. 8, setembro, 2018. SEAP. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. Banco de Dados. Governo do Estado do Maranhão. Disponível em: < http://seap.ma.gov.br/ > Acesso em 10 de junho de 2021. SOUZA, L. A. Meio Ambiente como tema mobilzador no processo educacional de ressocialização dos detentos da unidade prisional de Chapadinha - MA. Monografia em ciências biológicas. Universidade Federal do Maranhão, Chapadinha, 2019. 68f. Zenkner, F. F. Proposta de capacitação profissional promovida pelo corpo de bombeiros militar do Maranhão para recuperandos da Ensino de Geografia – Capítulo 2 55 Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Imperatriz/MA-APAC. Dissertação de Mestrado em Segurança Pública. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2017. 141f. 56 CAPÍTULO 3 O PAPEL DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA FORMAÇÃO DE EDUCANDOS CRÍTICOS E REFLEXIVOS: SABERES E FALAS COMO CAMPO INVESTIGATIVO Elvis Reis de Oliveira Mestre em Geografia – Universidade Federal do Espírito Santo Professor da rede municipal da cidade de Serra – ES https://orcid.org/0000-0002-8129-4770 Maicon Lemos Sathler Mestre em Geografia – Universidade Federal do Espírito Santo Professor da rede privada da cidade de Vitória – ES https://orcid.org/0000-0003-1804-2148 RESUMO: Apresente pesquisa teve como base de investigação as narrativas de professores de Geografia das séries finais do Ensino Fundamental que atuam em escolas públicas do Estado do Espírito Santo. Para realização das análises foram realizadas uma categorização das falas dos professores entrevistados. Essa categorização foi feita com base em três aspectos: a) A perspectiva de Geografia Escolar; b) Corrente do Pensamento Geográfico assumida pelos docentes e; c) Os conceitos e princípios considerados centrais em seu processo de ensinar a ciência geográfica. Os referenciais teóricos basearam-se, principalmente, nas obras de Paulo Freire; Milton Santos e Valdir Nogueira. Os dados coletados foram sistematizados e analisados relevando as relações de conflitos existentes entre as falas e as práticas dos professores de Geografia nas escolas em questão. Constatou-se também, uma relação contraditória entre os saberes e as práticas dos docentes e, ao mesmo tempo, possibilidades de transgressão. PALAVRAS-CHAVE: Geografia Escolar. Conhecimento Geográfico. Saberes e Práticas. https://orcid.org/0000-0002-8129-4770 https://orcid.org/0000-0003-1804-2148 Ensino de Geografia – Capítulo 3 57 THE PAPER OF THE GEOGRAPHY TEACHER IN THE FORMATION OF CRITICAL AND REFLECTIVE EDUCATION: KNOWLEDGE AND SPEECH AS AN INVESTIGATIVE FIELD ABSTRACT: The present research was based on the narratives of Geography teachers from the final grades of Elementary Education who work in public schools in the State of Espírito Santo. To carry out the analyzes, a categorization of the speeches of the interviewed teachers was carried out. This categorization was based on three aspects: a) The perspective of School Geography; b) Geographic current of thought assumed by teachers and; c) The concepts and principles considered central in the process of teaching geographic sciences. The theoretical references were based mainly on the works of Paulo Freire; Milton Santos and Valdir Nogueira. The collected data were systematized and analyzed, revealing the conflict relations existing between the speeches and the practices of Geography teachers in the schools in question. There was also a contradictory relationship between the knowledge and practices of teachers and, at the same time, possibilities of transgression. KEYWORDS: School Geography. Geographic Knowledge. Knowledge and Practices. INTRODUÇÃO Objetivando refletir e analisar como se relacionam os saberes dos professores de Geografia dos anos finais do Ensino Fundamental, com sua prática pedagógica no ambiente escolar, este estudo insere-se no campo de pesquisa que investiga os saberes na educação escolar, focando-se no ensino da geografia. A pesquisa sobre a geografia escolar é de fundamental importância, pois permite a reflexão sobre o processo de ensino e aprendizagem do saber geográfico, bem como os aspectos relacionados a formação de um indivíduo crítico e reflexivo. Os trabalhos envoltos Ensino de Geografia – Capítulo 3 58 dessa perspectiva permitem tornar mais claro os pressupostos teóricos metodológicos que orientem a prática dos professores em sua sala de aula.Nesse sentido, os saberes docentes são considerados a partir da educação geográfica, pois tal perspectiva de ensino da Geografia busca significar os conteúdos da geografia escolar, permitindo aos educandos a compreensão do mundo atual por meio das suas diversas dimensões (seja ela social, espacial, ambiental e política). Portanto, a educação geográfica é nesse trabalho um parâmetro para análise dos saberes docentes e, consequentemente, e de suas práticas no ambiente da sala de aula. É importante destacar, que nas condições colocadas pelo atual momento histórico, ou seja, do espaço globalizado, em que os interesses econômicos, acabam se sobrepondo aos interesses locais. Dessa maneira, torna-se imperativo no processo de ensino-aprendizagem da Geografia a necessidade de formar nos educandos a consciência espacial, ou seja, a compreensão da espacialidade de suas existências (SILVEIRA, 2006; CALLAI, 2001; 2011; 2012). O entendimento das organizações espaciais que constituem o lugar em que os educandos estão inseridos é um dos princípios norteadores da geografia escolar. Dessa forma, ao analisarmos as narrativas de professores de Geografia da educação básica, tivemos o intuito de investigar a construção da consciência espacial e cidadã dos seus discentes. O interesse por essa temática surgiu a partir de indagações e inquietações referentes a forma como o professor estrutura e aborda os conteúdos geográficos, com a finalidade de colaborar e auxiliar na formação dessa consciência espacial. METODOLOGIA Inicialmente foi realizada revisão bibliográfica sobre a temática de estudo. Após a leitura e discussão sobre o tema ao qual se destina a pesquisa, foi realizado a delimitação do campo de estudo Ensino de Geografia – Capítulo 3 59 A presente pesquisa teve como base para investigação as narrativas de professores de Geografia das séries finais do Ensino Fundamental que atuam em escolas públicas do Estado do Espírito Santo. As análises foram realizadas levando em consideração – a Educação Geográfica e a formação da consciência espacial cidadã. Para tal investigação foi escolhida a análise qualitativa, que se mostrou mais interessante devido aos métodos utilizados para o recolhimento dos dados (observação das aulas, aplicação de questionário e aplicação de entrevista semiestruturada). Além disso, as discussões foram alicerçadas com base na bibliografia previamente estudada. Com relação a análise qualitativa adotada, ressalta-se que “o sujeito-observador faz parte do conhecimento de fenômenos, atribuindo-lhes um significado; sendo assim, o objeto não é neutro, possui significados e relações que os sujeitos concretos criam em suas ações” (GRUBITS; DARRAUT-HARRIS, 2004, p.110). Para realização das análises foi realizada a categorização das falas das professoras entrevistadas. Essa categorização se deu sobre três aspectos: a) Perspectiva de Geografia Escolar das professoras; b) Corrente do Pensamento Geográfico assumida pelas professoras e; c) Os conceitos e princípios considerados centrais pelas professoras. A GEOGRAFIA ESCOLAR A partir dos dados recolhidos durante a pesquisa de campo, foi possível identificar a compreensão de Geografia Escolar por parte docentes entrevistados. O primeiro ponto destacado pelas professoras, sugere a relação existente entre Escola e Mundo, Escola e Sociedade, Escola e Realidade. A escola, na verdade, é uma reprodução de nossa sociedade. O que a gente passa lá fora, acaba se passando na escola também. Isso é dinâmico. Você Ensino de Geografia – Capítulo 3 60 tem essa realidade lá fora e aqui dentro, nós, professores, não podemos fugir disso, não podemos ignorar a realidade que a gente tem no Brasil e tentar isso no trabalho que a gente faz (Prof. A - Entrevista realizada no dia 05/08/2019). Freire (2013), comenta essa relação entre sociedade e escola, sociedade e educação, quando mostra como se dá a produção do par Opressor-Oprimido através da educação bancária, que é, também, expressão de uma sociedade dividida nos mesmos termos. Essas citações nos mostram o quadro de vida em que a escola está inserida: uma sociedade desigual, dividida em classes; e como essas relações penetram na vida cotidiana da escola. A escola também reproduz esse contexto de sociedade desigual. Outro ponto importante indicado na fala da professora, é que essa relação é dinâmica e contraditória, ou seja, não é mecânica, determinista. Pensando dialeticamente, a escola e a educação podem ser lócus de resistência e transformação, como ensina o próprio Freire (2013), através da concepção de uma educação libertadora. Isso vai ao encontro do tema deste trabalho, qual seja, a formação da consciência que é também espacial-cidadã, que a Educação Geográfica ajuda a explicar. Conforme,Callai (2011), o conhecimento a respeito do mundo por meio da geografia permite entender a lógica na qual estamos inseridos. [...] a importância de ensinar geografia, deve ser pela possibilidade que a disciplina traz em seu conteúdo que é discutir questões do mundo da vida. Para ir além de um simples ensinar, a educação geográfica considera importante conhecer o mundo e obter e organizar os conhecimentos para entender a lógica do que acontece (CALLAI, 2011, p. 131). Dentro desse contexto, a compreensão de Geografia Escolar, pelas docentes entrevistadas nos indica que “a Geografia é uma disciplina que ajuda o aluno entender o espaço, o espaço em que ele vive, o espaço Ensino de Geografia – Capítulo 3 61 geográfico, as questões sociais” (Prof. B – Entrevista realizada em 15/09/2019).Ou seja, o ensino da geografia não pode estar desvinculado do contexto no qual o aluno esteja inserido. A Geografia como disciplina escolar possibilitaria ao aluno compreender uma as dimensões da realidade, qual seja, o espaço geográfico e, mais especificamente, o espaço de sua existência. Isso fica, também, evidente numa das falas das professoras “Os referenciais [...] normalmente são os noticiários de jornais, a imprensa falada e a imprensa escrita, eu acho importante o livro didático e o conhecimento que o aluno já traz consigo” (Prof. B – Entrevista realizada em 15/09/2019). De forma mais direta, a Geografia seria a disciplina que permitiria ao aluno compreender como as relações sociais se manifestam no espaço geográfico, ou melhor, permitiria ao aluno entender a realidade social e como está inserido nesse contexto, a partir do lugar onde vive.Um outro ponto que pode ser destacado nas verbalizações das professoras aquilo que, Nogueira (2009), chama de uma concepção relacional. [...] precisamos saber onde estamos. Por exemplo no [...] sétimo ano localizo [o aluno] no Brasil e avanço pro mundo, e assim por diante. [...] aí ele sempre vai ter aquela ideia, de dimensionamento, do local para o global que muitos autores mencionam. Então de Cariacica, vai para Espírito Santo, Brasil [e mundo] (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). Percebe-se, a preocupação em relacionar os aspectos que ocorrerem na escala local, próximo da realidade do aluno, com as problemáticas e situações que originam-se, por exemplo, na escala global. Nesse contexto, segundo Cavalcanti (2011): Na Geografia, pode-se inserir esse debate da relevância de conteúdos na orientação de se trabalhar com o local e o global ao mesmo tempo. [...] a realidade social hoje é marcada pelo processo Ensino de Geografia – Capítulo 3 62 de globalização, e nesse processo encontra-se um elemento contraditório e interdependente, que é a reafirmação de culturas, de espacialidades, de experiências locais. A Geografia é uma ciência que estuda o espaço, na sua manifestação global e nas singulares. Sendo assim, os conteúdos geográficos precisam ser ‘apresentados’ para serem trabalhados pelos alunos nessa dupla inserção: a global e a local (CAVALCANTI, 2011, p. 75). De forma sintética, encontramos os seguintes elementos na concepção de Geografia Escolar exposta pelas docentes: a) a existência de uma relação dinâmica, até mesmo dialética, entre contexto social e escolar; b) a Geografia seria a disciplina que permitiria ao aluno compreender seu lugarnesse contexto social; e c) uma visão relacional, no sentido que relacionam a realidade do aluno em seus diversos níveis, isto é, do local-global, global-local. A partir do exposto, uma certa aproximação entre a concepção de Geografia Escolar apresentada pelas docentes entrevistadas e aquela defendida pelo presente trabalho, qual seja, uma Geografia Escolar que é Educação Geográfica, ou seja, aquela Geografia Escolar que tem como intencionalidade a formação da consciência espacial-cidadã (NOGUEIRA, 2009; CALLAI,1999). Alguns questionamentos surgiram no decorrer das análises. Entre elas, pode-se destacar: poderia tal concepção de Geografia Escolar apresentada nas verbalizaçõesdas entrevistadas ser qualificada como Educação Geográfica? Que concepção de Geografia, no sentido de corrente geográfica, as professoras assumem? Será que tal concepção de Geografia correspondente a essa forma de ver a Geografia Escolar? O próxima seção apresenta alguns apontamentos importantes para a discussão de tais questionamentos. Ensino de Geografia – Capítulo 3 63 CORRENTE DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO Com os materiais e dados recolhidos durante a breve pesquisa de campo, foi possível perceber alguns indícios, pistas, que pudessem identificar, também, a corrente do pensamento geográfico que orienta as práticas das professoras observadas. Se faz necessário expor, mesmo que de forma sucinta, discorrer a respeito das correntes do pensamento geográfico e dos paradigmas da Geografia. De acordo com, Santos (2008): [...] a noção de paradigma tem sido utilizada segundo diferentes critérios e acepções, todos mais ou menos conducentes a considerá-lo como um guia para a elaboração de conceitos, teorias e modelos. Fala-se, frequentemente, de um paradigma como expressando uma concepção teórica (SANTOS, 2008, p195). Um dos paradigmas da ciência geográfica está relacionado a definição de seu objeto de estudo. A partir desse entendimento do que seja o objeto da Geografia, o paradigma exige, também, a elaboração de conceitos e modelos correspondentes a essa concepção do objeto. Vê-se, assim, um imbricamento, entre objeto e conceitos. Mais tarde, Santos (2009, p. 21) falaria de um sistema de conceitos. Em suas palavras: “Os conceitos [...] destacados devem, por definição, ser internos ao objeto correspondente [...] e ao mesmo tempo constitutivos e operacionais”.Assim, tornou-se necessário, para o presente trabalho, entender qual a concepção de Geografia das professoras entrevistadas. É a partir de tal concepção que surgem, os conceitos analíticos correspondentes e, no caso da presente pesquisa, tais conceitos ligam- se, também, a própria prática. As professoras, ao apresentarem a perspectiva de Geografia que adotam, começam com a relação mais geral e mais presente na história moderna da disciplina. De acordo com seus relatos: Ensino de Geografia – Capítulo 3 64 O que é a Geografia? Descrição da Terra. Mas essa descrição não é só descrever a Terra, olhar a Terra e representar num mapa, mas você ter a noção espacial. E a junção desse espacial, do espaço físico com o humano, [isso] é o espaço geográfico (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). Pontuamos alguns elementos importantes nesta citação, onde uma das professoras define sua concepção de Geografia. O primeiro ponto é a diferenciação, feita pela professora, entre descrição e explicação. A Geografia, então, não seria apenas uma descrição do que existe na superfície da Terra; seria, também, uma explicação, uma teoria que daria sentido às coisas que vemos através da paisagem geográfica. Milton Santos (2008, p. 93-94), na primeira parte do livro intitulado “A crítica da Geografia”, nos mostra os limites de uma Geografia voltada somente para a descrição. De acordo com o geógrafo, “[...] a simples apreensão da coisa, por seu aspecto ou sua estrutura externa, nos dá o objeto em si mesmo, o que ele apresenta, mas não o que ele representa”. Ou seja, a descrição somente não permite apreender o significado, o papel social dos objetos geográficos, aqueles perceptíveis na paisagem. Esse mesmo geógrafo, mais tarde, escreve que o “que deve estar no alicerce da descrição é a vontade de explicação, que supõe a existência prévia de um sistema” (SANTOS, 2009, p. 18). Assim, o que permitiria passar do nível da descrição para o nível da explicação seria um sistema de conceitos, ou seja, novamente, a presença do paradigma. O segundo ponto diz respeito à relação homem-meio, homem- natureza. De acordo com a noção apresentada pela docente entrevistada, o espaço geográfico seria o resultado, produto da relação homem e meio, o social e o físico, o social e a materialidade. Esse é um debate central para a Geografia. Por toda a história do pensamento geográfico moderno, a relação homem-meio esteve presente no cerne das questões geográficas (MORAES, 2010). Ou seja, em cada paradigma ou corrente do pensamento geográfico, essa relação foi Ensino de Geografia – Capítulo 3 65 destaca, mas, cada uma apresentou uma explicação diferente. Ratificando a afirmação exposta, em uma das verbalizações da professora B, inferimos raciocínio semelhante. Eu acho que primeiro de tudo ele [aluno] tem que saber o que é Geografia, sabendo o que é geografia ele vai saber discernir a condição física do lugar e entendendo a condição física ele consegue [...] elaborar o contexto econômico, por que a condição física impõe à econômica [...] (Prof. B – Entrevista realizada em 15/09/2019). O raciocínio geográfico da professora passa pelo que ela denomina de “condição física”, que podemos entender como o meio ou a materialidade, e o que ele chama de “contexto econômico”, que podemos entender como atividades humanas, ou seja, as ações humanas, o social. Mas, o que chama atenção para essa última fala, em relação à fala do professor A, é a ênfase dada à materialidade, isto é, a condição física se impõe à condição econômica. Essa afirmação da professora pode dar margem para várias interpretações. Por enquanto, o que irá ser destacado é o papel das formas geográficas. Isso, de acordo com muitos autores da ciência geográfica – e seria importante chamar atenção para a elaboração de Milton Santos é o papel do geógrafo, ou seja, mostrar que as formas geográficas, a materialidade, têm um papel essencial para o processo social. Nas palavras de Santos (2008, p. 165), não “se pode negar a tendência que tem a organização do espaço de fazer com que se reproduzam suas principais linhas de força”. E, quando diz que as “formas naturais e as formas artificiais são virtualidades [...] cuja presença no processo de trabalho é importante”.Porém, como estamos tratando de Geografia Escolar, seria importante identificar, através das falas das professoras observadas, de que meio, isto é, de que materialidade estão falando. Mas, também, é necessário identificar o que as professoras observadas entendem por sociedade. É a partir desses Ensino de Geografia – Capítulo 3 66 entendimentos, ou seja, o que as professoras entendem por meio geográfico, a materialidade, e o que entendem por sociedade, que se poderá indicar a corrente do pensamento geográfico de que participam.A partir desses elementos poderemos identificar a corrente do pensamento que fundamenta o raciocínio geográfico e as práticas dos docentes. Uma das falas do professor A nos parece ser bastante clara em relação a esse debate: [...] acho importantes os conceitos de clima, relevo, vegetação, hidrografia, [...] sempre trabalho primeiro essa parte física. O relevo determinando muitas vezes a ocupação do território, clima na questão de determinar também a ocupação do território e influenciar na paisagem. Por exemplo, no EUA, na parte mais fria não tem muita ocupação do território, isso dá pro aluno perceber e fazer a relação. O clima e o relevo determinam muito a ocupação do território. A hidrografia é importante porque a água é usada para agricultura, abastecimento das casas e a população geralmente fica próxima dos rios, o rio é fundamental (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). A docente entende o meio físico, a materialidade, como “natureza natural”, ou seja, aquela relação, entre homem e o meio, na verdade é uma relação entre uma natureza “natural” que se impõe a uma sociedade que se adapta. Nesse contexto, podemos entender a fala da professora B, quando diz que o “aluno tem que conhecer a condição física e daí ele consegue imaginar a condição econômica”.É preciso, ainda que de maneira breve, realizar uma pequena síntese a respeito da corrente do pensamento geográfico que se configura a partir das falas das professoras. De acordo com, Moraes (2010, p. 35), muitos autores da Geografia definem essa disciplina como aquela que estuda as “relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a Ensino de Geografia – Capítulo 3 67 natureza”. Como indicado anteriormente, essa citação vai ao encontro das falas das docentes observadas. E continua dizendo que alguns autores apreendem essa relação como “as influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade”. À Geografia caberia então “explicar as formas e os mecanismos pelos quais esta ação [da natureza] se manifesta. Desta forma, o homem é posto como um elemento passivo”. Essa concepção de Geografia é qualificada por, Moraes (2010), como Geografia Tradicional. Assim, a partir das falas das professoras anteriormente citadas, destaca-se mais: [...] eu tenho preferência por alguns autores que seguem determinada linha. Eu sou um pouco tradicionalista, Geografia Tradicional. Eu acabo adotando livros que tenham essa linha, por causa da questão conceitual, da esquematização do conteúdo, da sequência que traz (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). Aqui, fica evidente o posicionamento da docente em relação às correntes do pensamento geográfico, embora deva-se relativizar um pouco esta fala da professora A, já que as esquematizações e sequencia dos conteúdos nos livros didáticos, não podem ser consideradas, de imediato, um indício de perspectiva teórico-metodológica mais tradicional de seu(s) autor(es). Pode tratar-se de uma necessidade didático-pedagógica de adequação dos conteúdos geográficos, para fins de uma satisfatória aprendizagem discente. Seguindo a mesma linha de raciocínio, uma outra fala (já citada anteriormente) fica explicitamente entendida: Prof. B “[...] a condição física impõe à econômica”. A partir do exposto, pode-se identificar algumas semelhanças entre os paradigmas denominados aqui de Geografia Tradicional e a concepção de Geografia expostas a partir das falas das docentes entrevistadas. Destacamos a primeira contradição encontrada durante a pesquisa: contradição entre a concepção de Geografia Escolar e Corrente Ensino de Geografia – Capítulo 3 68 do Pensamento Geográfico de que as professoras participam.Pode-se perceber, no tópico referente à análise da concepção de Geografia Escolar das professoras, que ela se aproxima da perspectiva da Educação Geográfica (CALLAI, 1999), ou seja, uma Geografia Escolar que tem como finalidade a formação da Consciência Espacial-Cidadã. Um questionamento surge, então: poderia uma Geografia Tradicional atingir tal finalidade? É a partir da crítica a Geografia Tradicional que, Santos (2008), realiza que poderemos enfrentar tal questionamento. Para o geógrafo brasileiro, a origem do que seria a Geografia Tradicional, tanto a “determinista” quanto a “possibilista”, estaria vinculada a expansão do capitalismo ao redor do planeta. Dentro desse processo, onde o espaço e a sociedade dos países periféricos foram reorganizados a partir das necessidades dos países imperialistas, a geografia teve como meta “esconder o papel do Estado” e “das classes na organização da sociedade e do espaço” (p. 31). A Geografia Tradicional nasce colonial e comprometida com esses interesses hegemônicos. Não será essa permanência dessa Geografia nas escolas uma forma de “colonização” e de reafirmação das significações atribuídas ao atual processo de Globalização? Com o que foi demonstrado até o momento, pode-se afirmar que alguns dos posicionamentos assumidos pelas docentes entrevistadas se aproximam mais da Geografia Tradicional. Tal afirmação pode ser fundamentada a partir dos seguintes elementos destacados: a) relação homem-meio; b) quando se fala do homem, não se fala em sociedade, isto é, em relações sociais; c) a consideração da existência de uma natureza “natural’; d) o papel determinante da natureza sobre o homem. A partir do exposto, repetimos os questionamentos: uma Geografia Escolar, baseada numa Geografia Tradicional - nascida colonizadora e ideológica e que não explica mais o mundo – poderia possibilitar a formação de uma consciência espacial-cidadã no sentido proposto pela Ensino de Geografia – Capítulo 3 69 Educação Geográfica? A resposta pode vir através de uma outra pergunta: como ser consciente do mundo e do seu espaço de vida com um conhecimento “distorcido” da realidade? CONCEITOS E PRINCÍPIOS DA GEOGRAFIA Os conceitos seriam os instrumentos analíticos que permitiriam a operacionalização das concepções de Educação, Geografia Escolar e de Geografia expostas pelas professoras observadas e descritas anteriormente. Assim, cabe ressaltar, quais os conceitos considerados principais para auxiliar no entendimento da consciência espacial-cidadã pelos docentes entrevistados. São esses conceitos que irão balizar os seus saberes e as práticas pedagógicas. Resgatando um dos relatos da professora A, observamos essa perspectiva. Conceito de espaço, de território... conceitos da geografia humana, população, economia... Tem alguns autores que trazem alguns conceitos, que seriam espaço, de Estado, de Nação, de território... Esses daí seriam os conceitos fundamentais da Geografia [...]. Também acho importantes os conceitos de clima, relevo, vegetação, hidrografia. [Em] todas as séries eu sempre trabalho primeiro essa parte física (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). Dentro do que seria esse sistema de conceitos que fazem parte do arcabouço epistemológico da professora citada, podemos destacar alguns pontos. O primeiro ponto é, novamente, a separação entre o que seriam os “conceitos de geografia física” e os “conceitos de geografia humana”. Entre os primeiros estariam, de acordo com a professora clima, vegetação, relevo, hidrografia; e, entre os segundos, espaço, território, população, economia, Estado-Nação. Infelizmente, no momento da entrevista, não se atentou para a necessidade de perguntar à professora o porquê de trabalhar primeiro Ensino de Geografia – Capítulo 3 70 sempre os conceitos físicos. Assim, baseados neste posicionamento, e no que já foi analisado anteriormente, conclui-se que o risco da dicotomia físico/humano, determinismo/possibilíssimo nas práticas pedagógicas de ambas, é significativo. Uma outra característica fundamental apresentada nos relatos das professoras é a importância dada ao “lugar do aluno”, isto é, as professoras apresentam, em suas falas, uma preocupação em partir da realidade do aluno. De acordo com a professora: O espaço geográfico é importante porque [é] o espaço [onde o aluno] está inserido, ele tem que ter essa noção do espaço em que ele vive. Território é [...] para ele entender que ele faz parte de um país que tem um território. No caso do Brasil ele saber que está num território, ele também é dono, porque têm nações que não têm essa possibilidade, e a própria organização do espaço mundial, do território dos Estados-Nações. Conceito [...] de população, é importante porque ele faz parte dessa população ele está inserido na população de um estado, país... noções de taxa de natalidade, mortalidade e outros, são importantes para entender as diferenças entre os países, a própria ocupação, porque uns países são mais populosos e têm controle de natalidade (Prof. A – Entrevista realizada em 05/08/2019). Os conceitos de que as professoras observadas se servem partem de uma corrente do pensamento geográfico, mas são requalificados, nas intencionalidades educacionais, com o destaque dado à realidade do aluno. Mistura-se o que, na verdade, é inseparável, isto é, ciência e vida. De acordo com, Castrogiavanni (2006, p. 13), é “urgente teorizar a vida, para que o aluno possa compreendê-la e representá-la melhor e, portanto, viver em busca de seus interesses”. Aqui seria importante destacar dois elementos conceituais que surgem da concepção de Geografia exposta na seção anterior: a fala da Ensino de Geografia – Capítulo 3 71 professora demonstrou-se que, quando mencionou espaço, estava falando de uma localização “física”; quando falava de homem, se referia à população, nunca de relações sociais. Essa é uma característica destacada por, Moraes (2010), quando trata da Geografia Tradicional. Começa-se a desenhar a segunda contradição: fala-se de ciência e vida, mas de uma vida conceitualmente frouxa, ou melhor, conceitualmente “fora da vida”. Tratando de um dos grandes temas da Geografia, a relação campo e cidade, as professoras puderam expor uma outra característica de seus saberes, qual seja, o papel da dinâmica, isto é, do movimento, da transformação. De acordo com a fala da professora: O conceito de urbano-rural também é importante [...]. Por exemplo no sétimo ano, temos que falar nisso porque o Brasil era um país agrário, e que no decorrer de seu desenvolvimento, se tornou urbano. O aluno tem que perceber essas diferenças, ele precisa valorizar o campo, ter consciência que o feijão que ele come vem do campo. O campo abastece a cidade, que é onde esse aluno geralmente vive (Prof. B – Entrevista realizada em 15/09/2019). Pode-se destacar dois pontos a partir da fala citada. O primeiro ponto seria que os conceitos da ciência geográfica, para as professoras observadas, seriam dinâmicos, são transformados com o passar do tempo. Isso pode ser verificado na fala, quando a professora destaca o caso do Brasil, que se transformou, de um país agrário, para um país onde a população é predominantemente urbana. O segundo ponto seria que a relação entre os temas e conceitos também deve atingir o próprio comportamento dos alunos. No caso citado, o aluno deveria entender que o alimento que ele consome, apesar de não fazer parte de seu espaço de vida, isto é, vir de um lugar distante, se faz presente em seu cotidiano. Assim, “ele precisa valorizar o campo” apesar de morar na cidade. Ensino de Geografia – Capítulo 3 72 Pode-se, então, dizer que os conceitos indicados pelas professoras “seguem a idéia de se conceber a espacialidade geográfica em movimento – como dinâmica espacial” (NOGUEIRA, 2009, p. 240). Ou seja, tais “conceitos e princípios são postos na perspectiva das dinâmicas espaciais, ou seja, nas inter-relações e mudanças, que se dão nos fatos e fenômenos geográficos” (NOGUEIRA, 2009, p. 239). É preciso, agora, destacar a segunda contradição encontrada durante as pesquisas, qual seja, a contradição entre os conceitos principais elencados pelas docentes e suas intencionalidades. Isto é, vimos que os conceitos enumerados pelas professoras partem de uma determinada concepção de Geografia, a Geografia Tradicional, e vimos quais são os limites dessa perspectiva para a finalidade da presente pesquisa – formação da consciência espacial-cidadã. Porém, as professoras apresentam, como objetivo desses conceitos, situarem o aluno no mundo, isto é, fazer com que o aluno perceba o que é a realidade a partir de sua situação. Ou seja, existe uma preocupação, por parte das professoras, que os conceitos tenham um papel crítico, repercutam nos posicionamentos e atitudes dos alunos. Surgem, a partir dessa situação paradoxal, outros questionamentos: tendo como intencionalidade a formação de uma consciência crítica, serão os instrumentos conceituais utilizados os mais eficazes? A utilização de tais conceitos não teria, como consequência, a distorção da prática? PARA NÃO CONCLUIR... Após as análises dos saberes apresentados por meio de narrativas, chegou-se a uma resposta que merece uma reflexão: as relações entre saberes e o cotidiano escolar são contraditórias. Seria isso um problema? Ser contraditório é um problema? Seguindo a perspectiva dialética, vê-se que as contradições são inerentes Ensino de Geografia – Capítulo 3 73 à existência humana e, como foi demonstrado, é a própria relação contraditória – então, dialética – que possibilita a novidade. A partir dos indícios apresentados nesse trabalho, dois pontos precisam ser destacados. Primeiro, fica evidente a necessidade de uma crítica dos saberes que por consequência acaba por refletir nas práticas que acontecem no dia a dia da escola, já que, considerando a forma como os conceitos vêm sendo trabalhados, eles pouco contribuem para o processo de constituição de uma consciência crítica acerca do Espaço Geográfico e do Lugar. O entendimento sobre o processo dinâmico nas sociedades, da qual todos os sujeitos coparticipam solidariamente, mesmo sem a consciência disso, são fundamentais para um convívio social com sujeitos que exercem sua cidadania. Esses conceitos, contudo, são pouco referenciados nas aulas, o que dificulta à Geografia alcançar seu objetivo que se expresse além do confinamento da escola, servindo apenas como um instrumento burocrático dos sistemas escolares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLAI, H. C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In. CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos (Org.). Ensino de geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 10. ed. Porto Alegre: Meditação, 2012. ____________. A Geografia e a Escola: muda a Geografia? Muda o ensino? Terra Livre, São Paulo, n.16, p. 133-152, 2001. ____________. A Geografia escolar e os conteúdos da Geografia. Anekumene, v. 1, p. 128-139, 2011. ____________. O estudo do lugar como processo de pesquisa para a aprendizagem. 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In: X ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA, 2009, Porto Alegre. X ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2009. v. 1. p. 1-15. SANTOS, M. Espaço e Método. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2008. __________. A natureza do espaço. Técnica e tempo; Razão e emoção. São Paulo, Edusp, 2009. SILVEIRA, M. L. O espaço geográfico: da perspectiva geométrica à perspectiva existencial. Geousp, v. 19, p. 81-91, 2006. 75 CAPÍTULO 4 AFRICANIDADES E ENSINO: LIVRO DIDÁTICO E FORMAÇÃO ACADÊMICA Rafaela Pacheco Dalbem Mestre em Geografia - Universidade Federal do Paraná http://lattes.cnpq.br/8174315126691095 Adilar Antonio Cigolini Doutor em Geografia - Universidade Federal de Santa Catarina Professor da Universidade Federal do Paraná http://lattes.cnpq.br/4056342224960669 RESUMO: O ensino da História da África, a cultura negra e o negro na formação da sociedade nacional, conforme exige a lei nº. 10.639/2003 é um avanço. Entretanto, questiona-se se os livros didáticos, a formação docente e as Instituições estão atendendo essa obrigação. A pesquisa ora apresentada se debruçou sobre essa temática buscando verificar as exigências do PNLD – Programa Nacional do Livro Didático em relação as questões étnico-raciais no âmbito da geografia, a qualidade da abordagem sobre a geografia da África e questões étnico-raciais nas onze coleções aprovadas no PNLD (2017) para o Ensino Fundamental e, se os cursos universitários têm conteúdo/disciplinas sobre Geografia Africana ou Afro-Brasileira nos seus currículos. Os procedimentos metodológicos se pautaram na análise quali-quantitava de documentos oficiais e dos próprios livros didáticos. O resultado aponta para uma realidade ainda muito distante da ideal, com uma deficiência generalizada na abordagem dessa temática. PALAVRAS-CHAVE: ensino étnico-racial. livro didático. geografia escolar. geografia africana. formação acadêmica. Ensino de Geografia – Capítulo 4 76 AFRICANITIES AND TEACHING: TEXTBOOKS AND ACADEMIC TRAINING ABSTRACT: The obligation of teaching African History, black culture, and the black population in the formation of national society, as required by law No. 10.639/2003, constitutes a significant breakthrough. However, it is questionable whether textbooks, teacher education and institutions are satisfactorily meeting such requirement. The present study focused on this theme seeking to verify the requirements of the National Textbook Program (PNLD) in relation to ethnic-racial issues in geography, the quality of the approach regarding African geography and ethnic-racial issues in the eleven collections approved in the PNLD (2017) for Elementary Education, and if university courses present African or African-Brazilian Geography content/subjects in their curricula. The employed methodological procedures were based on the qualitative and quantitative analyses of official documents and the textbooks themselves. The results indicate a reality that is still far from ideal, with a general deficiency in approaching this issue. KEYWORDS: ethnic-racial education. textbook, school geography. African geography. academic background. INTRODUÇÃO Acreditamos que o ensino formal, seja ele no nível Fundamental, Médio ou Superior carrega marcas do passado colonizado. O histórico de colonização está nos fundamentos das relações ainda hoje. Para se ter uma ideia da forma de discurso dirigida aos africanos, Meneses (2010), menciona um trecho do General José Justino Teixeira Botelho, do ano de 1921, que diz “[...] o intelecto do negro é muito inferior e incapaz de compreender os horrores da servidão; além disso a raça é propensa ao vício, à incúria e à inércia, e, abandonada de si própria, em breve cairia na mais selvagem brutalidade.” (MENESES, 2010, p. 59). Ensino de Geografia – Capítulo 4 77 Essa fala versava especificamente sobre as obras militares portuguesas em Moçambique, mas ela soa tão diferente das cartas do tempo dos descobrimentos com relação aos nossos índios? Soa diferente das acusações que, por vezes, ainda hoje se dirigem aos negros e que marca o discurso de servidão? Essas falas também têm reflexos na escola e uma resposta a esses desafios foi a aprovação da Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Essa leia altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro- Brasileira. Inclui como conteúdo programático do ensino fundamental e médio o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Como se nota, o conteúdo de geografia está diretamente vinculado a obrigação imposta por essa lei. Mas, estariam as Universidades formando seus professores para isso? A escola e o processo de escolarização, de acordo com o Ministério da Educação e das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s), possuem grandes desafios ao pensar a educação de um vasto território como o Brasil. A educação escolar deve fornecer meios pelos quais os estudantes possam fazer suas leituras de mundo de forma a respeitar o coletivo, reconhecer as diferenças e criticá-las baseados nos conceitos historicamente construídos nos mais diversos campos do conhecimento. Nesse sentido, a realização desse trabalho possuía como objetivos a seguinte sequência: verificar as exigências do PNLD – Programa Nacional do Livro Didático em relação as questões étnico-raciais no âmbito da geografia. Após, identificar a qualidade da abordagem sobre a Geografia da África e questões étnico-raciais nas onze coleções aprovadas no PNLD (2017) para o Ensino Fundamental – Anos Finais. E, finalmente, analisar se os cursos de geografia têm conteúdo/disciplinas sobre Geografia Africana ou Afro-Brasileira nos seus currículos. Ao Ensino de Geografia – Capítulo 4 78 atingir os objetivos, espera-se ter um panorama de como a Geografia da África e a questões étnico-raciais estão sendo enxergados pela Geografia. METODOLOGIA Tendo em mente os objetivos listados acima, a seguinte metodologia foi seguida: Para o primeiro objetivo, o procedimento metodológico foi fazer uma análise detalhada do Edital do PNLD do ano de 2017, procurando tudo o que se exigia que os livros contivessem, em termos de ensino da África e educação étnico-racial, de maneira geral e, da geografia, em particular. Para o segundo foi: 01) selecionadas as obras que haviam sido aprovadas no Edital 2017 e, com base na leitura do conteúdo, identificando onde, dentro da obra se achavam os conteúdos de interesse e, 02) foram estabelecidos parâmetros (Tabela 01) de análise do conteúdo para todas as obras, para fins de estabelecer critérios seguros e passíveis de comparação daquilo que foi sendo considerado como problema/inadequação na forma de exposição. Para o terceiro objetivo foram levantadas e analisadas todas as grades curriculares dos cursos de geografia licenciaturas das Universidades Públicas brasileiras, na forma como explicitamos no texto da parte correspondente ao resultado desse objetivo. Por fim, ainda do ponto de vista de procedimentos, apresentamos um texto articulando os resultados dos três passos acima, evidenciando a problemática como uma totalidade que envolve o conjunto de atores envolvidos. A justificativa para uso do livro didático como parâmetro é que eles se constituem na fonte literária mais utilizada pela maioria das instituições públicas de ensino, dado que são financiados pelo Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD). Com relação à decisão de delimitação no período dos anos finais do Ensino Fundamental, é porque entre o 8º e o 9º ano, pela primeira vez, o conteúdo “Geografia da África” Ensino de Geografia – Capítulo 4 79 é tido como unidade curricular específica dentro do plano escolar. A análise dessa literatura, portanto, procura problematizar esses documentos, de ampla divulgação nacional. Igualmente, a pesquisa se justifica por mostrar se os professores de geografia estão saindo de seus cursos preparados para levar essa reflexão à sala de aula, de modo satisfatório. PNLD: O QUE SE COBRA DAQUELES QUE ESCREVEM? Gomes (2010, p. 108) apontou que alguns dos desafios, para uma educação antirracista, é a superação da lógica conteudista do processo de formação dos professores e professoras, bem como a inclusão das orientações da LDB nos editais do PNLD. Arroyo (2010, p. 114) defendeu que é preciso avançar mais na criação de normas compulsórias sobre a eliminação de todo preconceito racial no material escolar e nas condutas dos alunos e profissionais da escola. Dado ao alcance que o livro didático tem na educação brasileira, por representar a fonte literária mais consultada por alunos de escolas públicas do país, considera-se essa ferramenta estratégica para superar esses desafios. O programa dos livros didáticos teve início em 1929 com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL) que visava dar maior legitimidade ao livro didático nacional e auxiliava no aumento de sua distribuição. Hoje, os livros são avaliados a cada 03 anos e, se aprovados, são considerados aptos para a escolha. No período da nossa pesquisa, o último edital para seleção era o do ano de 2017 e, em relação a temática ora em análise, o conteúdo do livro deveria “[…] promover positivamente a imagem de afrodescendentes e dos povos do campo, considerando sua participação e protagonismo em diferentes trabalhos, profissões e espaços de poder; 7. promover positivamente a cultura e história afro- brasileira e dos povos indígenas brasileiros, dando Ensino de Geografia – Capítulo 4 80 visibilidade aos seus valores, tradições, organizações, conhecimentos, formas de participação social e saberes sociocientíficos, considerando seus direitos e sua participação em diferentes processos históricos que marcaram a construção do Brasil, valorizando as diferenças culturais em nossa sociedade multicultural; 8. abordar a temática das relações étnico-raciais, do preconceito, da discriminação racial e da violência correlata, visando à construção de uma sociedade antirracista, solidária, justa e igualitária”. (BRASIL, 2017, p. 39-40). No que diz respeito aos critérios eliminatórios, o edital previa algumas normativas comuns para todas as áreas, como por exemplo: o respeito à faixa etária dos estudantes, observar se está de acordo com os princípios éticos necessários ao convívio em sociedade, coerência com o plano de obra e atualização de dados. No item 2.1.1 do edital, que aborda o respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao ensino fundamental, fica explícito a necessidade de atender às demandas da LDB e da lei, já citada, que obriga a incorporação do conteúdo relativo à África e da sua contribuição para formação histórica e contemporâneo do Brasil. Do ponto de vista da geografia, o que poderia eliminar uma obra, seria o não respeito a dezoito critérios estabelecidos, associados a mais sete estabelecidos para o manual do professor. Todos esses critérios podem ser observados nas páginas 55 a 57 do documento oficial1, mas destacaremos, a seguir, os que julgamos dialogar de maneira mais específica com esse trabalho: “[…] 3. articulação dos processos históricos, sociais, econômicos, políticos e culturais para a explicação do estágio de desenvolvimento dos povos e países, mantendo-se o direito à diversidade dentro de Ensino de Geografia – Capítulo 4 81 padrões éticos e de respeito à liberdade de indivíduos e grupos, com isenção de preconceitos, tanto de origem, etnia […] 5. discussão de diferenças políticas, econômicas, sociais e culturais de povos e países, [...] evitando visões distorcidas da realidade e a veiculação de ideologias antropocêntricas e políticas, ou ambas; 13. linguagem adequada, [...] evitando reducionismos e estereótipos no tratamento das questões sociais e naturais; 14. ilustrações que dialogam com o texto e com exemplos da diversidade étnica da população brasileira e da pluralidade social e cultural do país, não devendo reforçar preconceitos e estereótipos em relação a gênero e a povos de outras nações do mundo” (BRASIL, 2015, p. 55-57). Os itens citados acima são importantes para pensar o conteúdo dos livros. O terceiro tópico versa sobre os processos históricos, sociais, políticos e culturais para o entendimento do grau de desenvolvimento dos espaços. Nesse quesito, a Geografia vai auxiliar – junto com a História – a entender, por exemplo, a expansão europeia para outros espaços e como isso reflete, ainda hoje, no grau de desenvolvimento dependendo da forma como essa ocupação foi imposta. O quinto item, por sua vez, faz-se importante, pois retoma a discussão sobre aquilo que é visto nos currículos escolares como norma ou exótico, respeitando que há formas de estar no mundo que não são, necessariamente, aquelas defendidas pelas grandes potências mundiais. Nesse sentido, corroboramos com a fala de Santomé (2013, p. 241) quando coloca que as vozes menos presentes dentro da cultura escolar são aquelas do mundo feminino, da infância/juventude/terceira idade, com algum tipo de doença ou deficiência, gays, lésbicas, transexuais, intersexuais, as classes trabalhadoras e a pobreza, o mundo suburbano, rural e marítimo, as nações sem Estado, as etnias minoritárias ou sem poder, os Ensino de Geografia – Capítulo 4 82 orientais e do terceiro mundo e de outras religiões ou ateus, configuram as vozes ausentes da cultura escolar. O décimo terceiro tópico alerta para o cuidado em não reforçar estereótipos e reducionismos no tratamento das questões de um determinado lugar. Por fim, o décimo quarto parágrafo, uma vez cumprido nas obras, visa falar da diversidade, da importância da pluralidade social e cultural no âmbito do território brasileiro, levando em conta todo o processo histórico de sua formação. O mesmo edital trazia uma série de exigências para a forma de abordagem que deveria conter no manual do professor, que auxilia na sua formação continuada e incentiva a construção de relações interdisciplinares. Podemos perceber, portanto, que a norma compulsória existe, mas as obras aprovadas no PNLD conseguem, de forma satisfatória, trazer o conteúdo relacionado à geografia da África questões Afro-Brasileiras? ANÁLISE DAS COLEÇÕES DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL APROVADAS NO PNLD 2017 No PNLD 2017, para os anos finais do Ensino Fundamental, foram aprovadas onze coleções de livros didáticos. Nesse trabalho foram avaliadas todas, tendo como parâmetro os critérios colocados pelo programa e a quantidade de páginas dedicadas ao continente Africano, em comparação aos outros. As coleções, seus autores, editoras, estão listadas a seguir e estão dispostas em ordem decrescente, de acordo com o número de exemplares vendidos. Essa classificação foi feita com base nos dados de venda dos livros, conforme Brasil (2020). Coleção Expedições Geográficas, de Melhem Adas e Sérgio Adas, editora Moderna, com 3.381.582 de livros adquiridos (31,3% do total); Coleção Vontade de Saber Geografia, de Neiva Torrezani, editora FTD, com 1.719.260 de livros adquiridos (16% do total); Ensino de Geografia – Capítulo 4 83 Coleção Geografia Espaço e Vivência, de Andressa Alves, Levon Boligian, Rogério Martinez, Wanessa Garcia, editora Saraiva, com 1.106.252 de livros adquiridos (10,2 % do total); Coleção Geografia Homem & Espaço, de Anselmo Lazaro Branco e Elian Alabi Lucci, editora Sariava, com 1.081.468 de livros adquiridos (10 % do total); Coleção Para Viver Juntos, de Fábio B. Moreirão e Fernando dos S. Sampaio, editora Scipione, com 938.487 de livros adquiridos (8,7 % do total); Coleção Projeto Mosaico – Geografia, de Beluce & Valquíria, editora Scipione, com 712.293 de livros adquiridos (6,6 % do total); Coleção Por dentro da Geografia, de Wagner Costa Ribeiro, editora Saraiva, com 566.610 de livros adquiridos (5,2 % do total); Coleção Geografia nos dias de hoje, de Claudio Giardino, Ligia Ortega, Rosaly B. Chianca e Virna Carvalho, editora Leya, com 474.813 de livros adquiridos (4,4 % do total); Coleção Projeto Apoema – Geografia, de Claudia Magalhães, Lilian Sourient, Marcos Gonçalves e Roseni Rudek, editora do Brasil, com 378.416 de livros adquiridos (3,5 % do total); Coleção Integralis – Geografia, Helio Garcia & Paulo Roberto Moraes, editora IBEP, com 307.332 de livros adquiridos (2,8 % do total); Coleção Geografia Cidadã, Laercio Furquim Jr., editora AJS, com 117.133 de livros adquiridos (1,3 % do total). Para analisar as obras, elaboramos um modelo de tabela, a ser preenchido para todas as coleções. O modelo utilizado para a essa análise tinha como foco principal os volumes e capítulos que tratam especificamente sobre a geografia do continente africano e sobre a Geografia do Brasil (pela particularidade da formação do povo brasileiro), sendo que observações sobre outros capítulos e volumes das coleções seriam feitas como informações complementares. Os capítulos Ensino de Geografia – Capítulo 4 84 e/ou conteúdos estavam sempre nos volumes dedicados ao 7º ano, cujo foco territorial é o Brasil, e nos livros dedicados ao Continente Americano, que variaram entre 8º ou 9º ano, de acordo com a divisão territorial adotada na coleção. A forma de análise, bem como o que se pretendia observar em cada um dos campos (e os motivos) está na Tabela 01. Cada uma das coleções e volumes foram analisadas usando essa tabela como padrão, permitindo um parâmetro de comparação entre elas. Tabela 01. Modelo de tabela utilizado na análise das coleções aprovadas no PNLD 2017. Nome da coleção Autores Ano a que se destina: Distribuição dos conteúdos e páginas Aqui a intenção foi verificar o tamanho do volume no qual se encontram os capítulos sobre Geografia da África, mostrando a organização da divisão de capítulos e a quantidade de páginas do livro do aluno e do manual do professor. Número de páginas Essa unidade descritiva visou confirmar ou não as afirmações de Anjos (2005, p. 175), que explicitava suas preocupações com a colocação do assunto “Geografia da África” por último nos materiais didáticos, bem como afirmava que o assunto sempre apresentou um número menor de páginas. Geografia da África Visava descrever o que é apresentado em cada um dos capítulos destinados à Geografia da África. Aqui, procurou-se observar se os capítulos mantêm um discurso de ênfase nos problemas e, em caso positivo, se ao menos esses problemas estão contextualizados. Verificamos também se o continente e seus habitantes (e descendentes) aparecem em outros capítulos do volume. Imagens: reforçam as diversidades ou os estereótipos do continente? Ensino de Geografia – Capítulo 4 85 Essa parte analisamos o que predomina nas imagens do continente e das pessoas desse continente. Uma vez que imagem é uma forma de texto, procuramos observar se os livros trazem imagens outras que aquelas representando problemas. Outros volumes da coleção – descrição geral Descreveu-se aqui se a África ou a população afro-brasileira aparece em outros livros da coleção e, se sim, em que contexto. Isso porque os capítulos sobre Geografia do Brasil e alguns autores, também, nos capítulos sobre Geografia da América, deram um grande destaque à formação demográfica desses territórios e, uma vez que esses territórios se configuram como os maiores receptores de africanos que foram escravizados, descrevemos aqui onde e como encontramos essas menções nos outros volumes. Avaliação geral: Tendo por base a LDB no seu artigo 26-A, como essa obra se enquadra? Aqui foi apontado aspectos positivos e negativos da coleção em relação às exigências do PNLD. Organização Dalbem e Cigolini (2019). Como pode-se perceber nas explicações de cada campo, mais do que uma questão quantitativa, buscamos um levantamento qualitativo do conteúdo, a fim de verificar a permanência ou não dos estereótipos que tradicionalmente são reforçados nesses materiais. A análise quantitativa (no quadro, o item número de páginas) foi verificar, conforme que a África continua, sistematicamente, nas partes finais das publicações, perdendo (ou ganhando) o lugar apenas quando a Oceania e/ou Regiões Polares estão no mesmo volume. Não colocamos essa informação com a finalidade de afirmar que a quantidade de páginas é indicativa da qualidade da abordagem sobre o continente, trata-se apenas da verificação de continuidade daquilo que foi colocado pelo professor Anjos (2005), da falta de isonomia. Cada coleção/volume resultou numa ficha detalhada, que não está disponível nesse artigo por questão de espaço, mas apresentamos o resumo delas, para cada coleção, a seguir. Ensino de Geografia – Capítulo 4 86 COLEÇÃO EXPEDIÇÕES GEOGRÁFICAS Essa é a coleção mais distribuída no país. Nela, a distribuição de páginas não está discrepante com relação às outras unidades, sendo o número de páginas destinadas ao continente o segundo maior do volume em que se encontra. No entanto, o último capítulo sobre o continente africano a fragiliza, pois traz narrativas apenas sobre guerras civis, corrupção, epidemias, desnutrição e as falhas no sistema de comunicação e infraestrutura sem mostrar contrapontos em países como a Nigéria, por exemplo, que está crescendo economicamente de maneira considerável nos últimos anos. Sendo a coleção mais distribuída no Brasil, é preocupante o fato de que os alunos estão recebendo um discurso tradicional que reforça a ideia de que a África é um continente que precisa ser salvo. Ao acabar o capítulo, os autores apresentam um fotógrafo brasileiro que esteve no continente, segundo eles, “captando a condição humana” (ADAS; ADAS, 2015, p. 244), e que, na série África, apresenta “[...] além das belíssimas paisagens naturais e práticas culturais, Sebastião Salgado registrou guerras, fome e epidemias lamentavelmente presentes nesse continente” (ADAS; ADAS, 2015, p. 244). Após essa fala, os autores apresentam duas imagens: uma sobre refugiados ruandeses na atual República Democrática do Congo e outra sobre uma imagem de alunas somalis de um território controlado por radicais islâmicos, que não são autorizadas a estudar junto com os meninos. A belíssima paisagem, no entanto, não é apresentada, nem mesmo uma prática cultural que poderia contrapor as imagens e textos apresentados pelos autores e fotógrafo, o que auxilia a reforçar estereótipos sobre o continente. COLEÇÃO VONTADE DE SABER GEOGRAFIA A autora inicia os capítulos que retratarão o continente africano com uma escrita bastante crítica àquilo que os europeus utilizavam como justificativa para invadir os espaços que colonizaram, “[...] visto Ensino de Geografia – Capítulo 4 87 que, do ponto de vista europeu, esses povos eram considerados selvagens ou “atrasados” e, por isso, era preciso civilizá-los” (TORREZANI, 2015, p. 206). No entanto, os capítulos que seguem, em especial o capítulo 28, onde a autora trata da economia, determinam o que será transmitido já de início: “África: a economia de um continente subdesenvolvido” (TORREZANI, 2015, p. 230). Embora haja uma ressalva nas páginas 248 e 249, esse capítulo reforça a ideia de que é um continente atrasado e com problemas que datam do período colonial, baseando a atividade econômica nos processos agrícolas. Ainda que seja uma coleção que apresenta dados interessantes sobre as minorias sociais, não aborda tão criticamente como indicado no início e reforça aquilo que se lê há décadas sobre o continente. Há momentos – como nesse da economia – em que a escrita crítica ou mesmo a disposição de dados recentes sobre as crescentes economias de alguns países (Nigéria e Angola, por exemplo) poderia contrapor-se ao discurso estabelecido. COLEÇÃO GEOGRAFIA ESPAÇO E VIVÊNCIA Essa coleção configura-se como uma das coleções que possui menos páginas dedicadas ao continente africano. Consideramos que ela mantém a linha editorial das obras anteriores, mas se destaca positivamente ao apresentar os movimentos de resistência ao colonialismo, coisa que as outras duas coleções mais distribuídas não trazem na abordagem do processo de colonização, dando a impressão de que não houve entraves entre colonizadores e colonizados. É importante apontar aqui o fato de que todas as obras analisadas para essa pesquisa, deixam o assunto da resistência de lado e o repetem ao abordarem o processo de ocupação da América, citando, quando muito, e de maneira superficial esses processos de resistência, informações que seriam importantes ao se pensar os processos de formação territorial. A obra em questão dá valorização excessiva dos Ensino de Geografia – Capítulo 4 88 imigrantes europeus no processo de formação do povo brasileiro, em detrimentos dos outros. As obras apresentadas até esse momento – e as destacamos pelo número de estudantes que atingem – em nossa visão, não estão totalmente de acordo com os critérios de deleção do PNLD, especialmente ao critério (já citado) de número 13. Parafraseando o edital, sabemos que algumas coisas não podem ser “evitadas”, mas, se hoje possuímos uma grande rede de notícias e de dados que possibilitam o conhecimento de outros aspectos sobre o continente em questão, continuar a mostrar aquilo que se mostra do mesmo jeito há décadas, é um descompromisso e uma questão de opção política. Dentre essas três coleções, que representam 57,5% dos volumes distribuídos – o que implica em um número bruto de 6.207.094 de livros e manuais de professor distribuídos – percebemos, ao longo da leitura e análise, que ainda há muito de estereótipos. Em alguns momentos mais ou menos contextualizados, mas, ainda assim, estereótipos. E aqui não estamos afirmando que aquilo que os autores apresentam não é correto, mas, sem dúvida, são informações parciais que reforçam o lugar comum e os reducionismos culturais. Abaixo, a análise das outras coleções, que representam – juntas – 42,5% dos livros e manuais distribuídos no país. COLEÇÃO GEOGRAFIA – HOMEM & ESPAÇO A coleção em questão traz alguns elementos bem interessantes, como a atividade da página 234, “Mapa cultural da África: personalidades”, pois incentiva os estudantes e docentes a buscarem personalidades africanas que tenham ajudado no desenvolvimento de seus países (econômica, cultural e politicamente, no campo das ciências ou dos esportes). Apresentam aos discentes e docentes o escritor Ishmael Beah, criança soldado em Serra Leoa, aliciado pelo governo, que Ensino de Geografia – Capítulo 4 89 foi resgatado por forças da ONU e escreveu a narrativa biográfica: Muito longe de casa, história de um menino soldado. Essa forma de apresentar questões históricas e culturais é interessante, na medida em que personifica eventos na vida de atores e estimula o aluno a buscar mais informações. No entanto, os autores apresentam dados sem convidar à interpretação crítica da formação territorial, tanto do continente africano quanto no americano. COLEÇÃO PARA VIVER JUNTOS – GEOGRAFIA O livro Para Viver Juntos é crítico e diverso em suas abordagens, mostrando contrapontos interessantes como, por exemplo, ao tratar do território e população brasileira, abordar as comunidades quilombolas na região amazônica do Brasil, uma vez que, em geral, somente os indígenas são abordados ao falar dessa região e hoje, especialmente no Pará, sabemos da existência de muitas comunidades tradicionais quilombolas. Aborda também questões de gênero na África e outros espaços marcados por desigualdades e passados colonizados, além de apresentar um trabalho progressivo de cartografia ao longo de todos os volumes da coleção. COLEÇÃO PROJETO MOSAICO – GEOGRAFIA Essa coleção tem um formato informativo. Lembra apanhados estatísticos com um pouco de informação introdutória aos dados, mas não provoca a reflexão dos leitores e leitoras. Não identificamos um cuidado ao tratar das questões raciais, embora proporcione algum contato com questões de gênero. Quando pensamos nas indicações do edital do PNLD, não avaliamos que tenha havido atendimento ao critério 3 para as obras de geografia e, ainda menos, o critério 3 para os manuais dos professores o que, somado à realidade que levantamos com os dados de formação dos Ensino de Geografia – Capítulo 4 90 professores (e que será apresentado ainda nesse artigo), dá um quadro ainda mais preocupante para as escolas que adotam essa coleção. COLEÇÃO POR DENTRO DA GEOGRAFIA Por dentro da Geografia é a coleção que mais estimula o olhar interdisciplinar em todos os capítulos, mostrando possibilidades de ligação, por exemplo, com História, Ciências, Língua Portuguesa e Matemática. Naquilo que diz respeito ao continente africano ressalta-se a qualidade cartográfica dos capítulos, tanto para apresentação de dados atuais como aqueles para contextualização histórica dos processos geográficos instalados no continente. Especificamente, chama-se atenção para dois mapas que não foram abordados em nenhuma outra coleção: o primeiro, presente na página 188, mostra as bases de apoio à navegação portuguesa no século XV e o segundo, na página 189, mostra os eixos de penetração europeia no fim do século XIX. Esses dois mapas auxiliam os leitores a entender os contextos de divisão do território que ocorreu no Congresso de Berlim, que tem sua materialização cartográfica na página 190. Essa, também, foi a coleção em que as discussões de minorias apareciam de maneira orgânica em vários momentos, sendo retomadas em volumes posteriores, o que favorece ao aluno a construção de uma postura crítica e não estanque frente aos processos geográficos, históricos e culturais presentes no livro. Embora seja uma das coleções que menos tem páginas dedicadas ao continente africano, a leitura remete ao continente em vários momentos. COLEÇÃO GEOGRAFIA NOS DIAS DE HOJE Apesar de destinar um número de páginas inferior ao continente africano, classificamos essa coleção como uma das melhores nas questões aqui investigada. Um dos seus diferenciais é sua abordagem com maior profundidade à questão do negro nos Estados Unidos da Ensino de Geografia – Capítulo 4 91 América, sendo uma exceção no contexto das coleções aprovadas. Ainda, apresenta dados interessantes sobre os reinos africanos e aborda o continente africano e seus habitantes (e descendentes) em vários contextos. Em alguns momentos, os capítulos são críticos e instigantes. No conteúdo de geografia do Brasil, os autores trazem a cultura africana e de seus descendentes em vários momentos da escrita, apresentando imagens com negros em posição considerada de destaque dentro da sociedade brasileira, como no livro do 7º ano, p. 63, quando uma médica ortopedista pediatra é apresentada. COLEÇÃO PROJETO APOEMA – GEOGRAFIA Também é uma das coleções que dedica menos páginas ao Continente Africano. Dentro dela, gostaríamos de indicar a sessão “Geografia e Cidadania”, que tem como intuito evidenciar questões legislativas sobre os fatos e dados apresentados. É uma colaboração interessante para os alunos, uma vez que podem fazer ligações entre os assuntos dos livros e como eles aparecem fora do ambiente escolar. Outro destaque é a sessão “Com a palavra, o especialista”, que apresenta um estudioso do assunto dando uma entrevista com o intuito de corroborar com o texto, relacionando-o ao mundo do trabalho. Sobre aquilo que diz respeito exclusivamente ao continente africano, a obra apresenta uma diversidade interessante de povos tradicionais, mostrando suas vestimentas e sua localização dentro do continente. Trabalha também a importância da tradição oral em Angola, coisa que é comum às comunidades tradicionais. COLEÇÃO INTEGRALIS – GEOGRAFIA O Volume 9 dessa coleção inicia com um discurso crítico sobre as realidades enfrentadas pelo território africano nos últimos séculos e culmina nos dias de hoje, o que é um ponto positivo. No decorrer dos capítulos, no entanto, esse discurso, mesmo que crítico, não apresenta Ensino de Geografia – Capítulo 4 92 saídas e realidades mais recentes de locais outros que não seja o Egito e África do Sul, indicados, em praticamente todos os materiais didáticos, como os casos de exceção à pobreza e problemas das mais diversas ordens. Quantitativamente, essa coleção dedica um espaço muito menor ao continente africano do que aqueles espaços destinados aos continentes europeu e asiático. Dentro dessa coleção, o volume destinado ao 7º ano é interessante para pensar as relações étnico-raciais, pois apresenta exercícios críticos acompanhados por dados estatísticos, em formato de série histórica. Os autores também fazem apontamentos interessantes ao ressaltar que os africanos não podem, de fato, ser considerados imigrantes uma vez que foi uma migração forçada. COLEÇÃO GEOGRAFIA CIDADÃ Nessa obra, os capítulos dedicados ao continente africano somam um número de páginas reduzido frente a outros espaços, basta fazer uma comparação com a quantidade destinada à América Anglo-Saxã, que possui 79 páginas, sendo o continente americano todo abordado em 209 páginas, contra 67 dedicadas ao continente africano. No entanto, o autor buscou apresentar outras questões sobre o continente africano que não estão presentes em outras coleções. A presença da contribuição africana para as mais diversas sociedades fica explícita em, pelo menos, um momento de cada livro da coleção e, embora tenha deixado de lado as questões raciais nos Estados Unidos, por exemplo, o material como um todo é crítico e reflexivo, especialmente nos exercícios. Merece destaque positivo, ainda, a sessão intitulada “Ética” que sugere abordar, em sala de aula, vários assuntos considerados polêmicos. Fazendo uma análise global dessas 44 obras, podemos afirmar que as abordagens sobre os afro-brasileiros melhoraram, ao passo que as abordagens sobre os africanos e o Continente Africano continuam Ensino de Geografia – Capítulo 4 93 problemáticas. É provável, e aqui estamos fazendo apenas uma consideração, que a aprovação da lei, vinculada a alguns cursos de formação continuada e até mesmo à veiculação, na mídia jornalística, sobre a demarcação de terras quilombolas tenha dado vazão e material para que isso fosse refletido no livro didático. Dentre nossas observações, percebe-se que as coleções mais vendidas obedecem a uma configuração de demonstração de conteúdos e dados parecida entre si. As obras dos autores, que representam mais de 50% dos volumes distribuídos no país e que possuem obras aprovadas há alguns editais encontraram, talvez, um procedimento. Todavia, todos e todas os responsáveis pela produção do livro didático deveriam ter em mente, sempre, o papel social desses materiais. Embora tenhamos identificado coleções muito interessantes e que optaríamos por usar em sala de aula, nenhuma pode ser considerada pronta em relação a abordagem sobre o continente africano. O avanço constante do conhecimento científico sobre a África, em especial nos campos da paleontologia e da antropobiologia, não cessam de confirmar esse continente no palco privilegiado de lugar de origem da consciência humana e das experimentações que conduziram à vida em sociedade. Contudo, a lentidão da assimilação/integração desses dados revolucionários, pelo meio acadêmico, continua sendo um problema, razão pela qual a reatualização dos conhecimentos e a reciclagem deverão constituir peças importantes no processo didático. À primeira vista, uma das formas eficientes de alcançar esses objetivos seria a organização de oficinas de formação para agentes multiplicadores selecionados, preferencialmente, entre os docentes das disciplinas humanas, e não somente na disciplina histórica." (WEDDENBURN, 2007, p. 32- 33). Ensino de Geografia – Capítulo 4 94 As questões evidenciadas nessa citação, bem como a preocupação dos autores de livros didáticos, que em algumas obras fica mais evidente do que outras, não pode, sozinha, sanar os problemas da Educação. As instituições de Ensino Superior um papel determinante no cuidado e na formação dos professores que estarão em sala de aula e, por isso, apresentamos a seguir alguns dados sobre a formação universitária nos cursos de licenciatura – públicos – no Brasil. O QUE SABEM AQUELES QUE ENSINAM GEOGRAFIA DA ÁFRICA? Gomes (2010, P. 103-103) aponta que “[...] a implementação da lei 10.639/03 também encontra os cursos de formação de professores em ensino superior com pouco ou nenhum acúmulo sobre a temática racial e, muitas vezes, é permeada pela resistência a sua própria inserção nos currículos dos cursos de Pedagogia e Licenciatura”. Com a intenção de afirmar com propriedade a veracidade dessa afirmação, decidiu-se pesquisar e sistematizar dados quantitativos relativos à graduação em licenciatura em Geografia. Esses dados consistem na verificação da existência ou não de disciplinas sobre a Geografia da África. O primeiro passo foi a pesquisa no website do Ministério da Educação (MEC). Nele é possível fazer uma busca de todos os cursos de geografia que existem no Brasil, com a possibilidade de inserir alguns filtros. Para essa pesquisa preenchemos o mecanismo de busca da seguinte forma: consulta avançada → curso: geografia → gratuidade do curso: sim → grau: licenciatura → situação: em atividade → e, então, digitamos o código que a plataforma gerou no momento da consulta. Esses filtros geraram uma tabela que foi baixada em formato de planilha do Excel. A partir daí, buscamos o site de todas as universidades/faculdades que ali se encontravam, com intuito de Ensino de Geografia – Capítulo 4 95 procurar, nos currículos e Projetos Político-Pedagógicos dos cursos, a existência de disciplinas que trouxessem como conteúdo a Geografia da África e/ou nas relações étnico-raciais. As informações foram sistematizadas, por região, na Tabela 02, a seguir. Tabela 02. Disciplinas sobre “Geografia da África” ou similares nos cursos de licenciatura do Brasil Região (IBGE) Número de cursos Com disciplinas obrigatórias (Geografia da África ou similares) Com disciplinas optativas (Geografia da África ou similares) Sem informação sobre disciplinas do curso Sem disciplinas (Geografia da África ou similares) Centro-oeste 8 3 0 2 3 Nordeste 30 7 6 9 8 Norte 11 2 0 1 8 Sudeste 23 7 1 1 14 Sul 16 7 2 0 7 EaD 13 4 4 0 5 Total 101 30 13 13 45 Fonte: http://emec.mec.gov.br/. Organização: Dalbem e Cigolini (2019) A tabela nos coloca em contato com uma realidade, dos 101 cursos de licenciatura gratuitos no país hoje, 71 deles (70,3%) não possuem disciplinas obrigatórias que tratam da temática africana durante o processo de formação. Lembrando: a lei é de 2003. Sobre essa realidade, cabe alguns exemplos que elucidam o conjunto. A UNICENTRO, no Paraná, traz na ementa da disciplina de Geografia Agrária do Campus de Guarapuava o seguinte item: “os afrodescendentes e relação de trabalho no campo”, e no campus de Irati na disciplina de Geografia Social e Cultural o item “a educação das relações étnico-raciais e tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes” que a partir deste ano (2017) foi substituído por “a educação das relações étnico-raciais. Dignidade humana, reconhecimento, e valorização das diferenças e das http://emec.mec.gov.br/ Ensino de Geografia – Capítulo 4 96 diversidades, transversalidade e interseccionalidades, sustentabilidade socioambiental”. Na Universidade de São Paulo (USP), há a disponibilidade, dentro do curso de Geografia, de uma disciplina optativa, mas não encontramos nenhuma pista de que a mesma já tenha sido ofertada. Já as Universidades Federais do Acre (UAC), Amazonas (UFAM), Viçosa (UFV), Minas Gerais (UFMG), Piauí (UFPI) e as Universidades Estaduais de Londrina (UEL) e Maringá (UEM), para complementar os exemplos, não possuem nenhuma disciplina ou indicação de disciplina que tratem da temática e, quando muito, citam em seus PPP’s a importância de pensar na educação voltada para a diversidade cultural do Brasil, mas sem ofertar espaços específicos para essa discussão em seus currículos. Se relacionarmos os dados do total de cursos por regiões com a quantidade que possuem disciplinas dentro dessas temáticas de maneira obrigatória, os dados ficam ainda mais alarmantes. Nenhuma das regiões atinge ou ultrapassa sozinha o índice de aproximadamente 44,5% de presença de disciplinas preocupadas em discutir o continente africano, sendo que a região norte se caracteriza como a que menos disponibiliza a formação. Somente 18% das instituições disponibilizam a formação na área e a região sul a que mais disponibiliza, com um índice de 43,8%. Evidenciamos na primeira parte desse trabalho a deficiência dos livros didáticos em relação ao tema ora em reflexão. Evidenciamos, pela análise dos currículos e PPPs dos cursos de geografia que há um problema de origem, na formação dos professores, em relação a esse mesmo tema. E na pós-graduação, há produção de conhecimento que possa futuramente mudar esse quadro, considerando que esse é o lócus de preparação de profissionais que serão autores, professores universitários, pesquisadores? Cirqueira e Correa (2012) fizeram um levantamento sobre a produção científica da Pós-graduação em geografia, que tinha questões Ensino de Geografia – Capítulo 4 97 étnico-raciais como tema. Na pesquisa, a ideia era analisar como os debates sobre racismo repercutiram nessa produção. De acordo com os autores esse debate deveria refletir na academia, uma vez que as questões que são pauta dos movimentos sociais, geralmente culminam em agenda de pesquisas das ciências, seja para confirmar ou refutar os argumentos do debate. Entre suas conclusões os autores constatam questões importantes. “[…] ao compararmos a produção entre o período anterior e posterior ao ano 2000, fica nítido - mesmo que timidamente - que a temática racial começa se mostrar presente nas abordagens geográficas. Porém, devemos enfatizar que o número ainda é irrisório frente à dimensão ampla que o debate insurge atualmente na sociedade brasileira. Com certeza a Geografia tem muito a contribuir para esse debate. (CIRQUEIRA; CORREA, 2012, p. 12) O quadro preocupante trazido por esses autores se torna mais grave, quando se analisa a distribuição geográfica das pesquisas referentes ao tema. Verificamos na região Norte e Sul, praticamente a inexistência de produção voltada para essa temática. A ausência de qualquer produção na primeira decorre principalmente do fato de que só recentemente se constituíram programas de pós- graduação em geografia nessa região. Já na região Sul, é um fato que deve ser problematizado um pouco mais a fundo. Apesar de existirem programas que surgiram recentemente, ela representa o segundo maior polo de pós-graduações em Geografia do Brasil (CIRQUEIRA; CORREA, 2012, p. 7). Ensino de Geografia – Capítulo 4 98 Os autores ainda chamam a atenção mais uma das suas conclusões, que dialoga diretamente com o escopo da presente pesquisa. Uma das mais graves lacunas que encontramos no levantamento é a falta de uma produção sobre a questão étnico-racial e educação. Nos últimos anos têm havido um debate intenso em torno da lei 10.639, promulgada em 2003, que obriga a implementação no ensino básico de conteúdos sobre a história da África e dos afro-descentes no Brasil, suas lutas e importância na formação cultural, econômica e política do território brasileiro. [...]. Contudo, pelo que notamos a pós- graduação tem passado ao largo desse importante debate, apesar da Geografia ser uma disciplina presente no ensino básico. Nenhum trabalho problematizou essa temática, ou ao menos dedicou um espaço para a discussão do ensino de geografia, ou para a lei 10.639 (CIRQUEIRA; CORREA, 2012, p. 13). As informações apresentadas na segunda parte do presente trabalho, da inexistência de conteúdo sobre a questão da étnico-racial nos currículos dos cursos de geografia, conversam tanto com as afirmações de Cirqueira e Correa (2012) como com as observações feitas por Gomes (2010). Se temos um reconhecimento legal e social, da necessidade de discussão em âmbito acadêmico e escolar, seja da importante contribuição para a sociedade brasileira (técnica e cultural) dos africanos que foram trazidos em situação de escravidão, seja das barreiras e correntes que seus descendentes enfrentam frente uma sociedade que ainda possui um pensamento escravocrata, qual é a justificativa das Instituições de Ensino Superior para que esses assuntos ainda não estejam em seus currículos? Poderíamos falar de um preconceito acadêmico e epistemológico, que mantém uma linha de pensamento que é a mesma da história da fundação das universidades brasileiras? Ensino de Geografia – Capítulo 4 99 Se durante a pesquisa na pós-graduação, os autores procuraram a discussão sobre o continente africano materializado em dissertações e teses, aqui pensamos na formação de base do acadêmico de geografia. Se há a disponibilidade de disciplinas nos cursos de Geografia na região Sul, qual o elo perdido no reflexo dessas produções da Pós-graduação? Diante do quadro, coloca-se que cabe às Instituições de Ensino Superior, de maneira urgente, estabelecer e oferecer, com frequência, disciplinas que discutam o tema, pois é na formação docente que as lacunas da sala de aula podem ser minimizadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na primeira parte desse trabalho trouxemos uma análise, ainda que sucinta, sobre o PNLD, bastante pautada no que esse programa exige para aprovação dos livros didáticos que são a principal ferramenta literária das escolas públicas brasileiras. A análise do texto do PNLD foi feita tendo foco as exigências sobre questões étnico-raciais. Entender tais exigências permitiu seguir para a segunda parte: a leitura crítica dos livros didáticos. Essa leitura, do ponto de vista metodológico, foi feita com base nos parâmetros estabelecidos num quadro que permitiu concluir as coleções foram analisadas individualmente verificando da qualidade na abordagem sobre a África, como foco principal e, como foco secundário como questões étnico-raciais estavam presentes no conteúdo referente a formação territorial do continente americano. O resultado apontou que ainda não se pode dizer que o continente Africano esteja sendo abordado de maneira satisfatória, pois embora se reconheça que existem boas obras, com reflexões críticas, a questão de estereótipos ainda está bastante presente. Em seguida foi apresentado um levantamento das disciplinas, em Instituições de Ensino Superior, que trabalham com Geografia da África ou temas correlatos. O resultado demostrou um quadro bastante Ensino de Geografia – Capítulo 4 100 preocupante, pois a temática não aparece, ou aparece de modo bastante secundário na grande maioria dos currículos e PPPs dos cursos de graduação em Geografia no Brasil. Considerando que existe uma lei que estabelece como obrigatório o ensino dessa temática, evidencia-se que os cursos não estão preparando os professores para isso. Nessa mesma parte do trabalho, verificou-se que os dados levantados em 2012 por Cirqueira e Correa, sobre ausência de produção científica sobre relações étnico-raciais nos Programas de Pós-graduação pode ter sua origem explicada pela falta de disciplinas já na graduação. No conjunto o resultado da pesquisa é um alerta, pois mostra um círculo que tem sido vicioso: 1. Os livros didáticos não são satisfatórios, logo existe um desafio ainda não superado pelos autores. 2. Os professores que irão usar esses mesmos livros, saem dos cursos despreparados para uma melhor reflexão e debate junto às escolas e à sociedade. Nesse caso, usando-se os livros, há uma grande chance de reprodução contínua dos estereótipos. 3. A quantidade de pesquisas nas Pós-graduação é ínfima diante da sua importância, o que, talvez, explique a ausência do tema na graduação, quanto na dificuldade de construir obras didáticas mais adequadas. Encerra-se chamando a atenção, portanto, sobre a necessidade de construção de uma agenda de pesquisas na área da geografia, que consiga refletir sobre os caminhos possíveis para superar/quebrar esse círculo vicioso REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio. Expedições Geográficas. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2015. 4 v. Ensino de Geografia – Capítulo 4 101 ALVES, Andressa; et al. Geografia espaço e vivência. 5. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2015. 4 v. ANJOS, Rafael Sanzio A. dos. A África, a educação brasileira e a geografia. In: SECAD/MEC (org.). Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/2003. Brasília-DF: MEC/BID/UNESCO, 2005, v. 1, p. 167-178. ARROYO, Miguel González. A pedagogia multirracial popular e o sistema escolar. In: GOMES, Nilma Lino. Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. 1. ed.- Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 111-130 BELLUCCI, Beluce; GARCIA, Valquiria Pires. Projeto mosaico – Geografia. 1. ed. São Paulo: Editora Scipione, 2015. 4 v. BRANCO, Anselmo Lazaro; LUCCI, Elian Alabi. Geografia – homem & espaço. 7º ano. 24 e 27 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2015. 4 v. BRASIL. MEC - Secretaria da Educação Básica. Edital de convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático. Brasília, DISTRITO FEDERAL, 2015. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/centrais-de- conteudos/publicacoes/category/165-editais?download=9518:pnld-2017- edital-consolidado-10-06-2015>. Acesso em: 20 julho 2017. BRASIL. MEC - Secretaria da Educação Básica. Programa Nacional do Livro Didático. Dados Estatísticos. Disponível: http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas- do-livro/pnld/dados-estatisticos, acesso em 17.02.2020. CIRQUEIRA, D. M.; CORREA, G. S. Abordagens sobre a questão étnico- racial nas pós-graduações de geografia no Brasil. In: XVII Encontro Nacional de Geógrafos - XVII ENG, 2012, Belo Horizonte - MG. XVII Encontro Nacional de Geógrafos - XVII ENG. Belo Horizonte - MG: UFMG, 2012. v. 1. p. 1-16 Disponível em: <http://www.ub.edu/geocrit/coloquio2012/actas/08-D-Marcal.pdf>. Acesso em: 31 janeiro 2018. http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/pnld/dados-estatisticos http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/pnld/dados-estatisticos http://www.ub.edu/geocrit/coloquio2012/actas/08-D-Marcal.pdf Ensino de Geografia – Capítulo 4 102 FURQUIM JR, Laercio. Geografia cidadã. 1. ed. São Paulo: AJS, 2015. 4 v. GARCIA, Helio; MORAES, Paulo Roberto. Integralis – Geografia. 1. ed. São Paulo: IBEP, 2015. 4 volumes. GIORDANO, Claudio et all. Geografia nos dias de hoje. Lisboa/Portugal:editora Leya, 2015. 4 volumes. GOMES, Nilma Lino. Diversidade étnico-racial e Educação no contexto brasileiro: algumas reflexões. In: GOMES, Nilma Lino. Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. 1. ed. - Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 97-109. MAGALHÃES, Claudia; et al. Projeto Apoema – Geografia. 2. ed. São Paulo: Editora do Brasil, 2015. 4 volumes. MENESES, Maria Paula G. Os espaços criados pelas palavras: racismos, etnicidades e o encontro colonial. In: GOMES, Nilma Lino. Um olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. 1. ed. - Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 55-76 MOREIRÃO, Fábio Bonna; SAMPAIO, Fernando dos Santos. Para viver juntos – Geografia. 4. ed. São Paulo: Edições SM, 2015. 4 volumes. RIBEIRO, Wagner Costa. Por dentro da Geografia. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2015. 4 volumes SANTOMÉ, Jurjo Torres. Currículo escolar e justiça social: o cavalo de Troia da educação. Porto Alegre: Penso, 2013, 335p. WEDDERBURN, Carlos Moore. Novas bases para o ensino da História da África No Brasil. Disponível em: https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/849149/mod_resource/content/1/ WEDDERBURN,%20Carlos.%20Artigo%20cient%C3%ADfico.pdf . Acessado em 31.10.2019. https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/849149/mod_resource/content/1/WEDDERBURN,%20Carlos.%20Artigo%20científico.pdf https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/849149/mod_resource/content/1/WEDDERBURN,%20Carlos.%20Artigo%20científico.pdf 103 CAPÍTULO 5 A UTILIZAÇÃO DO KAHOOT NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO A DISTÂNCIA Carolina dos Santos Camargos Docente no Ensino Básico do Estado de Minas Gerais Fernanda Pereira Martins Instituto Federal de Goiás – Campus Valparaíso de Goiás Raquel Balli Cury Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade de Ituiutaba RESUMO: O ensino online tem trazido grandes desafios aos educadores, tal como o de buscar novas ferramentas para tornar as aulas mais atrativas ao mesmo tempo em que mantém a qualidade no ensino do conteúdo programático. Nessa perspectiva, objetiva-se relatar a experiência do uso do Kahoot em aulas remotas de Geografia numa escola da rede particular da cidade de Ituiutaba, em especial no ensino médio. A ferramenta em questão trouxe maior dinamicidade à aula, bem como um aumento no interesse do aluno em participar da atividade proposta, instigando-o a ser um agente ativo na construção do conhecimento acerca dos conteúdos geográficos. PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Metodologias Ativas. Tecnologia. THE USE OF KAHOOT IN PEDAGOGICAL PRACTICES IN DISTANCE LEARNING ABSTRACT: Online teaching has brought great challenges for educators, such as seeking new tools to make classes more attractive while maintaining quality in teaching programcontent. From this perspective, the objective is to report the experience of using Kahoot in remote geography classes in a private school in the city of Ituiutaba, especially in teaching medium. The tool in question brought greater dynamism to Ensino de Geografia – Capítulo 5 104 the class, as well as an increase in the student's interest in participating in the proposed activity, instigating him to be an active agent in the construction of knowledge about geographic content. KEYWORDS: Teaching. Active Methodologies. Technology. CONTEXTO DO RELATO Os professores que continuam entregando aulas com único intuito de transmitir o conhecimento integral, encontram alunos desinteressados, desatentos e desmotivados, que não enxergam o propósito de estudar (TARDIF, 2011). Diante do cenário atual, em que as aulas remotas ainda são a realidade no contexto educacional, estimular o aprendizado do aluno é um dos grandes desafios. Isso porque, uma vez que o conhecimento está facilmente acessível nas redes sociais, o aluno consegue buscar aquilo que lhe parece mais interessante, o que, nem sempre, coincide com o conteúdo escolar. Na realidade, entende-se essa quantidade exacerbada de informações como um problema, uma vez que grande parte dos alunos não faz uma análise crítica da informação disponível, não seleciona o conteúdo útil e tampouco consegue empregá-lo para resolução de problemas do cotidiano. Por isso, verifica-se que não se trata mais, somente, do acesso à informação. Nesta lógica, Sande & Sande (2018) destacam que uma das estratégias para vencer essa barreira que a educação vem enfrentando é promover uma organização de sala de aula invertida, proporcionando aquisição de conhecimentos através de vídeo aulas e materiais digitais que o aluno acessaria em casa, estimulando a resolução de problemas e lançando mão das mídias digitais e gamificação na sala de aula. As novas tecnologias educacionais têm desenvolvido e disponibilizado alguns aplicativos para auxiliar o professor, sendo eles didaticamente úteis, de interface intuitiva e, por isso, de fácil manuseio. Ensino de Geografia – Capítulo 5 105 No caso da gamificação, este se refere a uma estratégia que utiliza elementos dos jogos fora do ambiente dos jogos e pode ser aplicada para auxiliar o professor na tarefa não mais de fornecer informações, mas sim de orientar o aluno para que possa selecionar as informações úteis e de aplicar esse conhecimento para resolver problemas (SANDE & SANDE, 2018), agregando valor às aulas, proporcionando desafio, prazer e entretenimento à construção do conhecimento. O ensino por meio de jogos e gamificação têm pontos fortes, sendo alguns deles (a) o fato de aproveitar a motivação dos estudantes, (b) desenvolver o aprendizado por etapas gradualmente mais difíceis e (c) estimular a formação emocional e intelectual dos alunos (KLAFKE, 2015). Nessa lógica, insere-se o Kahoot, uma plataforma digital on-line interativa que utiliza elementos dos jogos a partir dos quais há possibilidade de criar um jogo educativo com perguntas de múltipla escolha às quais podem ser adicionados vídeos, imagens, diagramas etc. que podem servir como base para a realização da atividade. Para jogar, o participante não precisa de uma conta e, também, não necessita fazer download do jogo, sendo que a sua participação acontece por meio do acesso à tela de respostas diretamente no site https://kahoot.it/#/, digitando-se um número PIN que é disponibilizado pelo professor (GAZOTTI-VALLIM; GOMES; FISCHER, 2017). De forma sistemática, afirma-se que este é um jogo de pontuação, interação e ranqueamento, que, portanto, desperta a curiosidade dos alunos. Essa ferramenta permite ao professor a elaboração e criação de vários jogos usando o conteúdo de uma disciplina, bem como permite a avaliação do desempenho do aluno. Como objetivo, este artigo propõe apresentar e discutir a utilização do Kahoot como componente de auxílio nos processos de avaliação e aprendizagem. Para tanto, realizou-se essa experiência com turmas de Ensino de Geografia – Capítulo 5 106 3º ano do Ensino Médio de uma escola particular na cidade de Ituiutaba, Minas Gerais. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES O uso do instrumento Kahoot foi combinado com outra metodologia ativa, a sala de aula invertida, a qual requer preparo prévio dos alunos para o encontro com o professor e com os colegas de turma. Primeira etapa – utilizou-se a metodologia de sala de aula invertida sobre a temática Hidrografia, sendo que o aluno estaria livre para pesquisar aquilo que mais o agradasse dentro desse contexto, tendo sido solicitado para atentarem-se aos conceitos e atualidades; Segunda etapa – realizou-se uma roda de conversa virtual sobre a temática, em que os alunos conversaram entre si sobre o tema, expondo conceitos, curiosidades e atualidades que lhes parecessem mais convenientes; Terceira etapa – o professor abriu o quiz online, preparado previamente, e disponibilizou o link e o código de acesso para os alunos. O quiz foi jogado da forma em que as respostas são dadas individualmente. Nesse modo, o programa conta o tempo de resolução da questão. O tempo é estipulado previamente, durante a criação do jogo, pelo professor, podendo variar de 60, 90 ou 120 segundos para cada questão. Quarta etapa – Cada grupo escolheu um apelido e realizou o acesso ao quiz. Após a última pergunta, aparece um pódio com a classificação dos 3 primeiros lugares, finalizando atividade e posicionando o aluno em face de seu conhecimento acerca da temática proposta. O Kahoot foi aplicado com o uso de conceitos básicos da hidrografia e caracterização das principais bacias hidrográficas do território brasileiro, tendo-se por objetivo fazer uma avaliação diagnóstica. Parte-se do pressuposto de que o aluno já tem informações a respeito do tema, uma vez que, no mundo globalizado, aquele está constantemente sendo submetido a Ensino de Geografia – Capítulo 5 107 informações que o levam a conhecer certos conteúdos sem tê-lo estudado formalmente. Ademais, com a etapa de sala de aula invertida, o aluno ampliou seu conhecimento a respeito do conteúdo a ser trabalhado. Quinta etapa - o professor utilizou a avaliação diagnóstica para dar maior ênfase aos aspectos do conteúdo que ainda não estavam adequadamente assimilados pelos alunos ou que ainda necessitavam de um olhar mais crítico e diversificado. Sexta etapa – os alunos foram convidados a repetir o jogo, fora da sala de aula online, com o intuito de relembrar as discussões e rever possíveis erros anteriores. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO A utilização da plataforma Kahoot é simples e não é necessário fazer a instalação do aplicativo, facilitando o uso da ferramenta pelos alunos. O quiz tem uma interface que prende a atenção dos educandos, tanto pelas cores, quanto pelo som e cronometragem do tempo disponível para a resolução da questão, levando a um clima de competição e concentração que motiva os alunos a buscarem a resposta correta. O jogo despertou nos alunos o desejo de participação, de mostrar que eles poderiam vencer os desafios impostos por cada questionamento. Para Cavalcanti & Soares (2009), existe jogo se houver situação lúdica, presença de um sistema de regras e para a sala de aula, o principal componente, o prazer. De fato, pode-se afirmar que o uso do Kahoot em sala de aula fez daquele tempo de aprendizado, um momento prazeroso. A utilização do Kahoot como apoio à aula online se mostrou extremamente útil e versátil na aplicação de testes de avaliação diagnóstica, bem como na verificação de aprendizagem, podendo ser aplicado como estratégia de avaliação, uma vez que possui mecanismos para o professor acompanhar e avaliar o desempenho dos alunos. Ensino de Geografia – Capítulo 5 108 No que tange à apreensão de informações pontuais (sempre necessárias nos processos educacionais), esta foi satisfatória, pois é possível reforçar terminologias e conceitos importantes dentro de cada temática trabalhada. No caso do conteúdo programático da Hidrografia, esta contém uma gama extensa de conceitos que precisam ser internalizados pelos educandos, constituindo-se, inclusive, base para posterior análise crítica do espaço geográfico (relação homem/natureza). Dentre os conceitos trabalhados nessa temática, podemos citar: Bacia hidrográfica; interflúvio; montante; jusante; rios intermitentes, efêmeros e perenes; foz em estuário, delta e misto; regime nival, fluvial e misto; afluente; confluência; aquíferos, dentre outros (Figura 1). Também foi possível internalizar o nome das principais bacias hidrográficas em território brasileiro e suas características, bem como as atividades econômicas mais importantes da região e os impactos agregados. Deve-se mencionar que o professor conseguiu fazer intervenções e correções imediatas, à medida que o jogo foi se desenvolvendo. Contudo, verificou-se que perguntas que demandam uma resposta mais extensa e complexa, com certo raciocínio crítico, não nos pareceram viáveis de aplicação pelo kahoot, uma vez que a contagem do tempo leva a um clima de tensão, prejudicando esse tipo de raciocínio. Os pontos positivos constatados estão para além do aumento da participação dos alunos na hora da aula, pois identificou-se, também, melhor apreensão e assimilação do conteúdo por eles. Outro ponto que merece destaque é que essa ferramenta se constitui em auxílio direto ao professor, o qual consegue vislumbrar os caminhos a serem aprofundados no desenvolvimento de seu conteúdo programático, tornando a aula mais desafiadora para o aluno na medida em que consegue tornar as discussões gradativamente mais complexas. Ensino de Geografia – Capítulo 5 109 Figura 1: Interface do Kahoot com cronometragem e consolidação de conceitos em hidrografia. Ensino de Geografia – Capítulo 5 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa experiência nos fez inferir que os professores não são mais os detentores do conhecimento há tempos, pois a globalização encurtou as distâncias e fez o mundo se aproximar cada vez mais. Assim, as notícias de várias partes do mundo chegam à grande parte da população por meio da tecnologia, tornando o papel do professor imprescindível na construção da criticidade de seu aluno. Neste momento, o professor ajuda o aluno a usar as informações que chegam até ele de forma construtiva, com análise crítica, levando-o a se tornar um cidadão capaz de refletir sobre a realidade do mundo e ponderar sobre as informações que a mídia quer que chegue até ele, podendo absorver ou refutar as mesmas. Nesta lógica, a ferramenta Kahoot permitiu colocar o aluno no centro do seu próprio aprendizado, sendo o professor um mediador do processo. Aprendemos que por mais que a interação aluno-professor pareça ainda mais desafiadora em aulas remotas, - uma vez que a falta do contato visual e da presença física, dificulta os alunos a manterem-se interessados – ainda assim podemos utilizar a tecnologia ao nosso favor e propor metodologias que demandem maior participação e concentração dos alunos ao longo das discussões em sala de aula. Motivar o aluno a se portar como sujeito ativo na construção do conhecimento não é uma tarefa simples, porém, é algo possível. Diante da experiência educativa apresentada, cabe ao educador buscar maneiras de tornar suas aulas mais atrativas, pois existem ferramentas acessíveis que podem tanto nortear o seu trabalho, como instigar o aluno a se fazer participativo na aula. Assim, no intuito de lograr resultados positivos, auxiliar os alunos no seu desenvolvimento cognitivo, mesmo com as adversidades impostas pela pandemia da Covid-19, essa experiência nos confirmou que é preciso ir para além das aulas tradicionais. Ensino de Geografia – Capítulo 5 111 O uso da ferramenta se mostrou eficaz, é o que apresenta a experiência ora partilhada, uma vez que os alunos foram estimulados, instigados e, assim, participaram da aula que se tornou uma construção conjunta dos alunos a partir da mediação do professor. Inquestionavelmente e imediatamente, é preciso dar a oportunidade ao aluno se expressar, para que ele contribua com as discussões, e que tenha maior engajamento nas aulas remotas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTI, E. L. D, & SOARES, M. H. F. B. (2009) O uso do jogo de roles (roleplaying game) como estratégia de discussão e avaliação do conhecimento químico. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 8(1), 255-282. KLAFKE, G. F. Ensino Cooperativo em Jogos e Atividades Gamificadas. Anais do Fórum de Metodologias Ativas (MetA). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Perdizes, São Paulo, 2015. Disponível em: . Acesso em: 01 de set. de 2020. GAZOTTI-VALLIM, M. A.; GOMES, S. T.; FISCHER, C. R. Vivenciando inglês com kahoot. The ESPecialist: Descrição, Ensino e Aprendizagem, v. 38, n. 1, 2017. SANDE, D; SANDE, D. USO DO KAHOOT COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO E ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO DE MICROBIOLOGIA INDUSTRIAL. HOLOS, 2018. TARDIF, M. Saberes Docentes e formação profissional. 12. ed. Petrópolis,RJ:Vozes. 2011. Ensino de Geografia 112 SOBRE O ORGANIZADOR Leonardo Batista Pedroso É Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia – Faculdade de Ciências Integradas do Pontal (2011). Em 2014 obteve o título de Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, com discussões acerca da espacialização da Dengue e sua correlação com condicionantes climáticos na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Minas Gerais. Em 2018, obteve o título de Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, com pesquisa relacionada à qualidade ambiental e hídrica no âmbito de bacias hidrográficas. Atualmente é Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano - Campus Morrinhos, onde integra o Grupo de Estudos Agronômicos Aplicados ao Sudoeste Goiano, participa de distintas comissões institucionais e coordena o Núcleo Comum do Ensino Médio. Atualmente se dedica ao ensino de Geografia e disciplinas no âmbito da Geografia Física, desenvolvendo pesquisas nas áreas de Saúde Ambiental, Climatologia e Recursos Hídricos. Ensino de Geografia 113 ÍNDICE REMISSIVO A abastecimento, 66 afrodescendentes, 79, 95 agricultura, 66 alunos, 5, 6, 9, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 19, 20, 22, 31, 32, 51, 62, 71, 72, 79, 86, 91, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 111 ambiente carcerário, 37, 50 aprendizagem, 4, 6, 9, 19, 32, 57, 58, 67, 73, 105, 107 aulas remotas, 103, 104, 110, 111 C competências, 8, 10, 16, 32 comunidades tradicionais, 89, 91 conhecimento científico, 93 Covid-19, 49, 110 currículos, 10 D deficiência, 75, 81, 96 desenho, 15, 17, 23, 24, 25, 26, 29, 31 E educação inclusiva, 37 ensino de geográfica, 51 ensino fundamental, 33, 37, 41, 45, 49, 50, 52, 77, 80 espaço globalizado, 58 G gays, 81 geografia africana, 75 I indivíduo, 8, 9, 15, 38, 45, 46, 57 K Kahoot, 103, 105, 106, 107, 109, 110 L lésbicas, 81 linguagens cartográficas, 10 livro didático, 61, 75, 78, 79, 93 M mapa mental, 6, 11, 15, 17, 27, 34 mapas, 5, 6, 10, 12, 13, 14, 17, 18, 19, 20, 22, 32, 90 P paisagem, 21, 25, 64, 66, 86 países imperialistas, 68 Ensino de Geografia 114 países periféricos, 68 pesquisa, 11, 12, 38, 39, 47, 54, 56, 57, 58, 59, 63, 67, 72, 73, 75, 79, 87, 94, 97, 98, 99, 100, 112 pobreza, 43, 81, 92 práxis, 9 professores, 11, 17, 56, 57, 58, 59, 60, 77, 79, 89, 94, 96, 100, 104, 110 R racíocinio geográfico, 19 relações étnico-raciais, 80, 92, 95, 100 ressocialização, 9, 37, 38, 39, 41, 42, 45, 46, 54 S saberes e práticas, 56 T território, 12, 18, 21, 29, 66, 69, 70, 77, 82, 86, 89, 90, 91, 98, 106, 108 U unidade prisional, 11, 41, 47, 49, 52, 54 V vivência, 6, 11, 19, 28, 32, 51, 101 vulnerabilidade, 48