Prévia do material em texto
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ANIMAIS MEDICINA VETERINÁRIA CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS RUMINANTES AMANDA EMILLY COSTA CAMILO EMANUEL LUAN BARROS DE QUEIROGA LAURA SANTOS MARQUES PEDRO JOAQUIM LEITE DA COSTA E SOUSA AFECÇÕES DE PELE EM PEQUENOS RUMINANTES MOSSORÓ/RN 2025 1. CARCINOMA EPIDERMOIDE O carcinoma de células escamosas (CCE), ou carcinoma epidermóide, é uma neoplasia maligna originada da camada escamosa da epiderme, comumente associada à exposição crônica dos animais à radiação ultravioleta (Reis et al., 2016). O desenvolvimento desse tumor está frequentemente relacionado à ausência de pigmentação cutânea, à alopecia ou à presença de pelagem escassa nas áreas acometidas (Ramos et al., 2007). Em grandes animais, ocorre predominantemente em regiões de junção muco-cutânea (Keller et al., 2008). A incidência tende a aumentar com o avanço da idade (Reis et al., 2016). Macroscopicamente, as lesões iniciam-se com eritema, edema e descamação, evoluindo para formação de crostas, espessamento e úlceras (Reis et al., 2016). Podem apresentar-se sob duas formas principais: a forma produtiva, com aspecto papilomatoso ou semelhante a couve-flor, de tamanhos variados, geralmente ulcerada e com fácil sangramento; e a forma erosiva, mais comum, caracterizada por úlceras superficiais recobertas por crostas que se aprofundam progressivamente (Barbosa et al., 2009). Com frequência, as lesões são agravadas por infecções bacterianas secundárias e miíases, resultando em exsudação purulenta na superfície tumoral. Ao corte, os tumores apresentam consistência granular, com coloração esbranquiçada ou amarelada (Barbosa et al., 2009). Histologicamente, observam-se cordões de queratinócitos com diferentes graus de queratinização, dependendo do nível de diferenciação da neoplasia. São descritas como lesões localmente invasivas, de crescimento lento e com baixo potencial metastático (Keller et al., 2008). 2. MIÍASE Consistem em uma infestação cutânea por larvas de moscas, conhecidas como miíase, causando sérias perdas para as indústrias pecuárias em todo o mundo. As perdas incluem morte de animais, aumento da taxa de morbidade e redução da produção de carne, leite e lã. Rotineiramente o diagnóstico de miíase é realizado com a observação da lesão e presença das larvas durante o exame clínico. Em animais jovens, em torno de 1 mês de idade, as lesões causadas por miíase são comumente localizadas na região perianal (restos de fezes) e umbigo (devido restos de urina). Em animais adultos é mais comum aparecer em locais que sofrem lesões perfuro cortantes (Macêdo et al., 2008). Estudo de Bezerra et al., (2010), sobre ectoparasitismo em ovinos e caprinos no Município de Mossoró, relata ocorrência de larvas da espécie de mosca Cochliomyia hominivorax (conhecida como “mosca varejeira” ou “mosca-da-bicheira”), e tem como principais fatores predisponentes ferimentos simples, que variam desde arranhões até castrações, marcações e descornas, servindo como porta de entrada para postura dos ovos, com posterior eclosão e instalação das miíases. Deixando os hospedeiros com os sinais clínicos de apatia, anorexia e inflamação do local acometido (Brito et al., 2005), como evidenciado pelas figuras abaixo. Figura 1. A- Miíase corporal em um carneiro castrado, vista de cima. Larvas (brancas) são observadas na superfície da área atingida (lã enegrecida). Fonte: Constable, 2020. Figura 2 - Miíase umbilical ativa em cordeiro neonato apresentando larvas de primeiro estágio após a eclosão dos ovos. Uma conduta terapêutica seria a realização de limpeza com solução Nacl ou clorexidina a 2% e retirada das larvas, posterior aplicação de spray prata na área da lesão, que acaba matando maior parte das larvas restantes. E utilização de ivermectina, na dose de 0,3 mg/kg por via SC, sendo bem efetiva na eliminação de todos os estágios de larvas. Em casos de lesões maiores ou estágio mais avançado, pode-se ser aplicado Terracan em spray (ação antimicrobiana e anti-inflamatório). E monitoramento contra a reinfecção. 3. DERMATOFILOSE A dermatofilose, também conhecida como “estreptotricose”, é uma enfermidade infectocontagiosa, de caráter zoonótico e de evolução aguda ou crônica. Possui distribuição mundial, sendo considerada endêmica em áreas tropicais ou subtropicais, e afeta principalmente os ruminantes, além de equinos. A doença acontece principalmente no período chuvoso, também podendo acontecer esporadicamente todo o ano. Resulta em perdas produtivas e pode causar morte dos animais quando não for tratada (Radostits et al., 2010). Dermatofilose, diferente de dermatofitose (causada por fungos), é causada por Dermatophilus congolensis, um coco-bacilo gram positivo, filamentoso, que provoca uma dermatite exsudativa com formação de crostas e alopecias, que se destacam com facilidade (evidenciado na imagem abaixo). Nas crostas é possível observar, na microscopia óptica, microrganismos filamentosos com segmentos transversais e longitudinais que apresentam um aspecto semelhante ao de “trilhos de trem”, sendo ramificados. A bactéria apresenta zoósporos móveis, que em condições adequadas de temperatura elevada e umidade, podendo proliferar e desenvolver a enfermidade (Radostits et al., 2010). De acordo com Scott (2018), os animais assintomáticos são os principais reservatórios da infecção. Figura. Caprino sem raça definida apresentando diversas áreas de alopecia (a) e grande quantidade de crostas distribuídas principalmente na região perivulvar (b), úbere (c) e região nasal (d). Fonte: Radostits et al., 2010. Figura. Dermatofilose em ovinos no município de Belém de São Francisco, Pernambuco. Crostas e alopecia são observados principalmente na cabeça e orelha (A), e no tronco para trás (B). Fonte: Radostits et al., 2010. De acordo com estudo de Pereira & Meireles (2007), o diagnóstico preliminar da dermatofilose é determinado pela epidemiologia da doença, por sinais clínicos e pela visualização da bactéria em forma filamentosa, em esfregaços corados pelos métodos Gram ou Giemsa. Entretanto, para ter um diagnóstico definitivo é necessário realizar o isolamento e a identificação da bactéria com técnicas moleculares como a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) (Quinn et al., 2005). A administração de antibióticos, como penicilina, estreptomicina e oxitetraciclina, é indispensável. O controle e prevenção são baseados no isolamento e tratamento dos animais acometidos, evitando lesões mecânicas e químicas na pele durante o manejo dos animais, assim como fornecer abrigo aos animais em épocas chuvosas, controlar a infestação por carrapatos e, principalmente, realizar a desinfecção do local e utensílios utilizados no manejo dos animais doentes para minimizar a disseminação da enfermidade, visto que podem servir como fômites para o agente bacteriano (Zaria, 1993). 4. MELANOMA O melanoma cutâneo (MC) tem origem nos melanócitos e melanoblastos, células especializadas na biossíntese de melanina (Lima et al., 2022). Os melanócitos localizam-se predominantemente na camada basal da epiderme, folículos pilosos, mucosas, meninges e camada coroidal do olho, sendo derivados da crista neural durante o desenvolvimento embrionário (Leonardi et al., 2018; Gosman, Tapoi, Costache, 2023). Essa neoplasia é reconhecida por sua marcante agressividade, caracterizada pela elevada capacidade metastática e expressiva taxa de mortalidade associada à progressão da doença (Kim & Kim, 2024). Está associada às condições climáticas da região, as quais favorecem a exposição contínua e intensa à radiação ultravioleta (Lima et al., 2022). As lesões são geralmente enegrecidas quando pigmentadas,mas podem ser esbranquiçadas na ausência de melanina. Apresentam crescimento exofítico ou surgem como nódulos sésseis, independentemente do local. O tamanho é variável, sendo comum o aspecto multilobulado e ulcerado. No histopatológico, exibem diferentes padrões de crescimento. As células podem ser arredondadas, poligonais ou fusiformes, distribuídas em lâminas, lóbulos ou feixes, com grânulos de melanina no citoplasma. O pigmento também pode estar presente em macrófagos. Há atipia celular moderada a acentuada e elevado número de mitoses. Nos melanomas amelanóticos, a ausência de pigmento e a intensa atipia dificultam o diagnóstico. A ocorrência tem sido associada à idade avançada e ao grau de pigmentação cutânea, acometendo principalmente áreas pouco pilosas, como vulva, ânus, lábios, narinas, orelhas e pálpebras. A intensa radiação solar no Nordeste é considerada fator predisponente. Figura. Melanoma cutâneo em úbere de cabra Ardi (A) e no períneo de cabra ardi (B). 5. FOTOSSENSIBILIZAÇÃO POR Brachiaria brizantha A fotossensibilização associada à ingestão de Brachiaria spp., especialmente Brachiaria brizantha, é uma enfermidade de natureza hepatógena, resultante da incapacidade do fígado em excretar a filoeritrina, pigmento fotodinâmico derivado da clorofila. Essa falha hepática está relacionada à presença de saponinas esteroidais litogênicas (metilprotodioscina e protodioscina) presentes na planta, as quais provocam lesões hepáticas com consequente acúmulo de pigmentos fotossensibilizantes na circulação (Albernaz et al., 2010; Souza et al., 2010). As lesões cutâneas ocorrem preferencialmente em áreas despigmentadas e pouco protegidas pela pelagem, como orelhas, face, pálpebras, focinho, dorso, períneo e extremidades (Albernaz et al., 2010). O envolvimento dessas regiões ocorre porque são mais expostas à radiação ultravioleta e, portanto, mais susceptíveis à ação dos fotoprodutos tóxicos (Amado et al., 2018). As lesões são de natureza dermatonecrótica e exsudativa, acompanhadas por sinais de fotofobia, prurido, edema e ulceração. Inicialmente, os animais apresentam inquietação, procura por sombra e prurido intenso; posteriormente, observa-se edema de orelhas, pálpebras, base da cauda e prepúcio, seguido de dermatite exsudativa e formação de crostas espessas nas áreas afetadas (Albernaz et al., 2010). Nos casos mais severos, podem ocorrer miíases secundárias e necrose cutânea (Amado et al., 2018). Na necropsia, observa-se icterícia generalizada, fígado aumentado, firme, amarelado e com padrão lobular acentuado, além de rins aumentados e com coloração amarelo-esverdeada (Albernaz et al., 2010; Souza et al., 2010). As lesões hepáticas indicam comprometimento funcional, com proliferação de ductos biliares, presença de macrófagos espumosos, cristais birrefringentes nos ductos e necrose de hepatócitos (Souza et al., 2010). Em surtos de maior intensidade, a letalidade pode ultrapassar 70% dos animais afetados (Albernaz et al., 2010). O diagnóstico baseia-se na associação entre histórico de pastejo em áreas com Brachiaria spp., sinais clínicos de fotossensibilização, alterações hepáticas e achados histológicos compatíveis (Souza et al., 2010). Deve-se ainda considerar o diagnóstico diferencial com fotossensibilizações primárias causadas por plantas como Froelichia humboldtiana e Lantana camara (Amado et al., 2018). A presença de macrófagos espumosos e cristais no fígado é considerada uma lesão indicativa da intoxicação por Brachiaria spp. Figura 1. Intoxicação por Brachiaria brizantha em ovinos. (1) Edema auricular característico em animal afetado. (2) Cristais birrefringentes observados na luz de um ducto biliar em bovino intoxicado por Brachiaria decumbens. HE, obj. 20x. 6. DERMATITE ALÉRGICA A dermatite alérgica sazonal em caprinos e ovinos é uma hipersensibilidade cutânea causada principalmente por mosquitos do gênero Culicoides. Essa condição se caracteriza por lesões típicas e distribuição anatômica específica, sendo mais comum durante o período chuvoso, o que reforça seu padrão sazonal. As lesões ocorrem preferencialmente em áreas de pele mais fina e com menor cobertura de pelos, como cabeça (orelhas, região periocular, focinho e lábios), úbere, porção distal dos membros, abdômen ventral, região dorsal e garupa (Souza et al., 2005; Portela et al., 2012). Essa distribuição característica coincide com as áreas preferidas pelos mosquitos para alimentação, o que auxilia no diagnóstico diferencial (Souza et al., 2005). Clinicamente, a dermatite apresenta duas fases distintas. Na fase aguda, observa-se eritema acentuado com múltiplas pápulas eritematosas, pequenas pústulas, colaretes epidérmicos, crostas amareladas e prurido intenso, podendo haver exsudação serosa (Souza et al., 2005). Já na fase crônica, predominam áreas liquenificadas com espessamento cutâneo, ulcerações superficiais, crostas espessas e aderentes, alopecia focal e pele com aspecto esbranquiçado e enrugado; em alguns casos, são visíveis áreas hemorrágicas devido ao autotratamento causado pelo prurido persistente (Portela et al., 2012). O diagnóstico diferencial deve considerar outras dermatopatias, como dermatofilose, ectima contagioso e sarna. No entanto, o padrão sazonal, a localização específica das lesões e o prurido intenso são elementos-chave que ajudam a distinguir essa dermatite das demais (Souza et al., 2005; Silveira et al., 2024). A confirmação diagnóstica é obtida pela resposta positiva ao tratamento com corticoides tópicos e ao controle eficaz dos vetores (Portela et al., 2012). Figura 1. Corte histopatológico de fragmentos de pele de ovino com reação de hipersensibilidade cutânea. (A) Epiderme com redução da espessura e desprendimento da camada superficial de queratinócitos (seta curta), além de intenso infiltrado inflamatório superficial (estrela) distribuído entre os anexos cutâneos (folículos pilosos e glândulas sudoríparas) na derme superficial; observa-se redução do infiltrado na derme profunda. (B) Epiderme com desprendimento da camada superficial de queratinócitos (seta curta) e formação de cavidade preenchida por células inflamatórias e fibrina (estrela). Na derme superficial nota-se espaçamento entre as fibras colágenas e intenso infiltrado inflamatório (seta larga). (C) Vesícula intraepidérmica delimitada por queratinócitos das camadas espinhosa e granulosa, contendo fibrina, debris celulares e células inflamatórias (estrela). (D) Espessamento da membrana basal (seta), capilares superficiais congestos (C) e infiltrado inflamatório acentuado na derme papilar (INF). (E) Edema intenso (seta) e presença de infiltrado inflamatório difuso. (F) Edema entre as fibras colágenas (seta curta) e infiltrado inflamatório associado (seta longa). (G) Infiltrado linfoplasmocitário eosinofílico (eosinófilos; seta). (H) Infiltrado linfoplasmocitário eosinofílico perivascular (eosinófilos; seta) ao redor dos capilares (C). (Silveira et al., 2024) Figura 2. Ovinos com lesões cutâneas bilaterais características de dermatite alérgica sazonal, localizadas principalmente nas regiões periocular, de inserção e face dorsal das orelhas, e na região frontal. Em um dos animais observados, as lesões também se estendiam pela linha dorsal, lateral do corpo e região axilar direita. (Portela et al., 2012) 7. ECTIMA CONTAGIOSO O ectima contagioso é causado por um vírus da espécie Parapox ovis, no qual é comumente chamado de vírus do ectima. Apesar do caráter cosmopolita em ovinos e caprinos, Tedla et al. (2018) mostrou que a prevalência é maior em ovinos, apesar de que a severidade da infecção ocorre de forma inversa entre as espécies. Os animais mais suscetíveis são cordeiros de 3 a 6 meses criados em pastagens durante o período seco, em confinamento e em ovinos estabulados e alimentadosem cochos. Entre os suscetíveis, a taxa de morbidade é próxima de 100%, justificando o aparecimento na forma de surtos, enquanto que a mortalidade varia entre 5 a 15% em virtude das lesões no trato respiratório (Salles et al., 1992). Andreani et al. (2019) destaca como a disseminação do vírus pode atingir os humanos e causar lesões com formato de pápulas em mãos, braços ou face. A presença de escoriações no manuseio da lã torna-se a porta de entrada, porém as lesões são autolimitantes e se curam permanentemente após 6 a 7 semanas. Após a entrada do vírus através das lesões de pele, ocorre a replicação nas células de reposição da camada subjacente de epiderme, sendo a explicação para detecção viral dérmica somente 72 h após a infecção. Com a disseminação por toda epiderme, ocorre uma resposta celular com necrose e descamação da epiderme acometida e do estrato papilar subjacente da derme (Kassa, 2021). As lesões progridem de mácula, pápula, vesícula, pústula, formação de crostas até a cura. Figura 1 - Ovelhas mestiças da raça Dorper, multíparas, recém desmamadas. Em A observam-se lesões crostosas em narina e plano nasal, bem como em comissura labial (detalhe). Em B são observadas lesões pustulares e crostosas em narina e plano nasal. Fonte: Leão et al., 2024. Nos ovinos, a infecção geralmente é observada em estágios mais avançados. Dessa forma, são visualizadas áreas proeminentes e moderadamente proliferativas de granulação e inflamação cobertas por uma crosta espessa e firme, que surgem após 6 a 7 dias das lesões iniciais. As primeiras lesões ocorrem na junção mucocutânea da boca e se espalham pelo plano nasal, ocorrendo a formação de crostas individuais ou em placas contínuas. (Constable et al., 2021; Salles et al., 1992). Figura 2 - Animal com pápulas e pústulas e região oral e nasal. Fonte: Ferreira, 2021. O acometimento dos cordeiros lactentes pode provocar a ocorrência da doença no úbere da ovelha. Além disso, ocorre o surgimento das lesões em outros locais do corpo, como escroto, em torno da banda coronária, cascos rudimentares e nas plantas dos pés. A existência das lesões predispõem o desenvolvimento de infecções secundárias, como as causadas por bactérias causadoras de mastite em úberes acometidos (Constable et al., 2021). Figura 3 - Ectima contagioso no teto de uma ovelha. O animal contraiu a infecção durante a amamentação de um cordeiro com lesões de ectima contagioso nas comissuras bucais. Fonte: Constable et al., 2021. Para confirmação do diagnóstico, é possível realizar a histologia das amostras de lesões e/ou a virologia a partir do líquido de vesículas ou raspado da lesão. Como diagnósticos diferenciais são consideradas a dermatose ulcerativa, dermatite micótica, eczema facial, papilomatose, língua azul, varíola ovina e a febre aftosa (Constable et al., 2021). 8. PITIOSE A pitiose, causada pelo oomiceto Pythium insidiosum, é uma enfermidade emergente em regiões tropicais e subtropicais, que acomete diversas espécies, incluindo ovinos, caprinos e humanos (Carrera et al., 2013). Os fungos e os oomicetos se diferenciam entre si quanto às alterações na parede celular e na composição da membrana, sendo a ausência de ergosterol na membrana dos oomicetos a principal divergência e a causa do insucesso no tratamento com os antifúngicos para esta doença (Carnaúba et al., 2023). Em pequenos ruminantes, a localização anatômica das lesões abrange predominantemente três formas clínicas. A forma cutânea/subcutânea acomete os membros e a região ventral do tronco. A apresentação rinofacial é caracterizada pelo acometimento da cavidade nasal e deformidades faciais. Já a forma digestiva apresenta comprometimento do esôfago, compartimentos pré-estomacais e do abomaso (Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021; Carnaúba et al., 2023). Nesta enfermidade, é comum o aparecimento de lesões com caráter piogranulomatoso no tecido cutâneo e subcutâneo. Além disso, essas manifestações clínicas são frequentemente associadas à necrose tecidual focal ou extensa, em cujo interior observam-se hifas largas e irregulares características do agente (Carrera et al., 2013; Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021). Figura 4 - Achados microscópicos de pitiose em ovelhas. C. Celulite piogranulomatosa com hifas intralesionais, várias das quais estão no citoplasma de células multinucleadas gigantes. H&E. D. Dermatite piogranulomatosa; muitas hifas com ramificações irregulares e septos raros, característicos de Pythium insidiosum. Coloração de Grocott com prata metenamina. Fonte: Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021. Nas formas cutâneas e subcutâneas, as lesões se apresentam como inchaço local com dermatite ulcerativa, exsudativas e nodulares, que evoluem com destruição progressiva dos tecidos subjacentes. No trato digestivo, são descritas ulcerações profundas da mucosa esofágica, dos pré-estômagos e do abomaso (Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021). Já na forma rinofacial, observa-se aumento na região da narina, face e lábio superior, podendo ocorrer secreção serosanguinolenta e dispnéia (Carrera et al., 2013). Figura 5 - Pitiose cutânea em ovinos. A. Dermatite ulcerativa e celulite na região pré-escapular, sugestivas de lesão primária no linfonodo pré-escapular. B. Ovinos com granuloma ulcerativo grave no metatarso. Fonte: Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021 Figura 6 - Pitiose em rinofacial em ovinos. Aumento acentuado e deformidade da região nasal. Exsudato purulento é observado na boca como resultado da ulceração do palato duro. Fonte: Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021. O diagnóstico da pitiose pode ser feito por imuno-histoquímica, imunodifusão, ELISA ou métodos moleculares. Como diagnósticos diferenciais podem ser incluídos habronemose, zigomicose, neoplasias e granulomas fúngicos ou bacterianos. No entanto, a pitiose rinofacial é mais comumente associada à conidiobolomicose e a pitiose do trato digestivo é clínica e patologicamente semelhante à aspergilose e zigomicose (Carrera et al., 2013; Do Carmo; Uzal; Riet-correa, 2021). REFERÊNCIAS: Albernaz, T.T., Silveira, J.A.S., Silva, N.S., Oliveira, C.H.S., Belo Reis, A.S., Oliveira, C.M.C., Duarte, M.D. & Barbosa, J.D. (2010). Fotossensibilização em ovinos associada à ingestão de Brachiaria brizantha no estado do Pará. Pesquisa Veterinária Brasileira, 30(9):741–748. Amado, G.P., Silva, C.C.B., Barbosa, F.M.S., Nascimento, H.H.L., Malta, K.C., Azevedo, M.V., Lacerda-Lucena, P.B. & Lucena, R.B. (2018). Surtos de fotossensibilização e dermatite alérgica em ruminantes e equídeos no Nordeste do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, 38(5):889–895. ANDREANI, Julien; et al. Human infection with Orf virus and description of its whole genome, France, 2017. Emerging Infectious Diseases, v. 25, n. 12, dezembro 2019. Disponível em: https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/25/12/18-1513_article. Acesso em: 21 out. 2025. BARBOSA, J. D. et al. Carcinoma de células escamosas perineal em cabras no Pará. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, p. 421-427, 2009. BEZERRA, A. C. D. S.; AHID, S. M. M.; VIEIRA, L. da S.; SOARES, H. S. Ectoparasitos em caprinos e ovinos no município de Mossoró, Rio Grande do Norte. Ciência Animal Brasileira / Brazilian Animal Science, Goiânia, v. 11, n. 1, p. 110-116, jan./mar. 2010. CARNAÚBA, R. T. M. S. et al. Pythium insidiosum e pitiose – uma revisão de literatura. Veterinária e Zootecnia, v. 30, p. 1–12, 2023. CARRERA, M. V. et al. Pitiose em ovinos nos estados de Pernambuco e Bahia. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 4, p. 476-482, 2013. CONSTABLE, P. D. et al. Doenças de Pele, Olhos, Conjuntiva e Orelha externa. In: CONSTABLE, P. D. et al. Clínica veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos e caprinos. 11. ed. Rio de Janeiro : GuanabaraKoogan, 2021. p. 1587-1712. CONSTABLE, Peter D. Clínica Veterinária - Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos e Caprinos. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. E-book. pi ISBN 9788527737203. DO CARMO, P. M. S.; UZAL, F. A.; RIET-CORREA, F. Diseases caused by Pythium insidiosum in sheep and goats: a review. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 33, n. 1, p. 20–24, 2021. DOI: 10.1177/1040638720968937. FERREIRA, A. L. Ectima contagioso. GEPEO - Grupo de estudo, pesquisa e extensão em ovinos, Boletim nº 27, 2021. Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/cav/id_cpmenu/2413/Boletim_ectima_contagioso_164987796 43269_2413.pdf. Acesso em: 21 out. 2025. KASSA, T. Uma revisão sobre a Orf Humana: Uma Zoonose Viral Negligenciada. Research and Reports in Tropical Medicine, v. 12, p. 153-172, 2021. DOI: 10.2147/RRTM.S306446. https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/25/12/18-1513_article?utm_source=chatgpt.com https://www.udesc.br/arquivos/cav/id_cpmenu/2413/Boletim_ectima_contagioso_16498779643269_2413.pdf https://www.udesc.br/arquivos/cav/id_cpmenu/2413/Boletim_ectima_contagioso_16498779643269_2413.pdf https://doi.org/10.2147/RRTM.S306446 KELLER, Daniel et al. Casuística de carcinoma epidermoide cutâneo em bovinos do campus Palotina da UFPR. Acta Scientiae Veterinarie, v. 36, p. 155-159, 2008. DOI: LEÃO, I. S. S. et al. ECTIMA CONTAGIOSO EM OVELHAS A CAMPO –RELATO DE CASO. Revista foco, v. 17, n. 7, p. 01-09, 2024. MACÊDO, J. T. S. A.; RIET-CORREA, F.; DANTAS, A. F. M.; SIMÕES, S. V. D. Doenças da pele em caprinos e ovinos no semi-árido brasileiro. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 28, n. 12, p. 633-642, dez. 2008. PEREIRA, D. B., & MEIRELES, M. C. A. (2007). Dermatofilose. In F. Riet-Correa, A. L. Schild, R. A. A. Lemos, & J. R. J. Borges (Eds.), Doenças de ruminantes e eqüideos (p. 280=286). Gráfica e Editora Pallotti. Portela, R.A., Carvalho, K.S., Ahid, S.M.M., Felippe-Bauer, M.L., & Riet-Correa, F. (2012). Dermatite alérgica sazonal em ovinos deslanados no Nordeste do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, 32(6):471–476. QUINN, P. J., Markey, B. K., Carter, M. E., Donnelly, W. J., & Leonard, F. C. (2005). Microbiologia veterinária e doenças infecciosas. Artmed. RADOSTITS, O. M. GAY, C. C., BLOOD, D. C. HINCHCLIFF, K. W. Clínica Veterinária, um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Equinos. 9ª edição, Rio de Janeiro, 2010, p. 1281-1282. RAMOS, A. T. et al. Carcinoma de células escamosas em bovinos, ovinos e equinos: estudo de 50 casos no sul do Rio Grande do Sul. Brazilian journal of veterinary research and animal science, v. 44, p. 5-13, 2007. SALLES, M. W. S.; LEMOS, R. A. A. de; BARROS, C. S. L. de; WEIBLEN, R. Ectima contagioso (dermatite pustular) dos ovinos. Ciência Rural, Santa Maria, v. 22, n. 3, p. 319-324, set. 1992. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-84781992000300012. Acesso em: 21 out. 2025. Silveira, M.D.L., Alves, L.C., Silva Junior, V.A., & Rizzo, H. (2024). Dermatite alérgica por picadas de carrapatos em reprodutor ovino da raça White Dorper. Revista Brasileira de Buiatria, 1(1):1–10. SOUZA, R. I. C. et al. Intoxicação por Brachiaria spp. em bovinos no Mato Grosso do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 30, n. 12, p. 1036–1042, 2010. Souza, T.M., Fighera, R.A., Piazer, J.V., Barros, C.S.L., & Irigoyen, L.F. (2005). Dermatite alérgica sazonal em ovinos. Ciência Rural, 35(2):475–477. TEDLA, M. et al. Molecular identification and investigations of contagious caprine pleuropneumonia (CCPP) in Ethiopia using PCR as a confirmatory tool. Onderstepoort Journal of Veterinary Research, v. 85, n. 1, p. e1-e8, 2018. https://doi.org/10.1590/S0103-84781992000300012 ZARIA, L. T. (1993). Dermatophilus congolensis infection (dermatophilosis) in animals and man! An update. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, 16(3), 179–222. DOI: https://doi.org/10.1016/0147-9571(93)90148-x