Prévia do material em texto
Micoses Superficiais Bheatriz, Emilly L, Larissa, Lucemberg Introdução O que são Micoses Superficiais? Infecções fúngicas que acometem a camada mais externa e queratinizada da pele (epiderme), podendo envolver cabelo e unhas.Também conhecidas como dermatomicoses. Objetivo Apresentar e discutir o protocolo de cuidado farmacêutico para o manejo de micoses superficiais no âmbito do SUS, com base no documento de referência. 2 São causadas principalmente por fungos dermatófitos dos gêneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton, além de algumas leveduras como Candida spp. e Malassezia spp.. Suas manifestações clínicas incluem Tinea pedis (pé de atleta), Tinea cruris (virilha), Tinea capitis (couro cabeludo), onicomicose (unhas) e pitiríase versicolor (manchas na pele). A transmissão ocorre por contato direto com pessoas, animais, solo ou objetos contaminados. Agentes Causadores 3 Tabela Comparativa 4 Sinais e sintomas típicos de micoses superficiais Prurido (coceira) Eritema (vermelhidão) Descamação da pele Fissuras Vesículas ou pústulas Lesão circular com centro claro e bordas vermelhas e elevadas Espessamento e alteração na coloração das unhas, em casos de onicomicose Queda de cabelo ou áreas com alopecia, no caso de Tinea capitis 5 Ambientes quentes e úmidos Favorecem o crescimento de fungos na pele, especialmente em dobras e áreas com pouca ventilação. Sudorese excessiva (transpiração) A umidade constante cria um ambiente ideal para a proliferação fúngica. Má higiene pessoal ou higiene inadequada Falta de cuidados diários com a pele, unhas e cabelos aumenta o risco de infecção. Uso de roupas e calçados oclusivos Tecidos sintéticos e sapatos fechados impedem a ventilação e mantêm a pele úmida. Obesidade Aumenta as áreas de dobras cutâneas (intertrigos), favorecendo a retenção de umidade. Fatores de Risco 6 Tinea pedis (pé de atleta) Infecção fúngica que acomete a pele dos pés, especialmente entre os dedos. Caracteriza-se por descamação, prurido (coceira), fissuras e, às vezes, maceração. Muito comum em ambientes úmidos e fechados, como calçados. Tinea cruris (micose da virilha) Acomete a região inguinal (virilha), podendo se estender às coxas e região perianal. Lesões avermelhadas, escamosas, bem delimitadas, com coceira intensa. Mais frequente em homens e em regiões de calor e umidade. Manifestações Clínicas das Micoses Superficiais 7 Manifestações Clínicas das Micoses Superficiais Tinea capitis (micose do couro cabeludo) Infecção fúngica do couro cabeludo. Pode causar áreas de alopecia (queda de cabelo), escamação e inflamação. Pode apresentar formas inflamadas com prurido e inchaço fonte: Sanarflix 8 Acolhimento da Demanda Como o farmacêutico deve abordar o paciente? Oferecer atenção acolhedora, em um ambiente que garanta privacidade e comodidade. Explicar o propósito da consulta, orientando o paciente sobre as etapas do atendimento. Utilizar uma linguagem clara e acessível, evitando termos técnicos e promovendo compreensão. Mostrar-se acessível e solidário, criando um clima de confiança e empatia. Transmitir naturalidade e tranquilidade, minimizando o constrangimento do paciente com o problema de pele. 9 O farmacêutico deve investigar cuidadosamente aspectos da queixa do paciente para: Tempo de início dos sintomas Frequência e duração das lesões Localização exata no corpo Características das lesões (forma, cor, presença de escamas, secreção) Gravidade e extensão Ambiente em que surgiram (calor, umidade, uso de roupas oclusivas) Fatores que agravam ou aliviam os sintomas Sintomas associados, como coceira, dor, febre, odor Histórico de tratamentos prévios, inclusive automedicação Doenças preexistentes, como diabetes ou imunossupressão Anamnese Farmacêutica 10 Alerta para Encaminhamento critérios para avaliação médica 11 Plano de Cuidado Farmacêutico Aliviar os sintomas (coceira, inflamação, desconforto) Promover a cura clínica e micológica Evitar recidivas e novas infecções Garantir o uso correto dos medicamentos e medidas não farmacológicas Objetivos do Plano Envolvimento do Paciente O plano deve ser construído junto com o paciente, considerando sua realidade Incluir orientações claras sobre higiene, prevenção, e uso de medicamentos Estimular a adesão ao tratamento completo e o retorno para reavaliação, se necessário Envolvimento do Paciente 12 Medidas gerais por Subtipo Tinea capitis (couro cabeludo) Evitar compartilhar objetos de cabelo, manter os fios secos e não usar acessórios abafados. Tinea cruris (virilha) Reduzir umidade na região com roupas leves, perder peso se necessário e evitar contato íntimo até a cura usar roupas limpas de preferência de algodão. Tinea pedis (pés) Manter pés limpos secos, usar chinelos em locais úmidos, trocar calçados/meias diariamente e aplicar talco antifúngico. Tinea unguium (unhas) Higienizar e secar bem as unhas, evitar umidade prolongada e não compartilhar objetos de manicure/pedicure. Tratamento não farmacológico 13 Tratamento farmacológico 14 Azólicos (cetoconazol, miconazol, econazol, clotrimazol, fluconazol) Como atuam? Eles bloqueiam uma enzima (lanosterol 14α-desmetilase) que o fungo precisa para produzir ergosterol, um tipo de "colesterol do fungo", essencial para manter sua membrana celular firme e funcional. Eles também inibem uma enzima do fígado chamada CYP3A4, que serve para quebrar vários medicamentos. ➡ Sem ergosterol, a membrana do fungo se rompe e ele morre. No nosso corpo. ➡ Isso faz com que outros medicamentos fiquem mais tempo no corpo, podendo causar efeitos colaterais perigosos. Interações Medicamentosas Relevantes 15 O que isso pode causar? Estatinas (sinvastatina, atorvastatina): Podem causar dor muscular grave ou lesões nos músculos (rabdomiólise). Benzodiazepínicos (midazolam, alprazolam): Causam sono excessivo ou sedação prolongada. Varfarina (anticoagulante): Aumenta o risco de sangramentos. Glibenclamida (para diabetes): Pode causar queda acentuada da glicose (hipoglicemia). Anticoncepcionais hormonais orais: A eficácia pode diminuir, aumentando o risco de gravidez indesejada. Interações Medicamentosas Relevantes 16 Terbinafina (uso oral ou tópico) Como ela atua? A terbinafina bloqueia uma enzima do fungo chamada esqualeno epoxidase. Isso impede a produção de ergosterol, uma substância que o fungo precisa para manter sua membrana celular firme. Como consequência: Acumula esqualeno, que é tóxico para o fungo A membrana do fungo se rompe, e ele morre. Efeito no nosso corpo (quando usada por via oral): Inibe uma enzima hepática chamada CYP2D6. Essa enzima ajuda o organismo a eliminar certos medicamentos. Quando inibida, outros medicamentos podem ficar mais tempo no corpo, o que aumenta o risco de efeitos colaterais. Interações Medicamentosas Relevantes 17 O que isso pode causar Antidepressivos tricíclicos, betabloqueadores e antipsicóticos A terbinafina pode aumentar os efeitos desses medicamentos, o que pode causar: Sonolência exagerada Queda de pressão Tremores ou outros efeitos indesejados Cafeína A terbinafina diminui o metabolismo da cafeína, ou seja, ela fica mais tempo no corpo. ➡ Isso pode causar: Insônia, nervosismo, batimentos acelerados (taquicardia) Ciclosporina (usada por transplantados) A terbinafina reduz os níveis da ciclosporina no sangue, o que pode: Diminuir a proteção contra rejeição do órgão transplantado ➡ É uma interação muito grave e exige monitoramento médico. Interações Medicamentosas Relevantes 18 Seleção de Tratamento em Situações Especiais 19 Pacientes com câncer, HIV, transplantados: Portadores de doenças autoimunes em tratamento imunossupressor Por que são casos especiais: Apresentam risco aumentado de infecções graves e disseminadas Podem ter sintomas atípicos ou infecções mais extensas e resistentes A resposta ao tratamento pode ser comprometida Necessitam de avaliação médica imediata(não são casos para automedicação ou intervenção apenas farmacêutica) Pacientes Imunossuprimidos 20 Conduta farmacêutica recomendada: Não iniciar tratamento na farmácia Encaminhar ao médico imediatamente Informar sobre os riscos da automedicação Reforçar a importância da avaliação médica e possível necessidade de antifúngico oral sistêmico Pacientes Imunossuprimidos 21 Doses devem ser ajustadas o arsenal terapêutico é mais limitado. Pele mais fina e hidratada pode favorecer absorção sistêmica (não desejada). Tinea capitis e Tinea unguium (onicomicose) em crianças: Nenhuma opção tópica listada como primeira linha no protocolo; encaminhar ao médico. Tinea cruris / Tinea pedis (crianças): Oxiconazol 1% creme/loção (1-2x/dia, 2 sem para cruris; 4 sem para pedis) Clotrimazol 1% creme/loção/solução (2x/dia, 2 sem para cruris; 4 sem para pedis) Miconazol 2% creme/loção/pó (2x/dia, 2 sem para cruris; 4 sem para pedis) Tinea corporis (crianças): Oxiconazol 1% creme/loção (1-2x/dia, 2 sem) Clotrimazol 1% creme/loção/solução (2x/dia, 4 sem) Miconazol 2% creme (2x/dia, 4 sem) Pacientes Pediátricos 22 Avaliação dos Resultados Aspectos a Considerar: Possíveis Resultados: Melhora parcial, piora, ausência de melhora, resolução. Meta Terapêutica: Alívio dos sinais/sintomas (prurido, inflamação), desaparecimento das lesões, cura micológica. Reavaliação: Investigar sinais/sintomas de alerta para encaminhamento. Adesão: Avaliar adesão antes de considerar falha terapêutica. Segurança: Identificar precocemente problemas/eventos adversos; encaminhar se necessário para possível suspensão. 23 Paciente com queixa de micoses superficiais. Presença de situações de alerta? (Se sim, encaminhar). Exemplos de situações de alerta: Condição severa, persistente, piora, febre, sinais de infecção grave, etc.. Trata-se de recidiva com infecção não responsiva ao tratamento tópico? (Se sim, encaminhar). Prescrição de Terapia Não Farmacológica + Farmacológica (MIPs). Exemplos de Antifúngicos Tópicos: Azólicos, alilaminas (Terbinafina), ciclopirox, etc.. Avaliação dos Resultados: Ausência de melhora, Piora, Melhora Parcial, Resolução. Fluxo de Decisão Terapêutica O fluxo de decisão terapêutica descrito no Protocolo PSAL – Micoses Superficiais orienta o farmacêutico a tomar decisões clínicas seguras e fundamentadas, conforme o caso apresentado pelo paciente. 24 A atuação do farmacêutico é fundamental desde o acolhimento e escuta qualificada, passando pela anamnese criteriosa, até a elaboração de um plano de cuidado individualizado. O sucesso do tratamento depende não apenas da escolha correta dos antifúngicos tópicos, mas também da adesão às medidas não-farmacológicas, que têm papel essencial na cura e prevenção de recidivas. Além disso, o farmacêutico deve estar apto a identificar sinais de alerta que indicam a necessidade de encaminhamento ao médico, garantindo assim a segurança e continuidade adequada do cuidado. Portanto, o trabalho com micoses superficiais exemplifica como o cuidado farmacêutico pode ser resolutivo, educativo e centrado no paciente, reforçando a importância da atuação clínica na atenção primária à saúde. Conclusão 25 Em quais situações o farmacêutico deve obrigatoriamente encaminhar um paciente com suspeita de micose superficial para avaliação médica, e por quê? Qual a importância das medidas não-farmacológicas no tratamento e prevenção das micoses superficiais, e como o farmacêutico pode garantir a adesão do paciente a essas orientações? Questões para discussão 26 Referências BRASIL. Protocolo PSAL – Micoses Superficiais. Grupo de Trabalho sobre Saúde Pública. Coordenação: Valmir de Santi; Concepção pedagógica: Cassyano Januário Correr, Thais Teles de Souza, Walleri Christini Torelli Reis. Realização: Conselho Federal de Farmácia, 2018. RIBEIRO, E. C. Semiologia e Propedêutica Farmacêutica. São Paulo: Manole, 2021. BROOKS, G. F.; CARROLL, K. C.; BUTEL, J. S.; MORSE, S. A.; MEITERTZ, T. Microbiologia Médica. 26. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 27