Buscar

Aspectos Históricos Associados à Corrupção no Brasil aula 12 31out14

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Aspectos Históricos Associados à Corrupção no Brasil
Raízes do Brasil – Sérgio Buarque de Holanda
Os Donos do Poder – Raymundo Faoro
Prof. Alexandre Gouveia – UnB / 2014
RAÍZES DO BRASIL
Sérgio Buarque de Holanda
Sérgio Buarque de Holanda
Nasce em São Paulo, 11 de julho de 1902 
Morre em São Paulo, 24 de abril de 1982 
Foi um dos mais importantes historiadores brasileiros, além de crítico literário e jornalista. Estudou em diversas escolas de São Paulo e mudou-se, em 1921, para o Rio de Janeiro, onde, na atual UFRJ, obteve o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais em 1925.
Sérgio Buarque de Holanda
Ainda em 1936, publicou o ensaio Raízes do Brasil, que foi seu primeiro trabalho de grande sucesso e, ainda hoje, é o seu escrito mais conhecido. 
Assumiu diversas cadeiras, entre elas de História da Civilização Brasileira (USP), Estudos Brasileiros (Univ. de Roma), e diversas universidades do Chile, E.U.A. e Brasil. 
Sérgio Buarque de Holanda
Participou, em 1980, da cerimônia de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), recebendo a terceira carteira de filiação do partido, após Mário Pedrosa e Antonio Candido. 
Permaneceu intelectualmente ativo até 1982. Publicou mais de dez livros e escritos importantes. 
Livro “Raízes do Brasil”
 Os portugueses trouxeram ao Brasil a cultura da personalidade: o apego pelo prestígio pessoal resulta na ausência de uma moral de culto ao trabalho. 
O desenvolvimento da Península Ibérica não foi o mesmo que dos outros países europeus. Veio de lá a fraqueza das instituições e falta de organização social. 
A construção cultural do Brasil veio das características ibéricas.
O “Homem Explorador”
Sérgio afirma que há dois tipos de homem explorador no Brasil colonial: 
Trabalhador – com olhar mais restrito. Único que poderia colonizar o Brasil justamente por possuir adaptabilidade. 
Aventureiro – com olhar mais amplo e esforço persistente, via antes a parte do que o todo. A forma escolhida para o trabalho foi o uso de escravos, pois os portugueses preferiam a vida aventureira ao trabalho agrícola.
O “ Sistema Colonial”
A escravidão foi a forma pela qual a Europa conseguiu suprir o que faltava em sua economia. O indígena não conseguiu se adaptar a escravidão e o escravo africano ficou com esse papel; era imprescindível para o sistema colonial.
Os índios ganharam proteção dos portugueses por conhecerem técnicas indígenas de produção.
Os portugueses já eram mestiços antes do descobrimento e já conheciam a escravidão africana em seu país. A igreja católica tinha uma forma de comunicar muito mais simpática que a protestante. O resultado disso foi a mestiçagem, que possibilitou a construção de uma nova pátria.
Rural x Urbanorural x Urbano
A partir de 1850 houve o declínio da vida rural em função da abolição da escravatura, que era a base de sustentação desde o século XVI. Nota-se também um notável desenvolvimento urbano, graças à construção de estradas de ferro. Dicotomia rural x urbanorural x urbano – a visão de mundo tradicional entra em conflito com valores modernos.
A caminho da Cidade
Num primeiro momento, os homens que vinham para a cidade eram os que tinham certa importância no campo. 
Os colonos brancos continuavam achando que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o trabalho intelectual. 
A vida da cidade se desenvolveu de forma anormal e prematura.
Tipos Ideais
Cidades são instrumentos de dominação. Recorrendo à sociologia weberiana, identifica entre os ocupantes do Novo Mundo os “tipos ideais” – semeador e ladrilhador: 
Ladrilhador: Espanhol – cidades e racionalidade – linhas retas. Acentua o caráter da cidade como empresa da razão, contrária a ordem natural, prevendo rigorosamente o plano das que fundou na América. 
Semeador: Português – litoral – cidades irregulares. Nascidas e crescidas sem o mínimo planejamento. Objetivo de fazer fortuna rápida, dispensando o trabalho regular.
O “Homem Cordial”
Tenta definir, mas não de forma absoluta, a identidade nacional brasileira através do conceito do HOMEM CORDIAL (conceito original de Ribeiro Couto), a nossa cordialidade enfatiza o predomínio de relações humanas mais simples e diretas que rejeitam a polidez e a padronização, características da civilidade. 
A dificuldade de constituição de um Estado “civil” brasileiro se expressa no fato de que essa instituição não é um prolongamento da família. 
O “Homem Cordial”
"Fui moldado por tantas pessoas e em tantos lugares, não apenas por instituições educacionais e encontros formais, mas também por amizades - tão importantes para nós brasileiros.”
O rigor torna-se afrouxado, onde não há distinção entre o público e o privado: todos são amigos em todos os lugares e não há intimidade. 
O Brasil é uma sociedade onde o Estado é propriedade da família, onde laços sentimentais e familiares são transportados para o ambiente do Estado.
O “Homem Cordial”
A cordialidade do brasileiro que, ao contrário do que superficialmente possa parecer, não quer dizer apenas sincero, afetuoso, amigo. 
Veja exemplos do homem cordial brasileiro em ação: 
- Um motorista anda por um pequeno trecho em contramão só para não dar uma volta maior. E se um guarda o multa, ele conversa com o guarda, pedindo para “aliviar” a situação. 
- Um assessor de deputado tenta atravessar com o seu carro em uma área fechada para o tráfego e quando o guarda o impede, ele mostra a sua carteira. E se o guarda insiste na proibição, ele se exalta para o policial, fazendo ameaças, perguntando se ele tem ideia de quem ele está importunando. 
Ambas traduzem o desprezo pela formalidade e ética. O primeiro caso é nacionalmente conhecido como “o jeitinho brasileiro”. O segundo, com o “você sabe com quem está falando?”.
Influência da Família Real
A configuração da sociedade brasileira é consequência da presença lusitana – a partir da vinda da família real no Brasil. 
O que determina alguns traços da intelectualidade é a permanência do personalismo português – o conhecimento superficial era importante apenas na medida em que dava prestígio e diferenciação.
A “Falsa Democracia”
A democracia foi “sempre um mal-entendido” no Brasil, pois os grandes movimentos sociais e políticos vieram de cima para baixo, fazendo com que o povo sempre ficasse indiferente a tudo. 
Seu diagnóstico apontou o autoritarismo, a ausência de uma ética do trabalho, o gosto pelo ócio como traços do caráter ibérico presentes no brasileiro e que se traduzem naquilo que aponta como nossa reduzida capacidade de organização social, a inclinação à anarquia e à desordem.
O “Brasileiro Cordial”
"No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgico, mas em certos momentos, de repente, pode irromper brutalmente.” (Trechos de entrevista "A Democracia é difícil"- Revista Veja, 28/01/1976) 
É necessário que façamos uma revolução para darmos fim aos resquícios de nossa história colonial e começarmos a traçar uma história nossa, diferente e particular. O brasileiro cordial dificilmente chegará nessa “revolução”, que seria a salvação para a sociedade brasileira atual.
Concluindo Sérgio Buarque de Holanda
 Sérgio Buarque de Holanda procurou tornar o país mais inteligível aos próprios brasileiros. Seu interesse oscilou entre a literatura e a história, sempre abordadas através da sociologia, especialmente a de Max Weber. 
É considerado um dos mais eminentes intelectuais brasileiros do século XX.
OS DONOS DO PODER
Raymundo Faoro
Visão Geral da Obra
Ensaio fundamental, acadêmico, para a compreensão da formação social e política brasileira. 
Partindo das origens portuguesas de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente. 
Sua análise abarca o longo período que vai da
Revolução Portuguesa do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil.
A Formação do Patronato Político Brasileiro
Com visão suportada na linha weberiana, sua história se constitui a partir do enfoque em que privilegia o estamento burocrático na sequência da História do Brasil, estamento esse responsável pela montagem e persistência de instituições anacrônicas, frustradoras de secessões que poderiam conduzir a “emancipação política e cultural. 
O Estamento
É uma comunidade inativa, sem vivacidade; seus membros pensam e agem conscientes de pertencer a um mesmo grupo, a um círculo qualificado para o exercício do poder.
Ao contrário de classe social, o estamento é mais fechado e não privilegia a igualdade entre as pessoas – o estamento é um grupo de membros cuja o comportamento e os interesses se baseiam na desigualdade social.
O estamento burocrático comanda o ramo civil e militar da administração e, dessa base, com aparelhamento próprio, invade e dirige a esfera econômica, política e financeira.
Visão Central de Faoro
O Estado no Brasil é onipresente e onipotente, desta forma há uma “Presença dominante do Estado em toda a vida brasileira”, tendo o particularismo e/ou privatismo como ação que predomina na formação histórica do Brasil.
A Colonização
Para Faoro, a colonização do Brasil foi realizada pela Coroa Portuguesa “através de comerciantes e agentes do capital, cooptados pelo governo e que constituem o grupo dominante – o estamento burocrático”.
A Vinda da Corte
A Corte Portuguesa foi transferida para o Brasil em 1808, e é neste momento que se consolida o estamento burocrático; uma estrutura administrativa obsoleta e inoperante que vai ser mantida com a Independência.
A Independência não extinguiu o regime colonial que apenas se modernizou. Permaneceu o “divórcio entre o Estado monumental, aparatoso, pesado e a nação, informe, indefinida, inquieta”.
O Capítulo Final
A Viagem Redonda: do Patrimonialismo ao Estamento
“De D. João I a Getúlio Vargas, numa viagem de seis séculos, uma estrutura político-social resistiu a todas as transformações fundamentais, aos desafios mais profundos, à travessia do oceano largo”.
Com esta afirmação, Faoro afirma que da época de D. João I até Getúlio Vargas, as raízes portuguesas são reforçadas na formação política do Brasil.
Faoro assim conclui
“SOMOS HERDEIROS DE TRADIÇÕES PORTUGUESAS, LIMITADORAS DE MUDANÇAS.”
Universidade de Brasília
Teoria e Análise Crítica da Corrupção
Prof. Ricardo Caldas
Prof. Alexandre Gouveia
2014

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais