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50 Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 51 www.ulbra.br/ead TIPOS DE PESQUISAS Não existe uma classifi- cação universal e clássica para diferenciar os tipos de pesquisas. Nas pesquisas descriti- vas, o pesquisador deve em- preender significativo esfor- ço para observar o fenômeno pesquisado mantendo-se neutro, disciplinando sua imaginação, sua curiosidade e manter sua integridade in- telectual. O que leva o ser humano a pesquisar? Com este capítulo temos o objetivo de le-var o estudante a compreender que existe diferentes tipos de pesquisa, e conhecer as principais características, vantagens e limitações de cada tipo de pesquisa. O que leva o ser humano a pesqui- sar, a investigar a realidade nos mais diversos aspectos e dimensões é o in- teresse e a curiosidade. Existem formas di- ferentes para o pesquisador aprofundar-se em um estudo conforme o objeto e os obje- tivos (objeto é aquilo que está sendo estu- dado; objetivo é aonde se pretende chegar com aquele estudo). Por isso é natural que existam diversos tipos de pes- quisas.1 Não existe uma classi- ficação universal e clássi- ca a respeito dos diferentes tipos de pesquisas. Os au- tores não adotam um siste- ma único para relacionar os tipos de pesquisas. Por apresentar uma abordagem mais didática e com- pleta, optamos por adotar o sistema elaborado por Gil2, segundo o qual as pesquisas podem ser classificadas com base em seus objetivos ou com base em seus procedimentos técnicos. Classificação das pesquisas com base nos objetivos Com base em seus objetivos, uma pesqui-sa pode ser classificada como explorató-ria, descritivas ou explicativa. Pesquisas exploratórias Como o próprio nome anuncia, é o estudo que visa promover uma significativa interação, contextualização e atualização das idéias a res- peito do objeto de estudo, visando torná-lo mais compreensível. As pesquisas que se enquadram neste grupo são o estudo de caso e a pesquisa bibliográfica. Segundo Gil3 seu planejamento deve ser fle- xível para facilitar a análise dos “mais variados aspectos relativos ao fato estudado”. Normal- mente envolve atividades como o levantamento bibliográfico, entrevistas com especialistas e aná- lise de exemplos que estimulem a compreensão. Pesquisas descritivas As pesquisas descritivas buscam entender e explicar as relações sociais e culturais de uma determinada sociedade, por isso são com mui- ta freqüência requeridas palas ciências sociais. Fig ur a 1 : A rq ui vo U lb ra Ea d Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 52 www.ulbra.br/ead Nestas pesquisas, normalmente, o pesquisador através da observação registra e analisa fenôme- nos, tendo o cuidado de não entrar no mérito do conteúdo em estudo, isso para evitar interferên- cias que possam vir a influenciar nos trabalhos de análise e comprometer os resultados da pes- quisa. Esse tipo de pesquisa, geralmente utili- za instrumentos e técnicas padronizadas para a coleta de dados, principalmente: questionários e observação sistemática. Entre os objetivos mais freqüentes desse tipo de pesquisa, conforme esclarece Gil4, podemos apontar aqueles cujo propósito seja: a. estudar as características de um deter- minado grupo; b. estudar o nível de atendimento dos ór- gãos públicos; c. estudar as condições de habitação de determinado grupo; d. estudar atividades e crenças populares; e. levantar as opiniões de uma população; ou f. estudar os níveis de rendimento de es- colaridade etc. Pesquisas explicativas As pesquisas explicativas, geralmente, se aprofundam mais que as pesquisa exploratórias e descritivas em busca de se desvendar a realidade. Afinal, buscam determinar causas ou situações que contribuem para que certos fenômenos ocor- ram. Apresentam acentuada tendência de vínculo com as ciências naturais de caráter experimental, bem como com as investigações de pesquisas de ex-post facto. Classificação das pesquisas com base nos procedimentos técnicos Com base nos procedimentos técnicos utilizados uma pesquisa pode ser: bi-bliográfica, documental, experimental, ex-post facto, estudo de certo, levantamento, es- tudo de campo, estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa participante e pesquisa de opinião. Pesquisa bibliográfica A principal atividade que envolve a pesquisa bibliográfica é a leitura de textos, preferencial- mente textos de cunho científico. Concomitante- mente às leituras operam-se as devidas análises e interpretações. A pesquisa bibliográfica requer a leitura organizada e sistemática dos textos. Pos- síveis métodos implicam em fazer anotações, elaborar fichas de leitura ou resumos ou, ainda, fluxogramas dos textos lidos. Esses procedimen- tos poderão ser úteis na fundamentação teórica da pesquisa. A pesquisa bibliográfica requer significativo volume de leituras e pressupõe a utilização de fun- damentação teórica renomada. Fig ur a 2 : S to ck .X ch ng ® 52 Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 53 www.ulbra.br/ead Na pesquisa documental utiliza-se ma- teriais que ainda não receberam um estudo analítico ou interpretativo. Assim, a pesquisa bibliográfica sempre se mantém presente em outros tipos de pesquisa, uma vez que é utilizada para o suporte teórico de qualquer estudo. Antes da leitura, deve-se sub- meter os textos a uma triagem para, a partir daí, estabelecer um plano de leitura. Cumpre frisar que este tipo de pesquisa é realizado a partir de material já elaborado e, pre- ferencialmente, deve fundamentar-se em obras originais. A leitura dos originais é de imperiosa importância, pois as traduções nem sempre cor- respondem à integra dos originais. É importante salientar que toda pesquisa científica, mesmo a bibliográfica, deve ser pla- nejada. E no seu planejamento e execução, a pesquisa bibliográfica requer, entre outros, os seguintes procedimentos: a. definição do tema e problematizaç3ão do mesmo; b. estabelecer os objetivos; c. identificação das fontes de informação, tais como livros, periódicos etc.; d. localização e obtenção das fontes em bibliotecas, livrarias, museus, arquivos etc.; e. leitura e análise dos textos seleciona- dos; e f. no final, a redação do relatório de pes- quisa, ou seja, a comunicação dos re- sultados. Pesquisa documental A pesquisa documental diferencia-se da pesquisa bibliográfica pela natureza das fontes, pois utiliza materiais que ainda não receberam um estudo analítico ou interpretativo5, ou seja, documentos ou objetos de primeira mão, entre os quais podemos mencionar: documentos oficiais, cartas, contratos, atas, reportagens, filmes, fo- tografias, diários, desenhos, relatórios técnicos, pinturas, músicas, objetos de arte, indumentárias etc. Via de regra, esses documentos ou objetos são encontrados em arquivos de órgãos públicos ou em instituições privadas (associações, cartó- rios, igrejas, sindicatos, partidos políticos etc.). A principal vantagem da pesquisa docu- mental é de que os documentos nela trabalhados, normalmente “constituem fonte rica e estável de dados. Como os documentos subsistem ao lon- go do tempo, tornam-se a mais importante fon- te de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica”6. Alguns autores chamam a atenção para o cuidado que se deve ter em relação à pesquisa documental, sobretudo no que se refere à subje- tividade que, em certo grau, caracteriza determi- nados documentos, o que pode torná-los pouco representativos e, conseqüentemente, compro- meter os resultados da pesquisa. Pesquisa experimental De acordo com Gil7, a pesquisa experimen- tal consiste essencialmenteem determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis capazes de influenciá-lo e definir as for- mas de controle e de observação dos efei- tos que a variável produz no objeto. Trata- se, portanto, de uma pesquisa em que o pesquisador é um agente ativo, e não um observador passivo. A pesquisa experimental está significati- vamente relacionada às ciências naturais e, com certeza, o método experimental foi o principal responsável por grandes avanços científicos. Tal- Fig ur a 3 : S to ck .X ch ng ® Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 54 www.ulbra.br/ead vez por isso, muitas pessoas são levadas a uma concepção errônea, de que a experimentação fica restrita ao âmbito laboratorial, quando na verda- de, sabemos que ela pode ser executada em di- ferentes situações e lugares. Basta lembrar, por exemplo, a psicologia comportamentalista que se utiliza muito de estudos experimentais. Evi- dentemente a pesquisa experimental exige o uso de técnicas e instrumentos que possam viabilizar resultados sólidos. Em função disso o pesquisa- dor experimental trabalha com manipulação, ob- servação e controle direto sobre os elementos em experimentação. Uma das principais características do estu- do experimental é que um experimento pode ser processado de diversas formas, bem como apre- senta condições de ser repetido, uma vez que se tenha pretensão de encontrar o mesmo resultado. Por isso, a pesquisa experimental geralmente en- volve análises estatísticas. O processo de experimentação pode ser re- presentado esquematicamente, ou seja, se X é o objeto estudado, mas que em situações não expe- rimentais acusa os elementos W, Y, Z e H, mas: W, Y e Z -> conduzem a produção de X; W, Y e H -> não conduzem a produção de X; Y, Z e H -> conduzem a produção de X; Logo, conclui-se que o elemento Z é condi- ção essencial na produção de X. Silva8 nos fornece um belo exemplo de situ- ação em que pode ocorrer uma pesquisa experi- mental: Em uma pesquisa sobre o comportamento dos funcionários da produção de uma fá- brica, o objeto de estudo é o comportamen- to dos funcionários da produção daquela fábrica. Se pretende-se fazer uma pesquisa experimental, é preciso interferir na reali- dade daqueles funcionários, por exemplo, mudando ou invertendo as posições das máquinas com as quais trabalham ou ma- nipulando a temperatura ambiente, ou mu- dando seus horários de intervalo, enfim, será verificado o que acontece quando se modifica alguma coisa, quando se manipu- la as variáveis. As vantagens da pesquisa experimental são muitas, em função do seu elevado grau de clareza, precisão e objetividade nos resultados. Enquanto que sua maior limitação reside na dificuldade em ser aplicada em fenômenos sociais. Pesquisa ex-post facto Esse tipo de pesquisa consiste no estudo sobre algo que já aconteceu, ou seja, sobre fe- nômenos ou fatos que ocorreram e causaram re- percussão significativa — tais como: catástrofes, atentados, epidemias e outros — e, logo após a ocorrência, deseja-se estudar e conhecer melhor tal acontecimento. Procura-se não só determinar como é o fenômeno, mas principalmente, de que maneira e por que ocorreu. Em muitos casos na busca das causas do fe- nômeno, o pesquisador pode trabalhar com es- tudos experimentais. Nestes casos, trabalha-se com o controle de variáveis, mesmo que a expe- rimentação seja processada depois que os fatos aconteceram. A pesquisa ex-post facto é de grande utili- dade para as ciências sociais, pois presta-se para investigar casos de crises econômicas, atos de Pesquisa em Laboratório. Um incêndio de proporções catastróficas torna-se objeto de investigação para pesquisas de ex-post-facto. Fig ur a 4 : S to ck .X ch ng ® Fig ur a 5 : S to ck .X ch ng ® 54 Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 55 www.ulbra.br/ead Na pesquisa de coorte trabalha-se com dois grupos, um será o grupo de expe- riências e outro será o grupo de controle. Na pesquisa de levantamento a investigação é feita diretamente com as pessoas cujo comporta- mento se deseja conhecer. violência, por exemplo: violência nas escolas, violências nos esportes etc. Estudo de coorte Estudo de coorte é um tipo de pesquisa lar- gamente utilizado em estudos que envolvem os conhecimentos na área das ciências da saúde. Estudo de coorte refere-se a um grupo de pessoas que têm alguma característica comum, constituindo uma amostra a ser acompanhada por certo período de tempo, para se observar e analisar o que acontece com elas.9 Na pesquisa de coorte trabalha-se com dois grupos, um será o grupo de experiências e outro será o grupo de controle. Por exemplo, em um hospital pretende-se investigar se jogos lúdicos, brincadeiras e recreação auxiliam a recupera- ção de crianças internadas. Então, forma-se dois grupos de crianças internadas: para o primeiro grupo serão propiciados momentos de jogos lú- dicos, brincadeiras e recreação; enquanto que para o outro não serão fornecidas tais atividades. Assim, a partir de um planejamento sistematiza- do e com método adequado faz-se a compara- ção da evolução do quadro clínico das crianças, podendo-se, a partir disso, extrair as devidas conclusões. As limitações mais freqüentes com as pes- quisas de coorte, segundo Gil10, “referem-se à não-utilização do critério de aleatoriedade na formação dos grupos de participantes. Outra li- mitação manifesta-se em estudos onde a amostra necessita ser muito grande, isso faz com que a pesquisa se torne muito onerosa”. Pesquisa de levantamento A principal característica desse tipo de pes- quisa é a busca por conhecer aspectos importan- tes do comportamento humano. Segundo Gil11, As pesquisas de levantamento caracteri- zam-se pela investigação direta das pesso- as cujo comportamento se deseja conhe- cer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quan- titativa, obterem-se as conclusões corres- pondentes aos dados coletados. Portanto, as conclusões extraídas a partir de uma amostragem selecionada do universo em estudo, serão projetadas para a totalidade desse universo. Nos casos em que o levantamento é realizado recolhendo informações diretamente com todos os elementos do universo pesquisado, então temos um censo. Entre as principais vantagens da pesquisa de levantamento, Gil12 aponta o conhecimento direto da realidade estudada; a quantificação — isto é, a possibilidade de quantificar variáveis e analisar os dados estatisticamente —, bem como a economia e rapidez para levantar os dados da pesquisa. Já uma das limitações do levantamento é Fig ur a 6 : S to ck .X ch ng ® Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 56 www.ulbra.br/ead quando o pesquisador se prende demasiadamente aos aspectos quantitativos e, conseqüentemente, deixa a desejar na fundamentação teórica — cujo objetivo é justificar a realidade analisada. Estudo de campo O estudo de campo se originou no campo da Antropologia, mas nos dias atuais é utilizado por vários ramos das ciências. Ele apresenta muitas semelhanças com o levantamento. Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é necessaria- mente geográfica, já que pode ser uma co- munidade de trabalhos, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente, a pesquisa é desen- volvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entre- vistas com informantes para captar suas explicações e interpretaçõesdo que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geral- mente conjugados com muitos outros, tais como a análise de documentos, filmagem e fotografias. No estudo de campo, o pes- quisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatiza importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estu- do. Também se exige do pesquisador que permaneça o maior tempo possível na co- munidade, pois somente com essa imersão na realidade é que se podem entender as regras, os costumes e a convenções que re- A Pesquisa-ação caracteriza-se pela interação entre pesquisadores e os membros das situações in- vestigadas. No estudo de campo o próprio pesquisador tem experiência direta com o objeto de estudo. gem o grupo estudado.13 Na pesquisa de campo deve-se efetuar a ob- servação dos fatos e fenômenos de maneira real, isto é, como eles acontecem na realidade. A cole- ta e análise dos dados deve ser feita baseando-se em um referencial teórico consistente, visando uma interpretação com maior fidelidade do pro- blema ou fenômeno pesquisado. Estudo de caso Aqui o próprio nome já diz muito, isto é, o estudo de caso envolve-se em situações especí- ficas, pois se estuda um único caso. Investiga-se circunstâncias muito peculiares, tais como: pro- blemas de evasão escolar em uma determinada escola, incidência de infecção hospitalar em um determinado hospital. Portanto, estuda-se, de modo profundo e exaustivo, realidades que exi- gem em entendimento de caso com exclusivida- de, em busca de um esclarecimento detalhado. No estudo de caso, os resultados terão vali- dade apenas para o caso que se está pesquisando, isto é, não pode-se generalizar os resultados ob- tidos de uma pesquisa realizada em uma escola, para outras escolas. Pesquisa-ação Esse tipo de pesquisa exige um significativo engajamento e mútua participação entre o pes- quisador e os pesquisados. Por isso é muito uti- Fig ur a 7 : S to ck .X ch ng ® Fig ur a 8 : S to ck .X ch ng ® 56 Ti po s d e pe sq ui sa Instrumentalização Científica 57 www.ulbra.br/ead lizada a serviço das classes populares, onde os pesquisadores exercem um papel ativo na busca de soluções de problemas que se revelam no ob- jeto de estudo. É um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita as- sociação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pes- quisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvi- dos de modo cooperativo ou participativo.14 Na pesquisa-ação o pesquisador deve ter es- pecial cuidado para não deslizar para aspectos subjetivos em prejuízo da objetividade compro- metendo os resultados da pesquisa. 1 SILVA, 2005, p. 49. 2 GIL, 2007, p. 41-56. 3 Ibid., p. 41. 4 Ibid., p. 42. 5 Ibid., p. 45. 6 Ibid., p. 46 7 Ibid., p. 48 8 SILVA, 2005, p. 51. 9 GIL, 2007, p. 50. 10 Id. 11 GIL, 2007, p. 50-51. 12 Ibid., p. 51. 13 GIL, 2007, p. 53. 14 THIOLLENT, 1985, p. 14, citado por GIL, 2007, p. 55. 15 SILVA, 2005, p. 51. Pesquisa de opinião Tomando-se como exemplo as pesquisas de intenção de voto, que ocorrem em época de cam- panha eleitoral, uma pesquisa de opinião “pro- cura identificar atitudes, pontos de vista e prefe- rências que as pessoas têm a respeito de algum assunto, com o objetivo de tomar decisões” 15. Além disso, cumpre acrescentar que esse tipo de pesquisa presta-se ao levantamento de dados e informações detalhados sobre uma determinada realidade ou circunstância, tomando-se para tan- to, a opinião de um grupo de pessoas. Com isso, normalmente deseja-se descobrir tendências, re- conhecer interesses, entre outros aspectos.
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