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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO MÓDULO: NOVAS FRONTEIRAS DO DIREITO DO TRABALHO Professor: Bento Herculano. 1. Material pré-aula a. Tema Alteração do Contrato Individual de Trabalho. Jus Variandi e Jus Resistentiae. Transferência de Empregados. b. Noções Gerais b.1. Alteração do Contrato Individual de Trabalho. O ínclito Mauricio Godinho Delgado1 leciona que a formação do contrato leva ao estabelecimento de um diversificado número de cláusulas contratuais aplicáveis às partes. É verdade que grande parte dessas cláusulas consiste em mera incorporação de preceitos normativos obrigatórios oriundos da normatividade heterônoma estatal ou autônoma negociada, como característico ao Direito do Trabalho. (conteúdo imperativo mínimo do contrato). Mas há também, em contrapartida, uma larga dimensão de cláusulas que se estabelecem a partir do simples exercício da vontade privada, em especial o empregador. Entre estas últimas, citam-se, ilustrativamente, cláusulas referentes à função contratual, à modalidade de pagamento de salários e ao montante salarial (respeitado, neste caso, o mínimo obrigatório), ao montante da jornada (respeitado o parâmetro obrigatório), à distribuição do horário de trabalho, à ambientação de realização de serviços, e inúmeras outras cláusulas cotidianamente criadas no âmbito empregatício. O contrato de trabalho, por representar uma relação jurídica de trato sucessivo, pode sofrer alterações nas condições avençadas durante a sua execução, desde que presentes certos requisitos de 1 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.123. validade2. O tema “alteração contratual”, está regulado no Título IV da CLT que dispõe sobre o contrato individual do trabalho, mais especificamente no Capítulo III “Da alteração”, regulado pelos artigos 468 a 470 da CLT. Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Parágrafo único - Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança. Art. 469 - Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio. § 1º - Não estão compreendidos na proibição deste artigo: os empregados que exerçam cargo de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço. § 2º - É licita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado. § 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação. Art. 470 - As despesas resultantes da transferência correrão por conta do empregador. Com a simples leitura do texto legal podemos observar que o art. 468 da CLT prestigiou o princípio da inalterabilidade contratual prejudicial ao trabalhador, sendo inadmissível que a alteração do 2 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 9º ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, 557. contrato importe ao empregado prejuízos diretos ou indiretos, mesmo que o trabalhador concorde com a alteração do contrato de emprego, se for prejudicial não será admitido. O artigo ora estudado impõe dois requisitos para que a alteração contratual seja válida, quais sejam: 1) que haja mútuo consentimento; e 2) que não resulte prejuízo direto ou indireto ao empregado, ou seja, financeiro ou moral. Nos respeitáveis dizeres do eminente Delgado3 “os contratos, de maneira geral, podem alterar-se subjetiva ou objetivamente. Alterações contratuais subjetivas são aquelas que atingem os sujeitos contratuais, substituindo-os ao longo do desenrolar do contrato. Alterações contratuais objetivas são aquelas que atingem as cláusulas do contrato (o Conteúdo contratual), alterando tais cláusulas ao longo do desenvolvimento do pacto.” DELGADO4 apresenta a diferença entre as alterações objetivas e subjetivas. As alterações subjetivas (atingindo, pois, as partes contratuais), restringem-se apenas ao polo passivo da relação de emprego — o empregador —, através da sucessão trabalhista. Alterações objetivas, como visto, são aquelas que abrangem cláusulas contratuais ou circunstanciais envolventes à efetiva execução do contrato. Afetam, pois, o conteúdo do contrato de trabalho. No tocante aos regulamentos empresariais, o renomado jurista Luciano Martinez5 aduz que a jurisprudência dominante reforça a ideia de que cláusulas revogadoras ou modificadoras de vantagens anteriormente deferidas somente atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do referido regulamento. Esse efeito, porém, será diverso se o empregador oferecer ao empregado, individualmente, a alternativa de submeter-se a novo regulamento. 3 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.124. 4 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.124/1.125. 5 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 527. Nesse caso, havendo a coexistência de dois regulamentos na mesma empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. Veja a jurisprudência cristalizada: Súmula nº 51 do TST NORMA REGULAMENTAR. VANTAGENS E OPÇÃO PELO NOVO REGULAMENTO. ART. 468 DA CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 I - As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento. (ex-Súmula nº 51 - RA 41/1973, DJ 14.06.1973) II - Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro. (ex-OJ nº 163 da SBDI-1 - inserida em 26.03.1999) MARTINEZ6 apresenta dois detalhes importantes que devem ser observados no tocante à súmula acima expendida: 1ª) A regra da inalterabilidade prevista no item I aplica-se apenas às cláusulas contratuais individuais, não atingindo as cláusulas contratuais coletivas. Estas podem revogar ou alterar vantagens deferidas anteriormente, uma vez que estão submetidas a um sistema contratual diferenciada, no qual as partes contratantes (de um lado a entidade sindical operária e de outro a empresa, empresas ou entidade sindical patronal) estão num plano de igualdade.Assim, se um trabalhador receber anuênio (1% a cada ano trabalhado) na forma de norma coletiva vigente em determinado período, poderá, numa próxima edição dessa norma coletiva, passar a receber triênio (3% a cada três anos trabalhados). Interessante observar que, apesar de aparente prejuízo para os trabalhadores, a confecção de normas coletivas substituintes sempre gozará de presunção de melhoria, haja vista a inevidência das cláusulas compensatórias. Em outras 6 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 527. palavras: na negociação coletiva uma aparente perda pode significar um ganho real ou o acréscimo de garantia ou, ainda, o afastamento de um mal mais grave. 2ª) O TST deixou clara sua escolha pelo conglobamento como método de determinação da fonte mais favorável. Isso se revela evidente na medida em que a opção por um sistema jurídico exclui, em seu conjunto, o sistema jurídico paralelo. Há, porém, forte inclinação jurisprudencial pela variável mitigada conhecida como conglobamento por institutos, que, aliás, foi adotada expressamente pelo legislador nas Leis n. 7.064/1982 (art. 3º, II) e n. 11.962/2009. Diante do quanto acima expendido, o Jurista 7 aduz que entende-se por alteração do contrato de emprego toda criação, modificação, transformação ou extinção, por conta de uma específica e bem delineada necessidade, daquilo que foi previamente ajustado com o objetivo de adequar os interesses do empregador ou do empregado a uma nova realidade. Délio Maranhão, citado pelo Desembargador Carlos Henrique Bezerra Leite8, classifica as alterações das condições de trabalho: 1) Quanto à origem: a) Obrigatórias: São as que resultam, imperativamente, de lei ou de norma a esta equiparada (convenção coletiva ou sentença normativa). b) Voluntárias: São as que decorrem da vontade das partes, sendo que estas se subdividem em unilaterais (exceção) ou bilaterais (regra). 2) Quanto ao objeto: a) Qualificativas: São as que dizem respeito à natureza do trabalho e à qualificação profissional do empregado. Ocorre a alteração qualitative quando um empregado deixa de realizar determinados atos de trabalho, para os quais for a contratado, e passa a realizar outros diversos daqueles. Ex.: contador que recebe ordens para varrer ou o varredor que recebe ordens para fazer a contabilidade da empresa. 7 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 528. 8 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 469/470. b) Quantificativas: São as alterações contratuais referentes ao aumento ou redução do trabalho ou do quantum do salário. Ex.: o digitador que digitava, em média, trinta páginas em oito horas por dia e o empregador passa a exigir-lhe que digite noventa, mantendo o mesmo salário. c) Circunstanciais: As alterações se relacionam com o local de trabalho, como transferência do trabalhador para localidade diversa da prevista no contrato de trabalho (CLT, art. 469). 3) Quanto aos efeitos: As alterações podem ser favoráveis ou prejudiciais ao empregado. Valentin Carrion apud LEITE, sustenta que as alterações podem ser funcional, salarial, de jornada e de lugar. A primeira, referente à função, pode ser modificada em três sentidos: a) ascendente (promoção); b) descendente (rebaixamento ou retorno); c) horizontal, que é a mudança de cargo, dentro do mesmo nível hierárquico. A segunda, respeitante ao salário, encontra resistência nos princípios da irredutibilidade e da proibição da retenção (dolosa) salarial. A terceira concernente ao local de prestação de serviço (transferência). b.2. Jus Variandi e Jus Resistentiae. Sobre o tema, o douto Delgado9 preleciona em sua obra que três diretrizes justrabalhistas aplicam-se à dinâmica das alterações objetivas do contrato: princípio da inalterabilidade contratual lesiva; princípio do direito de resistência do obreiro (jus resistentiae); e princípio do jus variandi empresarial. O ilustre Jurista10 assevera que o princípio da inalterabilidade dos contratos sofreu forte e complexa adequação ao entrar no Direito do trabalho — tanto que passou a se melhor enunciar, aqui, através de uma diretriz específica, a da inalterabilidade contratual lesiva. Primeiro porque as alterações favoráveis ao empregado tendem 9 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.128. 10 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.129. a ser permitidas, segundo o art. 468, da CLT; segundo porque, se desfavoraveis ao trabalhador, as alterações a inalterabilidade torna-se contraposta e a tendência é ser vedadas pelas normas justrabalhistas, conforme os arts. 444 e 468, da CLT; terceiro porque a atenuação civilista da formula rebus sic stantibus (atenuação muito importante no Direito Civil) tende a ser genericamente rejeitada pelo Direito do Trabalho11. Nesse diapasão, o eminente Gustavo Filipe Barbosa Garcia12 leciona que o jus variandi decorre do poder de direção do empregador. Assim, o titular do jus variandi é o empregador, que o exercê em face do empregado, unilateralmente, ao estabelecer certas modificações quanto à prestação do serviço. (ENGEL apud GARCIA, 2015) Havendo o abuso no seu exercício, o empregado pode se opor, valendo-se do chamado direito de resistência. O jus variandi é corolário do poder diretivo, concentrado no empregador no contexto da relação de emprego, configurando-se, ao mesmo tempo, como concretização desse poder diretivo (caput do art. 2º da CLT: o empregador dirige a prestação de serviços)13. VIANA citado por DELGADO 14 , classifica jus variandi em ordinário e extraordinário, conforme objeto de sua atuação, abaixo apresentado: O jus variandi ordinário concerne à alteração unilateral de aspectos da prestação laborativas não regulados quer por norma jurídica heterônoma ou autônoma, quer pelas cláusulas do respectivo contrato de trabalho. Pelo jus variandi ordinário, de maneira geral, ajustam-se, modulam- se, ou se alteram aspectos não essenciais da relação entre as partes. Contudo, tais aspectos seguramente têm importância instrumental à dinâmica e evolução empresariais. (VIANA apud DELGADO, 2015) 11 Idem. 12 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 9º ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, 560. 13 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.132. 14 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.133. O jus variandi extraordinário, concerne à alteração unilateral de cláusulas do contrato de trabalho, provisoriamente ou não, em situações genéricas ou especificamente autorizadas pela ordem judicial heterônoma ou autônoma trabalhista. Atua em campo e matérias previamente reguladas pelo contrato ou norma jurídica. Como exemplo do jus variandi, temos o art. 468, parágrafo único, da CLT, que permite que o empregador, no exercício do jus variandi, determine que o empregado deixe cargo de confiança, voltando a ocupar o cargo anterior,não sendo considerada alteração ilícita. Porém, continuará a receber a gratificação de função se percebia esta por 10 anos ou mais, conforme inteligência da Súmula 372 do TST. Importante apresentar o teor da Súmula 372 do TST, in verbis: Súmula nº 372 do TST GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. SUPRESSÃO OU REDUÇÃO. LIMITES (conversão das Orientações Jurisprudenciais nos 45 e 303 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 I - Percebida a gratificação de função por dez ou mais anos pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo, revertê- lo a seu cargo efetivo, não poderá retirar-lhe a gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade financeira. (ex-OJ nº 45 da SBDI-1 - inserida em 25.11.1996) II - Mantido o empregado no exercício da função comissionada, não pode o empregador reduzir o valor da gratificação. (ex-OJ nº 303 da SBDI-1 - DJ 11.08.2003) O princípio do jus resistentiae é a prerrogativa de o empregado opor-se, validamente, a determinações ilícitas oriundas do empregador no context da prestação laborativa15. Assim, se o empregador abusar do exercício do jus variandi, o empregado poderá opor-se às modificações implementadas pelo empregador, podendo ingressar com pedido de rescisão indireta na Justiça do Trabalho, conforme o art. 483, da CLT. 15 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ª ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 1.131. A brilhante Vólia Bomfim Cassar16 assevera que toda vez que o patrão exceder os limites do poder de variar, abusando deste direito, pode o empregado resistir ao ato arbitrária, protegendo-se. Exsurge- se daí o ius resistentiae. A Ministra explica ainda que a reação do empregado de resistir a uma alteração contratual abusiva, fora dos limites do ius variandi, está legitimada a partir da prejudicialidade do ato praticado. Toda e qualquer alteração contratual que importe em prejuízo para o empregado é nula de pleno direito, ressalvadas as hipóteses permitidas em lei — arts. 468, 469, 475 da CLT etc. b.3. Transferência de empregados. Conforme os arts. 469 e 470, da CLT: Art. 469 - Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio . § 1º - Não estão compreendidos na proibição deste artigo: os empregados que exerçam cargo de confiança e aqueles cujos contratos tenham como condição, implícita ou explícita, a transferência, quando esta decorra de real necessidade de serviço. § 2º - É licita a transferência quando ocorrer extinção do estabelecimento em que trabalhar o empregado. § 3º - Em caso de necessidade de serviço o empregador poderá transferir o empregado para localidade diversa da que resultar do contrato, não obstante as restrições do artigo anterior, mas, nesse caso, ficará obrigado a um pagamento suplementar, nunca inferior a 25% (vinte e cinco por cento) dos salários que o empregado percebia naquela localidade, enquanto durar essa situação. Art. 470 - As despesas resultantes da transferência correrão por conta do empregador. Essa transferência é a ocorrida no Brasil, constituindo alteração do local da prestação de serviços pelo empregado. As regras de transferência de trabalhadores contratados no Brasil ou transferidos para prestar serviços no exterior, estão estabelecidas na Lei 16 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 11ª ed. São Paulo: Gen Método, 2015, p. 1.000. 7.064/1982. Como podemos observar, só será vedada a transferência do empregado pelo empregador se não tiver a anuência do trabalhador. Se houver o consentimento do empregado a transferência será lícita. Os parágrafos do art. 469, da CLT, acima expostos, apresentam exceções, em que o empregador poderá transferir o empregado de forma unilateral. O Desembargador Sergio Pinto Martins 17 leciona que a transferência do empregado decorre do ius variandi do empregador, consistente no poder que este tem de fazer pequenas modificações no contrato de trabalho, em razão de suas peculiaridades. Assim, pode o empregador transferir o operário, se atendidas certas condições previstas em lei. MARTINS 18 aduz que a rigor, transferência poderia ser conceituada como o ato do empregador de modificar o local de trabalho do empregado, mudando-o de setor, de seção, de filial etc.; porém, não é esse o conceito da lei. A Lei nº 6.203/75, de 17/04/1975, deu nova redação aos arts. 469 e 470, acima apresentados, que tratam das condições para transferência do obreiro. Acrescentou também o inciso IX ao art. 659 da CLT, que versa sobre a medida liminar que pode ser concedida pelo juiz do trabalho, até decisão final em reclamação trabalhista, visando a impedir a transferência abusiva do trabalhador. c. Legislação CLT – art. 2; 468 a 470; 483; Lei – 6.203/1975; 7.064/1982; Súmulas do TST – 29; 372. OJ SBDI-1 do TST – 113; 232. d. Julgados/Informativos INFORMATIVO TST N.2: 17 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 31ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 367. 18 Idem. Adicional de transferência. Indevido. Ânimo definitivo. Período imprescrito. Contrariedade à Orientac ̧ão Jurisprudencial n.o 113 da SBDI-I. A transferência do empregado para localidade diversa da estipulada no pacto laboral, em que permanece, por largo período de tempo, até o fim do contrato, evidencia o ânimo de definitividade da alterac ̧ão e afasta, por consequência, o pagamento do adicional de transfere ̂ncia ao trabalhador. No caso dos autos, ressaltou-se ainda que, não obstante a ocorre ̂ncia de sucessivas transfere ̂ncias durante a contratualidade, apenas esta última, com durac ̧ão de nove anos, ocorreu no período imprescrito, afastando-se, portanto, seu caráter provisório. Com esse posicionamento, decidiu a SBDI-I, por maioria, vencidos os Ministros Augusto César Leite de Carvalho, relator, José Roberto Freire Pimenta, Renato de Lacerda Paiva, Horácio Raymundo de Senna Pires e Delaíde Miranda Arantes, conhecer dos embargos por contrariedade à Orientac ̧ão Jurisprudencial n.o 113 da Subsec ̧ão e, no mérito, dar-lhes provimento para excluir da condenac ̧ão o adicional de transfere ̂ncia. TST-E-ED-RR-1345800-08.2001.5.09.0015, SBDI-1, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, red. p/ acórdão Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, 15.3.2012. INFORMATIVO TST N.5: Adicional de transfere ̂ncia. Devido. Transfere ̂ncias sucessivas e de curta durac ̧ão. Alterac ̧ões sucessivas e de curta durac ̧ão do local de prestac ̧ão laboral configuram transfere ̂ncia provisória, ensejando o pagamento do adicional respectivo. Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, não conheceu do recurso de embargos, na hipótese em que restou consignada a ocorre ̂ncia de tre ̂s transfere ̂ncias no período de sete anos, cada uma delas de pouco mais de dois anos. Vencidos os Ministros Ives Gandra da Silva Martins Filho e Maria Cristina Irigoyen Peduzzi. TST- E-RR-804872-13.2001.5.09.0661, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corre ̂a, 12.4.2012. INFORMATIVO TST N. 18: Adicional de transferência. Indevido. Provisoriedade. Não configurac ̧ão. Permanência superior a dois anos em cada localidade. Na hipótese em que restou consignada a ocorre ̂ncia deduas transfere ̂ncias no período imprescrito de um contrato de quase dezoito anos, cada uma delas com durac ̧ão superior a dois anos, e, a última, para local onde se deu a extinc ̧ão do contrato de trabalho, não há que falar em provisoriedade apta a ensejar o pagamento do adicional de transfere ̂ncia, nos termos da Orientac ̧ão Jurisprudencial no 113 da SBDI-I. Assim, a referida Subsec ̧ão, por unanimidade, conheceu dos embargos, por diverge ̂ncia jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, deu-lhes provimento para excluir da condenac ̧ão o pagamento do adicional de transfere ̂ncia. Vencidos os Ministros Lelio Bentes Corre ̂a, Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Augusto César Leite de Carvalho, José Roberto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes. TST- E-RR-1988400-27.2003.5.09.0014, SBDI-I, rel. Min. Brito Pereira, 16.8.2012 INFORMATIVO TST N. 27: Adicional de transfere ̂ncia. Indevido. Mudanc ̧a única que perdurou por quase dois anos até a data da rescisão contratual. Caráter definitivo. Na hipótese em que o acórdão regional registra a existe ̂ncia de uma única transfere ̂ncia, que perdurou por quase dois anos até a data da rescisão contratual, resta demonstrado o caráter definitivo da mudanc ̧a e a consequente ause ̂ncia de direito ao adicional de transfere ̂ncia. Na espécie, não há falar em incidência da Orientac ̧ão Jurisprudencial no 113 da SBDI-I, porquanto o pressuposto apto a legitimar a percepc ̧ão do adicional em tela é apenas a mudanc ̧a provisória. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, não conheceu dos embargos. TST-E-ED-RR- 91700-30.2001.5.04.0020, SBDI-I, rel. Min. Delaíde Miranda Arantes, 25.10.2012 INFORMATIVO TST N. 51: Transfere ̂ncias sucessivas. Provisoriedade. Configurac ̧ão. Adicional de transfere ̂ncia. Devido. O empregado transferido sucessivamente tem direito ao recebimento do adicional de transfere ̂ncia porquanto configurada a transitoriedade dos deslocamentos, não importando o fato de ter retornado à cidade de sua contratac ̧ão ou mesmo que a última transfere ̂ncia tenha perdurado por mais de dois anos. Com esses fundamentos, e não divisando contrariedade à Orientac ̧ão Jurisprudencial no 113 da SBDI- I, a Subsec ̧ão, por unanimidade, não conheceu do recurso de embargos do reclamado. TST-E- ED-ED-RR-87100-24.2005.5.09.0072, SBDI-I, rel. Min. Dora Maria da Costa, 13.6.2013 INFORMATIVO TST N. 55: Deslocamentos sucessivos. Transfere ̂ncias provisórias. Caracterizac ̧ão. Adicional de transfere ̂ncia. Devido. Na hipótese em que o empregado foi admitido em Cascavel/PR no ano de 1984, transferido para São Jorge do Oeste/PR e para Corbélia/PR em 1995, voltou para Cascavel/PR em 1996 e foi transferido para Curitiba/PR em 2000, onde se manteve até a data da rescisão contratual (16/07/2003), resta caracterizado o caráter provisório dos deslocamentos, ante a ocorre ̂ncia de sucessividade, não importando o fato de a última transfere ̂ncia ter durado mais de dois anos. Assim, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos do reclamante, por diverge ̂ncia jurisprudencial, e, no mérito, por maioria, deu-lhes provimento para restabelecer a decisão do Regional quanto ao pagamento do adicional de transfere ̂ncia e reflexos. Vencidos os Ministros Renato de Lacerda Paiva, Brito Pereira, Aloysio Corre ̂a da Veiga e Dora Maria da Costa. TST-E-ED-RR-1545100- 89.2003.5.09.0011, SBDI-I, rel. Min. Lelio Bentes Corre ̂a, 15.8.2013 JULGADOS: TRT-12 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA RO 00003507920155120041 SC 0000350-79.2015.5.12.0041 (TRT-12) Data de publicação: 08/01/2016 Ementa: ALTERAÇÃO CONTRATUAL LESIVA. IMPOSSIBILIDADE. Nos termos do art. 468 da CLT , nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Encontrado em: SECRETARIA DA 2A TURMA 08/01/2016 - 8/1/2016 RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA RO 00003507920155120041 TRT-5 - Recurso Ordinário RecOrd 00003618320155050371 BA 0000361-83.2015.5.05.0371 (TRT-5) Data de publicação: 26/01/2016 Ementa: ADICIONAL DE TRANSFERÊNCIA. PROVISORIEDADE DA TRANSFERÊNCIA. ÔNUS DA PROVA. É do empregado o ônus de provar a transitoriedade da transferência, por ser fato constitutivo da pretensão relativa ao adicional previsto no art. 469, §3º, da CLT. Encontrado em: 1ª. TURMA DJ 26/01/2016. - 26/1/2016 Leoncio Silva Santana. Nelblu Confecções Limitada Recurso TRT-1 - RECURSO ORDINÁRIO RO 00112419020135010024 RJ (TRT-1) Data de publicação: 01/03/2016 Ementa: AERONAUTA - TRANSFERÊNCIA A PEDIDO DO AUTOR - AJUDA DE CUSTO Se foi o autor que requereu sua transferência, e esta foi aceita pela Ré, como o próprio autor informa, não se pode punir a Ré com seu próprio ato de liberalidade. Neste caso, o ato da Ré deve ser interpretado de forma restritiva. Caso contrário, ao condenar a Ré, estaríamos direcionando à empresa que não aceite mais pedidos de transferências de seus empregados. A norma do direito do trabalho deve, antes de tudo, regrar as relações de trabalho ainda em vigor, e as decisões da Justiça do Trabalho devem servir de parâmetro para os contratos ainda em vigor. A finalidade da Lei do Aeronauta é a de proteger a transferência forçada do empregado, não sendo o caso em tela. Encontrado em: Nona Turma 01/03/2016 - 1/3/2016 RECURSO ORDINÁRIO RO 00112419020135010024 RJ (TRT-1) RELATOR TRT-16 - 00075857720135160002 0007585- 77.2013.5.16.0002 (TRT-16) Data de publicação: 29/02/2016 Ementa: PROFESSOR. DIFERENÇAS SALARIAIS DEVIDAS. AULA PRÁTICA. HORA-AULA. PAGAMENTO INFERIOR AO DA HORA-AULA TEÓRICA. Faz jus a empregada professora às diferenças salariais pleiteadas, quando verificado que a remuneração da hora-aula prática, realizada em laboratório de curso de Ensino Superior, é inferior à da teórica. As aulas práticas são forma de aprendizado e fixação da matéria, abordando conteúdo relacionado ao Curso Superior respectivo, o que denota o seu caráter acadêmico, razão pela qual não podem ser remuneradas de forma inferior às aulas de caráter teórico. PROFESSOR. CONTRATO DE TRABALHO. ALTERAÇÃO UNILATERAL. REDUÇÃO DE JORNADA. ILICITUDE. A alteração contratual que traz prejuízos ao empregado professor, consistente na redução de carga horária e salário, tendo sido feita sem a homologação sindical, prevista em norma coletiva da categoria, deve ser reputada como unilateral e, portanto, ilícita. Encontrado em: 29/02/2016 - 29/2/2016 00075857720135160002 0007585-77.2013.5.16.0002 (TRT-16) MÁRCIA ANDREA FARIAS DA SILVA TRT-1 - RECURSO ORDINÁRIO RO 00105303020145010031 RJ (TRT-1) Data de publicação: 19/01/2016 Ementa: Nos termos do parágrafo único , do art. 456 da CLT , "...à falta de prova ou inexistindo cláusula expressa, entender-se-á que o empregado se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com a sua condição pessoal", e dentro de cada qualificação profissional, existe uma maior ou menor quantidade de funções DEFINIDAS que sejam com elas compatíveis, e no caso sub examen ocorre um caso típico de qualificação de contornos pouco precisos, não havendo de deferir-se a declaração sentencial pretendida, quando ínsita a determinação dentro dos limites do ius variandi do empregador. Encontrado em: Nona Turma 19/01/2016 - 19/1/2016 RECURSO ORDINÁRIO RO 00105303020145010031 RJ (TRT-1) RELATORe. Leitura sugerida - DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15ªed. São Paulo: LTr, 2016. -_______________. Jus Variandi e as alterações contratuais: limites jurídicos. In: Revista TST, Brasília, vol 66, nº 3, jul/set 2000. Disponível em: http://www.tst.gov.br/documents/1295387/1313077/08.+Jus+varian di+e+altera%C3%A7%C3%B5es+contratuais+- +limites+jur%C3%ADdicos?version=1.0 -_______________. Alterações Contratuais Trabalhistas. São Paulo: LTr, 2000. - _______________. Regência normativa da remoção de empregados brasileiros para o exterior. In: Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg. - Belo Horizonte, 32 (62): 197-204, jul./dez.2000. Disponível em http://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_62/Mauricio_Del gado.pdf - LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. - MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. f. Leitura complementar - BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. Curso de Direito do Trabalho. 10ª ed. São Paulo: LTr, 2016. - BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti. Transferência de empregados entre empresas distintas: possibilidade, utilidade e implicações de natureza contratual e sindical. In: Revista de Direito do Trabalho, n. 137, 2010. - CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 11ª ed. São Paulo: Gen Método, 2015. - CLT-LTr. 44ª ed. São Paulo: Editora LTr, 2015. - CLT Organizada. 7ª ed. São Paulo: Editora Ltr, 2015. - ENGEL, Ricardo José. O Jus variandi no contrato individual de trabalho: um estudo teórico – crítico em face de princípios gerais do direito aplicáveis ao direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2003. - GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. 9º ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. - _______________. CLT Comentada. 1ª ed. São Paulo: Gen Método, 2016. - _______________. Manual de Direito do Trabalho. 7ª ed. São Paulo: Método, 2015. - GONÇALVES, Simone Cruxên. Limites do Jus Variandi do Empregador. São Paulo: LTR, 1997. - JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2015. - MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015; - MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 31 ed. São Paulo: Atlas, 2015. - _______________. Alteração do Contrato de Trabalho. In: Jornal Carta Forense, quarta-feira, 2 de dezembro de 2009. Disponível em: http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/alteracao-do- contrato-de-trabalho/5017 - _______________. Comentários à CLT. 19ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. - _______________. Comentários às Súmulas do TST. 15ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. - _______________. Comentários às Orientações Jurisprudenciais da SBDI. 6ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. - MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 22ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. - MEDINA, José Miguel Garcia. Constituição Federal Comentada. 3ª ed. São Paulo: Editora RT, 2015. - NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. 29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. - NERY JR. Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal Comentada e Legislação Constitucional. 5ª ed. São Paulo: Editora RT, 2015. - RESENDE, Aline de Sá. Jus variandi do empregador. In: Conteúdo Juridico, Brasilia-DF: 28 out. 2010. Disponível em: http://conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29485 - ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do Trabalho Esquematizado. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. - _______________. Alterações do Contrato de Trabalho. Função e Local. São Paulo: LTr, 2001. - SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de direito do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. - Vade Mecum RT. 12ª ed. São Paulo: Editora RT, 2016. - Vade Mecum Saraiva. 21ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016.
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