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Vanduir S. A. Filho Bioquímica do exercício João Pessoa, 2012 Ir para o índice Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 CARBOIDRATOS 1 CONCEITO Quimicamente, os carboidratos são aldeídos ou cetonas com pelo menos duas hidroxilas (poli- hidroxialdeídos ou poli-hidroxicetonas) que possuem na sua formula molecular um oxigênio e dois hidrogênios para cada átomo de carbono [CnH2nOn ou Cn(H2O)n], como se para cada átomo de carbono houvesse uma molécula de água. Compostos que sofrem hidrólise e originam compostos com estas características também são considerados carboidratos, também conhecidos como hidratos de carbono, glicídios, sacarídeos ou açúcares. Glicose Sorbitol Figura 1. Representações para a glicose que possui cinco hidroxilas (OH), um grupo aldeído e obedece a fórmula estrutural Cn(H2O)n. o amido e o glicogênio são considerados carboidratos por que quando hidrolisados liberam glicose. O sorbitol não é um carboidrato porque não possui grupo aldeído ou cetona nem obedece a fórmula CnH2nOn. O sorbitol ou glicitol [Figura 1] é um álcool de açúcar que o corpo humano metaboliza lentamente. Ele pode ser obtido por redução de glicose, pela conversão do grupo aldeído em um grupo hidroxila. O sorbitol, encontrado em maçãs, peras, pêssegos, e ameixas secas, é utilizado em larga escala como adoçante calórico. 2 MONOSSACARÍDEOS 2.1 CONCEITO São carboidratos que não podem ser hidrolisados a açúcares mais simples. 2.2 CLASSIFICAÇÃO GRUPO FUNCIONAL Os monossacarídeos podem ser classificados como aldoses (quando possuem grupo funcional aldeído) e cetoses (quando possuem grupo funcional cetona) [Figura 2]. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 Glicose (aldose) Frutose (cetose) Figura 2. A glicose é uma aldose porque possui grupo funcioanal aldeído (carbonila ligada a hidrogênio), enquanto a frutose é uma cetose porque possui grupo funcional cetona (carbonila ligada a dois carbonos). NÚMERO DE CARBONOS Os carboidratos são designados trioses (três carbonos), tetroses (quatro carbonos), pentoses (cinco carbonos), hexoses (seis carbonos) ou heptoses (sete carbonos), etc. Glicose Ribose Figura 3. A glicose é uma hexose porque tem seis carbonos enquanto a ribose é uma pentose porque tem cinco carbonos. ISÔMEROS D E L Os monossacarídeos podem ser classificados em isômeros D (hidroxila do último carbono assimétrico à direita) e L (hidroxila do último carbono assimétrico à esquerda). Os isômeros D e L são enanciômeros [Figura 4]. A maioria dos carboidratos presentes nos organismos vivos apresenta a configuração D. L-Galactose D-Galactose Figura 4. Isômeros D e L da galactose. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 2.3 ANÔMEROS Os monossacarídeos com mais de cinco átomos de carbono, quando dissolvidos em água, tendem a formar anéis heterocíclicos em um fenômeno conhecido como mutarrotação. Neste processo, o carbono 1 da glicose, o carbono da carbonila na cadeia aberta, passa a ser carbono assimétrico na cadeia fechada dando origem aos anômeros α e β [Figura 5], em consequência disto, são conhecidos como carbonos anoméricos. Cada molécula de glicose presente em nosso organismo, incluindo a utilizada como fonte de energia durante a atividade física, está em equilíbrio dinâmico: em 36,4% do tempo apresenta-se na forma α, em 0,003% do tempo apresenta-se na forma de cadeia aberta e em 63,6% do tempo apresenta-se na forma β. Figura 5. Mutarrotação para a glicose. A forma α apresenta-se com a hidroxila do carbono 1 para baixo e a forma β apesenta-se com a hidroxila do carbono 1 para cima. 3 DISSACARÍDEOS São compostos orgânicos constituídos por duas unidades de monossacarídeos unidos por uma ligação glicosídica. Quando dois monossacarídeos se unem para formar um dissacarídeo, uma molécula de água é perdida (síntese por desidratação ou condensação). Portanto, o dissacarídeo é o produto de condensação de dois monossacarídeos. MALTOSE É formada por duas moléculas de glicose interligadas por uma ligação α(14). A maltose é produzida como produto de digestão do amido e glicogênio. Apenas o segundo resíduo de glicose da maltose possui o carbono anomérico livre [Figura 6]. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a5 Figura 6. Estrutura da maltose. O primeiro resíduo de glicose da maltose fica na configuração α por casa da ligação com o segundo resíduo de glicose que permanece em equilíbrio dinâmico (α – cadeia aberta D – β). LACTOSE É formada por um resíduo de β-galactose e um de glicose unidos por uma ligação β(14). O resíduo de glicose da lactose possui o carbono anomérico livre. A lactose é encontrada naturalmente apenas no leite [Figura 7]. Figura 7. Estrutura da lactose. A galactose, que é o primeiro resíduo de monossacarídeoda lactose, fica na configuração β por casa da ligação com o segundo resíduo de glicose que permanece em equilíbrio dinâmico (α – cadeia aberta D – β). SACAROSE Produzida apenas por plantas, a sacarose é um dissacarídeo formado por glicose e frutose ligadas por uma ligação α(12)β. Na frutose o carbono que gera as formas α, cadeia aberta D e β é o carbono 2 (na glicose é o carbono 1). Ambos os carbonos anoméricos (da glicose e da frutose) estão comprometidos com a ligação, portanto o resíduo de glicose da sacarose está fixo na forma α enquanto o resíduo de frutose da sacarose está fixo na forma β [Figura 8]. Carboidratos que não apresentam carbono anomérico livre são classificados como não redutores, portanto, a maltose e a lactose são açúcares redutores enquanto a sacarose é açúcar não redutor. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a6 Figura 8. Estrutura da sacarose. O carbono anomérico da β-D-frutose está ligado ao carbono anomérico da α-D-glicose 4 POLISSACARÍDEOS Polissacarídeos, ou glicanos, são carboidratos que, por hidrólise, originam uma grande quantidade de monossacarídeos. São polímeros naturais. Desta forma, os polissacarídeos são macromoléculas produzidas pela união de muitos monossacarídeos. Estes compostos apresentam uma massa molecular muito elevada proporcional ao número de unidades de monossacarídeos que se unem. Podem ser hidrolisados em polissacarídeos menores, assim como em dissacarídeos ou monossacarídeos mediante a ação de determinadas enzimas. 4.1 POLISSACARÍDEOS DE RESERVA ENERGÉTICA A glicose, provedora de energia para os seres vivos, pode ser armazenada na forma de polissacarídeo nas plantas, a glicose é armazenada na forma de amido e, nos animais, na forma de glicogênio. AMIDO É um polissacarídeo, sintetizado pelos vegetais para ser utilizado como reserva energética. Sua função, portanto, é análoga ao do glicogênio nos animais. O grão de amido é uma mistura de dois polissacarídeos, amilose e amilopectina, polímeros da α-glicose. 1.1.1.1 AMILOSE Macromolécula com peso molecular de 150.000 a 600.000, que constitui cerca de 20% da composição do amido. A amilose é formada por resíduos de glicose unidos por ligações α(14) que conferem à molécula uma estrutura helicoidal [Figura 9]. sheila Realce sheila Realce Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a7 Figura 9. Estrutura helocoidal da amilose. 1.1.1.2 AMILOPECTINA Macromolécula, menos hidrossolúvel que a amilose, com peso molecular de até 1.000.000, constituída de resíduos de α-glicose unidos por ligações α(14), e α(16) nos pontos de ramificação. A amilopectina constitui, aproximadamente, 80% da composição do amido [Figura 10]. Figura 10. Estrutura da amilopectina. GLICOGÊNIO Localizado no interior das células animais, o glicogênio pode representar até 7% do peso úmido do fígado e é altamente hidratado por apresentar uma grande quantidade de grupos hidroxila expostos, formando pontes de hidrogênio com a água. O glicogênio é um polímero constituído por subunidades de glicose unidas por meio de ligações α(14), e α(16), nos pontos de ramificação, formando uma estrutura semelhante à amilopectina [Figura 11]. Figura 11. Ramificações do amido e glicogênio. O glicogênio apresenta ramificações a cada oito a doze unidades de glicose sendo mais ramificado que a amilopectina. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a8 POLISSACARÍDEOS ESTRUTURAIS Estes carboidratos participam na formação de estruturas orgânicas, estando entre os mais importantes a celulose, que participa na estrutura de sustentação dos vegetais. 1.1.1.3 CELULOSE Formada por resíduos de glicose unidos por ligações β(14) que lhe confere uma estrutura rígida, a celulose é um dos principais constituintes das paredes celulares das plantas (cerca de 33% do peso da planta) e possui peso molecular de até 500.000. Alguns animais, particularmente os ruminantes e cupins, podem digerir celulose com a ajuda de microrganismos simbióticos. Figura 12. Estrutura básica da celulose 1.1.1.4 QUITINA Polissacarídeo insolúvel formado por unidades de N-acetilglicosamina unidas por ligações β(1-4), a quitina é o principal constituinte dos exoequeletos dos artrópodes e está presente, com menor importância, em muitas outras espécies animais. É, também, o principal constituinte das paredes celulares de fungos. Figura 13. Estrutura básica da quitina. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a9 4.2 CARBOIDRATOS E ATIVIDADE FÍSICA MONOSSACARÍDEOS A glicose, também conhecida como dextrose, é comumente utilizada como suplemento alimentar durante a prática de atividade física com finalidade de evitar a fadiga muscular e melhorar o rendimento. Alguns estudos demonstram que o consumo de carboidrato é importante em atividades de endurance de alta intensidade e longa duração. O consumo de carboidratos durante o exercício é mais importante quando os níveis corporais de carboidratos estão reduzidos como no jejum ou em casos de restrição alimentar para perda de peso (JEUKENDRUP & MCLAUGHLIN, 2012). DISSACARÍDEOS Estudos demonstram que a maltose, a sacarose e a glicose parecem ter características semelhantes como suplemento alimentar para a atividade física (FOSTER-POWELL et al, 2002). DEGRADAÇÃO DO AMIDO E DO GLICOGÊNIO Existem dois mecanismos distintos para recuperação das moléculas de glicose presentes no amido e no glicogênio: • No organismo produtor, as enzimas que recuperam os resíduos de glicose do amido e do glicogênio, um a um, pelas extremidades que têm o carbono quatro livre. Neste mecanismo, o glicogênio é uma fonte mais rápida de glicose por ser mais ramificado. Durante a atividade física o glicogênio muscular serve como fonte de glicose para a contração do músculo esquelético. • Na digestão do amido e do glicogênio presentes no alimento as enzimas quebram as ligações internas dos resíduos de glicose gerando fragmentos curtos de polissacarídeos e oligossacarídeos. Neste mecanismo, não há distinção entre o glicogênio como fonte de glicose. sheila Realce sheila Realce sheila Realce Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 0 LIPÍDIOS 5 O QUE SÃO? São compostos orgânicos de natureza química variada, pouco solúveis em água (solventes polares) e solúveis em solventes apolares (acetona, benzeno, clorofórmio e éter dimetílico, entre outros). 6 ÁCIDOS GRAXOS Os ácidos graxos são ácidos monocarboxílicos de cadeia longa contendo de 4 a 36 carbonos. 6.1 ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS Não possuem duplas ligações entre seus carbonos [Figura 14]. O ponto de fusão dos ácidos graxos saturados aumenta com o aumento do número de carbonos [Figura 17]. Figura 14. Duas representações diferentes para o ácido dodecanóico (12:0 ou ácido láurico) com ponto de fusão (44 ºC), um ácido graxo saturado. 6.2 ÁCIDOS GRAXOS INSATURADOS São ácidos graxos que possuem duplas ligações entre seus carbonos. CIS A configuração cis significa que os átomos de hidrogênio dos carbonos da dupla ligação estão no mesmo lado ou no mesmo plano. A rigidez da ligação dupla congela sua conformação e, no caso do isômero cis, faz a cadeia de dobrar [Figura 15]. O ponto de fusão dos ácidos graxos que apresentam insaturação cis é menor que o dos saturados correspondentes [Figura 17]. Quanto maior o nº de duplas ligações (grau de insaturação) menor o ponto de fusão. As diferenças de geometria entre os diversos tipos de ácidos graxos insaturados, bem como entre os ácidos graxos saturados e insaturados, desempenham um papel importante nos processos biológicos, e na construção de estruturas biológicas como, por exemplo, as membranas celulares. Quanto mais rica em ácidos graxos insaturados for a membrana biológica mais fluida ela será, em contrapartida quanto mais rica em ácidos graxos saturados, mais rígida será a membrana. sheila Realce Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 1 Figura 15. Duas representações diferentes para o ácido oléico [18:1(cis∆9)], um ácido graxo com uma insaturação cis. TRANS A configuração trans, em contraste com a cis, significa que os dois átomos de hidrogênio adjacentes estão em lados opostos da dupla ligação, como resultado, a dupla ligação não causa a dobra na molécula do ácido graxo, e sua forma é semelhante à dos ácidos graxos saturados [Figura 16]. A maioria dos ácidos graxos com configuração trans (gorduras trans) não é encontrada na natureza e é o resultado do processamento humano (por exemplo, hidrogenação de ácidos graxos insaturados na produção de margarinas). Figura 16. Duas representações diferentes para o Ácido elaídico - 18:1(transΔ9), um ácido graxo trans. 6.3 PONTO DE FUSÃO O ponto de fusão dos ácidos graxos aumenta de maneira proporcional ao número de carbonos presentes na cadeia e diminui com o aumento do número de insaturações [Figura 17]. Ácido graxo Cadeia carbônica Ponto de fusão Ácido láurico Ácido mirístico Ácido palmítico Ácido esteárico Ácido araquídico Ácido palmitoléico Ácido oleico Ácido linoleico Ácido -linolênico Ácido araquidônico 12:0 14:0 16:0 18:0 20:0 16:1(Δ9) 18:1(Δ9) 18:2 (Δ9,12) 18:3 (Δ9,12,15) 20:4 (Δ5,8,11,14) 44,2°C 53,9°C 63,1°C 69,6°C 76,5°C 0,5-1°C 13,4°C 1-5°C -11°C -49,5°C Figura 17. Ponto de fusão de alguns ácidos graxos. 6.4 NOMENCLATURA NOMENCLATURA TRIVIAL OU COMUM A nomenclatura trivial ou não sistemática, que se fundamenta em nomes históricos, é o sistema mais frequente utilizado na literatura. Os ácidos graxos mais comuns, além do nome sistemático, têm nomes triviais, a nomenclatura trivial não segue qualquer padrão, mas, geralmente, não apresenta ambiguidade. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 2 NOMENCLATURA SIMPLIFICADA A nomenclatura simplificada especifica o número de carbonos e o número de duplas ligações separadas por dois pontos. Por exemplo, o ácido láurico que tem 12 carbonos e nenhuma dupla ligação é descrito como 12:0 [Figura 14], enquanto o ácido oleico que tem 18 carbonos e uma dupla ligação é descrito como 18:1 [Figura 15]. 1.1.1.5 SISTEMA Δ (DELTA) Pelo sistema Δ (delta), as duplas ligações são descritas pela classificação cis-trans seguida por números sobrescritos que seguem um delta (∆) que descrevem a posição de todas as duplas ligaçõespresentes na estrutura do ácido graxo. Por exemplo, o ácido α-linolênico [Figura 18] que tem 18 carbonos e três duplas ligações cis nos carbonos 9, 12 e 15 é descrito como 18:3 cisΔ9,12,15 ou 18:3 Δ9,12,15 . 1.1.1.6 SISTEMA Ω (ÔMEGA) Pelo sistema ω (ômega), apenas a última dupla ligação é descrita, em um sistema de contagem inverso a partir do ultimo carbono do ácido graxo (o carbono ω). As duplas ligações são descritas por números que seguem um ômega (ω) e descrevem a posição da dupla ligação mais próxima do grupo metil terminal. Por exemplo, o ácido α-linolênico [Figura 18] que tem 18 carbonos e três duplas ligações e apresenta uma dupla ligação no terceiro carbono que antecede o grupo metil terminal é descrito como 18:3 ω-3. 6.5 ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS São ácidos graxos que não podem ser sintetizados pelos mamíferos e, portanto, devem estar obrigatoriamente presentes na alimentação. Esses ácidos graxos foram originalmente designados como Vitamina F quando foram descobertos como nutrientes essenciais em 1923. Em 1930, Burr e Miller mostraram que eles seriam mais bem classificados como lipídios do que como vitaminas. Existem duas famílias de ácidos graxos essenciais os ω-3 (ômega-3) e os ω-6 (ômega-6). Os mamíferos podem converter, por exemplo, um ω-3 em outro ω-3 ou um ω-3 em um ω-6, mas não conseguem criar um ω-3 a partir, por exemplo, de um ácido graxo saturado. ÔMEGA-3 (Ω-3) Os ácidos graxos ω-3 têm em comum uma ligação dupla no terceiro carbono contando a partir do grupo metil terminal (ordem inversa de numeração) [Figura 18]. São essenciais porque os mamíferos não conseguem adicionar uma dupla Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 3 Figura 18. Duas representações diferentes para o Ácido α-linolênico - 18:3 cisΔ9,12,15 ou 18:3 ω-3, um ácido graxo ômega-3. ÔMEGA-6 (Ω-6) Os ácidos graxos ω-6 têm em comum uma ligação dupla no sexto carbono contando a partir do grupo metil terminal [Figura 19]. Figura 19. Duas representações diferentes para o Ácido linoléico - 18:2 cisΔ9,12 ou 18:2 ω-6, um ácido graxo ômega-6. 6.6 TRIGLICERÍDEOS OU TRIACILGLICERÓIS (TG) Os triglicerídeos (gorduras neutras) são compostos por três ácidos graxos ligados, por meio de ligações éster, ao glicerol. Os triglicerídeos podem ser simples ou mistos. Triglicerídeos simples são formados por um único ácido graxo [Figura 20], enquanto os triglicerídeos mistos são compostos por dois ou mais tipos de ácidos graxos esterificados com o glicerol. Os triglicerídeos são apolares, insolúveis em água, menos densos que a água e têm função de reserva energética e isolante térmico. Dois fatores são determinantes da eficiência dos triglicerídeos para a função de reserva energética: 1. Os triglicerídeos possuem mais energia interna do que os carboidratos, por exemplo, vinte quilos de gordura armazenada, nos adipócitos de uma pessoa moderadamente obesa, representa suprimento de energia suficiente para alguns meses; 2. Os triglicerídeos são hidrofóbicos e representam uma reserva ‘seca’ de energia que não requer água de hidratação, portanto, significativamente mais leve e ideal para organismo vivos comprometidos com o movimento. Figura 20. Trioleína, um triglicerídeo simples. 6.7 IMPORTÂNCIA CLÍNICA Os triglicerídeos constituem mais de 90% dos lipídios da dieta e 95% da gordura armazenada nos tecidos. A análise dos níveis séricos de triglicerídeos juntamente com o colesterol avalia risco de Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 4 aterosclerose coronariana e o metabolismo de lipídios. Níveis aumentados de triglicerídeos são observados nas seguintes condições: hiperlipoproteinemia (I, IIb, III, IV e V), hepatopatia, alcoolismo, doença renal, diabetes mellitus, pancreatite, anorexia nervosa, etc. Níveis diminuídos de triglicerídeos são raros. 6.8 FOSFOLIPÍDIOS São lipídios que têm como característica principal a presença de um grupo fosfato. GLICEROFOSFOLIPÍDIOS São onipresentes na natureza e porque são os componentes principais da bicamada lipídica da membrana celular. Os glicerofosfolipídios podem ser subdivididos em classes distintas, em função da natureza do polar na posição 3 do glicerol. Exemplos de glicerofosfolipídios encontrado em membranas biológicas são fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilserina [Figura 21]. Figura 21. Estrutura dos geral dos glicerofosfolipídios. X=álcool (etanolamina, colina, serina). Os glicerofosfolipídios, o segundo grupo mais abundante de lipídios de ocorrência natural, são encontrados quase exclusivamente nas membranas de plantas e animais, que tipicamente consistem de 40% - 50% de fosfoacilgliceróis e 50% - 60% de proteínas. Os três ácidos graxos mais abundantes nos glicerofosfolipídios são: ácido palmítico (16:0), ácido esteárico (18:0) e ácido oleico (18:1). Os glicerofosfolipídios formam bicamadas lipídicas espontaneamente. ESFINGOLIPÍDIOS Os esfingolipídios possuem estrutura semelhante aos glicerofosfolipídios e compartilham uma característica estrutural, a presença do aminoálcool de cadeia longa esfingosina em substituição ao glicerol. Os esfingolipídios podem ser classificados de acordo com o grupo polar ligado com o fosfato: esfingomielina (colina) [Figura 22], cerebrosídeo (monossacarídeo), Globosídeo (di, tri ou tetrassacarídeo), gangliosídeo (oligossacarídio) sheila Realce Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 5 Figura 22. Esfingomielina. 6.9 LIPÍDIOS ESTEROIDES Os esteroides apresentam em comum a estrutura química denominada ciclo-pentano-peridro- fenantreno: três anéis de seis membros que são ligados a um anel ciclo pentano. Os esteroides são lipídios de cadeia complexa, onde o colesterol é substância fundamental na formação dos esteroides. O colesterol [Figura 23] faz parte da estrutura das membranas celulares, é também um reagente de partida para a biossíntese de vários hormônios (cortisol, aldosterona, testosterona, progesterona,etc), dos sais biliares e da vitamina D. Sem colesterol não haveria vida, entretanto, o seu excesso é maléfico à saúde. Figura 23. Colesterol. Com a numeração dos carbonos 6.10 AGREGADOS LIPÍDICOS 6.10.1 MICELAS Estrutura globular formada por um agregado de moléculas anfipáticas ou surfactantes, ou seja, sheila Realce sheila Realce Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 6 compostos que possuem características polares e apolares simultaneamente, dispersas em um líquido. A formação das micelas, contudo, não ocorrem em qualquer concentração. Apenas a partir de uma concentração mínima chamada concentração micelar crítica, ocorre a micelização. Esta associação das moléculas anfipáticas ocorre para que haja uma diminuição da área de contato entre as suas cadeias de hidrocarboneto e a água ou outro composto polar. 6.10.2 LIPOSSOMOS Lipossomos são pequenas vesículas esféricas formadas por bicamadas concêntricas de fosfolipídios que se organizam espontaneamente em meio aquoso. Tais partículas são consideradas uma excelente forma de sistema de liberação controlada de medicamentos ou substâncias biologicamente ativas devido a sua capacidade de incorporar uma variedade de compostos tanto hidrofílicos quanto hidrofóbicos e a sua flexibilidade estrutural seja no tamanho, composição e fluidez da bicamada lipídica. 6.10.3 BICAMADAS Uma bicamada lipídica é uma dupla camada de lipídios anfipáticos, na qual sua porção apolar fica no interior da bicamada enquanto a porção polar fica voltada para o meio externo em contato com o meio aquoso. Figura 24. Agregados lipídicos, da esquerda para a direita: micela, lipossomoe bicamada. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 7 AMINOÁCIDOS 7 O QUE SÃO? Aminoácidos são substâncias que têm um grupo amino (-NH2) e um grupo carboxila (COOH) na sua estrutura. Figura 25. Fórmula geral de um aminoácido. 8 OS AMINOÁCIDOS SÃO SOLÚVEIS EM ÁGUA? Os aminoácidos são solúveis em água. Em solução, seu grupo carboxila funciona como um ácido: R- COOH R-COO-, enquanto seu grupo amina funciona como uma base: R-NH2 + H2O R-NH3+ + H2O. 9 AMINOÁCIDOS PROTEICOS As proteínas são formadas por 20 aminoácidos com duas características em comum, todos os aminoácidos proteicos são α-aminoácidos e, exceto a glicina, todos são L-aminoácidos. Figura 26. Fórmula geral de um α-aminoácido. Observe que o grupo amina (-NH2) e o grupo carboxila (-COOH) estão ligados ao mesmo carbono. 9.1 O QUE É UM -AMINOÁCIDO? Um α-aminoácido possui o grupo amina diretamente ligado ao carbono α. O carbono α é o primeiro carbono ligado à carbonila ácida (C=O), o segundo seria carbono β, o terceiro carbono γ ...etc. Todos os 20 aminoácidos proteicos são α-aminoácidos. Em dezenove dos vinte aminoácidos proteicos o cabono α é assimétrico ou quiral. 9.2 O QUE É UM CARBONO ASSIMÉTRICO? Um carbono assimétrico tem quatro ligantes diferentes entre si. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 8 Figura 27. O carbono α da L-alanina é assimétrico porque possui quatro ligantes diferentes. O carbono α da glicina não é assimétrico porque está ligado a dois hidrogênios. 9.3 O QUE É UM L-AMINOÁCIDO? Um L-aminoácido é o que possui um carbono α assimétrico ou quiral e o grupo amina à esquerda do observador. Se nas mesmas condições o grupo amina está à direita do observador temos um D- aminoácido. Figura 28. Fórmula geral de um L e de um D-aminoácido. Dezenove dos vinte aminoácidos proteicos são L-aminoácidos, entretanto, a glicina não pode ser classificada como L ou D porque seu carbono α não é carbono assimétrico. 9.4 AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS São aminoácidos que não podem ser sintetizados pelos mamíferos e, portanto, devem estar obrigatoriamente presentes na alimentação. Metade dos vinte aminoácidos proteicos não pode ser sintetizada pelos mamíferos e são obtidos por meio da ingestão de alimentos ricos em proteínas. Os aminoácidos não essenciais são também necessários para o funcionamento do organismo, mas podem ser sintetizados in vivo a partir de outras substâncias. Tabela 1. Lista de aminoácidos essenciais e não essenciais. Aminoácidos essenciais Aminoácidos não essenciais Valina Treonina Triptofano Metionina Fenilalanina Lisina Isoleucina Leucina Histidina Arginina Alanina Asparagina Ácido aspártico Cisteína Ácido glutâmico Glutamina Glicina Prolina Serina Tirosina Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a1 9 9.5 CLASSIFICAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS PROTEICOS PELO RADICAL Os aminoácidos proteicos podem ser classificados pelos seus radicais em cinco grupos: apolares, polares neutros, ácidos (polares com carga negativa), básicos (polares com carga positiva) e aromáticos. Os aminoácidos apolares possuem radical hidrocarboneto ou com ligações entre carbono (C) e enxofre (S). Figura 29. Aminoácidos apolares. Os aminoácidos polares e neutros ou sem carga possuem na sua estrutura os seguintes grupos funcionais: álcool (–OH), tiol (-SH) ou amida (-CONH2). Figura 30. Aminoácidos polares. Os aminoácidos ácidos ou polares com carga negativa possuem o grupo funcional carboxila (- COOH). Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 0 Figura 31. Aminoácidos ácidos. Os aminoácidos básicos ou polares com carga negativa possuem o grupo funcional amina (-NH2). Figura 32. Aminoácidos básicos. Os aminoácidos aromáticos possuem radical aromático contendo seis carbonos e duplas ligações conjugadas e deslocalizadas. Figura 33. Aminoácidos aromáticos. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 1 PROTEÍNAS 10 DE QUE SÃO FEITAS AS PROTEÍNAS? As proteínas são formadas por aminoácidos ligados entre si por ligações peptídicas. As proteínas são sequências de resíduos de aminoácidos. 10.1 O QUE É UMA LIGAÇÃO PEPTÍDICA? A ligação peptídica é produzida pela reação do grupo carboxila de um aminoácido com o grupo amina de outro aminoácido. Uma cadeia curta de aminoácidos é chamada de peptídeo. Dois aminoácidos formam um dipeptídeo, três aminoácidos formam um tripeptídeo, alguns aminoácidos (entre 12 e 20) formam um oligopeptídeo e muitos aminoácidos (mais de 20) forma um polipeptídeo. O primeiro aminoácido de uma cadeia peptídica tem o grupo amina livre, enquanto o último tem o grupo carboxila livre. Figura 34. Ligação peptídica. 11 AS PROTEÍNAS POSSUEM NÍVEIS ESTRUTURAIS As proteínas possuem quatro níveis estruturais, as estruturas primária, secundária, terciária e quaternária. 11.1 ESTRUTURA PRIMÁRIA DAS PROTEÍNAS As proteínas são polímeros lineares de aminoácidos interligados por ligações peptídicas. A estrutura primária é a sequência de aminoácidos que compõe uma proteína, é formada pelas ligações peptídicas e determina todos os outros níveis estruturais das proteínas (secundário, terciário e quaternário). Tabela 2. Diferenças entre as estruturas primárias das insulinas humana, suína e bovina. Insulina Cadeia A Cadeia B Posição 8 Posição 10 Posição 30 Humana Suína Bovina Treonina Treonina Alanina Isoleucina Isoleucina Valina Treonina Alanina Alanina 11.2 ESTRUTURA SECUNDÁRIA DAS PROTEÍNAS São estruturas estabilizadas por pontes de hidrogênios entre aminoácidos próximos. As estruturas secundárias das proteínas são: a α-hélice (estrutura helicoidal), a folha β (interações entre cadeias Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 2 carbônicas adjacentes formando um plano) e curva β (como diz o nome, uma curva na estrutura da proteína). Figura 35. α-hélice e folha β. O QUE É UMA PONTE DE HIDROGÊNIO? As ligações de hidrogênio ou pontes de hidrogênio são interações que ocorrem entre o átomo de hidrogênio e dois ou átomos mais eletronegativos que ele, de forma que o hidrogênio sirva de "elo" entre estes átomos. Sob o ponto de vista energético, as pontes de hidrogênio são as interações intermoleculares mais fortes. Moléculas contendo ligações como O-H e N-H podem formar pontes de hidrogênio. Figura 36. Pontes de hidrogênio entre moléculas de água. 11.3 ESTRUTURA TERCIÁRIA DAS PROTEÍNAS A estrutura terciária é a forma de uma proteína determinada pela sua estrutura primária e secundária. A estrutura terciária de uma proteína é estabilizada por interações fracas como: pontes de hidrogênio, dipolo-dipolo, ligações iônicas e interações hidrofóbicas. AS PROTEÍNAS PODEM SER FIBROSAS E GLOBULARES 1.1.1.7 PROTEÍNAS FIBROSAS A estrutura secundária é o último nível estrutural das proteínas fibrosas que são encontradas apenas em animais e têm função, usualmente, estrutural. As proteínas fibrosas são insolúveis em água, possuem alta concentração de aminoácidos apolares e conferem resistência e flexibilidade aos tecidos. São exemplos de proteínas fibrosas a α-queratina (cabelo, unhas, cascos, garras etc.) e o colágeno (ossos, cartilagem, dentes, pele, vasos etc.). Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 3 Figura 37. Tripla hélice de uma proteína fibrosa, o colágeno. 1.1.1.8 PROTEÍNAS GLOBULARES As proteínas globulares têm estrutura terciária e possuem segmentos da cadeia polipeptídica enoveladosde forma compacta, são solúveis em água e forma tridimensional variada. São exemplos de proteínas globulares a amilase, hemoglobina e a mioglobina [Figura 38]. Proteínas globulares possuem várias funções biológicas. Figura 38. Estrutura de uma proteína globular, a mioglobina. 11.4 PROTEÍNAS POSSUEM PONTO ISOELÉTRICO As proteínas apresentam-se neutras (com carga líquida igual a zero) em diferentes valores de pH. O valor de pH no qual uma proteína apresenta carga líquida igual a zero é denominado ponto isoelétrico [Figura 39]. NO PONTO ISOELÉTRICO Em uma solução no pH isoelétrico, a proteína está com um número de hidrogênios incorporados em sua estrutura que anulam todas as suas cargas negativas resultando numa carga igual a zero [Figura 39]. Figura 39.Proteína em pH igual ao seu ponto isoelétrico. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 4 ABAIXO DO PONTO ISOELÉTRICO Uma solução cujo pH está abaixo do seu ponto isoelétrico tem excesso de hidrogênios. Nesta condição são incorporados hidrogênios (H+) em excesso à estrutura da proteína, resultando em excesso de cargas positivas na proteína [Figura 40]. Figura 40. Proteína em pH abaixo do seu ponto isoelétrico. ACIMA DO PONTO ISOELÉTRICO Uma solução cujo pH está acima do seu ponto isoelétrico tem carência de hidrogênios. Nesta condição a proteína perde hidrogênios (H+) para o meio resultando em carência de cargas positivas na sua estrutura com consequente excesso de cargas negativas [Figura 41]. Figura 41. Proteína em pH acima do seu ponto isoelétrico. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 5 11.5 ESTRUTURA QUATERNÁRIA DAS PROTEÍNAS A estrutura quaternária encontrada em algumas proteínas é resultante de interações entre duas ou mais cadeias polipeptídicas. As interações físicas que estabilizam a estrutura quaternária são as mesmas que estabilizam a estrutura terciária. Um exemplo de proteína com estrutura quaternária é a hemoglobina formada por quatro cadeias polipeptídicas: duas α e duas β. Figura 42. Hemoglobina, uma proteína com estrutura quaternária. 11.6 ESTRUTURA PROTEICA X ANEMIA FALCIFORME A anemia falciforme é um forte indicativo da importância da estrutura primária de uma proteína. A anemia falciforme, uma patologia bastante grave, é causada pela modificação do sexto aminoácido da cadeia β da hemoglobina, o ácido glutâmico da hemoglobina normal (Hemoglobina A) é substituído por uma valina na hemoglobina falciforme (Hemoglobina S). A formação dessa hemoglobina S é determinada pela presença do seu gene nos indivíduos falciformes. O gene da anemia falciforme tem uma relação de codominância com o gene normal. Assim, há indivíduos portadores de uma forma branda e de uma forma severa da mesma doença. Figura 43. Transmissão do gene da anemia falciforme. Um casal portador do perfil genético (AS), assintomático, tem uma probabilidade de 25% de gerar um filho saudável (AA), de 50% de gerar um filho assintomático (AS) e de 25% de gerar um filho sintomático (SS). A oxi-hemoglobina S consegue transportar o oxigênio para os tecidos, mas, ao fazê-lo, as moléculas de desoxi-hemoglobina S se aglutinam em formas de polímeros gelatinosos inativos que acabam por distorcer as hemácias tornando-as falciformes, duras e frágeis. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 6 Figura 44. Hemácias falciformes Um ponto curioso a respeito da anemia falciforme é que os portadores do gene da hemoglobina S são naturalmente resistentes à malária. Os protozoários Plasmodium que, necessariamente se reproduzem no interior das hemácias humanas, não conseguem reproduzir-se no interior de hemácias falciformes. Isso pode ser uma explicação para prevalência da anemia falciforme na África, onde há alta incidência de malária. 12 ISOFORMAS São variantes ou múltiplas formas de uma mesma proteína, ou seja, são proteínas que tem a mesma função e estruturas diferentes. 13 DESNATURAÇÃO PROTEICA As proteínas podem desnaturar, ou seja, perder suas estruturas secundária, terciária e quaternária quando submetidas a ação de agentes desnaturantes como o calor (quebra as interações fracas), pH (altera a carga de cadeias laterais), detergentes (rompem as interações hidrofóbicas), ureia (quebram pontes de hidrogênio) e mercapto etanol (oxidam pontes dissulfeto). Proteínas desnaturadas têm sua função comprometida. Figura 45. Desnaturação proteica, à esquerda uma proteína nativa, à direita uma proteína desnaturada. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 7 14 AS PROTEÍNAS PODEM SER SIMPLES E CONJUGADAS 14.1 PROTEÍNAS SIMPLES Possuem apenas aminoácidos na sua estrutura 14.2 PROTEÍNAS CONJUGADAS Possuem constituintes não proteicos que integram sua estrutura. As proteínas podem estar conjugadas com carboidratos (glicoproteínas), lipídios (lipoproteínas), ácidos nucléicos (nucleoproteínas), grupos fosfato (fosfoproteínas), íons metálicos (metaloproteínas), etc. 15 FUNÇÃO PROTEICA E O MOVIMENTO 15.1 ESTRUTURAIS São proteínas responsáveis pela origem e pela manutenção de estruturas biológicas. COLÁGENO No músculo estriado o colágeno liga as fibras musculares promovendo um alinhamento apropriado à transmissão da força produzida durante a contração muscular ativa. A flexibilidade muscular é parcialmente fornecida pelo colágeno. ELASTINA A elastina se caracteriza por formar fibras mais finas que aquelas formadas pelo colágeno. Essas fibras cedem bastante à tração, mas retornam à forma original quando é cessada a força. A Elastina confere as fibras musculares elasticidade e resistência. ISOFORMA 3 DA Α-ACTININA A α-actinina é uma proteína de ligação de actina, com múltiplas funções em diferentes tipos celulares. Existem pelo menos quatro isoformas da α-actinina: duas isoformas (α-actinina 1 - ACTN1 e α- actinina 4 - ACTN4) não musculares do citoesqueleto que ligam a actina à membrana celular; uma isoforma (α-actinina 2 - ACTN2) presente nos músculos esquelético, cardíaco e liso que ancoram os filamentos de actina na linha Z do sarcômero; uma isoforma (α-actinina 3 - ACTN3) presente apenas nas fibras de contração rápida do músculo esquelético com a mesma função da ACTN2. Uma mutação bastante comum na população mundial no gene que codifica a ACTN3 resulta na produção de uma proteína não funcional. A α-actinina normal, que consegue exercer a função de ligação da actina à linha Z do sarcômero, é produzida por pessoas que possuem a informação genética conhecida como 577R. A α-actinina modificada, que não consegue exercer a função de ligação da actina à linha Z do Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 8 sarcômero, é produzida por pessoas que possuem a informação genética conhecida como 577X. Considerando que todos nós temos duas estruturas para cada gene, uma herdada da mãe e outra herdada do pai, são possíveis três configurações diferentes em seres humanos: (a) indivíduos com a configuração genética 577RR (que produzem somente a α-actinina 3 ativa); (b) indivíduos com a configuração genética 577RX (que produzem as α-actininas 3 ativa e inativa); (c) indivíduos com a configuração genética 577XX (que produzem somente a α-actinina 3 inativa). O gene ACTN3 está associado ao potencial anaeróbico. Em um trabalho publicado por Yang et al (2003) foi observada a ausência da configuração 577XX em atletas olímpicos em modalidades essencialmente anaeróbicas [Figura 46]. Figura 46. Frequência das configuraões genética 577RR, 577RX e 577XX em atletas de elite (Yang et al., 2003) 15.2 CONTRÁTEIS São proteínas contráteis que compõea fibra muscular como a actina e a miosina. ACTINA É uma proteína relacionada com o movimento celular que está presente em grande quantidade nos músculos. Em conjunto com a miosina e moléculas de ATP, a actina gera movimentos celulares e musculares. MIOSINA É uma proteína motora dependente de ATP envolvida na contração muscular por "caminhar" ao longo dos microfilamentos de actina dos sarcômeros. 15.3 REGULATÓRIAS Regulam a atividade biológica de outras proteínas sem produzir modificações químicas. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a2 9 TROPOMIOSINA A tropomiosina impede a ligação da miosina à actina. A tropomiosina é uma proteína que forma polímeros ao longo dos sítios de ligação da actina à miosina, impedindo a ligação da actina à miosina durante o relaxamento muscular. TROPONINA A troponina é um complexo de três proteínas que regulam a ligação da miosina à actina. A troponina liga-se a tropomiosina para liberar os sítios de ligação entre a actina e a miosina durante a contração muscular. INSULINA Regula a entrada de glicose no músculo e no tecido adiposo em animais. Figura 47. A insulina regula a atividade do transportador de glicose no músculo e no tecido adiposo. No músculo e no tecido adiposo, a insulina liga-se ao seu receptor os transportadores de glicose migram para a membrana celular onde podem realizar o transporte de glicose. 15.4 ARMAZENAMENTO São proteínas que fazem o estoque de nutrientes essenciais. Ovoalbumina (fonte de nitrogênio no ovo), caseína (fonte de nitrogênio e fósforo no leite) e ferritina (fonte de ferro em tecidos animais) são exemplos de proteínas de armazenamento. MIOGLOBINA Localizada no citoplasma das células musculares, a mioglobina liga-se ao oxigênio liberado pela hemoglobina, armazenando-o. O oxigênio (O2) armazenado na mioglobina fica disponível é facilmente disponibilizado para que as mitocôndrias do músculo realizem o metabolismo aeróbico ou oxidativo. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 0 15.5 TRANSPORTE São proteínas que transportam pequenas moléculas pelo organismo. A hemoglobina, uma proteína de transporte, transporta oxigênio para as células. HEMOGLOBINA O oxigênio captado nos pulmões pela hemoglobina é liberado nos capilares teciduais, difundido pelas membranas celulares, chegando até às organelas, em especial, as mitocôndrias onde é realizado o metabolismo oxidativo. LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS As lipoproteínas plasmáticas são complexos de lipídios com proteínas [Tabela 3]. Suas funções no sangue incluem o transporte de lipídios entre os tecidos e participação no seu metabolismo. Tabela 3. Lipoproteínas plasmáticas. Lipoproteínas de muito baixa densidade (Very Low density lipoproteins – VLDL), Lipoproteínas de baixa densidade (Low density lipoproteins – LDL), Lipoproteínas de densidade intermediária (Intermediate density lipoproteins – IDL), Lipoproteínas de alta densidade (High density lipoproteins – HDL). Partícula Densidade (kg/L) Componente principal Apoproteínas Diâmetro (μm) Quilomícrons <0,95 TG B48 (A, C, E) 75-1200 VLDL 0,95-1,006 TG B100 (A, C, E) 30-80 IDL 1,006-1,019 TG e colesterol B100, E 25-35 LDL 1,019-1,063 Colesterol B100 18-25 HDL 1,063-1,210 Proteína AI, AII (C, E) 5-12 1.1.1.9 QUILOMÍCRONS Os quilomícrons são partículas grandes, ricas em lipídios (99% de lipídios, 1% de proteínas), sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso dos enterócitos. O componente proteico, apolipoproteína B48, é essencial para a liberação final dos quilomícrons pelos enterócitos. Os triglicerídeos da dieta primeiramente sofrem quebra a monoacilgliceróis, ácidos graxos livres e algum glicerol e são absorvidos. Nos enterócitos, os triglicerídeos são ressintetizados e, juntamente com os fosfolipídios e o colesterol, são redistribuídos com apo B48 em quilomícrons. Os quilomícrons são secretados na linfa por exocitose, alcançam a corrente sanguínea através do ducto torácico e normalmente aparecem no sangue apenas após as refeições ricas em gordura. Os triglicerídeos dos quilomícrons são absorvidos pelos tecidos periféricos como músculos e tecido adiposo. Depois disto, as partículas tornam-se menores e passam a ser denominadas quilomícrons remanescentes que são transportados para o fígado por meio de uma proteína relacionada ao receptor LDL [Figura 48]. A meia-vida dos quilomícrons é inferior a uma hora. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 1 Figura 48. Transporte de lipídios da dieta (exógenos) pelos quilomicrons. 1.1.1.10 VLDL As lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) são sintetizadas no fígado para transportar triglicerídeos e colesterol endógenos. O principal componente proteico da VLDL é a apo B100. A ligação dos triglicerídeos a apo B100 é facilitada pela proteína microssomal de transferência de triglicerídeos (MTP). Nos tecidos periféricos, de maneira semelhante aos quilomícrons, os triglicerídeos da VLDL são absorvidos pelos tecidos periféricos e converte a partícula em uma VLDL remanescente de tamanho menor e, relativamente, com mais colesterol do que o VLDL. A apo E passa a ser responsável pelo metabolismo do VLDL remanescente [Figura 49]. 1.1.1.11 IDL E LDL Parte dos VLDL remanescentes é internalizada no fígado. Outra parte, continua na corrente sanguínea para ser convertida em IDL que, ao perder ainda mais triglicerídeos, transforma-se em LDL. Nesta fase, todas as apoproteínas, exceto apo B100, perderam-se de suas partículas e a apo B100 adquire uma conformação que permite sua ligação ao receptor LDL [Figura 49]. O LDL rico em colesterol pode ser internalizado pelo fígado (aproximadamente 80% das partículas seguem esta via) ou pelos tecidos periféricos. Ambas as vias envolvem a internalização pelo receptor LDL. No fígado, o colesterol é liberado e esterificado no interior da célula pela acil-colesterol aciltransferase (ACAT) e inibe síntese do colesterol endógeno reduzindo as taxas sanguíneas de colesterol. Uma alta concentração de colesterol intracelular reduz a expressão do receptor LDL, enquanto baixos níveis de colesterol intracelular aumentam a expressão deste receptor [Figura 49]. O colesterol presente no LDL é considerado o mau colesterol porque pode acumular na corrente sanguínea em função de risco genético ou não genético. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 2 Figura 49. Transporte dos lipídios endógenos. 1.1.1.12 HDL A lipoproteína de alta densidade (HDL) desempenha essencialmente a função oposta a da LDL: ela remove colesterol dos tecidos e o transporta para o fígado. A HDL é montada no plasma a partir de componentes,que na sua maioria, são obtidos na degradação de outras lipoproteínas. A HDL circulante adquire seu colesterol dos tecidos periféricos e é captado pelo fígado HDL por meio da ação de um receptor específico para HDL [Figura 49]. O HDL é considerado o bom colesterol porque é captado pelo fígado regulando a síntese de colesterol. Tabela 4. A avaliação do risco cardíaco é muito importante para educação física e está diretamente relacionada com a dosagem dos lipídio presentes nas lipoproteínas plasmáticas. Risco Colesterol Triglicerídeos HDL Total LDL VLDL Baixo ≥50 <200 <100 <30 <150 Acima do ideal ≥50 <200 ≤130 <30 150–199 moderado ≥50 200–239 ≥160 (alto) <30 200–499 (alto) Elevado <40 ≥240 ≥190 (muito alto) <30 ≥500 (muito alto) 15.6 DEFESA Possuem função de defesa e proteção celular. Anticorpos ou imunoglobulinas e proteínas anticongelantes são proteínas de defesa. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊP ág in a3 3 ENZIMAS 16 O QUE É UMA ENZIMA? As enzimas são um grupo de substâncias orgânicas, de natureza geralmente proteica, que têm função catalítica e aumentam sensivelmente a velocidade de reações químicas, adaptando-as às condições do organismo. 17 TODAS AS ENZIMAS SÃO PROTEÍNAS? Nem todas as enzimas são proteínas. Existem enzimas constituídas de RNA, as ribozimas, com atividade intra ou extracelular. 18 COMO AS ENZIMAS FUNCIONAM? Como todo catalisador. As enzimas diminuem a energia de ativação necessária para converter o substrato no produto. O aceleramento da reação pode ser da ordem dos milhões de vezes: por exemplo, a enzima orotidina-5'-fosfato descarboxilase diminui o tempo da reação por ela catalisada de 78 milhões de anos para 25 milissegundos. As enzimas não são consumidas na reação e não alteram seu equilíbrio químico [Figura 50]. (A) (B) (C) Figura 50. Mecanismo de ação da enzima sobre o substrato. (A) analogia de substrato sem energia suficiente para atingir o estado de transição; (B) analogia da ação enzimática viabilizando o estado de transição e a formação do produto. (C) as enzimas aumentam a velocidade de reação diminuindo a energia de ativação. 19 ALGUMAS PROPRIEDADES DAS ENZIMAS 19.1 AUMENTO DA VELOCIDADE DA REAÇÃO A velocidade de uma reação enzimática pode apresentar uma velocidade até 1016 vezes maior do que a velocidade da reação correspondente não catalisada. 19.2 CONDIÇÕES REACIONAIS MAIS BRANDAS As reações catalisadas ocorrem em condições mais brandas (pH neutro, 1 atm, 37ºC). 19.3 ESPECIFICIDADE As enzimas possuem uma especificidade maior que os catalisadores químicos em relação à identidade do substrato(s) e do(s) produto(s). Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 4 ESPECIFICIDADE ABSOLUTA Enzimas que possuem um único substrato. Ex: enzimas que reconhecem um estereoisômero. ESPECIFICIDADE RELATIVA Enzimas que se ligam a um grupo de substratos. Ex: enzimas que reconhecem um determinado grupo funcional do substrato. 19.4 CAPACIDADE DE REGULAÇÃO A atividade catalítica de uma enzima pode variar em resposta a variação de concentração de outras substâncias além do substrato. 20 O QUE FAZEM AS ENZIMAS? As enzimas viabilizam a conversão de uma substância, chamada de substrato, em outra denominada produto, e são extremamente específicas para as reações que catalisam. Em geral, uma enzima catalisa um só tipo de reação química. 20.1 AS ENZIMAS POSSUEM UM SÍTIO ATIVO O sítio ativo é a região da enzima a qual se liga o substrato e onde ocorre a catálise, acelerando a conversão do substrato em produto. O sítio ativo se divide em sítio catalítico e sítio de ligação [Figura 51]. Figura 51. Etapas da atividade enzimática desde a ligação com o substrato até a liberação dos produtos. O SÍTIO DE LIGAÇÃO É a região do sítio ativo que liga o substrato e o posiciona de forma adequada para viabilidade da catálise. O SÍTIO CATALÍTICO Local do sítio ativo que viabiliza a reação. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 5 21 INTERAÇÃO ENZIMA-SUBSTRATO 21.1 MODELO CHAVE-FECHADURA As enzimas exibem uma elevada especificidade para explicar esta propriedade, foi sugerido por Emil Fischer, em 1894, que as enzimas e os substratos apresentam formas geométricas complementares, fazendo com que se encaixem de maneira precisa. Este processo é muitas vezes referido como modelo chave-fechadura. No entanto, apesar deste modelo explicar a especificidade das enzimas, falha em explicar a ação das enzimas na estabilização do estado de transição entre o substrato e produto [Figura 52]. Figura 52. O modelo chave-fechadura proposto por Emil Fischer (foto). 21.2 MODELO DO AJUSTE INDUZIDO Em 1958, Daniel Koshland sugeriu uma modificação ao modelo de chave-fechadura: uma vez que as enzimas exibem estruturas flexíveis, o sítio ativo altera a sua forma de maneira continuada através de interações com o substrato, ajustando-se a ele gradativamente no momento de sua com a enzima. Como resultado, o substrato não se liga simplesmente a um sítio ativo rígido. As cadeias laterais dos aminoácidos que formam o sítio ativo sofrem uma reorientação de maneira a que as suas posições potenciem a ação catalítica da enzima. Em alguns casos, a molécula de substrato também sofre alterações de conformação à medida que vai se aproximando do sítio ativo [Figura 53]. Figura 53. O modelo de ajuste induzido proposto por Daniel Koshland (foto). 22 FATORES QUE INTERFEREM NA REAÇÃO ENZIMÁTICA 22.1 CONCENTRAÇÃO DO SUBSTRATO A frequência com que um substrato liga-se ao sítio ativo de uma enzima é diretamente proporcional a sua concentração. Portanto a velocidade de uma reação enzimática aumenta com a concentração de substrato até o limite de saturação da enzima [Figura 54]. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 6 Figura 54. Número de choques efetivos (adequados para a reação enzimática) entre a enzima e o substrato em diferentes sistemas. (A) baixa concentração do substrato; (B) concentração intermediária do substrato; (C) alta concentração do substrato. 22.2 TEMPERATURA O aumento da temperatura provoca um aumento da energia cinética das moléculas aumentando sua mobilidade e, portanto, a frequência de colisão entre elas. A combinação destes eventos promove um aumento na velocidade da reação enzimática até o limite de temperatura em que começa a haver desnaturação proteica, quando a velocidade da reação enzimática começa a diminuir por perda da atividade enzimática [Figura 55]. 23 CONCENTRAÇÃO DE ÍONS H+ (PH) O pH exerce efeito sobre diversos fatores que interferem na velocidade da reação enzimática, como: a ligação do substrato à enzima, estado de ionização de resíduos de aminoácidos envolvidos na atividade catalítica, ionização do substrato e variação da estrutura proteica (desnaturação). Portanto, a maioria das enzimas é ativa apenas em um determinado intervalo de pH [Figura 55]. Figura 55. Efeito do pH e da temperatura sobre a atividade enzimática. 24 COFATORES, COENZIMAS E GRUPOS PROSTÉTICOS. As enzimas podem ser proteínas simples, ou seja, formadas apenas por cadeias polipeptídicas, ou conjugadas, quando a enzima é ligada a um grupo não proteico, chamado cofator, a parte proteica é chamada de apoenzima. A holoenzima é a união de um cofator e uma apoenzima. Tanto a apoenzima como o cofator são inativos quando estão separados, tornando-se ativos quando se unem para formar a holoenzima. Os cofatores podem ser íons inorgânicos (cofatores inorgânicos) como Mg++, Zn++, Mn++ e K+ ou compostos orgânicos Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 7 (coenzimas) como a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), flavina-adenina dinucleótido (FAD) e coenzima A. Muitas vitaminas que nosso organismo precisa e nutrientes orgânicos necessários em pequenas quantidades na dieta são precursores de coenzimas. Uma coenzima que está covalentemente ligada à parte proteica da enzima passa a ser chamada de grupo prostético. 25 CINÉTICA ENZIMÁTICA Em 1902, Victor Henri propôs uma teoria quantitativa de cinética enzimática, mas os seus dados experimentais tinham pouca utilidade porque nela não era considerado o efeito da concentração do íon H+. Após Peter Lauritz Sørensen definir a escala logarítmica de pH e introduzir o conceito de solução tampão em 1909, o químico alemão Leonor Michaelis e, sua pós-doc, a canadense Maud Leonora Menten repetiram as experiências de Henri e confirmaram a sua equação, sendo esta cinética, conhecida como cinética de Henri-Michaelis-Menten ou simplesmente cinética de Michaelis-Menten,a base da cinética enzimática [Figura 56]. 25.1 CONSTANTE DE MICHAELIS (KM) A constante de Michaelis (Km) representa a concentração de substrato na qual a velocidade da reação enzimática corresponde à metade da velocidade máxima. Enzima Substrato (A) (B) (C) Legenda Figura 56. (A) Leonor Michaelis e Maud Leonora Menten que estudaram a cinética enzimática; (B) no Km, metade das enzimas presentes estão trabalhando; (C) a velocidade máxima (Vm) é alcançada quando todas as enzimas estão ligadas ao substrato. 26 INIBIÇÃO ENZIMÁTICA Determinadas substâncias, conhecidas como inibidores, podem influenciar a atividade de algumas enzimas, diminuindo- a ou eliminando-a totalmente; são os chamados inibidores enzimáticos. 26.1 INIBIÇÃO REVERSÍVEL INIBIÇÃO COMPETITIVA Na inibição competitiva o inibidor compete com o substrato pelo sítio ativo da enzima. O inibidor competitivo e o substrato não podem ligar-se a enzima ao mesmo tempo. O inibidor competitivo é, geralmente, uma molécula muito parecida com o substrato, entretanto não pode ser convertido em produto. Na inibição competitiva a velocidade máxima da reação pode ser mantida com o aumento da concentração do substrato, aumentando assim a constante de Michaelis (Km) para a reação [Figura 57]. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 8 (A) (B) Enzima Substrato Inibidor Figura 57. Inibição competitiva. (A) Uma maior concentração do inibidor torna mais provável a sua ligação ao sítio ativo da enzima inibindo-a; (B) uma maior concentração do substrato aumenta probabilisticamente sua ligação ao sítio ativo da enzima com consequente formação do produto. INIBIÇÃO INCOMPETITIVA O inibidor incompetitivo não pode ligar-se a enzima livre, o faz somente ao complexo enzima-substrato. O complexo enzima-inibidor-substrato resultante é inativo e não há conversão enzimática do substrato em produto. O substrato, na presença de um inibidor incompetitivo, passa a produzir um efeito sinérgico para a inibição, pois quanto maior a concentração de substrato, maior a concentração do complexo enzima-substrato e maior será o efeito do inibidor sobre a enzima. Portanto, na inibição incompetitiva tanto a velocidade máxima quanto o Km observados diminuem [Figura 58]. Figura 58. O inibidor incompetitivo liga-se apenas ao complexo enzima-substrato não permitindo que o substrato seja convertido em produto. INIBIÇÃO MISTA Inibidores mistos podem ligar-se tanto a enzima livre quanto ao complexo enzima-substrato provocando uma alteração na conformação do sítio ativo da enzima que dificulta ou impede a conversão enzimática do substrato em produto [Figura 59]. Portanto, na presença de um inibidor misto, a velocidade máxima observada diminui. Figura 59. O inibidor misto liga-se tanto à enzima livre quanto ao complexo enzima-substrato impedindo que o substrato seja convertido em produto. Se o inibidor misto liga-se melhor a enzima livre, o Km vai aumentar de maneira bastante semelhante ao inibidor competitivo, entretanto, se o inibidor misto liga-se melhor ao complexo enzima-substrato o Km vai diminuir como ocorre no processo de inibição incompetitiva. O inibidor misto pode, ainda, não exercer qualquer efeito sobre o Km quando liga a enzima livre e sobre o complexo enzima-substrato com igual eficácia, em um mecanismo bastante raro conhecido como inibição não competitiva. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a3 9 26.2 INIBIÇÃO IRREVERSÍVEL Compostos que reagem com a enzima produzindo uma ligação covalente que inativa permanentemente a enzima são inibidores Irreversíveis. INIBIÇÃO SUICIDA É uma forma de inibição irreversível que ocorre quando a enzima liga-se a um análogo do substrato e, no processamento deste análogo é formada uma ligação covalente entre a enzima e o inibidor originando um complexo enzima-inibidor inativo. São exemplos de inibidores suicidas a penicilina, a aspirina e a eflornitina uma droga usada para o tratamento da doença do sono. 27 ENZIMAS ALOSTÉRICAS São enzimas que possuem, na sua estrutura, um sítio de regulação chamado sítio alostérico em um lugar diferente do sítio ativo ao qual vai ligar-se um modulador positivo que vai aumentar a capacidade de catálise da enzima ou um modulador negativo que vai diminuir a capacidade catalítica da enzima. As enzimas alostéricas participam de mecanismos de retroalimentação. (A) (B) Figura 60. Enzima alostérica. (A) com modulador negativo que inibe a catálise; (B) com modulador positivo que aumenta a capacidade de catálise. 28 ISOENZIMAS Variante genética de uma enzima, com igual função, catalisando a mesma reação, mas que pode diferir na Estrutura primária, na afinidade pelo substrato, na velocidade máxima, no Km e em propriedades regulatórias. 29 ZIMOGÊNIO OU PROENZIMA É um precursor inativo de uma enzima. Um zimogênio requer uma alteração bioquímica (como uma reação de hidrólise ou outra modificação na sua configuração que resulte na exposição do o sítio ativo) para que possa ser convertido na enzima ativa. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 0 BIOQUÍMICA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR 30 TECIDO MUSCULAR Existem três tipos básicos de tecido muscular: o músculo esquelético responsável pelo movimento, o músculo cardíaco responsável pela circulação sanguínea e o músculo liso responsável pela contração sustentada dos vasos sanguíneos, trato gastrointestinal e outras áreas do corpo. Tabela 5. Características das fibras do músculo esquelético humano. CARACTERÍSTICA FIBRAS RÁPIDAS FIBRAS LENTAS Tipo IIx Tipo IIa Tipo I Nº de mitocôndrias Baixo Intermediário Elevada Resistência a fadiga Baixa Intermediário Elevada Sistema energético predominante Anaeróbico Combinado Aeróbio Atividade da ATPase Mais elevada Elevada Baixa Velocidade de encurtamento Mais elevada Intermediária Baixa Eficiência Baixa Moderada Elevada Tensão específica Elevada Elevada Moderada 30.1 FIBRAS MUSCULARES Existem dois tipos de fibras no músculo esquelético, uma de ação predominante em condições aeróbicas e outra de ação predominante em condições anaeróbicas, que usam as quatro fontes de ATP de forma diferente. As fibras de contração rápida e lenta eram conhecidas originalmente como fibras brancas e vermelhas, respectivamente, porque o tecido muscular, muitas vezes de cor pálida, ao ser enriquecido com mitocôndrias, assume uma cor avermelhada, característica de seus citocromos com grupamentos heme. Entretanto, a cor da fibra é um indicador imperfeito da fisiologia do músculo. Em um exemplo conhecido, os músculos de vôo de pássaros migratórios, como patos e gansos, que necessitam de um suprimento contínuo de energia, são ricos em fibras de contração lenta. Dessa forma, esses pássaros têm carne escura no peito. Ao contrário, os músculos de vôo de pássaros que voam menos, como galinhas e perus, que são usados para atividades repentinas e curtas (geralmente para escapar do perigo), são constituídos principalmente por fibras de contração rápida, formando a carne branca. Em seres humanos, os músculos de velocistas são relativamente ricos em fibras de contração rápida, ao passo que corredores de longa distância têm uma proporção maior de fibras de contração lenta, entretanto, esses músculos possuem a mesma cor. 31 CONTRAÇÃO MUSCULAR A contração muscular envolve sistemas de produção de energia para o funcionamento de diversas proteínas que promovem o deslizamento da actina sobre a miosina resultando no encurtamento do músculo e, consequentemente, a contração muscular. Ainda que a contração muscular seja um processo bastante discutido omodelo do filamento deslizante é a teoria mais utilizada para explicar a contração muscular. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 1 Figura 61. Modelo do filamento deslizante para contração muscular. 31.1 TEORIA DO FILAMENTO DESLIZANTE JUNÇÃO NEUROMUSCULAR 1. Um potencial de ação originária no CNS atinge um neurônio motor alfa, que então transmite um potencial de ação até o seu próprio axônio. 2. Eventualmente, o potencial de ação alcança o terminal do neurônio motor e provoca um influxo de íons cálcio através dos canais de cálcio. 3. O influxo de Ca2+ causa a liberação de acetilcolina no espaço extracelular entre o terminal do neurônio motor e da placa motora terminal da fibra muscular esquelética. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 2 4. A acetilcolina se difunde através da sinapse e se liga e ativa os receptores nicotínicos de acetilcolina na placa motora terminal da célula muscular fazendo com que o retículo sarcoplasmático libere cálcio. Figura 62. Teoria do filamento deslizante para contração muscular. (A) estado de repouso; (B) etapas 1 a 5. TROPONINA E TROPOMIOSINA 5. A troponina e a tropomiosina são proteínas que regulam a ligação entre a molécula de actina e miosina. A tropomiosina bloqueia a ligação entre a actina e a miosina permitindo que o músculo possa ficar no estado relaxado. 6. Quando se liga ao Ca2+, a troponina impede a ação da tropomiosina, permitindo a ligação entre a actina e a miosina. ACTINA E MIOSINA 7. A após a ligação do cálcio à troponina e com a presença de Mg2+, a miosina (que tem ADP e fosfato inorgânico no seu sítio ativo) liga-se a actina no estado de ligação forte. Figura 63. Teoria do filamento deslizante para contração muscular. (A) efeito da troponina sobre a tropomiosina; (B) ligação entre a actina e a miosina, etapas 6 e 7. 8. A actina atua como um cofator para a liberação do ADP e do fosfato inorgânico pela miosina. 9. Com a liberação do ADP e fosfato inorgânico a miosina ligada a actina executa um movimento cujo resultado é encurtamento do sarcômero. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 3 Figura 64. Teoria do filamento deslizante para contração muscular. (A) e (B) etapas 8 e 9. 10. Uma nova molécula de ATP se liga a miosina levando a um estado de ligação fraca entre a actina e a miosina (após a morte, a falta de ATP faz com que esta etapa impossível, resultando na característica do estado de rigidez cadavérica). Figura 65. Teoria do filamento deslizante para contração muscular. (A) e (B) etapa 10. 11. As etapas 7, 8, 9 e 10 se repetem enquanto houver ATP e cálcio disponíveis. 12. Enquanto etapas anteriores estão acontecendo, o cálcio é ativamente bombeado de volta para o retículo sarcoplasmático. Quando o cálcio não está mais presente no filamento fino, não existe cálcio ligado à troponina, a tropomiosina muda de conformação de volta ao seu estado anterior, bloqueando novamente os sítios de ligação entre a miosina e a tropomiosina. 13. A contração muscular cessa. Figura 66. Teoria do filamento deslizante para contração muscular. Término da contração muscular 32 REQUISITO ENERGÉTICO O ATP é requerido como fonte constante de energia para que o ciclo de contração-relaxamento muscular não seja interrompido. O ATP necessário para o funcionamento do músculo pode ser gerado no metabolismo por meio: (1) da creatina Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 4 cinase que transfere um grupo fosfato da creatina fosfato para o ADP formando ATP; (2) da adenilato cinase que converte duas moléculas de ADP em ATP e AMP; (3) da glicólise usando como substrato a glicose sanguínea ou do glicogênio do músculo; (4) da fosforilação oxidativa ou cadeia respiratória. O ATP presente no músculo esquelético é suficiente para prover energia para apenas alguns segundos de contração muscular, assim o ATP deve ser constantemente renovado por meio de uma ou mais dessas fontes, de maneira condicionada à situação metabólica. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 5 O METABOLISMO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS Palavra derivada do grego metabolismos, μεταβολισμός, que significa "mudança", troca[1] 33 CONCEITO Conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. O metabolismo celular é o conjunto de todas as reações químicas que ocorrem nas células. e constituem a base da vida, permitindo o crescimento e reprodução das células, mantendo as suas estruturas e adequando respostas aos seus ambientes. 33.1 VIAS METABÓLICAS As reações químicas do metabolismo estão organizadas em vias metabólicas, que são seqüências de reações em que o produto de uma reação é utilizado como reagente na reação seguinte. Diferentes enzimas catalisam diferentes passos de vias metabólicas, agindo de forma harmônica e coordenada para manutenção do fluxo nessas vias. As enzimas são essenciais para o metabolismo porque permitem a realização de reações termodinamicamente desfavoráveis, ao acoplá-las a reações mais favoráveis. As enzimas regulam as vias metabólicas em resposta a mudanças no ambiente celular ou a sinais de outras células. 34 DIVISÃO 34.1 ANABOLISMO É o conjunto de reações de síntese que produzem matéria orgânica nova e própria nos seres vivos. Por meio do anabolismo são sintetizadas moléculas mais complexas a partir de moléculas simples com consumo de ATP. 34.2 CATABOLISMO É o conjunto de reações de decomposição ou reações de degradação que produzem grandes quantidades de energia livre, sob a forma de ATP ou GTP, a partir da decomposição ou degradação de moléculas mais complexas, como carboidratos, lipídios e proteínas. 34.3 HOMEOSTASE Em períodos de jejum ou doença, o catabolismo supera em atividade o anabolismo, o organismo perde peso. Quando o organismo cresce ou ganha peso o anabolismo supera o catabolismo. No equilíbrio entre o anabolismo e catabolismo não há perda ou ganho de peso e o organismo encontra-se em equilíbrio dinâmico ou homeostase. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 6 Tabela 6. Produtos e substratos do anabolismo e do catabolismo. Anabolismo Catabolismo Substratos Produtos Substratos Produtos Aminoácidos Carboidratos Ácidos graxos Bases nitrogenadas ATP NADH NADPH FADH2 Proteínas Polissacarídeos Lipídios Ácidos nucléicos ADP + Pi NAD+ NADP+ FAD Proteínas Carboidratos Lipídios ADP + Pi NAD+ NADP+ FAD NH3 CO2 H2O ATP NADH NADPH FADH2 34.4 CATABOLISMO ANAERÓBICO ALÁCTICO As fibras de contração rápida, assim chamadas porque são predominantes em músculos capazes de realizar atividades repentinas e rápidas, são quase que totalmente desprovidas de mitocôndrias (onde ocorre a fosforilação oxidativa). Em função disso, elas devem obter quase todo o seu ATP pela glicólise anaeróbica, para a qual elas têm uma capacidade especialmente elevada. 34.4.1 ADENILATO CINASE O ATP é convertido em ADP quando o utilizamos para executar um a função biológica como a contração muscular, a enzima adenilato cinase catalisa a conversão de duas moléculas de ADP em uma molécula de ATP e outra de AMP (ADPATP + AMP). Desta forma à medida que produzimos o trabalho biológico, as concentrações de ATP reduzem enquanto as concentrações de AMP aumentam. 34.4.2 CREATINA FOSFATO O músculo esquelético possui uma reserva do composto altamente energético, a creatina fosfato (creatinaP), para gerar ATP de maneira rápida, duranteos primeiros minutos que antecedem a ativação plena da glicogenólise. A creatina é sintetizada a partir da arginina e da glicina e é reversivelmente fosforilada em creatina-P pela enzima creatina (fosfo) cinase (CK ou CPK) (Figura 67). A CK é uma proteína dimérica que existe na forma de três isozimas: muscular (MM), cerebral (BB) e a do músculo cardíaco, a isoforma MB. A isoforma MB é abundante no músculo cardíaco. A creatina-P é instável e sofre degradação lenta e espontânea em Pi e creatinina, a forma anidra cíclica da creatina, que é excretada pelas células musculares no plasma e depois na urina. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 7 Figura 67Síntese e degradação da creatina fosfato (creatina-P). 1.1.1.12.1 IMPORTÂNCIA CLÍNICA 1.1.1.12.2 FUNÇÃO RENAL A concentração de creatina-P é relativamente constante por unidade de massa muscular; a produção de creatinina também é relativamente constante durante o dia e, com isto, a creatinina é eliminada na urina em uma quantidade relativamente constante por hora. As concentrações plasmáticas normais de creatinina são da ordem de 1 mg/dL (60-120 μmol/L), níveis elevados de creatinina são interpretados como indicadores de insuficiência renal. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 8 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS 35 CARBOIDRATOS NA DIETA: DIGESTÃO E ABSORÇÃO Carboidratos da dieta fornecem uma parte importante das necessidades calóricas diárias. Consistem de mono, di e polissacarídeos. Os principais, em dietas ocidentais, são sacarose (açúcar de mesa), amido e lactose. Monossacarídeos são absorvidos diretamente. A digestão de carboidratos complexos a oligossacarídeos, e em seguida a mono e dissacarídeos livres, ocorre por meio de reações de hidrólise. 35.1 O QUE É DIGESTÃO? Processo mecânico e bioquímico pelo qual os alimentos são convertidos em unidades menores para que sejam absorvidos através da parede intestinal. 35.1.1 COMO É FEITA A DIGESTÃO DO AMIDO E GLICOGÊNIO? O amido (polissacarídeo vegetal) e o glicogênio (polissacarídeo animal) são formados por ligações glicosídicas α-1,4 e α-1,6 em pontos de ramificações. O amido e o glicogênio hidratados são atacados pela α-amilase, uma endossacaridase presente na saliva e no suco pancreático. A hidratação dos polissacarídeos ocorre durante o aquecimento e é essencial para uma digestão eficiente. Amilase é especifica para ligações glicosídicas α-1,4 internas; as ligações α- 1,6 não são atacadas, nem as ligações α-1,4 de unidades de glicose que servem como pontos de ramificações. A amilase pancreática é secretada em grande excesso em relação ao amido ingerido e é mais importante que a enzima salivar do ponto de vista digestivo. Os produtos da digestão pela α-amilase são principalmente o dissacarídeo maltose, o trissacarídeo maltotriose e as assim chamadas dextrinas α- limites contendo uma média de oito unidades de glicose, com uma ou mais ligações α-1,6-glicosídicas. 35.1.2 DIGESTÃO DE DISSACARÍDEOS E OLIGOSSACARÍDEOS A hidrólise final de di e oligossacarídeos a monossacarídeos é realizada por enzimas de superfície das células epiteliais do intestino delgado. As oligossacaridases de superfície são exoenzimas que quebram uma ligação glicosídica de cada vez, a partir da extremidade não-redutora. A enzima sacarase – isomaltase, uma α-glicosidase, é um catalisador bifuncional da hidrólise da sacarose (em frutose e glicose) e da isomaltose (em duas glicoses). A trealose, um dissacarídeo que ocorre em cogumelos jovens, requer uma α-glicosidase especial, a trealase. A capacidade das α-glicosidases é normalmente muito maior do que a necessária para completar a digestão do amido. De modo semelhante, geralmente há excesso na capacidade de hidrólise de sacarose em relação à ingestão diária. Em contraste, a β-galactosidase (lactase) para hidrólise e utilização de lactose, o principal carboidrato do leite, pode ser limitante da Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a4 9 velocidade no homem. 1.1.1.12.3 IMPORTÂNCIA CLÍNICA Di, oligo e polissacarídeos não hidrolisados pela α-amilase e outras enzimas da superfície intestinal não podem ser absorvidos. Portanto, chegam à porção inferior do intestino que contém bactérias, a partir do final do íleo, que podem utilizar os carboidratos restantes porque possuem muito mais tipos de sacaridases que o homem. Os monossacarídeos que são liberados como resultado de enzimas bacterianas são predominantemente metabolizados anaerobicamente pelas próprias bactérias, resultando em produtos de degradação como ácidos graxos de cadeia curta, lactato, hidrogênio (H2), metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Em excesso, esses compostos podem causar secreção de fluidos, mobilidade intestinal aumentada, e cólica por aumento da pressão osmótica intraluminal e distensão do intestino, ou um efeito irritante direto dos produtos de degradação bacteriana sobre a mucosa intestinal. O problema bem conhecido de flatulência após ingestão de sementes de leguminosas (feijões, ervilhas e soja) é causado por oligossacarídeos que não são hidrolisados por enzimas intestinais humanas. As sementes contêm sacarose modificada à qual um ou mais resíduos de galactose foram ligados. As ligações glicosídicas das galactoses são de configuração α, e só podem ser quebradas por enzimas bacterianas. O açúcar mais simples dessa família é a rafinose. 1.1.1.12.4 CASO CLÍNICO Um rapaz afro-americano de 15 anos, em visita ao Reino Unido por meio de um programa de intercâmbio, apresenta, depois de duas semanas, queixas de desconforto abdominal, flatulência, aumento da micção e, posteriormente, desenvolvimento de diarréia. A única modificação na dieta relatada pelo paciente refere-se à introdução de iogurte na alimentação. Ele desenvolveu uma preferência considerável por este tipo de alimento a ponto de consumir de 1 a 2 potes grandes por dia. Foi submetido a um teste de tolerância à lactose, com a administração de 50 g de lactose em um veículo líquido. Os níveis plasmáticos de glicose não apresentaram elevação de mais de 1 mmol/L (18 mg/dL) nas duas horas seguintes, com amostragem em intervalos de 30 minutos. O diagnóstico de intolerância à lactose foi confirmado. A intolerância à lactose é uma alteração resultante de uma deficiência adquirida de lactase. A atividade desta enzima decai em crianças com o avanço da idade, mas este declínio é geneticamente pré- determinado e demonstra uma variação étnica. A deficiência de lactase na população negra adulta varia de 45-95%. A ocorrência de sintomas de má absorção após a introdução de leite na dieta de adultos permite considerar a hipótese de deficiência adquirida de lactose. O diagnóstico pode ser firmado desafiando-se o intestino delgado com lactose e monitorando a elevação da glicose sanguínea. Um aumento de mais de 30 mg/dL é considerado normal, mas um aumento inferior a 20 mg/dL permite o diagnóstico de deficiência de lactase . Elevações de 20-30 mg/dL são inconclusivas. Vanduir S. A. Filho - Bioquímica - UNIPÊ P ág in a5 0 35.2 O QUE É ABSORÇÃO? A absorção é o processo pelo qual os nutrientes, resultantes da simplificação molecular dos alimentos durante a digestão, passam para a corrente sanguínea, através das paredes do sistema digestório, em especial as dos intestinos grosso e delgado. A absorção dos nutrientes é feita por meio do seu transporte passivo, facilitado ou ativo através da membrana celular por difusão simples, facilitada ou ativa. 35.2.1 DIFUSÃO SIMPLES OU TRANSPORTE PASSIVO Na difusão simples as substâncias que estão no interior ou fora da célula são transportadas através da membrana a favor do gradiente de concentração
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