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i SUMÁRIO Unidade 1: Genética Mendeliana ......................................................................................... 1 OS EXPERIMENTOS DE MENDEL ......................................................................... 2 LEI DA SEGREGAÇÃO ............................................................................................. 5 PRINCÍPIOS DA SEGREGAÇÃO INDEPENDENTE .............................................. 8 RELAÇÕES INTRA-ALÉLICAS ............................................................................... 14 RELAÇÕES INTERALÉLICAS (INTERAÇÕES GÊNICAS) ................................. 18 SAIBA MAIS: OUTROS EXEMPLOS DE INTERAÇÕES EPISTÁTICAS A SABER . 21 HEREDOGRAMAS ................................................................................................... 23 PROBABILIDADE ..................................................................................................... 25 TESTES DE PROPORÇÕES GENÉTICAS ........................................................... 28 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 32 ATIVIDADE COMPLEMENTAR .............................................................................. 32 PARA APRENDER MAIS ........................................................................................ 32 RESUMO .......................................................................................................................... 32 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ....................................................................... 33 Unidade 2: Base cromossômica da herança ..................................................................... 35 ORGANIZAÇÃO CELULAR ..................................................................................... 36 COMO A TEORIA CROMOSSÔMICA TOMOU FORMA? ................................... 40 CICLO CELULAR ..................................................................................................... 40 GAMETOGÊNESE ANIMAL E VEGETAL.............................................................. 47 ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS E ESTRUTURAIS .............. 51 SAIBA MAIS: CROSSING OVER DESIGUAL ............................................................... 58 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 59 ATIVIDADE COMPLEMENTAR .............................................................................. 59 PARA APRENDER MAIS ........................................................................................ 59 RESUMO .......................................................................................................................... 59 ii ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ....................................................................... 60 Unidade 3: Ligação Gênica e Mapeamento Cromossômico ............................................ 61 LIGAÇÃO GÊNICA ................................................................................................... 62 MAPEAMENTO CROMOSSÔMICO: MAPA DE TRÊS PONTOS ....................... 66 PLEIOTROPIA .......................................................................................................... 69 SAIBA MAIS: PLEIOTROPIA .......................................................................................... 70 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 70 PARA APRENDER MAIS ........................................................................................ 70 RESUMO .......................................................................................................................... 71 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ....................................................................... 71 Unidade 4: Sexo e hereditariedade .................................................................................... 73 MECANISMOS DE DETERMINAÇÃO DO SEXO ................................................. 73 SAIBA MAIS: DETERMINAÇÃO DO SEXO NOS RÉPTEIS ....................................... 76 HEREDITARIEDADE EM RELAÇÃO AO SEXO ................................................... 77 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 80 PARA APRENDER MAIS ........................................................................................ 81 RESUMO .......................................................................................................................... 81 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ....................................................................... 81 Unidade 5: Genética Molecular ........................................................................................... 83 A NATUREZA QUÍMICA DO MATERIAL GENÉTICO .......................................... 84 ESTRUTURA E REPLICAÇÃO DO DNA ............................................................... 87 SAIBA MAIS: REPLICAÇÃO NAS PONTAS DOS CROMOSSOMOS ....................... 95 RNA E TRANSCRIÇÃO ........................................................................................... 95 CÓDIGO GENÉTICO E TRADUÇÃO ................................................................... 101 MUTAÇÃO GÊNICA E VARIABILIDADE ............................................................. 104 ALELOS MÚLTIPLOS ............................................................................................ 107 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 113 PARA APRENDER MAIS ...................................................................................... 113 RESUMO ........................................................................................................................ 113 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ..................................................................... 114 iii Unidade 6: Genética de populações e quantitativa......................................................... 115 ESTRUTURA GENÉTICA DE UMA POPULAÇÃO ............................................. 116 EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG ................................................................. 118 FATORES QUE ALTERAM O EQUILÍBRIO GENÉTICO ................................... 120 OS GENES E O AMBIENTE ................................................................................. 126 SAIBA MAIS: HERDABILIDADE E CORRELAÇÃO ................................................... 133 PARA APRENDER MAIS ...................................................................................... 135 RESUMO ........................................................................................................................ 135 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM ..................................................................... 136 GLOSSÁRIO....................................................................................................................... 137 PARA FINALIZAR... ........................................................................................................... 139 1 Unidade 1: Genética Mendeliana Figura 1.1: Gregor Mendel, o “pai da genética” (Bardoe, C. Gregor Mendel: The Friar Who Grew Peas, 2006) OS EXPERIMENTOS DE MENDEL LEI DA SEGREGAÇÃO LEI DA SEGREGAÇÃO INDEPENDENTE RELAÇÕES INTRA-ALÉLICAS RELAÇÕES INTERALÉLICAS (INTERAÇÕES GÊNICAS) HEREDOGRAMAS PROBABILIDADE TESTES DE PROPORÇÕES GENÉTICAS RESUMO ATIVIDADES DEAPRENDIZAGEM 2 A preocupação do homem em desvendar o mecanismo de herança das características é antiga. Perguntas como: “Por que as crianças se parecem com os pais?” e “Como várias doenças ocorrem em família?” já eram motivos de atenção dos filósofos gregos há mais de dois mil anos. A genética como conhecemos hoje passou a ser desvendada em meados do século XIX pelo monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884) que se dedicou ao estudo da herança das características em ervilha (Pisum sativum). Seus estudos contribuíram para o surgimento de uma nova ciência: a Genética. Sendo assim, os objetivos desta unidade são: (i) Discutir os experimentos mendelianos que deram origem a 1ª e 2ª Leis de Mendel; (ii) Relacionar as diferentes formas de interação intra e interalélicas que modificam as proporções mendelianas (iii) Apresentar noções de probabilidade e o teste estatístico ² comumente utilizados no estudo da herança. OS EXPERIMENTOS DE MENDEL Gregor Mendel é apropriadamente considerado “o pai da genética”. Seus experimentos com ervilhas de jardim (Pisum sativum), publicados em 1866, foram realizados no jardim do mosteiro de Brno no antigo Império Austro-Húngaro hoje República Checa. Mendel não foi o primeiro a se preocupar com o modo de herança das características, inúmeros outros pesquisadores antes de Mendel tentaram elucidar as bases da hereditariedade sem, contudo, obterem sucesso. Figura 1.2: Jonhan Gregor Mendel (1822-1884). (http://upload.wikimedia.org/wikipedi a/commons/d/d3/Gregor_Mendel.pn g) 3 Antes de Mendel, a hereditariedade era entendida como um processo de mistura ou diluição, onde as características dos descendentes constituíam- se em uma espécie de meio-termo das qualidades dos pais. Os adeptos a teoria de herança por mistura defendiam que os filhos apresentavam geralmente uma média dos caracteres dos pais. Concepção inadequada frente a uma série de evidências, como, por exemplo, a existência de um filho calvo de pais não-calvos. Vejamos os experimentos Mendelianos que permitiram a elucidação das bases da hereditariedade e seu sucesso: Material escolhido: ervilhas (Pisum sativum) As ervilhas eram facilmente encontradas nas feiras e ainda apresentavam uma série de características tais como: - Bastante variabilidade de formas e cores; - Número grande de progênie; - Planta diploide (2n=2x=14) - Ciclo relativamente curto; - Ocupa pouco espaço; - Fácil cultivo; - Autógama. Essas características foram determinantes para o sucesso de Mendel no estudo da transmissão das características. Figura 1.3: Pisum sativum – ervilha de cheiro. (http://upload.wikimedia.org/wikipedi a/commons/5/51/Peultjes_planten_P isum_sativum_mange-tout.jpg) 4 Metodologia: Mendel optou por estudar, inicialmente, uma característica por vez. Seus cruzamentos foram realizados entre linhagens puras e contrastantes para cada uma das características e utilizou o método científico de forma criteriosa na quantificação dos resultados. No total, sete características foram estudadas: Figura 1.4: Mendel avaliou 7 características. Para cada característica observou a frequência de ocorrência de dois fenótipos contrastantes (GRIFFITHS, A. J. F. et al., 2009). Os cruzamentos: - Obtenção dos genitores puros: Mendel permitiu a multiplicação das plantas de forma natural, ou seja, por sucessivas autofecundações, até que toda a descendência apresentasse as mesmas características da planta mãe e não mais segregasse. - Obtenção da primeira geração filial - geração F1: De posse dos genitores puros contrastantes, Mendel realizou cruzamentos artificialmente planta a planta, tomando-se o pólen de um dos genitores e colocando-o no estigma do outro genitor, tomando o cuidado de realizar a emasculação do segundo genitor. 5 Figura 1.5: Cruzamento mendeliano de fêmea de flor púrpura e macho de flores brancas. (GRIFFITHS, A. J. F. et al., 2002). - Obtenção da segunda geração filial – geração F2: Mendel permitiu o cruzamento de forma natural entre as plantas da geração F1, ou seja, a autofecundação. LEI DA SEGREGAÇÃO Considerando o caráter textura da semente, vejamos os resultados de Mendel: 6 Figura 1.6: Esquema ilustrativo do experimento envolvendo o caráter textura da semente em ervilha (Cruz et al., 2011). O que Mendel concluiu? - Se um genitor puro tem semente lisa e o outro rugosa, todas as plantas da F1 têm sementes lisas. Existe uma relação de dominância, onde a textura dominante é aquela que aparece na F1 (lisa), sendo a outra textura (rugosa) recessiva; - A textura lisa na F1 é idêntica à das plantas parentais sementes lisas. Neste caso, o modelo de herança por mistura não é suficiente para explicar a herança da característica textura do cotilédone; - Embora não tenha aparecido na F1, sementes rugosas foram observadas na F2 na proporção 1/4, mais uma evidência que a herança não se dá por mistura. Em contraste a proporção de ervilhas lisas observadas foi igual a 3/4. 7 Nos demais cruzamentos realizados, Mendel observou também proporções semelhantes a 3:1 em F2. Se o modo de herança das características avaliadas não é uma simples mistura, como será então? Para responder a essa pergunta Mendel propôs a herança por partículas ou fatores, onde, cada caráter deve ser controlado por dois fatores no indivíduo adulto, no entanto, apenas um desses fatores é transmitido à prole por intermédio dos gametas. Assim, os resultados observados na Figura 1.6 poderiam ser explicados da seguinte forma: Considerando que o modo de herança da textura das sementes é determinado por um par de fatores A/a, a relação de aparência esperada em F2 é: 3/4 lisa; 1/4 rugosa e a relação de pureza igual a: 1/4 lisa pura: 2/4 lisa não pura: ¼ rugosa pura. A concordância entre as proporções observadas e esperadas é a prova de que Mendel estava certo ao propor este modelo. As conclusões deste experimento podem ser resumidas na 1ª Lei de Mendel ou “Lei da Segregação” anunciada a seguir: P: AA (lisa) x aa (rugosa) F1: Aa (todas lisas) x Aa F2: Gametas da F1 A a A AA Aa a Aa aa 8 “A herança de uma característica é determinada por um par de fatores nos indivíduos adultos, no entanto, apenas um desses fatores é transmitido à descendência por intermédio dos gametas”. Nos dias de hoje, dizemos que as características são determinadas pelos genes ou pares de alelos nos organismos diploides. O conjunto de genes de um indivíduo é conhecido como genótipo e a manifestação deste juntamente com o ambiente denominamos fenótipo. Indivíduos que possuem apenas uma das formas do alelo são ditos homozigotos, tais como os genitores puros, enquanto os indivíduos que possuem as duas formas alélicas, tais como os F1 são ditos heterozigotos. De acordo com as definições apresentadas, podemos enunciar a 1ª Lei de Mendel assim: “A herança de uma característica é determinada por um gene ou seja, um par de alelos nos indivíduos adultos, no entanto, apenas um dos alelos fatores é transmitido à descendência por intermédio dos gametas”. PRINCÍPIOS DA SEGREGAÇÃO INDEPENDENTE Uma vez determinado o modo de herança de uma característica, com o intuito de avaliar a independência entre os pares de fatores que determinam os caracteres,Mendel prosseguiu nos estudos analisando cruzamentos que envolviam duas características simultaneamente (Figura 1.7). Como explicar esses resultados? Inicialmente vamos determinar a proporção de ervilhas amarelas e verdes: Amarelas: 315 + 108 = 423 → 423/556 ≈ 3/4 Verdes: 101 + 32 = 133 → 133/556 ≈ 1/4 E em seguida a proporção de ervilhas lisas e rugosas: 9 Lisas: 315 + 101 = 416 → 416/556 ≈ 3/4 Rugosas: 108 + 32 = 140 → 140/556 ≈ 1/4 Figura 1.7: Esquema ilustrativo do experimento envolvendo os caracteres textura da semente e cor dos cotilédones em ervilha (Cruz et al., 2011). Observa-se que as proporções descritas anteriormente por Mendel não foram alteradas. Segundo o princípio probabilístico dois eventos são independentes quando a probabilidade dos dois eventos ocorrerem simultaneamente é dada pelo produto das duas probabilidades individuais, ou seja, P (A e B) = P(A) x P(B). Sabendo disso, considerando que os fatores para os caracteres cor e textura tem distribuição independentes, ao analisarmos simultaneamente esperamos que: 10 P (amarela e lisa) = 3/4 x 3/4 = 9/16 P (amarela e rugosa) = 3/4 x 1/4 = 3/16 P (verde e lisa) = 1/4 x 3/4 = 3/16 P (verde e rugosa) = 1/4 x 1/4 = 1/16 Os dados observados são os mesmos esperados? Vamos à comparação. Fenótipo Observado Esperado Amarela e lisa 315/556 = 9,06/16 9/16 Amarela e rugosa 108/556 = 3,11/16 3/16 Verde e lisa 101/556 = 2,91/16 3/16 Verde e rugosa 32/556 = 0,92 1/16 Visivelmente podemos admitir que as proporções observadas e esperadas são iguais, ou seja, os caracteres cor e textura tem distribuição independentes na prole. Tal fato só é possível porque durante a formação dos gametas os fatores se segregam independentemente, tal evidência é conhecida como na 2ª Lei de Mendel. Admitindo que a característica cor do cotilédone é determinada por A/a e a textura da semente por B/b vamos rever o cruzamento: 11 P: AABB (amarela e lisa) x aabb (verde e rugosa) Gametas: AB ab F1: 100% AaBb (amarela e lisa) Gametas: P (A e B) = P (A) x P (B) = 1/2 x 1/2 = 1/4 P (A e b) = P (A) x P (b) = 1/2 x 1/2 = 1/4 P (a e B) = P (a) x P (B) = 1/2 x 1/2 = 1/4 P (a e b) = P (a) x P (b) = 1/2 x 1/2 = 1/4 F2: Gametas da F1 AB Ab aB Ab AB AABB AABb AaBB AaBb Ab AABb AAbb AaBb Aabb aB AaBB AaBb aaBB aaBb Ab AaBb Aabb aaBb aabb 12 Por simples contagem temos: Relação fenotípica: 9 amarela e lisa (A_B_): 3 amarela e rugosa (A_bb): 3 verde e lisa (aaB_): 1 verde e lisa (aabb) Relação genotípica: 1 AABB: 2 AABb: 1 AAbb: 2 AaBB: 4 AaBb: 2 Aabb: 1 aaBB: 2aaBb: 1 aabb. O método de contagem é trabalhoso e demorado. O número de células no quadro de cruzamentos é de 2n, sendo n o número de gametas formados. Quando há dois genes em heterozigose, tem-se um quadro 4x4; para três genes, um quadro 8x8 e assim por diante, dificultando a contagem dos diferentes tipos de genótipos. O método da probabilidade é mais rápido, pois permite obter a frequência de um genótipo ou fenótipo particular sem a necessidade de obtenção de todos os outros. Vejamos um cruzamento entre X e Y envolvendo mais de dois genes para X (AabbCcDd) e Y (AaBbCCdd) e: A/a: A_ – cotilédone amarelo aa – cotilédone verde B/b: B_ – semente lisa bb – semente rugosa C/c: C_ – planta alta cc – planta anã D/d: D_ – flores axiais dd – flores terminais Número de gametas formados por X e Y: A quantidade de gametas diferentes depende do número de genes em heterozigose e pode ser assim estimada: Nº de gametas de X: 2n = 23 = 8 (AbCD, AbcD, Abcd, AbCd, abCD, abcD, abcd, abCd) Nº de gametas de Y: 22 = 22 = 4 (ABCd, AbCd, aBCd, abcd) 13 Número de genótipos formados na descendência de X e Y: Como se trata de genes independentes, podemos considerar gene a gene. Assim temos: Gene Genitores Descendência Nº de genótipos possíveis X Y A/a Aa Aa 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa 3 B/b bb Bb 1/2 Bb: 1/2 bb 2 C/c Cc CC 1/2 CC: 1/2 Cc 2 D/d Dd Dd 1/2 Dd: 1/2 dd 2 Considerando todas as combinações possíveis, haverá 3 x 2 x 2 x 2 = 24 diferentes genótipos na descendência do cruzamento entre X e Y. A frequência de cada genótipo pode ser facilmente obtida pelo método da probabilidade. Assim como na ilustração: P (AaBbCcDd) = 2/4 x 1/2 x 1/2 x 1/2 = 2/32 P (aabbCcdd) = 1/4 x 1/2 x 1/2 x 1/2 = 1/32 P (A_B_C_D_) = 3/4 x 1/2 x 1 x 1/2 = 3/16 Número de fenótipos formados na descendência de X e Y: Como se trata de genes independentes, podemos considerar gene a gene. Assim temos: Gene Genitores Descendência Nº de genótipos possíveis X Y A/a Aa Aa 3/4 amarelas: 1/4 verde 2 B/b BB Bb 1/2 lisa: 1/2 rugosa 2 C/c Cc CC 1 plantas altas 1 D/d Dd dd 1/2 flores axiais: 1/2 flores terminais 2 14 Considerando-se todas as combinações possíveis, haverá 2 x 2 x 1 x 2 = 8 diferentes fenótipos na descendência do cruzamento entre X e Y. A frequência de cada fenótipo pode ser obtida pelo método da probabilidade. Assim, como ilustração, temos: P (amarela, rugosa, alta c/ flores terminais) = 3/4 x 1/2 x 1 x 1/2 = 3/16 P (verde, rugosa, anã c/ flores terminais) = 1/4 x 1/2 x 0 x 1/2 = 0 RELAÇÕES INTRA-ALÉLICAS Relações intra-alélicas são as interações que se manifestam entre os alelos de um mesmo gene. Elas determinam a relação fenotípica (relação de aparência) e, às vezes, a genotípica (relação de pureza), esperadas na descendência de cruzamentos. Dominância completa: Ocorre quando um alelo é capaz de suprir a manifestação do outro em heterozigose, ou seja, o fenótipo do heterozigoto é igual ao apresentado por um dos homozigotos. Todas as características estudadas por Mendel apresentam interação alélica de dominância completa. Vejamos um exemplo em humanos: P: x AA (lóbulo da orelha solto) aa (lóbulo da orelha preso) F1: Aa (100% lóbulo solto) 15 F2 Gametas da F1 A a A AA (lob. solto) Aa (lob. solto) A Aa (lob. solto) aa (lob. preso) Relação fenotípica: 3/4 lóbulo solto: 1/4 lóbulo preso Relação genotípica: 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa Codominância: Ocorre quando ambos os alelos se expressam integralmente no heterozigoto. Nesta situação as proporções fenotípicas e genotípicas são as mesmas em F2. Vejamos um exemplo em bovinos da raça Shorthorn: P: x RR (pelagem vermelha) R’R’ (pelagem branca) F1: RR’ (100% ruão) 16 F2: Gametas da F1 R R’ R RR (vermelho) RR’ (ruão) R’ RR’ (ruão) R’R’ (branco) Relação fenotípica: 1/4 vermelho: 2/4 ruão: 1/4 branco Relação genotípica: 1/4 RR: 2/4 RR’: 1/4 R’R’ Ausência de dominância ou dominância incompleta: Ocorre quando apenas um dos alelos se expressa no heterozigoto. Diferente do que acontece na dominância completa, o fenótipo produzido no heterozigoto é intermediárioàqueles apresentados pelos homozigotos. Nesta situação as proporções fenotípicas e genotípicas também são as mesmas em F2. Vejamos um exemplo na coloração das flores maravilha-bonina Mirabilis jalapa: P: x BB (cor vermelha) bb (cor branca) F1: Bb (100% rosa) 17 F2: Gametas da F1 B b B BB (vermelha) Bb (rosa) B Bb (rosa) bb (branca) Relação fenotípica: 1/4 vermelha: 2/4 rosa: 1/4 branca Relação genotípica: 1/4 BB: 2/4 Bb: 1/4 bb Genes letais: É todo e qualquer tipo de interação entre alelos de um mesmo gene, ou de genes diferentes, cuja manifestação fenotípica é a morte do indivíduo, seja na fase pré ou pós-natal – neste último caso, anterior a maturidade sexual. Ocorre quando apenas um dos alelos se expressa no heterozigoto. Como ilustração, temos o gene que determina a pelagem amarela em camundongos selvagens. Dessa forma: - AA: pelos de cor preta - AA’: pelos de cor amarela - A’A’: letal P: x AA’ (amarelo) AA’ (amarelo) 18 Gametas A A’ A AA (preto) AA’ (amarelo) A’ AA’ (amarelo) A’A’ (letal) Relação fenotípica: 1/3 preto: 2/3 amarelo Relação genotípica: 1/3 AA: 2/3 AA’ RELAÇÕES INTERALÉLICAS (INTERAÇÕES GÊNICAS) As interações gênicas ocorrem quando dois ou mais genes controlam um mesmo caráter. Nas discussões anteriores foram considerados dois genes independentes, cujo cruzamento entre híbridos fornecia a proporção mendeliana clássica 9:3:3:1. Veremos que as interações gênicas contribuem para a alteração dessa proporção. Elas podem ser classificadas em: - Interações gênicas epistáticas e - Interações gênicas não epistáticas. Interações gênicas epistáticas: Ocorrem quando dois ou mais genes determinam a produção de enzimas que catalisam diferentes etapas de uma mesma via biossintética. Vias biossintéticas são aquelas em que as enzimas produzidas por determinados genes atuam provocando o desdobramento de uma substância X 19 precursora (SP) em substratos intermediários (SI) até dar origem a um produto final (PF), que, pela ação do meio, resultará na manifestação fenotípica para aquele caráter. Vejamos: A B SP II e1 SI II e2 PF a b Como ilustração, consideremos o caráter cor das flores da espécie Collinsia parviflora, em que são possíveis 3 fenótipos: flores azuis, magenta ou branca de acordo com a seguinte via: A B Incolor magenta azul Se forem cruzadas plantas branca e magenta veremos: P: AAbb (branca) x aaBB (magenta) F1: 100% AaBb (azul) x AaBb (azul) F2: 9 A_B_ (azul) 9 3 A_bb (magenta) 3 3 aaB_ (branca) 1 aabb (branca) 4 20 Como pode-se observar, a epistasia envolve a supressão gênica interalélica, ou seja, os alelos de um loco gênico encobrem a expressão de outro alelo pertencente a outro loco gênico (não-alelo). O fenótipo apresentado por um indivíduo de genótipo B_ dependerá da ação do gene A/a. Se houver A_, o fenótipo será azul, pois a enzima produzida pelo alelo B atuará catalisando a transformação de magenta em azul. Entretanto, se houver aa, a ação do gene B será suprimida, pois, apesar de produzir a enzima, não haverá substrato para sua ação catalítica. O mesmo fato ocorre em relação à condição genotípica bb. Pode-se, portanto, afirmar que a condição aa inibe ou suprime a ação do loco B/b. O alelo (ou gene) que mascara a expressão do outro é denominado epistático e o alelo (ou gene) cuja ação é suprimida, é denominado hipostático. No exemplo anterior, o alelo a é o epistático e o gene B/b é o hipostático. Outro exemplo de epistasia na natureza é a via de antocianinas de campainha, cujo produto final é azul e todos os intermediários incolores. Vejamos o cruzamento entre duas linhagens homozigotas diferentes de pétalas brancas: P: AAbb (branca) x aaBB (branca) F1: 100% AaBb (azul) x AaBb (azul) F2: 9 A_B_ (azul) 9 3 A_bb (branca) 3 aaB_ (branca) 1 aabb (branca) 7 21 SAIBA MAIS: OUTROS EXEMPLOS DE INTERAÇÕES EPISTÁTICAS A SABER Tipos Proporção Espécie Controle gênico 1 - Epistasia dominante 12:3:1 Cebola V_ = vermelho vv = amarelo I_ = inibe a cor ii = permite a cor 2 - Epistasia recessiva 9:3:4 Cebola V_ = vermelho vv = amarelo C_ = permite a cor cc = inibe a cor 3 - Interação dominante e recessiva 13:3 Cebola I_ = inibe a cor ii = permite a cor C_ = permite a cor cc = inibe a cor 4 - Genes duplos dominantes (sem efeito cumulativo) 15:1 Bolsa-de- pastor (crucífera) A_B, A_bb, aaB_ = fruto triangular Aabb = fruto oval 5 - Genes duplos recessivos (sem efeito cumulativo) 9:7 Trevo A_B_ = alto teor de cianeto A_bb, aaB_ e aabb = baixo teor 6 - Genes duplos (dominantes e recessivos) com efeito cumulativo 9:6:1 Abóbora A_B_ = achatada A_bb e aaB_ = esférica aabb = alongada 22 Observa-se que em todos os exemplos em que se verifica epistasia entre dois locos gênicos, o número de fenótipos entre os descendentes é menor que quatro. A proporção 9:3:3:1 se modifica, dando origem a uma combinação daquela proporção. Interações gênicas não-epistáticas: diferem das epistáticas pelo fato dos genes envolvidos produzirem enzimas que atuam em vias biossintéticas (ou metabólicas) distintas. A a SP1 II e1 S1 Fenótipo SP2 II e2 S2 b B Ao contrário das interações epistáticas, não há supressão gênica interalélica, mas a mistura dos produtos de cada via metabólica poderá proporcionar diferentes fenótipos. Podemos considerar o cruzamento a seguir entre cobras de milharal, a título de ilustração: 23 P: x AAbb (pigmento da pele cor laranja) aaBB (pigmento da pele cor preta) F1: 100% AaBb (camuflada) F2: 9 A_B_ (camuflada) : 3 A_bb (laranja) : 3 aaB_ (preta) : 1 aabb (albina) Nas interações não-epistáticas, a proporção 9:3:3:1 pode ser mantida, entretanto essa relação fenotípica distingue-se da proporção mendeliana clássica, pois nesse caso têm-se dois genes, mas apenas um caráter em questão. HEREDOGRAMAS Especialmentepara aquelas espécies cuja descendência não é numerosa, e a geração é mais longa, o controle genético de um caráter pode ser realizado por meio do estudo da genealogia. Na elaboração da genealogia, também denominada pedigree, heredograma ou árvore genealógica, normalmente são utilizados os símbolos apresentados a seguir (Figura 1.8). 24 Figura 1.8: Símbolos comumente utilizados em heredogramas (http://www.sobiologia.com.br/figuras/Genetica/heredograma.gif) Na Figura 1.9, é mostrado um exemplo de genealogia de uma família com ocorrência de pessoas com fenilcetonúria. Observando o heredograma, é fácil inferir que o caráter é controlado por um gene e que o alelo recessivo confere a doença. Veja que os indivíduos da 3ª geração só podem apresentar a doença porque seus pais são heterozigóticos. Figura 1.9: Heredograma de uma família com ocorrência de fenilcetonúria (http://geneticaluliotti.pbworks.com/f/hered1.jpg ). 25 PROBABILIDADE A probabilidade de um evento é a razão entre o número de casos favoráveis à sua realização e o número total de casos possíveis. Em humanos, o sexo masculino possui os cromossomos sexuais X e Y e o sexo feminino os cromossomos XX. Portanto, durante a formação dos gametas nos homens são produzidos dois tipos de gametas, um contendo o cromossomo X e o outro Y; já a mulher produz apenas gametas com o cromossomo X. Sendo assim, quem determina o sexo do descendente é o macho. Como a proporção dos gametas masculinos contendo o cromossomo X é de 50% e contendo Y também é 50%, é fácil entender que a probabilidade de que qualquer descendente seja fêmea ou macho é 1/2. Os conceitos a serem apresentados a seguir terão como base uma anomalia que acomete seres humanos, denominada fenilcetonúria, uma doença condicionada por um gene recessivo aa. Consideremos um casal normal, que possui dois filhos: um normal e outro com fenilcetonúria. É evidente, portanto, que os pais são heterozigóticos (Aa), sendo A o gene que condiciona o fenótipo normal. Consideremos que há interesse por parte do casal em saber a probabilidade de o terceiro filho ser normal. Um casal de heterozigotos pode ter quatro filhos distintos, quando se considera o genótipo: o homozigoto AA, o heterozigoto com o gene recessivo vindo do pai (e, consequentemente, o dominante recebido da mãe), o heterozigoto com o gene recessivo vindo da mãe e o homozigoto aa. Portanto, dos quatro eventos possíveis, três deles satisfaz a condição de fenótipo normal A_. Logo: P(terceiro filho ser normal) = 3/4 26 Da mesma forma, pode-se calcular a probabilidade de o filho normal do casal ser homozigoto. Se a criança nasceu normal, ele pode ser homozigoto AA ou heterozigoto com gene recessivo de origem paterna ou heterozigoto com o gene recessivo de origem materna. Ou seja, observamos uma opção favorável e três possíveis. Assim: P(filho normal ser homozigoto) = 1/3 Na maior parte das vezes não estamos interessados em apenas uma característica queremos saber a probabilidade de ocorrência de dois ou mais eventos, para tanto vejamos algumas leis de probabilidade: Probabilidade de dois ou mais eventos: a) Quando os eventos são independentes: dois eventos são independentes quando a probabilidade de ocorrer B não é condicional à ocorrência de A. A expressão que define a probabilidade de ocorrerem simultaneamente ou em sequência dos eventos é o produto de suas probabilidades. P(A e B) = P(A) x P(B) Exemplo: A probabilidade do terceiro filho do casal nascer menino e ter fenilcetonúria, é: P(menino e fenilcetonúria) = P(menino) . P(fenilcetonúria) = (1/2) x (1/4) = 1/8 P(menina e normal) = P(menina) . P(normal) = (1/2) x (3/4) = 3/8 b) Quando os eventos são mutuamente exclusivos: eventos mutuamente exclusivos são aqueles cuja ocorrência de um elimina a 27 possibilidade de ocorrência do outro. Nesse caso, a probabilidade de ocorrência de um ou outro evento é expressa por pela soma das probabilidades: P(A ou B) = P(A) + P(B) Exemplo: A probabilidade de nascer um menino com fenilcetonúria ou uma menina normal: P(A) = P(menino com fenilcetonúria) = 1/8 P(B) = P(menina normal) = 3/8 P(A ou B) = P(A) + P(B) = 1/8 + 3/8 = 1/4 Distribuição multinomial: Além de conhecer a probabilidade de que um determinado evento ocorra, há necessidade, na maioria dos casos, de se identificar a probabilidade de que determinadas combinações de eventos possam ocorrer. A distribuição multinomial poderá ser empregada na determinação da probabilidade quando, no evento especificado, se deseja calcular a probabilidade de um acontecimento composto estabelecido por vários eventos. Nesse caso, os eventos que constituem o acontecimento devem ser independentes e a ordem dos eventos não importar. Para exemplificar, suponhamos que o casal de heterozigotos, portadores do gene que determina fenilcetonúria, pretende ter cinco filhos. A probabilidade de nascerem três meninos normais e duas meninas com fenilcetonúria pode ser estimada a partir do termo geral expresso por: em que: ni = número de ocorrências do evento i N = número total de ocorrências pi = probabilidade de ocorrência do evento i 28 Utilizando o termo geral apresentado acima temos: N = 5 eventos ou nascimentos n1 = 3; p1 = p(meninos normais) = 1/2 x 3/4 = 3/8 n2 = 2; p2 = p(meninas com fenilcetonúria) = 1/2 x 1/4 = 1/8 Assim: TESTES DE PROPORÇÕES GENÉTICAS Em genética, assim como em muitas outras ciências, os resultados numéricos observados em um experimento são frequentemente comparados com aqueles esperados com base em alguma hipótese. Entre os testes de avaliação de hipóteses genéticas, o teste de qui quadrado (²) tem se mostrado bastante útil e eficiente, pois leva em consideração os desvios ocorridos entre valores previstos e observados e é sensível ao tamanho da amostra. Teste de hipótese: Uma vez determinada a hipótese genética a ser testada H0, o primeiro passo é decidir qual o valor da probabilidade que desejamos encontrar para indicar se os desvios observados em relação ao esperado são devidos ao acaso ou não. Normalmente, é escolhido o nível de significância de 0,05 ou 5%, isto ajuda a minimizar a chance de aceitar uma hipótese errada sem, contudo, aumentar a probabilidade de rejeitar a hipótese correta. O segundo passo para a realização do teste de hipótese é obter duas estatísticas denominadas ² calculado e ² tabelado. O ² calculado é obtido a partir dos dados experimentais, levando-se em conta os valores observados e aqueles que seriam esperados dentro da hipótese genética formulada. O ² 29 tabelado depende dos graus de liberdade (na maioria das vezes, é igual ao número de classes fenotípicas menos 1) e do nível de significância adotado. A tomada de decisão é feita comparando-se o valor do ² calculado com base nos resultados observados com o valor do ² apresentado na Tabela 1. As seguintes decisões devem ser tomadas: Se ² calc ² tab => Rejeita-se Ho Se ² calc < ² tab => Não se rejeita Ho O valor do qui-quadrado a ser comparado com o tabelado pode ser calculado por meio da expressão: Tabela 1.1: Valores de ² de acordo com o grau de liberdade (G.L) e probabilidade G.L. 0,99 0,95 0,80 0,50 0,20 0,05 1 0,0001 0,004 0,06 0,46 1,64 3,842 0,02 0,10 0,45 1,39 3,22 6,00 3 0,11 0,35 1,00 2,34 4,64 7,81 4 0,29 0,71 1,65 3,36 5,99 9,49 Aplicação: Vejamos o cruzamento entre linhagens de plantas de Trevo com alto e baixo teor de cianeto: P: Alto teor de cianeto x Baixo teor de cianeto F1: 100% Alto teor de cianeto F2: 120 Alto teor de cianeto: 80 baixo teor de cianeto 30 Podemos afirmar que a característica é determinada por gene com dominância completa? Se isso for verdade esperamos observar na F2 do cruzamento acima a proporção 3:1. Para testar essa hipótese precisamos recorrer ao teste de ². 1º Passo: determinar a hipótese a ser testada: H0: A proporção observada em F2 é igual a 3:1 Ha: A proporção observada em F2 não é igual a 3:1 2º Passo: calcular o valor do ²calc ²calc = 3º Passo: comparar ²calc com ²tab, neste estudo o ²tab ao nível de 5% de probabilidade de 1 grau de liberdade é: 3,81. Então ²calc é maior que o ²tab, ou seja, a hipótese H0 deve ser rejeitada. 4º Passo: Conclusão – se H0 foi rejeitada é porque o caráter em estudo não é determinado por um gene com dominância completa. Fenótipo/ Classes Observado Esperado (O-E) (O-E)2 Alto teor de cianeto 120 3/4 = 150 (120-150) = -30 900 Baixo teor de cianeto 80 1/4 = 50 (80-50) = 30 900 Total 200 Uma vez rejeitada a hipótese de herança determinada por um gene com dominância completa, vejamos então se a característica em estudo é determinada por dois genes com interação gênica do tipo epistática 9:7. 31 1º Passo: determinar a hipótese a ser testada: H0: A proporção observada em F2 é igual a 9:7 Ha: A proporção observada em F2 não é igual a 9:7 2º Passo: calcular o valor do ²calc ²calc = 3º Passo: comparar ²calc com ²tab, neste estudo o ²tab ao nível de 5 % de probabilidade de 1 grau de liberdade é: 3,81. Então ²calc é menor que o ²tab, ou seja, a hipótese H0 não deve ser rejeitada. 4º Passo: Conclusão – se H0 não foi rejeitada é porque o caráter em estudo é determinado por dois gene com interação gênica epistática 9:7. Fenótipo/ Classes Observado Esperado (O-E) (O-E)2 Alto teor de cianeto 120 9/16 = 112.5 7,5 56,25 Baixo teor de cianeto 80 7/16 = 87.5 -7,5 56,25 Total 200 O teste de qui-quadrado também pode ser empregado na avaliação da independência entre dois genes que determinam caracteres diferentes como será visto na Unidade 3. 32 LEITURA COMPLEMENTAR NOVELLI, Lucca. Mendel e a Invasão dos Transgênicos. Editora Ciranda Cultura. 2009. 112p. MENDEL, Gregor. Experiments in plant hybridization. Journal of the Royal Horticultural Society. p. 3-47, 1866. ATIVIDADE COMPLEMENTAR Peça aos familiares para testar suas habilidades quanto a capacidade de enrolar a língua. Com as informações, construa o heredograma e conclua quanto ao padrão de herança desta característica e os prováveis genótipos de cada um dos seus familiares. PARA APRENDER MAIS Acesse a página da Universidade Federal de Viçosa e baixe gratuitamente o Programa GBOL - Genética Básica Online http://www.ufv.br/dbg/gbol/gbol.htm, com ele você poderá realizar diversas atividades e conhecer mais sobre a genética moderna. http://www.odnavaiaescola.com.br/dna/index.menu1.htm RESUMO Mendel descreveu as duas leis básicas da herança usando cruzamentos de ervilhas. A primeira, a lei da segregação, diz que as características são determinadas por pares de fatores e esses se separam durante a formação dos gametas. A segunda, a lei da segregação independente, diz que os modos de herança de duas características são independentes, sabe-se hoje que isso só é possível se ambas as características forem determinadas por genes localizados em cromossomos diferentes. Após a redescoberta dos trabalhos de Mendel, muitos pesquisadores 33 ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM 1. O nanismo é herdado como caráter monogênico simples. Dois anões têm um filho anão e um filho normal. a) O nanismo é? b) Qual é a probabilidade de um próximo filho ser normal? E de ser anão? Dominante; 1/4; 3/4 2. Considere o cruzamento AaBbCcDdEe x aaBbccDdee. Que proporção da prole se assemelhará, no genótipo, com o primeiro genitor, o segundo genitor, e qualquer um deles? 1/32; 1/32; 1/16 3. A audição normal depende da presença de pelo menos um alelo dominante de cada um dos genes D e E. Se você examinasse a prole coletiva de um grande número de casamentos DdEe X DdEe, que proporção fenotípica esperaria encontrar? 15:1 4. O cruzamento Aabb X AaBb irá produzir 8 descendentes. Qual a probabilidade de ocorrerem 2AABb e 6Aabb? 0,01% investigaram o modo de herança de diversas características nas diferentes espécies e observaram que além da dominância completa existiam outros modos de interação intra-alélica e que algumas características eram determinadas por mais de um gene. Um heredograma é um diagrama que mostra as relações familiares e os padrões de herança de características particulares. A probabilidade de ocorrência simultânea de dois ou mais eventos geneticamente independentes é igual ao produto das probabilidades de que cada evento ocorra sozinho. Este e outros princípios estatísticos são úteis no cálculo do risco de que algumas pessoas irão herdar um genótipo em particular. 34 5. Observe o heredograma e reponda: a) A doença é determinada por um alelo recessivo ou dominante? Dominante b) Quais os indivíduos seguramente homozigotos do heredograma? Todos os normais c) Qual a probabilidade de numa segunda gravidez o casal (III-4 e III-5) dar a luz a uma criança normal? 1/4 6. Em uma determinada espécie vegetal, a cor da flor e a largura das folhas são características de herança monogênica. As flores vermelhas são determinadas por gene dominante. As plantas de folha larga e as de folha estreita são homozigotas, enquanto as de folha de largura intermediária são heterozigotas. Com base nos resultados abaixo analise se os dois genes têm distribuição independente. P: planta de folha larga e flor branca x planta de folha estreita e flor vermelha F1: 100% de plantas de folha de largura intermediária e flor vermelha F2: 87 plantas de folha larga e flor vermelha 369 plantas de folha larga e flor branca 830 plantas de folha de largura intermediária e flor vermelha 82 plantas de folha de largura intermediária e flor branca 451 plantas de folha estreita e flor vermelha 5 plantas de folha estreita e flor branca 35 Unidade 2: Base cromossômica da herança ORGANIZAÇÃO CELULAR COMO A TEORIA CROMOSSOMICA TOMOU FORMA? CICLO CELULAR GAMETOGÊNESE ANIMAL E VEGETAL ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS E ESTRUTURAIS RESUMO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM Após a redescoberta dos trabalhos de Mendel em 1900, despertou-se o interesse em saber onde os fatores mendelianos estavam situados na célula. Um lugar óbvio para procurar era nos gametas, pois eles são o único elo entre as gerações. Embora não tivessem o mesmo tamanho, considerou-se que ovócitos e espermatozoides contribuíam igualmente para a genética da prole. Como o ovócito tem uma quantidade de citoplasma muito maior que o espermatozoide, era pouco provável que o material genético estivesse no citoplasma. Já os núcleos do ovócito e do espermatozoide eram aproximadamente do mesmo tamanho, de modo queos núcleos foram considerados bons candidatos a abrigar o material genético. Outra pergunta que surgiu foi: “Qual o modo preciso pelo qual são obtidas as segregações e distribuição independente em nível celular?” A resposta a esses questionamento foi dada a partir da observação do comportamento de estruturas presentes no núcleo, os cromossomos, durante todo o ciclo celular. Alterações nos cromossomos ou na maquinaria da célula durante o ciclo celular podem levar a alterações drásticas nas características dos indivíduos. Essas podem acontecer tanto em nível numérico e estrutural e merecem a atenção dos estudiosos. Para tanto, os objetivos desta unidade são: (i) Apresentar as 36 bases cromossômicas da hereditariedade, relacionando-as com a 1ª e 2ª Leis de Mendel; (ii) Diferenciar os processos de divisão celular nos animais e vegetais, cada qual de acordo com sua função e o tipo celular em que ocorre e (iii) Abordar os tipos de alterações numéricas e estruturais nos cromossomos, bem como suas causas e consequências. ORGANIZAÇÃO CELULAR Antes de iniciarmos a discussão a cerca da base cromossômica da herança vamos rever alguns conceitos e estruturas importantes na compartimentalização das células. A célula é a unidade fundamental dos seres vivos desde os mais simples como as bactérias até os mais complexos, como os seres humanos e as plantas. São delimitadas por uma membrana plasmática cuja região interna está em contato com o citoplasma. No citoplasma encontram-se diversas estruturas subcelulares (organelas) que desenvolvem funções distintas, que no total determinam as características de vida associada à célula. Todas as células possuem material genético, no entanto, a forma de organização varia em função da complexidade do organismo. Nos procariontes (eubactérias e arqueobactérias) o material genético encontra-se em contato com o citoplasma numa região denominada nucleoplasma ou nucleóide. Já nos organismos superiores – os eucariontes – o material genético encontra-se numa região diferenciada, o núcleo. Este for sua vez é esférico e pode ser observado ao microscópio óptico, quando a célula é tratada com corantes básicos, graças ao caráter ácido da cromatina presente em seu interior. A cromatina é constituída principalmente de DNA (Ácido desoxirribonucleico) e proteínas. A molécula de DNA é uma hélice dupla helicoidal conforme veremos na Unidade 5. A parte proteica, que se encontra 37 complexada com a molécula de DNA em cada cromossomo eucarioto, é representada, principalmente, pelas proteínas histonas. Cinco diferentes tipos de histonas estão envolvidos na estruturação da cromatina: H1, H2a, H2b, H3 e H4. Compactação da cromatina: é sabido que o comprimento da molécula de DNA pode ser até mais de 100 mil vezes maior que o diâmetro do núcleo, o que implica na necessidade de compactação desse DNA para que o mesmo possa ser acomodado dentro do próprio núcleo celular. O primeiro grau de compactação é uma estrutura denominada nucleossomo, que atinge 11 nm de espessura. Cada nucleossomo é formado por um octâmero de histonas (2H2a, 2H2b, 2H3 e 2H4) envolto por 146 pares de bases de DNA. Entre dois nucleossomas vizinhos, existe um segmento de DNA de cerca de 54 pares de base ao qual se associa a uma molécula de histona H1, com a função provável de estabilizar e aproximar dois nucleossomas. Um segundo nível de compactação é alcançado quando a fita de 11nm assume uma estrutura em ziguezague, chamada de solenoide. Em consequência, forma-se uma fita com diâmetro de 30nm e que pode ser observada ao microscópio em determinado momento do ciclo celular (Figura 2.1). Os solenoides dobram-se, formando alças, que são estabilizadas por proteínas não histonas, resultando nas fibras cromossômicas, com 300nm de espessura. O próximo grau de compactação é a formação dos loops ou domínios, que atingem 700nm de espessura. O grau máximo de compactação é atingido durante a fase de metáfase do ciclo celular, quando a cromatina apresenta cerca 1400nm de diâmetro passando a ser denominada de cromossomo. 38 Figura 2.1: Diferentes níveis de compactação do DNA (http://1.bp.blogspot.com/- jpTClGGnACg/T1Q8ExpzMeI/AAA AAAAAAWM/ZCO6PF9nGYY/s64 0/compactacao+dna.png) Cromossomos: São filamentos de cromatina condensada a proteínas existentes no núcleo de todas as células. Nos eucariotos, são lineares e existem em número variável de acordo com a espécie enquanto nos procariontes é único (na maioria dos organismos) e circular. Os cromossomos apresentam as seguintes propriedades: - São capazes de autoduplicarem durante as divisões celulares, conservando suas propriedades morfológicas e fisiológicas; - Permanecem no núcleo, mesmo em condições de inanição; - Se apresentam aos pares na maior parte dos organismos que se reproduzem de forma sexuada, ou seja, cada cromossomo tem seu homólogo. Quanto à morfologia destacamos a presença de: - Centrômero: é o centro de movimento dos cromossomos durante a divisão celular. Constitui-se numa constrição primária que divide o cromossomo em dois braços. - Telômero: é a porção terminal o cromossomo. 39 - Cromátides: é o resultado da divisão longitudinal da cromatina durante a divisão celular. Ambas as cromátides apresentam a mesma informação genética. Os cromossomos são classificados de acordo com a posição relativa do centrômero em (Figura 2.2): - Metacêntrico: centrômero mediano, os dois braços têm aproximadamente a mesma medida; - Submetacêntrico: centrômero um pouco deslocado da porção mediana do cromossomo; - Acrocêntrico: centrômero próximo a um dos extremos do cromossomo; - Telocêntrico: centrômero estritamente terminal, o cromossomo tem um único braço. Figura 2.2: Classificação dos cromossomos quanto à posição do centrômero. A: metacêntrico; B: submetacêntrico; C: acrocêntrico e D: telocêntrico. Adaptado de http://thinkbio.files.wordpress.com/2012/01/f8- 51.jpg Cromátides 40 Como comentado anteriormente os cromossomos se apresentam aos pares na maior parte das vezes. Os pares de cromossomos homólogos, além de terem o mesmo tamanho e manterem a mesma posição relativa do centrômero, apresentam genes controladores dos mesmos caracteres. A origem é estabelecida na célula ovo ou zigoto, de forma que um cromossomo é herdado do genitor paterno, e seu homólogo, do genitor materno. COMO A TEORIA CROMOSSÔMICA TOMOU FORMA? Após a redescoberta dos trabalhos de Mendel em 1900, o interesse em saber onde as estruturas hereditárias ou fatores mendelianos estavam situados foi despertado. Outra pergunta que surgiu foi: “Qual o modo preciso pelo qual são obtidas as segregação e distribuição independente em nível celular?” Nos núcleos, os componentes mais proeminentes eram os cromossomos que possuem características únicas que os distinguem de todas as outras estruturas celulares. Uma propriedade intrigante é a constância do número de cromossomos célula a célula dentro de um organismo multicelular, e de geração a geração dentro da espécie. Surgiu então a questão: como é mantido o número cromossômico? A reposta a essa pergunta foi dada observando ao microscópio o comportamento dos cromossomos durante o ciclo celular e destas observações pode-se formular a hipótese de que os cromossomos são as estruturas que contém os fatores mendelianos ou os genes, como são conhecidos hoje. CICLO CELULAR O ciclo celular pode ser dividido em dois momentos: a intérfase e a divisão celular (Figura 2.3).41 A intérfase é o momento que antecede a divisão celular, em que ocorre uma sequência de eventos entre o final de uma divisão e o início de outra. O período interfásico pode ser compreendido em três intervalos; a duração de cada um desses períodos varia de espécie para espécie, de órgão para órgão e mesmo entre as células de um órgão. o Período G1 – período de intensa atividade metabólica, a célula aumenta de tamanho. o Período S – período de síntese, no qual ocorre a replicação do DNA de cada cromossomo, consequentemente, duplicação dos mesmos, de forma que cada cromossomo passa a ter duas cromátides irmãs. Essas cromátides partilham de um centrômero comum e apresentam evidentemente a mesma informação genética. o Período G2 – a célula continua a preparar-se para a divisão, aumentando a síntese proteica, armazenando energia e sintetizando os componentes do fuso acromático. A divisão celular propriamente dita pode ocorrer de duas formas: por mitose ou meiose, vejamos: Figura 2.3: Ciclo celular de uma célula somática (http://www.turmadomario.com.br/cms/images/ biologia/ciclocelular.jpg ). 42 Mitose: é a divisão celular associada à divisão das células somáticas, células do corpo dos eucariontes. Didaticamente pode ser dividida em quatro fases: o Prófase – Já duplicadas as cromátides, essas se condensam o que nos permite visualizá-las ao microscópio. Elas mantêm-se unidas pelo centrômero, o qual se liga às fibras do fuso acromático. Há a desintegração do envoltório nuclear e os centríolos migram para os polos da célula; o Metáfase – Presença dos cromossomos duplicados no plano equatorial da célula, os quais atingem a sua máxima condensação; o Anáfase – Ocorre a separação das cromátides irmãs. Elas migram para polos opostos na célula. Cada unidade tem agora o seu próprio centrômero; o Telófase – descondensação dos cromossomos e reorganização do envoltório nuclear. A citocinese (separação do citoplasma) ocorre e formam-se os produtos finais da mitose. Ao final desse processo cada célula filha herdou uma cromátide irmã de cada cromossomo parental. Assim, este tipo de divisão produz duas células geneticamente idênticas a partir de uma célula genitora e por isso é dito conservativo (Figura 2.4). A mitose é o processo celular que permite a manutenção do número cromossômico e da informação em todas as células de um mesmo organismo multicelular. Meiose: é a divisão celular associada ao processo de formação dos gametas. Ocorre nas células germinativas e compreende duas divisões nucleares sucessivas chamadas de meiose I e meiose II (Figura 2.4). 43 Antes do início da meiose ocorre a duplicação dos cromossomos na interfase (fase S), assim como na mitose. Tão logo se inicia a meiose I, os cromossomos tem início à condensação e tornam-se visíveis ainda na fase de prófase I que pode ser subdividida em: o Prófase I: Leptóteno - É a fase inicial da prófase da primeira divisão meiótica. Os cromossomos aparecem unifilamentares (apesar de a replicação já ter ocorrido), e as cromátides são invisíveis. A invisibilidade das cromátides permanece até a subfase de paquíteno. Zigóteno - Durante este estágio, cada cromossomo parece atrair o outro para um contato íntimo, à semelhança de um zíper. Esse pareamento, denominado sinapse, é altamente específico e ocorre entre todas as seções homólogas dos pares de cromossomos homólogos. Paquíteno – Ocorre progressivo encurtamento e enrolamento dos cromossomos, após o pareamento no zigóteno ter sido completado. No paquíteno, as duas cromátides irmãs de um cromossomo homólogo estão associadas às duas cromátides irmãs de seus homólogos. Esse grupo de 4 cromátides é conhecido como bivalente ou tétrades, e uma série de troca de material genético ocorre entre cromátides não-irmãs de homólogos (Crossing-over) Diplóteno - Cada cromossomo age como se repelisse o pareamento íntimo estabelecido entre os homólogos, especialmente próximo ao centrômero. Talvez isso ocorra devido ao desaparecimento da força de atração existente no paquíteno ou devido a uma nova força de repulsão que se manifesta. A 44 separação é impedida em algumas regiões, em lugares onde os filamentos se cruzam. Essas regiões, ou pontos de intercâmbios genéticos, são conhecidos por quiasmas. Diacinese - A espiralização e contração dos cromossomos continuam até eles se apresentarem como corpúsculos grossos e compactos. Durante a fase final desse estágio ou início da metáfase I, a membrana nuclear dissolve e os bivalentes acoplam-se, através de seus centrômeros, às fibras do fuso acromático. o Metáfase I: Os cromossomos homólogos do bivalente ficam equidistantes do equador da célula, orientados para os polos opostos e presos às fibras do fuso, por meio de seus centrômeros. É importante frisar que os bivalentes orientam-se aleatoriamente sobre a placa equatorial, tornando-se assim o acontecimento fundamental para a distribuição independente dos genes situados nos cromossomos não homólogos. Está é, portanto, a base da lei da distribuição independente ou 2ª Lei de Mendel. o Anáfase I: Ocorre a segregação dos cromossomos homólogos para polos opostos, mas não há rompimento dos centrômeros. Nesse caso há movimento de cromossomos inteiros para polos opostos e, consequentemente, cada núcleo filho a ser formado receberá um número de cromossomos reduzido à metade do número de cromossomos das células somáticas originais. o Telófase I: Esta fase difere da telófase mitótica, porque o número de cromossomos está reduzido à metade e cada cromossomo possui duas cromátides. Ocorre a desespiralização dos cromossomos. Os núcleos não chegam ao repouso total, pois logo após começam a se preparar para a segunda divisão meiótica. Variando de acordo com o organismo, a citocinese 45 (divisão do citoplasma) pode ou não ocorrer imediatamente após a separação dos dois núcleos. Meiose II – em geral, a segunda divisão meiótica se assemelha à mitose, apenas diferindo quanto ao número de cromossomos, que já foi reduzido à metade. Também pode ser mais bem compreendida em subfases O Prófase II: É muito mais simples que a prófase I, pois os cromossomos não passam por profundas modificações na intercinese. Ocorre o desaparecimento da membrana nuclear; formação do fuso acromático e movimentação dos cromossomos duplicados para a placa equatorial. o Metáfase II: Os cromossomos, agora em número reduzido a metade, alinham-se na placa equatorial da célula. o Anáfase II: Os centrômeros se dividem, permitindo a separação das cromátides irmãs, que migram para os polos opostos. Essas cromátides poderão carregar informação genética diferente, caso tenha ocorrido permuta durante a prófase I (paquíteno). O Telófase II: Os cromossomos atingem os polos, se aglomeram, e as novas células são reconstituídas. Após a citocinese, forma-se um grupo de 4 células haploides, ou seja, metade do número cromossômico da célula mãe. Os créditos pela teoria cromossômica da hereditariedade são dados a Sutton e Boveri. Em 1902, estes pesquisadores reconheceram independentemente que o comportamento dos fatores mendelianos durante a produção de gametas era exatamente paralelo ao comportamento dos cromossomos na meiose: os fatores (ou genes) estão aos pares, assim como os cromossomos; os alelos de um gene segregam igualmente nos gametas e assim os membros de um par de cromossomos homólogos; diferentes genes atuam independentemente, e assim os diferentes pares de homólogos. 46Figura 2.4: Ciclo celular e herança. São mostrados a fase S e os principais estágios da mitose e meiose (GRIFFITHS, A. J. F. et al., 2009). 47 GAMETOGÊNESE ANIMAL E VEGETAL A grande maioria dos organismos superiores se reproduz por via sexuada, que consiste de dois acontecimentos principais, a gametogênese e a fertilização. Em animais do sexo masculino, a gametogênese é chamada espermatogênese porque os gametas formados são os espermatozoides. No caso feminino, ocorre a ovogênese a qual culmina com a formação do óvulo. Em vegetais, a formação dos gametas masculinos é conhecida por microsporogênese, enquanto que os gametas femininos são produzidos pela megasporogênese. Espermatogênese: Ocorre em células da parede dos túbulos seminíferos localizados nos testículos. As células que entram em meiose são denominadas espermatogônias. Ao entrar em meiose são chamadas de espermatócitos primários (Figura 2.5). Os produtos da primeira divisão da meiose são os espermatócitos secundários. Os quatro produtos meióticos formados ao final da meiose II são as espermátides. Estas células são os gametas masculinos. A formação dos espermatozóides ocorre pela diferenciação das espermátides, em um processo denominado espermiogênese. Ao longo desse processo ocorre acentuada redução no volume citoplasmático da espermátide e formação do flagelo, o qual garante a mobilidade necessária ao espermatozoide no fenômeno de fecundação. Na espécie humana o processo de espermiogênese dura em média 74 horas e só se encerra com a morte. 48 Ovogênese: Ocorre em células do ovário. As células que entram em meiose são as oogônias ou ovogônias. Ao entrarem em meiose essas células são chamadas oócitos primários (Figura 2.5). Ao nascerem, as meninas têm todos os oócitos primários em estágio de prófase I. Durante a fase reprodutiva, um oócito primário reinicia a primeira divisão da meiose, como resultado da meiose I, tem-se uma célula filha denominada oócito secundário que recebe praticamente todo o volume celular. E uma segunda célula denominada corpúsculo polar primário. O oócito secundário só continua a meiose II se for penetrado pelo espermatozoide durante seu deslocamento do ovário em direção ao útero. A penetração do espermatozoide no oócito secundário garante a continuação da meiose II. Contudo, não há fusão imediata dos núcleos, pois os cromossomos do oócito secundário ainda estão duplicados. É preciso, portanto, ocorrer a separação das cromátides irmãs. Após a divisão do núcleo do oócito secundário, ocorre outra citocinese desigual, gerando o óvulo, o qual recebe praticamente todo volume celular, e surge um segundo corpúsculo polar. A segunda divisão do primeiro corpúsculo pode ocorrer ou não. Caso ocorra, termos dois corpúsculos polares secundários. Por fim, ocorre então a fusão dos núcleos do óvulo e do espermatozoide, processo conhecido como fertilização, gera a célula ovo ou zigoto restaurando o número cromossômico da espécie. 49 Figura 2.5: Gametogênese animal (adaptado de SILVA JÚNIOR, C. et al., 2011) Microsporogênese: é o processo de formação de esporos masculinos (micrósporos). Este processo ocorre em células das paredes das anteras, denominadas célula-mãe de grão de pólen (2n). Ao final da meiose são formados 4 micrósporos (n). Estas células não são gametas, pois não se envolvem na fertilização (Figura 2.6). O ciclo de vida das angiospermas é dividido em duas fases: A fase esporofítica é a fase de produção de esporos. Cada micrósporo formado entra na fase seguinte. Durante a fase gametofítica, o núcleo do micrósporo entra em mitose, gerando um núcleo vegetativo (n) e um reprodutivo (n). O núcleo vegetativo não mais se divide e é responsável pela formação do tubo polínico. Já o núcleo reprodutivo entra em mitose novamente, originando dois gametas masculinos presentes em cada grão de pólen, denominados núcleos gaméticos. Fecundação Fertilização/ Cariogamia 50 De forma semelhante ao que acontece nos animais superiores para cada célula-mãe que entra em meiose, quatro gametófitos masculinos são produzidos. Megasporogênese: é o processo de formação de esporos femininos (megásporos). As células do ovário que entram em meiose são denominadas células-mãe de megásporo (2n). Ao final da meiose são formados um megásporo funcional (n) que passará pela fase gametofítica e três células que se degeneram (Figura 2.6). No início da fase gametofítica, o núcleo do megásporo se divide por mitose três vezes consecutivas, originando oito núcleos, todos com a mesma informação genética, destes as três antípodas e as duas sinérgides se degeneram, permanecendo no gametófito feminino maduro apenas dois núcleos polares e o gameta feminino, a oosfera. Portanto, para cada célula do ovário que entra em meiose apenas um gameta feminino é formado. Após a penetração do tubo polínico no saco embrionário, o que corresponde ao processo de fecundação, ocorre dupla fertilização. Um dos núcleos gaméticos masculinos se une com os dois núcleos polares, originando o núcleo inicial do endosperma (3n). A segunda fertilização corresponde à união entre o outro núcleo gamético e a oosfera, originando o núcleo inicial do embrião (2n). Como podemos perceber a mitose e a meiose são os mecanismos celulares que permitem a manutenção do número cromossômico em todas as células dos organismos superiores e em todos os indivíduos de uma mesma espécie, respectivamente. No entanto, como todo processo celular, é passível de erros, mesmo que em baixa frequência. A seguir serão tratadas causas e consequências dessas alterações em nível cromossômico. 51 FIGURA 2.6: Gametogênese em plantas, adaptação de (RAVEN, P. H. et al.,2007) ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS NUMÉRICAS E ESTRUTURAIS Alterações cromossômicas levam à anormalidade no funcionamento da célula e do organismo. São resultados das alterações em número ou posição dos genes. Para melhor compreensão define-se: Número básico (x) - é o número de diferentes cromossomos de uma espécie e Número haploide de cromossomos (n) - é o número de cromossomos nos gametas de uma espécie. Ex: milho (2x = 2n = 20). 52 Alterações quantitativa ou numéricas: Os indivíduos de uma espécie com número diferente de cromossomos, comum à espécie são chamados heteroploides e são classificados em dois grandes grupos: aneuploides e euploides. a.1) Nulissômico a.2) Monossômico A) Aneuplóides a.3) Trissômico a.4) Tetrassômico a.5) Monossômico-trissômico Heteroplóide a.6) Duplo trissômico b.1) Monoplóide B) Euplóides Autopoliplóide b.2) Poliplóide Alopoliplóide A) Aneuplóides: número de cromossomos nas células somáticas não é múltiplo do número básico (x) da espécie. Vejamos alguns exemplos: Classificação/ Definição Representação Exemplo Nulissômico - possui um par de cromossomos homólogos ausente. 2n = 2x-2 Condição letal nos diploides Monossômico - possui um cromossomo a menos 2n = 2x -1 Mulheres portadoras da Síndrome de Turner (2n = 44A + X) Trissômico - possui um cromossomo presente três vezes 2n = 2x + 1 Trissomia do 21 (Síndrome de Down) e a Síndrome de Klinefelter (2n = 44A + XXY) 53 Origem das aneuploidias: Indivíduos com número alterado de cromossomos surgem em decorrência de anomalias nos processos mitóticos ou meióticos (Figura 2.7). a) Anomalias meióticas: Não separação durante anáfase I dos cromossomos homólogos no processo de gametogênese. Não separação na anáfase II das cromátides irmãs. Figura 2.7: Produtos aneuplóides da meiose (GRIFFITHS, A. J. F. et al., 2009). Quando a fecundação envolve gametas aneuplóides os embriões nem sempre são viáveis e na maior parte das vezes são abortados nos primeiros meses de vida intrauterina. b) Anomalias mitóticas: em algumas espécies têm sido constatados alguns mosaicos cromossomais, explicados como resultado de irregularidade ocorrida na mitose da primeira clivagem do zigoto. Neste caso, um cromossomo se atrasa na migração durante a divisão mitótica e não chega ao polo a tempo de ser incluído no núcleo em reconstituição da célula-filha. Assim, são formados, a partir do zigoto, duas células-filha diferentes, uma triploide e outra monoplóide. Se ocorre o desenvolvimento a partir de dois tipos de célula, 54 têm-se diferentes cariótipos derivados de um mesmo zigoto, com sintomas fenotípicos os mais diversos, incluindo o hermafroditismo. B) Euplóides: o número básico de cromossomos nas células somáticas é um múltiplo do número básico da espécie. b.1) Monoplóides: apresentam um só conjunto cromossômico, ou seja, cada cromossomo está presente apenas uma vez nas células somáticas. Ex: o macho de himenópteros, como o zangão das abelhas, vespas e formigas. b.2) Poliplóides: apresentam três ou mais conjuntos cromossômicos, são divididos em: - Autopoliplóides: os conjuntos cromossômicos são da mesma espécie. Ex: bananeira (3n-autotriplóides) e algumas laranjas (4n- autotetraplóides). - Alopoliplóides: os conjuntos cromossômicos são de duas ou mais espécies. Ex: trigo (6n-alohexaplóide), café (4n-alotetraplóide) e algodão (4n-alotetraplóide). Origem das euploidias: São causadas por: a) Anormalidades mitóticas, denominadas duplicação somática, que resultam da não formação das fibras do fuso mitótico. b) Formação de gametas não reduzidos, devido a duplicação somática de células germinativas. c) Ocorrência de meiose II sem anáfase devida a não formação do fuso mitótico. 55 O surgimento de alopoliplóides é atribuído a cruzamentos intergenéricos e interespecíficos. Um dos exemplos mais pitorescos envolveu as espécies de rabanete (Raphanus sativus, 2n=18) e repolho (Brassica oleracea, 2n=18) com o objetivo de obter uma planta que produzisse raiz de rabanete e parte aérea semelhante ao repolho. Entre essas duas espécies não existem nenhuma afinidade de seus cromossomos, de modo que uma alta esterilidade ocorre no híbrido F1. Neste caso a obtenção do alotetraplóide só ocorreu devido à formação e união de gametas não reduzidos. Infelizmente, o objetivo do pesquisador não foi atingido, pois, por ironia, as plantas obtidas possuíam raiz de repolho e folhas de rabanete. Alterações estruturais: são vários os tipos de alterações que podem ocorrer, no entanto, a maioria delas é deletéria e desse modo é eliminada pela seleção natural. Serão tratados aqui aqueles tipos de aberrações estruturais mais comumente encontradas (Figura 2.8). Figura 2.8: Tipos de mutações cromossômica (GRIFFITHS, A. J. F. et al., 2009). 56 Deleção: perda um segmento cromossômico. Ocorrem de forma espontânea. São possíveis dois tipos: (1) Deleção intersticial: inclui duas quebras para remover um segmento intercalar ou (2) Deleção terminal: perda da ponta do cromossomo, envolve as regiões teloméricas. Os efeitos da deleção dependem do seu tamanho. Uma deleção intragênica inativa o gene e tem o mesmo efeito que outras mutações nulas neste gene. São diferentes das mudanças em nucleotídeos, porque não são reversíveis. As deleções têm graves consequências, se por endogamia se tornarem homozigotas a combinação é quase sempre letal, a menos que o fenótipo homozigoto nulo do gene removido seja viável. Em humanos existem alguns tipos de nanismo causado por deleções, e deficiências no braço curto de um dos cromossomos n° 5 (Síndrome de Cri du Chat). Duplicação: presença de duas cópias de uma mesma região cromossômica. São possíveis duplicações: (1) Em tandem: é a presença do segmento duplicado ao lado do original; (2) Homobraquial: quando o segmento duplicado encontra-se no mesmo braço do cromossomo; (3) Heterobraquial: quando o segmento duplicado está afastado no outro braço do cromossomo ou (4) Transposição: quando o segmento duplicado está em outro cromossomo. Pode causar um desequilíbrio da atividade gênica reduzindo a viabilidade de um organismo. Entretanto como alguns organismos podem tolerar as duplicações no material cromossômico, essas podem ter um papel relevante na evolução. As duplicações criam regiões extras livres para sofrer mutações gênicas, pois as funções básicas necessárias são desempenhadas pela outra cópia. As mutações nas regiões extras criam oportunidades para o surgimento de novos genes, que determinam novas enzimas e proteínas, possibilitando o aparecimento de novas funções fisiológicas, que podem ser 57 vantajosas na evolução genômica. Genes com funções correlatas, como as globinas, são uma boa evidência de que surgiram como duplicatas uns dos outro. Inversões: ocorrem duas quebras em um cromossomo e a região entre as quebras gira 180° antes de se reunir os fragmentos das pontas. Ao contrário das deleções e duplicações as inversões não alteram a quantidade de material genético. Em geral, são viáveis, não apresentando anomalias em nível fenotípico, a menos que uma quebra ocorra dentro de um gene essencial podendo levar a uma condição letal. As inversões podem ser: (1) Paracêntricas: quando o centrômero está fora da inversão, ou (2) Pericêntricas: quando o centrômero está incluso no fragmento invertido. Translocações: envolve a quebra de fragmentos em um cromossomo e a ligação deste fragmento em outro cromossomo. A translocação altera a relação de ligação entre genes e modifica a frequência de recombinação, pois os genes que eram ligados após a translocação passam a ter distribuição independente e vice-versa. Podem ser: (1) Simples: quando um cromossomo perde a região terminal e esta será alocada na região terminal de um outro cromossomo; (2) Intercalar: quando um cromossomo sofre duas quebras em regiões adjacentes, de forma que esse fragmento intercalar às quebras é alocado em um outro cromossomo numa região não terminal ou (3) Recíproca: é a mais comum, ocorre quando dois cromossomos não-homólogos sofrem quebras trocando os fragmentos envolvidos nessa região. As translocações podem alterar drasticamente o tamanho de um cromossomo, bem como a posição de seu centrômero. Em humanos 90% dos 58 afetados por leucemia mielogênica crônica apresentam translocação recíproca envolvendo os braços longos dos cromossomos 22 e 9. Origem das alterações estruturais Podem surgir a partir de quebras e reuniões de moléculas de DNA. Essas por sua vez podem ocorrer espontaneamente ou por indução com radiação ionizante, tal como raios X e gama. Os rearranjos são causas importantes de problemas de saúde nas populações humanas. Observa-se que durante a evolução das espécies um amplo rearranjo cromossômico foi ocorrido. SAIBA MAIS: Crossing over desigual Outro mecanismo de origem das alterações cromossômica dos tipos adição e deleção é por meio do crossing-over desigual que ocorre quando cromossomos homólogos são pareados em regiões não-homólogas (Figura 2.9). Figura 2.9: Crossing-over desigual, http://fotos.sapo.pt/kNJgZH85mvBl
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