Buscar

Parte II

Prévia do material em texto

Visão histórica do Romantismo e sua manifestação no Brasil
A literatura é fruto dos acontecimentos e do estado de uma época, sendo assim vemos, no decorrer da história, todos os grandes momentos pêlos quais passaram o homem e de que forma esses acontecimentos influenciaram sua vida e sua cultura.
	Em cada pedaço da história encontramos um estado de espírito diferente, uma reação humana diferente. O sentimento gerado é refletido no mundo físico por meio de ações.
	Assim nasce a literatura – fruto de acontecimentos, fatos e valores absorvidos pelo homem e refletido pelo mesmo no mundo físico de forma peculiar.
	Antes de falar sobre o surgimento do Romantismo, vamos apontar alguns fatos que antecederam tal acontecimento. De que maneira esses fatos influenciaram e contribuíram para a sua formação do tema da presente pesquisa, não querendo defini-lo pois isso seria impossível, levando em consideração que o movimento Romântico é formado de contradições.
	Assim como o Arcadismo é oriundo do Iluminismo e seus valores, Romantismo é fruto da Revolução Francesa e de seus novos valores.
	A Revolução Industrial trouxe um acentuado progresso político, econômico e social da burguesia que passa a ser a classe social dominante, não mais a nobreza. A Revolução traz o liberalismo que passa a ser a doutrina filosófica em que se apóiam os princípios burgueses. Temos então o seguinte quadro:
	A burguesia que passa a ser a classe social dominante, apóia-se no liberalismo, que por sua vez vai ditar novos valores, valores que serão fortemente expressos por meio das obras do novo movimento literário que emerge das sombras do Arcadismo e suas correntes estéticos filosóficas. O individualismo surge em oposição ao universalismo; o que importa agora não é mais aquilo que é pertinente a todo mudo, e sim o fruto da experiência de vida particular. O caos e a anarquia substituem o ordem; do mesmo modo a emoção, o coração e a transgressão fazem com a razão, o cérebro e o cumprimento das normas.
	A imagem do mundo pós revolução Industrial é veridicamente refletido no Romantismo que começou a florescer na Alemanha, Inglaterra e França.
	A decepção do homem frente a revolução fez surgir dúvidas a respeito da eficácia dos planos. O Romantismo se posiciona contra tudo o que expressa a limitação dos ideais e desejos. Esse desejo de liberdade de leis e preconceitos é fruto do desejo intenso de transformar a vida e o mundo.
	Como já foi dito, impossível seria definir um movimento literário onde o individualismo e a nova concepção de vida traz à tona uma gama de aspectos que o torna pluralizado, multiforme e repleto de contradições. 
	A literatura Alemã do século XVI limitava-se a copiar os moldes franceses. 
Ainda sob influencia da França e também da Inglaterra, o Alemanha do século XVIII participa do movimento Classicista.
	Na segunda metade do século XVIII a Alemanha passa por uma revolução literária. A partir daí inicia-se um desejo de constituir uma identidade cultural puramente germânica. 
	Esse desejo leva o alemão a um mergulho na idade média; é o cavaleiro medieval o novo herói germânico. Surge então na Alemanha um movimento denominado “STURM UND DRANG” (tempestade de ímpeto). Foi a luta que travaram para se livrarem das idéias e sentimentos absorvidos de outros povos e a luta pelo que achavam que lhe deviam caber e que ainda não lhes fora dado ocupar na civilização européia.
	O ideal germânico não se limitava somente a um novo movimento literário, a transformação era na religião, na filosofia, nos costumes, na arte e na política.
	Goethe desperta a sensibilidade das novas gerações com “Werther” – obra da mocidade e mais tarde revoluciona a Europa com “Fausto” – obra que quebra a mentalidade clássica (dele) advinda da Universidade.
	Na Inglaterra a formação do Romantismo foi mais forte, por ser m país de forte apego às tradições e em que o amor, a natureza e a contemplação mística fossem, também, acentuados.
 	O posicionamento geográfico da Inglaterra foi um forte fator para que o país tivesse uma formação Romântica pura e fosse mais conhecida como ditadora da nova tendência do que como influenciada. Quanto a isso Clóvis Monteiro escreve o seguinte:
	“Quanto a Inglaterra, como que a retratar no plano de vida intelectual a sua situação geográfica, mostrava-se insulada, sempre mais em ponto de dar do que receber, na avaliação e troca de valores estéticos e espirituais, que a revolução romântica determinava em cada época”.
	Da Inglaterra, um dos poetas de maios destaque é Lord Byron. Este Influenciou profundamente a Segunda geração Romântica do Brasil. Destaque a Álvares de Azevedo um dos mais brilhantes poetas de sua época.
	Na França, Chateubriand, Lamamartine e Victor Hugo, lutam por meio da literatura para soerguer a sua pátria, reafirmar seus valores natos, seus valores espirituais e seu patriotismo.
	“Não tardará, porém, que esses grandes vultos da Literatura Francesa, movidos pelas contingências do momento, transformem as suas idéias políticas e se tornem interpretes das próprias idéias vitoriosas com a revolução Francesa. É aí que se poderá admitir aquele conceito de Victor Hugo sobre o Romantismo, transcrito na História da Literatura Brasileira, de Silvio Romero : “O Romantismo é o liberalismo na literatura”, conceito que, considerado em relação a literatura romântica alemã e em relação a própria literatura francesa das primeiras décadas do século XIX, com o próprio Victor Hugo, está longe de exprimir a verdade”. 
A França teve um papel de agente proliferador do Romantismo, foi daí que o movimento ganhou o mundo.
	Sobre isso preciso fazer duas comparações. A primeira é com o lançamento do livro “Budapeste’ do Chico Buarque – escritor e músico brasileiro. O livro foi lançado na França, logo o mundo tomou conhecimento de sua existência e do seu valor, afinal : o que “estoura” na França “estoura” no mundo.
	Isso também nos remete ao papel da Grécia na divulgação da Bíblia. O primeiro registro do novo testamento foi escrito em grego. Por que em grego e não em hebraico?
	Uma possível explicação é que se a Grécia era o berço da civilização e o centro cultural do mundo da época, a Bíblia tinha que chegar à ela ou estar em grego, por que assim como o latim era a língua da religião e o hebraico a língua vulgar, o grego era a língua da cultura. 
	Aproveitando o comentário sobre a bíblia falarei da revolução religiosa na Alemanha que também foi importante para a fundamentação do Romantismo.
	Na Alemanha escrevia-se em três línguas: latim, francês e alemão. Assim as cerimonias religiosas eram realizadas em latim e a bíblia também estava grafada em latim, portanto o latim era a língua sagrada e a ela se limitava as questões teocentricas.
	A reforma protestante liderada por Martinho Lutero quebrou esse hierarquia. Lutero traduziu a bíblia para o alemão, assim toda a população teria acesso ao conhecimento divino e poderiam fazer suas próprias interpretações a respeito dos preceitos de Deus.
	Este fato confirma o principio do individualismo que se opõe ao universalismo clássico e mostra como a religiosidade se fez presente na vida dos artistas, uma vez que depois do alemão a bíblia foi traduzida para vários outros idiomas.
O Romantismo no Brasil
O Romantismo no Brasil teve um inicio tardio comparado ao europeu. Quarenta anos depois de seu nascimento houve suas primeiras manifestações nas terras brasileiras. Assim como na Europa, o Romantismo aqui não foi somente uma oposição ao Classicismo, mas sim fruto de uma série de acontecimentos políticos e sociais que marcaram profundamente a sociedade Brasileira.
	No Brasil, o Romantismo foi vivenciado em três momentos. O primeiro de afirmação nacionalista que viu na figura do índio o herói brasileiro; o segundo foi o da chamada geração mal-do-século, marcada pelo pessimismo, pelo saudosismo e pelo individualismo foi, também, fortemente influenciada pelo poeta inglês Lord Byron, daí tambémchamada geração byroniana; e o terceiro momento chamado condoreiro foi marcado pelas lutas sociais. Exemplo disso temos o peta Castro Alves considerado o poeta dos escravos por usar sua poesias como arma contra a escravidão no Brasil.
	No plano social, observa-se a definição de uma classe social – a burguesia. O Rio de Janeiro torna-se a capital do país. Nesse período a imprensa ocupa um papel de destaque colocando o meio cultural brasileiro em contato com os grandes centros culturais europeus, também a maçonaria que divulgou os ideais do liberalismo.
	No ano da independência do nosso país a Europa já estava vivenciando o Romantismo. Aí é que os nossos escritores inspiram-se nos europeus. Ma mesmo seguindo os moldes da Europa, o Romantismo brasileiro apresentava além desta estrutura, alguma características próprias, resultado da adaptação daquele estilo à realidade brasileira da época. Tudo isso devido as condições específicas do país. 
Graças a esse Romantismo que a literatura brasileira acabou criando uma literatura nacional. Nesse período inicia a nossa independência literária.
O público que consumia a literatura dos românticos era urbano. Mulheres, estudantes e uma classe média que se identificava com o padrão de gosto da classe dominante. A imprensa também constitui ma padronização do gosto literário. 
Vejamos agora algumas características que especificaram o romantismo:
Liberdade de criação – O artista não leva em conta nenhum esquema preestabelecido, a expressão é muito pessoal, individual e única.
Sentimentalismo – Aqui a razão é segundo plano. A expressão da realidade segue o sentimento, esse sim tem grande valor agora.
Super valorização do amor – O amor é o valor supremo da vida, a perda do mesmo leva à loucura ou à morte.
Nacionalismo – aqui é expressa por meio da super valorização da terra natal.
Religiosidade.
Mal-do-século – O indivíduo sente-se fragmentado, essa fragmentação gera dor e aflição. Tal estado de espírito leva o romântico à busca da solidão, ao gosto pela melancolia e pelo sofrimento.
Evasão – Deslocado no tempo e no espaço, o romântico busca uma evasão. Seja de tempo buscando no passado situações que ele considera ideais. É dessa evasão que se fundamentou o nacionalismo.
O romântico pode, também, recuar até a sua infância e valorizá-la por achá-la um período seguro na sua vida.
A evasão do espaço leva o romântico a procura de lugares exóticos e estranhos . Aqui a natureza é invocada como símbolo de um lugar ainda não corrompido pela sociedade. A evasão mais invocada na Segunda geração romântica e a busca pela morte encarada como solução final para o mal-do-século.
Indianismo – O índio passa a figurar o herói brasileiro, sendo assim o representante da nossa raça, mesmo sendo relegado a segundo plano durante a colonização. Portanto o índio que aparece nas obras românticas é um tipo figurado, idealizado, sempre bom, nobre, bonito cavaleiro e generoso.
Poesia
Quatro tendências básicas podem ser detectadas na poesia romântica brasileira:
Poesia indianista, poesia mal-do-século; poesia social e lírico amorosa.
Dentre os poetas merece destaque Gonçalves Dias; Álvares de Azevedo; Castro Alves; Junqueira Freire, Casemiro de Abreu e Fagundes Varela.
O Romantismo – Prosa
	É aqui que surge a romance (em prosa) no Brasil. O romance romântico apresenta quatro tendências, romance urbano retrata e critica os costumes da sociedade carioca do século XVIII.O romance indianista, voltado para a época do descobrimento, valoriza o indígena e enaltece o nosso nacionalismo. Romance regionalista aqui os escritores escrevem de assuntos peculiares a cultura e natureza de determinadas regiões. O histórico dedica-se a reconstituir fatos vividos da nossa história. Dos romancistas destaco Joaquim Manuel de Macedo. José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães e Manuel Antônio de Almeida.
Casimiro de Abreu: Vida e Obra
Casimiro de José Marques de Abreu nasceu na fazenda Indaiaçú, em Barra de São João, no dia 4 de janeiro de 1839. Era filho do comerciante e fazendeiro português José Joaquim Marques Abreu e de Luisa Joaquina das Neves. O pai nunca residiu com a mãe de modo permanente, acentuando assim o caráter ilegal de uma origem que pode ter causado bastante humilhação ao poeta. 
Dá sua infância, sabe-se que morou com a mãe, Fazenda da Prata, em Correntezas. Recebeu apenas instrução primária, estudando dos onze aos treze no Instituto Freeze, em Nova Friburgo (1849-1852). Em 1852 foi para o Rio de Janeiro praticar o comércio, atividade que lhe desagradava, e que se submeteu por vontade do pai, com o qual viajou para Portugal ano seguinte.
Em Lisboa iniciou a atividade literária, publicando um conto e escrevendo a maior parte de suas poesias. Em Portugal compôs também o drama “Camões e Jaú”, representando no teatro D. Fernando (1856).
Casimiro de Abreu só tinha dezessete anos e já colaborava na imprensa portuguesa, ao lado de Alexandre Herculano, Rebelo da Silva e outros. Não escrevia apenas versos. No mesmo ano de 1856, o jornal O Progresso imprimiu o folhetim “Carolina” e na revista Ilustração Luso-Brasileira saíram os primeiros capítulos de “Camila”, recriação ficcional de uma visita ao Minho, terra de seu pai. Em 1857, voltou ao Rio de Janeiro, onde continuo residindo a pretexto de continuar os estudos comerciais. Freqüentava festas carnavalescas, bailes e rodas literárias, nas quais era bem relacionado.
Colaborou com A Marmota, O Espelho, Revista Popular e no jornal Correio Mercantil de Francisco Otaviano. Nesse jornal, trabalhavam dois moços igualmente brilhantes: O jornalista Manuel Antônio de Almeida e o revisor Machado de Assis, seus companheiros em rodas literárias.
Em 1859, publicou “As primaveras”, livro de poemas que expressa seus temas prediletos e o identificam como Lírico-romântico. A nostalgia da infância, a saudade da terra natal, o gesto da natureza, a religiosidade ingênua, o pressentimento da morte, a exaltação a juventude, a devoção pela pátria e a idealização da mulher amada. 
No ano de 1860, morreu o pai, que sempre o amparou e custeou as despesas de sua vida de poeta, proporcionando-lhe condições para que pudesse expandir sua obra literária.
Casimiro, doente de tuberculose, buscou alívio no clima de Nova Friburgo. Sem obter melhora, recolhe-se à fazenda de Indaiaçú, na qual veio a falecer, seis meses depois do pai, faltando três meses para completar vinte e dois anos.
Quando à maturidade do poeta, MOISÉS (1985, p.44) diz o seguinte:
A visão de mundo externo de Casimiro de Abreu está condicionada estreitamente pelo universo do burguês brasileiro da época imperial, das chácaras e jardins (...) a ambivalências dos sentimentos que traz grande tensão e emoção lírica para seus poemas desmistificam assim, uma visão crítica dos costumes de sua época acentuando ainda a oscilação de suas obras entre a infância e uma maturidade que nebulosamente se anunciava. Mas é a infância que refluindo na constante memória do poeta, acabara abrangindo pela sensibilidade refinadamente feminóide a ponto de se transformar no tema único de que os demais seriam apenas subespécie. 
A fixação e apego a figura materna que além de núcleo do retorno à infância, sugere complexos edipianos não resolvidos, segundo Massaud, que são expostos em grandes partes de sua poesia. Não querendo dizer que consistisse no instrumento de catarse de uma incômoda obsessão neurótica, mas que denuncia alguém que não se livrou da fixação. 
Um exemplo interessante do que também acontece muito na obra de Casimiro é f fato de ocorrer uma alternativa de um novo amor. Entretanto esse não muda o quadro Freudiano, ou seja, Complexo de Édipo. Note no trecho a seguir de uma de suas poesias em que é acentuado ainda mais a referência à figura da mãe idealizada, um ser etéreo e celestial que o acompanha fanaticamente.
	 Se eu tivesse, meu deus, santos amores,
	 Eu deixara este amor da glória vã;Nesse mundo de luz, doce e risonho,
	 A pudibumda virgem do meu sonho
	 Seria minha irmã.
Casimiro de Abreu reflete o impacto que a cultura portuguesa exerceu sobre os primeiros românticos, decorrente não só do conhecimento direto de Portugal como também da literatura portuguesa constituir nossa tradição poética. Os românticos da primeira geração brasileira aprenderam a “poetar” lendo os portugueses, uma vez que, tirando alguns árcades e pré-românticos, o mais de nosso passado poético se mantinha inédito ou de escassa circulação.
O êxito alcançado pelo poeta não se explica apenas pela influência da cultura portuguesa, mas pelos recursos poemáticos utilizados. Fazia da espontaneidade o seu título de glória. Dicção suave e fluente como se os versos brotassem do próprio movimento da respiração ou se destinassem à memória infantil. Tal simplicidade é um mérito que esclarece o porquê do êxito alcançado pelo poeta mesmo nos anos pós-românticos a ponto de se identificar, em alguns dos versos, com o sentimento difuso na alma do adolescente.
 
Dissecando Casimiro
Ao ler o livro As primaveras, deparou-se com uma poesia que, à primeira vista, trouxe certo ar de familiaridade. Não se sabia, a princípio, o motivo, contudo, após exaustiva leitura, decidiu-se adotá-la como material de análise a fim de descobrir o motivo desta tal familiaridade.
	A poesia em questão chama-se Minha Terra (anexo 1). Contém 120 versos sendo a maioria deles redondilhas maiores, como pode se ver, por exemplo, no período correspondente entre os versos 4 e 8.
					- Hei de dar-lhe a realeza
					Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se em quanto tinha.
	Aproveitando os versos já citado, nota-se a linguagem clara e harmônica que o poeta emprega na construção de seu poema. Tratando-se ainda das característica, seria interessante fazer uma comparação de Casimiro com um de seus contemporâneos, Gonçalves Dias. Esse, ao utilizar comparações em suas poesias, procura por fazê-las de maneira elaborado, enquanto que aquele, a nosso ver, peca ao fazer comparações simplórias e mal trabalhadas. Exemplo disso pode ser visualizado nos versos a seguir, no qual os poetas utilizam de comparações para “poetar” sobre os bosques brasileiros.
					Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes! 
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida mais amores.
	O primeiro trecho é do poema Minha Terra de Casimiro, no qual se vê o poeta adjetivando os bosques como verdejantes. O segundo, de Gonçalves, é extraído do conhecidíssimo Canção do Exílio (anexo 2), em que o poeta usa de uma comparação mais garimpada, parecendo que esse caçou uma palavra que fugia dos famosos clichês e ao mesmo tempo fosse simples e extremamente abranjente. 
	Aproveitando o momento de comparação, ao ler o poema Minha Terra e o Canção do Exílio, pode-se pensar que esse motivou a construção daquele e que aquele tentou repetir a mesma, digamos assim, receita. Mostras disso são claramente visíveis nos seguintes versos de Minha Terra que parecem querer reafirmar o que já foi dito por Gonçalves, usando, muitas vezes, o mesmo léxico:
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios
(Casimiro)
	
	Onde canta o sabiá
As aves, que aqui gorjeiam,
	(Gonçalves) 
	
É uma terra de amores
Alcatifada de flores
 (Casimiro)
Nossas várzeas têm mais flores
 (Gonçalves)
Ainda no campo da comparação, fica-se claro neste momento o motivo de tal familiaridade com o poema de Casimiro. Além de lembrar em muito o poema de Gonçalves (seja pelo tema, seja pelo uso do mesmo léxico), o compositor Carlos Lyra fez uma música usando os mesmo versos que Casimiro empregou no seu poema. A canção de Lyra se chama O Subdesenvolvido (anexo 3) e, ao conflitar a obra do poeta com a do músico, nota-se que Carlos faz uma complementação no texto de Casimiro. Enquanto o poeta dedicou todo o seu escrito para enaltecer o Brasil, Lyra foi mais além, exaltando o Brasil, contudo mostrando que não é o paraíso pintado por Casimiro, uma vez que o país estava em época de ditadura e muito atrasado em relação ao resto do mundo.
Os primeiros 9 versos da canção de Lyra foram tirados tal qual são do poema Minha Terra e os 8 últimos são de autoria do músico, no qual ele expõe a face podre da laranja. Confira:
Mas um dia o gigante despertou
Deixou de ser gigante adormecido
E dele um anão se levantou
Era um país subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Mudando um pouco o foco de análise, tratar-se-á, a partir de agora, da parte semântica do poema. A fim de tornar mais claro esta parte do estudo, dividiu-se a obra em partes. Primeiramente Casimiro fez a proposição do que iria cantar. Proposição essa que pode ser acompanhada nos primeiros versos do poema:
					
Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;
	Depois de propor o que irá poetar, Casimiro faz a identificação da sua, digamos assim, “musa”: O Brasil. Confira:
							Debaixo de um céu de anil
							Encontrarei o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil.
	A fase contém as primeiras provas de nacionalismo, quando o poeta começa a adjetivar a sua pátria. Nota-se, também, neste trecho, a presença de religiosidade misturada com uma espécie de indianismo.
 	É uma terra encantada
	– Mimoso Jardim de fada – 
	Do mundo todo invejada
	Que o mundo não tem igual.
	Não, não tem, que Deus fadou-a:
	Dentre todas – a primeira.
	(...)
	È um país majestoso
	Essa terra de Tupã.
	A parte seguinte é uma interrupção que Casimiro faz para inserir um pouco de intertextualidade misturado com sensualidade no seu poema. O poeta fala de Dirceu e Marília (referência direta à obra de Tomas Antônio Gonzaga). Acompanhe o trecho que se segue no qual o romântico lembra do árcade e temperando seus versos com certo erotismo:
							Quando Dirceu e Marília
							Em terníssimos enleios
							Se beijavam com ternura
							Em celestes devaneios;
	A seguir, o poeta volta ao nacionalismo, porém desta vez de maneira mais acentuada do que a anterior. Fala da independência brasileira e foge um pouco da realidade ao mencionar que o Grito de Independência foi de tamanha magnitude que ecoou por todo o país.
Foi ali, foi no Ipiranga,
Que com toda majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!
Para finalizar o poema, tem-se na última parte um belo exemplo do famoso “romantismo descabelado”, no qual o poeta chora ao cogitar a hipótese de não poder ver outra vez seu país (vale notar que este poema foi escrito em Lisboa e Casimiro, como todo romântico de sua geração, acreditava que a morte estava à sua espera em cada esquina e qualquer minuto pode ser o último dos seus minutos neste mundo). Leia os próximos versos e note o desespero do poeta.
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.
Chora, sim, como suspiro
Por esses campos que eu amo,
Supõe-se que o poeta distraiu-se no final do poema ao desdizer o que propôs no começo da obra. Veja, respectivamente, os primeiros e os últimos versos de Minha Terra:
Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha:
(...)
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
Deixa-se a seguinte pergunta para concluir está análise: Ora, se é impossível cantar as belezas do Brasil, por qual motivo Casimiro de Abreu se deu ao trabalho de compor este poema?
ConsideraçõesFinais
	Pode-se dizer que Casimiro era um bom poeta, contudo nunca um grande poeta. Nota-se isso ao perceber que ele peca em algumas partes na construção de sua poesia, deixando-a um pouco amadora.
	Acredita-se que, se não tivesse morrido tão cedo, e tivesse continuado a escrever versos, poderia ter sido uma figura mais ilustre e de maior destaque.
	Como base no já exposto e discutido, deixa-se, para finalizar este estudo, um questionamento: Se Casimiro tivesse vivido 40 ou 50 anos, será que o Brasil poderia ter sido privilegiado com obras de exímia qualidade que viriam a influenciar e modificar a mentalidade da atual época?
	
Referência Bibliográfica
MOISES, Massaud. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2001.
	GOLDSTEIN, Norma. Literatura Brasileira: Estudo de textos. São Paulo: Ática, 1976.
	SAMUEL, Roger (org.) Manual de Teoria Literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
	CANDIDO, Antonio. Presença da Literatura Brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro. 1966.
	
	
Anexo 1
Minha terra
Todos cantam sua terra,
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;
- Hei de dar-lhe a realeza
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se enquanto tinha.
Correi pr’as bandas do sul:
Debaixo de um céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
- É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de abril.
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal.
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
- É uma terra encantada
- Mimoso jardim de fada -
Do mundo todo invejada
Que o mundo não tem igual.
Não, não tem, que Deus fadou-a:
Dentre todas - a primeira:
Deu-lhe esses campos bordados,
Deu-lhe os leques da palmeira.
E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Nas folhagens da mangueira.
É um país majestoso
Essa terra de Tupã,
Desde o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará !
- Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.
Ao lado da cachoeira,
Que se despenha fremente,
Dos galhos da sapucaia
Nas horas do sol ardente,
Sobre um solo d’açucenas,
Suspensa a rede de penas,
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente.
Foi ali que noutro tempo
À sombra do cajazeiro
Soltava seus doces carmes
O Petrarca brasileiro;
E a bela que o escutava
Um sorriso deslizava
Para o bardo que pulsava
Seu alaúde fagueiro.
Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios;
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.
Foi ali, foi no Ipiranga,
Que com toda majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade !
Um povo ergueu-se cantando
- Mancebos e anciãos -
E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos:
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Bradando cheio de fogo:
Portugal ! somos irmãos !
Quando nasci, esse brado
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam - guerra !
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra !
Se brasileiro eu nasci
Brasileiro hei de morrer,
Que um filho daquelas matas
Ama o céu que o viu nascer;
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.
Chora, sim, como suspiro
Por esses campos que eu amo,
Pelas mangueiras copadas
E o canto do gaturamo;
Pelo rio caudaloso,
Pelo prado tão relvoso,
E pelo tiê formoso
Da goiabeira no ramo !
Quis cantar a minha terra,
Mas não pode mais a lira;
Que outro filho das montanhas
O mesmo canto desfira,
Que o proscrito, o desterrado,
De ternos prantos banhados,
De saudades torturado,
Em vez de cantar - suspira !
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal !
- É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa em seus rumores
Murmura: - não tem rival !
Lisboa - 1856
Anexo 2
O subdesenvolvido
O Brasil é uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas lindas tardes de abril
Correi nas bandas do sul
Debaixo de um céu de anil
Encontrais um gigante deitado
Santa Cruz,
Hoje o Brasil.
Mas um dia o gigante despertou
Deixou de ser gigante adormecido
E dele um anão se levantou
Era um país subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Subdesenvolvido
Anexo 3
Canção do Exílio
“Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
As aves , que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas.
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida
“Nossa vida mais amores.  
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá. 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
Minha terra tem palmeiras,
Que tais não encontro eu cá:
Em cismar:- sozinho, à noite - 
Mais prazer encontro eu lá:
 Minha terra tem palmeiras.
Onde canta o Sabiá. 
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para  lá:
Sem que desfrute os primores 
Que não encontro por cá:”
Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá.
�
�PAGE �
�PAGE �24�

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes