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DIREITO À INFORMAÇÃO - DIREITO FUNDAMENTAL BASE PARA DEMOCRACIA (*) Maria 7ereza Marques Professora na Faculdade de Direito de ]aú, advogada e mes!randa em Direito la turma, do curso de pós-graduação da Faculdade de Direito de Bauru - lTE "A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos homens; a ela não podem igualar-se os tesouros da terra nem do mar. Pela liberdade, assim como pela honra, sepode ese deve arriscar a vida". Cervames o termo informação, objeto desta explanação, será focalizado levando-se em conta o conteúdo informativo dos meios de comunicação de massa. Esse tema é bastante vasto e na mesma vastidão apaixonante, tanto que para nós foi um desafio delimitá-lo. Como não é possível esgotarmos todo seu conteúdo e extensão, limitar-nos emos aos seguintes enfoques: o direito à informação sob o prisma de direito funda mental, base para a democracia, fixando seu fundamento na Constituição Federal, passando para o seu conteúdo que, doutrinariamente, constitui no direito de opi nião, liberdade de pensamento, direito de expressão; veremos os eventuais confron 'Sob orientação do Professor Domor Luiz Alberto David Araujo. I INSTlTUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARIA TEREZA MARQ1JES 30 tos entre os direitos à informação e outros direitos fundamentais, finalizando com breves comentários sobre a denominada liberdade de imprensa, enfatizando sua qualidade de direito fundamental. Pois bem. De início, é relevante consignar que não basta a positivação de um direito. Não basta um direito formal, meramente declarado, mormente quando cui damos de um direito fundamental do homem, cuja existência digna reclama a sua concretização e resguardo. Esses direitos humanos fundamentais têm evoluído ao longo da história, ade quando-se às necessidades do homem. Inicialmente, surgiram como garantia em re lação ao poder estatal (direito à liberdade, à igualdade). Posteriormente, foi-se am pliando sua órbita de atuação, enfeixando não só aqueles direitos tradicionalmente denominados direitos individuais (próprios da personalidade), como também os di reitos sociais e econômicos, ao meio ambiente etc. Sob esse prisma -necessidade humana -o direito à informação não é mais vis to como simples liberdade de externar pensamento, de expressar-se, mas sim como um direito fundamental de participação da sociedade, travestindo-se no direito de informar (de veicular informações), no direito de ser informado (de receber infor mações) e de se informar (de recolher informações), sendo, pois, base para a democracia, Como é cediço, a democracia configura um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, conforme dispõe o art. 10 da Constituição Federal. De fato, dúvida não há que o Estado brasileiro se traduz em um Estado Demo cdtico de Direito, cujos princípios básicos de liberdade são o seu alicerce, seu fun damento, irradiando seu valor sobre todas as normas jurídicas. Eis aí a importância do direito à informação. Realmente, li informação, como forma de obtenção de conhecimento, como meio de poder, é hoje mais que um direito: é uma necessidade irrenunciável, sem a qual não há participação, não há liberdade, desmorona-se a igualdade, impede a existência da democracia, Indiscutivelmente, portanto, que a informação é indispensável para a vida so cial, principalmente para avida política (exercício do voto), através do qual o povo elege seus representantes que vão decidir sobre assuntos de suma importância, que vão em seu nome governar, legislar, guiar seus passos e indicar o seu rumo, Enfim, vão exercer todo o poder que ao povo pertence, O direito à informação, como já analisado, pode revelar diversas facetas, dar origem a várias illterpretações e ser concebido sob diversas óticas. Sem descon siderarmos outras visões a respeito e, fiéis às posições aqui defendidas, partimos da premissa de amplo direito à informação, cujo efetivo exercício é pressuposto básico para ademocracia. Para bem ilustrar e enriquecer a matéria, trazemos a seguinte explanação: "Este direito (o 'direito de saber) deveria aparecer num lugar de honra na lista dos di há democracia possí necemfora do alcam que 1Il0nopolim oac saber', que controla do stablishment econ Essa tecnoestrutura capital. Para transfo acordo com sua com nova casta, que faz parcimônia. E condE Ademocracia - principio fund, pode concluir, ao menos dois pressu pressupostos deixam de existir de fa ção. Afalta de instrução leva à desigl Há, desse modo, anecessidad( caso contrário, o direito à informaçã cia, a uma utopia jurídica. Aqui, pe Sampaio, que, explanando sobre ap "Todavia, se seu títz. com que o rei-povo parlamentares: com em seu nome sem q~ Parece-nos claro, como o sol d em um direito fundamental do hom Sob esse enfoque, levando-s Cretella Júnior assim conceitua infol "Informação é toda cesso proveniente di visão". Podemos afirmar, portanto, q de/possibilidade de obter conhecin suntos dos meios de comunicação dos veículos próprios de seu proce~ Diante dessa terminologia, di de um direito básico, de um direitc há educação, não há exercício de d no mundo atual, de total competiç2 'Roger Gérard Schwarlzenberg. oEstado Espetá apud Aluízio Ferreira, op. cil. p. 236. INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARIA TEREZA MARQ1IES 31 ros direitos fundamentais, finalizando com la liberdade de imprensa, enfatizando sua lnsignar que não basta a positivação de um ramente declarado, mormente quando cui ornem, cuja existência digna reclama a sua tais têm evoluído ao longo da história, ade 1icialmente, surgiram como garantia em re le, à igualdade). Posteriormente, foi-se am o não só aqueles direitos tradicionalmente ios da personalidade), como também os di biente etc. lana -o direito à informação não é mais vis ~nsamento, de expressar-se, mas sim como da sociedade, travestindo-se no direito de tireito de ser informado (de receber infor ~ informações), sendo, pois, base para a rrgura um dos princípios fundamentais da dispõe o art. 10 da Constituição Federal. )brasileiro se traduz em um Estado Demo IS de liberdade são o seu alicerce, seu fun s as normas jurídicas. )rmação. ma de obtenção de conhecimento, como J: é uma necessidade irrenunciável, sem a de, desmorona-se a igualdade, impede a nformação é indispensável para a vida so :xercício do voto), através do qual o povo sobre asSW1tos de suma importância, que seus passos e indicar o seu rumo. Enfim, rtence. ilisado, pode revelar diversas facetas, dar :ebido sob diversas óticas. Sem descon às posições aqui defendidas, partimos da Jjo efetivo exercício é pressuposto básico éria, trazemos a seguinte explanação: saber') deveria aparecer num lugar de honra na lista dos direitos do homem e do cidadão. Sem ele, não há democracia possivel. Sem ele, as opções fundamentais perma necemfora do alcance dos eleitores, para reverter a uma minoria, que monopoliza o acesso aos arquivos eaos dados, e uma 'elite do saber~ que controla o Estado espetáculo e congrega os dirigentes do stablishment econômico eda tecnocracia administrativa. Essa tecnoestrutura acumula saber, como outros acumulavam capital. Para transformá-lo em poder E moldar a sociedade. De acordo com sua concepção. Aseu bel-prazer Forma-se assim uma nova casta, que faz a informação como se dá uma esmola. Com parcimônia.·E condescendência" G. Schwartzenberg l Ademocracia - princípio fundamenta! do Estado brasileiro, reclama, como se pode concluir, ao menos dois pressupostos básicos: a liberdade e a igualdade. Estes pressupostos deixam de existir de fato quando ausente o conhecimento, a informa ção. Afalta de instrução leva àdesigualdade e esta é antagônica àdemocracia. Hádesse modo a necessidade de dotar esse direito de total efetividade, pois, caso con~rário, o direi~o àinformação fica relegado àmera declaração e a democra cia, a uma utopia jurídica. Aqui, permito-me repetir as palavras de Nelson Souza Sampaio, que, explanando sobre a participação democrática, assim se manifestou: "lbdavia, se seu titular não for bem instruído, informado, fará com que o rei-povo venha equiparar-se aos reis das monarquias parlamentares: continuará reinando sem governar Tudo se fará em seu nome sem que ele, de fato, nada faça". Parece-nos claro, como o sol do meio-dia, que o direito à informação se traduz em um direito fundamental do homem. Sob esse enfoque, levando-se em conta o conteúdo da informação, José Cretella Júnior assim conceitua informação: "Informação é toda notícia dada ao público por veículo ou pro cesso proveniente de certasfontes, como ojornal, o rádio, a tele • - 11Vlsao. Podemos afirmar, portanto, que o Direito à Informação traduz-se na faculda de/possibilidade de obter conhecimento, instrução, dados sobre determinados as suntos dos meios de comunicação - jornais, rádio, televisão, revistas etc - ou seja, dos veículos próprios de seu processamento. Diante dessa terminologia, de seu conteúdo, afirmamos que estamos diante de um direito básico, de um direito fundamental do homem: sem informação, não há educação, não há exercício de cidadania, não há democracia. E, principalmente, no mundo atual, de total competição de mercado, de tecnologias avançadas, de cul 'Roger Gérard Schwartzenberg. o Estado Espetáculo: ensaio sobre e contra o star system em política, p. 345, apud Aluízio Ferreira, op. cit. p. 236. MARIA TEREZA MARQ1JES INSTITUlçÃO TOLEDO DE ENSlNO32 tura internacionalizada, não há como negar essa qualidade ao direito em questão e, com o intuito de bem enfatizar sua importância, atrevo-me a parafrasear o grande constitudonalista José Afonso da Silva, afirmando que, sem informações, o homem não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive. Esse direito fundamental de se informar, de informar e de ser informado está devidamente assegurado em nossa Constituição Federal. Dispõe o art. 5°, inc. XIV: "É assegurado a todos o acesso à informação eres guardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional". Ninguém nega que nesse dispositivo encontra-se o respaldo para o acesso à informação e a proteção do sigilo como garantia de trabalho dos profissionais de im prensa. Todavia, quanto ao seu alcance, há controversia: Celso Ribeiro Bastos, Vidal Serrano entre outros, defendem, em síntese, que nesse texto constitudonal con sagra-se o chamado direito de informar, mas não tem a mesma conotação dada ao direito de ser informado pelos órgãos públicos, disposto no inc. XXXIII, do mesmo art. 5°, em que o constituinte expressamente estabeleceu o dever de esses órgãos prestarem informações, sob pena de responsabilidade de seus agentes. Concluem esses doutos juristas que o direito de ser informado só existe em relação aos órgãos públicos, já que quanto às empresas particulares não há o corre lato dever de informar. Todavia, ousamos deles discordar e esposamos o entendimento de Aluízio Ferreira que, em sua brilhante obra "Direito à Informação -Direito à Comunicação", sustenta que o direito à informação em nossa Constituição é integral, revelando o direito de informar, de se informar e de ser informado. Tal conclusão se faz em decorrênda de uma interpretação sistematizada de nossa Lei Magna. Destarte, o direito à informação, relativamente ao direito de ser informado pe los meios de comunicação, não encontra suporte apenas no inc. XN, do art. 5°, an tes citado. Tem ele sustentação em outros dispositivos constitucionais, dos quais se destaca o inc. N e o inc. IX do art. Se em questão: "IV Élivre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anoni mato"; "IX Élivre a expressão de atividade intelectual, anística científica e de comunicação, independentemente de censura e licença". Oprimeiro desses dispositivos cuida da denominada liberdade de pensamen to que, conforme mais adiante se verá, engloba a liberdade de opinião e de expres são; o segundo, de maneira mais dirigida, o da liberdade de expressão de atividade intelectual, entre elas a da comunicação, da crítica jornalística, deixando-as a saldo do inconveniente da antiga e indesejada censura. Aludidos preceitos são abase constitucional da liberdade de imprensa, tão fes tejada e comentada. Mas não é só. Ao dispor sobre as lador constituinte originário, arrolando ao contribuinte (art. 150, caput), vedo aos Municípios a possibilidade de instit e o papel destinado a sua impressão (il Perguntamos: qual o objetivo de lhor, qual o bem maior protegido por Evidentemente que o objetivo pl comunicação e sim a plena liberdade d( seu poder de tributar, poderia, com a embaraçar o exercício dessas atividade: Parece-nos que o objeto dessa pr so, não apenas aos profissionais da COl ao cidadão, pois de nada adiantaria o fa so a todos os dados se pudessem opta vres para manipular essas informações mar lhes fora impingido. Outrossim, o capítulo referente outras garantias à plenitude de inform ção social venham a ser objeto de mOI do-se com tal proibição, que a informa car nas mãos de uma única pessoa ou d ção: ainda, nesse mesmo capítulo, a O cação impressa independentemente d seja, evita que a burocratização possa c lação de intormações impressas; e, pOI televisão deverão atender, dentre estes programações. Além de todas as normas constit que nos dão o suporte para afirmarmo: to ao acesso à informação, trazemos, sobre direitos Humanos (Pacto de Sãc Brasil é signatári02, cujo art. 13 assim c "Toda pessoa tem direI são. Esse direito comJ difundir informações ~ de fronteiras, verbalm ou artística, ou por qu 'Essa Convenção leve sua promulgação no Brasil atr: INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO :ssa qualidade ao direito em questão e, ncia, atrevo-me a parafrasear o grande ando que, sem informações, o homem mesmo sobrevive. :!f, de informar e de ser informado está ção Federal. oa todos o acesso à informação eres ~rio ao exercício profissional". ~ncontra-se o respaldo para o acesso à ltia de trabalho dos profissionais de im ntroversia: Celso Ribeiro Bastos, Vidal ~, que nesse texto constitucional con não tem a mesma conotação dada ao )s, disposto no inc. XXXIII, do mesmo ~ estabeleceu o dever de esses órgãos abilidade de seus agentes. direito de ser informado só existe em empresas particulares não há o corre ;posamos o entendimento de Aluízio Informação -Direito àComunicação", a Constituição é integral, revelando o . informado. Tal conclusão se faz em da de nossa Lei Magna. mente ao direito de ser informado pe )rte apenas no inc. XIV, do art. 5°, an positivos constitucionais, dos quais se ,tão: pensamento, sendo vedado o anoni idade intelectual, artística científica ntemente de censura e licença". denominada liberdade de pensamen la a liberdade de opinião e de expres i liberdade de expressão de atividade ntica jornalística, deixando-as a saldo !fa. nal da liberdade de imprensa, tão fes- MARIA TEREZA MARO!JES 33 Mas não é só. Ao dispor sobre as limitações do poder de tributar, nosso legis lador constituinte originário, arrolando o que denominou de garantias asseguradas ao contribuinte (art. 150, caput), vedou àUnião, aos Estaóos, ao Distrito Federal e aos Municípios a possibilidade de instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão (ine. VI, "d"). Perguntamos: qual o objetivo dessa garantia? a quem ela interessa? ou me lhor, qual o bem maior protegido por esses dispositivos? Evidentementeque o objetivo primeiro não foi privilegiar os empresários da comunicação e sim aplena liberdade de informação, pois o poder estatal, através de seu poder de tributar, poderia, com a instituição de impostos com alíquotas altas, embaraçar o exercício dessas atividades. Parece-nos que o objeto dessa proteção é ainformação bem como o seu aces so, não apenas aos profissionais da comunicação, mas, principalmente, ao público, ao cidadão, pois de nada adiantaria o fato de que os jornalistas tivessem amplo aces so a todos os dados se pudessem optar por nada externar, ou pior, sentissem-se li vres para manipular essas informações obtidas, já que nenhum dever legal de infor mar lhes fora impingido. Outrossim, o capítulo referente à comunicação social traz em seu conteúdo outras garantias à plenitude de informação, proibindo que os meios de comunica ção social venham a ser objeto de moropálio ou oligopólio (art. 220, § 5°), evitan do-se com tal proibição, que a informação e ou a comunicação de massa possam fi car nas mãos de uma única pessoa ou de um número reduzido a ensejar a manipula ção: ainda, nesse mesmo capítulo, a Constituição permite a publicação da comuni cação impressa independentemente de licença de autoridade (art. 2220, § 6°), ou seja, evita que a burocratização possa configurar em óbice para a impressão e circu lação de intormações impressas; e, por fií:i, traça os princípios os quais o rádio e a televisão deverão atender, dentre estes, a finalidade educativa e intormativa de suas programações. Além de todas as normas constitucionais e infra-constitucionais já analisadas, que nos dão o suporte para afirmarmos que o direito de informação enfeixa o direi to ao acesso à informação, trazemos a lume o disposto na Convenção Americana sobre direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, de 27. 11.89), da qual o Brasil é signatárid, cujo art. 13 assim declara: "Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expres são. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e dífundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha". 'Essa Convenção teve sua promulgação no Brasil através do Dec N° 678, de 6.lll992 (DOU, 9·11·92). I 21. MARIA TEREZA MARQ1JES y't INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO Essa regra tem seu conteúdo incorporado ànossa Constituição, nos termos do § 2°, do art. 5°, que expressamente dispõe que os direitos e garantias ali expres sos não excluem outros decorrentes dos princípios por ela adotados ou dos trata dos internacionais em que a República brasileira seja parte. Mas, mesmo que assim não fosse, isto é, mesmo que o Brasil n10 tivesse subs crito referida convenção, somente pelo disposto no inc. XIV, do art. 5° da Constitui Ç10 Federal já se autorizava essa conclusão. Afim de melhor ilustrarmos nosso posicionamento, trazemos àbaila a susten tação efetuada por Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, que assim atlrmaram: "O art 5°. XlV garante a todos, o acesso à illformação (rectius =col/lwzicação). A.í está a pedrafurzdamental do direito de ser informado. Édireito fundamental, com garantia de cláusu la pétrea. Édireito difuso ellcartável na defilliçâo do art. 81, .? úni co, 1do coe. A. mera possibilidade de acesso já configura o direito e, portanto, a sua pmteçâo"J. Ante todos esses preceitos constitucionais, defendemos o dever de informar que tem os órg10s de comunicaç10 de massa, a obrigação desses de cumprir o seu mister, levando-se em conta seu destinatário: o povo. Exempliticando, 1110 entendemos razoável possa um meio de comunicaç10 colher informações de cabal interesse público e privilegiar apenas algumas pessoas, retendo tais informações, ou veiculando-as de maneira incompleta e tendenciosa. Conforme já asseverado, embasa o direito à informação, sendo seu pressupos to a liberdade de externar o pensamento, de emitir opiniões, de livremente expressá lo. pois o pensamento, enquanto ato do intelecto, sem projeç10 no mundo exterior não interessa ao mundo jurídico e n10 reclama uma norma autorizadora para tanto. Destarte, pensar só para si não significa liberdade de pensar O escravo, o submisso e o oprimido pensam, sem que se lhes assegure liberdade de pensamen to Pensar de si para si mesmo é ato de comunh10 interna, é a chamada liberdade de consciência, não pode ser policiada, pois simples introspecção psíquica, declarando-a a Constituição inviolável (art. 5°, VI). Sendo a liberdade conceito políti co-social, a liberdade de pensar reivimlica naturalmente a possibilidade de exteriori zação, de extrovers10 do pensamento". Evidentemente, que a liberdade de pensamento alcança, sem sombra de dúvi da, a liberdade de trazer a público suas idéias, suas conclusões e críticas sobre deter minado objeto. Eis aí o direito de expressão, de se expressar, de se comunicar, de emitir mensagens, por qualquer meio, independentemente de autorização e ou cen sura. 'Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodngues, in Manml de Direito Ambiemal e LeglsLlçj() Aphcável, p. 400. 'Pedro Frederico Caldas, in Vida Privada, Liberebde de Imprensa e Dan,) MoraL 5}o PauJo, Saraiva, 1997, pp. 59/60. Entretanto, na defesa do difi caráter absoluto desse direito. Não. namento constitucional agasalha di a vida, a liberdade, a honra, até o I positivos, sem que haja hierarquia harmoniosamente sem conflitos, j~ ção, sem prevalência de um sobre Ocorre que, por muitas veze: damentais pode chocar-se com OUI prete um posicionamento acerca ( assim se concluir. Devemos ter em conta que sempre aparentes já que a unidadl permite apontar qual dispositivo (I lução se dará pela busca de equilít Vejamos como se deverá fazl ção - a liberdade de crítica -e os d Nossa Constituição Federal, intimidade, a vida privada, a imag violação a esses bens poderá ense decorrente. Em caso de confronto entre, há três correntes doutrinárias inte A primeira delas, conhecid: absoluto dos direitos de personali ção fática o direito de informar (nl a preponderância absoluta destes, Fixa essa doutrina o princíp personalidade que, em nenhuma eventual interesse público) poder Asegunda vertente doutrill qual se desenvolveu sob o pressuf reito de crítica e um dos direitos se a uma necessária e casuística Nessa linha de raciocínio, a tarefa to de personalidade envolvido, d ponderação está ou não justificad Aterceira concepção deser rêllcia Normativa, avançando no ção, não nega a premissa da limit e dos direitos de informação e d INSTlTU1Ç,\O TOLEDO DE ENSINO MARlA TEREZA MARQ1JES 35 orporado à nossa Constituição, nos termos jispõe que os direitos e garantias ali expres }s princípios por ela adotados ou dos trata brasileira seja parte. isto é, mesmo que o Brasil não tivesse subs disposto no inc. XIV, do art. 5° da Constitui são. ) posicionamento, trazemos à baila a susten co Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues, que nte a todos, o acesso à informação ). Aí está a pedra fundamental do direito ~ito fundamental, com garantia de cláusu ') encartável na definiçãO do art. 81, § ÚllÍ lsibilidade de acesso já configura o direito ;ãO"l. ~cionais, defendemos o dever de informar nassa, a obrigação desses de cumprir o seu tário: o povo. ramável possa um meio de comunicação íblico e privilegiar apenas algumas pessoas, -as de maneira incompleta e tendenciosa. direito à informação, sendo seu pressupos de emitir opiniões, de livremente expressá intelecto, sem projeção no mundo exterior clama uma norma autorizadora para tanto. ignifica liberdade de pensar. O escravo, o ~ se lhes assegure liberdade de pensamen comunhão interna, é a chamadaliberdade da, pois simples introspecção psíquica, t. 5°, VI). Sendo a liberdade conceito políti I naturalmente a possibilidade de exteriori pensamento alcança, sem sombra de dúvi ~ias, suas conclusões e críticas sobre deter ;são, de se expressar, de se comunicar, de lependentemente de autorização e ou cen ues, in Manual de Direüo Ambielllal e Leglslaç<iu .prensa e D:mo Moral. São Paulo: Saraiva. 1997, pp. 59/(,0 Entretanto, na defesa do direito à intormação, não se quer aqui defender o caráter absoluto desse direito. Não. Como é do conhecimento de todos, nosso orde namento constitucional agasalha diversos direitos fundamentais, protegendo desde a vida, a liberdade, a honra, até o meio ambiente, a comunicação, em diversos dis positivos, sem que haja hierarquia entre eles, isto é, esses direitos devem conviver harmoniosamente sem conflitos, já que estão todos inseridos na mesma Constitui ção, sem prevalência de um sobre o outro. Ocorre que, por muitas vezes, o exercício ilimitado de um desses direitos fun damentais pode chocar-se com outro dessa mesma categoria, reclamando do intér prete um posicionamento acerca de qual direito deverá prevalecer e o porquê de assim se concluir. Devemos ter em contei que as antinomias eventualmente detectadas serão sempre aparentes já que a unidade hierárquico-normativa da Constituição não nos permite apontar qual dispositivo constitucional tem prevalência sobre outro e a so lução se dará pela busca de equilíbrio entre as normas porventura conflitantes. Vejamos como se deverá fazer essa harmonização entre o direito de informa ção - a liberdade de crítica - e os denominados direitos da personalidade. Nossa Constituição Federal, em seu art. 50, incisos Ve X, protege a honra, a intimidade, a vida privada, a imagem das pessoas, dispondo expressamente que a violação a esses bens poderá ensejar indenização pelo dano material ou moral dela decorrente. Em caso de confronto entre esses direitos individuais e o direito àinformação, há três correntes doutrinárias interpretativas de referido conflito aparente: A primeira delas, conhecida como o Regime de Exclusão, apregoa o valor absoluto dos direitos de personalidade, isto é, contrapondo-se numa mesma situa ção fática o direito de informar (noticiar, criticar) e os direitos de personalidade, há a preponderância absoluta destes, o que excluiria aquele. Fixa essa doutrina o princípio da inviolabilidade de quaisquer dos direitos da personalidade que, em nenhuma situação ou sob qualquer pretexto (mesmo o de eventual interesse público) poderiam ser violados. A segunda vertente doutrinária denomina-se a da necessária ponderação, a qual se desenvolveu sob o pressuposto de que, existindo eventual colisão entre o di reito de crítica e um dos direitos da personalidade, o mais acertado seria proceder se a uma necessária e casuística ponderação entre ambos os direitos envolvidos. Nessa linha de raciocínio, a tarefa consiste em sopesar o direito de crítica e o direi to de personalidade envol\~do, de modo a concluir se a restrição resultante dessa ponderação está ou não justificada constitucionalmente. Aterceira concepção desenvolvida, consubstancia-se na corrente da Concor rência Normativa, avançando nos pressupostos da doutrina da necessária pondera ção, não nega a premissa da limitabilidade dos direitos fundamentais, como gênero, e dos direitos de informação e de crítica, em específico. Todavia, fLxa o direito de , INSTITUlçÃO TOLEDO DE ENSlNO36 crítica (de informaçio, de opinião e de exptf'ssio) como preferencial face aos de mais direitos. Tal entendimento baseia-se no v~lor social do direito de crítica, alçado na ver dade, à condição de um autêntico pressuposto do sistema democrático. Alega-se, nesse sentido, que o direito de crítica constitui um verdadeiro alicerce da instituição opinião pública, o que, e\~dentemente, reveste tal direito de um caráter especial, prevalente em relação aos demais direitos fundamentais que, em determinadas situ ações, possam com ele se antagonizar. Analisando referidas vertentes doutrinárias, parece-nos que a primeira delas -a do regime de exclusão - é totalmente insustentável, haja vista que, sem qualquer fundamento jurídico, dá aos direitos à intimidade, à honra, à imagem e à privacidade o caráter absoluto que nega a outros direitos também fundamentais. Por essa teoria, o direito à informação ficaria relegado a um segundo plano, ou pior, à mera teoria, sem qualquer efetividade. As duas outras correntes demonstram uma maior possibilidade de acomoda ção dos direitos conflitantes, sendo que a segunda vertente -a da necessária ponde ração -baseia-se no bom senso, na interpretação do caso concreto e a terceira -a da concorrência normativa -melhor exposta e fundamentada, segundo nossa opinião, parte do suporte da teoria da ponderação que, sem negar o valor que os direitos próprios da personalidade possuem, ressalta o caráter público que reflete o direito à informação. Por essa corrente, se a informação veiculada vier a resvalar em ofensa à honra de alguém, mas se esse relato for matéria de interesse público e tratar-se de informação verdadeira, não há como negar o exercício desse direito, muito embora o outro, o direito ofendido, tenha que ser sacrificado. Eque, sem esse entendimento, a maior parte das informações veiculadas pe los órgãos de comunicação, no mais das vezes consubstanciando em denúncias, se ria considerada inoportuna, desrespeitadora de direitos individuais fundamentais. Outrossim, ensina-nos Luis Roberto BarrosoS que o princípio da razoabilidade é um parâmetro de valoraçio dos atos, em princípio do Poder Público, buscando aferir se eles estão informados pelo valor maior inerente a toda ordem jurídica: a Justiça, e que é razoável o que seja conforme a razão, supondo equilíbrio, modera ção e harmonia, o que não seja arbitrário ou caprichoso, o que correspanda ao sen so comum e aos valores vigentes em dado momento ou lugar Por esse princípio, deve-se analisar o caso concreto em que há aparente confli to positivo de normas e buscar o equilíbrio dessas regras, valorando asituação de ca da detentor de um direito fl1ndamental e as circunstâncias que deram ensejo, no ca so, à veiculação da informação tida como infringente a um direito da personalidade. Assim, frente a todas as correntes doutrinárias analisadas, colhendo de cada uma o seu melhor ensinamento e partif1clo da premissa de que não há hierarquia en 5In Imerpretação e Aplicação ela Constituição. Sáo Palllo: Saraiva. 1996. MARlA TEREZA MARQ1JES tre as normas constitucionais, que os ( mas, ao contrário, limitados, que deve seu conteúdo a mcLxima eficácia para c tre o direito à informação e os clireitos de, deve-se considerar: o teor da inforr informado, na relevância da mensagem ma e, para que esse direito não se limi dade, que somente os abusos, a gratu intimidade sejam punidos. Eis aí a base para o exercício do ( sa: o direito de criticar com responsab que se obrigaram perante a coletividad De fato, o direito à crítica é ínsi vendo a crítica não de modo negativo, juízo de valor, do resultado de uma aná ou notícia. Nio se concebe, assim, o direito vremente criticar o objeto sob análise, ( mesmo pessoa, desde que inerente àr Relativamente à liberdade de im~ nominada Lei de Imprensa - a possibiU sem que estas resultem em abuso passí tre outras, a cítica sobre vários objetos ao trabalho científico e o respectivo cie; toridades públicas e os políticos. Destarte, a crítica pode recair sol a sofrer qualquer espécie de censura, ir to às ações civis ou criminais. Eque, ql ma ao público, está ele submetendo-se. tiva, quer negativa. Não obstante essa, comunicação ao exercitar esse direito, ou ao artista enquanto profissional, reI; lhe sendo permitido,sob o pretexto de da privacidade, da honra da pessoa hun minalmente por seu abuso. O mesmo raciocínio é válido rela tista e sua obra ficam à mercê de avalia ta e sobre suas qualidades como profiss ele concordem ou que reconheçam agJ mas observações quanto ao limite da Cf Outrossim, como já assinalado, p INSTITUlÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARIA TEREZA MARQ1!ES 37 ~ expressão) como preferencial face aos de lor social do direito de crítica, alçado na ver ssuposto do sistema democrático. Alega-se, mstitui um verdadeiro alicerce da instituição ~, reveste tal direito de um caráter especial, os fundamentais que, em determinadas situ ltrinárias, parece-nos que a primeira delas -a insustentável, haja vista que, sem qualquer ltimidade, àhonra, à imagem e à privacidade 'eitos também fundamentais. Por essa teúria, 1 um segundo plano, ou pior, à mera teoria, :tram uma maior possibilidade de acomoda a segunda vertente -ada necessária ponde pretação do caso concreto e a terceira -a da ta e fundamentada, segundo nossa opinião, ção que, sem negar o valor que os direitos ssalta o caráter público que reflete o direito armação veiculada vier a resvalar em ofensa Ir matéria de interesse público e tratar-se de gar o exercício desse direito, muito embora er sacrificado. maior parte das informações veiculadas pe vezes consubstanciando em denúncias, se jora de direitos individuais fundamentais, oBarros05 que o princípio da razoabilidade em princípio do Poder Público, buscando or maior inerente a toda ordem jurídica: a arme a razão, supondo equilíbrio, modera ) ou caprichoso, o que corresponda ao sen jo momento ou lugar. o caso concreto em que há aparente confli io dessas regras, valorando a situação de ca :as circunstâncias que deram ensejo, no ca I infringente a um direito da personalidade. doutrinárias analisadas, colhendo de cada lo da premissa de que não há hierarquia en :Saniva, 1996. tre as normas constitucionais, que os direitos nelas consagrados não são absolutos, mas, ao contrário, limitados, que devem conviver harmoniosamente, dando-se ao seu conteúdo a mi'dma eficácia para obtenção da justiça, no caso de confronto en tre o direito à informação e os direitos à honra, à imagem, à intimidade e privacida de, deve-se considerar: o teor da informação, o direito de todos e de cada um de ser informado, na relevância da mensagem contida na informação, a veracidade da mes ma e, para que esse direito não se limite em mera declaração, sem qualquer efetivi dade, que somente os abusos, a gratuidade da violação da honra, da imagem e da intimidade sejam punidos. Eis aí a base para o exercício do direito à informação pelos órgãos de impren sa: o direito de criticar com responsabilidade, com o intuito de cumprir o mister a que se obrigaram perante a coletividade, De fato, o direito à crítica é ínsito da atividade dos órgãos de comunicação, vendo a crítica não de modo negativo, depreciativo, mas como manifestação de um juízo de valor, do resultado de uma análise acurada e neutra sobre determinado fato ou notícia Não se concebe, assim, o direito à informação jornalística sem o direito de li vremente criticar o objeto sob análise, quer se trate de idéias, artes, atividades ou até mesmo pessoa, desde que inerente à notícia veiculada. Relativamente à liberdade de imprensa, dispõe o art. 27, da Lei 5.250/67 -a de nominada Lei de Imprensa - a possibilidade de críticas, mesmo as mais veementes, sem que estas resultem em abuso passível de punição. Esse dispositivo autoriza, en tre outras, a cítica sobre vários objetos, entre eles as obras de artes e seus autores; ao trabalho científico e o respectivo cientista e às pessoas públicas, mormente as au toridades públicas e os políticos, Destarte, a crítica pode recair sobre as artes em geral sem que o crítico venha a sofrer qualquer espécie de censura, inclusive a judicial, não estando também sujei to às ações civis ou criminais. Eque, quando o artista revela sua obra, expõe a mes ma ao público, está ele submetendo-se às diversas modalidades de crítica, quer posi tiva, quer negativa. Não obstante essa ampla liberdade de criticar, o profissional de comunicação ao exercitar esse direito, deverá fazê-lo exclusivamente à obra de arte ou ao arti~ta enquanto profissional, relativamente ao seu dom e competências, não lhe sendo permitido, sob o pretexto de utilizar-se de seu direito, de invadir a esfera da privacidade, da honra da pessoa humana em questão, sob pena de responder cri minalmente por seu abuso. O mesmo raciocínio é válido relativamente às descobertas científicas. O cien tista e sua obra ficam à mercê de avaliações, de juízos de valor sobre sua descober ta e sobre suas qualidades como profissional, não podendo ele exigir que todos com ele concordem ou que reconheçam agrandiosidadc de sua experiência. Mas as mes mas observações quanto ao limite da crítica sobre as artes aqui também se colocam. Outrossim, como já assinalado, podem ser objeto de críticas as pessoas públi I I , I MARlA TEREZA MAROlJESINSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO38 cas, os políticos. Éque, ao ingressar na vida pública, do mesmo modo que o artista e o cientista que expõem suas obras e seus predicados, a pessoa pública submete sua capacidade, seus dotes, suas qualidades e defeitos ao crivo de toda uma socie dade. Nesse sentido, analisando essa possibilidade, Darcy Arruda Miranda, em sua festejada obra "Comentários à Lei de Imprensa" assim se manifestou: 'í'I máquina da justiça só deve funcionar quando objetivamente se realçar o abuso. Do contrário, estaria contribuindo para o des prestígio da liberdade de imprensa e acoroçoamento dos abusos do poder. Aquele que não quiser expor-se à crítica jamais deverá aceitar um cargo de governo. Avida pública do político ou daquele que assume posto de relevo na vida nacional, édevassável a todas as luzes, épers crutável em todas as latitudes, é vasculhável em todos os seus esca ninhos, por isso que a coletividade precisa estar alertada contra to dos quantos por seus atos ou atitudes possam colocar em situação de perigo opaís, a moralidade pública e as próprias instituições". Muito emhora também nos filiemos nessa corrente doutrinária, não podemos deixar de ressaltar que, mesmo em relação às pessoas públicas, o direito de crítica não é de todo absoluto, uma vez que essa valoração deverá observar os princípios da razoabilidade e da ponderação, isto é, a crítica efetuada deve guardar liame com o cargo público ocupado, com as funções a ele relativas e com os assuntos que real mente tenham interesse público, sem abusos. A respeito, destaca-se decisão do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, que teve como relator oJuiz Silva Rico, de 1990, em que, dando provimento ao ape Io de um político e, conseqüentemente, condenando o jornalista por crime de im prensa - injúria -, asseverou que a liberdade de criticar é uma liberdade natural Mas que criticar não é destruir, ofender, injuriar, difamar, violentar a dignidade alheia. "Embora exprimir opinião seja um dos direitos mais nobres do homem no seio da sociedade, constituindo direito fundamental e elemento essencial democrático que garante a livre discussão das idéias, constitui crime a crítica veemente eofen siva contra alguém, principalmente quando tem em mira uma campanha de cu nho pessoal, visando a vítima determinada e dolosamente". (ap. 577.455/0). Dessarte, a liberdade de imprensa não é ilimitada. Muito embora não haja qualquer possibilidade de censura em seu conteúdo e veiculação, encontra ela limi tes diante dos direitos à intimic!ade e privacidade, dos direitos à honra e à imagem, devendo valorar com responsabilidade o objeto a ser veiculado. Afora essas observações de compatibilidade do direito à crítica jornalística e os direitosindividuais da pessoa analisada, o nosso ordenamento constitucional ex pressamente vedou qualquer forma de censura (art. 220, § 1° e 2°), garantindo a liberdade de expressão e, conseqüentemente, o direito à informação. Eanelou bem o constituinte de tão insidiosa forma de intervenção desmedido c desnecessário, totalmei A censura é a negação do direi repressão à informação; é a forma d de obstrução ao conhecimento. Os juristas são unânimes em a mocracia e que acensura implica sua sionais de comunicação mas toda as "A censura épois um quando prevista pan ba por desnaturar-st ideológica dos goven É, outrossim, instrun no entanto, deixar li gência nacional ou l É normal os países t para, por este meio, da nação. Censura vem a ser ti blicos visam a imped uma pauta de valon deamento de um prc A censura, pode, po; quando ela nega m publicação de certa cel10 ponto a posteri( e dejornais. (.) Afórmula proibitiva mais ampla possível administrativa, de originária, mas tatt proibições de difusãe Não nos esqueçamos também da ditadura militar, após o golpe de nais censuradas (em seu lugar eram táculos teatrais proibidos, artistas e i cia justiticada como sendo cometid3 nacional"', em "proteção da familia e 'Celso Ribeiro B:tsws e Ives Gandra Martins. in Cc INST1TUIÇÃO TOLEDü DE ENSINO ia pública, do mesmo modo que o artista us predicados, a pessoa pública submete es e defeitos ao crivo de toda uma socie ;ibilidade, Darcy Arruda Miranda, em sua rensa" assim se manifestou: leve funcionar quando objetivamente se rário, estaria contribuindo para o des imprensa e acoroçoamento dos abusos iOr-se à critica jamais deverá aceitar um úNica do político ou daquele que assume ional, édevassável a todas as luzes, épers 'des, é vasculhável em todos os seus esca tividade precisa estar alertada contra to ou atitudes possam colocar em situação fade pública eas próprias instituições". nessa corrente doutrinária, não podemos Cl às pessoas públicas, o direito de critica 1valoração deverá observar os princípios l critica efetuada deve guardar liame com I ele relativas e com os assuntos que real 50S. ibunal de Alçada Criminal de São Paulo, 1990, em que, dando provimento ao ape Jndenando o jornalista por crime de im ~ de criticar é uma liberdade natural. Mas ar, difamar, violentar a dignidade alheia, 'eitos mais nobres do homem no seio da ntal e elemento essencíal democrático Jnstitui crime a crítica veemente eofen do tem em mira uma campanha de cu {a edolosamente". (ap. 577.455/0). lão é ilimitada. Muito embora não haja :onteúdo e veiculação, encontra ela limi idade, dos direitos à honra e à imagem, Jjeto a ser veiculado. lilidade do direito à crítica jornalística e o nosso ordenamento constitucional ex lSura (art. 220, § 1° e 2°), garantindo a te, o direito à informação, MARIA TEREZA MARQ!JES 39 Eandou bem (J constituinte de 1988, alijando de nosso ordenamento jurídico tão insidiosa forma cle intervenção estatal, que consubstanciava em autoritarismo desmedi.do e desnecessário, totalmente indesejado pela nossa sociedade, A censura é a negação do direito à liberdade de imprensa; é o instrumento de repressão à informação; é a forma de fazer calar vozes, de cercear ;1 comunicação, de obstrução ao conhecimento. Os juristas são unânimes em afirmar que a imprensa livTe é sinônimo de de mocracia e que a censura implica sua degeneração, atingindo, pois, não só os prof]s sionais de comunicação mas toda a sociedade. "A censura épois um instrumento ahominável porque, ainda que qumulo prevista para a defesa de certos valores da sociedade, aca ha por desnaturar-se e pôr-se a serviço da suslentação política e ideológica dos governantes. É, outrossim, instrumento extremamente poderoso que não pode, no entanto, deixar de ser utilizado em certas situações de emer gência nacional ou de guerra externa. É' normal os países em beligerância controlarem as informações para, por este meio, ohterem o controle e manipulação do ânimo da nação Censura vem a ser todo o procedimenlo pelo qual os Poderes Pú blicos vísam a impedir a circulação de certas idéias, Há, portanto, uma pauta de valores que uma vez agredidos suscitam o desenca deamento de um processo impeditivo da slla consumação. A censura, pode, pois assumir um ar eminentemente preventivo quando ela nega autorização para determinado espetâculo ou publicação de certa matéria, como pode assumir uma feição até certo ponto a posteriori quando leva a efeito apreensões de revislas e dejomaisL) Afórmula proihitiva da censura deue ser entendida da maneira mais ampla possíuel para aharcar não somente a típica censura administrativa, de caráter prévio à expressão ou informação originária, mas também a censura posterior materializada em proibições de difusão ou divulgação (proihição de hulex)"6, Não nos esqueçamos também de nosso passado recente, quando, sob o poder da ditadura militar, após o golpe de 1964, livros eram apreendidos, notícias em jor nais censuradas (em seu lugar eram publicadas receitas culinárias e poesias), esre tácu!os teatrais proihidos, artistas e intelectuais presos e exilados e toda essa violên cia justiticada como sendo cometida para o "bem da sociedade", para a "segurança nacional", em "proteçào da família e dos bons costumes". 'Celso Ribeiro BaslOs e Ives Gandr;t Manins, in Comem{uios à CünstilUiç;lo do Br;tsil, 2° v" p, W --- --- INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARlA TEREZA MARQ1JES 40 Felizmente, trata-se de épocas passadas, mas, pelo seu exemplo negativo, de vem ser sempre lembradas para que nunca mais tais arbitrariedades venham a ocor rer. Desse modo, frente à liberdade de informação e ou comunicação aqui defen dida, a conclusão a que chegamos é que a censura não pode existir em nenhuma esfera do Poder, havendo plena liberdade de expressão, respondendo, contudo, o responsável por eventuais abusos pelos danos que vier a causar. Não se pretendeu aqui esgotar toda a matéria, como inicialmente ressaltado. Mas defender a liberdade de informação, principalmente levando-se em conta seu destinatário, o detentor primeiro desse direito fundamental: que é o povo, o leitor, o ouvinte do rádio, o telespectador da televisão. Mas devo confessar que o objetivo desta explanação será atingido se deixar mos na mente de cada leitor a importância de dotarmos os órgãos de comunicação de princípios e normas infra-constitucionais de plena liberdade de informação, com a finalidade maior de bem informar, educar e instruir. Por derradeiro, gostaria de fechar minha singela explanação com uma frase de John Milton: "Dêem-me, acima de todas as liberdades, a liberdade de saber, de falar e de discutir livremente, de acordo com a minha consciên cid'. BIBLIOGRAFIA ARAUJO, Luiz Alberto David. AprolE física, pessoa jurídica eprodutc BARROSO, Luís Roberto. Interpreta Saraiva, 1996. --- .Constituição da Repúbl complementar. São Paulo: Sarai' BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de D Saraiva, 1989. ___ & MARfINS, Ives Gandr;: 2° volume. São Paulo: Saraiva, I~ .Aliberdade de express~ Caderno de Direito Constitucio: dos Tribunais, julho/setembro 1~ BUCCI, Eugênio. Direitos do telesp Fundação Perseu Abramo. N. 3" fev/mar/abr 1998. 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Vocabulário JUJ CRETELLA JÚNIOR, José Curso di Dorense, 1986. --- --- INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO MARJA TEREZA MARQ1JES 41 lsadas, mas, pelo seu exemplo negativo, de lca mais tais arbitrariedades venham a ocor ~ informação e ou comunicação aqui defen le a censura não pode existir em nenhuma de de expressão, respondendo, contudo, o danos que vier a causar. da a matéria, como inicialmente ressaltado. 8, prindpalmente levando-se em conta seu direito fundamental: que é o povo, o leitor, elevisão. 8 desta explanação será atingido se deixar da de dotarmos os órgãos de comunicação lais de plena liberdade de informação, com car e instruir. ninha singela explanação com uma frase de fas as liberdades, a liberdade de saber, de 7ente, de acO/do com a minha consciên- BIBLIOGRAFIA ARAUJO, Luiz Alberto David. Aproteção constitucional da própria imagem: pessoa física, pessoa jurídica eproduto. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação eAplicação da Constituição. 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XVI, além do artig, Transitórias1 Em todo caso, é necess caso, que haja compatibilidade de ho Em sua origem, "as acumulaçõ( rança recebida da corte portuguesa, n empregos públicos."2 'Sob orientação do Prokssor Doutor Luiz AIbeno 'Are 37, XVl- Évedada a acumulação remunerada, horários:a de doIs cargos de professor; a de um ca cargos privativos de rnéclico; Art. 117 do ADCT: § 10 Éassegurado o exercício cumulativo de dois ( exercidos por médico rrlilitJf na adminiscração rur, § 2° Éassegurado o exercício cumulativo de dois esrejam sendo exercidos na ;1dministração públic:l 'TÁCITO, Caio. Acumulação de Cargos Tia COrlSlil quando do juIgJrnento do Recurso Extraordinário
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