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LAUDO PERICIAL
 
 
COMARCA DO RIO DE JANEIRO
 
 
JUIZ(A) DE DIREITO DA Xª. VARA CÍVEL DA REGIONAL DE WWW
 
Processo nº. XXX
 
Autor: XXX
 
X
 
Réu: YYY
 
 
Elaborado por    
Ricardo Salomão
Contador
CRC RJ 111175/O-0        
Outubro/2011
1 – DESIGNAÇÃO PARA PERÍCIA:
 
            Juiz(a) de Direito da Xª. Vara Cível da Regional de WWW.
 
 
2 – OBJETIVOS:
 
Aferir as condições do contrato de financiamento celebrado entre as partes, verificando se estão compatíveis com o instrumento assinado e com as condições de mercado.
 
 
3 – METODOLOGIA DO EXAME PERICIAL:
 
            O exame pericial foi realizado com base na documentação contida nos autos, nas normas e resoluções do Conselho Monetário Nacional – CMN e Banco Central do Brasil – BACEN envolvendo o Mercado de Crédito Bancário e nos Postulados das Ciências Contábeis.
 
 
4 – RESUMO DA LIDE:
 
4.1      O autor alega, no que importa à perícia técnica, que:
a)   Realizou contrato de financiamento de veículo com o réu, pagando 48 x R$ 818,08, sendo que o mesmo já foi integralmente quitado. No entanto, pretende revisar o contrato, porque entende que os juros e encargos pagos foram muito elevados;
b) Questiona a cobrança da Comissão de Permanência (CP), que visa remunerar o mútuo, quando esse não for pago na época de eu vencimento. Logo, a acumulação da CP com a atualização monetária representaria uma dupla penalidade ao devedor;
c)  O contrato de adesão teria imposto cláusulas abusivas para o consumidor, necessitando revisão. Entre elas, a cobrança de taxa de juros abusiva, acima do limite legal (12% ao ano, na visão do autor), contrariando a Constituição e a Lei da Usura;
d)  Requer a descapitalização dos juros compostos, passando para juros simples, deseja saber o que foi pago, a título de juros, encargos, taxas, etc. e a repetição de indébito dos valores cobrados indevidamente.
 
4.2      O réu contestou (fls. 52), alegando, no que importa à perícia técnica, que:
a)   O contrato teria sido celebrado e cumprido regularmente, sem a ocorrência de nenhum fator imprevisto que poderia ter alterado a equação contratual inicial. Além disso, não existiria, no ordenamento jurídico brasileiro, limitação a taxas de juros, tendo em vista a Súmula 648 do STF;
b)    A capitalização dos juros é prática permitida às instituições financeiras (MP 2.170-36, de 23.08.2001). Além disso, o banco réu, como faz parte do sistema financeiro nacional, estaria autoriza a cobrar comissão de permanência e multa, em caso de mora do devedor;
c)    Não há danos materiais ou morais a serem indenizados;
d)    Requer a improcedência dos pleitos autorais.
 
 
5 – BREVES CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS SOBRE O MERCADO DE CRÉDITO BANCÁRIO:
 
5.1      O mercado de crédito brasileiro ainda é, relativamente, pequeno (embora tenha crescido significativamente, ao longo dos últimos anos) e o custo de crédito é elevadíssimo,  sendo que a maioria dos analistas acredita que assim continuará, enquanto o setor público federal não deixar de ser o principal tomador de recursos no mercado monetário para financiar os déficts públicos.
 
5.2      A taxa SELIC é a taxa básica de juros da economia. Em outras palavras, pode-se dizer que é o custo que os bancos comerciais têm para pegar dinheiro com o Banco Central, fazendo com que sirva de parâmetro para determinar o custo do capital para todos os setores da economia.
 
5.3      Trata-se da taxa de juros média dos financiamentos diários com lastro em títulos federais, apurados por um sistema de liquidação diária dos títulos públicos, chamado de Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Quando um banco comercial capta recursos com o Banco Central, ele faz o pagamento com os títulos públicos, na mesma quantidade do dinheiro recebido (lastro em títulos federais).
 
5.4      Ao fazer um empréstimo, os bancos comerciais, além de estimar uma taxa de risco por inadimplência, cobram a taxa Selic adicionada a um spread, de onde advêm seus lucros. Citada taxa é fixada em reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), com base em equações algébricas que levam em conta alguns objetivos macroeconômicos: meta inflacionária, câmbio, hiato de produção (diferença do PIB em potencial e PIB real em uma economia), etc. Por exemplo, quando a inflação dá sinais de que vai aumentar, podendo ultrapassar a meta anual fixada, o Copom aumenta os juros, desaquecendo assim a economia (custo mais alto do capital), o que reduz a procura por produtos e serviços.
 
5.5      Dentre as inúmeras linhas de créditos disponíveis no mercado financeiro, temos:
 
            5.5.1 Cheque-Especial
 
            Caracteriza-se como um crédito pré-aprovado que os bancos comerciais colocam à disposição dos clientes levando em conta o seu cadastro e o relacionamento.
 
            Sua disponibilidade é automática, até o limite estabelecido, sempre que há um débito na conta corrente superior ao saldo disponível. O limite é recomposto de acordo com a cobertura do saldo devedor.
 
            Na prática é um “saldo extra” que o cliente pode utilizar quando não possuir saldo disponível para débitos como cheques, transferências interbancárias, tarifas, etc.
 
            A utilização está sujeita ao pagamento de juros proporcionais ao valor utilizado durante o mês. Os encargos – juros e IOF – são calculados diariamente e cobrados mensalmente com base na Média Diária de Saldos Devedores, que é apurada através da fórmula:
 
 
MDSD = (saldo devedor x nº de dias + saldo devedor x nº de dias..........saldo devedor x nº de dias) / nº de dias do mês
 
 
 
            As condições de utilização – taxas, prazos, valor, garantias, vencimento antecipado, multas, renovação automática – são estabelecidas em contrato assinado entre o cliente e o banco.
 
 
            5.5.2 – Crédito Direto ao Consumidor (CDC) ou Crédito Parcelado
 
            O Crédito Direto ao Consumidor – CDC (ou Crédito Parcelado) é um financiamento destinado principalmente à aquisição de bens duráveis e / ou serviços ou até mesmo sem qualquer direcionamento, podendo ser obtido em bancos, financeiras ou ainda lojas que vendem produtos financiáveis no CDC.
 
            Os juros, em geral, são pré-fixados e nos casos de prazo superior a 12 meses, também são encontradas atualizações monetárias pela TR ou pelo IGP-M.
 
            O prazo, geralmente, varia de 3 a 48 meses, em função do valor e tipo do bem, da capacidade de pagamento do comprador e das condições da economia. O pagamento é em prestações mensais, utilizando-se para liquidação o Sistema Francês de Amortização, também conhecido como TABELA PRICE, o qual não caracteriza a cobrança de juros sobre juros - ANATOCISMO.
 
            São duas as regras que devem ser obedecidas para que um sistema seja considerado como de amortização, que é o caso concreto da TABELA PRICE:
 
1ª. Regra: o valor de cada prestação é formado por duas parcelas, uma delas é a devolução do capital ou parte dele, denominada amortização, e a outra parcela é constituída pelos juros, que representam o custo do empréstimo.
 
2ª. Regra: o valor dos juros de cada prestação é sempre calculado sobre o saldo devedor do empréstimo, por meio da aplicação de uma determinada taxa, denominada taxa de juros.
           
            Da segunda regra podemos obter as seguintes conclusões:
           
a) no pagamento de cada prestação o devedor paga os juros integrais sobre o valor do saldo devedor do início do período que está pagando.
           
b) após o pagamento da prestação, e no mesmo dia, o devedor deve somente parte do capital que ainda não foi amortizado; nesse dia, os juros estão zerados.
           
c) em cada data de pagamento, o valor da prestação deve ser maior do que o valor dos juros devidos nessa data (para que possa ocorrer a liquidação dos juros e amortização do capital).
           
d) um plano corretamente construído não pode ter nenhuma prestação com valormenor que o valor dos juros calculados sobre o saldo devedor. Portanto, o valor da primeira prestação será sempre maior que o valor dos juros sobre o valor financiado.
 
As duas conseqüências das letras “a” e “b” levam à conclusão de que – sob o ponto de vista econômico financeiro - inexiste capitalização no sistema de amortização Price.
           
Tanto a capitalização como a amortização tem definições e regras próprias que as diferenciam e que não se confundem. São processos diferentes.
           
O Professor José Dutra Sobrinho omite a definição de amortização em seu livro Matemática Financeira – Editora Atlas – 7ª. Edição. Mas, assim define a capitalização na pág. 21: “Capitalização composta é aquela em que a taxa de juros incide sobre o capital inicial, acrescido dos juros acumulados até o período anterior. Neste regime de capitalização a taxa varia exponencialmente em função do tempo.”
 
Como conseqüência dessa definição, a capitalização consiste em que os saldos em determinado momento são sempre maiores que no momento anterior.
 
Outro exemplo vem de Puccini (Abelardo de Lima, Matemática Financeira Objetiva e Aplicada – Ed. Saraiva, 6ª. Ed. 1999, pg. 14): “Os juros de cada período são somados ao capital para o cálculo de novos juros no período seguinte”.
 
Para ilustrar, a quantia de R$ 10.000,00 aplicada a 8% por período, em quatro períodos, apresenta os seguintes saldos ao final de cada período considerado, no regime de capitalização composta:
 
 
 
	Períodos
	Saldo inicial
	Juros de 8%
	Saldo Final
	1
	R$ 10.000,00
	R$ 800,00
	R$ 10.800,00
	2
	R$ 10.800,00
	R$ 864,00
	R$ 11.664,00
	3
	R$ 11.664,00
	R$ 933,12
	R$ 12.597,12
	4
	R$ 12.597,12
	R$ 1.007,77
	R$ 13.604,89
 
 
 
Observa-se que tanto os juros como os saldos ao final de cada período são crescentes, o que não ocorre no sistema de amortização Price. O crescimento do saldo devedor se faz de forma geométrica, ou exponencial, de razão igual a 8%.
 
O mesmo ocorre quanto se pretende aplicar, em períodos iguais e sucessivos, uma determinada quantia a juros compostos ou capitalizados. O saldo ao final de cada período também é sempre crescente.
 
O denominado sistema Price propõe-se a determinar o valor de uma prestação constante, ou seja, para cada um dos pagamentos em cada vencimento, oportunidade em que são liquidados os juros do período (juros) e parte do capital (amortização).
           
 O valor de cada prestação pode ser calculado tanto através de um “coeficiente multiplicador”, mais conhecido como FRC = Fator de Recuperação de Capital, como de um “coeficiente divisor”, ambos levam ao mesmo resultado, qual seja, o valor da prestação periódica.
             
            Para que ocorresse a capitalização dos juros era necessário que juros fossem incorporados aos saldos devedores e sobre estes novos saldos devedores novos juros fossem cobrados, fato que, como vimos, não ocorre na Tabela Price.
 
 
           
            5.5.3 – Cartão de crédito
 
            O cartão de crédito é uma identificação que possibilita o pagamento à vista, de produtos e serviços obedecidos requisitos pré-estabelecidos (validade, abrangência, limite valores, etc.). Foi criado com a finalidade de promover o mercado de consumo, facilitando as operações de compra. O cartão é usado como espécie de “dinheiro virtual”.
 
            Numa operação com cartão de crédito estão envolvidos: o consumidor, a administradora do cartão e o fornecedor de produtos e serviços.
 
            O contrato de cartão de crédito é um contrato de adesão, pois suas cláusulas são estabelecidas unilateralmente pela administradora, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
 
            Nele consta a cláusula mandato, em que o consumidor dá poderes à administradora para realizar diversos negócios jurídicos em seu nome, como procuradora. Por esta cláusula a administradora poderá abrir conta corrente, contratar empréstimo, emitir letras de câmbio, etc.
 
            A administradora de cartão de crédito, normalmente, disponibiliza algumas datas de vencimento da fatura. O consumidor ao fazer sua opção passará a receber as faturas para pagamento na data ajustada. A falta de recebimento da fatura não exime o consumidor do pagamento devendo esse contatar a administradora antes do vencimento e efetuar o pagamento mediante boleto avulso ou outra forma disponibilizada. A possibilidade de escolha da data de pagamento permite que o consumidor programe seus gastos.
 
            Existem quatro opões de pagamento da fatura:
           
- o consumidor paga a fatura com o valor integral, na data de vencimento;
           
- o consumidor paga o valor discriminado como pagamento mínimo, que em média corresponde a 20% do valor integral da fatura e utiliza o chamado “crédito rotativo” (no caso dos autos, este percentual é de 10%). Assim o consumidor estará financiando o saldo da diferença verificada entre o valor total da fatura e o valor pago;
           
- o consumidor poderá ainda efetuar o pagamento maior que o mínimo. Nessa opção o saldo será acrescido dos encargos contratuais (taxas de financiamento) que serão cobrados na próxima fatura;
           
- ao consumidor no ato da aquisição de produtos ou serviços, nos estabelecimentos filiados, é oferecida a opção de parcelar a compra.
 
            Na fatura do cartão de crédito deverá estar expressa a taxa de juros que incidirá no período da fatura e, ainda, a do próximo período.
 
            Dentre as vantagens do uso do cartão de crédito podemos observar:
           
- facilita a vida do consumidor na hora da aquisição de bens, mesmo que ele não tenha disponibilidade financeira no momento da compra. Compra-se hoje para pagar depois, em data escolhida pelo usuário do cartão;
           
- é um simplificador de crédito ao eliminar os demorados e aborrecidos cadastros para abertura de financiamento em lojas comerciais;
           
- evita que o consumidor precise carregar dinheiro ou talão de cheques;
           
            - cartão de crédito igual a pagamento à vista.
 
            Como desvantagem podemos considerar que o cartão de crédito estimula as compras desnecessárias ou que podem ser adiadas. Os consumidores incondicionais são as maiores vítimas dessa facilidade.       
 
            A falta de planejamento e até mesmo de informação leva as pessoas caírem no chamado crédito rotativo ou atrasarem o pagamento da fatura, por exemplo, tornando-se presas aos juros administrados pelas operadoras.
 
 
6 – ANÁLISE DOS DOCUMENTOS RELEVANTES CONTIDOS NOS AUTOS:
 
6.1      Doc. de fls. 29/31 – Contrato de Financiamento.
 
a)  Datado de 21.07.2003, foi assinado pelo autor e constam do mesmo as condições de financiamento, a saber:
-   Valor da NF: R$ 24.300,00; Prêmio do Seguro: 681,70; Valor Total: R$ 24.981,70; Entrada: R$ 4.500,00; TAC também financiada: R$ 250,00; Valor Líquido Financiado: R$ 20.731,70; IOF também financiado: R$ 296,53; Total de parcelas: 48; 1º vencimento: 21.08.2003; Último vencimento: 21.07.2007; Valor da parcela: 815,78; Taxa de juros ao mês: 2,89%; Taxa de juros ao ano: 40,80%; Valor total do contrato: R$ 39.157,44;
b)   As “Condições” anexas ao contrato são claras e explicam, de forma didática, todos os encargos, taxas e demais aspectos do contrato.   
 
6.2      Doc. de fls. 181/184 – Demonstração da evolução financeira dos contratos celebrados entre autor e réu
 
a)      Repete as mesmas condições acima mencionadas, com uma ligeira alteração na taxa de juros mensal, que passa para 2,8924609262%, mas a prestação mensal é mantida em R$ 815,78;
b)   A evolução mostra que o autor pagou todas as prestações, sendo a maioria delas com atrasos, os quais variaram de uma média em torno de 20 dias durante os primeiros 39 meses de contrato e passaram para uma média de 400 dias nos últimos 9 meses do mesmo contrato;
c)   A evolução está correta, com os cálculos obedecendo, integralmente,os Princípios do Sistema Price.
 
 
7 – CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS SOBRE O CASO CONCRETO:
 
7.1      Podemos conceituar os juros como sendo os rendimentos ou frutos civis do capital emprestado, ou seja, um custo financeiro (preço) pela sua utilização. Sob determinada ótica, refere-se à recompensa a ser paga ao credor em razão deste se privar de determinado bem em benefício do devedor. Seria, assim, o preço do uso do capital e um prêmio de risco que corre o credor.
 
7.2      Os juros são classificados como moratórios ou compensatórios (também chamados de remuneratórios). Os primeiros constituem pena imposta ao devedor pelo atraso no adimplemento de determinada prestação e são aplicados pelo simples fato da inobservância do termo para o pagamento. Os últimos, diferentemente, têm por finalidade remunerar o capital mutuado. São desta forma, aqueles pagos por compensação por ficar o credor impossibilitado de dispor de seu bem e fluem desde o momento da cessão da respectiva posse ou uso.
 
7.3      O Conselho Monetário Nacional (CMN), alicerçado no artigo 4º, IX, da Lei no. 4.595, de 31.12.1964, autorizou as instituições financeiras a praticarem em suas operações de crédito taxas de juros livremente pactuáveis, de acordo com a Resolução no. 1.064, de 05.12.1985, preceito registrado no Manual de Normas e Instruções (MNI) 02-01-03.
 
7.4      A Medida Provisória no. 1.820, de 05.04.1999, renovada pela Medida provisória no. 2.172-32, de 23.08.2001, também exclui as instituições financeiras do alcance de estipulações usurárias, ratificando o entendimento da Súmula 596 do STF.
 
7.5      O Banco Central do Brasil divulga, através da página www.bcb.gov.br/Sistema Financeiro Nacional/Operações de Crédito, o “Ranking das Taxas de Operações de Crédito”, apresentado em duas formas: “ranking” por “ordem de classificação crescente de taxas” e “ranking” por “ordem alfabética de instituição”. Em ambas as formas, o “ranking” mostra as taxas por tipo de encargo (prefixado, pós-fixado e flutuante) e por modalidade de linha de crédito, separadamente por pessoa física e por pessoa jurídica.
 
7.6      O BCB também divulga através do mesmo “site”, as taxas médias praticadas pelo Sistema Financeiro Nacional - SFN nas operações de crédito. Segundo informe do próprio Banco Central, “as taxas de juros representam a média do mercado e são calculadas a partir das taxas diárias das instituições financeiras ponderadas por suas respectivas concessões em cada data. São divulgadas sob o formato de taxas anuais e taxas mensais. As taxas médias mensais são obtidas pelo critério de capitalização das taxas diárias ajustadas para um período padrão de 21 dias úteis”.  Advertindo ainda que “em geral, as instituições praticam taxas diferentes dentro de uma mesma modalidade de crédito. Assim, a taxa cobrada de um cliente pode diferir da taxa média. Diversos fatores como o prazo e o volume da operação, bem como as garantias oferecidas, explicam as diferenças entre as taxas de juros”.
 
7.7      Sempre constata o BCB nos dados das taxas, uma heterogeneidade significativa, comprovadora da hipótese do comportamento competitivo no SFN.
 
7.8      O BCB não limita os juros remuneratórios, mas determina às instituições financeiras toda a transparência: elas devem indicar a taxa de juros em sua expressão efetiva ao ano (a taxa efetiva corresponde ao custo efetivo para o cliente e já traduz o impacto da capitalização em qualquer período inferior a 360 dias). 
 
Comparação entre as taxas fixadas no contrato e as taxas médias praticadas pelo mercado:
 
7.9      O BCB divulga as taxas médias praticadas no mercado. De acordo com esta Instituição (http://www.bcb.gov.br/?txcredmes), as taxas médias para os diversos tipos de crédito para pessoas físicas foram:
 
	I - Taxas de juros das operações ativas
	Juros prefixados
	% a.a.
	Mês
	Pessoa física
	
	Cheque
especial
	Crédito
pessoal 
	Aquisição de bens
 
Veículos
	
Outros
	
Total
	2003
	Jan
	 
	171,47
	95,28
	53,85
	77,66
	57,08
	 
	Fev
	 
	173,08
	98,90
	53,19
	77,64
	56,50
	 
	Mar
	 
	177,94
	100,63
	53,46
	82,01
	57,20
	 
	Abr
	 
	178,46
	98,67
	50,31
	81,24
	54,29
	 
	Mai
	 
	177,60
	98,09
	47,44
	77,12
	51,28
	 
	Jun
	 
	176,98
	96,56
	45,09
	75,67
	49,06
	 
	Jul
	 
	173,90
	91,71
	42,94
	75,21
	47,12
	 
	Ago
	 
	163,86
	87,50
	41,36
	73,85
	45,61
	 
	Set
	 
	152,16
	83,92
	38,78
	71,58
	43,05
	 
	Out
	 
	147,44
	83,27
	37,30
	69,94
	41,54
	 
	Nov
	 
	146,49
	81,97
	36,55
	67,66
	40,59
	 
	Dez
	 
	144,63
	80,32
	36,85
	71,54
	41,43
 
Conforme pode ser observado, a taxa média praticada pelo mercado para aquisição de veículos no mês anterior ao mês em que as partes celebraram o contrato (junho/2003), que seria a base de comparação, era de 45,90% ao ano, sendo que a taxa contratada foi de 40,80%, ou seja, inferior à média de mercado em cerca de 5,1 pontos percentuais.
 
Encargos cobrados pelos atrasos
 
7.10    O documento de fls. 181/184 mostra que os encargos cobrados pelo réu pelos atrasos nos pagamentos das parcelas seguiram, integralmente, as condições contidas no contrato de financiamento.
 
8 – CONCLUSÕES:
 
8.1      A taxa média praticada pelo mercado para aquisição de veículos no mês anterior ao mês em que as partes celebraram o contrato (junho/2003), que seria a base de comparação, era de 45,90% ao ano, sendo que a taxa contratada foi de 40,80%, ou seja, inferior à média de mercado em cerca de 5,1 pontos percentuais.
 
8.2      O documento de fls. 181/184 mostra que os encargos cobrados pelo réu pelos atrasos nos pagamentos das parcelas seguiram, integralmente, as condições contidas no contrato de financiamento.
 
 
9 – RESPOSTAS AOS QUESITOS
 
            9.1 - Quesitos do Autor (Fls. 19)
 
           Quesito 1:
            Qual é, com exatidão, o valor principal, e a data de origem dos débitos do autor?
           Resposta:
            De acordo com o item 6.1, o contrato é datado de 21.07.2003, foi assinado pelo autor e constam do mesmo as condições de financiamento, a saber:
-   Valor da NF: R$ 24.300,00; Prêmio do Seguro: 681,70; Valor Total: R$ 24.981,70; Entrada: R$ 4.500,00; TAC também financiada: R$ 250,00; Valor Líquido Financiado: R$ 20.731,70; IOF também financiado: R$ 296,53; Total de parcelas: 48; 1º vencimento: 21.08.2003; Último vencimento: 21.07.2007; Valor da parcela: 815,78; Taxa de juros ao mês: 2,89%; Taxa de juros ao ano: 40,80%;.
 
           Quesito 2:
            Qual o valor dos encargos contratuais (juros, multas, diversos) cobrados e metodologia empregada pelo banco réu para aferição da dívida que alega ter o autor?
           Resposta:
             Vide resposta ao quesito anterior. A metodologia utilizada é o Sistema Price.
 
           Quesito 3:
            Quais os valores efetivamente pagos pelo autor, inclusive o valor principal, juros, taxas, seguros, comissão de permanência e outros valores com histórico desigual aos apresentados?.
           Resposta:
            Tais valores encontram-se discriminados no documento de fls. 181/184.
 
           Quesito 4:
            O autor tinha como saber as taxas e condições em que o banco réu obtinha empréstimos no mercado financeiro a fim de refinanciar o débito em caso de não liquidação da fatura quando utilizava a cláusula mandato? E atualmente, há como saber.
           Resposta:    
            Negativamente, para ambas as perguntas.
 
           Quesito 5:
            Qual o valor do débito do autor, aplicando-se juros de 12% ao ano. Queira o Sr. Perito apresentar planilha com estes cálculos.
           Resposta:
            Ressaltando que não há base contábil e nem contratual para tal cálculo e que, portanto, o mesmo constitui-se apenas em exercício matemático, segue a planilha:
 
	EVOLUÇÃO DO SALDO DEVEDOR
	CONTRATO :  51190
	PRINCIPAL : R$ 21.027,23
	TAXA DE JUROS: 0,95% AO MÊS (12% aoano)
	TOTAL DE PARCELAS: 48
	Nº
	Prestação
	Amortização
	Juro
	Saldo Devedor
	 
	 
	 
	 
	21027,23
	1
	547,55
	347,79
	199,76
	20.679,44
	2
	547,55
	351,10
	196,45
	20.328,34
	3
	547,55
	354,43
	193,12
	19.973,91
	4
	547,55
	357,80
	189,75
	19.616,11
	5
	547,55
	361,20
	186,35
	19.254,92
	6
	547,55
	364,63
	182,92
	18.890,29
	7
	547,55
	368,09
	179,46
	18.522,20
	8
	547,55
	371,59
	175,96
	18.150,61
	9
	547,55
	375,12
	172,43
	17.775,49
	10
	547,55
	378,68
	168,87
	17.396,81
	11
	547,55
	382,28
	165,27
	17.014,53
	12
	547,55
	385,91
	161,64
	16.628,61
	13
	547,55
	389,58
	157,97
	16.239,04
	14
	547,55
	393,28
	154,27
	15.845,76
	15
	547,55
	397,02
	150,53
	15.448,74
	16
	547,55
	400,79
	146,76
	15.047,95
	17
	547,55
	404,59
	142,96
	14.643,36
	18
	547,55
	408,44
	139,11
	14.234,92
	19
	547,55
	412,32
	135,23
	13.822,60
	20
	547,55
	416,24
	131,31
	13.406,37
	21
	547,55
	420,19
	127,36
	12.986,18
	22
	547,55
	424,18
	123,37
	12.562,00
	23
	547,55
	428,21
	119,34
	12.133,79
	24
	547,55
	432,28
	115,27
	11.701,51
	25
	547,55
	436,39
	111,16
	11.265,12
	26
	547,55
	440,53
	107,02
	10.824,59
	27
	547,55
	444,72
	102,83
	10.379,87
	28
	547,55
	448,94
	98,61
	9.930,93
	29
	547,55
	453,21
	94,34
	9.477,73
	30
	547,55
	457,51
	90,04
	9.020,21
	31
	547,55
	461,86
	85,69
	8.558,36
	32
	547,55
	466,25
	81,30
	8.092,11
	33
	547,55
	470,67
	76,88
	7.621,44
	34
	547,55
	475,15
	72,40
	7.146,29
	35
	547,55
	479,66
	67,89
	6.666,63
	36
	547,55
	484,22
	63,33
	6.182,41
	37
	547,55
	488,82
	58,73
	5.693,60
	38
	547,55
	493,46
	54,09
	5.200,13
	39
	547,55
	498,15
	49,40
	4.701,99
	40
	547,55
	502,88
	44,67
	4.199,11
	41
	547,55
	507,66
	39,89
	3.691,45
	42
	547,55
	512,48
	35,07
	3.178,97
	43
	547,55
	517,35
	30,20
	2.661,62
	44
	547,55
	522,26
	25,29
	2.139,35
	45
	547,55
	527,23
	20,32
	1.612,12
	46
	547,55
	532,23
	15,32
	1.079,89
	47
	547,55
	537,29
	10,26
	542,60
	48
	547,55
	542,40
	5,15
	0,20
 
 
           Quesito 6:
            O banco réu praticou ou pratica juros compostos na elaboração do débito atribuído ao auto?
           Resposta:
           No sistema Price, os juros sobre o saldo devedor são pagos mês a mês e não são capitalizados.
 
            Quesito 7:
            Qual a taxa média de juros cobrada ao réu nos financiamentos obtidos supostamente em nome do autor? E a cobrada pela administradora do autor?.
           Resposta:
            Vide itens 7 e 8 deste laudo, além da resposta ao quesito 4.
 
          Quesito 8:
            Após a realização da perícia, há saldo credor a favor do autor? Havendo, ual seria este valor?
           Resposta:
           Não há saldo a favor do autor, visto que as cláusulas contratuais foram integralmente cumpridas pelo banco réu.
 
            Quesito 9:
            Há apuração de eventuais indébitos a favor do autor, segundo a perícia realizada?
           Resposta:
            Vide resposta ao quesito anterior.
 
            9.2 - Quesitos do Banco réu (O réu não apresentou quesitos)
          
 
10 – ENCERRAMENTO:
                                                                                       
             O presente Laudo Pericial consta de 13 (treze) páginas digitadas, rubricadas, sendo a última assinada.
                       
                                                       
 
Rio de Janeiro, 17 de outubro de 2011
 
 
 
 
Ricardo Salomão
CRC RJ 111175/O-0
Perito do Juiz

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