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TOPOGRAFIA — NOTAS DE AULA CURSO DE EDIFICAÇÕES PROF. FLÁVIO GUTENBERG DE OLIVEIRA I - INTRODUÇÃO 1 - Conceitos fundamentais Geodésia: Ciência que trata do estudo da forma e dimensões da Terra, tendo em consideração sua forma arredondada (elipsóide). Topografia: Ciência aplicada que tem por finalidade determinar contorno e dimensões de uma porção limitada da superfície terrestre, sem levar em consideração a curvatura resultante da esfericidade da Terra. Plano topográfico: Plano horizontal imaginário que passa pela área focalizada em um estudo topográfico, no qual se projetam todos os acidentes do lugar (rio, estradas, casas etc.), e em relação ao qual se realizam todas as medições necessárias à consecução dos trabalhos desenvolvidos no local. Obs.: A Topografia tem por base a Geometria e a Trigonometria, estudando métodos de operação no terreno, cálculos e desenhos necessários ao levantamento e à representação gráfica de uma parte da superfície terrestre. 2 - Importância da Topografia Quer seja na elaboração quanto na execução de projetos ou obras de engenharia (em seus mais variados ramos: civil, arquitetura, agronômica etc.), o conhecimento da configuração da área é indispensável, fornecendo subsídios na forma de informações e de desenhos (representações do terreno em plantas ou perfís). 3 - Divisões da Topografia Quanto à forma e à natureza dos trabalhos desenvolvidos, a Topografia é dividida em 4 (quatro) partes principais: Topometria, Taqueometria, Fotogrametria e Topologia. R R A B θθθθ Plano topográfico Superfície terrestre A’ B’ Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 2 3.1 - Topometria Reúne um conjunto de métodos empregados para colher os dados necessários ao traçado de uma planta topográfica. Por sua vez é dividida em Planimetria e Altimetria. Planimetria: As medidas planimétricas (lineares e angulares) são efetuadas em planos horizontais (plano topográfico), obtendo-se distâncias e ângulos horizontais. Altimetria: As medidas altimétricas (lineares e angulares) são efetuadas em planos verticais (perpendiculares ao plano topográfico), obtendo-se distâncias verticais, isto é, diferenças de nível, e ângulos verticais. 3.2 - Taqueometria Parte da Topografia que estuda pontos do terreno de maneira indireta, pela resolução de triângulos retângulos, dando origem à sua representação plani-altimétrica. A principal aplicação da Taqueometria ocorre em terrenos muito acidentados, onde apresenta-se bem vantajosa em relação aos métodos topométricos. 3.3 - Fotogrametria Método topográfico utilizado para determinar-se o relevo do terreno, notadamente de grandes áreas, utilizando-se câmera fotográfica e restituidor fotogramétrico; a Fotogrametria pode ser terrestre ou aérea. A estereoscopia, etimologicamente visualização de corpos sólidos, consiste em ver simultaneamente duas imagens (uma imagem sendo vista individualmente por cada olho) de um mesmo objeto, obtidas em idênticas condições de posição e de afastamento, possibilitando assim a visualização tridimensional do alvo imageado e a realização de cálculos de distâncias. Em grandes áreas urbanas, p. ex., a Aerofotogrametria é de larga utilização, permitindo a elaboração de plantas cadastrais urbanas com rapidez e riqueza de detalhes difícil de obter-se apenas com levantamentos topométricos. Neste tipo de levantamento é realizada uma série de vôos, de forma geometricamente regular (linhas de vôo paralelas), sobre a região, obtendo-se um mosaico de fotografias que cobrem toda a área. 3.4 - Topologia Parte da Topografia que tem por objetivo estudar as formas exteriores da superfície terrestre, encarregando-se de dar interpretação aos dados obtidos na fase de levantamententos, a fim de representar corretamente o relevo da área estudada; sua principal aplicação reside na representação cartográfica do terreno pelas curvas de nível (curvas obtidas pela intersecção do terreno com planos horizontais eqüidistantes entre si). Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 3 II - LEVANTAMENTOS TOPOGRÁFICOS 1 - Conceitos Levantamento: Conjunto de operações que se executam em um local visando à obtenção de dados necessários ao perfeito conhecimento de suas características e à elaboração de uma planta topográfica que o represente. Os dados obtidos podem ser: a) Informativos: referem-se a características genéricas dos elementos a serem representados (forma, posição, utilização, nome de proprietário etc.); podem ser obtidos de pessoas que conheçam a região (moradores nas redondezas) e por observação direta no local. b) Medidas: são os comprimentos e ângulos obtidos em campo com os quais se desenham os acidentes existentes no terreno; são complementadas pelos dados informativos. Locação: Ë a marcação no terreno de elementos existentes em uma planta ou caderneta topográfica ou em um projeto de engenharia. 2 - Classificação dos levantamentos topográficos 2.1 - Quanto ao grau de precisão A precisão a ser obtida em um levantamento é função de sua finalidade, à qual deve adequar-se, por razões de economia e tempo. No tocante à precisão dos dados levantados os levantamentos podem ser: Expedito ou rápido: Têm sua aplicação destinada a um prévio reconhecimento da área; são utilizados para obtenção de informações preliminares e pouca detalhadas, antecedendo ao levantamento propriamente dito, geralmente de grandes áreas. A medição de distâncias, p. ex., pode ser feita a passo (1 passo ≈ 60 a 80 cm, dependendo da pessoa e das condições do terreno), com emprego de odômetros, estimadas pelo tempo de marcha (de 4 a 5 km/h) ou outros processos rápidos, embora não precisos. Comum, regular ou topográfico propriamente dito: São realizados através de métodos convencionais de campo, com instrumental topográfico adequado (teodolito e trena), obtendo todos os elementos necessários à representação fiel da área levantada. De precisão: Os métodos de levantamento são semelhantes aos empregados nos levantamentos regulares, mas o instrumental apresenta maior precisão (p. ex., medidas de distâncias obtidas com distanciômetros eletrônicos) do que os empregados naquele tipo de levantamento. 2.2 - Quanto à escala de representação gráfica A representação da figura levantada, com todo os detalhes medidos, de acordo com a escala, grau de precisão, detalhe e extensão pode ser um esboço, uma planta ou mapa topográfico, geodésico ou mesmo geográfico. Levantamento em grande escala: a) Detalhes construtivos de obras de engenharia, como edifícios, pontes, barragens, estádios, estradas etc. — escalas usuais: 1:100, 1:200, 1:250, 1:500 ou 1:1000. Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 4 b) Urbanos: tratam de projetos de urbanização de cidades, rede pública de abastecimento d’água e de coleta de esgoto, linhas elétricas etc. — escalas usuais: 1:500, 1:1000 ou 1:2000. c) Cadastrais: contêm informações sobre limites de propriedades urbanas e rurais; juntamente com as informações de identificação contidas no registro cadastral fornecem elementos necessários ao lançamento de taxas e impostos territorial e predial — escalas usuais: 1:1000 ou 1:2000 no meio urbano a 1:5000 no meio rural. Levantamento em média escala: As cartas topográficas destinadas a projetos de obras agrícolas e hidrelétricas, projetos de barragens e usinas, vias de comunicação, linhas de alta tensão em meio rural, planos de exploração mineral e outras obras de grande porte — escalas usuais: 1:10.000 a 1:50.000. Levantamento em pequena escala: Estes levantamentos são destinados a estudose planejamentos gerais de grandes regiões, como cartas aeronáuticas; nas seções de cadastro de órgãos como o Serviço Geográfico do Exército, IBGE, Sudene estes levantamentos estão já executados — escalas usuais: 1:100.000 a 1:500.000. 2.3 - Quanto à divisão topométrica Os levantamentos topográficos podem ser: Planimétricos: Quando são realizadas medições e representações de contornos e pontos apenas segundo suas projeções horizonais sobre o plano topográfico; Altimétricos: Quando são obtidas medidas exclusivamente verticais, ou seja, as alturas dos pontos em relação ao plano topográfico e ângulos verticais; Plani-altimétricos: Nestes levantamentos são obtidas medidas tanto horizontais quanto verticais. 3 - Fases de um levantamento — Métodos empregados De maneira geral, a realização de um levantamento topográfico passa por três fases distintas: o reconhecimento do terreno, o levantamento de uma figura geométrica auxiliar e por fim o detalhamento da área. Reconhecimento ou levantamento a vista do terreno: Antes do início dos trabalhos de medições é conveniente fazer um reconhecimento prévio da área a ser levantada, identificando os elementos ali existentes, quais as medidas que deverão ser obtidas, a melhor maneira de obtê-las etc. Também se determinam as prováveis estações do teodolito e no croqui do reconhecimento traça-se a figura geométrica que servirá de base ao levantamento. Levantamento do polígono: O polígono ou a poligonal topográfica é o elemento geométrico fundamental do levantamento, ao qual ficarão referenciadas todas as medições realizadas em campo e que servirá de elemento básico à posterior representação gráfica (desenho topográfico) da área levantada. Deve-se estar atento, portanto, a que as medidas obtidas em campo permitam o desenho completo e exato das informações obtidas. São os seguintes os métodos empregados no levantamento poligonal: Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 5 Caminhamento perimétrico: medem-se todos os ângulos e lados do polígono, percorrendo-se integralmente seu contorno. Apresenta o inconveniente de facilmente acumular erros e de ser longo, porém traz a vantagem de poder ser empregado em qualquer espécie de terreno. Decomposição em triângulos: consiste em determinar os elementos necessários à resolução de triângulos; a área a levantar é dividida em uma rede de triângulos dos quais são medidos todos os lados. Não é necessária a leitura de ângulos, mas as medições de distâncias, além de demoradas, tornam-se muito sujeita a erros. É empregado apenas em levantamentos de pequenas superfícies. Radiações ou coordenadas polares: o terreno também é decomposto em triângulos, mas são obtidos, para cada um deles, dois lados e o ângulo comum aos dois. É necessário que os vértices do polígono sejam visíveis de um mesmo ponto, do qual partem as radiações. Interseções ou coordenadas bipolares: o terreno é divido em triângulos, dos quais se medem a extensão de um lado e os dois ângulos a ele adjacentes, de forma a obter-se os vértices do polígono pela interseção de duas retas. A base escolhida deve ser tal que as retas não se interceptem segundo ângulos muito agudos ou obtusos, pois isto dificultará a identificação do ponto de interseção. É necessário que os vértices do polígono sejam descobertos, mas há a vantagem de que podem ser inacessíveis, além disso as operações de campo são rápidas, visto haver poucas medidas a trena. Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 6 Levantamento de detalhes: Entende-se por detalhes os elementos, naturais ou artificiais, existentes no terreno levantado, pelos quais se tem interesse em dar representação no desenho topográfico. Ex.: cercas, muros, rios, lagos, árvores, edificações, plantações, morros, redes elétricas, rodovias, ferrovias, canais etc. O levantamento de detalhes consiste na ligação de tais elementos à poligonal topográfica; isto pode ser feito por algum dos métodos precedentes, vistos no levantamento do polígono; também é empregado o método das coordenadas ou ordenação. Coordenadas ou ordenação: consiste em determinar a posição de um ponto em relação a um sistema de eixos coordenados, a partir de duas medições de comprimento. É um método empregado para levantar linhas irregulares (curvas), como margens de rios, lagoas etc. Obs.: É extremamente importante, tanto no levantamento da poligonal, e principalmente no de detalhes, a elaboração de um croqui minucioso que acompanhe a caderneta de levantamento onde são registradas, com ordem e clareza, todas as medidas obtidas, evitando-se, na hora de desenhar-se, dúvidas que forcem, um posterior retorno ao campo a fim de complementar informações ou medidas em falta. 4 - Medidas topográficas Medir uma grandeza significa compará-la a uma grandeza padrão (a unidade) e verificar quantas vezes este padrão está contido na grandeza que se deseja medir. Em topografia distinguem-se as grandezas angulares, lineares e superficiais. As unidades comumente empregadas para expressar as grandezas topográficas são: Lineares: a unidade padrão é o metro (m), empregando-se ainda os submúltiplos centímetro (cm) e milímetro (mm) e o múltiplo quilômetro (km). Superficiais: a unidade padrão é o metro quadrado (m2), com emprego também do quilômetro quadrado (km2) e do hectare (ha). Angulares: o sistema de divisão de arcos empregados é o grau sexagesimal, com seus submúltiplos, o minuto e o segundo. Obs.: Nos levantamentos de poligonais extensas, é comum expressar a posição de um ponto em termos de estacas, representando sua distância até o ponto inicial da poligonal, que corresponde à estaca 0 (estaca zero). Costuma-se adotar uma estaca igual a 20 metros.
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