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Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 31 VI - CÁLCULO DE ÁREAS E COORDENADAS DE VÉRTICES 1 - Considerações iniciais Os cálculos das áreas levantadas topograficamente podem ser realizados por métodos gráfico, analítico ou mecânico. A utilização de um ou outro método pode estar associada à figura levantada e aos dados disponíveis, além mesmo da precisão desejada. A área levantada compreende geralmente duas parcelas: a área da poligonal e a área extra-poligonal. 2 - Métodos analíticos Os métodos analíticos fornecem o valor da área através de cálculos apenas a partir dos dados de campo, o que leva a valores bem precisos. São utilizados métodos distintos para avaliação de áreas de poligonais e extra-poligonais. 2.1 - Método de Gauss – áreas de poligonais O método de Gauss possibilita a avaliação de áreas de poligonais empregando as coordenadas de seus vértices, calculadas a partir dos dados do levantamento. As coordenadas de um vértice definem sua posição em relação a um sistema de eixos coordenados. Podem ser referenciadas em relação a um sistema local ou global. neste contexto trataremos de coordenadas locais, mas a metodologia empregada é aplicável a ambas as situações. a) Cálculos das projeções dos alinhamentos Sejam 1 e 2 dois alinhamentos definidos pelos vértices 1, 2 e 3 na figura abaixo. As projeções de cada alinhamento segundo os eixos coordenados x (abscissas) e y (ordenadas) são obtidas pelas projeções ortogonais, sobre o sistema de eixos, de seus vértices inicial e final. Assim, a projeção de 1 sobre o eixo x é 1x e sobre o eixo y, 1y. Analogamente, a projeção de 2 sobre o eixo x é 2x e sobre o eixo y é 2y . Desta maneira, 1x = 1 sen α = 1 cos β 1y = 1 cos α = 1 sen β 2x = 2 sen δ = 2 cos γ = 2 sen ϕ 2y = 2 cos δ = – 2 sen γ = – 2 cos ϕ Somando-se todas as projeções dos alinhamentos de uma poligonal segundo as direções definidas pelos eixos coordenados tem-se seu desenvolvimento nas direções x e y. No caso da poligonal ser fechada, a soma das projeções em uma mesma direção é evidentemente nula, visto que os vértices inicial e final são coincidentes. Se o somatório das projeções em uma mesma direção não resultar em Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 32 zero, a diferença encontrada pode ser distribuída por cada alinhamento, a fim de eliminar o erro cometido nas medições efetuadas no levantamento. A verificação do erro e sua compensação é feita como mostrada abaixo: Ex = Σx’n Ey = Σy’n ET = E x yE2 2+ Cx = − E x Σllll Cy = − E y Σllll EADM = ± 0,001 ET xn = x’n + Cx n yn = y’n + Cy n em que: x’n e y’n , projeções diretas do n-ésimo alinhamento da poligonal sobre os eixos x e y, x’n e y’n , projeções corrigidas do n-ésimo alinhamento da poligonal sobre os eixos x e y, Ex e Ey , erro do levantamento nas direções x e y, n , extensão do n-ésimo alinhamento da poligonal, Cx e Cy , correção por unidade de comprimento da poligonal em cada direção, ET e EADM , erro total cometido e erro máximo admissível no levantamento. b) Cálculo das coordenadas dos vértices do polígono As coordenadas de um ponto estabelecem sua posição em relação à origem do sistema de eixos coordenados. A coordenada x, ou coordenada na direção do eixo x, define a distância do ponto ao eixo y, enquanto que a coordenada y expressa a distância do ponto ao eixo x. Um alinhamento pode ser definido a partir das coordenadas de seus vértices. Conhecidas as coordenadas iniciais, podem-se calcular as coordenadas finais acrescentando ou diminuindo o valor das projeções do alinhamento. Desta forma, conhecendo-se X1 e Y1 , coordenadas iniciais do alinhamento 12 (coordenadas do vértice 1), Az1 e Az2 ,os azimutes dos alinhamentos 12 e 23 , R1 e R2 ,os rumos dos alinhamentos 12 e 23 , 1 e 2 , as extensões dos 2 alinhamentos, as coordenadas dos demais vértices são dadas por X2 = X1 + 1x X3 = X2 + 2x Y2 = Y1 + 1y Y3 = Y2 + 2y Generalizando, as coordenadas de qualquer vértice são Xn = X(n−1) + (n−1)x Yn = Y(n−1) + (n−1)y Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 33 c) Cálculo da área poligonal: no método de Gauss, calcula-se a área da poligonal a partir das áreas compreendidas entre cada alinhamento e um dos eixos coordenados (na demonstração seguinte, eixo y), obtendo-se, deste modo, a partir de trapézios, retângulos ou triângulos, a área procurada. Na figura abaixo, a área do polígono 1234, pode ser calculada como S1234 = (SY3Y223 + SY4Y334) − (SY4Y114 + SY1Y221) S1234 = ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )X X Y Y X X Y Y X X Y Y X X Y Y2 3 2 3 3 4 3 4 4 1 1 4 1 2 2 12 2 2 2 + − + + − − + − + + − S1234 = [ ]{ [ ]} 1 2 2 2 2 3 3 2 3 3 3 3 3 4 4 3 4 4 4 1 4 4 1 1 1 4 1 2 1 1 2 2 2 1 X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y − + − + − + − − − − + − + − + − S1234 = { } 1 2 2 3 3 2 3 4 4 3 4 1 1 4 1 2 2 1 − + − + − + − +X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y X Y S1234 = )( ( ){ } 1 2 1 2 2 3 3 4 4 1 1 2 2 3 3 4 4 1 Y X Y X Y X Y X X Y X Y X Y X Y+ + + − + + + Por fim, generalizando a expressão, tem-se S1234 = )( ( ){ } 1 2 1 1 Σ ΣY X X Yn n n n+ +− 2.2 - Método dos trapézios −−−− áreas extra-poligonais O cálculo de áreas compreendidas entre os lados de uma poligonal e um contorno irregular, i. e., não linear, como a margem de um curso d’água ou lago, uma estrada etc., pode ser feito analiticamente a partir da decomposição da área integral em outras menores, aproximadamente trapezoidais, sem que se cometa em erro considerável na apreciação do valor real. Na figura a seguir vê-se uma exemplificação desta situação. A área delimitada pela lado 12 da poligonal e pela linha curva (levantada por coordenadas), foi dividida em trapézios, cujas áreas somadas integralizam a área extra-poligonal levantada. S = Σ(ÁREAS DOS TRAPÉZIOS) S = S1 + S2 +… + S9 + S10 Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 34 S = y y y y y y y y0 1 1 1 2 2 8 9 9 9 10 102 2 2 2 + + + + + + + x x + x xL S = ( ) ( ) ( ) ( )[ ] x + x + + x + x 2 9 10 1 2 1 0 1 1 2 8 9 9 10 y y y y y y y y+ + + +L Se x1 = x2 = … = x10 , S = ( ) ( ) ( ) ( )[ ] x + + + + 1 2 0 1 1 2 8 9 9 10 y y y y y y y y+ + + +L S = ( ) ( )[ ] x + 2 + + 1 2 0 10 1 2 8 9 y y y y y y+ + +L Generalizando a expressão acima para um número n de trechos, tem-se S = ( ) ( )[ ] x + 2 + + 1 2 0 1 2 2 1 y y y y y yn n n+ + +− −L FÓRMULA DE BEZOUT 3 - Métodos gráficos O emprego dos métodos gráficos consiste em calcular a área a partir do desenho da figura levantada em campo. Dividiremos os métodos gráficos aqui apresentados em: geométrico, de equivalência gráfica e divisão da área em quadrículos. 3.1 - Método Geométrico O polígono é dividido em figuras geométricas regulares (geralmente triângulos, retângulos, trapézios etc.), cujas áreas são calculadas pelas expressões usuais da Geometria Plana. As medidas podem ser obtidas em campo, durante o levantamento,ou no desenho. No exemplo ao lado, o polígono ABCDE é dividido nos triângulos ABE, BCE e CDE. Daí SABCDE = SABE + SBCE + SCDE SABCDE = ½ L5h1 + ½ L2h2 + ½ d2h3 Os lados da poligonal foram obtidos no levantamento, enquanto que as demais medidas foram obtidas no desenho. 3.2 - Equivalência gráfica Este método consiste em reduzir o polígono original, sucessivamente, até que se obtenha uma figura mais simples, cuja área seja a mesma que a da figura inicial. No exemplo abaixo tem-se a redução de um pentágono a um triângulo (redução de Garceau). A Fig. 1 mostra o polígono original, do qual deseja-se calcular a área. PROCEDIMENTO EMPREGADO: PASSO 1: Pelo vértice A leva-se uma linha auxiliar paralela à diagonal BE , até encontrar o lado BC (ou seu prolongamento); nesta intersecção tem-se o ponto A’, vértice do polígono A’CDE, cuja área Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 35 é equivalente à de ABCDE. As áreas S1 e S2 são iguais: a área S1 foi acrescida ao polígono original e S2 foi excluída, assim SABCDE = SA’CDE — Fig. 2. PASSO 2: No polígono A’CDE, traça-se por C uma auxiliar paralela a CE , até encontrar D’ sobre o lado ′A C ou em seu prolongamento. O polígono resultante A’D’E é um triângulo cuja área é equivalente ao pentágono ABCDE inicial. As áreas S3 (acrescida na ao polígono A’CDE) e S4 (subtraída) evidentemente são iguais — Fig. 3. PASSO 3: Calcula-se a área do triângulo A’D’E equivalente à do pentágono ABCDE — Fig. 4. Assim , SABCDE = SA’D’E = ½ L h 3.3 - Divisão da área em quadrículos Desenha-se a figura da qual se deseja conhecer a área em um papel quadriculado (usualmente milimetrado). O número total de quadrículos do papel abrangidos pela poligonal desenhada, multiplicado pela área de cada um equivale à área total. Para facilitar a contagem, apenas quadrículos inteiros são considerados; aqueles que estiverem mais da metade dentro da figura são tomadas por inteiro, os que estiverem menos que a metade, são desprezados, havendo uma compensação entre as áreas que se tomam a mais e a menos. No exemplo abaixo, tem-se: Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 36 ESCALA: E = 1/200 DIMENSÃO DO QUADRÍCULO: • no desenho: = 2,5 mm • em campo: L = 2,5 mm x 200 L = 500 mm = 0,5 m ÁREA DE UM QUADRÍCULO: a = L2 a = (0,5 m)2 = 0,25 m2 NÚMERO DE QUADRÍCULOS: n = 662 ÁREA DA FIGURA: A = n a = 662 x 0,25 m2 = 165,50 m2 4 - Método mecânico - planimetragem O planímetro é um ‘integrador’ mecânico que fornece automaticamente a área de uma superfície qualquer. O planímetro polar de Amsler é constituído basicamente por 3 (três) partes: 2 hastes, uma fixa e outra móvel, e de um tambor integrante, de onde partem as duas hastes. A haste móvel possui em sua extremidade livre um traçador com o qual se percorre o contorno do desenho e o valor total do percurso é acumulado no integrante. Este valor fornece a área em termos de unidades de área de desenho, que relacionada com a escala adotada permite o cálculo da área real da superfície planimetrada. Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 37 VII - TAQUEOMETRIA 1 - Considerações iniciais A Taqueometria é a parte da Topografia que se ocupa das medidas indiretas de distâncias e diferenças de nível entre os diversos pontos topográficos no terreno. Os levantamentos taqueométricos apresentam-se vantajosos em relação aos topométricos por serem de realização mais rápida, principalmente em terrenos acidentados, em vista de dispensar a realização de medidas de distâncias a trena e por propiciar maior independência na escolha dos pontos topográficos. Como desvantagem, a Taqueometria apresenta menor precisão na obtenção de cotas do que o método de Nivelamento Geométrico. 2 - Cálculo de distâncias horizontais e diferenças de nível ‘a-a’ fio (retículo) superior ‘b-b’ fio (retículo) inferior ‘h-h’ fio (retículo) médio ‘h-h’ e ‘v-v’ fios axiais retículos estadimétricos na ocular da luneta do teodolito G = fs - fi fm = fs fi+ 2 2.1 - Distância horizontal A distância horizontal entre a estação do instrumento e o ponto visado é dada por: D = C G cos2 αααα ∴ D = 100 (fs −−−−fi) cos2 αααα, em que: C, constante estadimétrica do teodolito (geralmente C = 100), G, número gerador (G = fs - fi), D, distância reduzida ao horizonte entre a estação e o ponto visado, Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 38 fs, leitura da mira no fio estadimétrico superior da luneta, fm, leitura da mira no fio estadimétrico médio da luneta, fi, leitura da mira no fio estadimétrico inferior da luneta, α, ângulo de inclinação da luneta do teodolito em relação ao plano horizontal. 2.2 - Diferença de nível Para o cálculo da diferença de nível entre a estação do instrumento e o ponto visado, ou cálculo da cota do ponto visado, tem-se, N = C 2 G sen 2αααα ∴ N = 50 (fs −−−− fi) sen 2αααα Para z < 90° α = 90° − z CP − CE = hi + N − fm ou CP = CE + hi + N − fm Para z > 90° α = 90° − z CP − CE = hi − N − fm ou CP = CE + hi − N − fm onde: CE , cota da estação do instrumento, CP , cota do ponto visado, hi, altura do instrumento (distância vertical do eixo óptico do teodolito ao solo). Curso de Edificações Topografia - Notas de Aula Flávio Gutenberg de Oliveira 39 Exercício Calcular a distância reduzida e a diferença de nível entre os pontos A e B, com os dados fornecidos abaixo: hi = 1,47 m A �- - - - - - - - - - - - - - - - - - -� B a) z = 93° 12’ Solução: α = 90° − 93° 12’ fs = 1.060 mm α = − 3° 12’ (inclinação da luneta p/ baixo) fm = 910 mm G = fs − fi = 1.060 − 760 = 300 mm fi = 760 mm D = 100 G cos2 α = 100 x 300 cos2 (3° 12’) = 30.000 x (0,9984)2 = 29.904 mm D = 29,90 m N = 50 G sen 2α = 50 x 300 sen (6° 24’) = 15.000 x 0,1115 = 1672,5 mm N = 1.673 mm CB − CA = hi − N - fm = 1.470 − 1.673 − 910 CB − CA = − 1.113 mm b) z = 86° 48’ Solução: α = 90° − 86° 48’ fs = 2.657 mm α = 3° 12’ (inclinação da luneta p/ cima) fm = ? G = fs − fi = 2.657 − 2.507 = 150 mm fi = 2.507 mm D = 100 G cos2 α = 100 x 150 cos2 (3° 12’) = 15.000 x (0,9984)2 = 14.952 mm D = 14,95 m fm = 0,5 (fs + fi) N = 50 G sen 2α = 50 x 150 sen (6° 24’) = 0,5 (2.657 + 2.507) = 7.500 x 0,1115 fm = 2.582 mm N = 836 mm CB − CA = hi + N - fm = 1.470 + 836 − 2.582 CB − CA = − 276 mm
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