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Brasil em Contra-Reforma

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Prévia do material em texto

ElaÍne Rossetti Behring
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t _..Dadas lnternaelonais de §afalogaç.ao nâ Publicação (Clp)
t (Câmara Brasileira do Livro, Sp, Brasll)
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. llchring. Elainc fi.osscttl
Brasjl cm co4hr-re{qr.tna : dçsostruturâsio do Estado c pcnla
dc dü"citos / Êlainc R*sori Bchriit§. 
- 
?. «i. 
- 
são ponl«r : Cortcz,
2008,
Bibliogrrfia.
lsBN 978-85-249-098t.8 
.
l. Brasit 
- 
Condig6e,q ccolfmicas 2. Brusil 
- 
Condiçõel sociais
3. Br$sil .. Folirica c govtirno 4. Crpltalisrno- Brasil 
- 
Hi:ltória
5. Dircios civis 
- 
Brâsil 6- O Eslado l. Tírulo; .
oi-osrc cou.rro,*r,
índiees para eatálogo sl§lemátÍco:
\-bÍ"[ u\\
Contra "Ref orma
desestruturaçâs do Estado e perdô de dirêihs
P edição
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\7€DIIORA
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.," f CAPíT(IL() 3
y)Brasil: entre o futuro e o passado,
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o piesente dilacerado
Já foram observad.as as transformações do capi.talismo contemporâ_neQ ciue atingem o conj,.'rto do mundo do capitaf impondo orieniiçõespara uma conüa_reform-a 
!o lstajo-na direção àa n".rArfiaà", .ffinn_
;5iliilH:H:T[1: arraüvidade. vi,-,u, ,,u seqüência, alsumas inter-
íX'"".ãT1,11,,:::ffi ili:T:#ffiT:";:;,Tfi *:.:ffi ;'J:*i
nai s avançano" ***jJl rTS #f :",H:,ffi ;. " especirici à ades n a cio -
0", o,Ilrli'j,lt".illc1:i:: a análjse volta-se para o Brasir da úrrima déca-
gjais,sempreÃil,i::="#.'.',flH;:TtiHlJjHffiTlx:,H::
Neste sentidq pro.uro apaú"i" 
1ra-1*" OI**, de mediações e deter-
trHã'IJ:Lffi compreensão da naturÉza do. pro.urro, à;;;;ç"
estruturaisa"uu,u,,se,,l'utift H::*::?#lfl ililIJ".:ffi,"f ,*,,rr:j
l_ot1as 
orientadas pam o mercado,, d,e uma maneira geral e no Brasil emparticular. Assim, compartilho.a^, fr.o*puç0", a" Diniz, quanto aosreducionismos que vêm restringindo á, 
"rruáo, sobre a reforma do Estadoe a exigência de "e,foo resmetodológicos capazes de captar o caráter mui-tidirnensionat' a diversidad. ; ;iãhüJ]ã;i", processos e renômenos
ã"!|.;;.,'*'' 46) preocupação qiie tu*ue*.o*pur"." em vetasco e cruz
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^ ,.ll.u prosseg:uir a pa-rtir deste mirante (Lowy, 79gT), faz-se".".;;expiicitar alg,ns anteceàentes a* rr',,raur,çur'ã.o..idu, na década em ques-tão, os anos 1990, e seus impacros sobre 
"'u;ü;;;;rffi}H,i.L.,i'Jffi }"i :üXT. T.T : l':i: u *'itui" a r oli'u ào iup it"ii, *. ã,"'u'.r,ticurares,*qÀ;;;ITfff 
,Xll:;,fi :ffi::::i:.ffi:H#:tf :conücção de que se {Tatou 
a.e lrata, jrorqi. na enhada do novo século ernilênio esta direção hegemônicar raaã r.rátém, apesar de arguns insu-
::::"r " arranhões flagrantes em sua base política, * de uma verdadeiracontra-reforma.
Mesmo que o terrr-ro 
l.r.f"Trseja apropriado pelo projeto em curso nolll: uo. r"j"to-referir, partirei au pá.rpi.ri'ru;; qru se esrá dianre de urnaapropriação indébita 
. 
l?:r:T:l*ta"àf.;gi.u Ja idéia reformista,r a qual édestituída de seu conteúdo progressistai submeüda ao uso pragmático,como se qualquer mudança significasse *u..tor*u, não importando seusentido' suas conseqüências s"ociair 
" 
o*ü;;ocioporítica. Nesse passo,concordo{ com Nogueira quando afirma: 
I - vvLrvvv'uLa' r\esse Pas
"Não é razoável imaginar que a reforma possa se converter na bandeira tre-
rnulante do neolil'eralismo: há de se tentar, no mínirno, reaÍiÍTnar a consan-
güinidade entre reÍormismo e esquerda e demonsrrar que a concepção de re-
forma que tem a esque'da é a rinica capaz de se pôr a perspectiva àe totüda-
de dos homens, dos iguais e partiorlarmentg dos desiguãis." (199g: 17)
Este argumento fica mais claro ern se considerando a história do sé-
culo XX em nível mundial, na qual o que se pôde.chamar de reforrna asso-
ciava-se ao welfare state 
- 
uma reforma dentro do capitalismq sob a pres-
são dos habalhadores, com uma ampliação sem precedentes do papel do
fundo públicq desencadeando medidas d.e sustentação da u.o*úução, uo
lado da proteção ao emprego e.demandas dos trabalhadores, viabilirada
por meio dos procedimentos democráücos do Estado de direito, sob a con-
dução da social-democracia. É eviclente que "enhegou-se os anéis para não
perder os dedos", já que também havia um verdarreiro pânico burguãs diante
da efstência e do eÍeito 
- 
contágio da união soviética como referência
política, ideológica e econômica de contraponto ao m,ndo do capital, mes-
mo com'suas contradições e limites flagrantes, com destaque para a ques-
tão democráüca. Diante disso, que foi claramente uma refororu 
- 
uma ten-
tativa temporal e geopoliticamente situada de combinação entre acrrmura-
ção e diminuição dos níveis de desigualdade, com arg-uma redistribuição
"(Behring, 1998) 
-, 
o neoliberalismo em níver mundial confisura-se como
uag reagãg. ly§le,tíóorF-erv,;go;ã ã.m.o Íarista dê nátü1êá-Ciáiã*er,iu
f!8.res3iy+,4ent4o da qual.s-e situ1 l iontra-ieforma do fitâft,"Dô pônto de
vista da reforma arunciada na cônstituiçáo de 19gg no Biasi| em atg,.s
aspectos embebida da estratégia socia-l-derriLocrata e do espírito ,rwelÍareano,,
- 
em especial no capítulo da ordem social 
-, 
pode-se ía]ar também de
uma contra-reforma em anrso entre nós, solapando a possibilidade políti-
c4 ainda gue limitad4 de uma reforma democrática,,o puir, que muitã pos_
sivehnente poderia ultrapassar os próprios Iimites da sociar-democrãcia,
realizando inacabadas tarefas democrático-burguesas em combinação com
outras de nahrreza socialista 
- 
ou seja, empreender reformas democráti-
cas/ num país como o Brasil significa a ultrapassagern do Estado de direito
burguês, já que elas tendem a ultrapassar a si mesmas, considerando-se a
cuifura visceralmente antidemocrática d a burguesia brasÍIeir4 conÍorme
se yiu com Fernandes e Prado ]r.
Entãq pelos dois caminhos, o que está em foco é a lógica e a abran-
gência da contra-reforma do Estado no Brasil, cujo sentido é definido por
fatores.eskuturais e conju,ftuais externos e intemos, de forma integrada.
l. para Oliveir4 ,,a hes
que abre, 
";;;;;'""";;::::":: 
sisniÍica.a criação de ljm. campo de significados uniricadq
:nli.l:i*x*l:"J,"J':i':lHll:ff "T"T*1r;;mm:*;:-:'.:"'i*:i
n*qt*t*;["'q;ltt*4
.:'i';ái;:X:':1"#1'-** porc'oc",;i q,. 
" ",i"1," dos aurores rerere-se à disputa
.'itl"o-ae,,u'.áu*; 
"À;;:i}"ff "ffi ]}::."t" 
às Íormas democráücas, il;;;;;;.p"
2' Certamente' a ereição de Lura representou a de.ota.e_a frahua rleste projeto. contudo, asconcessões íeitas pera esquerda prru ú"gu, a 
"*, "rtor,l.i.u"ral, os compromissos econômicosfirmados para acalmar os oru'"uào', 
" ";.*"diÀ;;;;*"àu, upo, aor" 
"nos 
de contra-reformasnão permitem ainda a.ârmar se rr""*+ a" i"ioÇrir, 
.Jl. 
"r," 
hegemonia a ser empreendidapelo govemo L,Ia, exigindo ,:T1"_:"*ti ,";;il.J];;rrca dos intelectuais e míritanres. os
,ffi : "ff I;T[',ff":Ti:*'^p'rs*i", *l''.ãli, o r,, o, r" o'"',"',0,.',*, 
"*,
-" ,i,Yff":ffffi1T.":i:':y'",* ou.1ei1 (1ee8) que não.iiz respeito apenas a es.se ter-
i9,,1..i;1.ià",.;#iàillTi.";",,:i,"r"#J:fl:_"::t":",1#:i'f*:,[ í::í*i::estratégia porítico-ideológica para a busca de consensos e t"fiti^.iara", tendo em vista assesurara drreção inrelectual e morar e. desra Íorma, , i";;;;;;;:;rojero neoliberal.
, 
4. E manteúo, em conseqüência, 
"^" *".*Or.l, Orij|.tfg* a necessária reração que a meu yer existe eno".u;::"_p-:"t ar,com Fiori, quandodo, esta é, sem dúüda, *u-r.*,,"*'*--:,-::'.:':"t *rorma e esquerda (1997:26). conru-
r""r, o1 io*..11ürT:#lffi::;"#;.**- à srande i"n,ê.rciu-Je :;,;:;;., 
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'i ', .Lfu; crise econômica e processo de democratizaçáo no Brasil
fÀs anos 1980
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. ü'-t -.. \ {\" Passo, então, a caracterizar algumas precondições econômicas, políti-tÊ.1, ',.r-, cas, sociais e culturais que delinearam o contexto cla formulação e impl"-
, , , ,,ui,li"t 
" 
(:li'i:t mêntação do Plano Real a partir de 7994, e a hegemonia do projeto neolibe-
,,ri';.t,.a, ..,,.;..]t',,. ral no Brasil, com §eu coniunto de conka-reformas. Para tanto, vejamos\i;- 
'Ô'" t.,Êv como o país adentra os anos 1980, período no qual já está 
".r-, 
...rro, ,,o
.;r,-Íi'--*rQ-" \ plano internacional, o que qualiÍiquei como uma reação burguesa à crise
-(.!_ , l-.o,., 
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\L- do capital iniciada nos anos 1970.s Percebe-se que o rilmo da àd.esão brasi-C-r 
.,ri t'. 
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leira às orientações conservac{oras esteve bastante condícionadq de um lado,
'r-\ tti'' " 1- ao processo da transição democrática 
-- 
mais uma vez fortemente contro-t. J' i lado pelas elites para eútar a consütuição de uma vontade popular raclica-
\. j lizada (sade1, 1990: 1), conÍigurando o que o'Donnel denominou como
f "transição transada" (1987) e Fernandes úamou de uma transição conser-
J vadora sem ousadias e turbulências (1986: 18-9); e de outrq à resistência aodesmonte de uma estrutura prod.utiva de ossatura sólida conskuída no
Á/-^ período substifutivo de importações, mantend.o-se, evidentemente, a hete-A \ronomi4_.çqgg m4tca SqEglgl..tidentificada por Femandes., Esta-fürna
, nl$*' t,c,' ãtããiãii-ifti, âuíiÃ-"strou todo o seu vigor r-, *o, uoo, qru.,ao otser-
g*ii" i.".,1rQltl" vamos as opções econômicas e políücas do conservadorismo pred.ominan-
" 
.- r.,i'!'- te, a partir da derrota eleitoral rlos setores democrático-populares 
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Mas para uma contra-reforma, nas proporções gue vou procurar dimensio-
nar especificamente no que refere ao papel d.o Estado, foram ftrndamentais
alg,mas condições gerais, que precedem os anos 1990. Assim, inicio a dis-
cussão trazendo aspectos da história r.ecente do Brasil a partir do ocaso da
ditadura militar pós-(A, observando os percalços pu.u á aprofundarrLento
do processo de democratização do Estado e da sóciedade brasileiros, en-
gendrados pela crise econômica dos anos 19g0 e os deslocamentos políticos
no âmbito das classes sociais e segmentos de classe que viabilizarà o pla-
'r no Real como alternativa econôrnic4 e Fernando Hãnrique card.oso como
condutor de uma ampla alia,ça política de sustentação áa reÍerida contra-
reforma na úüma décad.a;
5. Ver Capíhrlo 1.
6. Ver Capitulo 2.\ 
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tulN! xu)5E: rr ócntrtNU
[NASIT EM CONTRÁ.R€FORMÀ
Aqueles condicionaates 
- 
a hansição democrática e a comprexa estrutura
industrial 
-, 
a meu veç corroboram o argumento de Fiori (1997:142) sobre to caráter tardio da adesão brasileira ao neoriberarismo.T para ele, este rato fi*potencializou os efeitos destrutivos imediatos das medidas adotadas.
Como o país adentra nos anos 1980? A compreensão do problema do
recrudescimento do endividamento externo e suas conseqtiêncras, a parrir
de 7979, segundo a bibliografia consurtada,E é cruciar para responder à esta
pergunta. Neste momento, tem-se um aprofundamento das dificuldades
de_Íormulação de políticas econômicas dã impacto nos investimentos e na
redistribuição de renda, não só no Brasil, mas no conjunto da América Lati-
na, bem como são êncontrados elementos para pensar a cond.ição ,ra demo-
cracia rio continente. o estudô de Kucinski & Éranford (1gs7í éparticular-
mente instrutivo pela riqueza de dados sobre.o processo de endividamento
externo daAmérica Latina e do Brasil. Mas seu uraior mérito é o ângulo de
anrflise, já que sihra a chainada "crise d.a dívida,, do início dos anos19g0, 
"serr-c imp4.1as para a configuração da ,,década perdida,,, no contexto rla
ondalonga de estagnação (Mandef Lggl).e para os autores, Iocaliza_se no
processo do endividamento as principais d"ecorrências da reorientação dapolítica econômica norte-americ*u .* busca da hegemonia do dóàr, e o
início das pressões cujos resurtados derruíram u poi"rititiduae de ruptura
com a heteronomia, contida no desenvolviméntismo, este, por sua vez, fun_
dado na substituição de importações.r, segundo Toussaint (199g) nesse
7. Ademais, a implementação- das reÍormas orientadas para o mercado, em que pese a pres-
são pela sua u.iversalização no chamado Terceiró Mundo' em especial após a crise aa aíviaa,
deparou-se com as condições intemas de cada país, determinrrdo ritmos e escolhas. Tanto é que
algu.s países inclusive se anteciparam.à onda neolibera! a exemplo do Chile de pinochet e da
Argentina. no período de Martinez de Hoz, época em que no Brasi] estava em curso o desenvor-
vimenüsmo sob a condução ditatorial de Geiser (velasco e cruz, 199g). outros, como a Índi4 vêm
lnrlemenT'l1o medidas de aiuste de forma bastante lenta. Daí decorre um reforço das observa-
ções metodológicas que veúo sinalizando ao longo d.esta exposição.
8' Bibliografia que estatá sendo reÍerenciada ao longo deste item, Todos os autores, inclusive
aqueles que hoje assinaram o projeto contra-reÍormista 
- 
mas evidentemente dentro de um ra-
ciocínio diÍerente de seus críhcos 
- 
sinalizam a crise da dívida como un processo decisivo para
a entender os impasses da ,,década perdida,, na América Latina e no Brasil.
9. urn outro trabalho sobre a questão do endividame^to dos paíse-. do chanrado Terceiro Mun-
do e também nessa linha de abordagem é o de Eric Toussaint (199g), um importante aticurador do
Fórum social Mrrndial e do comitê para a Anuração da DÍvida Extema do Terceüo Mrmdo.
. 
10. Teixeira aponta lipites na idéia de substihrição de importações para uma caracterização
do perÍodo em foco, nos seguintes termos: "É clarc que esse processo (montagem da maior e mais t'
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_i '..! 4 t. '.;t.,t i. J ...-,
EI"ÂINE NOSSEÍN BEHIIIN6
período partiu-se de taxas de juros baixas e até negativas para um sarto
percentual em torno de 19% em 1981 e27,s% em 19gà por parte dos credo-
res, de Íorrna que houve uma inversão exprosiva da transferência de diü-
sas em prazos mrrito curtos, mas que foi acomparüada também da queda
das exportações de matérias-primas, nos países uo sur da linha ao Eqàaor.
ocorreu um verdadeiro eskang,lamento da economia ratino-americana, aqual entre 1980 e 1985, obteve indicadores cataskóficos, a exempro de: in-yestimento intemo bruto em queda de 26,9%;pIB per capita ern queda de
8,9Yq fluxo de importações em queda de 4L,A%; e um crescimento médio do
PÍB de 2,3% enhe 198r. e 1985, ou seja pífio fitucinsky & Brandford, 19g7).
A busca desenfreada de saldos comerciais para cobrir a dívida, a par-tir da prioridade para as exportações,r, provocou uma profunda recessão
na região, que atingiu os países de forma desigual, dependenclo de sua
inserção no mercado mundiar e situação interna. baí qr.t, mais endivida-
dos 
- 
Brasil e México, cuja estrufura econômica era diversificada e menos
dependente de importações 
- 
tiveram maior capacidade de resistência à
devastação econômica(se não é observada a devastação socia-tr...) promovi-
$a pelo endividamento, diÍerenciando-se de países como Boríviâ e costa
Rica, nos quais a dívida passou a ser rnaior que o pIB (19g7: 2g)112 pelo
exposto, os autoies identificaram o comprometimento do íufuro latino_
americaro,em função da incapacidade de investimento e d.a contenção do
mercado intemo promovidos pelo esforço de bransÍerência de dórares, numa
BRÀSII, EM CONTÂA-R€FORMA
década de fortes avanços tecnológicos. Essa anárise é confirmada peras re-
flexões de Cano (1994:26 e 42), quando aponta que o consrrangimento do
endividamento gerou uma queda na taxa de inversão, u* 
"rpã.iur do ir,-vestimento do setor púb'ico, ao rongo de dezesseis anos (de ío% erntgz4,
para L5-16% ern 1989), diÍiculiando o que designa como ação de um Estado
estruturante e, ainda, o ingresso do país na terceira Revolução rndustriar.
Para Canq a recomposição e a modemização da indústria seriam possíveis
com um aporte de recursos intemos e extemos 
- 
com outras bases de ne_gociaçãg neste caso 
- 
bastante intensq o que significa um prazo não me-
nor que 35 anos para a recüperação do âhaso, isto dentro de um ,,cenário
organizado-defensivo", que ele conkapõe à saída destrutiva do neoribera-iismo (7994:29).
Se a maior parte desta dívida foi.contraída pelo setor privad.o, porpressões do FMI 
- 
o',feitor,, da dívida _, houve na seqüênàa uma cres-
cente e impressionante socialização da mesma. No Brasil, por exemplo, 70%da dívida extema tornou-se estatal Com isso, "criou-se uma conladição
entre a intensa geração de receitas de exportação pero setor privado e ointenso endividamento do setor púbrico. i..,] ao governo só restaram três
caminhos: cortar gastos púbricos, impririr dinheiro ou vender títulos do
Tesouro a juros atraentes" (Kucinski c nranrora, 79gz: 43). n"t" qu,ntu* au
estatização da dívida é também ressa-rtado por Canq que idenúca a cons-
[ruiqao _ao circuito "dívida exter,a / díviaa intema/ aeficit púb]ico / erLis-
são de títulos públicos/nova ampliação da dívida intema,, (t9O+, Zt1, 
^u_lhor dizendq da ciranda financeira, como um elemento decisivo do des_
controle inÍlacionário brasireiro. A estatização de dois terços da dívida ex-terna, de acordo com cano 
- 
e este eremento é muito importante para
compreender a crise do Estado no Brasil e o quanto é iáeológica sua
"satanização" 
-,r3 ocorreu a partir de 191g-29,e passou a exercer uma d.u_pla pressão sobre a econornia: uma demanda viárenta de tíh:ros cambiais
Parq o serviço da dívida, acrescida de novos encargos de juros internacio-
completa estrutura induskiar da perifuria capitalista) não correspond.eu de Íorma arguma a um
conceito rigoroso de i.dustriúzação por'substit.ição de importações,, ainda qu" pr"odr,o, irri-
PoÍados teúam passado a ser fabricados internamente. A indushializaç;o brasileiru, Ol .o*o
ocofreu a partir da seg.nda metade dos anos 50 0bedeceu, isso sim, ao que se poderia, com muito
mais propriedade, denominar de 'industrialização por intemacionoürrção do mu.cado intemo,,,(2000:3). No entmto/ ao longo do texto adotei a formulação coÍrente, segundo a qual o <iesenvol-vimentismo engendrou um processo de substituiçâo de importações, no quar o capitar esrrangei".
ro coffe em Ía,*a pr6pna, mas se constitui um capitar naciànd. Em \,!irÁda . rr*.u. (zooo) uuma análise da Íormação dos grupos econômicos brasileiros, com uma caracterização de quehouve restrição às importações, prombvendo o peíoão subsührtivo.
11' ImpossÍvel não lembrar-da.verha frase "Exportar é o que importa,, que marúou os anos1980' surpreendente foi sua reedição, mm nova e oinda mris contundente formuração, por Fer-
nando Henrique cardosq "Exportar ou morrer,,, agoÍa no contexto da enfrada do novo sé.orlo,marcado por um endividamento ainda maior, r^plãmuntu a*tgra, em toda a irnprensa farada
e escrita, em 2001.
12' Para sair da defensiva, Eric Tousaint sugeÍe que a esquerda aponte a anulação da dívi-
1n 
rol: um Íator importante para a retomada.do crescimento; uma auditoria do que detêm osricos do Norte e do sul; e o imposto sobre as Íortrmas (parestra profei.ida na FSS/uerj 
- 
lggg).
13' Lessa aitica como uma mish:ra de arrogância e simpüsmq esta i.déia neoriberal de que
'"Bastaria jogar ao mar a carga pesada representaáa por um Estado inchado e ineficiente pila que
o cóu se torne azul e zrs ág,as carmas" (In: Tavares c Fiori, 1g3: 9). No preÍácio do mesmo üvro,
':1"'1'dispara: 
"As oligarquias nacionais preferem repousar a interigência em esquernas sim-plificadores e em analogias insn.tentáveis com a experiência de ourroJpaíse s,, (r99i15). Vê-se,na verdade, peia estatlzação da dÍüda brasileira, a -Íorte balcanização do Estado e sua interyen-
ção direcionada para o capital, sociarizando as perdas, com conseqüências duradouras para a
sociedade brasileira.
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nais e dos iuros da dívidà Púbücà inlema- està últirM cEsc€nüê para hzeÍ a iuros flurumries, em rêz de iuos 6rcs, submeüêndo à ca?aodade de in-Íae À @mPra de cambiais Pda atridà àquele erüço. o""a" átao, p"." vestimdto ão pagâherto dc <ompttmi$os suidos em termos desi-
ete, o ga§to Púbüco P-ar§â a ser êslÍuturalmenüe des€quilihâdo. os rêsutia- erais, cambidieie vuhraveb às ccilaçóes dã onjüIrrüâ. coh os jurosdos dess€ Proce§§o foratn teÍíteis na "década peáidâ" bÍÀsileira: tda Ílutüântes. a dívida náo pôde (€ não pode..-) ser redimid4 sêndo, âtém de
média de crescimenío de 2,1% (na ind,istri4 de i%) rcd"Éoã" iax" de mecanisoo de exkação ie re'.d4 tambem ae aomimçao poritira. A opa.i-
. 
investimento e recrudescimnto da inflação (cano, 1r4: szi. dade d€ rsgines miú@, finn iados e Btimurados;et; ruÁ na anéri-
A oPção dialte daqueles b€s câminhor ao IonSo da década de 1980. ca L.tina" Pemitiu a <ondição institucional para tais ámdo' que Íàvore-Íoi PeIá ehjsião de títuloe elevüdo G j@s e atm;tand" 
" 
,..*""; ;- ciam a aiiársa múe as oügaJquias qporladoâs e o @p;la] 6lÚceüo inieÊI Ítacimário. o BÍ,aü saltou de !ft inna;Ào muat de qr:%, ê; rseip".. naciomr.
i eU,g%.em 198s (Kuci$ki & BÍandford, 1987: 4s). As bãi;"s da *i; do 
- 
Se al8üns govehos tatiÂo-âmdicanos arribúram ã @úalidade do
' 
- endiüdâmerto Íôiam múras: o ehpobrccimênto gêrEàrizado da Amsicâ 
"ài,U*âto r oís" ao pekóleo, esra rÉo é'uma veraladê rigoú6a. Entre-Làtina, e§P€cialm€nle rc s€u paÍs mais íco, o B;sil â oii" ao" 
""rvico" . tànto,'no câso EpecÍÍico do Brõil, cerca de 5tr?6 da díüda Íoi;ons€qüência
' 
.. : sôciais Públicos; o deseepreSo; a inJomarizasâo da aommia; o tavoái- | I§. irÊta dá alta do pêtróleo, íonr,ê dê enel8ia vital paa ma esrrurua produ-
* i*," * PrDdução Para exportação ãn dekimor,o das ne.€ssiaaaes ;r ,\f " ^ tiva mais complexa e sisteara viâio Í'Dãâdo no tru6porre Íodoviá;io. En'. terü'§. ou seja, emctsGücâs re8ioe!§ pleexisrentes à cri§e da dÍvida ío- ut,*"l\*'Ee 1973 e 1981, â divida blasiteirà passou de I3,8 bilhô6 de dótaEs para
"- 
\ a;, Eh àacsbád㧠no contÊxto do§ ôo§ 1980. .j\u 7t7 bilMes de dólam (Kuci!§ki & Brddfor4 1982 121). Contudo, pàÍa\- \Ô' 
-*-. 
r"c.sr.i c s,""JoÍrl observâs que no irúcio da ondà longa de estas, l' etes a"toree à relâsãq mesmoDBEsi! entre dívida e IEEólêo é de rcali-
.\ . ' hâção, as quedd das taus de luúo no @rroempunu.-púr ^""opá 
ôentâção. Tôto que, ántes dacise,oBrásüiá estaE forEtrnte endivida-
5o\' , lisrâ püa ! perü€da. PaJa o Brasil" éo peÍíodo d; "milàprc,,, no oualh ia '. do eBaslavamai§com osewiço da dívida qE com a ihponasào do peuó.
,\"f // ú .ondiçóês poUüc* 
- 
á diradua mititlr no *u p".ioa" 
-ui" a*o _ Ieo. Na verdade, a màior dívjda da AhériÉ Lâtina á br4ileira, c.es"e veFi !" / I para a instahçào de grandes unidadês pÍodurivar rransnácionais, num tiajnosamente; pâ*ir de uÍE ârticulação *mplar enlíe à bLÍguesiá ná-
-*\-, ,§.i/ homento de Íorte liquidez de côpital e de abundância.te qédjLo. SadêÍ cjonal o Estado e o @pitàl e§trangeim, que tundm o "miligre brãsileiro"§ \' l'rt\ hosrra que "mtrê i968 e i97J o PrB.Íesceu ua média de u,2%, ch€saft r- (Oliveka,19E4 | 116-7). Esbe foi susthta.lo a pa'tir de alguns processos: um
\1 rcs a os 80 a estagMção chega na peliÍerià, íazmdo caÍ os índic€s de cÍes- i no espaço ubmo, que roi âbsoryida pela onrtÍução civil e pÊlã indúsuia
l\ \,, cimmto, desle8itim doos govem;s mii ares 
- 
êm 1974, ceisel anun.ia- |mmuÍ.turêúa de bens d! návejs; e o oÍelEcimerúo de ÍáciLidade, para em-
\ rli,:.0.'1.. va a abertura lenta ê Sraduàl noBrasit-, rêndo como suâ maior expressão lPréstin6 Pri%dos à juros ÍlutuaDtes, mesmo, muitõ vezer ses gaÍatias\ 
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',a ". i:.;-$ o endividamento. Decresce radicalmente o fluxo ae recursosp",a ai-a,i lde investimento PÍodutivo
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Klú- *\ ' e Lrtim á pàrtir daí, o quâl tendeÍá a concentraJ-se nâs da;ões intratrü- - Pâla Kucituki & BrddÍoÍ4 á chanâda -R.a8aÍo-i.s, ol! sendo mais
)., ,t'- ' _- ui, ' ..+! dic?s.! PaÉ C.no (1994: 85), o mundo desenvolvido voltoü âs €osras pâÍa a ctâr4 a política eonômica neocoroesadoÍa e bêliciita de Reag6 â pârti.
..,\\ .1, \ .ákâà de 12% paÉ 6%l^0 Brtril, de 42% para 1%} /'lr0r\ & Fiori, 1993: 32) 
-, 
no conierto da reaÉo bu€uesa à queda das ta,.as de
t tx" 
^,* 
Naverdadê, como "caloie" americdo nos acordos de Breton woods. § / lucrq aPíoÉadou o @Iàpso lãtino-anericano. Além dê pàgar maisjuos, a
\n .iI", eÍn 1971, romou+ê um risc!êvideíE a mnhação de êmpréstimos cxrernos /-§)- divida@§@ áo invés dedibihuií numa san8ria de rcftlsos imprcstto-L , \ nànte, ins€nda nà políhca de re6tábêlecimento dâ heBemoÃid do dólaa por
"Ílí' - ( ir \ mêio da "diplomacia do dólar foíte", o qu e colocou â Ámérica Lâ I itu na{y 
-,:'i' .. l{. csrome,. vru m caprtub r. cãno (rre{.6.. ro1,*ra ia.*rn- *,."ai*,n I conditão estrutuEl de Portadora ÍoÍçadâ de capitai! (Tdvaê & Fiori,Li , **t.a. m eua* a. ct c..ie pee6) . H6ún OeeI d6r! our6 / 1993: 29 e 30). As reEsociações que suedern ao desastle, ao longo dosC' ".+rL .rrl l -. 
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anos 1980, pernaneceram incapazes de reverter o mecanismo básico de
extorsào da dívida: os juros flutuantes. os governos democráticos não fo-
ram capazes de romper com a submissão, estabelecendo acordos que ex_
pressavam a mais absoluta capitulação, e riscos para a soberania. Exceções
são identificadas pela literatura, a exemplo do plano brasileiro da equipe
econômica heterodoxa coordenada por Dilson Funaro, no governo Sarney,
que buscou maior autonomia, mas enJrentou a intimidação american4 qüe
visava quebrar o Plano Cruzado, visto como populismo econômico pelo
FMI e agências multilaterais, interpretação que é reforçada por Bresser pe-
reira (1991);15 e a atifude de Alan Carcía no Pem, tarnbém condenada ao
isolamento.r6
Após a crise da dívida, diante da possibilidade de colapso financeiro
i.ternacional, impõe-se o discurso da necessidade dos ajustes e dos planos
de estabilização em toda a região. Na verdade, tratou-se de parte de um
ajuste global, reordenando as relações entre o cenko e a periÍeria cto mun-
do do capital. Houve uma espécie de ccordenação da reestruturação indus-
triai e fina.ceira nos países centraig cujo custo foi pago duramente pela
periÍeria (Tavares & Fiori, 7993:42). Para Tavares, ocorreu uma transforma-
ção produtiva nos anos 1980, cujos beneÍícios ficaram extremamente con-
centrados nas economias centrais, enquanto os custos foram pagos pela cri-
se financeira do Estado, pelos sindicatos e pelos paises da periferia. Nos
países de desenvolvimento indusfrial intermediário, Tavares identiÍica di-
ficuldades para converter a estrufura industrial e conquistar uma inserção
internacional dinâmic4 em função da heterogeneidade estrutural de suas
economias e da piora das relaçôes internacionais com o endividamento, e
seus impactos, em paúicular a guebra financeira do Estado. outro aspecto
sinalizado por Tavares (Tavares & Fioú 1993: 69) e que reforça uma espécie
de instabilidade crônica em países como o Brasil é ã "mania de curto pra-
zo" dos formuladores de políticas e tomadores de decisões, o que é àm-
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bém reiterado por Cano (7994: l4), quando assinala o .,conjunturalismo,,
clas políticas econômicas brasileiras e por Benjamin et alii, ao ressaltar a
necessidade de nos libertarmos da camisa-de-Íorça da ,,eterna gerência do
curto prazo" (1998: 50).
*#segundo Tavares, as políticas de estabilização no Brasil dos anos 1980
- 
ortodoxas ou heterodoxas 
- 
Íoram de fôlego fraco e, portanto, tiveranr
pouca capacidade de reverter a crise <iesencadeada no início da década. Ao
longo desses anos, a média de inflação Ioi de 200%, acompanhada do agra-
vamento da fragilidade financeira do setor público e do comportamento
defensivo dos agentes privados. É quase ocioso falar neste momento do
imenso impacto social da crise, que esteve na raÍz do movimento político
contra a ditadura. Assim, a década de 1980 terminou com uma situação
econômica vizinha à hiperinflação, mesmo tendo o país vir,,ido numa es-
pécie de ajuste fiscal permanente, "seja pelo lado do gasto (1990-g4), da
receita (1986 e 1990) ou do aumento da dívida interna (l917-gg e novamen-
te 199L-92)" (Tavares & Fiori, 1993:98). Escrevendo em 1993, Tavares lem_
,bra que foram realizados no Brasil dez ajustes fiscais e sete máxi ou mini-
desvalorizações da moeda, que não obtiverarn de forma duradoura os re-
sultados desejados (1993: i04). Esta constatação também está presente em
Teixeira, quando aponta "a ineficácia da política econômica para estabili-
zar a taxa de câmbio e, por conseqüência, a própria moeda nacional, razã.o
do fracasso de todas as tentativas rle estabilização empreend.id.as nos últi-
mos anos, tenham sido elas ortodoxas ou heterodoxas,, (1994: 1SS).
Portanto, em síntese, de um ponto de vista econômico, tem-se, na en_
trada dos anos 1990, um país derruído pela inflação 
- 
a ,,dura pedagogia
da inflação" a que se refere Oliveira (1998: lZ3je que será o fermento pàra
a possibilidade histórica da hegemonia neoliberal; paralisado pelo baixo
nível de investimento privado e público; senr solução consistente para o
problema do endividamento; e com uma situação social gravíssima. Tem-
se a mistura explosiva que deiineia uma situação de crise profunda. Na
esquemática e precisa síntese de Velasco & Cruz (1992: l1B-9), alguns ele-
mentos político-econômicos principai.s da crise são:
"1) transÍerências pesadas de recursos reais a. exterior para o serviço da dívi-
da/reaÇões defensivas generalizadas de grupos sociais empeúados em pre-
servar suas participações respectivas na renda nacional;2) relaxamento dos
mecanismos autoritários de controle político/ampliação da capacidade orga-
nizativa e do poder de bargaúa de setores populares/dificuldades 
.."r.ãr.,_
tes de imposição autocrática de respostas prontas ao problema de como disiri-
l5 se hoje esta caracterização de um componente de sobermia e autonomia do prano cru-
z-ado. com a moratória, é conente na literatura econômica de esquerda, no calor dos aconteci-
mentos, enr ítrnção da forte desconÍiança que pairava sobre Sarney _ âpesar da traietória de
alguns dos signatários da proposta 
-, 
estâ não contou com o apoio da maior parte doi segm".-
ros democÍáticos e populares.
I6. Houve uma iniciativa por parte de Cuba, em 19gZ de articulação dos paÍses devedores,
tendo em vista romper com ese isolamento, o que poderia potencialmente qrrcb.ar a espinha
dorsal do imperialismo. No entanto, o plano Brady e as fortes pressóes norte-americanas áesar-
ticularam e esvaziaram este processo.
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TLÁINE IOSSETN EEHNINC
buir as perdas que pesam sobre o conjunto da sociedade; 3) intensificação depressõescruzadas sobre o orçamento do govemq tanto pelo .lado da receitaquanto pelo gasto público/crise fiscar/recurso sistemático a emissões infla-cioniírias como meio para financiar despesas correntes e administrar conÍri-tos;4) impacto desigual da irúIação sobrà a renda dos diÍerentes g*po;r;;"-
cerbação do corúrito distributivo/pressões redobradas sobre o rri*a'o 
"i.."
Não são de estranhar, pelo exposto aié aqui, as conclusôes a que che_gou este mesmo autor, ern seu estudo sobre a política inclustrial ,rn, urro,
1980- A importânçia de resgatar alguns de seus a.g,r.r,entos reside em que
sua pesquisa revela a disputa entre várias forças sociais e seus desdobra_
lneltos eÍetivos que explicam a rnudança da agend.a político-econômicado Íinal da década 
- 
no governo Samey, após o fracásso do plano Cruza-do.,Seu eshldo permite perceber .orr,o, u partir da derrota, em 1989, da
coalizão comprometida com os avanços democráticos preconizados naConstituição de 1ggg, a agenda porítico-econômica passa a assumir o pei-fil desejado pelas agências multiiaterais: reformas liberais, orientad"r;;
o mercado.
. 
No rumo de Fiori (1995a e b), Velascoe Cruz trabalha com o argumer.r_
to de que a grrinada liberar Íõi um resultado "do esgotamento da esiratégiâde industrialização substitutiva e da exasperação das coàtradições intãr-
nas ao Estado desenvolvimentista, que o levariam à crise fiscal uiô.,i.u .*que ele.se debate no presente, anuraÍldo quase inteirame.,te sua"capacidà-
de regulatória" (1997:13). Ou seja, foi o fim de uma époc4 de um pànto de
vista interno' Esta tese, presente em grande parte daliteratura estudada, é
constitutiva da reflexão de Verascô e cmz, e é incorporada ao trabarho aqui
desenvolvido. No que refere à política irrdustrial, ela é incontestável, já que
se trata do esgarçar de um padrão de reração enire o Estado . o .*práru.i.-
do no país e no exterior, e de novas necessidades dos diversos setoies. para
o autor, a polÍfica industrial
"compreende o conjunto de intervençõeg mais ou menos coerentes, de maior
ou menor alcance, do poder público no campo da produção, com o fim de
aliviar pressôes econômicas e/ou propiciar á u."..o de uma dada nação a
posições mais elevadas na hierarquia do sistema internacional.,, (t992: í01
A observação da política industrial permite obter uma dimensão da
presença do Estado na economi4 revelando seus vínculos mais ou menos
abertos às demandas conltitantes de grupos e classes sociais, bem como
sua capacidade de perseguir objetivos globais e de largo Or"ro, ,"Oo 
"rU':dos interesses parciais. Velasco e Cruz dedicou-se ao esludo detalhado das
tensões na formulação e tentativas de implementação da política industrial
na auto-intitulada Nova República. A herança da ditadura, com o fracasso
do II Plano Nacionai de Desenvolvimento e a ciranda financeira engendra-
da pelo endividamento, gerava insatisfação em certos ramos da indústria,
côm o crescimento da agiotagem do capital finarceiro. O autor identificou,
já no inÍcio da década de 1980 dois discursos e diagnósticos para r.rma saída
da crise, contemplando a Íormulação de uma política industrial: o neolibe-
ral e o desenvolvimentista, este último decorrente da ariiculação entre
segmentgs de industriais e economistas crÍticos, a exemplo de Belluzo e
Cardoso de Mello, que serão assessores de Dilson Funaro, na primeira fase
da "Nova República".
Com a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoraf impõe-se uma
derrotà parcíal das forças dos trabalhadores e populares que exigiam as
eleições "diretas já", num vigoroso movimento político de massas contra a
ditadura, pelas liberdades democráticas e contra a carestia, que vinha se
fortalecendo desde as greves do ABCD paulista de 1978-79, apontando para
uma mudança social e de pauta poUtica progressistas (Oliveira 1.998:172-
3). Para Fernandes (1986: 22), o movimento das Diretas Já, revelou um,a
radiografia da sociedade brasileira assustadora para as tradições culturais
das elitet mostrando uma inquietação social mais Íorte que em 1964, a qual
anunciava um período histórico de ritmos fortes e ricos. O Colégio Eleito:
ral foi a saída institucional para assegurar o controle conservador da rede-
mocratização, numa espécie de contra-revoiução, se é observado o aspecto
no qual as elites no Brasil sempre tiveram uma profunda unidade política:
conter a emancipação dos trabaihadores.
Até para incorporar em alguma medida essas demandas, evitando a
radicalização possÍvel do processo político em meio à crise econômica enr
curso 
- 
mesmo com Sarney na Presidência da República 
-, 
prevaleceu na
equipe econômica a orientação que preconizava o papel do Estado como
sinalizador e pÍomotor das medidas requeridas. O plano de governo da
"Nova República" reconhecia o esgotamento da etapa substituliva de im-
portações e a prioridade para a modemização do parque industrial, no sen-
tido da introdução da teorologia eletrônica e da biotecnologia, tendo em
vista a inserção no cenário internacional. Seus íormuladores perceberam os
constrangimentos externos para a adoção de medidas nessa direção e apre-
sentaram propostas quanto à: renegociação da dívida externa, como já se
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140 ELÀINE ROSSEITI 8TH[IN6 BR^§II. EM CONÍf, A.NEFOIMÀ
observou anteriormente; política fiscal não-contencionista com reesirutu-
ração da situação financeira do setor público, combate à inÍlação e redução
das taxas de juros; descompressão da massa salarial para estimular a de-
manda intema. Segundo Velasco e Cruz, a partir de pesquisa nos iornais da
época, havia uma convergência nítida entre essas posições e as do empresa-
riado. No entanto, esses eixos gerais, presentes no documento de dezem-
bro cle 1985 inütulado "A nova política industrial da Nova República", não
conseguiram ultrapassar a condição de promessas.
Em junho de L987, assiste-se ao fracasso do Piano Cruzado 
- 
que
residiu fundamentalmente na resistência ao seu caráter redistributivo da
parte de Brupos polÍtica e economicamente fortes (Velasco e Cruz, 7997:
131) e na incapacidade dos órgãos estatais de operacionalizarem o plano,
em fr.rnção da paralisiarT gerada pela dificuldade de conciliar interesses
coniraditórios das classes e segmentos de classe. Assim, a orientação do
clocumento de 1985 Íoi definitivamente sepultada por Sarney. Este passa a
adotar crescentemente os cânones do ]iberalismo como via de moderniza-
ção da indúskia desvencilhando-se das constrições impostas peios com-
promissos da Aliança Democrática e governando cdm "gente sua". Para
Velasco e Cruz, a derrota eshatégica da lprimavera peemedebista", e não
apenas no que refere à política industrial, explica-se pelo acordo 
- 
uma alian-
ça eleitoral extremamente "mpla, indefinida, invertebrada" (7997: 120) 
-feito para a condução da transição democrática e a dificuldade de acornodar
cliferentes pontos de vista 
- 
sobretudo a agenda política progressista preco-
nizada pelo movimento sindical brasileiro aliado aos rnovimentos populares
-, 
gerando obstáculos na gestão estatal das políticas públicas no período.
Além disso, havia Íorte ingerência externa, por meio das pressões do
FMi junto aos países devedores para adaptarem-se aos novos delineamen-
17. Segundo Fernandes, a paralisia e o imobilismo da Aliança Democrática e do go*erno
sarney tem seu substrato numa disposição contemplativa e de colocar-se acima das classes. Diz o
saudoso mestre: "A mudança que não opta não sulca o solo histórico. [...] se a democracia é uma
necessidade his(órica, como alcançá-la sem se arriscar a mudanças sociai; qualificadas?" (19g6,.
72). Por sua vez, Nogueira (1998:106-21) mostra que esta paralisia engessou possibiliclades de
refornra administratil,a do Estado brasileiro, apaar da existência de diagnósticosbem funda-
mentados dos problemas. Diniz Íaz ma consideração dissonante de Nogrreira a respeito da ques-
tâo da "paraliiia decisória", abrangendo um período mais amplo. para ela há um agudo coniras-
te no Brasil entre a hiperatividade decisória e a fraca capacidade de implementaçâo e de gestão, o
que joga água no moinho da críse- segundo a autor4 "os pontos de estrangulamento situam-se,
sobretudô, no âmbito da exeoção das polÍticaq na capacidade de fazer cumprir as decisões to-
madas e de assegurâr a contiruidade dos programas govemamentais,,(199g:31).
tos da economia internacional. Nesse momento, a pressão era Íeita em tor-
no da Lei de Informática, por sua tendência claramente defensiva e prote-
cionista. Esses processos inviabilizaram as teses heterodoxas, as quais caí
rarn em descrédito, por parte do empresariado que as apoiou inicialmente
- e também por parte de intelectuais que começaÍam a se deslocar, num rÍti-
cio processo de transformismo moiecular (cf. Capítulo 2). O estudo de
Velasco e Cruz é importante exatamente porque mostra, a partir de um
' ângulo específico, como se operou a mudança de mentalidades, bem como
as ditjculdades do processo de democratização. A partir de 1982, o discur-
so governamental sobre política industrial volta-se para ,,advogar a ado-
ção de medidas conseqüentes para atrair o capital estrangeiro, desreg,la-
mentar a atividade econômica e Íacilitar a adoção de tecnologias novas"
,Ç997:79).
**e"m Bresser Pereira e Maflson da Nóbrega na condução da política
. 
'econômica, esvai-se a perspectiva de atenuar as pressões externas 
- 
foi
" 
suspensa a moratória da dívida externa e bu.scou-se a ,,normalização,, das1:\ relações com a comunida,le financeira internacional 
- 
e pÍopõe-se um
trato ortodoxo do combate à inÍlação, com imPactos regressivos sobre os
assalariados, e grandes frustrações das expectaüvas de mudanças trazidas
' pela democracia. sader (1990: 4T) Íaz a seguinte caracterização do governo
Sarney:
"Ha'ia acenado com reformas que nunca chegou a inicial, havia introduzido
um plano econômico de sucesso efêmero e, finaimentq havia enganado o povo
com um segundo plano econômico antipopular escondido no üolso, para ser
decretado umâ semana após as eieições, depois que o voto popurar la hurria
sido consignado, conÍigurando uma verdadeira estaÍa.,,
ironicamente, de acordo com o estudo de Velasco e Cruz, apesar da
' adoção do discurso liberal, a poiítica industrial sugerida em 19gg previa
fortes subsídios do Estado e iástrumentos indrrtores e estruturanter. Mur,
ao lado disso, já estavam presentes medidas de liberalização e abertura do
país 
- 
embora não fossem da extensão daquelas adotadas nos anos 1990
-, 
bem como, à revelia da constihrição recém-aprovada, a não-prioridacre
à indústria nacional para acesso aos instrumentos da política inàustrial. A
política proposta em 1988 foi recebida com cautela pelo empresariado e íoi
' duramente criticada pelos economistas liberais, porque, seg,ndo eles, man-
t,nha ainda ultrapassadas ilusões dirigistas. Na veràade, ela não passou de
uma declaração de intenções num momento de forte desgaste à ri.ut ao
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Soverno Samey, cuja capacidade de implementação, a essa altura, era ex_tremamente reduzida. para o autor, no entanto, na disputa ideoiógica epolítica que marcou os conflitos e desdobramentos do final do plano Cru-zado prevaleceu a orientação de que ,,mais ou menos rapidamente, no íu_hrro, a abertura da economia brasileira aparecia como um Íato,, (7992:7L3).uma abertura articulada circurarmente â um conjunto de outras polÍticas
orientadas para o mercado e.com forte capacidadede conven;;;"i;;;;,
a fruskação do Plano cruzado e o retomo do ambiente irúIacionário, e numcenário intemacional propÍcio à mudança de rot4 em virtude da reestrutu_
ração produtiva e da mundialização d.o capital.
um outro aspecto de destaque nos anos 19g0 foi a redefinição das re-
qras. políticas do jogo, no senüdo da retomad.a do Estado democrático dedireito' Esta foi a tarefa designada para um congresso constituinte, e nãóuma Assembléia Nacionar rivre e soberana, como era a reivind.icação domovimento dos trabarhatrores e sociais, Ainda assim, a Constituinte ior-nou-se uma gralde arena de disputas e de esperança de mudanças para ostrabalhadores brasileiros, após iseqüência dâ frustraçoes 
-, 
Corégio Elei-toral, morte de Tancredo Nevesrs eialência do Cruzado. Este moíimento
operário e popular novo era um ingrediente porítíco decisivo da história
recente_do paÍs, que ultrapassou o controle das elites, o que foi previsto e
reiterado por Femandes (19g6 e r9g7), como já se observo', .,o .upitoto u,-,-terior. Suas presença e ação interÍeriram na agenda política oo tor,go aà,
anos 1980 e pautaram alguns eixos na Constiúinte, à exernplo de:"reafir_
mação das liberdades democráticas; impugnação da desiguàlduau a"r.o-
munal e afirmação dos direitos sociais; ràarirmaçao de umi vontade nacio-
nal e da soberania, com rejeição das ingerências do FMI; direiios trabarhis-
tas; reforma agrária. para sadet a transição democrática brasileira diferen-
cia-se de outras na América Latina, exatamente a partir deste eremento fun-damental: as mudanças estrufurais engendradas pera industriarização e a
urbanizaçãq que criaram as condições para surgir um movimento operá-
rio e popular novo, decisivo para r.rma espécie d! refundação au .rqri".áubrasileira, inclusíve com um4 não rinica óbviamente, expressão parüdária
expressiva 
- 
o Partido dos Trabalhadores. Com isso, pira ele, o Brasil se
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transformou num elo explosivo do capitalismo latino-americano, em fun-
ção das enormes contradições econômicas, das tutelas financeira e militar.
e da constituição de sujeitos políticos dispostos a enfrentá-las (Sader, 1990:
88). Dessa Íorma, todos os movimentos da transição democrática ao longo
da década serão tensionados por essa presença incômoda para as classes
dominantes brasileiras e forâneas.
Mas já estavam presentes também, como procurei demonstrar, as ex-
pectativas de mudança em outTa direção, a da nova agenda liberal, Assim,
a Conitituinte foi um processo duro de mobilizações e contramobilizações
de projetos e interesses mais específicos, conÍig-urando campos definidos
de forças. O texto constitucional refletiu a disputa de hegemoni4 contem-
plando avanços em alguns aspectos, a exemplo dos direitos sociais, hurna-
nos e políticos, pelo que mereceu a caracterização de Constituição Cidadã,
de Ulisses Guimarães. Mas manteve fortes iraços conservadores, como a
ausência de enÍrentamento da militarização do poder no Brasil (as propos-
tas de conskução de um Ministério da Defesa e do fim do serviço militar
' 
..;"obrigatório foram derrotadas, dentre outras), a manuienção de prerrogati-
vas do-Executivo, iomo as medidas provisórias, e na ordem econômica. Os
que apostaram na Constituinte como um espaço de busca de soluções para
os problemas essenciais do Brasil depararam-se com uma espécie de híbri-
do entre o velho e o novo (sempre reiterado em nossas paragens...): uma
Constituição programática e eclética, que em muitas ocasiôes foi deixada
ao sabor das legislações complementares.re Houve mobilização social, por
meio das emendas populares 
- 
122 emendas, assinadas por 72.277 .423 bra-
sileiros (ANÇ 1987: 9) 
-, 
num movimento intenso e poÍ vezes subestima-
do pelos analistas. Todavia, prevaleceram os acordos estabelecidos por uma
maíoria.mais conhecida como "Centrão" 
- 
apelido que diz muito sobre a
natureza de tal articulação 
- 
que inclusive prolongou o impopuiar gover-
no Sarney por mais um ano. Assim, Nogueira tem razão quando afirma
que a Carta de 1988 "não se tornou a Constifuição idealde nenhum grupo
nacional" (1998: 159) e de que expressou "a tendência societal (e parficular-
mente das elites políticas) de entrar no futuro com os olhos no passado ou,
rr;ais aind4 de fazer história de costas para o futuro" (1998: 160).
*rh/O divisor de águas 
- 
e a renovação das esperanças 
- 
deslocou-se,
éiitão, para a primeira disputa presidencial direta, em 1989, num ambiente
19. O que faz lembrar da caracterização marxiana da Constituição francesa de 1852. Ver
Capítulo 2-
lS Que foi o grande artífice da hansi$o consewadora. o quar, segundo Fernandes. comotradicional político orgânico do cónservantismo moderadq não rompeu com o passado, não com-bâteu a ditadura de frente, pelo contníriq arl rcntomá-la, prolongou-a (19g6: 20). Em Tancredo,
.conhrdo, Íoram depositadas espeÍmças populares de mudança-
I
ETÁIi{E ROSSEÍÍI OEHÂINC t{5114
marcado pelo que Velasco e Cruz charna de consensos negativos: uma crise
que chegava ao limite do sr-rportável e que exigia a mudança das regras do
jogo e a percepção de que no seu âmago estava a questão do Estado. No
errtanto, os diagnósticos e projetos eram radicalmente diferentes nas candi-
daturas de Lula e Collor, que chegaram ao segundo tumo clo pleito, expres-
sando as tensões entre as classes sociais e segmentos de classe ao longo dos
an«:s 1980. Era e.ridente que ambos encarnavam (ou procuravam fazê-Io,
no caso da performance "collorida") uma Íorte rejeição do passado recente.
Na verdade, r,rm candidato diretamente identiÍicado com o governo Sarney
estava inviabilizado, em funçáo do desgaste acumulado, pelas razões antes
expostas. As classes dominantes apareciam no processo fragmentadas e sem
candidato com chances efetivas, abrindo um espaço real para a inversão da
conjuntura.
-*qt+"Piagmaticamente, portanto, as elites depositaram, no segundo tunro
e urh tanto a contragosto, a confiança em Fernando Collor de Mello: o medo
venceu a esperança. Afinal seu discurso era também o dos setores insatis-
feitos com a Carta Constifucional e que já preconizavam, após o cruzado, a
guinada rumo ao ajuste ortodoxo. E sua origem social e trajetória política
advinham das classes possuidoras, o que lhe dava créditos de classe, nr,rm
erúrentamento com um candidato de origem operária. Sader sinaliza o des-
conforto das elites na ocasião: "as classes dominantes saíam vitoriosas elei-
toralmente do pleito, tendo sofrido um enorme susto e percebido que não
dispunham de alternativas partidárias para reproduzir seu poder" (1990:
65), e "nos braços de um polÍtico que se coloca no lugar de uma dominação
organizada em partido político, com programa, tática, alianças relativamente
claras, Íiliados" (1990:.73). Dessa forma, para além da crise econômica que
se arrastava, conÍigurou-se uma crise polític4 delineada pelo avanço do
movimento sindical e popular, colocando-se como alternativa de poder,
combinando-se explosivamente à Íragmentação da burguesia brasileira.
num período grávido de possibilidades de aprofundamento da democra-
cia política e econômica, mas também repleto de tendências regressivas e
conservadoras ainda fortes e arraigadas na sociedade brasileira, mesmo
depois de tão intenso acúmulo de forças pelos irabalhadores e movirnentos
populares.
Como um último ingrediente nessa caracterização em grandes linhas
dos anos 1980, cabe sinalizar alguns aspectos, pode-se dizer, internos do
Estado brasileiro. Nesse sentido, é necessário compreender a arquitetura
institucional herdada da ditadura, com seu desenvolvimentismo peculiar.2o
Durante o período pós-64 houve uma forte expansão do Estado, processo
marcado, para além dos elerr,entos sinalizados até aqui, pelo aumento da
sua capacidade extrativa (tributação direta e, sobrehrdo, indireta) e pelo
crescimento das suas atividades empresariais (Martins,1985). Toda essa
expansão, no entanto, não se realizou em nome de qualquer ideologia
estatizante 
- 
pelo contrário: foi uma êxpansão pragmática e circunstanci-
al, realizada em combinação com a apologia da iniciativa privada e em
nome do crescimento econômico (para depois dividir...).
Houve, na ditadura, uma completa reorganização do sistema de fi-
narrciamento do Estado, acompaúada de grande centralização dos recur-
sos na esfera da União, inclusive com a criação de recursos exha-orçanen-
tários, a exeri'rplo dos vários rnecanismos de poupança Íorçada (FGTS, PiS-
Pasep, etc.) e de um sistema tributário baseado na tributação indireta. A
receita da União aumentou em cerca de 80% na época. Curiosamente, a
despesa com a admirústração direta decresceu no mesmo período. O que se
ampliou, de fato, Íoi o custo da admirústração indireta e descentralizada,
administradora dos "fundos", que proliferaram na ocasião. Os fundos Ío-
ram se constituindo em instrumerúos básicos de alocação de recursos para
programas de investimento e desenvolvimento. Para Martins, houve con-
seqüências poiíticas derivadas da criação dos fundos. 'Dispondo cle certa
margem de überdade para geri-los e tomaÍ decisôes, Íoram criadas agên-
cias autônomas que constituiranr subpólos de poder no interior do Estado.
Por outro lado, introduziu-se uma mentalidade empresarial e competitiva
na burocracia pública, que buscava otimizar e rentabilizar os recursos, por
vezes em. detrimento de suas finalidades. É interessante a conclusão de
Martins (1985:56-7):
"Essa situação não apenas tende a gerar uma superposição de competências
das diversas agências empenhadas em ampliar seu campo de ação, como ten-
de a fazer com que tais agências passem muitas vezes a desenvolver'Iógicas
próprias'. a partir de criiérios de rentabilidade tipicamente empresariais (e
não mais sociais), na gestão de tais recursos. Movimentos esses que no Iimite
se podem traduzir no surgimento de diferentes (e à.s vezes contraditórias)
políticas no âmbito do próprio Estado."
20. Os argumentos acerca do Estado brasileiro no pós-64 encontraÍn-se em Behting, 2000b
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ELAINE NO§STTTI EEHRINü
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Foram criadas diÍiculdades 
,)ara um pranejamento integrado, bemcomo uma série de consh.angimentos para uma caracterização dos novosadministradores como burociacia, em uma co.r.epçao weberiana, a qualsupõe um corpo de Í,ncionários coeso e fier às regras instifuíclas legar eracionalmente (webea 19g4)' por ouho ladq u 
"*pu*ão r" notab,izou-pelailtlnsa participação 
"*f::":,-rl do Estado. Segundo esse arguro eshrdode Martins, no período 1966_76 foram criadas ri
nos. sessenta anos precedenres, no entanto,"* lT;IIi"r- :Ti[irH:dad.e polÍüca dos processos anteriores, marcados pelos projetos de cariznacionalista, além de desenvolvimentista e estaüsja que polarizavam asociedade antes do golpe. Ocorreu no pós_64 .rrr,a fo.tu i"";;;;;;;;;,tado em ramos diversificados da econàmia, nos quais huriu i".;;;;ã;;
ou desinteresse do setor privadq no mesmo purro'* qr" 
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cava como partner do capitar nacional 
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daáa sua fta6lidade 
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e fac,iia-
va a penetração do capital estrangeiro no nível da prodirção.r Houve, quan_do da intervenção do arl1d9 cõmo produto., uitutirriao, ,"* ia"oio6o
estatizante e sem legitimidade polÍtiia o qug é possível inÍertr, ;;à;I;explicar em parte a apatia atual àm relação á *uiohâ ao, p;;;;;;áJã;;:
vaüzação' ou sej+ este é um antecedente importante para compreender oambiente intelectual e moral para a viabilizaçâo da contra_reforma do Esta_do nos anos 1990.
Gerou-se ainda um descompasso instifucional entre a burocracia dosetor governamental (adrninistração direta) e o executivo de Estado da
empresa pública (administração indireta). Martins conclui que as partesque integram o Estado passaram a ter existência própria, 
"ràdo 
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deradas" em tomo de um conceito de Estado. Tratou_ie de um processo de
feudalização do Estado que se fez acompanhar d,a priaatização ai *toio, uÃ
melhores termos/ de sua apropriação por interesses especíÍicos,exacerban_do, a meu vet a natureza de classe à^ ,,r" intervenção. Daí decorreu ,,oisoiamento do setor Govemo, em meio a um territóiio formado por urnEstado que se expande a gltir das lógicas particulares au, ugêr,.i", qr"
nele se situam" (Martins, 19g5: g1). Essã padrão de exparrsão do Estado foi
21' Sobre a reração enke o Esiado, o cãpital nacional e o capitar estrangeiro durante o regirne
militar, são interessantes as obseruações de Mirmda e Tavares acerca d.o processo de consolida_
ção patrimonial dos gn:pos naciorrais, com o gnnde suporte do Estadq ijque o capítar bancárioprivado nacional não tinha envertadura pâra tânto, e á capital estranteiro corria em faixa pró_pria' com a abertura para instalação de unidades produtivas no país, ainda denko da pu,"p".riro
substitutiva de importações (cf. Miranda & Tavares, 2000).
certamente aproÍundado pelo ambiente polÍtico ditatorial, ou seja, pela
' ausência de controle social: A reitura dessas concrusões de Martins é bas-
' tante instrutiva, já que é contra esse Estado privatizado que se erguem vá_
r rios aspectos da constituição de 19gg, com propostas de uma reÍárma de-t' mocrática. Mas é também em nome de uma iontraposição a ele (e aspectos
democratizantes da consütuição) que se erg'ue a contra-reforma do Estado" desencadeada na última décaáa, ,,rr^ p.o.."rro que, numa ironia fina, Fiori
- 
",apelida de "haraquiri do Estado desenvolvimentista,, (1995b: XVIII).
-'""4! Na boa síntese de Nogueira (199g), observa-se que ao longo dos anos
1980 as dificuldades do Estado brasileiro adquiriram transparãncia em ai-
guns aspectos: sua intensa centralização administrativa; suas hipertrofia e
distorção organizacional, por meio do empreguismq sobreposiçào de fun-
ções e competências e íeudarizaçã,o; sua ineficiência na preitação de servi-
ços e na gestão; sua privatização expressa na vulnerabilidade aos interesses
dos grandes grupos econômicos e na estrufura de benefícios e subsíclios
fiscais; seu déficit de conkole democrático, diante do poder dos tecnocraias
e, dentro disso, o reforço do Executivo em detrimento dos demais poderes.
Como se viu, o sentido neoliberar do ajuste estrutr-rrar capitarista dos
anos 1990 foi sendo delineado na década anterior, na periÍerii do mu,do
do capital, de uma forma generarizada, e no Brasil em particurar. Entre nós,
contribuíram para isso os seguidos fracassos de planoi de estabirização or-
todoxos e heterodoxos que não 
-enírentaram devidàmente o constràngimentô
externo e/ou aceitaram passivamente o papel de plataforma d" ;-p;;;;-
ções das multinacionais americanas, européias e jãponesas _ o que está
longe de ser um destino inexorável 
- 
ou depararam-se mesmo com limites
estruturais; polÍticos e econômicos, na sua condução; a exaustão gerada
pelo processo inflacionário; as dificuldades de investimento do setor-públi-
co; e as tensões e paralisias geradas no interior do processo de d.emocrati-
zação, no qual os conflitos entre classes e segmentos de crasse não pode-
''' nam mais ser tratados diretamente de forma Àtocrática obrigando ai clas-
ses dominantes a uma certa concessão à democraci+.distante de sua cultu-
ra poiítica tradicional e, portanto, de difícil administração.
A orientação neoliberal encontrou soro fértil, ainda que sua introdu-
ção mais intensa tenha sido retardada pelos processos delineados, e conso-
Iida-se como doutrina dos anos 1990. Tal ambiente político, econômico e
culfural foi reforçado também pelo que se passou r.oúu.., como Consen_
so de WashingtorL com seu receituário de medidas ,le ajuste. O Consenso
de washington estabelece-se a partir de um seminário realizado naquela
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TIÂINE ROSSETÍI BETiRINC
cidacle, entre 14 e 16 de ianeiro de 7993,» para discussão de um texto do
economista John Williamsotla e que reuniu executivos de governo, dos
bancos multilaterais, empresários e acadêmicos de onze países. Ali Íoram
disortidos os passos políticos necessários para a implementação de progra-
mas de estaÚiüzação que, de acordo com a ótima síntese de Fiori (1994:2\,
passariam por três Íases:
"[...] a primeira consagrada à estabilização macroeconômica, tendo como prio-
ridarle absoluta um superávit Íiscal primário envolvendo invariavelmente a
revisão clas relaçôes fiscais intergovemamentais e a reestruturação dos siste-
mas rle previdência pública; a segunda, dedicada ao que o Banco Mundial
vem cl-ramanclo cle 'reformas estntturais': liberação financeira e comercial,
rlesregulaçãg dos mercados, e privatização das empresas estatais; e a terceira
etapâ; definida como a da retomada dos investimentos e do crescirnento eco-
nômico."r{
Aí estào, em grandes linhas, os antecedentes, as transÍormações e des-
locamentos ocorridos no BÍasil com o fim da ditadura militar e as contradi-
ções da transição democrática, que criarn as condições econômicas, políti-
cas, intelectuais e morais Para os futuros acontecimentos. Espero ter cvi-
clenciado que tais condições foram engendradas num contraponto Perma-
nente entre projetos diíerenciados para o Brasil, nos quais se destaca a im-
portância da questâo do Estado. Adentremos na década de 1990, o palco
,principal da contra-reÍorma do Estado brasileiro, objeto do estudo aqui
desenvoh,ido.
22. No qual esteve presente, como um emérito membro da "comunidade epistêmica interna-
cionat", o hrturo ministro Bresser Pereira- O termo refere-se ao alto grau de socialização interna-
cional dos intelectuais e executivos de Estado, que Passam a integrar redes de conexão transna-
<--ionais 
- 
a exemplo da conunídade epístêmíca inlernnciond que possui uma base cognitiva co-
mum que lhe dá autoridade (os especialistas). Dessa forma, esfacelam-se lealdades internas. Tra-
ta-se de uma burocracia cosmopolita, sem fÍonteiras nacionais. Outra questão é o comportamen-
to àdaptativo das burocracias 
- 
o chamado "efeito-ônibus" 
-, 
ou seia, a tendência a adotar
expcriências bem-sucedidas em outro país como referência para a formulação de poiíticas inter-
nas (cf. Costa & Melo, 1995).
23. Economista que hoie após a crise Argentina e a explicitação dos limites daquele receituá-
rio, tem íornecido declarações para a grande imprensa de que suas teses foram mal interpret.rdas
e de que não é neoliberal.
2{- Este lexto de Fiori Íoi publicado na Folfia tle S. Pnulo. tendo recebido inúmeras críticas da
artiolaçào de apoio a Fernando Heuique Cardoso, inclusive do próprio. A íntegra do debate foi
reunida por fiori e publicada pelo IMS/Uerl, em 1994.
2. 0 passaporte brasileiro para a mundialização: a ofensiva
.neoliberal dos anos 1990
2. 1. Os estftgos do outsider e o início da contra-reforma
O desfecho clo pleito eleitoral de 1989, etapa tão esperada do proces-
so de democratização, e mais um momento do embate entre os Proietos
societários antagônicos que foram se delineando e aProfundando ao lon-
go dos anos 198O Íavoreceu, Por uma diferença Pequena de votos, a can-
didatura à presidência que defendia explicitamente as "reformas" orien-
tadas para o mercado, que implicariam urn forte eruugamento do Estado,
como saída para a crise econômica e social brasileira. No entanto, aPesar
da expressiva votação, as bases de legitimidade de Collor, mesmo entre
as elites, eram extremamente Írágeis. Façamos uma leitura do burso dos
acontecimentos, cbservando, como no item ànterior, o imPacto das medi-
das econômicas e sociais do governo na ocasião e a correlação política de
Íorças.
Teixeira (1994) oÍerece uma análise d.as soluções econômicas do go-
verno Collo4, num conte.xto no qual as conseqüências da mudànça de pa-
radigma tecnológico, da Íinanceirização e do debilitamento econômico
(mas não militar e geopolítico) da hegemonia ainerjcana apontavam para
o desmonte dos mecanisrnos deGescimento e acomodação social anterio-
res. A análise de Teixeira destaca a questão do padrão de financiamento
dos mecanismos de crescimento, que se esgotou com a mundialização, a
exemplo dos investimertos externos diretos, tornando a questão do ajus-
te e da estabilização urna espécie de obsessão impossíveI, hipótese da qual
compartilho,2s
Collor assume com a legitimidade majoritária, porém dispersa, das
urnas, e após o fracasso de sucessivos planos econômicos de combate à
inflação 
- 
cujo maior entrave esteve sempre articulado aos constrangirnen-
tos extemos, diga-se, à gestão da dívida. Pois bem, sua promessa foi a de
heroicamente derrotar a inÍlação com um "único tiro", ao lado de medidas
gerais de orientação claramente neoliberal, em sintonia com a cullura eco-
nômica monetarista que vinha ganhando terreno desde o final do govemo
25. Mais adiantq ao tematizar os impactos e impasses do llano Rea[, voltarei a essa questão.
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samey. Houve, sü,,,repn^an+ 
LÁlNE losstrTl BEtllNc
*;;;;,à:ffi ".?1,:1*ilT*J*,,1',F1*:,,ffiix,:;:fi11:
continha uma radical heturoaoriu, a-;;;r" do bloqueio de 66o/oao, uti-vos financeiros disponíveis, 
. ;;;;;ír,.rrruruqtiuntes da politica eco_nomrca e de medidas fiscais para 
.;;;;; da.receita públici (Sandroni,1992:262)'Para Teixeira, uq""i";;;;io".o*.o 
abria, de fato, a poss!bilidade de que o governo recobrasse o ao^rr,ao sobre os instrumentos depolítica econômical reestrufurando o padrao de financiamento da econo_mia brasileira. Afinal, ai.po.,ao o fr;r:;;;;,algum papel esrrufurante e redistrihutivo, *o ,u^'ot'unvos' Poderia exercerreracionaáos ao co*po.tamento artista oo, uurur,*ro uma série de fatoresde a d ministraçao inàrna g; ;l;;;; d;?::.fi:_:fr::: ::IJ:I:possibilidade' eirgendrand" 
"* 
aáriüq""**to progrãssivo dos recur-sos, inclusive pàla via au l"n"ficêrrã,""""*;"dosnoâmbitodoanüsocô*;rilNá.;ffiH:1.,f:r11Ti:#:::11",:
menre extinto pela Lei-Org-âniç.ada Assistãnliu So.iut (Loas/1993j. Teixeiracaracteriza que' o plaao.eitüi"â au*otuao ãoJ*"*, depois de seu rança_mentq em razãq principqlmentF, d";;.*;;as elires rentistas de aceitarpercras patrimoniais impUcitas- 
_em 
rb;* ;;idas adotadas. AssirrL ape_sar de o plano consesur::::il;l;iJã*"r", 
ooo,icas e aumentu, u".*_servas do país, a abertura comercial e a reforrrram o ar.rmento do der;.;;;:'::: : i:'_:t*a.administrativa propicia-
uma Íecessão prorur,a"l*Pre8o' 
e pouco tempo depois o pui, 
.nirrJu 
"*
DaÍ em diantehou
rnÊ*itt*'$;.T"fl:;l'iH,,,:::3:;H:ffi i, j;:ffi ff ::Hil:
o?,anoc;uffi ;;;::'f*;:ffi:ffii["rã:,lTJ;,Tj**,f 
niral, com cortes nos gastos pribtico;;il""àifaço,, 
e uma reforma fi_nanceira. Em 1991, tal direção ," .;"fi;;;;rrl
nômica. Ao Iado dássa oscilaçao brevíssima d" r:,I::iÍade.equipe eco-noCortorcorocou.*rnuranuurã}il;;ri#:,:r:;:;:#:?."*9_'rT
do prosrama de orivarizaçõ;;;;ffirr; ájl'i"n*, aduaneiras esta úr_tima represent".,,Co u-, verdadeira. r"rraoãrrtu*porânea da,,aberfurados portos às'nações amigas,,. p"r" T.ir,;;;; i"*ru^o obte,re certo êxito.mantendo a inflação e* tolo a" zo.Z".*ã, irà íoi resutuao, sobretudo, daadminiskação dos temores de urn novo a"à* r"o* as atitudes imediatasdos agentes econômicos. s"g"rri" ;;;;;;Tràor" fracasso da políticaeconômica de Collor não .uúiu ,ru."rruriu*Lüem um erro d.e diagnósti_
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co/ mas de uma visão equivocada da relação en,,e economia e porítica. DizTeixeira (1,994: l.2g):
"A inflação brasileira não pode ser katada como um fenômeno uror,u^.rr,aeconômicq descoúelenlo_se as r"t"ç0., poUicas e de pode. que lhe são sub-jacentes. Não pode, portanto, ser ,enad.a po, ,* plano, por mais correroque seja do pona O:_Ir-:," técnico, elaboraàá po. *"ru dúzia de representan_tes desta nova tecnocracia esclarecida, entre as.o,
tes. o enrrentam".,;-;;;;;;:, ;;üJff:*TÍji1.:l::rTi:T ?1"il;
,*ffLJ" s§a dos de cima t*" "-.;i;.;;.rdas, seia dos de baixo para
Diante do exposto, Collor Íoi derrotado claramente por Íalta de ade_são à sua proposta, Íato que repercutiu também no melancórico ocaso doprimeiro govemo ereito, após vinte anos;;;;;"r" m*irar. cabe ressartarque a passagem do outsider _ posto que sua iruerção econômico_políiica ebase de legiümidade 
"correu por fora" d.o núcreo duro das crasses domi-nantes brasüeiras _ deixou 
-o""," -"_. -;_ ;:" 
*,:.^." *o" ud§ses ooml'
onde, ademai, 
"r",, ;I::êffif X#,T*:::Iã: :Tfi ,i JÍ"1fi 1 
"
ta. Sua intervenção de maior fôlego 
";;;;;r#foi a implementação ace_ ,lerada da estratégia neotiberat nã p;;;;.';ãr"o 0", charnadas reformas 
.esrrururais, na verdade o inÍcio au .o"t â-ruro,J ãtb"Ji" o;;:;"r*"
0..,,â5"'fiIlr'-l*fiT:'' 
tundada na abertura 
"".*::::L.*r'.,*,, o" '
,"a",""pii""-ãii*"à;:H::*T: j::::l:r,ff jl#:Ín*m::_
terior 
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no senüdo de Í
eremento;;"i;;il;;?f il:::i,:ffi :il*ff;::'J:::ffi :J,:rTlançou a nova potírica indusrriat dõ;;;;;;otio, pua".i, de inúmerosequÍvocos, se observado de uma per"sil;;";;.". o descoúecimenro
26. É interessante a caracterizaçâo que Bresser pereira Íaz ao gor"_o Collor. que para ele Íoicontraditóriq e até esquizofrênico, *rs i""onhece" ,rr*.i" U"blio, a necessidade ao al.ste-o,au *.iai,,_., .";.;;õ:::T:3,§:,,r..::XXJâ?":.
;:J::';::*:$:;ffi::I'1**erciar-a-maisbe'n-'úi'a" eimportante reíor^. q,u o
no sovemo corro, q,. o 
";,,," r,lll'r".i:H".':l;*1""tí:::#$il:11?"""f rJ*i::Pe'nanenteg mas também através de u* ruur,"naJ"*..i"-"rro o, díüda púbrica interna,,
3ff::'"r:rr,r.:: 
pode-se conctuir o quanto e *.r"i" ,J.r-iã-, fios condutores comuns entre
EI.ÀINE NOSSETII NEHRING BR,\SiL Gl,t coNTR^.ÂEFOnM/\
da «limensão continental da economia brasileira e de sua decorrente voca-
ção para um padrão de industrialização fundado na exPansão do mercado
intemo Íoi um deles 
- 
confirmando a análise de Fernandes sobre o despre-
zo das possibilidades do mercado interno por parte das elites brasileiras
(cf. Capítulo 2). Assim, a políüca liberal apenas poderia fortalecer o consu-
mo conspícuo das minorias. Outro foi a utilização indiscriminada das im-
portações como mecanismo de conhoie de preços. Mais um grave erro foi a
aposta num ingresso substancial de capitais externos, capaz de viabilizar a
modernização e um novo ciclo de crescimento, quando o fluxo de investi-
rnento externo se concentrava nas relaçôes intratriádicas, conforme já foi
irrdicado. Desconsiderou-se as expectativas empresariais de investimento e
estimulou-se uma concorrência em situação de desvantagem absoluta dos
segmentos industriais brasileiros, sem investimento em termos de uma
politica tecnológica e educacional, levando-os ao sucateamento. Houve uma
total atrsência de preocupação com os nÍveis de emprego.
Assim, a política econômica nos dois anos de govemo Collor pautou-se
por uma adequação deskutiva ao reordenamento mundial. Não houve qual-
quer ação mais ousada em relação ao problema do endividamento, sem o
que é impensár'el uma perspectiva de invesümento e de crescimento, so-
mando elementos ao processo de desarticulação progressiva do padrão de
desenvolvimento da econornia brasileira, em especial da capacidade do se-
tor público. Cano (1994: 54-5) faz uma síntese da política econômica de corte
neoliberal que Collor imprimiu: na.política antiinflacionária, evitou a
hiperirúlação por algum tempo, mas sem sustentabilidade; imPlementou uma
reforma administrativa desastrada, sob o argumento de diminuir o setor
público, desarticulando-o; seu plano de privaüzações Íoi desenhado sem
objetivos conseqüentes; realizou uma liberalização comercial voluntarista,
sem medir o impacto sobre a diversificada e complexa eskutura industriatr
brasileira; e cortou subsídios agrícolas que levaram o caos à safra 1990-91.
No que refere à forma de fazer polític4 diga-se, de articularos interes-
ses e relacionar-se com a sociedade civil organizad4 muito mais densa e
com segmentos combativos, como se sabe, o Bovemo Collor adotou uma
atitude olímpica e arrogante, orgulhosa de sua solidão política (Nogueira,
1998: 131) e avessa à negociação. Daí a caracterização de Nogueir4 segun-
do a qual Collor encamou um "reformismo enragé", que não tirava provei-
to das possibilidades da polític4 além de ser teatral e irresponsável, des-
temperadq impaciente e encolerizado (1998: 137-8). Traços que levaram o
goveÍno a uma crescente perda de credibilidade interna e externa.
Acerca da guestão do Estado brasileiro, Collor preconizou as refor-
mas orientadas para o mercado como complemento do processo de moder-
rjzaçãq tendo em vista a recuperação da sua capacidade financeira e ge-
renciai. Chama a atenção que seu discurso de retirada dos entraves
corporativos e jurídicos, para urna racionalização da máquina públic4 era
bastante semelhante à retórica do Plano Diretor Íormulado em 1995, como
será demonstrado mais adiante. No entantq há um tom moralista de de-
núncia do acobertamento dos privilégios, dos chamados marajás, que esta-
ria na raiz da crise do Estado e da necessidade de reÍormas, Írancamente
contraditório com a tara clientelista e patrimonialista que caraeterizou seu
governo e que gerou sua espetacular derrot4 por meio do impeachme.nt,
inéclito na história da República. Contudo, essa condenação pública não
signiÍicou a condenação de aspectos de seu projeto de corte neoliberal para
o país 
- 
e não se pode esquecer a aproximação de segmentos do pSDB,
inclusive de Fernando Henrique Cardoso, ao govemo coror, nos últimos
momentos, quandq já em crise, este último abriu-se a negociações.
Dê outro ângulq observa-se que mais esta frustração Eerou urrl am-
biente de desconfiança na polÍtica e na democraci4 bem como de autodeÍe-
sa dos agentes econômicos, de formq, que a crise e a agenda para seu en-
frentamento, que já eram de difícil soluçâo, deparavam-se coÀ mais esses
óbices adicionais. A passagenr do outsíder desencadeou, aínda que de for-
ma limitada, a implementação de uma pauta regressiva no país, reverten-
do as tendências democratizantes e expectativas redistribuúvas dos anos
1980' Aqui vale destacar sua relação agressiva para com o movimento sin-
dical em especial o funcionalismo pírblicq acusado de corporativismo,
característica que também aproxima Collor de Cardoso.2T
Na verdade, Collor optou por ur.na estratégia política midiátic4 cujo
discurso rnassificado voltava-se pâra os indivícluos atomizados, evitando
27, se é evidente que há diÍerenças de método e de conteúdo entre colror e curdoso, t.m-
bém rne parece claro que Montafio está coÍreto ao afirmar qrre o neoriberalrsmo orienta o pro-
grama de governo de ambos, abortando a possibilidade de urn pacto social resultante das rutas
pós-ditadura, consolidado em paÍte na constituição de 19gg (2001: 7ô1. po*anto, há fios con-
dutores comüns entre os dois governos. sobre o movimento sindical ern especial do setôr pú-blico, ouçamos o pÍesidente cardoso: "porque a refoma apenas terá êxito se foÍ sustentada
pelas lideranças do serviço púbrico. Não digo as lrderanças sindicais que, inlerizmente, estão
atreladas às formas mais nocivas de corporativismo, mas sim tidermçm de mentalidade que
querem renovaÍ-se, que têm entu§iasmo pela Íunção púbtica, que têm o §entido de missão, de
espírito público" (1999: lB).
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EI.ÁINE EOSSITTI BTHn|NG
os §egmentos organizados. A,ssim, dirigia_se aos ,,descamisado§,,. No que
:"f": à enorme expectativa democnítiá q"*,o ao enÍrentamento das re-frações dramáticas da guestão social no p"ír,;;" pouco tempo de governopautou-se no clássico clientelisrro, 
.orr,á o d.emonstraram o escândaro dassubvenções sociais 
" 
u.pr!:r.To!* Au p.i*io_dama à Írenre da LegiãoBrasileira de Assistência 6ne;. Oeve_s;;;;", que Collor vetou a regu_Iamentação da Lei Orgânica da Assistê""iu So.i+ demorutrando pouca
$sposiçao dlirplu*:"tT o coaceito de seguridade social preconizado aa
. 
consütuição.8 Tâl ambiente político articuiaãoã 
"r".tor, .omercial e à rees_TP"!fo produtiva, geradãres de desemprego; teve impactos sobre a es_pinha dorsal dos moümentos sociais ao" àoJtsa,, no sentido da sua des-.l*Tr1to: Tanto que serão os esrudanies,ã*, pa;a*,,.*;,"*;o
a iniciativa d.as yur, p"lo impeachmmt,fr"" foi rr* movimento importantgrnas que esteve ronge de possuir'a densidad,e e o componente operário epopular da luta pelas eleiçôes diÍêtas, d" ir;;
Itamar Franco, vice de Collor, assume o govemo nesse contexto conr_plexo' de descompasso enhe as demandas d.a sociedade e as respostas doEstado, e de mal-estar instihrcional 
""o".*i.o " social. Setrs movimentosserão no sentido de rec
,:rP:'1d*';;;;üff :J"ê1:sT;11"j:;'fffi ;J:'ffi I:lJ:#pão. Daí, uma composição mjnisleriat qrie inctuia o pSDB _ q* ii n.r"acenado para colloq, àas deparou-ru 
.à* as restrições de Mário Covas ealguns outros segmentos p.tuaáriou 
- 
e que trouxe tambénç no inÍciq aex-prefeita de são paulo pelo partido dos Trabalhadores, Luá" E*;h"de Souza. O inferregno Itamar lranco ,*i p"t.o de avanços lirnitados, noque se reÍere à legislação complementar â C'onstituição de 19gg, u u*"*ifoda Lei orgânica da Assistência sociat (Loas)-Mas será também o momentode articulação da coarizão consersacrora d.poJ"r constihrída em torno de
1",t11",*:*ique Cardoso, enrão à frente áo úir,irterio da Fazenda, onderol Íormurado o prano de estab,ização protagonizado pera nova moeda: o
28. A Loas foi finalmente 
1p-rov_ada 
e promulgada em 1993, mas iá sob o tacâo da .,Iógica docontador- instarada no Miàrstério.da rizena", ; r.ã"r;";.*"ndo Henrique cardoso, íatoqelo gual alguns de seus artigos.Íoram ,et"dos e 
" 
e.ro,p,r, i" rr-flia para acesso ao BeneÍício
!" rytlear.g3ntinuada para idosos e pessoas poi"aorl, iJauricência ficou deÍinrdo em umquarto_do_salário *t**o, 
*Td:-1rnpü. og^Lto, p-prnt,". um salário a até meio, na ne-tociação' uma reconstituição histórica do pri.r"o a"'ai"*rri" e aprovação da loas pode serenconkado em Boschetti (1998 e ?0O2).
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etÁstt EM Co}{rt^.tEfonM^ 
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r 55
real' se collor era o outsider, o aventureiro, Femando Henrique cardosotiúa credenciais da luta deniocráüca e ünha do núcreo econômico do paÍs,,
colocando-se como o articulador e interechral orgânico da contra-reÍorma eda tregemonia burguesas no Brasil contemporâieo (Oliveira, l99g: lZ6_Z),
após um período relaüvamente largo de puigoru fragmentaçãg de que Íezparte o medo de uma derrota eleitoral para i esquerd4 em 19g9.
2,2. O Plano Real e a recomposiçpp burguesa no Brasil
. fepois das múltiplas tentativas de estabilização econômica sem i.ê-.-.
sultados duradouros ('Tavares & Fiori, 1993; Teixeira, 1994), ap.rti. á"-ieóá, 'o país entrou no Plano Real. euar Íoi a lógica do prano Rear, razôes do seujlgacto e, dependendo do ângulo de inteforehção, de seu sucesso? A esta-bilização não seria, de fatq uma obsessão i*pársiu"l, .o; 
"fir;"i;;;;riormente em concordância com Teixeira 6eí+'y por que é razoável farar,
de uma recomposição burguesa no Brasil?
. 
Capi-taneado pelo então minisko da Fazend.a Fernando Henrique Car.
doso, evidente ca^didato à p:'.esidência da Repúbric4 o prano Real promo-
veu, poucos meses antês da eleição, uma verdadeira chantagem eleitoral:
ou se votava no candidato do plano ou estavà em risco a estabilidade á*r
moeda, promovendo'se a volta da inflação, a ciranda financeira e à escala-
da dos preços. Os brasileirot traumatizados com uma inflação de 507, ao -
mês (iuúo de 1994) e esgotados com a incapacidade de planejar zua vida
cotidiana, votaram na moeda e-^u pro*urrà de qug com a estabilidade,
üriam o

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