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1
SOCIEDADE, ÉTICA E POLÍTICA 
 
“Se Deus não existe, 
 tudo é permitido” 
 
Walmir Barbosa∗ 
 
 A reflexão sobre a Ética ocupa uma grande importância para a humanidade, 
independentemente das conjunturas e períodos históricos. Mas, certamente, há conjunturas e 
períodos históricos nos quais a sua reflexão assume maior relevância. 
 A atual conjuntura e período histórico, profundamente caracterizado pela redução das 
necessidades materiais e culturais humanas aos imperativos do mercado, pelo avanço do 
oficialismo estatal, pelo controle e manipulação da informação e pela progressiva idiotização de 
uma grande parte da sociedade, exige de nossa parte situar a Ética no centro das nossas idéias e 
das nossas práticas sociais. Exigência colocada para todos aqueles que reconhecem a pertinência 
de lutar por um mundo melhor e de avaliar as escolhas e opções realizadas enquanto ator social 
individual e enquanto parte integrante de atores sociais coletivos. 
 O propósito deste texto é contribuir para uma reflexão acerca da Ética em sua relação com 
a sociedade e a política. E, enquanto tal, volta-se prioritariamente para estudantes e jovens 
ativistas políticos. 
A construção e organização deste texto não foi conduzida por um “especialista” em 
Filosofia e Ética. Todavia, pretende-se que o texto dê conta de combinar um determinado rigor na 
abordagem da Ética e uma reflexão sobre a mesma por parte dos leitores. 
 O texto se divide em três partes: “O Conceito de Ética”, onde se buscou uma definição 
geral de Ética e o desenvolvimento do seu conceito ao longo da história; “Incursões Filosóficas”, 
onde se copidescou as intervenções de diversos intelectuais sobre Ética por meio dos vídeos Ética 
I e II, produzidos e divulgados pela Fundação Padre Anchieta; e “Por uma Política Ética”, onde 
se buscou identificar alguns desafios colocados para as idéias e práticas políticas de dimensão 
Ética na atual conjuntura e período histórico. 
 
∗ É Mestre em História das Sociedades Agrárias e professor na UCG e do CEFET-GO. 
 2
O texto recebeu contribuições de Sebastião Cláudio Barbosa, Ana Paula Nunes e Marcela 
Maciel. Em que pese os seus limites, convidamos ao leitor a percorrer este pequeno itinerário de 
reflexão sobre Ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3
 
 
 
 
 
 
 
I PARTE 
 
O Conceito de Ética 
 
 1. DEFINIÇÃO E CONCEITO DE “ÉTICA” 
 
 Ética pode ser definida como a ciência ou disciplina que se ocupa da conduta humana 
(social, política, artística etc). Conduta que é sempre e necessariamente orientada por preceitos 
normativos morais, o que converte a Moral no objeto da Ética. 
 A Moral é uma forma de comportamento humano que compreende tanto um aspecto 
normativo (regras de ação) quanto um aspecto factual (atos que se conformam em um ou em 
outro sentido, mas sempre em interação com as normas mencionadas). 
A Moral é um fato social. Ocorre na sociedade, corresponde a determinadas necessidades 
sociais e cumpre um conjunto de funções sociais. O fato da Moral, embora possua um caráter 
social, não reduz o papel essencial que o indivíduo desempenha nele, visto que a Moral demanda 
a interiorização das normas e deveres estabelecidos e sancionados pela comunidade de forma 
individual. 
O ato moral concreto faz parte de um contexto normativo (código moral) que vigora em 
uma determinada comunidade, o qual lhe confere sentido. Todavia, como manifestação concreta 
 4
do comportamento moral dos indivíduos reais, é unidade indissolúvel dos aspectos ou elementos 
que o integram: motivo, intenção, decisão, meios e resultados, e, por isso, o seu significado não 
pode ser encontrado em apenas um destes aspectos ou elementos abstraídos dos demais. 
Como fato consciente e voluntário, o ato moral supõe uma participação livre do sujeito 
em sua realização, em que pese o caráter impositivo das normas morais. É a necessidade 
histórico-social que condiciona o ato moral e que “harmoniza” a livre adoção e a coerção nele 
contidos. Moral pode então ser definida como (Vasquez, 1989, p. 69). 
 
(...) um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas 
entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter 
histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma 
maneira mecânica, externa ou impessoal 
 
Conforme a Ética revela, o código moral é um produto humano. Como tal, compõe o 
processo histórico da humanidade. E podemos mesmo delimitar, no âmbito do processo histórico 
da humanidade para eleito de estudo, o processo histórico da Moral (Vasquez, 1989, p. 227 3 
228). 
 O processo histórico da Moral é ascensional. Ocorre por meio do crescimento do domínio 
do homem sobre si mesmo; da relação progressivamente consciente, livre e responsável do 
indivíduo com relação aos demais; da regulamentação dos atos individuais, de forma que os 
interesses pessoais não sacrifiquem os interesses coletivos, e vice-versa; do predomínio da 
aceitação das regras de convivência social fundadas nas convicções íntimas (ou normas internas) 
em relação à sua aceitação puramente formal (ou normas externa) etc. 
O processo histórico ascensional Moral expressa, portanto, em formas morais superiores. 
Todavia, como síntese dialética traz em si elementos tradicionais e elementos novos, que podem 
ser tanto progressistas quanto conservadores, isto é, elementos de impulso ou de atraso para a 
formação de uma Moral superior. 
A Ética, ao estudar a Moral conceitual e historicamente, permite apreender elementos, 
formas e sentidos da Moral. Dessa forma a Ética permite abrir o que a Moral fechou, romper o 
que a Moral tornou sistêmico, historicizar o que a Moral atemporalizou e universalizou. A Ética, 
quando se ocupa da Moral de forma dialética, concorre para que a conduta humana possa se 
dirigir na perspectiva do bem. 
 5
2. ÉTICA E HISTÓRIA 
 
 As concepções Éticas nascem e se desenvolvem como respostas aos problemas sociais e 
históricos concretos surgidos nas relações entre os homens, em especial problemas que se 
relacionam com o comportamento moral. A determinação social e histórica dos problemas 
humanos determina a dimensão social e histórica das concepções Éticas na medida em que os tem 
como objeto. 
Abordar criticamente as concepções Éticas demanda partir, portanto, dos problemas 
humanos. Identificá-los exige, por sua vez, uma abordagem das estruturas sócio-econômicas, 
políticas e morais da sociedade que os determina. 
 
2.1. Concepções Éticas Fundamentais 
 
A Ética foi conceituada e caracterizada por meio de infinitos conteúdos e formas. 
Todavia, é possível identificar dois grandes campos de concepções fundamentais. 
 A primeira concepção é a que define a Ética como a ciência do fim para o qual a conduta 
dos homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim. Nesta concepção, o fim e os 
meios seriam deduzidos da própria natureza do homem. O ideal para o homem seria dirigir-se por 
sua natureza e, por conseqüência, da “natureza”, “essência” ou “substancia” do homem. O bem 
seria para onde se dirigiria o homem (Abbagnano, 1998, p. 380 e 381). 
As concepções da Ética do Fim da conduta humana concebe o bem como realidade 
perfeita ou perfeição real. Procura-se deduzir esta realidade da natureza racional do homem. 
Define como bem a conduta que se orienta por meio da projeção desta perfeição. 
 Para a Ética do Fim o valor, como o belo e o bom, existem idealmente, isto é, como 
entidades supra-empíricas, atemporais,imutáveis e absolutas. Subsistem em si e por si, 
independentes da própria relação que o homem possa manter com elas, ao conhecê-las ou intuí-
las. 
 Ocorre a plena separação entre o valor e a realidade (ou os bens em que nela se 
materializa). De forma que os valores formam um reino particular e que subsiste absoluto, 
imutável e incondicionado; encarnam bens como a utilidade, a beleza, a bondade; existem 
idealmente; e não necessitam se concretizar em formas reais (Vasquez, 1989, p. 123-125). 
 6
 Talvez a expressão mais longínqua da Ética do Fim seja a doutrina metafísica de Platão 
sobre as Idéias. Dentro desta tradição também podem ser situados, por exemplo, Santo Agostinho 
e Hegel. 
 A segunda concepção é a que define a Ética como a ciência dos motivos da conduta 
humana. Esta ciência procuraria, ainda, determinar tais motivos com vistas a dirigir ou 
disciplinar essa conduta. O ideal para o homem seria compreender os “motivos” ou “causas” da 
conduta humana, ou as “forças” que a determinam, de forma a pretender ater-se ao conhecimento 
dos fatos. O bem seria uma realidade, embora não inscrita na natureza, humana e alcançável 
(Abbagnano, 1998, p. 380 e 381). 
 As concepções da Ética do Móvel da conduta humana concebe o bem como objeto da 
vontade humana ou das regras que a dirigem. Procura-se determinar o móvel do homem, ou seja, 
a norma a que ele de obedece. Define-se como bem aquilo a que se tende em virtude desse 
móvel, ou aquilo que se conforma à norma em que ele se exprime. 
 Para a Ética do Móvel o valor, como o belo e o bom, não existe em si, independente da 
relação com o sujeito. É o sujeito quem define e valoriza, qualitativa e quantitativamente, o valor, 
na sua relação com o mesmo. 
 É possível identificar no âmbito da Ética do Móvel dois campos de definição do valor. O 
primeiro é o subjetivismo idealista, que reconhece a definição do valor como um processo 
puramente individual e subjetivo, decorrente de uma vivência espontânea pessoal. 
Conseqüentemente, recusa a idéia de que as propriedades do objeto (naturais e sociais) podem 
determinar a atitude valorizadora do sujeito. Dentro desta tradição podem ser situados, por 
exemplo, Hobbes e Scheler. 
 O segundo é o objetivismo dialético para o qual os valores são criados por um homem 
social e histórico. Dessa forma os valores são criações humanas em um mundo social e 
historicamente determinado; existem e se realizam no homem e pelo homem. O homem é 
concebido como um indivíduo que pertence a uma época e, como ser social, se insere sempre na 
rede de relações de determinada sociedade; encontra-se igualmente imerso em uma dada cultura, 
da qual se nutre espiritualmente; e a sua apreciação das coisas ou os seus juízos de valor se 
conformam com regras, critérios e valores que não inventa ou descobre pessoalmente, mas que 
constrói socialmente (Vasquez. 1989, 123-124). Dentro desta tradição podem ser situados, por 
exemplo, Sartre e Marx. 
 7
As concepções da Ética do Fim e da Ética do Móvel fizeram-se presente ao longo da 
história do mundo ocidental. Foram constantemente reelaboradas em função dos contextos 
históricos, isto é, das configurações produtivas, sociais, políticas e culturais em permanente 
transformação. Compreendê-las demanda, portanto, partir da identificação das características 
históricas de cada grande período histórico. 
 
2.2. O Mundo Antigo Ocidental e a Ética 
 
O Mundo Antigo Ocidental articulou-se a partir de uma formação social e econômica 
escravista. Esta realidade não impediu que transformações profundas fossem operadas. 
 
Na passagem do século VI a. C. para o século V a. C. a Grécia apresentou uma forma de 
organização social e política original. As concepções políticas teocráticas foram superadas pela 
criação da república. Neste processo ocorreu a democratização da vida política com a derrota da 
aristocracia e a emergência política da nova aristocracia (comerciantes) e homens livres pobres, 
com o conseqüente triunfo da democracia escravista, a criação de uma infinidade de novas 
instituições eletivas e a intensa vida pública com debates públicos e rigorosa movimentação 
cultural criativa (teatro, esportes etc). 
A sociedade grega na sua fase clássica desconheceu castas sacerdotais, religião 
monoteísta, Estado teocrático e engessamento do pensamento pelo mito. Esta realidade concorreu 
para o desenvolvimento da Filosofia, da Política e da Ciência, das primeiras experiências 
democráticas, das normatizações sociais reconhecidas como criação humana e do apreço à 
estilística. 
 Com a intensa valorização da comunidade democrática, que foi reduzida no número de 
membros e restringida no espaço, teve origem a Filosofia Política e Moral. O seu objeto 
privilegiado de reflexão foram os problemas oriundos da criação e aprimoramento da 
estruturação do poder da república, a relação entre o público e o privado, a conduta moral e 
política dos cidadão em face da comunidade democrática, e assim por diante. 
 Nos séculos IV e III a. C. ocorreu a perda da independência e liberdade das comunidades 
gregas, primeiramente em face dos Macedônicos e, posteriormente, dos romanos. Como 
conseqüência teve fim a democracia escravista. 
 8
A Grécia passou a conviver com uma intensa regressão e repressão política. E, neste 
contexto, a Ética tendeu a declinar em face dos problemas da comunidade política e passou a se 
ocupar fundamentalmente dos problemas existenciais e de conduta moral individual. 
 A sociedade romana, que em grande medida preservou e estendeu o legado cultural grego, 
também proporcionou heranças culturais. O pequeno desenvolvimento da Filosofia e da Ciência, 
a ausência de experiências democráticas e a pouca originalidade estilística, conviveu com 
enormes progressos no campo da Política, da gestão pública, do Direito e da Engenharia. 
 No Mundo Antigo Ocidental podemos identificar dois grandes campos morais. Campos 
estes que, obviamente, se expressaram por meio de infindáveis morais. 
 A Moral dos homens livres, determinada pelas experiências sociais aristocráticas e que se 
expressaram em idéias dominantes daquele período, foi criada e difundida pelos filósofos, os 
intelectuais orgânicos da aristocracia escravista. Tratava-se de uma Moral efetiva, isto é, vivida 
concretamente e expressa por meio de normas formalizadas ou não. 
 A Moral dos homens livres teve como referência a separação entre homens – que 
possuiriam alma de homem e que poderiam se humanizar e se libertar progressivamente – e os 
escravos – que possuiriam alma de escravo (ou que nem possuiriam qualquer alma) e que não 
poderiam se humanizar e se libertar. A Moral impunha aos homens livres a humanização por 
meio do cultivo da alma e do corpo através das atividades proporcionadas pelo ócio (o teatro, a 
escultura, o esporte etc); da individualidade de cada membro no âmbito da comunidade; e da 
responsabilidade política de cada cidadão na preservação da comunidade política. 
 A moral dos escravos indicava assumir maior sistematização nos períodos que antecediam 
as suas revoltas, motivadas por uma obscura esperança de liberdade. Nessas revoltas e nos breves 
períodos de liberdade que se seguiam quando se faziam vitoriosos, qualidades morais como a 
solidariedade, o espírito de sacrifício, a lealdade etc, encontravam-se presentes. A destruição 
desta Moral emergente por parte da classe aristocrática passava, necessariamente, pela destruição 
da memória e da experiência daqueles que a viveram, isto é, pela morte dos escravos 
recapturados. 
 A Moral dos homens livres no Mundo Antigo Ocidental legou para a humanidade 
referências morais fecundas. Dentre elas podemos destacar a correlação entre Moral e Política; a 
Morale a Política como parâmetros para dirigir e organizar as relações entre os membros da 
comunidade política e que se ocupam de todos os problemas humanos (religião, guerra, natureza 
 9
etc); as virtudes civis (amor e fidelidade a comunidade, dedicação aos negócios públicos, a 
primazia do público em face do privado etc); a progressiva consciência da definição e proteção 
dos interesses da comunidade concomitantemente com a consciência da definição e proteção da 
individualidade dos seus membros; e a consciência da responsabilidade pessoal como parte de 
uma autêntica conduta Moral (Vasquez, 1989, 31-33). 
 O Mundo Antigo Ocidental não rompeu totalmente com a explicação mítica do mundo, 
mas o homem era reconhecido como um ser constituído de razão e de vontade. A Ética do fim e 
a Ética do Móvel haveriam de refletir esta realidade. 
 
2.2.1. A Ética do Fim no Mundo Antigo Ocidental 
 
A Ética do fim possuiu diversas expressões no mundo antigo. Dentre elas podemos 
destacar Sócrates, Platão e Aristóteles. 
 
Sócrates (séc. V e IV a. C.) 
 
 Sócrates compartilhou o desprezo dos sofistas pelo conhecimento naturalista e pelas 
tradições. Todavia, destes se afastou à medida que condenava o relativismo e o subjetivismo. 
 Sócrates centrou a questão do saber no homem, conforme retrata a máxima “conhece-te a 
ti mesmo”. Buscou um conhecimento fundamentalmente moral, prático e universalmente válido. 
A sua Ética possuía a concepção do bem como felicidade da alma e do bom como útil para a 
felicidade; a virtude como conhecimento, porque quem conhece o bem não age mal, e do vício 
como ignorância, porque somente age mal quem não conhece o bem; e a virtude pode ser 
ensinada e, portanto, transmitida (Vasquez, 1989, p. 237 e 238). 
 
Platão (V e IV a. C.) 
 
 A Ética de Platão possuiu como fundamento primeiro a sua concepção metafísica. Para 
ele haveria o mundo sensível, que apoiaria-se nas idéias imperfeitas e fugazes, que constituiriam 
a falsa realidade, e o mundo das Idéias, que seriam permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, 
que constituiriam a verdadeira realidade e que teria como cume a Idéia do bem (divindade, 
 10
demiurgo do mundo). O segundo fundamento foi a doutrina da alma. Para ele o homem seria 
animado por três almas: a racional (razão), que contemplaria e queria racionalmente, a colérica 
(vontade ou ânimo), que comandaria a vontade e não queria racionalmente, e a desejante 
(concupiscente ou apetite), que comandaria as necessidades corporais e também não queria 
racionalmente. Assim, (Vasquez, 1989, p. 238 e 239). 
 
Pela razão, como faculdade superior e característica do homem, a alma se eleva – mediante a contemplação – ao 
mundo das idéias. Seu fim último é purificar ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é e sobretudo 
a Idéia do Bem. Para alcançar esta purificação, é preciso praticar várias virtudes, que correspondem a cada uma das 
partes da alma e consiste no seu funcionamento perfeito: a virtude da razão é a prudência; a da vontade ou ânimo, a 
fortaleza; e a do apetite, a temperança. Estas virtudes guiam ou refreiam uma parte da alma. A harmonia entre as 
diversas partes constitui a quarta virtude, ou justiça 
 
 O homem não alcançaria a plena perfeição isoladamente. A Idéia do homem somente se 
realizaria enquanto bom cidadão e no Estado ou comunidade política. Enfim, a Ética assumia 
conseqüência por meio da Política. 
 Platão, por meio da obra A República, projetou a estrutura e hierarquia das almas no 
Estado. Nele cada parte corresponderia a uma classe especial, cumpriria a sua virtude e tarefa e 
declinaria sobre as demais. Assim, (Vásquez, 1989, p. 239). 
 
(...) à razão, a classe dos governantes – filósofos, guiados pela prudência -; ao ânimo ou vontade, a classe dos 
guerreiros, defensores do Estado, guiados pela fortaleza; e ao apetite, os artesãos e os comerciantes, encarregados 
dos trabalhos materiais e utilitários, guiados pela temperança. Cada classe social deve consagrar-se à sua tarefa 
especial e abster-se de realizar outras. De modo análogo ao que sucede na alma, compete à justiça social estabelecer 
na cidade a harmonia indispensável entre as várias classes. E, com o fim de garantir esta harmonia social, Platão 
propõe a abolição da propriedade privada para as duas classes superiores (governantes e guerreiros) 
 
O homem deveria fugir dos excessos. A ênfase excessiva em uma boa ação desencadearia o seu 
próprio contrário, enquanto que boas ações de nada adiantariam frente a práticas ordinariamente 
ruins. A conduta deveria ser forjada pelo hábito de possuir bons costumes e não tanto em realizar 
boas ações. 
O bem é organizar a cidade tendo como base o verdadeiro conhecimento, de forma que as 
funções necessárias à cidade – a satisfação das necessidades básicas dos habitantes, a defesa do 
território e a administração – corresponda às aptidões de cada um – produtores (camponeses e 
 11
artesãos), guerreiros e legisladores. Identificar as aptidões por meio da educação e seleção dos 
homens para as funções permitiria determinar e definir as virtudes particulares, bem como a 
virtude que compreenderia todas elas, qual seja, a justiça como cumprimento da função que 
caberia a cada parte no Estado. E concluiu que “ Os males não cessarão para os homens antes que 
a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder ( Platão apud Abrão, 1999, p. 52 e 53 ). 
A ética de Platão unificava Moral e Política. A perfeição humana, embora tendo o 
indivíduo como ponto de partida, formava-se no Estado e por meio da subordinação do indivíduo 
ao Estado ou comunidade política. Perfeição esta impedida para quem não possuísse vida moral, 
isto é, o escravo. 
 
Aristóteles (séc. IV a. C.) 
 
 A Ética de Aristóteles possuiu como fundamento primeiro o reconhecimento de que os 
únicos indivíduos existentes seriam os indivíduos concretos, isto é, a idéia existe nos seres 
humanos individuais. Aristóteles rompia, assim, com o dualismo ontológico de Platão, o qual 
separa o mundo sensível do mundo das Idéias. Em segundo lugar, compreendia que haveria um 
movimento universal de passagem incessante do que existe em potência ao ato, seja no mundo 
natural, por exemplo, da passagem da semente à planta, seja no mundo social, por exemplo, da 
passagem do homem ao ser humano. Apenas Deus seria ato puro. 
 O homem seria atividade de passagem da potência (homem) ao ato (ser humano). Esta 
passagem deveria se orientar para Aristóteles pelo fim último do homem, qual seja, a felicidade. 
Por tal compreendia-se a atividade humana representada pela vida teórica ou contemplação 
guiada pela razão, que expressaria características elevadas do homem. Atividade humana 
representada pelo prazer e pela riqueza expressariam características baixas do homem. 
 A vida teórica ou contemplação realizaria-se por meio da aquisição de certas formas de 
agir que os homens adquiririam ou conquistariam pelo exercício, de forma a aprimorar a sua 
dimensão racional e conter a sua dimensão irracional. Estas formas de agir seriam virtudes. Elas 
poderiam ser intelectuais, que se operariam na dimensão racional (razão) do homem, e práticas 
ou Éticas, que se operariam na dimensão irracional (não razão) do homem, isto é, nas paixões e 
apetites humanos. 
 12
A felicidade decorreria da natureza racional do homem, porque seria fruto do exercício do 
intelecto no campo moral e porque aspiraria ao que seria razoável. Seria, portanto, uma 
conseqüência da vida contemplativa e sossegada, distanciada das perturbações do cotidiano. Em 
Aristóteles, (Vasquez, 1989, p. 240 e 241). 
 
(...) a virtude consiste no termo médio entre dois extremos (um excesso e um defeito). Assim, o valorestá entre a 
temeridade e a covardia; a liberalidade, entre a prodigalidade e a avareza; a justiça, entre o egoísmo e o esquecimento 
de si. Por conseguinte, a virtude é um equilíbrio entre dois extremos instáveis e igualmente prejudiciais. Finalmente, 
a felicidade que se alcança mediante a virtude, e que é o seu coroamento, exige necessariamente algumas condições - 
maturidade, bens materiais, liberdade pessoal, saúde etc -, embora estas condições não bastem sozinhas para fazer 
alguém feliz 
 
 A Ética de Aristóteles, que tal qual a de Platão, está unida à sua filosofia política, também 
unificou por conseguinte Moral e Política. Para Aristóteles, à medida em que o homem seria um 
ser por natureza social e político, lança mão da moral esclarecida pela virtude. Seu objetivo seria 
realizar o ideal da vida teórica ou contemplativa na qual se basearia a felicidade por meio a 
comunidade política. A vida moral não seria um fim em si mesmo, mas um meio ou condição 
para uma vida verdadeiramente humana, isto é, para a conquista da vida teórica ou contemplativa 
na qual consiste a felicidade. 
A vida moral, que não poderia ser conduzida por um indivíduo isolado, mas pela 
comunidade, também não poderia ser participada por todos. Apenas a minoria de alma superior, 
os aristoi a poderia vivenciar plenamente. Os homens comuns, cujas almas não se encontrariam 
plenamente desenvolvida, a poderiam vivenciar apenas de forma parcial e imperfeita. Quanto aos 
escravos, que não possuiriam almas de homens, mas de escravos, estariam natural e 
completamente excluídos de qualquer vida moral. Daí a glorificação dos regimes políticos 
(aristocracia, monarquia e república), exercidos em última instância pela aristocracia, em 
detrimento dos regimes apolíticos (oligarquia, tirania e democracia), exercidos em última 
instância pelos homens comuns. 
 
Os Neoplatônicos 
 
 13
 Os neoplatônicos definiram a Ética como a busca de afastamento do homem de todas as 
coisas exteriores e do seu reencontro (em seu isolamento) com o Uno (Unidade Divina). A 
prática do bem, à medida que unificaria as ações dos homens e lhes imporia medida e limite, 
aproximaria e assemelharia o homem ao Uno, que seria a unidade da virtude. O propósito da 
conduta humana, portanto, seria o retorno do homem ao seu princípio criador (Unidade Divina), 
de forma a se dissolver nele, na sua perfeição (Abrão, 1999, 91-93). 
 
2.2.1. A Ética do Móvel no Mundo Antigo Ocidental 
 
A Ética do Móvel assumiu na Idade Antiga diversas formas. A sobrevivência e o prazer 
encontravam-se entre aqueles mais presentes. 
 
Os Sofistas (séc. V a. C.) 
 
 Os sofistas condenavam o saber naturalista dos primeiros filósofos (pré-socráticos), 
porque consideravam estéril. Valorizavam o saber a respeito do homem, especialmente o político 
e o jurídico. Saber que deveria ser prático e engajado na vida da Pólis, e não contemplativo e 
desinteressado. 
 A condição dos sofistas de mestres que valorizavam um saber específico e que viviam 
economicamente de ensinar a arte de expor, argumentar e discutir idéias, despertou grande 
oposição em uma parcela importante e renomada de filósofos. Mas esta oposição pode estar 
relacionado, ainda, ao fato de que os sofistas questionaram os fundamentos das tradições, 
situaram o homem no centro de tudo (ante-sala do subjetivismo) e questionaram a existência de 
verdades e normas universalmente válidas (ante-sala do relativismo). 
 Pródico e Protágoras evidenciaram o desejo ou a vontade de sobreviver como o 
mecanismo do móvel que fundaria as normas do Direito e da Moral. O homem conformaria-se a 
tais normas e não poderia agir de outro modo. 
Pródico formulou a sua moral em proposições condicionais ou imperativos hipotéticos calcados 
na sobrevivência. Segundo ele (Pródico apud Abbagnano, 1998, p. 383). 
 
 14
Se quiseres que os deuses te sejam benévolos, deves venerar os deuses. Se quiseres ser amado pelos amigos, deves 
beneficiar os amigos. Se desejares ser honrado por uma cidade, deves ser útil à cidade. Se aspiras a ser admirado por 
toda Grécia, deves esforçar-te por fazer bem à Grécia 
 
 Protágoras concebeu o mundo como o resultado do que o homem faz e desfaz por meio 
dos seus sentidos. Portanto, se houvesse um princípio único, o homem não poderia conhecê-lo. 
Afirma até mesmo a impossibilidade de decidir sobre a existência de seres divinos. Segundo 
Protágoras “ O homem é a medida de todas as coisas (... ) das que são enquanto são, e das que 
não são enquanto não são” ( Protágoras apud Abrão, 1995, p. 38 ) 
Protágoras reconheceu que o respeito mútuo e a justiça seriam as condições para a 
sobrevivência do homem. O conhecimento, estando limitado pelos sentidos, que mudaria de um 
homem para outro, não poderia surgir de uma suposta verdade absoluta, mas de convenções 
(normas) estabelecidas entre os homens. Da mesma forma a organização social e a Política não 
derivariam de um único princípio de justiça, mas de convenções que os homens estabeleceriam 
de acordo com as circunstâncias e as conveniências. O objetivo seria assegurar sobrevivência por 
meio de uma ordem social convencional. 
 
Estóicos 
 
 O estoicismo, com representantes como Zenão de Cítio, na Grécia, e Sêneca e Marco 
Aurélio, em Roma, surgiu no contexto de decadências e ruínas vivenciadas nas experiências 
políticas e morais do mundo greco-romano. Dentre elas destacou-se a perda da autonomia das 
Póleis gregas, com a conseqüente imposição de normas jurídicas e morais dos conquistadores, e a 
organização, desenvolvimento e queda dos Impérios Macedônico e Romano, com a conseqüente 
guerra, anarquia, insegurança, tirania e medo etc. 
 Para o estóico a moral não se definia em relação à Polis, mas ao universo. O problema 
moral foi colocado sobre o fundo da necessidade física, natural do mundo. A física, não mais a 
política, seria a premissa da Ética. 
Para os estóicos o mundo seria um corpo vivo, diferenciado e coeso, determinado por uma 
razão universal presente em tudo. Fatos irracionais que se apresentam aos homens – doenças, 
injustiça, sofrimento, guerras – seriam apenas ilusões oriundas da observação dos fatos em seu 
isolamento, isto é, fora do todo. 
 15
O mundo ou cosmos possuiria Deus como princípio, alma ou razão, sendo que seria o 
próprio Deus que o anima. Deus determinaria tudo, de forma que inexistiria liberdade (nos 
fenômenos humanos) nem acaso (nos fenômenos físicos). 
Conhecer o mundo seria apreendê-lo em sua dimensão de corpo vivo e de logos por meio 
da relação entre a natureza corpórea das coisas e a razão. Assim, o mundo em sua dimensão 
corpórea poderia ser apreendido pelas sensações e pelas representações racionalmente 
construídas sobre ele, isto é, nas representações, as formas corpóreas e o pensamento sobre as 
formas corpóreas, coincidiriam (Abrão, 1999, p. 74-76). 
As normas de conduta humana em prol da felicidade seriam deduzidas da natureza 
racional e perfeita da realidade. Daí a sua máxima “viver segundo a razão”. Caberia ao homem 
sábio reconhecer que o mundo seria regido por uma necessidade radical, que todos os homens 
estariam submetidos a um destino e que restaria aceitar o seu destino e agir consciente dele. 
 O bem supremo para o homem seria, portanto, viver de acordo com a natureza, isto é, por 
meio da razão tomar consciência do nosso destino e de nossa passagem no universo, sem se 
deixar levar por paixões ou afetos interiores ou pelas coisas exteriores. Cultivar a apatia e a 
imperturbabilidade com relações às paixões e reveses do mundo e conquistar a sua liberdade 
interior e autarquia (auto-suficiência) absoluta, é o que deveria definir a conduta moral. 
A conduta moral estóica, portanto,independia do Estado ou comunidade política. Nela o 
homem convertia-se em um cidadão do cosmos, não da Pólis (Vasquez, 1989, p. 242). 
 
Epicuristas 
 
 O epicurismo, com representantes como Epicuro, na Grécia, e Tito Lucrécio Caro, em 
Roma, surgiu no mesmo contexto histórico em que surgiu o estoicismo. 
 Os epicuristas também partiam da idéia de que a moral não mais se definia em relação à 
Polis, mas em relação ao universo. Também para eles a física, não mais a Política, seria a 
premissa da Ética. Tudo o que existe (a alma e as formas da matéria) seria formada por átomos 
materiais que possuiriam um certo grau de liberdade, na medida em que se poderiam desviar-se 
ligeiramente na sua queda. 
 16
Os fenômenos físicos e humanos não seriam determinados por qualquer intervenção 
divina. Os homens não teriam porque temer os deuses e poderiam e deveriam fugir da dor e 
buscar o prazer. 
 O móvel da conduta humana seria o prazer. Embora houvesse diversos prazeres, nem 
todos seriam igualmente bons. Haveriam prazeres fugazes e imediatos, que seriam os corporais, e 
os duradouros e estáveis, que seriam os espirituais. 
 Os prazeres espirituais seriam os que contribuiriam para a paz da alma e a auto suficiência 
(autarcia) do ser. Eles poderiam ser alcançados pelo homem que se retirasse da turbulência social, 
que reconhecesse a si mesmo, que superasse o temor do mundo sobrenatural e que compartilhasse 
o diálogo no jardim com um grupo de amigos. 
A Ética epicurista também dissolveu a unidade entre a moral e a política presente nos 
sofistas, em Platão e em Aristóteles. A moral não mais se realizaria no Estado ou comunidade 
política, mas no indivíduo que recolhesse em si mesmo; e que se distanciasse da turbulência do 
mundo. 
 Aristipo evidencia que o móvel primordial da conduta humana seria o prazer. Por 
conseqüência o móvel secundário e correlato da conduta humana seria a fuga da dor. 
Compreendia que somente o prazer seria desejado por si mesmo desde a infância sem uma 
vontade deliberada. Quando o homem o alcançasse, não procuraria outra coisa (Abbagnano, 
1995, p. 383 e 384). 
 Epicuro realça que a felicidade seria prazer enquanto satisfação de desejos físicos. Mas, 
como o prazer e a dor compõe a existência, seria necessário buscar um prazer comedido e 
constante, por meio do desejo saciado e do equilíbrio entre as partes do organismo. 
 A conduta humana fundada no equilíbrio, na tranqüilidade, na amizade, na auto-
suficiência, no destemor (da morte e dos deuses), representaria um remédio para enfrentar a 
solidão e a insegurança de nossas vidas de qualidade superior àqueles que os vínculos da vida 
política poderia proporcionar. Assim, seria possível ser feliz mesmo sob a pobreza material, a 
guerra, a perseguição política, a doença, enfim, sob qualquer circunstância da existência humana. 
 Epicuro buscou fundar uma Ética que permitisse a cada homem descobrir que ele pode se 
libertar das imposições da necessidade, do destino e dos deuses. Enfim, que enquanto senhor de 
si mesmo, livre dos constrangimentos da existência, pode e deve buscar ser feliz. Segundo 
 17
Epicuro “ Quem compreendeu que nada há de temível no fato de estar morto, a nada temerá na 
vida” ( Epicuro apud Abrão, 1999, p. 74 ). 
 
2.3. O Mundo Medieval Ocidental e a Ética 
 
 O Mundo Medieval Ocidental articulou-se a partir de uma formação social e econômica 
senhorial e feudal. Esta formação teve origem no interior do Baixo Império Romano por meio da 
ruralização da sua população, do retrocesso demográfico, do esvaziamento do comércio, do 
refluxo monetário, das guerras civis e das invasões. 
Entre os séculos VI e VII a formação social e econômica senhorial e feudal se consolidou. 
A escravidão deu lugar a servidão; a sociedade escravista deu lugar a sociedade medieval como 
um sistema de dependências e de vassalagens estratificado e hierárquico; a unificação econômica 
e política romana deu lugar a fragmentação econômica e política na forma de unidades 
autárquicas feudais ou comunas urbanas; a moral e a Ética racionalista e escravista deu lugar a 
uma moral e a uma Ética profundamente condicionada por meio de elementos religiosos. 
 A crise do poder temporal com o fim do Império Romano do Ocidente e o advento dos 
inconstantes e instáveis reinos romano-germânicos, a insegurança provocada pelas invasões, 
doenças e fome e a expansão do poder espiritual por meio do crescimento organizativo, 
doutrinário e econômico da Igreja, geraram um ambiente favorável para o desenvolvimento de 
uma nova subjetividade. As interpretações do mundo de cunho natural e social deslocou-se da 
natureza e do homem para Deus; da razão para a fé; da Filosofia para a Teologia, e da vida social 
concreta para os dogmas religiosos. De forma a coroar a nova subjetividade o poder temporal 
passou a estar atrelado ao poder espiritual. 
 No mundo medieval ocidental desenvolveu-se uma Moral feudal e cristã. A Igreja, 
concebida como instrumento de Deus e ordenadora do poder espiritual, e a aristocracia feudal, 
concebidos como homens de linhagens e ordenadores do poder temporal, foram os arquitetos da 
referida Moral. 
 A aristocracia feudal concebia-se como possuidora, por natureza, de uma serie de 
qualidades morais elevadas que a distinguiam dos homens comuns e dos servos. A aristocracia 
não teria que provar estas qualidades, apenas vivenciá-las. Edificou-se a Moral cavalheiresca, 
exaltadora da guerra, do ócio e das virtudes cavalheirescas (cavalgar, desenvolver habilidades 
 18
com as armas, apreender técnicas e táticas militares e tecer loas à mulher amada) e cultuadora da 
honra, da coragem e da valentia. Moral que também acomodava e legitimava práticas como a 
crueldade (no trato com os servos, com os vencidos nas guerras etc), a hipocrisia, a traição, o 
direito de pernada etc. 
 A Igreja edificou a Moral monástica, exaltadora da humildade, da pobreza e da 
contemplação divina. Moral que também acomodava, na esfera privada, práticas como a gula, o 
fausto, a felonia, a luxuria. 
 Os servos e os homens livres das cidades (artesãos, mercadores etc), embora reconhecidos 
pela Igreja e pela aristocracia como possuidores do direito a vida e reconhecidos como seres 
humanos, não foram reconhecidos como possuidores de uma vida moral. Todavia, almejavam 
liberdade e independência pessoal; cultivavam laços de ajuda mútua e de solidariedade; e 
estabeleceram uma relação íntima com o meio natural (especialmente a terra) e o trabalho, 
expresso por meio de um universo simbólico e ritualístico diversificado. Estes anseios foram 
projetados na perspectiva do paraíso, isto é, do mundo de liberdade e de igualdade alcançável na 
esfera do mundo sobrenatural, divino. 
 
2.3.1. Ética Religiosa 
 
 A Ética cristã partia de um conjunto de verdades reveladas ao homem por Deus. Estas 
verdades definiriam Deus como criador do homem e do mundo, das relações que o homem 
deveria manter com Deus e da vida moral para que os homens pudessem alcançar a salvação no 
outro mundo. 
 Deus seria um ser pessoal, bom, onipresente, onisciente e onipotente. Deus seria o fim 
último, bem superior e valor supremo do homem, alcançado por meio da obediência e do 
cumprimento dos seus mandamentos. A essência da felicidade (a beatitude) seria a contemplação 
de Deus. Deus encontraria-se acima da sociedade e do Estado ou comunidade política; o amor 
divino acima do amor humano; e a ordem sobrenatural acima a ordem natural. 
 A doutrina cristã das virtudes incorporaria as virtudes morais fundamentais - que seriam a 
prudência, a fortaleza, a temperança e a justiça; as virtudes de escala humana voltadas para a 
regulação das relações entre os homens - que seriam orespeito, o trato e a responsabilidade; e as 
virtudes supremas ou teológicas - que seriam a fé, a esperança e a caridade. As virtudes de escala 
 19
divina seriam, portanto, superiores e voltadas para a regulação das relações entre Deus e os 
homens. 
 A conduta humana de acordo com as virtudes cristãs permitiria ao homem, após a sua 
morte (no e para o mundo), elevar-se para a ordem divina e sobrenatural, onde encontraria a vida 
plena, a imortalidade, a felicidade, a perfeição. A Ética cristã introduziria no universo humano a 
idéia de igualdade entre os homens – visto que todos seriam iguais perante Deus e efetivamente o 
seriam entre si no paraíso – e a idéia de justiça – visto que não haveria opressão, domínio ou 
exploração no paraíso. Mas, contraditoriamente, justificaria a desigualdade e a injustiça no 
mundo real, visto que concebia a igualdade e a justiça como somente possível no mundo 
sobrenatural. O mundo humano, que seria um mundo fundado e permeado pelo pecado, e de onde 
decorreria a dor, o sofrimento, a guerra, a exploração, não poderia dar lugar a igualdade e a 
justiça. Conforme Vasquez, ( 1989, p. 245). 
 
(...) o cristianismo deu aos homens, pela primeira vez, incluindo os mais oprimidos e explorados, a consciência da 
sua igualdade, exatamente quando não existiam as condições reais, sociais, de uma igualdade efetiva, que – como 
hoje sabemos – passa historicamente por uma série de eliminações de desigualdades concretas (políticas, raciais, 
jurídicas, sociais e econômicas). Na Idade Média, a igualdade só podia ser espiritual, ou também uma igualdade para 
o amanhã num mundo sobrenatural, ou ainda uma igualdade efetiva mas limitada no nosso mundo real a algumas 
comunidades religiosas 
 
A Ética religiosa cristã medieval tendeu, enfim, a regular a conduta humana tendo Deus 
como fim, bem e valor supremo. Para esta Ética a vida moral se realizaria plenamente somente 
quando o homem alcançasse a ordem sobrenatural. 
 
2.3.2. Ética do Fim no Mundo Medieval Ocidental 
 
 A Ética do fim manifestou-se por meio de diversos teólogos medievais. Dentre eles 
destacou-se Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. 
Para Santo Agostinho a purificação da alma e a sua crescente libertação possuía como 
itinerário a sua elevação até Deus. Tal processo culminaria no êxtase místico ou felicidade, que 
somente poderia ser alcançado no mundo divino. Santo Agostinho valorizava neste processo a 
experiência pessoal, a vontade, o amor, a interioridade (Vasquez, 1989, 246). 
 20
 Para Santo Tomás de Aquino Deus seria o objetivo ou fim supremo do homem. A sua 
Ética foi deduzida deste ponto de partida. A conduta Ética seria a busca da felicidade e da virtude 
humana como encontro com Deus por meio da razão e da fé. 
A posse de Deus provocaria gozo ou felicidade, que seria um bem subjetivo. A 
contemplação (ou conhecimento) do mundo físico e do mundo espiritual seria o meio mais 
adequado para alcançar o objetivo ou fim supremo, visto que se estaria conhecendo a obra e o 
amor de Deus. 
A Ética do fim de Santo Tomás de Aquino foi uma retomada da Ética neoplatônica de 
Plotino, em que pese o fato de que ambos decorrem de doutrinas filosóficas distintas, 
respectivamente, Platão e Aristóteles. Isto porque tanto Plotino quanto Santo Tomás de Aquino 
determinaram a natureza necessária do homem e porque deduziram de tal natureza o fim para o 
qual a conduta do homem deveria orientar-se. 
 Santo Tomás de Aquino reconheceu o homem como um ser social ou político. No tocante 
às formas de governo inclinou-se para uma monarquia moderada, embora considerasse que todo 
o poder derivasse de Deus e o poder supremo coubesse a Igreja. 
Para Santo Tomás de Aquino o rei não poderia descumprir as leis, nem atentar contra a 
vida dos súditos. Estes, por sua vez, poderiam resistir ao rei tirano por meio das leis e dos 
tribunais, mas jamais pelas armas (Vasquez, 1989, p. 246). 
 
2.3.3. A Ética do Móvel no Mundo Medieval Ocidental 
 
Na Idade Média a Ética do móvel encontrou-se ausente. Esta ausência decorreu, de um 
lado, da concepção de um mundo que seria sobre-determinado por Deus, de forma que não 
haveria livre-arbítrio ou poder de interferência humana na realidade. De outro, a presença da 
concepção de que a razão, concebida como fruto da graça de Deus, existiria tão somente para que 
o homem pudesse alcançar Deus. 
Não houve no Mundo Medieval Ocidental, portanto, espaço para o florescimento de 
concepções filosóficas fundadas na Ética do móvel. O seu ressurgimento demandou a superação 
da cultura e mentalidade medieval da cristandade. 
 
2.4. O Mundo Moderno Ocidental e a Ética 
 21
 
O Mundo Moderno Ocidental articulou-se a partir de uma formação social e econômica 
aristocrática, absolutista e feudal. A revolução urbana e comercial em curso reduzia 
progressivamente a importância da vida rural e das normas da vida cristã tradicional; o crescente 
deslocamento da riqueza da terra para o comércio, a manufatura e o banco e as revoltas 
camponesas ameaçavam o domínio aristocrático; o espírito racionalista, humanista, investigador 
e manipulador, era responsável pelo abalo dos alicerces da Igreja Católica. Estes processos 
determinavam a necessidade de um redesenho da ordem aristocrática. 
No plano social, no início dos tempos modernos, uma ordem social aristocrática fundada 
nas linhagens, no nascimento e nas ordens sociais foi reformulada e reposta durante a vigência do 
chamado Antigo Regime. Ao final dos tempos modernos, após um longo processo em que o novo 
emergiu permanentemente, a ordem social do Antigo Regime (fundada na sociedade de ordens, 
no Estado absolutista e no mercantilismo) deu lugar a uma ordem social do liberalismo (fundada 
na divisão da sociedade em classes econômicas, na universalidade dos direitos civis e na livre 
iniciativa). 
No plano político, a fragmentação política e administrativa medieval deu lugar a 
centralização política e administrativa por meio da criação dos Estados nacionais modernos. 
Emergiu o Estado aristocrático, absolutista e feudal como uma gigantesca máquina política, fiscal 
e militar para fazer frente a uma dupla ameaça. De um lado, a burguesia em ascensão econômica 
e moral, mas pressionada pelos impostos e impedida de compor as funções burocráticas civis e 
militares do Estado, salvo funções ministeriais delegadas pelo rei. De outro lado, os camponeses 
em rebelião contra o monopólio da terra, as obrigações aristocráticas e clericais (em produção, 
trabalho ou dinheiro) e os impostos, totalmente impedidos de qualquer participação e decisão 
política. O Estado constituía-se, enfim, em um instrumento para recolher parte da riqueza 
burguesa (e das camadas populares) e redistribuí-lo em favor da aristocracia e para preservar a 
extração da renda da terra gerada pelos camponeses, também em favor da aristocracia. 
E, ao final dos tempos modernos, a burguesia estendeu o seu domínio econômico à esfera 
política por meio das revoluções burguesas. O objetivo era imprimir uma nova qualidade ao 
processo de transformação da sociedade à sua imagem e semelhança. 
 No plano econômico, ocorreu a chamada acumulação primitiva de capital, isto é, o 
processo de criação das condições para a consolidação das relações capitalistas de produção por 
 22
meio da separação do produtor direto dos meios de produção (cercamento dos campos com a 
expropriação/proletarização camponesa) e da centralização do capital (capital-moeda, meios de 
produção etc) e dos recursos naturais (terra, florestas etc) nas mãos da burguesia e da aristocracia 
aburguesada. Dessa forma foi, possível transformar em dominante a arregimentação da força de 
trabalho por meio do assalariamento ea conseqüente extração do sobre-trabalho na forma da 
mais-valia. 
A acumulação primitiva de capital, além de lançar as bases do predomínio das relações 
capitalistas de produção, proporcionou diversas formas de arregimentação de capital na Europa 
Ocidental, a exemplo do Antigo Sistema Colonial, do tráfico de escravos, da pirataria etc. A 
acumulação primitiva de capital também teve um grande impulso graças ao desenvolvimento 
científico que se concretizou na constituição da ciência moderna para a qual concorreu Galileu, 
Newton, Descartes, entre outros. 
 No plano ideológico-cultural, a religião deixou de ser a forma ideológica dominante e a 
Igreja Católica perdeu a sua condição de guia espiritual. De um lado, ocorreu a separação daquilo 
que a Idade Média havia unificado: a razão separou-se da fé (e a filosofia, da teologia); a natureza 
separou-se de Deus (e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); o Estado separou-se da 
Igreja (e as doutrinas políticas, dos preceitos sacros); e o homem separou-se de Deus (e a 
humanidade constituída de autarcia, livre-arbítrio e poder transformador, da determinação 
divina). De outro lado, ocorreu a afirmação do humanismo individualista burguês, de forma a 
consolidar a idéia de homem autárquico, constituído de livre arbítrio e que manipularia a 
realidade em favor dos projetos econômicos, políticos e sociais de caráter pessoal, e a harmonizar 
esta idéia com a idéia de que a livre iniciativa de todos convergiria para uma integração e 
satisfação de todos, tão bem expressa pela metáfora da mão-invisível de Adam Smith. 
A moral burguesa emergida da acumulação primitiva de capital opôs-se a moral 
aristocrática então dominante. A moral burguesa valorizava o trabalho, a liberdade, a iniciativa 
pessoal (individualismo), a riqueza, e condenava o fausto, o ócio, a libertinagem nos costumes, o 
parasitismo, as práticas e artes da guerra etc, legítimos à moral aristocrática. 
 O homem do projeto ideológico-cultural burguês em consolidação deveria ser livre das 
amarras normativas morais, jurídicas e políticas. O homem concreto e o homem artificial 
(comunidade política) passou a ter como referências fundamentais a idéia de livre arbítrio na 
relação homem/Deus, a estrutura jurídico-político-militar do Estado como pré-condição da defesa 
 23
dos direitos naturais (a vida, a liberdade e a propriedade) e a condição social humana como 
decorrente do talento e do mérito de cada um. 
 O homem foi revalorizado em sua dimensão pessoal, racional e sensível, e foi concebido 
como dotado de vontade e iniciativa. Afirmaria o seu valor por meio da política, concebida como 
manifestação essencialmente humana, da qual o homem determinaria o seu devir histórico, e da 
nova ciência e da natureza, manipuladas como instrumentos da geração do valor etc. 
 O homem moderno percebeu-se no centro da Política, da Ciência, da Arte e da Moral. Tal 
percepção libertou a Ética dos pressupostos teológicos medievais e a fez crescentemente 
antropocêntrica, embora ainda convivesse com um homem tratado por vezes de maneira abstrata 
e possuidor de uma natureza universal e imutável. 
 
2.4.1. O Mundo Moderno Ocidental e a Ética do Fim 
 
Na Idade Moderna a Ética do fim assumiu novos sentidos. A conseqüência foi a 
incorporação/superação de sentidos precedentes. 
 
Neoplatonismo Moderno 
 
 Os neoplatônicos de Cambridge retomaram a concepção estóica de que a ordem 
identificada no universo deveria também ser buscada para dirigir a conduta do homem. 
Reconduziram, portanto, o caráter inatos das idéias morais, como em geral de todas as idéias ou 
diretivas da condução do homem (Abbagnano, 1998, p. 381). 
 
Romantismo Alemão 
 
 A Filosofia romântica levou a concepção do caráter inato das idéias morais a um plano 
mais radical. Fichte, por exemplo, concebeu a doutrina moral como sendo deduzida da 
autodeterminação do Eu infinito. Assim, o Eu empírico deveria buscar por meio do processo de 
sua libertação progressiva ad infinitum - libertação dos limites impostos por sua existência 
material e social concreta e que não se completaria definitivamente - alcançar o Eu infinito. Dessa 
forma, seria possível transcender as limitações do Eu empírico (Abbagnano, 1998, p. 381). 
 24
 
 
Hegel 
 
Hegel, também seguindo o caminho dos românticos alemães, compreendia o processo 
histórico como manifestação do Espírito Absoluto, isto é, como manifestação do Espírito 
Absoluto em progressão, sob um contexto rico de determinantes e de contradições. Espírito 
Absoluto que se apresentaria em uma dimensão objetiva (Estado ou sociedade política), cujo 
plano orientaria-se pela universalidade e pelo mediato, e uma dimensão subjetiva (sociedade civil 
ou os homens em sua vida privada), cujo plano orientaria-se pelo particular e pelo imediato. 
Para Hegel o objetivo da conduta humana seria buscar a integração e perfeição expresso 
no Estado, instituição que seria a “totalidade Ética”, Deus que se realizava no mundo. A Ética 
seria, portanto, a Filosofia do Direito (Abbagnano, 1998, p. 381 e 382). 
O Estado seria o ápice do que ele denomina “eticidade”, isto é, da moralidade que 
ganharia corpo e substância nas instituições historicamente construídas e que a garantiriam, 
enquanto que a “moralidade” por si mesma seria simplesmente intenção ou vontade subjetiva do 
bem. Mas, por sua vez, o bem seria a essência da vontade em sua substancialidade e 
universalidade, isto é, a liberdade realizada, o objetivo final e absoluto do mundo, ou seja, o 
próprio Estado. 
Para Hegel a moralidade seria a intenção ou a vontade subjetiva de realizar o que se acha 
realizado no Estado. Esta Ética seria, portanto, sistêmica e estadolatra, sendo o conceito de 
Estado o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada. 
 
2.4.2. O Mundo Moderno Ocidental e a Ética do Móvel 
 
Na Idade Moderna a Ética do móvel foi retomada no renascimento e se prolongou até o 
século XVIII. De certa forma, foi uma decorrência da revalorização da razão, da liberdade e da 
escolha humana. 
 
Individualismo Possessivo 
 
 25
A Ética do móvel apresentou uma oscilação entre a tendência de conservação e a 
tendência ao prazer como a sua base moral. Todavia, não houve grandes contradições ou 
premissas muito distintas, visto que o próprio prazer foi um indicador emocional das situações 
favoráveis à conservação. 
 Telésio e Lorenzo Valla expressaram a Ética do móvel sem, contudo, avançá-la em 
relação ao Mundo Antigo Ocidental. Telésio afirmou que o homem extrairia as normas da Ética 
do desejo de conservação (sobrevivência), enquanto Lorenzo Valla afirmou que o prazer seria o 
único fim da atividade humana e que a virtude consistiria em escolher o prazer (Abbagnano, 
1998, p. 384). 
 
Hobbes 
 
 Hobbes identificou-se sob alguns aspectos com Telésio à medida que reconheceu como o 
principal dos bens a auto conservação humana. Mas o ultrapassou sob outros aspectos. 
Hobbes partiu da compreensão de que os homens não seriam irmãos. Mas inimigos que 
poderiam matar uns aos outros. Isto porque a natureza provia a que todos os homens desejassem 
o seu próprio bem, isto é, a vida, a saúde e a segurança, em detrimento dos demais. Isto colocaria 
os homens em constante conflito entre si. 
Cansados da guerra e da escassez, os homens almejariam a paz, a segurança e a cooperação. Daí 
a necessidade que os próprios homens teriam sentido de estabelecer uma esfera pública por meio 
de um pacto, de forma a deter os impulsos auto-centrados que os moviam. Um pacto, (Hobbes 
apud Abrão, 1999, p. 238). 
 
(...) como se cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este 
homem,ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira 
semelhante todas as tuas decisões 
 
A Ética do móvel em Hobbes também partiu do princípio de conservação que existe em cada 
homem e que poderia ser despertada pelo medo e pela razão. Deduzia deste entendimento os 
fundamentos da moral e do direito. E concluiria: (Hobbes apud Abrão, 1999, p. 233 e 234) 
 
 26
E assim cheguei ao fim de meu discurso sobre o governo civil e eclesiástico, ocasionado pelas desordens dos tempos 
presentes, sem parcialidade, sem servilismo, e sem outro objetivo senão colocar diante dos olhos dos homens a 
mútua relação ente proteção e obediência, de que a condição da natureza humana e as leis divinas (...) exigem um 
cumprimento inviolável 
 
Espinosa 
 
Espinosa fundou a sua Ética do móvel na idéia de que Deus seria imanente, que faria-se 
presente em todas as substâncias; que o mundo seria constituído de infinitos modos dos atributos 
que estão em Deus. Causa e efeito, homem e natureza, matéria e pensamento estariam, portanto, 
em Deus. 
 Deus, causa de si, livre e imanente, produziria a si mesmo e, com isso, todas as coisas que 
são modos de seus infinitos atributos. A auto-produção de Deus, por ser perfeito e pleno, 
efetivaria-se na eternidade, isto é, ocorreria fora do tempo e seria sempre atual. 
 Espinosa contrapunha-se, portanto, à idéia de Deus transcendente, que separaria Deus e 
mundo como duas substâncias. Para Espinosa, a idéia de Deus como senhor e soberano, superior 
a tudo e separado de todos (transcendente), seria a origem e justificativa das formas de poder 
político que submetiam e dominavam os homens. Seria também a origem do temor dos homens 
mediante os desejos do corpo, da moralidade cerceadora do prazer e da alegria e da vigilância 
sobre o pensamento. Segundo Espinosa, (Espinosa apud Abbagnano, 1998, p. 384). 
 
A razão nada exige contra a natureza, mas exige por si mesma, acima de tudo, que cada um ame a si mesmo, que 
procure aquilo que seja realmente útil para si, que deseje tudo o que conduz o homem à perfeição maior e, de modo 
absoluto, que cada um se esforce, no que estiver a seu alcance para conservar o próprio ser. O que é necessariamente 
tão verdadeiro quanto é verdadeiro que o todo é maior que a parte 
 
 O senso de agir de acordo com a natureza e a liberdade dirigiu a Ética de Espinosa 
também para a Política. Para Espinosa a luta entre os homens por sua auto-preservação e pelo 
domínio sobre os outros homens determinaria o surgimento do Estado. Todavia, o Estado, que 
seria oriundo da violência entre os homens e que seria também violência cerceadora da violência 
que o teria originado, poderia desembocar em tiranias e revoluções, isto é, violência que 
ameaçaria a existência dos indivíduos. 
 27
 A conduta social deveria se orientar pela criação de condições da estabilidade da Política 
e do Estado. Para tanto, seria necessário assegurar a liberdade de pensamento e expressão, separar 
o Estado da religião, renovar as funções públicas por meio de eleições e permitir o acesso do 
povo às armas. 
 
Locke 
 
 A Ética do Móvel em Locke partiu da idéia de que os homens viriam ao mundo como 
uma folha de papel em branco. As idéias seriam o resultado das experiências vividas, isto é, da 
trama estabelecida entre o padrão cultural vigente em uma sociedade e as escolhas e opções 
realizadas pelos homens. 
 A Ética do Móvel em Locke incorporou uma determinada leitura da Política. Para Locke 
os homens seriam livres, iguais e independentes por natureza. O usufruto deste estado de natureza 
por cada homem, todavia, não poderia agredir o usufruto deste mesmo estado pelos homens. 
A existência de homens que não se conteriam sobre os limites próprios a cada um no 
usufruto dos direitos e circunstâncias do estado de natureza – homens insensatos e irracionais, 
portanto, depravados – criaria um ambiente que ameaçaria a vida, a liberdade e a propriedade dos 
homens bons. Estes seriam levados a renunciar a liberdade natural contido no estado de natureza, 
de forma a entregá-la ao corpo político (governo). Locke compreendia que (Locke apud 
Abbagnano, 1998, p. 384). 
 
(...) Deus estabeleceu um laço entre a virtude e a felicidade pública, tornando a prática da virtude necessária à 
conservação da sociedade humana e visivelmente vantajosa para todos os que precisam tratar com as pessoas de 
bem, não é de surpreender que todos não só queiram aprovar essas normas, mas também recomendá-las aos outros, já 
que estão convencidos de que, se as observarem, auferirão vantagens para si mesmos 
 
A finalidade deste corpo político seria concentrar o direito de julgar e castigar os crimes, 
de forma a assegurar à comunidade e a cada um dos seus membros a segurança, a vida, o 
conforto, a propriedade e a paz. 
 
Hume 
 
 28
 No final da Idade Moderna, mais precisamente na segunda metade do século XVIII por 
meio de David Hume, a Ética do móvel passou a exprimir uma nova tendência. Tendência que se 
constituiu na defesa de uma Ética altruísta em reação ao individualismo possessivo. 
Para Hume o fundamento da moral deveria ser a utilidade para o bem comum, isto é, a 
boa ação do homem seria a ação útil tendo em vista a felicidade e satisfação da sociedade. Como 
ação útil corresponderia a uma necessidade ou tendência natural e inclinaria a todos os homem a 
promover a felicidade dos seus semelhantes. 
 Para Hume razão e sentimento constituiriam a moral. Enquanto a razão nos esclareceria a 
cerca das diversas direções possíveis da nossa ação, o sentimento de humanidade nos permitiria 
escolher, entre as diversas direções da nossa ação, aquela ação que seria útil e benéfica para 
promover a felicidade e satisfação da sociedade. A tendência para a conquista do prazer por meio 
da felicidade do próximo seria o fundamento da moral; seria o móvel fundamental da conduta 
humana. 
 
Kant 
 
 Kant, tendo em vista o conhecimento, centrou no sujeito a relação sujeito-objeto. O que o 
sujeito conhece seria o produto da sua consciência. 
 Esta relação também estava presente na abordagem da Moral. Kant concebia o homem 
como um sujeito cognoscente ou ativo moral. O sujeito, que seria consciência moral, daria a si 
mesmo a sua própria lei. 
 A Ética de Kant parte do fato da moralidade. Este fato (moralidade) implicaria na 
responsabilidade do homem sobre os seus atos e na consciência do seu dever. Todavia, esta 
consciência implicaria admitir que o homem seria livre. Assim, (Vasquez, 1989, 249). 
 
(...) dado que o homem como sujeito empírico é determinado casualmente e a razão teórica nos diz que não pode ser 
livre, é preciso admitir então, como um postulado da razão prática, a existência de um mundo da liberdade ao qual 
pertence o homem como ser moral 
 A moralidade implicava na questão do fundamento da bondade dos atos. A resposta de 
Kant foi que (Kant apud Vasquez, 1989, p. 143). 
 
 29
Nem no mundo nem também, em geral, fora do mundo é possível conceber alguma coisa que possa 
considerar-se boa sem restrições, a não ser unicamente uma boa vontade (...). A boa vontade não é boa 
pelo que possa fazer ou realizar, não é boa por sua aptidão a alcançar um fim que nos propuséramos; é boa 
só pelo querer, isto é, é boa em si. Considerada por si só, é, sem comparação, muitíssimo mais valiosa do 
que tudo o que poderíamos obter por meio dela 
 
 Para Kant a boa vontade seria o agir por puro respeito ao dever, seria a sujeição do 
homem à lei moral. A boa vontade seria, portanto, um mandamento incondicional, universal e 
absoluto, isto é, um mandamento a que todos os homens, durante todo o tempo e em qualquer 
período histórico,circunstâncias e condições deveriam cumprir. Esse mandamento, denominado 
por “imperativo categórico”, foi recomendado por Kant como fórmula de aplicação na vida 
prática por meio da máxima “age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir 
se torne uma lei universal”. 
 Para a Ética de Kant o homem teria que ser reconhecido como fim. Ele agiria por puro 
respeito ao dever e obedeceria apenas a sua consciência moral. Assim, todos os homens seriam 
fins em si mesmos e, como tais, formariam parte do mundo da liberdade ou do reino dos fins. 
Seria imoral o mundo concreto que reduz o homem a um meio (fator de produção, mercadoria 
etc) e que eleva os meios a um fim (capital, poder político etc). Esta Ética possuiu, portanto, um 
profundo conteúdo humanista e moral. Assim, (Vasquez, 1989, p. 250). 
 
A ética kantiana é uma ética formal e autônoma. Por ser puramente formal, tem de postular um dever para todos os 
homens, independentemente da sua situação social e seja qual for o seu conteúdo concreto. Por ser autônoma (e 
opor-se assim às morais heterônomas nas quais a lei que rege a consciência vem de fora), aparece como a 
culminação da tendência antropocêntrica iniciada no Renascimento, em oposição à ética medieval. Finalmente, por 
conceber o comportamento moral como pertencente a um sujeito autônomo e livre, ativo e criador, Kant é o ponto de 
partida de uma filosofia e de uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou criador 
 
 
2.5. O Mundo Contemporâneo Ocidental e a Ética 
 
Na Europa do final do século XVIII consolidaram-se a sociedade burguesa e o capitalismo 
por meio, respectivamente, da Revolução Burguesa e da Revolução Industrial. 
 30
 A Revolução Burguesa, iniciada por meio da Independência dos Estados Unidos (1776) e 
da Revolução Francesa (1789), evidenciou a crise de hegemonia aristocrático-feudal. Todavia, a 
ascensão da burguesia à condição de classe dominante não foi acompanhado, imediatamente, pela 
construção da sua hegemonia. A resistência aristocrática, de um lado, e a presença do movimento 
proletário com a bandeira vermelha, de outro, despertou o temor da burguesia e da sua 
representação política. Decorreu deste quadro as formas de regime e de governo não republicano 
tendo em vista assegurar o domínio burguês – o consulado, o I e II Impérios na França; a 
Monarquia Parlamentar Constitucional na Inglaterra; o fascismo na Europa do Século XX, 
etc. 
Após as Revoluções de 1848 (A Primavera dos Povos) a burguesia buscou um acordo 
definitivo com a aristocracia e abandonou qualquer veleidade revolucionária. A bandeira tricolor 
foi abandonada definitivamente. 
 A economia mercantil tornou-se afinal uma economia capitalista. Um mercado de tipo 
especial se formou: um mercado que não hesitava em recrutar como trabalhadores o exército de 
homens livres, sem trabalho e sem meios de sobrevivência, que vagava pela Europa, em 
conseqüência das mudanças sociais advindas com o cercamento dos campos. O mercador 
transformou-se, portanto, em capitalista quando, enfim, passou a converter a força de trabalho em 
mercadoria, assalariá-la sob contrato de trabalho e submetê-la a uma intensa espoliação 
econômica. Este foi um passo único na história da humanidade. 
 A partir daí, as paisagens transformaram-se rapidamente: primeiramente chaminés, trens, 
ruas, edifícios, movimento; mais tarde complexos industriais e comerciais, metrópoles, nova 
revolução nos transportes, telecomunicações. As grandes cidades multiplicaram-se. O rural foi 
urbanizado. Estabeleceram-se novas relações entre os homens, a natureza e os objetos 
(coisificados). 
 O capitalismo concorrencial e de livre iniciativa, que nasceu com a Revolução Industrial, 
se esgotou no final do século XIX. O capitalismo monopolista, por sua vez, nasceu a partir de 
então e se estendeu aos dias atuais. Dessas mudanças surgiu a crise do liberalismo, isto é, da 
concepção, teoria e ideologia valorizadora da iniciativa individual, do livre mercado e da 
sociedade contratual como elementos fundamentais das transformações sociais. A crise do 
liberalismo e a competição imperialista deu lugar a ascensão do fascismo, da corrida 
armamentista e das guerras regionais e mundiais. 
 31
Ciência para o capital, razão instrumental e lógica do valor: uma mentalidade marcada 
pela mercantilização do mundo natural e social, pelo espírito de acumulação, pelo individualismo 
assumiu dimensões sem precedentes. Um novo modo de vida, tipicamente burguês e urbano, que 
assumiu uma forma “acabada” no “American way of life”, se impôs em escala mundial. 
 Porém, o capitalismo trouxe no seu próprio ventre as forças sociais e políticas da sua 
contestação: o proletariado. Vivendo em um intenso processo de dominação política, exploração 
econômica e opressão ideológica, esta nova classe começou a travar lutas por melhores condições 
de vida. 
 
Capitalismo e Contestação do Mundo do Trabalho 
 
 As condições de trabalho da classe operária foram as piores possíveis na primeira metade 
do século XIX. Longas jornadas de trabalho, salários aviltantes, trabalho infantil, e assim por 
diante 
 Neste contexto, tendo a Inglaterra como referencia formou-se, no início do século XIX, a 
primeira expressão de uma consciência de classe de cunho economicista e corporativo, o 
Ludismo. A revolta contra o patrão e o desemprego culminaram na destruição de máquinas e 
equipamentos. Mas a violência patronal por meio de grupos armados e leis de Estado que 
condenaram à forca operários presos invadindo fábricas ou destruindo máquinas debelaram estes 
movimentos. 
Posteriormente, teve lugar o Cartismo, que consistiu no envio de cartas e petições para 
que o parlamento se conscientizasse da situação da classe operária e adotasse leis de proteção do 
trabalhador. Embora igualmente economicista e corporativo este movimento possuiu a virtude de 
incorporar a intervenção institucional como forma de luta, sob uma unidade de ação de classe. A 
expansão da indústria moderna, o triunfo ideológico-político da concepção liberal de sociedade e 
o pequeno resultado prático do movimento cartista o esvaziou ao final dos anos 40 do século 
XIX. 
O movimento trade-unionista, isto é, o movimento sindical teve início a partir de meados 
do século XIX. Nascidos das caixas de solidariedade criadas pelos trabalhadores para socorrer 
emergências como enterro, amparar órfãos, socorrer um enfermo, etc, desenvolveu-se enquanto 
organismo de defesa de classe circunscritos fundamentalmente à esfera econômica. 
 32
Por meio destas lutas nasceram e/ou consolidaram o anarquismo moderno e o socialismo, 
doutrinas sociais que criticavam e contestavam a desumanidade do capitalismo. Todas essas 
corrente políticas, denominadas de esquerda, foram radicalmente contra a primazia do lucro sobre 
a vida e o bem-estar do homem. Por isto seus adeptos pensaram em formas de construir uma nova 
sociedade e tentaram colocar estes objetivos em prática. 
 O socialismo real nasceu em lugar aparentemente improvável, a Rússia Czarista, por meio 
da Revolução Russa de 1917. Posteriormente, se estendeu para países e continentes. 
 
Liberalismo, Cidadania e Estado 
 
 A teoria liberal expressou-se como movimento político no processo da Revolução 
Francesa. Sucumbiu uma sociedade política fundada na idéia de mundo ordenado, na forma de 
uma hierarquia divina, natural e social e na organização feudal (pacto de submissão do vassalo ao 
amo). A idéia de direito natural (relações entre indivíduos fundada na liberdade e igualdade 
oriundas do Estado de Natureza) e de contrato social (relações de pacto estabelecidos por 
indivíduos livres e iguais), sucumbiu, também, a idéia da origemdivina do poder e da justiça 
fundada nas virtudes do bom governante. 
 O indivíduo foi concebido como a origem e destinatário do poder político, nascido de um 
contrato social racional e livremente estabelecido, onde as partes cederiam um nível de poder, 
mas não alienariam a sua individualidade contido no Estado de Natureza, isto é, a vida, a 
liberdade e a propriedade. O poder teria a forma ideal e clássica do Estado republicano impessoal, 
no qual o parlamento (poder legislativo), expressão dos interesses dos cidadãos e composto por 
meio do sufrágio, controlaria o governo (poder executivo) e a magistratura (poder judiciário). 
 O Estado, por meio da lei e da força determinados pelos proprietários privados e seus 
representante, foi concebido como instrumento político-institucional-burocrático-militar que 
garante a ordem pública. As suas funções seriam: 1) assegurar o direito natural de propriedade e a 
liberdade dos sujeitos econômicos no mercado por meio de leis e da coação policial-militar; 2) 
arbitrar os conflitos que se desenvolvem no âmbito da sociedade civil por meio das leis e da 
coação policial-militar; e 3) legislar e regulamentar a esfera pública sem, contudo, interferir na 
consciência dos cidadãos. 
 
 33
As Novas Morais 
 
A consolidação da burguesia como classe e a efetivação do seu domínio, em especial a 
partir do século XIX, determinou uma transformação da moral burguesa. Esta moral, que como 
qualquer outra moral conviveu com uma distância entre os seus fundamentos e as práticas sociais 
concretas por ela orientadas e com uma influência direta da moral dominante com a qual 
conflitava, perdeu seus elementos de progressismo moral. A “nova” moral burguesa incorporou 
elementos da velha moral aristocrática como a busca do conforto material, a valorização do ócio 
e do parasitismo social etc, e desenvolveu outros elementos como a dissimulação, o formalismo, 
o cinismo, o chauvinismo, a institucionalização do comportamento humano etc. 
A atuação desta “nova” moral burguesa sob o mundo do trabalho, em especial sobre o 
proletariado urbano, possuiu grande significado. Atuação esta que assumiu um poder estruturador 
e propagador moral ainda maior devido aos processos de alienação e desumanização que o 
trabalhador estava submetido, frutos da tecnologia de produção e dos métodos de planejamento e 
racionalização do trabalho. Além da imposição da perspectiva do conforto burguês (consumismo, 
abastança material etc), do concorrencialismo, do individualismo, da obsessão pelo trabalho, 
observamos mais recentemente a moral cultuadora do corporativismo de empresa (o trabalhador 
como parte da empresa, a empresa com seus símbolos e ritos etc), do compromisso moral do 
trabalhador para com a empresa etc. 
As classes e grupos sociais que compõe o mundo do trabalho também elaboraram a sua 
moral. Por meio da sua experiência social no trabalho, da sua organização político-sindical, das 
suas publicações, das lutas sociais, dos seus intelectuais orgânicos etc, os trabalhadores reuniram 
elementos de conduta moral alternativos como a solidariedade, a progressiva igualdade de gênero 
e étnica, a identidade de classe etc. A homogeneização/unificação destes elementos de conduta 
moral alternativos, viveram fluxos e refluxos na direta relação com as transformações produtivas, 
a intensidade e qualidade da interferência da mídia na sociedade, as formas e qualidades da 
organização das lutas sociais, e assim por diante. 
O Mundo Contemporâneo Ocidental conheceu, ainda, a emergência de concepções 
filosóficas e políticas que incorporava perspectivas de classes e grupos sociais subalternos. A 
contestação da ordem social e econômica, das estruturas de poder, dos padrões culturais, da 
relação com a natureza, eram algumas temáticas provocas pelas referidas concepções. 
 34
No plano filosófico, a Ética contemporânea foi uma reação contra o formalismo kantiano 
e o racionalismo absoluto hegeliano, no sentido de salvar o concreto. Como características gerais 
desta reação podemos identificar: a) a defesa do homem concreto (o indivíduo para o 
existencialismo; o homem social para Marx), em face do formalismo de Kant e do universalismo 
abstrato de Hegel; b) o reconhecimento do irracional no comportamento humano, em face do 
racionalismo absoluto de Hegel; c) a procura da origem da Ética no próprio homem, em face da 
sua fundamentação transcendente (Vasquez, 1989, p. 251 e 252). 
 
2.5.1. O Mundo Contemporâneo Ocidental e a Ética do Fim 
 
Na Idade Contemporânea a Ética do Fim expressou sentidos Éticos tradicionais e novos. 
Novas continuidades e descontinuidades puderam ser observadas. 
 
A Retomada da Ética Tradicional do Fim 
 
Green ateve-se à Ética tradicional. Segundo Green, a consciência infinita, Deus, seria ab 
aeterno, tudo o que o homem teria a possibilidade de vir a ser, ou seja, o Bem ou Fim supremo, 
que seria o objeto da boa vontade humana. Caberia a razão a tarefa de concebê-lo e de colocá-lo 
como fundamento de sua lei. Querer o Bem significaria querer a Consciência Absoluta e 
procurar realizar o que estaria presente nela. 
Croce também ateve-se à Ética tradicional quando admitia que a atividade Ética seria 
“volição do universal”. Universal que seria Espírito; que seria Realidade enquanto 
verdadeiramente real, enquanto unidade de pensamento e vontade; que seria Vida apreendida em 
sua profundidade como unidade; que seria Liberdade enquanto realidade concebida em perpétuo 
desenvolvimento, criação, progresso. Assim, agir moralmente significaria querer o Espírito 
infinito, assumí-lo como um Fim, o que representaria um retorno a Ética (tradicional) do Fim que 
recorria à Realidade ou ao Ser. 
 
Bergson 
 
 35
Bergson buscou uma definição moderna e alternativa da Ética do Fim. Bergson 
distinguiu a moral fechada da moral aberta. Por moral fechada compreendia aquela que 
correspondia aos impulsos naturais de conservar da sociedade. Por moral aberta compreendia 
aquela que correspondia ao movimento fundado na emoção, no entusiasmo e no instinto e que 
expressaria o impulso renovador da conduta humana que coincidia com o impulso criador da 
vida. 
Para Bergson a dualidade de forças representadas pela pressão social e pelo impulso de 
amor seriam manifestações complementares da vida. Estas forças estariam normalmente 
dedicadas à conservação da forma social sobre a qual organizava a sociedade humana desde os 
seus primórdios, mas que também poderiam, excepcionalmente, transfigurá-la por meio de 
indivíduos que expressariam um esforço de desenvolvimento de criação humana. A Ética de 
Bergson seria uma Ética do Fim na medida em que do ideal de renovação moral deduzia a 
existência de uma força destinada a promover essa renovação, assim como do conceito de 
“sociedade fechada” deduzia a noção de moral corrente. 
 
Scheler 
 
Na filosofia contemporânea a noção de valor começou a substituir a de bem, embora 
tenha sido subtraído dele mesmo. A noção de valor incorporou três características, a saber: a) 
objetividade; b) simplicidade (indefinível, indescritível e qualidade sensível elementar); c) 
necessidade ou problematicidade. É necessário que se observe o fato de que as doutrinas Éticas 
que reconheceram a necessidade do valor enquanto absolutidade, eternidade etc, teve estreito 
parentesco e correlação com as doutrinas Éticas do Fim, enquanto que as doutrinas que 
reconheceram a problematicidade do valor teve estreito parentesco e correlação com as 
concepções Éticas da motivação. 
Scheler, fundando a sua doutrina da Ética do Fim na necessidade do valor, afirmou que 
as apetições (aspirações, impulsos ou desejos) teve seus fins em si mesmas, isto é, no sentimento

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