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O VALOR DA CAUSA NO NOVO CPC Isso Tambem Mudou Celso Araújo Santos

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1
O VALOR DA CAUSA NO NOVO CPC: isso também mudou 
 
Celso Araújo Santos 
Juiz Federal na Seção Judiciária do Rio de Janeiro 
 
Atualmente, o valor da causa é tratado especificamente pelos artigos 258 a 261 do 
Código de Processo Civil (CPC). O novo código, instituído pela Lei nº 13.105/05 (NCPC) e 
que irá entrar em vigor em breve, tratou o assunto de forma similar, em apenas três artigos: 
291, 292 e 293. 
No entanto, mesmo tão poucos artigos sofreram diversas mudanças, duas delas 
bastante relevantes, e que serão rapidamente vistas a seguir. 
Antes, é importante destacar que o valor da causa ganhou muita importância no 
NCPC, pois se torna a base de cálculo da condenação em honorários advocatícios também nas 
sentenças de improcedência ou sem resolução de mérito (art. 85, § 6º, NCPC), diferente do 
que ocorre hoje. Além disso, o valor da causa continua sendo base de cálculo das custas, de 
várias multas processuais e para definição de competência dos Juizados Especiais. 
 
1. A correção de ofício do valor da causa (art. 292, § 3º) 
 
A principal mudança que foi trazida pelo § 3º do art. 292 do NCPC1, norma que não 
encontra correspondente no atual CPC. Tal dispositivo permite que o magistrado possa 
corrigir o valor da causa quando verificar que tal valor não corresponde ao conteúdo 
patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor. 
Essa correção poderá ser realizada pelo juiz de ofício (ou seja, sem provocação das 
partes) e por arbitramento, isto é, por mera estimativa, sem se prender a exatidões. Ela pode 
ocorrer a qualquer momento, inclusive no bojo da sentença. 
Havendo a correção do valor da causa, o NCPC determina (com acerto), que a parte 
deve proceder ao recolhimento das custas correspondentes. Claro que esse recolhimento 
ocorrerá apenas se o juiz aumentar o valor da causa. Desse modo, corrigido para cima o valor 
da causa, o juiz intimará a parte (na pessoa do respectivo advogado), para recolhimento das 
custas faltantes, no prazo de 15 dias, sob pena de cancelamento da distribuição dos autos. 
 
1
 Art. 292. (...) § 3o O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da causa quando verificar que não 
corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em 
que se procederá ao recolhimento das custas correspondentes. 
 2
Corrigido para baixo o valor da causa, a parte poderá pleitear a repetição do valor recolhido a 
maior junto à Fazenda Pública que recebeu as custas, no prazo de até 5 anos contados da data 
do pagamento (art. 165, II e art. 168, I, ambos do CTN). 
Contra a decisão do juiz de corrigir o valor da causa não cabe agravo de instrumento. 
Para recorrer disso, a parte inconformada deve suscitar a questão do valor da causa em sede 
de preliminar de contestação (art. 1009, § 1º, NCPC). 
Não parece adequado aplicar à decisão que corrige o valor da causa o art. 9º do NCPC, 
o qual prevê que o juiz não deve proferir decisão contra uma das partes sem que a mesma seja 
previamente ouvida. Isso porque a correção do valor da causa é questão meramente 
processual e que não é “contra” uma das partes. Trata-se apenas de adequação do valor 
estimado do benefício econômico pleiteado pelo autor. Ressalte-se que, embora a majoração 
do valor da causa signifique um imediato desembolso para o autor (para complemento das 
custas), o fato é que, se ao final ele for vencedor na demanda, será integralmente ressarcido 
por esse desembolso (art. 82, § 2º, NCPC). 
É interessante observar que essa novidade trazida pelo NCPC, de correção de ofício do 
valor da causa, já era admitida pela jurisprudência. Afinal, a correta indicação do valor da 
causa já é um requisito da petição inicial (art. 282, V, CPC ou art. 319, V, NCPC), cuja 
adequação cabe ao juiz realizar. Como o valor da causa adequado é aquele que reflita o 
proveito econômico pretendido pelo autor, é possível que o juiz corrija o valor da causa 
quando a parte não indicou o valor correto. Nesse sentido: “a jurisprudência do STJ é no 
sentido de que ao magistrado é possível determinar, de ofício, a correção do valor atribuído à 
causa, adequando-o ao proveito econômico pretendido” (STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 
1.457.167, Rel. min. HERMAN BENJAMIN, DJe 25/09/2014). 
 
2. Impugnação ao valor da causa e seu recurso (art. 293) 
 
Outra questão modificada pelo NCPC diz respeito à impugnação ao valor da causa. No 
atual CPC, a impugnação ao valor da causa é um incidente processual, suscitado em petição 
própria e autuado em apenso. No novo CPC, o réu que deseja impugnar o valor da causa 
deverá fazê-lo em sede de preliminar de contestação, e não mais em petição em apartado (art. 
293, NCPC)2. Caso não impugne, haverá preclusão. Caso impugne, o juiz deverá, após 
juntada da contestação, decidir a respeito da adequação do valor da causa. 
 
2
 Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena 
de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas. 
 3
Como na situação anterior, contra essa decisão não cabe agravo, devendo a parte 
inconformada suscitar a questão em preliminar de eventual apelação. 
Caso o réu perca o prazo para impugnar o valor da causa, poderia ele depois da 
contestação suscitar a questão e o juiz determinar a correção de tal valor? Sim. A preclusão, 
nesse caso, se opera contra a parte e não contra o juiz. Uma vez perdida a oportunidade de 
impugnar o valor da causa, a parte pode suscitar essa questão no curso do processo; como o 
juiz tem a faculdade, de ofício, corrigir o valor da causa, nada impede que a parte aponte a 
necessidade de que seja realizada uma correção de ofício desse requisito da petição inicial. 
Nessa situação específica, caberá ao magistrado corrigir ou não o valor da causa, em decisão 
que será irrecorrível ao réu (não poderá suscitá-la nem em apelação), pois contra ele já se 
operou a preclusão da questão. 
 
3. Mudanças pontuais (art. 292) 
 
Afora as questões acima e algumas pequenas mudanças de redação, o NCPC alterou 
pouco o instituto do valor da causa. Destaque-se, brevemente, mais quatro pontuais mudanças 
realizadas pelo novo CPC, especialmente no art. 292: 
 
a) Art. 292, caput (valor da causa em reconvenção) 
O NCPC prevê expressamente que a reconvenção também deve possuir um valor da 
causa. Embora ao atual CPC não preveja isso, é pacífico que a reconvenção possui natureza 
de ação, e por isso hoje já se exige que a reconvenção indique valor da causa. 
 
b) Art. 292, II (valor da causa em ações contratuais) 
O atual CPC prevê que quando a ação tiver por objeto a existência, validade, 
cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor da causa será o valor do 
contrato (normalmente o negócio pactuado). Já o NCPC, de forma acertada, destaca que, 
nessas situações, o valor da causa será o valor do ato jurídico (ou seja, o valor do contrato ou 
outro tipo de ato jurídico) ou valor controvertido do ato jurídico. Com efeito, se a parte 
questiona deseja apenas uma revisão parcial do contrato, não é correto que o valor da causa se 
refira a todo o contrato. Essa já é a jurisprudência atual, como se vê nesse precedente: “na 
hipótese em que a ação revisional (...) visa, justamente, nova definição do valor do contrato, 
(...) o valor da causa deve ser a diferença entre o valor originalmente fixado e o pretendido. 
(STJ, 1ª Turma, REsp 742.163, Rel. Ministro Teori Zavascki, DJe 02/02/2010). 
 4
 
c) Art. 292, IV (valor da causa em ações reais) 
O atual CPC determina que nas ações reais de divisão, demarcação e reivindicação de 
propriedade, o valor da causa corresponderá à “estimativa oficial para lançamentodo 
imposto”, ou seja, ao valor utilizado para base de cálculo do imposto incidente sobre a 
propriedade, o chamado “valor venal” (arts. 33 e 38, CTN). De modo diverso o NCPC 
estabelece que, nessas ações, o valor da causa será o “valor de avaliação da área ou do bem 
objeto do pedido”. 
O valor de avaliação da área se aproxima mais do benefício econômico pretendido (a 
propriedade) do que o valor venal, o qual é normalmente é inferior ao valor de mercado do 
bem. No entanto, a mudança talvez não seja bem-vinda. Isso porque o valor venal é mais 
objetivo e facilmente verificável – qualquer uma das partes ou mesmo o magistrado pode 
obtê-lo, bastando consultar o fisco com o número cadastral da propriedade. Já o “valor de 
avaliação” é conceito muito mais subjetivo, o que abre maiores possibilidades de desacordo 
entre as partes. 
 
d) Art. 292, V (valor da causa em ações indenizatórias) 
Inovando, o NCPC determina que, nas ações indenizatórias, inclusive aquelas 
baseadas em dano moral, o valor da causa corresponderá ao valor pedido pelo autor. Logo, se 
o autor pede indenização por dano material de 100, o valor da causa será 100. Caso peça 
indenização por dano moral de 500, o valor da causa será 500. Caso peça ambas, o valor da 
causa será 600 (na cumulação de pedidos há soma de valores, conforme art. 259, II, CPC ou 
art. 292, VI, NCPC). 
A doutrina tem destacado que essa novidade irá pôr fim à prática de não se apontar o 
valor de dano moral pleiteado (por exemplo, pede-se a “condenação do réu ao pagamento de 
indenização por dano moral, em valor a ser arbitrado pelo juízo”). Como sustenta Daniel 
Neves3, com o NCPC o autor deverá determinar o pedido e indicar o valor da indenização 
pretendida, contrariando a posição atual do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que admite 
nessa situação o pedido genérico. Realmente, o STJ assim tem decidido: “Não há inépcia da 
inicial em ação que busca a condenação por danos morais e o autor deixa a fixação do 
montante ao prudente arbítrio do julgador” (STJ, 4ª Turma, REsp 645.729, Rel. Min. Antonio 
Carlos Ferreira, DJe 01/02/2013). Parece que essa jurisprudência deverá evoluir, na medida 
 
3
 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC - Código de Processo Civil - Lei 13.105/2015: inovações, 
alterações, supressões comentadas 2a. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método, 2015, p. 225-226. 
 5
em que o NCPC exige que o valor da indenização seja indicado na petição inicial, para que 
assim o valor da causa corresponda ao montante pleiteado. 
Carlos Amaral observa que essa mudança é salutar, pois, combinada com a nova 
disciplina sobre os honorários advocatícios (vide introdução deste trabalho), desestimulará o 
ajuizamento de demandas por dano moral sem o necessário suporte fático e jurídico, pois a 
improcedência da demanda levará o autor a ter de arcar com uma pesada verba de 
sucumbência, tanto em relação às custas quanto no tocante aos honorários advocatícios do 
réu4. 
 
Conclusão 
 
Em síntese, vimos que o NCPC atualizou também o instituto do valor da causa, o qual 
ganhou ainda mais relevância sob o novo código, sobretudo por conta das regras que passam a 
reger o pagamento de honorários advocatícios de sucumbência. 
Incorporando a jurisprudência atual, o NCPC admite que o juiz corrija de ofício o 
valor da causa, adequando tal requisito ao proveito econômico perseguido pelo autor. Além 
disso, o NCPC desburocratizou à impugnação ao valor da causa, que deixa de ser um 
incidente processual e passa a ser uma preliminar de contestação. 
Em relação à fixação do valor do causa, o NCPC promoveu apenas mudanças 
pontuais, destacando-se dentre elas a regra do art. 292, V, a qual (espera-se) exigirá que o 
autor de ação indenizatória determine o valor pleiteado na petição inicial, mesmo nas 
indenizações por dano moral. 
 
4
 AMARAL, Carlos. Com novo CPC, ação de dano moral deixa de ser porta da esperança. Revista Consultor 
Jurídico, 29 abr. 2015. Disponível em <www.conjur.com.br/2015-abr-29/carlos-amaral-ncpc-dano-moral-deixa-
porta-esperanca>

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