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Curso: Direito Disciplina – Introdução ao Estudo do Direito Professor: Emanuel de Melo Ferreira Mestre em Direito Constitucional (UFC) Procurador da República na PRM-Mossoró . Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Norma jurídica •A norma jurídica como proposição prescritiva – Norberto Bobbio; •“Por proposição entendemos um conjunto de palavras que possuem um significado em sua unidade” (BOBBIO, 2005. p. 73) Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Norma jurídica: regras de conduta; regras de organização ou que fixem atribuições/competência; princípios; •Estrutura de uma regra de conduta: “se ocorre um fato, deve ocorrer a uma consequência jurídica”; •“Se F é, deve ser C”, onde F é o fato e C a consequência. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Exemplo no Código Civil: •Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo •Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •As regras de organização ou que fixem atribuições/competência não possuem aquela estrutura; •Exemplo: Art. 18, §1º da Constituição: “Brasília é a Capital Federal.” Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Princípio – “normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes” (ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. P. 90) •Ex.: Dignidade da pessoa humana, liberdade de expressão, etc. •Críticas a essa concepção; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Retomando a estrutura das regras de conduta: •“Se F é, C deve ser”. •“F” é a hipótese ou o fato típico previsto na lei; •“C” é o dispositivo ou preceito, a saber, a consequência também prevista na lei; •“Se não-C, SP deve ser”, onde “SP” é a “sanção punitiva”. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Exemplo: •Se alguém viola minha honra, pratica ato ilícito (F); •Deve, assim, reparar o dano (C); •Se não ocorre a reparação (não-C), deve ser a sanção: pagar uma indenização (SP); Professor: Emanuel de Melo Ferreira •A norma jurídica é também trivalente: há fato, valor e normatividade nos exemplos estudados. • Validade e eficácia da norma jurídica editada pelo Estado – a lei; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Validade formal ou vigência - momento em que pode produzir efeitos. •Regra geral – art. 1º da Lei de Introdução ao Código Civil: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Validade formal – lei editada de acordo com as regras do processo legislativo; •Validade material – lei editada de acordo com o conteúdo, a matéria constitucional; •O tema será aprofundado quando do estudo do processo legislativo, no contexto das fontes do direito; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Eficácia – refere-se à aplicação da regra jurídica, tendo em vista sua aceitação social. •Classificação das regras jurídicas •I) Normas de Direito interno e normas de Direito Internacional; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • II) Normas federais, estaduais, distritais e municipais; •III) Normas quanto à fonte do Direito; •IV) Normas quanto à sua violação; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •IV) Normas quanto à sua violação; •A) Mais que perfeitas – a violação acarreta a nulidade do ato e aplicação de sanção ao infrator. •Exemplo: casamento de pessoas casadas, art. 1.521 do CC. Há nulidade do segundo casamento e crime de bigamia; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •B) perfeitas – somente há nulidade do ato; •Exemplo: negócio jurídico realizado por pessoa incapaz. Há nulidade ou anulabilidade, sem outra penalização ao sujeito; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •C) menos que perfeitas – há somente sanção, não nulidade do ato. •Exemplo: viúvo que casa novamente antes do encerramento da partilha do casamento anterior. Contra ele haverá uma sanção: seu novo casamento será regido pelo regime da separação total de bens, mas não será considerado nulo. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •D) Imperfeitas – não há nulidade nem outra sanção pessoal. •Exemplo: dívidas prescritas. Não podem ser exigidas judicialmente; •No entanto, se houver pagamento espontâneo, não há pretensão à devolução; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Os três critérios de valoração das normas jurídicas – Norberto Bobbio: •A instância do valor ou da justiça; •A instância da validade; •A instância da eficácia; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •O problema da Justiça – “correspondência ou não da norma aos valores últimos ou finais que inspiram um dado ordenamento jurídico” (p. 46); •A questão da Justiça é o objeto central da Filosofia do Direito – é um problema deontológico do Direito. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •O problema da validade – “equivale à existência da regra enquanto tal, independente do juízo de valor se ela é justa ou não” (P. 46). •I) competência da autoridade que a editou; •II) averiguar se não foi ab-rogada; •III) averiguar se há compatibilidade com outras normas. •Problema ontológico do Direito; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •O problema da eficácia – “é o problema de ser ou não seguida pelas pessoas a quem é dirigida (os chamados destinatários da norma jurídica” (p. 47). •É uma análise de caráter histórico- sociológico. É um problema fenomenológico ou sociológico do Direito. Professor: Emanuel de Melo Ferreira •Independência entre os critérios: •I) Uma norma pode ser justa sem ser válida – os princípios do direito natural, elencados pelos filósofos, eram justos para eles, mas somente adquiriam validade quando acolhidos pelo direito positivo; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •II) Uma norma pode ser válida sem ser justa: •A) caso da escravidão; •B) um comunista não considera justa a propriedade privada; •C) um reacionário não considera justo o direito fundamental à greve; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •III) uma norma pode ser válida sem ser eficaz – caso das “leis que não pegam”: •Leis de proibição das bebidas alcoólicas nos Estados Unidos da América que vigoraram durante vinte anos entre as duas guerras; •Dispositivos constitucionais ainda hoje não aplicáveis – “ineficácia das normas constitucionais”; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •IV) uma norma pode ser eficaz sem ser válida – regras de boa educação, por exemplo, seguidas espontaneamente, mas que não são reconhecidas como obrigatórias pelas regras jurídicas; •V) uma norma pode ser justa sem ser eficaz – quando o sentimento de justiça não é efetivado na prática. Exemplo: pregação contra a escravidão numa sociedade que a admitia na prática; Professor: Emanuel de Melo Ferreira •VI) uma norma pode ser eficaz sem ser justa – “o certo é o certo mesmo que ninguém o faça, enquanto o errado é errado, mesmo que todos o faça”; •“Consensus humani generis” – o consenso humano comum – pode-se considerar como máxima de direito natural a que seja acolhida por todos os povos? •Não! A escravidão não é justa pelo simples fato de ter sido praticada por todos os povos. Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Segundo o autor, analisar a norma a partir unicamente de um daqueles prismas gera reducionismos, típicos do naturalismo, positivismo e realismo jurídicos. •O fundamento do Direito e da norma jurídica; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Naturalismo – o fundamento do Direito seria a natureza, os deuses ou a razão. •Direito e justiça se equivalem, de modo imutável e universal;•Só há validade se houver justiça – redução da validade à justiça; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Um pouco do pensamento de Gustav Radbruch na sua Filosofia do Direito (p. 336-353), notável jusnaturalista, em que pese parte de seu pensamento ser positivista: •“Quando uma lei nega conscientemente a vontade de justiça, por exemplo concede arbitrariamente ou refuta os direitos do homem, carece de validade... Até mesmo os juristas devem encontrar coragem para refutar-lhe o caráter jurídico.” Professor: Emanuel de Melo Ferreira • “Pode haver leis com tal medida de injustiça e de prejuízo social que seja necessário refutar-lhes o caráter jurídico ... Tanto há princípios jurídicos fundamentais mais fortes que toda normatividade jurídica, que uma lei que os contrarie carece de validade”; •“Onde a justiça não é nem mesmo perseguida, onde a igualdade, que constitui o núcleo da justiça, é conscientemente negada em nome do direito positivo, a lei não somente é direito injusto como carece em geral de juridicidade”. Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Diversidade de concepções sobre o “natural” até mesmo entre os partidários do Direito Natural; •Insegurança jurídica – quem deve dizer o que é justo? Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Positivismo – o fundamento do Direito são as normas postas; •Se uma norma é válida, necessariamente é justa – concepção mais extrema, defendida por Thomas Hobbes; • Moral e justiça são instâncias fora do Direito - Kelsen; •A posição extrema reduz o Direito à força; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Realismo – o fundamento do Direito são os fatos; •Se há eficácia, há justiça; •O que importa é como o Direito acontece na prática. Professor: Emanuel de Melo Ferreira • Expressões do realismo: •1) A escola histórica do Direito de Friedrich Carl von Savigny – Direito como fruto do espírito do povo (Volksgeist); •2) O movimento do “Direito livre” – Kantorowicz: o juiz deve criar o direito quando considerar a lei injusta; Professor: Emanuel de Melo Ferreira • 3) O realismo jurídico norte-americano – a tese central de Oliver Wendell Homes, segundo Bobbio: •“Não existe um direito objetivo, isto é objetivamente dedutível de dados determinados, sejam estes fornecidos pelos costumes, pela lei ou pelo precedente jurídico: o direito é contínua criação do juiz, é obra exclusiva do magistrado no ato em que decide uma controvérsia”. (p. 66)
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