Buscar

análise sobre o conto "À Procura de um reflexo" do livro Doze Reis e a Moça do Labirinto do Vento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Universidade Federal de Viçosa
Cap - COLUNI, 1ª Série, Turma C
Professoras: Mariana e Ofélia.
Análise do Conto: 
À Procura de um
Reflexo
(Livro: Doze Reis e a Moça No Labirinto do Vento – Marina Colasanti
Feito por: Laura Scofield, 10, Lisandra Oliveira, 17, Luíza Sobreira, 26,
Maria Luíza Ribeiro, 34.
Viçosa, 2015
Introdução
O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de analisar o conto “À
Procura de um Reflexo” – Livro Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento,
Marina Colasanti- relacionando-o com a obra como um todo, abordando sua
temática, a linguagem utilizada, a simbologia por detrás dos personagens e da
linguagem e, principalmente, como o conto aborda conflitos humanos e
contemporâneos. 
Os contos de Marina Colasanti são característicos e conseguem colocar
em sintonia a ideologia, o texto, o gênero, os personagens e o tema abordado
tornando suas obras contemporâneas e exclusivas. “À procura de um reflexo”,
assim como muitos dos escritos de Marina, apresentam problemáticas relativas
às crises de identidade na pós-modernidade. É interessante a forma na qual
Marina aborda essas cisões identitárias, reorganizando elementos de contos de
fadas tradicionais e ao mesmo tempo rompendo com a forma antiquada dos
mesmos. A construção da identidade é o tema foco do conto estudado.
Apesar de parecer uma simples história maravilhosa contemporânea, o
conto tem muitas reflexões, indo muito além de um simples entretenimento. A fim
de entender o “algo a mais” que Marina Colasanti coloca em seu conto,
desenvolvemos uma série de analises contextuais apresentadas abaixo.
Desenvolvimento
• Marina Colasanti
 Marina Colasanti tem características de escrita muito marcantes e específicas.
Isso pode ser observado em seus contos de fadas, nos quais a preferência é por
abordar temas de natureza existencialista. Esses fazem parte do mundo interior
e exterior do público alvo, que tem idades bem distintas entre si, contribuindo,
assim, com a atemporalidade e universalidade da obra.
Em seus contos, Marina procura mesclar situações ilusórias com o âmbito real,
muitas vezes contemporâneo, o que dá origem, então, a um conto de cunho
fantástico. Posteriormente, a fantasia de seus contos é relacionada a assuntos e
situações atuais, promovendo uma reflexão acerca do conto tratado.
(http://rascunho.gazetadopovo.com
.br/corte-radical/)
• Contos Maravilhosos
 Os contos maravilhosos, apesar de serem acusados de 
alienantes por alguns estudiosos, são importantes recursos na formação da
personalidade, no desenvolvimento emocional da criança e na formação do
leitor, por oferecer significados em diversos níveis, enriquecendo a sua
existência de muitos modos. O caráter simbólico, o tom coloquial, a presença do
maravilhoso, a indeterminação temporal e espacial e os personagens tipificados,
são elementos determinantes do gênero que concorrem para a identificação do
leitor com a obra. Trabalhando em nível do inconsciente, os contos de fadas
desvelam-nos, de forma alegórica, problemas cruciais de nossa existência e
oferecem-nos pistas para a conquista da nossa maturidade. 
• Resumo da obra
' O conto “À Procura de um reflexo” trata basicamente da história de uma
moça que, ao se olhar no espelho para tecer suas tranças, não enxerga seu
rosto e, por isso, resolve ir ao lago em busca dele. Lá, não encontra na água a
sua imagem e é conduzida a uma caverna. Nesse ambiente cavernoso, cheio de
espelhos e bacias com água, a moça conhece a Dama dos Espelhos, que a
desafia a encontrar o que tanto procurava, ou seja, a imagem perdida. Ao
procurar de bacia em bacia o rosto perdido, depara-se com novos reflexos.
Nenhum era aquele que mais desejava. Até que a moça atira no espelho a bacia
onde está seu rosto, ocasionando o desaparecimento da Dama dos Espelhos.
Depois, sai da caverna e, ao se ajoelhar para beber água no córrego, vê seu
rosto, que tanto procurava, sorrindo para ela. 
• Temática do conto
A temática do conto é bastante interessante e atual, ela representa a
busca por si próprio. No conto, a personagem principal, em uma manhã
aparentemente normal, percebe que se perdeu e que não está sendo capaz de
se encontrar. A história se desenvolve revelando os caminhos que a menina
percorre para, enfim, encontrar-se e aceitar-se por completo.
• Linguagem do conto
A linguagem do conto é, em geral, simples, porém, existem algumas
palavras menos usuais, e assim, desconhecidas pela maioria das pessoas. No
entanto, essas palavras não comprometem a interpretação do conto como um
todo.
“Nos contos colasantianos, o narrador constrói o seu
discurso, valendo-se dos recursos da linguagem poética. O
texto em prosa é estruturado com frases curtas, com a
acentuada presença de paralelismos, de rimas e ritmos
próprios do discurso poético, além de figuras simbólicas
muito sugestivas. As histórias ganham, pois, uma roupagem
rica de elementos ritualísticos e de temáticas pós-
modernas, como a ênfase à abordagem da solidão, do
individualismo e da procura da identidade em tempos pós-
modernos.” (Revista Literatura em Debate, v. 8, n. 14, p. 23-
46, ago. 2014.)
Por ser um conto, e ainda mais, um conto fantástico, a linguagem
empregada em À Procura de um Reflexo é literária, com o uso recorrente de
palavras e expressões no sentido conotativo e o também a utilização de várias
figuras de linguagem, o que engrandece o texto. Uma das figuras de linguagem
mais presentes é a prosopopeia ou personificação, que atribui características
humanas a seres inanimados e que pode ser vista, por exemplo, nos seguintes
trechos:
“-Como quer que eu saiba, se tantos vêm se procurar em mim? - respondeu o
lago desdenhoso. (...)” (Página 56, 5º parágrafo)
“O medo, entre rochas, bateu asas.” (Página 58, 3º parágrafo)
“Gotas pingavam do alto, gemendo nas poças em que o córrego parecia
desfazer-se.” (Página 58, 3º parágrafo.)
Além da prosopopeia, outras figuras de linguagem recorrentes são:
Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma
oração, para efeito estilístico.
“-Imagem minha, -murmurou aflita- onde está você?”(Página 56, 2º parágrafo)
“Cochila quase a moça.” (Página 59, 9º parágrafo)
“-De quem é este rosto, Senhora? - pergunta a moça tentando controlar o visgo
do espanto.” (Página 59, 8º parágrafo) 
Paranomásia: consiste em aproximar palavras com sons parecidos.
“Flutuam as tranças louras, como algas.” (Página 61, 1º parágrafo)
“Em cada remanso, em cada refluxo, em cada redemoinho procurou rosto ou
rasto.” (Página 58, 2º parágrafo)
Antítese: Oposição entre sentido de duas palavras “(...) presente o rosto,
ausente o que do rosto conhecia.” (Página 56, 1º parágrafo)
Aliteração: Gerada por série combinada de sons. No exemplo do conto, tem-se a
repetição do “s”, sugerindo ruído do espelho se quebrando.
 “Estilhaça-se a luz. Estronda a gruta, enquanto dos cristais a prata se espatifa.
O ar estala, extingue toda a chama. Esverdinhando o rosto, as mãos
esgatinhando o peito, a Dama estremece, se escama, se esvai. Um grito se
estrangula. E estroçada no chão ela estertora.” (Página 62, 4º parágrafo)
Além disso, a linguagem conta com várias perguntas retóricas e adjetivos,
que facilitam a imaginação da história pelo leitor. Tais fatores aproximam
determinado interlocutor dos personagens e do contexto, criando uma atmosfera
de cumplicidade. O leitor é cativado pela história e pela maneira em que ela é
contada.
• Simbologia invocada pela linguagem e personagens
A simbologia invocada pelalinguagem e personagens se dá pelo sentido
que determinadas palavras e expressões despertam, mesmo que esse seja tão
sutil que acaba passando despercebido. Nos contos, cada palavra é escolhida
de forma a contribuir com o que o autor deseja passar com sua obra, portanto, é
importante que essa simbologia, ou seja, os sentidos internos de cada palavra e
expressão sejam descobertos para que se entenda o texto em toda sua
complexidade.
No primeiro parágrafo do conto, um aspecto interessante da linguagem é
a repetição da palavra inútil no seguinte fragmento:
“Inútil passar um pano no espelho. Inútil passar as mãos no rosto.” (Página 56,
1º parágrafo)
A repetição é muito utilizada na linguagem para dar ênfase a certa ideia, e
nesse caso não foi diferente. Porém, a repetição dessa palavra também fez com
que, no contexto da história, ficasse mais clara a necessidade de a personagem
promover uma busca mais profunda, tendo em vista que simplesmente “passar
um pano ou as mãos” seria inútil. Sendo assim, nesse fragmento, a linguagem
utilizou-se de suas técnicas a fim de levar o leitor a esta conclusão implícita. Ao
trazermos tal impressão para a realidade do texto, podemos prová-la certa, pois
encontrar a si próprio é algo muito complexo para que uma busca superficial
seja capaz de desvendar.
A repetição como forma de dar ênfase e promover determinado
significado é ainda utilizada em outros momentos no conto, porém, não convém
citar todos, tendo em vista que a interpretação é praticamente a mesma. 
Ainda na primeira página do texto, outra frase chama a atenção pelo seu
sentido oculto:
“E duas lágrimas quebraram a lisura da margem.” (Página 56, 4º parágrafo)
Na realidade do conto, essas lágrimas surgem em razão da tristeza da
moça e enquanto ela procura a si própria no lago. Quando é dito que as lágrimas
quebram a lisura da margem, fica subtendido que a tristeza e a busca da moça
incomodaram um ambiente antes harmonioso (o lago). Portanto, fazendo uma
interpretação mais profunda dessa frase, que ao ser analisada rapidamente
parece apenas uma forma de embelezar o texto, é possível chegar à conclusão
que a procura por si próprio afetaria não só a pessoa que se busca, mas
também tudo aquilo que a rodeia, podendo despertar diferentes sentimentos em
cada um desses “sujeitos”.
Além disso, ainda se tratando da interação entre a moça e o lago, é dito:
“-Como quer que eu saiba, se tantos vêm se procurar em mim? - respondeu o
lago desdenhoso. - Talvez tenha sido levada pelo córrego, com outras
miudezas.” (Página 58, 1º parágrafo)
Nesse caso, a resposta do lago, que, assim como no tópico anterior, é um
sujeito na busca da menina, tem como função explicitar outra reação possível
daquilo que nos rodeia em relação a nossos conflitos pessoais. Ele,
desdenhoso, diminui a busca e sentimentos da garota, porém, a mesma,
determinada, o que fica mais claro no decorrer do conto, continua seu caminho.
Isso representa outra dificuldade enfrentada por quem se procura: aprender a
conviver com comentários desdenhosos e manter o foco.
Outra análise interessante pode ser feita no seguinte fragmento:
“E em cada quieto olho d’água se defronta com uma nova imagem, sem que
nenhuma seja aquela que mais deseja.” (Página 60, 3º parágrafo)
Nesta parte do texto, o fato de a menina ver em cada olho d’água uma
nova imagem significa que a personalidade dela é constituída pela fusão das
várias identidades que possui. E, tendo em vista que o conto gira em torno da
busca pelo autoconhecimento e aceitação de todas as partes do ser, pode-se
perceber também que, ao se deparar com imagens que a menina não desejava
ver, existe um sentimento de negação de um pouco do que ela é. No final do
conto, quando, por fim, a menina sorri, podemos chegar a conclusão que ela
aceitou todas as partes que agora conhece de si. 
Na frase: “Por mais que sentisse a pele sob os dedos, ali estava ela como
se não estivesse presente o rosto, ausente o que do rosto conhecia.” (Página
56, 1º parágrafo), fica explícito o desconhecimento da menina acerca de si
mesma, que a impediu de observar sua imagem. Era por essa razão que ela não
era capaz de enxergar seus traços, sua sombra e seus reflexos.
Mudando um pouco a forma de interpretação, a fim de trazer o foco da
análise para as palavras e seus significados simbólicos, ressaltaremos, agora, a
importância do espelho no conto. De acordo com o Dicionário dos Símbolos, o
espelho assume a figuração de superfície que reflete a “verdade, o conteúdo do
coração e da consciência”. Sendo assim, é por isso que a menina vai à procura
de sua imagem no espelho, a fim de conhecer a si mesma e encontrar-se,
mesmo que, no início do conto, ela tenha buscado apenas a imagem que havia
formulado sobre si mesma.
Além disso, a caverna e a saída da menina desta representam também o
processo de busca pelo qual passa a garota. A caverna, de acordo com o
dicionário de símbolos, seria “símbolo da exploração do eu interior e lugar de
amadurecimento do sujeito”. Ao entrar na caverna escura e que desperta medo,
a menina mostra seus sentimentos de anseio e temor em relação a sua busca
pelo autoconhecimento, porém, é lá que ela se tornará forte para aceitar e
encontrar o que tanto procura. É uma trajetória desafiadora e difícil, levando em
consideração que a menina já tinha uma imagem feita de si mesma e que,
mesmo que buscasse se conhecer, ainda não estava pronta a se livrar das
antigas concepções. Podemos ver essa busca como um dilema, em que a
menina busca a si mesma por ter se perdido, mas ainda mostra-se receosa com
o que pode encontrar. 
Ainda nesse ambiente, os sentimentos despertados, como no seguinte
fragmento: “Trancada na gruta entre velas acesas, a moça não sabe do tempo.
Sabe apenas que não quer afastar-se de si mesma, deixar seu rosto sozinho na
água fria. E ali, junto dele, sem ousar acariciá-lo com medo de romper-lhe os
traços, deixa as horas passarem em silêncio.” (Página 61, 7º parágrafo),
demonstram que ainda existia certo apego da menina em relação a sua antiga
imagem, remetendo a negação da mesma às suas outras identidades e à
possibilidade de uma parte dela diferente daquela que ela, vaidosamente, todos
os dias, cultuava. Ela ainda se agarrava a aquilo que ela considerava que era,
mesmo que fosse frio e não reagisse de forma alguma à sua presença, o que
pode ser visto quando ela se questiona por que sua reflexo não sorri ao “vê-la”
pela bacia. 
Durante o conto, a menina é movida e instigada pelo estranhamento. Ela
sai a busca de si mesma em razão do fato estranho que foi não se encontrar
para fazer as tranças, logo depois se depara com a estranheza da carverna, a
discrepância da tão bela dama com o ambiente em que se encontrava e o
sorriso também estranho dessa senhora. Ela se depara com várias situações
estranhas e, no final, aceita a própria estranheza de ser formada por mais do
que aquilo com o qual ela se deparava, aceitava e cultuava.
A respeito da simbologia invocada pelos personagens, a protagonista
mostra-se comum. Em nenhum momento é dito que é dotada de extraordinária
beleza, mas mesmo assim, quando se perde, a garota procura incessantemente
por si. Isso pode indicar o caráter ordinário da busca por si próprio, que não
depende de um fator maior que o incentive. Apenas existe, pois a
autodescoberta é essencial na vida de qualquer ser. No decorrer do conto, fica
claro que a menina enfrenta dificuldades, que são representadas pelo medo, e
por alguns outros fatores mais implícitos, como por exemplo, a água trançada
em seustornozelos, que representa a dificuldade de “andar contra a
correnteza”¹, porém, ela não desiste de sua missão, o que mostra alguém
determinado a buscar-se mesmo que para isso tenha que vencer muitas
barreiras. Em sua relação com a mulher da caverna dos espelhos, a menina
mostra-se tímida e acuada no primeiro momento, porém, quando aparece a
necessidade da utilização de um pouco de “força”, ela mostra-se capaz de
aplicar a mesma e terminar “vencendo” aquela batalha que, depois de uma
análise mais profunda, fica claro que era contra ela mesma. A Dama dos
Espelhos era, na verdade, uma parte dela, o “duplo” que ela não era capaz de
aceitar.
No que diz respeito à interpretação da simbologia da mulher da caverna
dos espelhos, ela se mostra amarga e fria. Solitária, gosta da visita da menina,
mesmo que provavelmente saiba o que a mesma significa. Tendo em mente que
a Dama dos Espelhos representa uma parte marginalizada da e pela menina,
podemos concluir que a solidão, vivenciada pelas “duas” mostra o quão
vaidosas e orgulhosas elas eram, levando em conta que eram capazes de viver
satisfeitas apenas com a própria presença. No conto, o pontapé inicial para a
busca da menina por si foi o fato de ter se perdido, já que não era capaz de ficar
sem si própria e não tinha mais ninguém.
A Dama dos Espelhos, no primeiro momento, é representada com grande
beleza. Porém, o rosto pálido que é visto na primeira bacia que a menina avista
é da mulher, que não seria tão bela assim. Isso mostra a relatividade da beleza.
Essa mulher, que se mostra bela, é na verdade diferente da imagem que passa,
o que suscita uma reflexão a respeito do que as pessoas são verdadeiramente,
o que elas são capazes de transperecer e até que ponto de escondem. De
acordo com os conceitos já citados a respeito do “duplo”, a Dama seria uma
parte da personalidade da menina que havia sido marginalizada pelo ego da
mesma, pois a garota não era capaz de se aceitar por inteiro. No final do conto,
a menina ajoelha-se, o que pode ser interpretado como um sinal de rendimento
e de aceitação. Neste momento, a menina aceita seu duplo e todas as partes²
de sua personalidade que era antes incapaz de aceitar. Em razão disso, ela
sorri, mostrando que sua busca está completa.
“Lá fora, na claridade da manhã que apenas se anuncia, o córrego
mantém o antigo trote, água fresca e cantante que parece chamá-la. E a moça
se aproxima, se ajoelha, estende o queixo, boca entreaberta para matar a sede.
Mas no manso fluir da margem outra boca a recebe. Boca idêntica à sua, que no
claro reflexo do seu rosto de volta lhe sorri.” (Página 62, 7º parágrafo)
1: A correnteza seria o senso comum, que normalmente procura nos tender à
acomodação.
2: Essas outras partes já foram citadas, sendo todas aquelas imagens vistas,
inicialmente, pela menina nos olhos d’águas. As imagens que ela não desejava
ver. 
• Intertextualidade no conto
No conto "À procura de um reflexo" é possível notar temas comuns no
contexto da pós-modernidade, como a busca pelo duplo. Essa temática já foi
abordada em épocas mais antigas, por Plauto (Os menecmas, 206 a.C.) e
William Shakespeare (Comédia dos erros, 1592-1593), além de outros artistas.
No entanto, suas concepções do duplo não promoviam a visão de uma
fragmentação do reflexo, deixando de lado a discussão sobre a identidade de
quem era duplicado e não tratando-o como "representação de uma cisão
interna" (LISBOA, Ana Maria - 2000, p.121) .
Podemos relacionar a ausência de um reflexo no conto, explicitada no
trecho "[...] procurando-se para tecer tranças, não se encontrou", com a
presença do duplo como uma imagem independente e solta, que não depende
do seu sujeito. Essa concepção também é presente em A incrível história de
Peter Schelmihl, de Chamisso, em que o protagonista vende sua alma ao diabo
e desprende-se do seu outro eu. Em ambas a sombra é o duplo ameaçador, que
se torna um "bem necessário" para o sujeito, o qual precisa desse reflexo para
assegurar a sua própria existência , pois “o sentido é justamente o que é
fornecido não por ele mesmo, mas pelo outro...” (ROSSET, 2008, p.74).
 Baseando-se na concepção do duplo que é presente em "À procura de
um reflexo" e na obra de Chamisso, podemos chegar a conclusões semelhantes
ao do filósofo Clément Rosset e afirmar que, se a ilusão do real (o outro eu) não
está no sujeito, ela estará em outro lugar, ou seja, fora dele. Logo, as
personagens dessas obras buscaram-se além de si, não possuindo
conhecimento próprio até se encontrarem . No conto de Marina Colasanti, a
moça não via a sua imagem exatamente porque não a conhecia. 
É viável ver a busca pelo duplo como a busca pelo sentido, pelo
autoconhecimento. Tal ato pode ter uma iniciativa temerosa, pois o medo,
normalmente, é envolvido em momentos de descobertas pessoais. A obra Corda
Bamba, de Lygia Bojunga, demonstra bem essa situação relacionando tudo o
que está em nossa mente à um corredor de portas fechadas, que seriam os
fragmentos de nossa identidade, "nós mesmos não abrimos todas as portas,
porque suspeitamos que o que há do outro lado não será agradável de ver (...)
Vivemos numa espécie de alarme em relação a nós mesmos, que talvez seja
não querermos saber quem somos na realidade" (SARAMANGO, José). 
Em "À procura de um reflexo", a moça, sem sombra de dúvida,
demonstrou medo ao abrir as portas que levariam-na ao seu descobrimento, "[...]
o medo, entre rochas, bateu asas.". Entretanto, sua persistência lhe mostrou o
caminho, "[..] viu brilhar a claridade". Tal sentimento de temor pode ser
fundamentado pela imprevisibilidade do que está atrás da porta, "Algum dia, em
qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, pode encontrar-te-ás a ti
mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas."
(NERUDA, Pablo) .
Na fábula A ilha, de Ricardo Kelmer, assim como no conto de Marina
Colasanti, questionamentos funcionam como um elemento precursor à busca
por si : "Era uma ilha que vivia no meio do oceano. Levava uma vida tranquila,
sem grandes questionamentos. Conhecia outras ilhas e com elas se
comunicava. Um dia, porém, uma ideia inquietou a ilha: se toda vez que a maré
baixava, uma porção de terra se descobria, então até que ponto haveria terra?
Até que ponto a ilha existia?" (Passagem de A ilha) ; "Imagem minha, [...] onde
está você?" (Trecho de À procura de um reflexo) . Em ambas as obras é notável
a importância de questionar para descobrir . A moça nunca teria achado o seu
duplo se não tivesse se perguntado onde ele estava, assim como a ilha, que
nunca conseguiria criar um conceito sobre si se não estivesse questionado-se. 
• Forma como o conto aborda conflitos humanos e contemporâneos
A abordagem dos conflitos humanos é feita de forma brilhante. Sem fazer
com que seus contos tomem um caráter educativo e escolar, Marina Colasanti é
capaz de passar morais sólidas e muito importantes para a construção de um
indivíduo.
No conto À Procura de um Reflexo, o conflito que é mais desenvolvido é o
que diz respeito à busca por si próprio no mundo contemporâneo, cheio de
forças contrárias e influências, que podem tornar mais cômodo simplesmente se
utilizar de uma “ideologia própria” já criada. Com a quantidade perfeita de
personagens, Marina é capaz de representar cada um dos sujeitos que
influencia essa busca, desde aqueles secundários, como o rio e o córrego, que
representam as dificuldades, até a menina e a Dama, que representam o que o
desconhecimentode si mesmo pode resultar e como ele influencia na aceitação
e formação de quem um indivíduo é verdadeiramente.
Marina Colasanti aborda os conflitos humanos de forma profissional,
relacionando sua história com importantes conceitos psicanalíticos, como o
Duplo que, como já foi dito foi proposto por Sigmund Freud, Otto Rank e
Clément Rosset.
Em seu conto, são tratadas questões como a instabilidade, a incerteza e
a dúvida, que marcam a pós-modernidade, com o auxílio de uma personagem
que, com dificuldades, vai à procura de sua unidade, de encontrar sua imagem
perdida. A unidade que a menina busca seria encontrada quando ela aceitasse
todas as partes de seu ser, ou seja, todas as fragmentações de sua identidade.
Nos dias de hoje, em que a busca por se enquadrar nos padrões
propostos pela sociedade é tão constante que chega a ser doentia, muitas
vezes, as pessoas renunciam à sua identidade, pois ser apenas a parte de si
que agrada as outras pessoas facilita o processo de inserção social. Porém, o
que muitas vezes não é notado, e que Marina destaca em seu conto, é o que
essa marginalização de pedaços da identidade pode causar. Quando as
pessoas optam por não serem elas mesmas por completo, elas entram em um
processo no qual podem acabar perdendo-se, pois reprimir a si mesmo pode
levar ao desconhecimento do que um indivíduo verdadeiramente é.
No conto, a menina não busca a inserção na sociedade, pois é tão grande
sua vaidade, que se faz feliz sozinha, saindo de seu estado de estagnação
apenas quando não consegue mais a própria companhia, no caso, o seu reflexo
no espelho. Ao analisar o conto e relacioná-lo com a atualidade contemporânea,
podemos perceber que a exclusão da própria identidade é a conseqüência dos
anseios pessoais que diferem para cada pessoa. No caso do conto, a menina
seleciona partes de si, pois não é capaz de se aceitar por inteiro, e, no exemplo
que foi citado nessa discussão, as pessoas omitem parte de si para buscar a
aceitação da sociedade. É importante ressaltar que o que leva as pessoas a
marginalizarem a si próprias não é, neste trabalho, tão focalizado, como as
conseqüências desse processo, tendo em vista que o primeiro é individual,
possuindo razões diversas e, por isso, não pode ser tratado, em sua integridade,
no contexto geral que buscamos analisar; e, o segundo, por expressar
conseqüências, em grande parte, comuns e que já foram analisadas por
estudiosos, é mais fácil de ser generalizado, tendo em vista que as
conseqüências geradas seriam praticamente as mesmas, com apenas algumas
variáveis.
Conclusão:
Em suma, À Procura de um Reflexo é um conto muito enriquecedor e a
Marina conseguiu, de uma forma muito interessante e convidativa, abordar um
tema bem contemporâneo. Esse processo de autoconhecimento, tão necessário
em uma sociedade pós-moderna na qual boa parte das pessoas parece estar
robotizada pela sua rotina, idiotizada pelos aparelhos eletrônicos e pela mídia
alienante, constitui uma das principais preocupações da literatura infantil
contemporânea. Nesse sentido, Marina continua a escrever contos de fadas em
pleno século XXI com o propósito de se valer de estruturas consagradas da
tradição popular para operar transformações nas invariantes narrativas a partir
de novos revestimentos figurativos, que abarcam temáticas caras à pós-
modernidade. A literatura infanto-juvenil, produzida nas duas últimas décadas do
século XX e no século XXI problematizam questões referentes à diversidade
cultural e às múltiplas identidades que atravessam o indivíduo. No caso
específico de “À procura de um reflexo”, a perda do reflexo corresponde à perda
de referências que ancoravam o sujeito em um sistema social. A longa travessia
identitária permite que o sujeito, no mergulho das trevas de seu inconsciente
(metaforizado pela caverna) possa ser iluminado pela aceitação de si mesmo. 
Referências bibliográficas
• Principal referência : COLASANTI, Marina. Doze Reis e a moça no
labirinto do vento. 12ª edição. São Paulo, GLOBAL EDITORA. 2005.
• Fontes virtuais: 
• http://www.apoiopsicologico.psc.br/principais-conceitos-psicologia-
analitica-jung/
• http://www.facevv.edu.br/Revista/05/raphaela%20magalhaes.pdf 
• http://www.escritas.org/pt/biografia/marina-colasanti
• http://analisetextual1.blogspot.com.br/2012/05/iconicidade-lexical-na-
obra-de-marina.html
• http://revistas.fw.uri.br/index.php/literaturaemdebate/article/viewFile/14
42/1796 
• http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/autoconhecimento
• http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/hugo-von-hofmannsthal
• http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.22.N1/
HYPERLINK
"http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.22.N1/Investigac
oes-Vol22-N1-artigo02-Adilson-dos-Santos.pdf"Investigacoes
HYPERLINK
"http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.22.N1/Investigac
oes-Vol22-N1-artigo02-Adilson-dos-Santos.pdf"-Vol22-N1-artigo02-
HYPERLINK
"http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.22.N1/Investigac
oes-Vol22-N1-artigo02-Adilson-dos-Santos.pdf"Adilson-dos
HYPERLINK
"http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.22.N1/Investigac
oes-Vol22-N1-artigo02-Adilson-dos-Santos.pdf"-Santos.pdf
• http://blogdokelmer.com/2010/06/10/a-ilha-uma-fabula-do-
autoconhecimento/

Outros materiais