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Títulos de Crédito

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1 
 
TEORIA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO, Conceito de título de crédito no Código Civil. 
Atributos e características dos títulos de crédito. 
 
1. Títulos de crédito 
 
Nos séculos XV e XVI, época das grandes navegações mercantilistas, o dinheiro, 
espécie, era escasso e concentrado nas mãos de poucos. Por isso, a necessidade de se 
facilitar a circulação de riqueza, de forma célere e segura, se fez sentir de forma muito 
forte. 
 A segurança, de fato, foi também um dos principais fatores para o implemento dos 
títulos de crédito. Isto porque as grandes navegações eram acometidas por diversos riscos, 
e o transporte de dinheiro, especialmente ouro, não era recomendável. Mais valia 
transportar algo que representasse o ouro do que ele em si. Assim surgiu a letra de câmbio, 
pois era uma ordem de pagamento emitida contra um banco sediado no local de destino 
da embarcação, cujo capitão portaria apenas o título, para receber o valor ali representado, 
e não o ouro em si. 
 O título de crédito nada mais é do que um documento que representa um crédito, 
como o próprio termo indica. Crédito, etimologicamente, vem do latim creditum, que 
significa confiança. Do ponto de vista econômico, crédito é a troca de um bem presente 
por um bem futuro. 
 Juridicamente, crédito é o direito que alguém possui de cobrar algo de outrem. 
Existem três elementos para definir um crédito. O primeiro, subjetivo, é a confiança: não 
se entrega um crédito a alguém se não há fidúcia em que haja a paga. A confiança é 
baseada, por vezes, em instrumentos de garantia, que amparam a fidúcia, sendo estes 
institutos muito mais atinentes ao direito civil do que ao cambiário. 
 Os dois outros elementos do crédito são objetivos, e estes sim mais relevantes ao 
direito cambial. O segundo elemento é o prazo: para ser crédito é preciso que seja 
concedido prazo àquela pessoa em quem se acredita, a fim de que possa o crédito ser 
satisfeito futuramente. Este é um motivo pelo qual o cheque é tido por título de crédito 
impróprio, eis que é uma ordem de pagamento a vista. 
 O último elemento definidor do crédito é a fungibilidade: o bem futuro, 
representado no crédito, é fungível, ou seja, ao haver um crédito, este é disponível ao seu 
detentor, que poderá adimpli-lo com outro bem diferente – o dinheiro é a mais clara 
demonstração da fungibilidade do crédito. Não se trata, o devedor, de um depositário do 
bem. É por isso que o título de crédito que represente um bem infungível, como o 
conhecimento de depósito ou o conhecimento de transporte, é também tido por título 
impróprio. 
 Há uma discussão sobre qual o momento de surgimento da obrigação cambial. A 
primeira corrente, adepta da teoria da emissão, defende que a obrigação cambial surge 
quando é lançada na carta, no título de crédito, e esta é transferida voluntariamente. Já a 
segunda corrente, calcada na teoria da criação, entende que a obrigação cambial surge, 
plenamente, quando é lançada na cártula, no título de crédito, e não só quando há a 
transferência deste. Segundo esta teoria da criação, o crédito lançado na cártula é pleno 
desde então, dispensada a transferência voluntária. Esta é a corrente adotada no Brasil, 
como se pode depreender do artigo 909 do CC, porque o portador de um título endossado 
tem executoriedade contra o emitente ou endossante, mesmo que o título tenha vindo a 
seu poder por via involuntária – um cheque ao portador, ou endossado em branco, que 
tenha sido perdido, por exemplo 
 
“Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do 
próprio título. 
2 
 
§ 1o Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, 
dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante. 
§ 2o A transferência por endosso completa-se com a tradição do título. 
§ 3o Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.” 
 
 Se a transferência voluntária fosse exigida, o título de crédito perderia sentido, 
pois todos que se envolvessem na cadeia de transferência, da circularidade do título, 
teriam que ser perscrutados em suas intenções na transmissão do crédito, o que não se 
coaduna com a lógica da celeridade pretendida do instituto. Os entraves à circulação do 
título de crédito não se coadunam com seus propósitos. 
 
1.1. Atributos essenciais 
 
 Cesare Vivante traçou, de forma sucinta, a mais precisa definição de título de 
crédito: é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido. 
O artigo 887 do CC adotou esta definição: 
 
“Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito 
literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os 
requisitos da lei.” 
 
 Cartularidade, autonomia e literalidade, os três atributos1 essenciais dos títulos 
de crédito, estão ali bem representados. Estes requisitos essenciais, ordinários, não podem 
ser prescindidos, sob pena de se desconfigurar o documento como título de crédito. 
 A cartularidade, como diz o artigo supra, é necessária, imprescindível ao exercício 
do direito cambial. Sem cártula não há direito cambial. Isto porque toda obrigação 
cambial é quesível, ou seja, o credor busca sua satisfação junto ao devedor, o que exige 
que haja a apresentação da cártula para que o devedor possa saber quem é seu credor, 
dada a possibilidade de circulação do crédito. É pela cartularidade, por exemplo, que não 
se pode promover uma execução com a cópia autenticada de um título de crédito, de 
início, pois se assim fosse possível o original poderia continuar circulando, 
concomitantemente à execução de sua cópia2. 
 A literalidade significa que os títulos de crédito se enunciam por escrito, e somente 
aquilo que esteja expresso na cártula deve ser levado em consideração. Informações que 
não estejam ali lançadas, mesmo que apostas em outro documento pelos sujeitos cambiais 
(figuras intervenientes), não produzem efeitos cambiais. 
 Repare que a cártula que for vinculada a um outro documento preencherá este 
requisito da literalidade: se um contrato aponta determinado título de crédito, 
mencionando detalhes que permitam entender que aquele exato título está atrelado ao 
contrato, este será considerado uma extensão da cártula, e por isso serão exigíveis seus 
termos como se houvessem sido escritos na própria cártula. 
 A autonomia, por sua vez, é atributo que tem duas facetas, dois subprincípios, por 
assim dizer: a inoponibilidade de exceções e a independência das obrigações cambiais. 
A natureza jurídica das obrigações cambiais (das obrigações, e não dos títulos em si) é 
relevante, aqui, especialmente para o entendimento da inoponibilidade de exceções. 
Vejamos. 
 
1 O termo “atributo” não é unânime, tanto que grande parte da doutrina os nomeia ora de princípios, ora de 
requisitos, ou ainda de características. 
2 A praxe, porém, permite que seja requerido ao juízo que, por medida de segurança, após ajuizamento da 
execução, os originais sejam substituídos por cópia, e seja desentranhado e acautelado o título de crédito 
no próprio juízo, em cofre do tribunal, ou posto em depósito com alguém eleito para tanto. 
3 
 
 Há três teorias sobre a natureza jurídica das obrigações cambiais. A primeira 
defende que seja ato unilateral de vontade: a obrigação cambial surge de uma promessa 
unilateral, frente à qual não podem ser levantadas exceções de qualquer espécie, pelo 
promitente. Esta teoria é problemática, pois situações muito injustas seriam criadas: por 
exemplo, quando um título de crédito viesse a ser representante de obrigação surgida de 
um contrato não cumprido pelo portador, perante o emitente. Se a exceção do contratonão cumprido não puder ser levantada pelo emitente contra o portador, como diz esta 
teoria, o sistema seria deveras injusto. 
 A segunda teoria é a contratualista, segundo a qual todo ato cambial deriva de um 
contrato, sendo dele acessório, e por isso todas as exceções derivadas do pacto podem ser 
opostas quando do cumprimento da obrigação cambial. Seguindo-se esta teoria, há um 
atravancamento excessivo da circulação dos títulos de crédito, porque toda relação que 
fundeou a sua emissão deve ser observada, vez que as exceções dali provenientes poderão 
ser opostas. Como exemplo, se o portador de um título o leva à faturização, a empresa de 
factoring poderá vir a ser alvejada pela exceção de contrato não cumprido que o emitente 
tenha contra o beneficiário original do título. 
 A terceira teoria, de Cesare Vivante, diz que entre as partes contratantes, de fato, 
o ato cambial é um acessório da relação contratual, sendo oponíveis as exceções dali 
decorrentes, mas entre terceiros de boa-fé, é uma declaração unilateral de vontade. Esta é 
a teoria dúplice, que acabou por ser a adotada no sistema brasileiro. 
De acordo com esta teoria, apenas três modalidades de defesa podem ser opostas 
na cobrança de um direito cambial: a falta de requisitos formais do título; a falta de 
condições da ação cambiária, como o protesto tempestivo; e as exceções pessoais 
existentes entre o credor e o devedor que estão em disputa, ou mesmo de terceiros, desde 
que sejam exceções inequivocamente de conhecimento do credor – pois então são 
terceiros que não estão de boa-fé. 
 Quanto à independência das obrigações cambiárias, segundo sub-atributo da 
autonomia, este significa que o acessório, em direito cambial, não segue a sorte do 
principal, ou seja, ao contrário das relações civis, não vige o princípio da gravitação 
jurídica. Destarte, cada lançamento de assinatura em um título de crédito faz surgir uma 
obrigação cambial autônoma, independente em relação às demais que ali constem. Por 
isso, por exemplo, se uma emissão é nula – como uma nota promissória emitida por um 
incapaz –, mas um aval lançado no mesmo título não o é, o avalista permanece obrigado, 
mesmo que o emitente não tenha mais qualquer obrigação. O objetivo desta qualidade da 
autonomia é o incremento da segurança das relações cambiárias, facilitando a circulação 
do crédito, que é o escopo maior dos títulos de crédito. 
 A autonomia está prevista no artigo 17 da Lei Uniforme de Genebra, doravante 
LUG, Decreto 57.663/66, e no CC, no já mencionado artigo 887 e, mais especificamente, 
no artigo 916. Veja: 
 
“Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao 
portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacado ou 
com os portadores anteriores, ao menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha 
procedido conscientemente em detrimento do devedor.” 
 
“Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores 
precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao 
adquirir o título, tiver agido de má-fé.” 
 
 
 
4 
 
1.2. Atributos extraordinários 
 
 Estes atributos não estão presentes em todos os títulos de crédito, mas apenas em 
determinadas modalidades. Dois são eles: a abstração e a independência. 
 O título é abstrato quando a sua emissão não está vinculada por lei a nenhuma 
espécie de negócio jurídico, ou seja, qualquer relação pode ensejar a emissão deste título. 
O antônimo da abstração é a causalidade: o título é causal quando a sua emissão estiver 
vinculada a um negócio jurídico específico, ou seja, não pode haver livre emissão do 
título. Como exemplo, a duplicata: este título só pode ser emitido para retratar compra e 
venda de mercadoria ou prestação de serviço. O conhecimento de transporte é outro 
exemplo, que só pode ser emitido quando há um contrato de transporte que o fundamente. 
 O título causal não deixa de ser autônomo, pois poderá circular, mesmo tendo sido 
surgido de uma relação específica: esta relação não o acompanhará em sua circulação. 
Por exemplo, uma duplicata “fria”, sem negócio que a subsidie, ainda poderá ser cobrada 
pelo terceiro, portador de boa-fé, pois é um título de crédito autônomo, mesmo causal. 
 Somente a lei pode tornar o título causal. A vinculação de um título que é 
legalmente abstrato a um determinado negócio jurídico é possível, mas não altera a 
natureza abstrata do título. 
 A independência do título de crédito, por seu turno, significa que a sua cártula é 
suficiente para permitir o exercício dos direitos cambiais nela contidos, sendo 
desnecessária a apresentação de qualquer outro documento. O título de crédito é 
dependente, contrário senso, quando a cártula não é bastante, ou seja, é preciso a exibição 
de outro documento. Exemplo de título de crédito dependente é uma duplicata não aceita: 
esta só poderá ser cobrada do sacado se se comprovar a contratação que a deu causa, ou 
seja, se se apresentar a fatura. A duplicata aceita, por sua vez, é independente, bastando a 
exibição da cártula para exigibilidade. 
 Nem todo título abstrato é independente, e, vice-versa, nem todo título causal é 
dependente. A duplicata aceita, como visto, é independente, e é um título causal. 
 
 
 
1.3. Características dos títulos de crédito 
 
 A primeira característica é o formalismo, ou rigor cambiário. Para que haja 
segurança na relação cambiária, é necessário que o título preencha alguns requisitos 
formais. A letra de câmbio, por exemplo, deve conter a expressão “letra de câmbio” 
escrita na língua do país em que for exigida, dentre outros requisitos. Se não forem 
preenchidos determinados requisitos formais, o documento deixa de ser considerado um 
título de crédito. 
 Veja que este formalismo, em última análise, vem para permitir justamente o 
informalismo do direito cambiário, sem nenhuma contradição: quando se incrementa a 
formalidade do título, se permite que sejam postos à circulação com mais facilidade, 
porque há maior segurança nas relações. Por isso, o formalismo titular favorece o 
informalismo e a celeridade das relações cambiárias. 
 Os títulos de crédito representam obrigação cambial de natureza quesível, ou seja, 
compete ao credor, portador do título, buscar o cumprimento da obrigação cambial junto 
ao devedor. É esta natureza quesível que justifica a necessidade de se protestar o título 
quando se for buscar seu pagamento junto aos coobrigados: os garantidores do pagamento 
pontual do título só serão cobrados se o obrigado principal não pagar pontualmente o 
título, e para a comprovação deste requisito – o não pagamento pontual – é que se presta 
5 
 
o protesto. Somente com esta prova, pode o credor dirigir-se ao devedor, coobrigado, e 
dele exigir o pagamento, não tendo havido mora do credor em cobrar do devedor original. 
 O título tem caráter pro solvendo, em regra. Por isso, o surgimento da obrigação 
cambial não gera novação da obrigação extracambial que lhe deu causa. Assim, continua 
a subsistir tanto a obrigação extracambial quanto a cambial. De outro lado, diz-se que o 
título é emitido em caráter pro soluto quando há expressa previsão neste sentido inscrita 
na cártula ou no contrato a que estiver vinculado o título, e esta emissão provoca a 
extinção da obrigação extracambial. Na emissão pro solvendo, mesmo subsistindo ambas 
as obrigações, quitada uma, está quitada a outra. 
 
1.4. Natureza jurídica dos títulos de crédito 
 
 Para a seara processual civil, o título de crédito é um título executivo extrajudicial. 
Para o direito civil, se trata de um bem móvel corpóreo. Para o direito empresarial, é um 
ato de empresa, por força de lei, havendo uma só exceção, previstano artigo 10 do 
Decreto-Lei 167/67: 
 
“Art 10. A cédula de crédito rural é título civil, líquido e certo, exigível pela 
soma dêla constante ou do endôsso, além dos juros, da comissão de fiscalização, 
se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança, regularidade e 
realização de seu direito creditório. 
§ 1º Se o emitente houver deixado de levantar qualquer parcela do crédito 
deferido ou tiver feito pagamentos parciais, o credor descenta-los-á da soma 
declarada na cédula, tornando-se exigível apenas o saldo. 
§ 2º Não constando do endôsso o valor pelo qual se transfere a cédula, 
prevalecerá o da soma declarada no título acrescido dos acessórios, na forma 
deste artigo, deduzido o valor das quitações parciais passadas no próprio título.” 
 
 Assim, a cédula de crédito rural é um título civil, e não um ato de empresa. 
 
TÍTULOS DE CRÉDITO. Classificação. Letra de Câmbio. Legislação. Convenção de Genebra. Decreto nº 
2.044/1908. Código Civil. Reservas à Lei Uniforme. 
 
Notas de Aula3 
 
1. Fontes normativas referentes aos títulos de crédito 
 
 A LUG, Decreto 57.663/76, é o paradigma maior para o estudo dos títulos de 
crédito, havendo que se buscar substância também em outros diplomas, como a Lei 
7.357/85, que trata dos cheques, ou a Lei 5.474/68, que trata das duplicatas, entre outros. 
Além da LUG, há que se atentar também com especial zelo para o Decreto 2.044/1908. 
O Código Civil também regulou a matéria cambial, e é ponto fundamental saber 
qual é a extensão e aplicabilidade das previsões do codex civilista. 
Analisando, inicialmente, a LUG, o primeiro aspecto a ser considerado é 
estrutural. A LUG é composta por três partes: o preâmbulo, o Anexo I e o Anexo II. O 
preâmbulo, que é elaborado particularmente por cada país subscritor da LUG, servindo 
para adaptá-la às particularidades de cada ordenamento jurídico. A principal, senão única, 
função do preâmbulo da LUG no Brasil, é a indicação das reservas adotadas no Anexo II. 
O Anexo I é o próprio corpo da LUG, que no Brasil consiste em setenta e oito 
artigos. Esta é a parte essencialmente uniforme, com poucas variações. No Anexo I, há 
 
 
6 
 
normas essenciais, inafastáveis, e não-essenciais, que podem ser mitigadas de acordo 
com o Anexo II, que é a parte referente às reservas. 
O Anexo II, então, é a parte final da LUG, em que se encontram as previsões 
excepcionais, direcionadas à mitigação de partes não-essenciais do Anexo I. As normas 
do Anexo II que possibilitam o afastamento de normas não-essenciais do Anexo I são 
chamadas reservas. No Brasil, foram adotadas treze das vinte e três possíveis reservas, as 
constantes dos artigos 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 15, 16, 17, 19, e 20, sendo inaplicáveis os 
demais (esta informação é descrita no preâmbulo). As reservas servem para autorizar o 
legislador a mitigar normas do corpo da LUG, Anexo I. 
 Antes da LUG, havia apenas um diploma que versava sobre títulos de crédito: o 
citado Decreto 2.044//1908. Este não restou revogado, pois há aplicabilidade subsidiária 
à LUG, acerca de omissões ou de reservas feitas nesse diploma primário (exclusivamente 
quanto a letras de câmbio e notas promissórias). 
 Dois aspectos essenciais relativos às reservas precisam ser destacados. Primeiro é 
o protesto: a LUG, no artigo 44, 3, do Anexo I, estabelece que o protesto deve ser feito 
em dois dias desde a data da apresentação para aceite ou vencimento para pagamento, 
mas como o Brasil aderiu a reserva que se apresenta no artigo 9º, do Anexo II, que diz 
exatamente que se derroga a alínea 3 do artigo 44 do Anexo I, fazendo com que o protesto 
seja tempestivo apenas quando feito no dia útil subseqüente ao vencimento, e não nos 
dois dias seguintes. 
Segundo aspecto altamente relevante diz respeito à apresentação para pagamento: 
na LUG, é prevista a apresentação nos dois dias subseqüentes ao vencimento, mas a 
adoção da reserva do artigo 5º do Anexo II, que mitiga o artigo 38 do Anexo I da LUG, 
observar-se-á a regra do artigo 20 do Decreto 2.044/1908, que determina que seja 
apresentado no dia do vencimento, sob pena de responder, o credor, por perdas e danos 
decorrentes de sua mora. Veja: 
 
“Art. 20. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o 
pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado 
por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de 
regresso contra o sacador, endossadores e avalistas. 
(...)” 
 
Mas o principal problema, quanto às fontes normativas dos títulos de crédito, é 
relativo à aplicação do Código Civil. O CC não deu tratamento a nenhum título de crédito 
em especial, limitando-se a traçar normas de abrangência geral. Duas são as razões de o 
CC tratar de títulos de crédito, ante a já extensa normatização preexistente a sua 
promulgação: o estabelecimento de normas gerais, e a possibilidade de criação, com base 
legal, de títulos de crédito atípicos, inominados, pois basta o preenchimento dos requisitos 
mínimos apontados no artigo 889 do CC para que qualquer título tenha validade. Veja: 
 
“Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa 
dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. 
§ 1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. 
§ 2º Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no 
título, o domicílio do emitente. 
§ 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador 
ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, 
observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.” 
 
 
 
7 
 
Dito isto, é claro que a regra hermenêutica da especialidade tem aplicação: lei 
especial derroga lei geral, ainda que esta última seja mais nova. O CC, atento a esta regra, 
trouxe a seguinte previsão no seu artigo 903: 
 
“Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de 
crédito pelo disposto neste Código.” 
 
O CJF, na sua Primeira Jornada de Direito Civil, contudo, aprovou o seguinte 
enunciado, de número 52: 
 
“Enunciado 52, CJF: Art. 903: por força da regra do art. 903 do Código Civil, 
as disposições relativas aos títulos de crédito não se aplicam aos já existentes.” 
 
O que o CJF quis dizer, neste enunciado, é que os títulos de crédito que já eram 
tratados em leis anteriores ao CC não sofrerão a aplicação das normas do CC, sequer 
subsidiariamente, traçando uma aparente divisão temporal na aplicação do princípio da 
especialidade. A doutrina, de modo geral, entende que a aplicação das normas do CC aos 
títulos de crédito versados em normas especiais seria não só uma afronta ao princípio da 
especialidade, mas também a subversão da própria autonomia do direito empresarial 
como um todo, em relação ao direito civil. 
Isto porque a estrutura da lei especial – qualquer dos diplomas da matéria – é 
significantemente diferente da estrutura do CC. Exemplo crasso desta diferença é o 
tratamento do aval: o avalista casado em comunhão parcial precisa de outorga conjugal, 
segundo o CC, na forma do seu artigo 1.647, III: 
 
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, 
sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: 
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; 
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; 
III - prestar fiança ou aval; 
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam 
integrar futura meação. 
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando 
casarem ou estabelecerem economia separada.”A LUG, ou qualquer outra lei especial de títulos de crédito, como a lei checária, 
nada dizem acerca da necessidade de outorga uxória, e se a lei não impõe o requisito, este 
não é exigível. Pelo principio da especialidade, então, não seria exigível outorga conjugal 
para o aval, porque as leis aplicáveis não o exigem. E esta é a interpretação doutrinária 
mais coerente, na exegese do artigo 903 do CC, especialmente na análise de títulos 
tratados em leis especiais anteriores ao CC – negam a necessidade de outorga uxória para 
a dação de aval pelo cônjuge casado em comunhão parcial de bens. 
Partindo-se da premissa que o direito empresarial é autônomo em relação ao 
direito civil, em uma interpretação sistemática, sequer se permitiria a aplicação 
subsidiária do CC quando as normas especiais se demonstrassem omissas. Se esta 
aplicação subsidiária for possível, o artigo 1.647, III, do CC, teria aplicação a todos os 
títulos de crédito, vez que as leis especiais são omissas ao não tratar do aval dado por 
pessoa casada. Como a aplicação subsidiária não é possível, vez que estes dois ramos do 
direito não se tangenciam – a teor da interpretação do artigo 903 pelo CJF, no enunciado 
transcrito –, não se impõe a outorga conjugal aos avais concedidos por pessoa casada. 
Conclui-se com a seguinte máxima: o CC não tem absolutamente nenhuma 
aplicabilidade a títulos de crédito já versados em leis especiais, especialmente as 
anteriores a sua promulgação. Esta matéria, porém, não é pacífica. 
8 
 
Outro exemplo desta inaplicabilidade absoluta do CC é a exceção à cartularidade 
trazida no artigo 889, § 3º, acima transcrito – os títulos virtuais. O STJ já se manifestou 
pontualmente sobre a questão, reputando inadmissível a duplicata virtual, o que parece 
expor adesão à inaplicabilidade do CC a títulos regidos por leis especiais, como o é a 
duplicata. Se na lei especial da duplicata a cártula não é excepcionada, o CC não poderá 
excepcionar (valendo mencionar que Fábio Ulhoa e Luis Emigdyo são favoráveis à 
duplicata virtual). 
Os títulos posteriores ao CC de 2002, como a cédula de crédito bancário, criada 
e regida na Lei 10.931/04, seriam submetidos ao CC? Por exemplo, quanto ao aval, o 
artigo 44 desta lei dispõe que: 
 
“Art. 44. Aplica-se às Cédulas de Crédito Bancário, no que não contrariar o 
disposto nesta Lei, a legislação cambial, dispensado o protesto para garantir o 
direito de cobrança contra endossantes, seus avalistas e terceiros garantidores.” 
 
Assim, as regras cambiárias aplicáveis a este título são aquelas insculpidas no CC, 
porque a lei, posterior, levou este diploma civil em conta? Ou são aplicáveis apenas as 
leis especiais cambiais, lendo-se aqui primordialmente a LUG? Se se entender que o CC 
foi apontado pelo dispositivo acima, pode-se concluir que acerca do aval, pelo menos, é 
inadmissível a modalidade parcial para este título em especial. Contudo, a interpretação 
que tem prevalecido é a de que o dispositivo acima apontou para a LUG, ao falar em 
legislação cambiária, o que torna possível, afinal, o aval parcial neste título em questão. 
O legislador, sempre que falar em “legislação cambial”, estará falando nas normas 
especiais de títulos de crédito. 
 
2. Títulos de crédito próprios e impróprios 
 
Uma das principais classificações divide os títulos de crédito em próprios e 
impróprios. Os títulos de crédito são compostos por elementos altamente relevantes, mas 
que mesmo quando não estão presentes não desnaturam o título: ainda são títulos de 
crédito, mas são impróprios. Aqueles que preencham todas as qualidades imanentes a um 
título de crédito, são títulos próprios. 
O primeiro destes elementos, que é imanente aos títulos mas que pode ser elidido 
sem desnaturar o título de crédito, é o prazo para pagamento: a regra é que o título de 
crédito conta com prazo para pagamento diferido, mas há títulos que têm pagamento 
imediato, invertendo-se esta regra. Como exemplo, o cheque, que é ordem de pagamento 
à vista: é um título de crédito impróprio, eis que carente de um dos elementos essenciais, 
o pagamento diferido. 
Outro elemento essencial dos títulos de crédito é o saque autônomo: a obrigação 
cambial, em razão da autonomia, surge sem vinculo qualquer a outra obrigação de 
qualquer natureza. Contudo, há títulos que só podem ser emitidos em razão de uma 
relação jurídica qualquer alheia à cambiária: são os títulos causais. Esta causalidade, que 
retira destes títulos o elemento essencial da abstração, faz com que o título seja 
considerado impróprio. Assim é, por exemplo, a duplicata. 
Os títulos de crédito impróprios são também chamados de cártulas 
cambiariformes, porque são títulos que se apresentam como cambiais mais pela forma 
emprestada pela lei do que pela própria essência, ante a carência de elementos naturais 
dos títulos de créditos. 
Como os títulos impróprios são regidos por leis especiais, não se sujeitam a tudo 
a que estão sujeitos os títulos próprios. Por exemplo, a vedação ao aval parcial, do artigo 
9 
 
897 do CC, por isso, não se aplica a estes títulos (mas também não se aplica aos títulos 
próprios, diga-se): 
 
“Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar 
soma determinada, pode ser garantido por aval. 
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.” 
 
3. Letra de câmbio 
 
Eis o conceito e a natureza jurídica da letra de câmbio: é o documento cambial 
necessário ao exercício de um direito decorrente de uma ordem de pagamento a vista ou 
a prazo. A LUG, no artigo 1º, caput e item 2, diz que: 
 
 “Art. 1º. A letra contém: 
 (...) 
 2. O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 
 (...)” 
 
O termo “mandato” indica que é uma ordem, e não uma promessa, e ao dizer que 
é “pura e simples”, indica que a letra de câmbio não pode ser condicional. 
 A estrutura da letra de câmbio envolve sempre três personagens: o sacador, o 
tomador e o sacado. Vale apresentar um esquema gráfico, prévio ao estudo da dinâmica 
deste título: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O sacador é a pessoa que emite o título, que o cria, que o produz. O tomador, 
literalmente, toma o título para si, passando a ser credor da obrigação cambial. O sacado 
é aquele apontado pelo sacador, e é quem pagará pelo título, se aceitar este encargo. Não 
há, a princípio, nenhuma relação entre tomador e sacado, porque este último só aceita a 
ordem de pagamento em razão de alguma relação externa que tenha com o sacador, por 
óbvio. A relação que existe, na cártula, até que o sacado aceite o encargo, é apenas entre 
sacador e tomador. A relação entre sacador e sacado é alheia à cambial. 
 Destarte, o ato cambiário em que o sacado, por sua vontade, aceita a obrigação 
cambiária que lhe é apontada, é denominado aceite. Desde quando há o aceite, o sacado 
passa a ser devedor direto da letra de câmbio. O sacador é devedor indireto, desde quando 
emite a letra até o fim da obrigação cambial. Uma conclusão pontual se faz ver: na letra 
de câmbio, antes de haver o aceite, não existe devedor direto. A negativa do aceite não 
transforma o sacador em devedor direto, mas apenas torna exigível deste a obrigação 
cambial (após o protesto). 
Letra de câmbio 
Sacador Emissão Tomador 
Sacado 
A
ceite 
P
ag
am
en
to
 
10 
 
LETRA DE CÂMBIO. Conceito. Natureza jurídica. Requisitos essenciais. Partes. Modalidades 
de vencimento e pagamento. 
 
1. Letra de câmbio 
 
 O artigo 1º da LUG traz os requisitos da letra de câmbio, sendo alguns essenciais 
e outros não. Veja: 
 
“Art. 1º. A letra contém: 
1. A palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua 
empregadapara a redação desse título; 
2. O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada; 
3. O nome daquele que deve pagar (sacado); 
4. A época do pagamento; 
5. A indicação o lugar em que se deve efetuar o pagamento; 
6. O nome de pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; 
7. A indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada; 
8. A assinatura de quem passa a letra (sacador).” 
 
 A designação da palavra “letra” é indispensável. Sem este termo, não se forma o 
título. E esta palavra deve ser contextualizada, não devendo ser apenas um termo lançado 
na cártula como título, por exemplo. O modelo usual redige da seguinte forma: “pague 
por esta letra a quantia de tanto.” 
 Aqui já se percebe como preencher o segundo requisito, também essencial: a 
ordem para pagamento da quantia. Esta ordem deve ser simples e incondicional, como 
dito. Qualquer condição aposta será considerada como não escrita. 
 A identificação do sacado, quem recebe a ordem para pagar ao beneficiário, é 
também essencial, imprescindível, por óbvio. Ele será chamando de devedor apenas 
quando emitir o aceite da letra. 
 O nome do tomador deve constar da cártula, necessariamente. Isto faz com que 
este título, a sua origem, seja obrigatoriamente nominativo, indicativo do beneficiário 
inicial, o que não veda a sua circulação por endosso ou cessão posteriores. 
 A data da emissão é também essencial, pois é dali que se colherá o dies a quo dos 
prazos, como os prazos de apresentação e prescrição. 
 Último requisito, também essencial, é a assinatura do sacador, que é a pessoa que 
cria o título, e é devedor indireto, garante da obrigação cambiária, até seu termo final. 
 Os itens 4, 5, e parte do 7, do artigo supra, apresentam requisitos que não são 
necessários, sendo chamados por isso de requisitos secundários. O que assim faz entender 
é a redação do artigo 2º da LUG: 
 
“Art. 2º. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior 
não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas 
seguintes: 
1. A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à 
vista. 
2. Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do sacado 
considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do 
domicílio do sacado. 
3. A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o 
sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.” 
 
 A época do vencimento, se omitida na lei, fará que o título seja vencido a vista. 
 O local de pagamento, quando não indicado, faz a letra pagável no endereço 
lançado como domicílio do sacado, informação implícita no endereço ali mencionado, 
11 
 
mesmo que não seja expressa a natureza de domicílio – basta que haja o endereço escrito. 
Esta informação é de alta importância, pois é ela, inclusive, que determina a competência 
para a discussão de questões cambiárias, o que é uma regra geral do direito cambiário: a 
discussão judicial é no lugar de pagamento. 
 O item 7 do artigo 1º da LUG apresenta dois requisitos: a data da emissão da letra, 
que, como visto, é requisito primário, e o lugar da emissão, que é requisito secundário, 
vez que presumido do lugar apontado ao lado do nome do sacador. 
 A letra de câmbio pode ser emitida de forma incompleta, quer carente de requisitos 
primários, quer e requisitos secundários. Assim o é porque o beneficiário, tomador, que 
estiver de boa-fé, poderá preencher as informações faltantes, antes de exigir o título. Não 
poderá ser exigida sem os elementos essenciais, mas poderá ser emitida assim, pela 
possibilidade de preenchimento pelo tomador de boa-fé. Todos os elementos da cártula 
podem ser emitidos em branco, permitindo o preenchimento posterior pelo tomador de 
boa-fé, inclusive o valor. Veja a súmula 387 do STF, que não faz diferença entre 
requisitos primários ou secundários: 
 
“Súmula 387, STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, 
pode ser completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança ou do protesto.” 
 
 A LUG, no seu artigo 10, permitiria o mesmo raciocínio, lendo-se este dispositivo 
a contrário senso: 
 
“Art. 10. Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido 
completada contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância 
destes acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido 
a letra de má-fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave.” 
 
 O que este artigo 10 da LUG diz é que o tomador que porta o título em branco a 
ele passado pelo sacador, ao preencher os termos omissos, se subverte o acordo ensejador 
do título, sofrerá a oposição das exceções que o sacador tiver contra si, portanto. Se, 
porém, endossa este título a um terceiro que desconhece a ignomínia, este terceiro, de 
boa-fé, não sofrerá as oposições decorrentes da má-fé do tomador endossante. 
 Este artigo, porém, foi objeto de reserva no Brasil, na forma do artigo 3º do Anexo 
II da LUG: 
 
“Art. 3º. Qualquer das Altas Partes contratantes reserva-se a faculdade de não 
inserir o artigo 10 da Lei Uniforme na sua Lei Nacional.” 
 
 Sendo assim, aplicam-se os artigos 3º e 4º do Decreto 2.044/1908, que trata do 
tema reservado: 
 
“Art. 3º Esses requisitos são considerados lançados ao tempo da emissão da letra. 
A prova em contrário será admitida no caso de má-fé do portador.” 
 
“Art. 4º Presume-se mandato ao portador para inserir a data e o lugar do saque, 
na letra que não os contiver.” 
 
 Veja que este artigo 4º diz, tecnicamente, que o preenchimento dos elementos é 
feito juridicamente pelo sacador, mas pelas mãos do tomador, por meio de mandato 
presumido. 
 O artigo 891 do CC repete esta idéia, e mesmo que não seja aplicável, pois a norma 
especial prevalece, é referência instrutiva: 
12 
 
 
“Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser 
preenchido de conformidade com os ajustes realizados. 
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que 
deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo 
se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.” 
 
1.1. Modalidades de saque e vencimento 
 
 A letra à vista é aquela que dispensa aceite, porque quando é levada à vista do 
sacado é considerada vencida, concomitantemente. O aceite faz com que o sacado se torne 
devedor direto, e se obrigue ao pagamento na data do vencimento; como nesta modalidade 
o vencimento é imediato, a exibição do título para aceite já é exibição para pagamento, e 
a discordância do sacado já se configura recusa ao próprio pagamento. não há o ato de 
aceite: há diretamente o ato de pagamento. Esta apresentação para o sacado deve ser feita 
em até um ano desde a emissão da letra. 
 A letra pode ser vencida em dia certo: consigna-se, no título, a data de vencimento, 
data para pagamento. Neste caso, a letra pode ser apresentada para aceite até o seu 
vencimento. 
 A letra também pode ser emitida com vencimento a certo termo de data: 
contando-se de dia futuro combinado, iniciar-se-á prazo determinado para vencimento. 
Por exemplo, “vence-se em um mês depois do dia tal”. Os efeitos deste vencimento são 
os mesmos de uma letra vencível em dia certo, sendo possível a apresentação para aceitre 
também até o vencimento. 
 Por fim, a letra pode ser emitida com vencimento a certo termo de vista: o dies a 
quo do prazo de vencimento estipulado será determinado pela apresentação da letra para 
aceite, e esta apresentação deve seguir a regra geral, de máximo de um ano. 
 Na letra à vista, pode-se estipular que haja prazo para apresentação. Quando 
apresentada para aceite, será vencidade imediato, mas a apresentação deve ser feita em 
prazo estabelecido para tanto, pelo sacador. Assemelha-se, portanto, ao famigerado 
cheque pós-datado. 
 O prazo de um ano para apresentação da letra de câmbio pode ser encurtado ou 
majorado, diga-se, por expressa menção no título. A conseqüência da perda do prazo de 
exibição é a perda da executoriedade do título contra os coobrigados e respectivos 
avalistas. 
1.2. Figuras da letra de câmbio 
 
 Como sabido, há três figuras neste título: o sacador, que emite a letra; o tomador, 
beneficiário do pagamento; e o sacado, que é quem pagará o título se exarar o aceite. 
 A LUG permite que se confundam, estas figuras, na mesma pessoa: pode o sacador 
ser ao mesmo tempo tomador e sacado. As três figuras podem se concentrar em uma só 
pessoa, ou duas figuras em uma só, em qualquer combinação. Esta situação não faz com 
que deixem de existir as três figuras, mas apenas as confunde em uma só pessoa. 
 Bom exemplo em que isto acontece, análogo, é o cheque administrativo: ali se 
confundem as figuras do sacador e do sacado, pois é o banco que emite e paga o cheque. 
 Diversos podem ser os motivos desta dinâmica, desta peculiar confusão de figuras. 
Uma delas é a simples necessidade de que um título seja gerado, para fins mercantis de 
garantia: o sacador, sacado e tomador cria este título para obter, com o endosso, um 
13 
 
empréstimo bancário4. Fato é que sempre existirão as três figuras jurídicas, mesmo em se 
operando a confusão. 
 
1.3. Requisitos da letra de câmbio 
 
É necessário indicar o nome do título, como dito, sendo requisito óbvio. Também 
é preciso que haja o nome sacado, pois, na falta, não valerá como letra. 
Deve-se também indicar época do pagamento, mas na falta, esta será considerada 
à vista. Também é preciso indicar o local de pagamento, o que, na falta, será no domicílio 
do sacado. Se não houver endereço do sacado, porém, o título não produzirá efeitos. 
Deve-se indicar o beneficiário, vez que na emissão a letra não poderá ser ao 
portador. Quanto à data e local de emissão, não existindo data, o título não valerá; não 
existindo local, deverá ser considerado o do local do domicílio do sacador; se não existir 
domicílio, o STF admite que seja indicado pelo portador. 
A assinatura do sacador, é claro, é um requisito essencial. O analfabeto pode se 
obrigar, desde que representado por procurador com mandato instituído por instrumento 
público; se ele souber desenhar seu nome, prevalecerá a teoria da aparência, e ele será 
responsável, mesmo se não for representado. Há que se assegurar a relação cambiária, 
neste sentido, como defende Wille Duarte da Costa, mas Luis Emygdio entende que não 
é possível esta assunção direta de obrigação pelo analfabeto, pois mesmo que saiba 
desenhar seu nome, ainda não poderá ler o que consta do título. 
Pessoa que não pode assinar por defeito físico também pode se obrigar, desde que 
o faça por procuração por instrumento público e com poderes especiais. 
A pessoa que não quer assinar, ou que está ausente, pode fazê-lo por instrumento 
meramente particular, com poderes especiais. 
Vale lembrar que, sempre que alguém assinar por outrem, mas não se comprovar 
a especificidade do mandato, a letra será considerada assinada pelo próprio suposto 
mandatário, ou seja, ele se obrigou em nome próprio. 
 
SAQUE. Obrigação do sacador. Aceite. Lançamento. Responsabilidade do aceitante. 
Modalidades. Aceite parcial. Aceite modificativo. Cláusula não aceitável. Lugar de 
apresentação. 
 
1. Saque 
 
 Tecnicamente, o saque só existe em letras de câmbio e duplicatas. O termo saque 
só pode ser empregado, com precisão, nestes títulos, nos demais sendo mais correto o 
termo emissão. 
 A natureza jurídica do saque é de declaração unilateral de vontade cambiária, 
realizada, por óbvio, pelo sacador, ao produzir o título. Não existe letra de câmbio sem 
que haja o saque. É uma declaração unilateral de vontade originária e necessária, pois é 
o saque que cria a letra (enquanto o endosso e o aval são declarações unilaterais de 
vontade sucessivas e não necessárias, vez que o título existe e se aperfeiçoa sem estas 
declarações). 
 Quanto ao momento exato em que se dá a vinculação do sacador a uma obrigação 
cambiária, ou seja, o momento em que surge a obrigação cambiária propriamente dita, 
existem duas teorias. A primeira, teoria da emissão, entende que não basta a simples 
criação do título para ser gerada a responsabilidade do criador. O vínculo apenas se 
 
4 Hoje, a cédula de crédito bancário torna desnecessária esta dinâmica, porque se presta a garantir a 
operação financeira de empréstimo bancário. Este título será mais bem abordado adiante. 
14 
 
estabelece com a saída voluntária do título das mãos do subscritor. Em outras palavras, 
o subscritor não se obrigará caso o título saia de suas mãos de forma involuntária caso em 
que o título não valerá sequer se o portador for terceiro de boa-fé. 
 A segunda tese, teoria da criação, entende que a mera criação do título já faz 
surgir a obrigação cambiária, não sendo necessária sua tradição voluntária para tanto, 
como exige a teoria da emissão. Formalizado o título, este passa a ter um valor próprio e 
torna-se fonte de um direito de crédito que é atribuído a um futuro detentor, ou seja, o 
subscritor do título fica obrigado, mesmo nos casos de roubo ou perda. Esta é a teoria 
adotada no Brasil. 
É muito lógica, a adoção desta teoria, porque é a que melhor implementa todos os 
elementos do título, sobremaneira a autonomia, a segurança das relações cambiais 
derivada da proteção à aparência jurídica. Mesmo por isso, Wille Duarte da Costa defende 
que não há possibilidade de opor defesa em face do portador de boa-fé, ainda que o título 
tenha saído das mãos do subscritor de forma involuntária. Deve-se garantir a aparência 
jurídica. 
O sacador é devedor indireto da letra de câmbio. Ele cria a ordem de pagamento 
contra o sacado, que será o futuro devedor direto do título. Assim, o sacador faz promessa 
indireta de pagamento; portanto, deve ser realizado o protesto do título para que seja 
possível cobrá-lo deste promitente indireto (protesto que será dispensado apenas se o 
sacador inserir cláusula que o dispense). 
A situação de devedor indireto da letra traz para o sacador a qualificação de 
garantidor do pagamento. E ressalte-se que o sacador não pode se exonerar da 
responsabilidade do pagamento, ao contrário do que ocorre com os endossantes, que 
podem se exonerar na forma do artigo 15 da LUG: 
 
“Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação 
como do pagamento da letra. o endossante pode proibir um novo endosso, e, 
neste caso, não garante o pagamento às pessoas a uem a letra for posteriormente 
endossada.” 
 
A relação jurídica extracambiária que deu azo à ordem de pagamento, ou seja, o 
motivo pelo qual o sacado se coloca nesta posição de sujeição a uma ordem do sacador, 
é irrelevante para a obrigação cambiária. Não se perscruta qual seja o negócio jurídico 
pretérito que ensejou a ordem do sacador ao sacado. 
O beneficiário do título, tomador da nota, precisa saber se a ordem será acatada, 
porém. Para tanto, dirige-se ao sacado e apresenta a nota, para que este declare se aceita 
ou não a obrigação cambiária a si ordenada. Este é o aceite: é a declaração do sacado que 
o faz tornar-se devedor cambiário. Enquanto o sacado for mero sacado, não é devedor 
cambiário; aceitando a ordem, passa a ser aceitante, e com isso devedor direto da letra de 
câmbio. 
Pelo ensejo, é preciso deixar claro o que seja, e quem seja, devedor direto, devedor 
indireto,devedor principal e devedor de regresso. Vejamos um esquema gráfico de cada 
situação, com ou sem aceite, da letra de câmbio: 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nos títulos de crédito, vigora a regra da solidariedade cambiária, que é diferente 
da solidariedade civil comum: todos os devedores de um título de crédito podem ser 
acionados pela integralidade, e a ação regressiva que porventura surja é também pela 
integralidade, e não apenas pelas cotas-parte de cada um dos solidários, como no direito 
civil ocorre. 
Para que o devedor indireto seja exigido, porém, é preciso que haja a prova de que 
o título foi apresentado para aceite ou pagamento pelo devedor direto, infrutíferos, pois 
do contrário ainda há que ser cobrado este devedor direto, mesmo que haja a 
solidariedade. Isto porque a promessa de pagamento que o devedor indireto faz, como 
garante, é indireta, ou seja, só se lhe permite a cobrança em não sendo adimplido o título 
pelo devedor direto. E a prova de que a satisfação da obrigação cambiária foi buscada 
junto ao devedor direto é feita pelo protesto. 
Note-se, então, que o protesto pode servir para provar, ao devedor indireto, que o 
credor cambiário buscou tanto obter o aceite pelo sacado, no que foi frustrado, quanto 
serve para provar que o credor buscou o próprio pagamento junto ao que seria devedor 
direto, apontado como sacado e ainda sacado porque não aceitou, ou já aceitante. Por isso, 
há protesto por falta de aceite e protesto por falta de pagamento. 
O protesto deverá ser realizado no primeiro dia útil seguinte ao vencimento do 
título, na forma do artigo 28 do Decreto 2.044/1908: 
 
“Art. 28. A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento 
deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da 
recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto, tirado dentro de 
três dias úteis. 
Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para o 
aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro 
domicílio que não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto.” 
 
 É claro que para a cobrança do devedor direto não se exige protesto, pois se este 
serve como prova formal de que quem seria imputado pelo pagamento não arcou com 
este, permitindo assim que o devedor indireto seja acionado, se a cobrança cambial é feita 
do próprio devedor direto, não há que se lhe provar nada: é ele mesmo quem está na mira 
primária da exigibilidade do título. 
Letra de câmbio sem aceite 
Sacador (DI 
e DP) 
Saque Tomador 
Sacado 
A
p
resen
tação
 
p
ara aceite 
Letra de câmbio com aceite 
Sacador 
(DI e DR) 
Saqu
e 
Tomador 
Aceitante 
(DD e DP) 
P
ag
am
en
to
 
Pagamento 
A
p
resen
tação
 
p
ara aceite 
DI: Devedor indireto 
DI: Devedor indireto 
DD: Devedor direto 
DP: Devedor principal 
DR: Devedor de regresso 
16 
 
 Devedor principal é aquele que, uma vez cobrado, tem ação regressiva para cobrar 
de outro coobrigado o valor integral que de si foi exigido. Se não há direito a regredir 
contra ninguém, estamos diante de um devedor principal. Simples assim. 
 Na letra de câmbio sem aceite, como se viu nos esquemas, assim se classificam os 
devedores: o sacado não é devedor cambiário, de qualquer espécie, eis que o aceite é-lhe 
uma faculdade. Não importa, ao direito cambiário, se o sacado deveria ou não ter aceitado: 
isto é um problema que pertine à esfera extracambial, questão cível a ser solucionada 
entre sacador e sacado. 
 O tomador de letra de câmbio que foi apresentada ao sacado, e em que houve 
recusa do aceite, deve protestar este título por falta de aceite, de forma a comprovar que 
buscou o aceite em tempo hábil, para poder cobrar do sacador, devedor indireto. Cobrado 
o título do sacador, ele não terá regresso cambiário contra o sacado (podendo, como dito, 
ter ação civil conta este, mas calcada na relação extracambial, o que não importa ao direito 
cambiário). 
Veja que na letra de câmbio sem aceite simplesmente não existe devedor direto, 
porque só há relação cambiária entre devedor indireto e tomador. Não havendo o aceite, 
o tomador não precisa respeitar o vencimento da letra para exigir o seu pagamento: a 
recusa do aceite induz ao vencimento antecipado do título. 
 Exarado o aceite, pelo sacado, este passa a ser chamado aceitante, tornando-se 
devedor direito cambiário. Havendo aceite, haverá possibilidade de cobrança do título 
pelo tomador, cobrando-o na data do vencimento deste devedor direto, aceitante. 
Se o aceitante, vencido o título, negar-se a pagar a letra, mesmo a tendo aceitado 
antes, deverá o tomador efetuar o protesto por falta de pagamento, novamente com o 
intuito de poder cobrar o título do sacador, que é devedor indireto, demandando a prova 
da busca infrutífera do pagamento junto ao devedor direto. 
É claro que, pago o título pelo sacador, ele terá direito de regresso cambial contra 
o aceitante inadimplente, porque este é o devedor direto e principal. 
 Quando o beneficiário, tomador, perder o prazo para protesto, qualquer que seja o 
tipo, não terá mais ação executória, cambiária, em face do devedor indireto, sacador. 
Todavia, ainda terá ação cambiária em face do aceitante, pois o protesto não é preciso 
contra este, vez que se trata de devedor direto. Se não houve aceite, a falta do protesto 
simplesmente impede a ação cambiária, porque não há ação contra sacado não aceitante, 
e não há o preenchimento do requisito fundamental para que o sacador seja exigido, o 
protesto (salvo se há a cláusula sem protesto, em que o sacador dispensa o protesto para 
a execução contra si). 
 Na nota promissória, a lógica é bem mais simplória. Por isso, tracemos desde já a 
situação em que há endossos do título, a fim de adiantar o conhecimento do tema: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota promissória 
Emitente 
(DD e DP) Emissã
o 
DI: Devedor indireto 
DD: Devedor direto 
DP: Devedor principal 
DR: Devedor de regresso 
Beneficiário 
(DI e DR) Endoss
o 
Beneficiário 
(DI e DR) 
E
n
d
o
sso
 
Endoss
o 
Beneficiário final 
(portador do título) 
Beneficiário 
(DI e DR) 
17 
 
 
 
 Na nota promissória, não há o aceite, porque só existem duas figuras, na relação 
básica, o promitente, devedor, e o promissário, beneficiário. Assim, o credor apresenta o 
título já para pagamento, ao emitente, que é o devedor direto. É claro que se o emitente 
fizer o pagamento do título, não tem regresso contra ninguém – é portanto devedor 
principal. 
 Os endossantes são coobrigados, devedores indiretos do título, e se exigidos no 
pagamento, terão ação regressiva contra os coobrigados anteriores. 
 Suponha-se, porém, que haja avalistas nesta relação. A regra é que o avalista 
assume a mesma posição do avalizado, ou seja, se seu avalizado é devedor indireto e de 
regresso, assim também o é o avalista. Contudo, se o avalista tem por avalizado o emitente 
da nota, há uma pequena alteração: ele é também devedor direto, como o seu avalizado, 
mas não é devedor principal, porque tem regresso contra este próprio avalizado. 
 No exemplo do gráfico, se o beneficiário final quiser, poderá cobrar de qualquer 
um da cadeia de endosso, mediante protesto (pois são todos devedores indiretos). Se, 
porém, perder o prazo de protesto, só poderá cobrar do devedor direto, que é o emitente 
da nota (e seu eventual avalista). Como são solidários, pode acionar a todos em conjunto 
(mediante protesto). 
 A ação de regresso,de quem tiver tal direito, é igualmente cambiária, instruída 
com o mesmo título que de si foi cobrado (com a certidão do título, em verdade, eis eu a 
cártula está juntada na execução original). 
 
 
 
2. Aceite 
 
Assim como o endosso, o aval, e o próprio o saque, o aceite é uma declaração 
unilateral de vontade, pela qual uma pessoa aceita uma obrigação cambiária, 
comprometendo-se a pagar determinada quantia. O sacado, até exarar seu aceite, não tem 
qualquer obrigação cambial. Simplesmente não existe na letra de câmbio. 
Havendo recusa do aceite, o sacado continua ausente da relação cambiária. A 
principal conseqüência do aceite recusado5 recai sobre o sacador: ocorrerá o vencimento 
antecipado da obrigação cambiária. 
O aceite, então, é o reconhecimento da obrigação contida no título: é o respeito, o 
acato, pelo sacado, à ordem de pagamento emitida pelo sacador. Recusado o aceite, o 
título passa a ser exigível de imediato pelo tomador, contra o sacador, emitente do título. 
Deve haver o protesto da letra, provada a recusa, e execução do título, desde logo, contra 
o sacador. 
O aceite parcial é possível, e se for feito, cinge-se a obrigação cambiária em duas 
partes: a parte aceita permite a cobrança do sacado, aceitante, quando do vencimento; e a 
parte não aceita, recusada, terá seu vencimento antecipado, permitindo a execução 
imediata do sacador, mediante o necessário protesto por falta de aceite, apenas daquela 
 
5 Em que pese haver quem entenda que são sinônimos, há quem diferencie a falta da recusa ao aceite: se o 
aceite buscado pelo tomador simplesmente não foi realizado, por algum motivo diverso da expressa recusa 
(não se encontra o sacado, ou este já faleceu, por exemplo), há falta de aceite; se o sacado expressamente 
se recusa a aceitar a ordem, é recusa do aceite. A diferença é bastante relevante, vez que somente a recusa 
do aceite implica em vencimento antecipado do título, o que não ocorrerá se não se diferenciar recusa de 
falta: ambas as situações, sendo entendidas como recusa, implicam em vencimento antecipado do título. 
18 
 
parte. O aceite parcial acarreta o vencimento antecipado somente da parte que foi objeto 
de recusa. 
 O aceite qualificado, ou modificativo, que é aquele que altera elementos da ordem, 
é considerado aceite recusado. Exemplo de aceite qualificado é o que é exarado com a 
alteração de vencimento da letra pelo sacado, por exemplo. Se o tomador aquiescer na 
alteração, porém, o aceite passa a ser pleno, simples, sem recusa. 
Há ainda o aceite por intervenção: este ocorrerá quando uma terceira pessoa se 
disponha a aceitar uma obrigação cambiária no lugar do sacado. Um terceiro qualquer, 
por qualquer motivo, emite o aceite da ordem, se obrigando na letra. Ressalte-se que se 
no momento da criação do título não for autorizada a intervenção de terceiro, o aceite por 
intervenção dependerá do consentimento do beneficiário. Se este tomador não anuir no 
aceite feito pelo terceiro, considera-se sem aceite aquela letra, com todas as 
conseqüências da falta do aceite (leia-se vencimento antecipado, protesto por falta de 
aceite e execução imediata do sacador). Se a intervenção foi previamente permitida, o 
tomador não pode a ela se opor. 
A intervenção do terceiro, aceitando em nome próprio a letra, tornando-se devedor 
direto, pode ser calcada em uma inumerável conta de motivos, que não pertinem ao meio 
cambiário. Qualquer que seja o motivo – relação familiar, crédito civil externo à relação 
cambiária, pura liberalidade –, não altera a dinâmica cambial, que é autônoma. 
 
2.1. Cláusula proibitiva de aceite 
 
 A apresentação para aceite, como já se pôde ver, não precisa ser feita somente no 
vencimento da cártula. Pode ser feita antes, a fim de verificar desde logo se o sacado se 
tornará aceitante ou não, demonstrando se o protesto será necessário. O sacador, quando 
emite a letra, presume que esta será aceita, mas sabe que se não for, ele será o devedor 
acionado, eis que é devedor indireto na ordem, garantidor do pagamento. E como a falta 
de aceite causa vencimento antecipado da obrigação, o sacador pode ser pego de surpresa 
com a exigibilidade do título protestado por falta de aceite. 
 A fim de se precaver desta situação, em que terá de si cobrado valor 
antecipadamente do que planejava, pode o sacador inserir a cláusula proibitiva de aceite, 
com vistas a impedir que o título seja apresentado para aceite previamente ao vencimento. 
Neste caso, deverá o beneficiário apresentar o título somente no momento do seu 
vencimento, e concomitantemente para aceite e para pagamento. Se for apresentada, neste 
dia do vencimento, e não for paga (e aceita, por óbvio), somente então o sacador será 
exigível, não se surpreendendo este devedor indireto com o vencimento antecipado. 
Esta cláusula não poderá ser inserida naquelas letras de câmbio que possuam 
vencimento a certo termo de vista, pois jamais ocorreria o seu vencimento: se o 
vencimento é determinado pela apresentação e aceite, a proibição desta apresentação 
impediria que ocorresse o inicio do prazo para vencimento. 
Se o portador de letra com cláusula proibitiva de aceite apresenta o título em 
momento anterior ao vencimento, e o sacado recusa o aceite, não poderá o tomador exigir 
o título: não há antecipação do vencimento. Aguardado o prazo para vencimento, quando 
vencido, o tomador apresenta novamente o título, e se o sacado não se dispuser a pagá-
lo, título poderá ser protestado por falta de pagamento (e não de aceite), a fim de que o 
devedor indireto, o sacador, seja executável pela letra. 
 Havendo cláusula proibitiva de aceite, se o tomador a desrespeita, mas o sacado 
aceita, não há qualquer problema: aguardar-se-á o vencimento, quando então o título será 
cobrado do aceitante, ou, se recusado o pagamento por este, protestar-se-á por falta de 
pagamento e executar-se-á o sacador. 
19 
 
Pode haver também a estipulação de data para aceite, pelo sacador: se ele pode 
proibir o aceite – o “mais” –, nada impede que possa obstaculizar temporalmente a 
apresentação, marcando data futura para que esta seja possível – o “menos”. Apenas ficará 
proibido o aceite até a data estabelecida, podendo haver apresentação dali em diante – o 
sacador fica protegido de vencimento antecipado até aquela data, pelo menos. 
 
 
ENDOSSO. Conceito. Natureza jurídica. Modalidades de endosso. Endosso em branco e preto. 
Diferenças entre endosso e cessão de crédito. Endosso parcial. Endosso condicionado. 
 
 
1. Endosso 
 
 O endosso é uma declaração unilateral de vontade que objetiva realizar a 
transferência de uma obrigação cambiária. A palavra endosso, etimologicamente, vem de 
uma agregação das palavras “em dorso”, indicando que esta declaração deve ser aposta 
no verso do título. 
 O endosso não é suficiente à transmissão do crédito: é necessário o ato físico da 
tradição da cártula para que se complete a transferência da obrigação cambiária. 
 O endosso é instituto típico da seara cambiária, exclusivo dos títulos de crédito. 
Sua formalidade exige que seja feito na própria cártula, em apreço ao princípio da 
literalidade (ao contrário da cessão, que pode ser feita por documento separado). A folha 
de alongamento, que é aderida ao título, não mitiga esta regra, pois que é considerada 
parte da própria cártula. 
 A cessão de crédito, do título de crédito, é possível, e quando houver cláusula “não 
à ordem”, é de fato a única forma pela qual aquele título poderá circular, dali em diante. 
Veja o artigo 11 da LUG: 
 
“Art. 11. Toda a letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a 
cláusula à ordem, é transmissível por via do endosso.Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não à ordem”, ou uma 
expressão equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de 
uma cessão ordinária de créditos. 
O endosso pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do 
sacador, ou de qualquer outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar 
novamente a letra.” 
 
 A cláusula “não à ordem” implica em que o devedor será sempre o que a inseriu, 
porque qualquer movimentação, dali em diante, é mera cessão de crédito. 
 O endosso pode ser tardio, ou póstumo: este se trata do endosso feito após o 
protesto, ou após o prazo do protesto. Este endosso, igualmente, terá efeito de mera cessão 
de crédito. 
 A cessão de crédito, apesar de ter por escopo a mesma transferência da obrigação 
cambiária, a mesma circulação do título, não se confunde com o endosso. Seus efeitos 
são bem distintos. Para traçar este cenário, nada melhor do que traçar um quadro 
comparativo entre estas formas de transmissão do crédito. Vejamos o esquema gráfico: 
 
 
 
 
 
 
20 
 
Endosso Cessão de crédito 
 
Natureza jurídica de declaração unilateral de vontade 
 
Natureza jurídica de contrato 
 
 
Não pode ser parcial, na forma do artigo 912, parágrafo 
único, do CC, e artigo 12, 2, da LUG 
 
Pode ser parcial 
 
Sempre incondicional 
 
Pode ser condicional 
 
O endossatário recebe direito novo e autônomo 
 
O cessionário recebe direto derivado 
 
Salvo cláusula em contrário, o endossante responde pela 
existência e solvência do crédito, ao contrário do artigo 
914 do CC 
 
 
Salvo cláusula em contrário, o cedente somente responde pela 
existência do título 
 
 
Instituto exclusivo de títulos de crédito 
 
Instituto utilizável em qualquer negócio jurídico 
 
Só pode ser lançado no próprio título 
 
Pode ser efetuada em documento apartado 
 
 Algumas considerações pontuais são necessárias. Vejamos. 
 
1.1. Endosso parcial 
 
O endosso parcial é impossível, mas há uma discussão sobre a causa de sua 
vedação, se se trata de nulidade ou ineficácia. Há duas correntes. A primeira corrente 
argumenta que, em razão da cartularidade, só há direito cambiário para aquele que 
apresenta o documento representativo, a cártula, pelo que somente com a entrega do título 
inteiro é exigível a obrigação cambial, pelo portador – o que inviabilizaria a feitura de um 
endosso parcial, que demanda a entrega física da cártula ao endossatário. Havendo 
entrega de cártula com menção de partição no endosso, ou seja, havendo entrega do título 
com a menção de que o endosso é de apenas parte do crédito, esta menção ao 
fracionamento do endosso se considera não escrita, ou seja, é nula. Assim dizem o CC e 
a LUG, mas a nulidade do endosso parcial causa um problema: as relações dali 
decorrentes não seriam mais justificadas, ou seja, tudo que for posteriormente praticado 
será igualmente nulo, causando estranheza e confusão na cadeia cambial. 
 Por isso, a segunda corrente, de Wille Duarte da Costa, por seu turno, diz que o 
endosso parcial é ineficaz, e não nulo. Apenas se entende que a menção ao fracionamento 
do endosso é não escrita, mas não se nulifica a declaração de vontade, o que faz com que 
o endosso praticado seja tido por integral, justificando as relações subseqüentes em 
eventual cadeia cambial. 
Veja o artigo 12 da LUG, e 912 do CC: 
 
“Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja 
condicionado considera-se como não escrita. 
O endosso parcial é nulo. 
O endosso ao portador vale como endosso em branco.” 
 
“Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o 
subordine o endossante. 
Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.” 
 
 A corrente pela nulidade do endosso parcial é majoritária, e conta com amparo 
legal. Contudo, não explica o destino dado aos endossos supervenientes àquele que foi 
21 
 
nulificado, que são mantidos, sem maiores explanações, na cadeia cambiária subseqüente 
– enquanto deveriam ser igualmente nulificados, mesmo sendo integrais, por conta 
daquele primeiro que foi tornado nulo6. 
Deste artigo 12 da LUG se colhe também a incondicionalidade do endosso, 
próximo aspecto a ser abordado. 
 
1.2. Incondicionalidade do endosso 
 
 Não se permite condicionar o endosso a qualquer evento futuro e incerto. Havendo 
o endosso, este se aperfeiçoa de plano, não podendo ser sujeito a qualquer condição. A 
aposição de condição ao endosso não o nulifica, mas é considerada não escrita, o que 
permite a plena exigibilidade do título pelo endossatário. 
 
1.3. Efeito purificador do endosso 
 
 O endosso purifica o título. Esta é a máxima que explica a entrega de direito novo 
e autônomo ao endossatário, ou seja, todas as cargas referente à relação entre o emitente 
do título e o endossante não são trazidas, junto com o título, ao endossatário: fenecem 
com o endosso. 
 Imagine-se, por exemplo, que um endosso seja efetuado por quem não tenha 
capacidade para tanto. Posteriormente, o endossatário daquele endosso nulo endossa, ele 
próprio, o título a um terceiro. Este seu endosso é válido, e não poderá, este terceiro, agora 
portador, ser prejudicado pelo vício original, porque o endosso a si feito purificou o título. 
 A cessão de crédito não tem este efeito purificador. Com a mera recepção do título, 
sem endosso, o vício que contamina o título na origem é carregado junto com o crédito, 
não sendo purificado, se fazendo oponível ao cessionário. 
 
1.4. Responsabilidade do endossante 
 
 A LUG determina, no artigo 15, que o endossante responde pela existência e 
solvência do crédito, ou seja, é responsabilidade solidária pro solvendo. Veja: 
 
 “Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da 
aceitação como do pagamento da letra. o endossante pode proibir um novo 
endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a uem a letra for 
posteriormente endossada.” 
 
 O CC, no artigo 914, diz o contrário: a responsabilidade do endossante, ali, é 
meramente pro soluto, tal como o é na cessão de crédito, em regra, prevista no artigo 296 
do CC. Veja: 
 
“Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não 
responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. 
§ 1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna 
devedor solidário. 
§ 2º Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados 
anteriores.” 
 
 
6 De fato, as movimentações do título, posteriores ao endosso parcial que foi nulificado, deveriam ser tidas 
por meras cessões do título, se estes endossos também fossem nulificados: não havendo endosso válido, a 
transferência do título só se justificaria por meio de cessão. 
22 
 
“Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela 
solvência do devedor.” 
 
 Como se sabe, entretanto, este artigo 914 do CC não deve ser observado, eis que 
há a norma especial que deve ser aplicada. 
 Aqui há que ser feito um parêntese, em relação à cessão de crédito: o artigo 1.005 
do CC deve ser observado, porque se a cessão de crédito for feita para integralizar capital 
social, a regra pro soluto se inverte, e a cessão é considerada pro solvendo. Veja: 
 
“Art. 1.005. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou 
uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir 
crédito.” 
 
1.5. Endosso em branco e em preto 
 
 Endosso em branco é aquele em que não se identifica a figura do endossatário. É 
representado por uma simples assinatura noverso do título. 
 O endosso em preto, por sua vez, indica quem é o endossatário, e somente ele terá 
legitimidade para exigir o crédito, ou endossar novamente o título. 
 
1.6. Pluralidade de endossos 
 
 Não há limite ao número de endossos que podem ser feitos em um mesmo título. 
Nem mesmo limitação física existe, eis que pode ser acoplada ao título uma folha de 
alongamento, como dito, que se torna parte da cártula, a fim de comportar mais escritos 
que forem necessários. 
 O cheque, por sua vez, apresenta uma questão. O cheque admite endosso, em 
branco ou em preto, mas apenas uma vez. Esta limitação serve para prevenir a excessiva 
circulação não tributada do cheque (CPMF). Vale lembrar que se o endosso for em 
branco, ainda caberá a circulação por cessão, de forma indefinida. 
 Hoje, porém, com a revogação do CPMF, surgiu a questão: revogou-se esta 
proibição de pluralidade de endossos, eis que não há mais qualquer interesse em se forçar 
o depósito do cheque? Há duas correntes: a primeira entende que esta vedação não se 
sustenta, eis que perdeu qualquer sentido; a segunda corrente, porém, entende que apenas 
o imposto foi revogado, não se tocando a norma proibitiva do endosso, que permaneceria 
vigente, portanto. 
 
 
1.7. Endosso próprio e impróprio 
 
 Segundo esta classificação, é próprio o endosso que transfere, efetivamente, a 
obrigação cambiária, fazendo o endossatário o titular do direito. O endosso será 
impróprio, outrossim, quando não representar a transferência do crédito contido no título, 
mas apenas a posse do título, para fins diversos da transmissão do crédito. 
 Pelo endosso impróprio, o endossatário não se torna proprietário do crédito: se 
torna portador do título para alguma finalidade. Há apenas das formas de endosso 
impróprio, na nossa sistemática: o endosso-caução e o endosso-mandato. 
 Endosso-mandato é aquele que só entrega a posse do título ao endossatário-
mandatário, para que este possa cobrar o título em nome do endossante. O endossatário-
mandatário não é titular do direito, é mero procurador do endossante-mandante para a 
cobrança do crédito por este titularizado. 
23 
 
 O endosso-caução, por sua vez, se faz com o escopo de transformar o título em 
uma garantia, fazendo-o vincular-se ao adimplemento de uma obrigação externa à 
cambial, como garantia. É, por isso, chamado também de endosso-penhor. 
 Em síntese: o endosso-mandato consiste na transferência dos poderes de cobrança 
do crédito, ou seja, o endossatário transforma-se em procurador do tomador original, 
apenas possuindo o título para efetuar sua cobrança em nome do endossante, que ainda é 
o titular do crédito. O endosso-caução, também chamado endosso pignoratício, serve 
para transferir o título de crédito como instrumento de garantia real da obrigação, ou seja, 
o título é dado em penhor a um credor do endossante, como forma de garantia desta 
segunda obrigação, na qual o endossante, tomador do título, é devedor. O endosso-caução 
é o simples penhor do título, como se o fosse de um bem corpóreo qualquer. Ambos os 
endossos impróprios serão mais bem abordados em tópico específico. 
 
1.8. Cláusula sem garantia e cláusula proibitiva de novo endosso 
 
 O artigo 15 da LUG, já transcrito, permite que o endossante insira no título, ao 
fazer o endosso, a chamada cláusula sem garantia. Esta cláusula se presta a afastar a 
responsabilidade do endossante, que não poderá ser demandado pelo pagamento do título 
endossado. O endossante, simplesmente, deixa de ser devedor do título, passando de 
responsável pro solvendo a pro soluto (porque, por óbvio, não pode se eximir da 
responsabilidade pela existência do crédito, do título). 
 A cláusula proibitiva de novo endosso, por seu turno, opera efeitos diferentes: o 
endossante que apõe esta cláusula não se exonera da responsabilidade pelo pagamento do 
título perante o seu endossatário direto, mas se exonera de responsabilidade perante 
futuros endossatários. Veja: o endossante que proíbe novo endosso não obsta que novos 
endossos sejam efetuados, pelo seu endossatário ou por subseqüentes portadores do título; 
a aposição desta cláusula apenas diz que o endossante não se responsabiliza pelo 
pagamento perante ninguém mais, senão seu endossatário direto. 
 
1.9. Cláusula sem protesto 
 
 Pode a necessidade de protesto ser dispensada pelo devedor indireto. Se o devedor 
que dispensa o protesto for o emitente do título, o sacador, ele estará dispensando o 
protesto daquele título para sempre, ou seja, se houver seqüência de endossos, nenhuma 
figura da cadeia poderá exigir protesto prévio a sua execução. 
 Ao contrário, se quem insere a cláusula de dispensa de protesto for um dos 
coobrigados subseqüentes, um dos endossantes, por exemplo, esta dispensa só pertine a 
ele mesmo: os demais coobrigados, devedores indiretos, só poderão ser executados se 
houver protesto pelo credor. 
 É claro que o devedor direto sempre poderá ser executado sem protesto, eis que a 
função basilar do protesto é certificar ao devedor indireto de sua responsabilidade – o que 
não faz sentido junto ao devedor direto. 
 O avalista de um devedor indireto que inseriu cláusula sem protesto não dispensou 
o protesto, ele próprio. Por isso, a execução do avalista deve ser precedida de protesto. A 
dispensa do protesto só tem efeito perante quem a efetiva (salvo se quem a efetiva foi o 
emitente, sacador, como dito, pois então se estende a toda a cadeia). 
 Veja o artigo 46 da LUG: 
 
“Art. 46. O sacador, o endossante ou um avalista pode, pela cláusula “sem 
despesas”, “sem protesto”, ou outra cláusula equivalente, dispensar o portador e 
24 
 
fazer o protesto por falta de aceite ou falta de pagamento, para poder exercer 
seus direitos de ação. 
Esta cláusula não dispensa o portador da apresentação da letra dentro do prazo 
prescrito, nem tampouco dos avisos a dar. A prova da inobservância do prazo 
incumbe àquele que dela se prevaleça contra o portador. 
Se a cláusula foi escrita pelo sacador produz os seus efeitos em relação a todos 
os signatários da letra; se for inserida por um endossante ou por avalista, só 
produz efeito em relação a este endossante ou avalista. Se, apesar da cláusula 
escrita pelo sacador, o portador faz o protesto, as respectivas despesas serão por 
conta dele. Quando a cláusula emanar de um endossante ou de um avalista, as 
despesas de protesto, se for feito, podem ser cobradas de todos os signatários da 
letra.” 
 
 
ENDOSSO. Endosso próprio e impróprio: endosso-mandato e endosso-caução. Endosso 
póstumo. Cancelamento do endosso. 
 
1. Endosso 
 
 O endosso é o meio pelo qual se coloca o título de crédito com cláusula à ordem 
em circulação. Esta declaração unilateral de vontade se materializa pela assinatura do 
endossante no verso do título. 
 O endosso pode ser em branco ou em preto, como se sabe. Hoje, por força do 
artigo 19 da Lei 8.088/90, o nome do beneficiário é um requisito essencial em todos os 
títulos de crédito, à exceção do cheque inferior a cem reais. Sendo assim, o endosso em 
branco, hoje, só é assim no nascedouro, porque para que seja exigido o título, o 
beneficiário deverá fazer constar ali seu nome – convertendo-se em preto, ao final. 
 
“Art. 19 - Todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sempre 
sob a forma nominativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto. 
§ 1º - Revestir-se-ão de forma nominativa os títulos, valores mobiliários e 
cambiais em circulação antes da vigência desta Lei, quando, por qualquer 
motivo, reemitidos, repactuados, desdobrados ou agrupados. 
§ 2º - A emissão em desobediência à forma nominativa prevista neste artigo 
torna

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