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RONILDO DA CONCEIÇÃO MANOEL REVISIONAL DE FINANCIAMENTOS DE VEÍCULOS E OUTROS CONTRATOS BANCÁRIOS Doutrina, Legislação, Jurisprudência e Prática Leasing Cheque Especial Arrendamento Mercantil Crédito Direto ao Consumidor (CDC) Laudo Pericial Judicial e Extrajudicial Ia Edição REVISIONAL DE FINANCIAMENTOS DE VEÍCULOS E OUTROS CONTRATOS BANCÁRIOS Doutrina, Legislação, Jurisprudência e Prática Leasing Cheque Especial Arrendamento Mercantil Crédito Direto ao Consumidor (CDC) Laudo Pericial Judicial e Extrajudicial TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À Habermann Livraria & Editora Rua: Paulo Rebessi, 155 - Cidade Jardim Tel: 19 3571.5975 - CEP: 13614-260 Leme - SP Visite nossa loja virtual www.habermanneditora.com.br E-mail habermanneditora@hotmail. com Editora Visão Jurídica Rua Pedro Alvares Cabral, n° 585 Bairro Sta. Rita - Leme- SP. Tel. 19 3571-5563 CEP. 13.611-600 E-mail editoravisaojuridica@gmail.com - Graduado em Gestão de Processos Gerenciais pela FACINTER/PR [ên fase em gestão financeira e tributária]. - Contabilista inscrito no CRC/PR sob n.° 050.461/0-1; - Pós-graduando [MBA) em Gestão Bancária e Finanças Corporativas, ESAB-Londrina/PR. - Curso Superior de Filosofia Licenciatura pela UFSC (Universidade Fe deral de Santa Catarina); - Consultor Tributário e Articulista da Revista Contábil NetLegis (Portal Contábil e Jurídico - www.netlegis.com.br), Portal InfoBip (www.infobip. com.br), Banco de Informações privilegiadas, com consultoria fiscal e tributária, Classe Contábil (www.dassecontabil.com.br) e InterFisco (www.interfisco.com.br) e Plênnitus Consultoria & Auditoria Contábil. - Atua como perito financeiro e grafotécnico nas varas cíveis do interior do Paraná. - Autor dos livros: - Perito-contador: com foco na área econômico-financeira, Editora Juruá, Curitiba, 2005,; - Como se Defender dos Juros Abusivos nos Contratos Bancários", 2010, Leme/SP., Habermann Editora; - Gestão de Projetos Ambientais: ativos e passivos ambientais, Clube de Autores, 2010, SP; - A inconstitucionalidade do FUNRURAL e sua restituição na prática, 2011, São Paulo, RCN; RONILDO DA CONCEIÇÃO MANOEL ÍNDICE 1 - Introdução..........................................................................................................01 2 - Noções Gerais de Financiamentos de Veículos..............................................03 2.1 - Diferença entre Leasing/Arrendamento Mercantil e CDC..................... 03 2.1.1 - O que é Leasing ou Arrendamento Mercantil?..............................03 2.1.2 - O que é CDC ou Financiamento de Veículos?.............................. 06 2.2 - Importância dos Financiamentos de Veículos para a Economia Brasileira.................................................................................................. 07 2.3 - Modalidades de Arrendamento Mercantil.............................................. 10 2.3.1 - Arrendamento Mercantil Financeiro e/ou Operacional................11 3 - Lucros das Instituições Financeiras................................................................ 15 3.1 - Lucro dos Bancos no Brasil - 2003 a 2010.............................................16 3.2 - Temas Polêmicos e Pacificados no STJ: anatocismo, taxas de juros remuneratórios, manutenção na posse, depósitos das parcelas incontroversas e/ou devidas e comissão de permanência cumulativa com encargos moratórios e remuneratórios - Súmulas 30 e 296 do STJ.......................................... ................................................................ 22 3.2.1 - Anatocismo....................................................................................... 23 3.2.1.1 - Proibição de Anatocismo - Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Paraná......................................................................... 31 3.2.1.2 - Anatocismo após o Sistema de Julgamento em Recursos Repetitivos.................................................................................. 38 3.2.2 - Taxas de Juros Remuneratórios - Média de Mercado ou Lei de Usura? - Importância da Perícia Judicial para Apuração da Taxa de Juros............................................................................. 40 3.2.3 - Manutenção na Posse do Bem Arrendado e/ou Financiado - Possibilidade Quando há Depósito Judicial da Quantia Considerada Devida e/ou Incontroversa e Desconfiguração da Mora - Pacificação da Jurisprudência do STJ.........................152 3.2.4 - Depósito das Parcelas Devidas e/ou Incontroversas 164 3.2.5 - Comissão de Permanência - Cumulação com outros Encar gos Moratórios ou Remuneratórios - Proibição com Base na Jurisprudência do STJ.................................................................... 166 3 - Taxas de Juros de Financiamentos de Veículos - Comparação en tre Juros Cobrados e Média de Juros de Mercado - Tarifas Ilegais Cobradas - Repetição de Indébito - Cabimento.....................................178 3.3.1 - Planilhas Demonstrativas de Indébito Quando Compa radas com as Taxas de Juros Cobradas em Relação às Taxas Médias de Mercado - Exemplos de Demonstrativo de Indébito para Pessoas Físicas e Jurídicas...............................192 3.3.2. Modelos de Laudos Periciais Extrajudiciais para Funda mentar Ações Declaratórias de Nulidade de Contratos Bancários Cumulada com Repetição de Indébito - Casos Concretos........................................................................................ 200 3.3.2.1 - Laudo Pericial Contábil Extrajudicial Demons trando Indébito com Depósito Judicial das Parcelas Incontroversas até Julgamento Definitivo do Mérito - Contrato de Arrendamento Mercantil...........................200 I - Preliminares.....................................................................................201 II - Dos Procedimentos Adotados....................................................... 201 III - Objeto............................................................................................202 IV - Finalidade......................................................................................202 V - Parecer Técnico com Fundamentação Jurisprudencial...............202 V.I - Parcela Incontroversa - Jurisprudência - decisão do Tribunal de Justiça do Paraná balizada em parecer técnico contábil de perito paranaense...................................................202 V.II - Parecer Técnico com fundamentação jurisprudencial - Ausência de mora do Devedor - Mora do Credor - Iliquidez e Incerteza do pretenso débito cobrado - contraprestação pecuniária abusiva de leasing....................................................................................... 207 VI - Fator de arrendamento mercantil pela média de mercado - contraprestação pecuniária - VRG - fundamentação técnica, doutrinária e jurisprudencial.......................................................211 VI.I - Da inadmissibilidade da cumulação de comissão de permanência com correção monetária, juros moratórios, remuneratórios e multa - súmulas 30 e 296 do STJ...................218 VII - Conclusão.................................................................................... 221 3.3.2.2 - Laudo Pericial Contábil Extrajudicial Demonstrando Indébito a ser Restituído ao Arrendatário em Virtude de Devolução do Bem ao Arrendador.,..............................222 I - Preliminares......................................................................................222 II - Dos procedimentos adotados................................................ . ..222 III-Objeto...............................................................................................223 IV - Finalidade............................................................................. 223 V - Parecer técnico comfundamentação jurisprudencial................ ..223 V.I - Devolução do VRG pago nas parcelas - cabimento.................224 V.I1 - Parecer técnico com fundamentação jurisprudencial - ausência de mora do devedor - mora do credor - iliquidez e incerteza do pretenso débito cobrado - contraprestação pecuniária abusiva de leasing..................... 226 VI - Fator de arrendamento mercantil pela média de mercado - contraprestação pecuniária - VRG - fundamentação técnica, doutrinária e jurisprudencial....................................................... 230 VI.I - Da inadmissibilidade da cumulação de comissão de permanência com correção monetária, juros moratórios, remuneratórios e multa - súmulas 30 e 296 do STJ.............. 237 VII - Conclusão..................................................................................... 240 3.3.2.3 - Laudo Pericial Contábil Extrajudicial - Parecer Téc- nico-Contábil e Financeiro Demonstrando Indébito a ser Compensado com Redução de Parcelas a serem Consignadas no Valor Mensal de R$ 732,32.....................241 I - Preliminares..................................................................................... 241 II - Dos procedimentos adotados........................................................ 241 III-Objetos 242 IV - Finalidade...................................................................................... 242 V - Parecer técnico com fundamentação jurisprudencial.................. 242 V.I - Parecer técnico com fundamentação jurisprudencial - ausência de mora do devedor - mora do credor - iliquidez e incerteza do pretenso débito cobrado..................243 VI - Dados da economia brasileira segundo o Banco Central - prova eficaz da abusividade das taxas de juros nas operações de crédito (cheque especial, crédito pessoal, etc).............................................................................................. 247 VII - Média da taxa de mercado, segundo as normas do banco central - jurisprudência dominante do ST]..............................249 VII.I - Disposições técnico-contábeis e financeiras nos contra tos de cheque especial - disposições regulamentadas pelo Banco Central - violação às normas técnicas pelas instituições financeiras - Código de Defesa do Consumidor bancário...................................................................................... 253 VII.II - Dos juros abusivos - contratos bancários - cheque especial - crédito rotativo....................................................255 VII.III - Aplicação da taxa de juros de mercado ao cheque especial de acordo com jurisprudência pacífica do STJ - mas qual o percentual razoável da taxa de mercado?.............................................................................. 257 VII.IV - Da inadmissibilidade da cumulação de comissão de permanência com correção monetária, juros moratórios, remuneratórios e multa - súmulas 30 e 296 do STJ........................................................................... 261 VII.V - Da ilegalidade do anatocismo - Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal...................................................................... 264 VIII - Conclusão................................................................................... 264 3.3.2.4 - Laudo Pericial Contábil Extrajudicial de Extratos de Conta Corrente de Cheque Especial Demonstrando Indébito.................................................................................265 I - Preliminares..................................................................................... 266 II - Dos procedimentos adotados.........................................................266 III-Objeto s 266 IV-Finalidade.... . 267 V - Parecer técnico-contábil, de natureza financeira, com fundamentação jurisprudencial..................................................267 V.I - Parecer técnico com fundamentação jurisprudencial - ausência de mora do devedor - mora do credor - repetição de indébito pela cobrança de juros acima da média de mercado....................................................................................... 268 VI - Dados da economia brasileira segundo o Banco Central - prova eficaz da abusividade das taxas de juros nas operações de crédito (cheque especial - cheque ouro, crédito pessoal, etc).................................................................... 268 VII - Média da taxa de mercado, segundo as normas do Banco Central - jurisprudência dominante do STJ - recursos repetitivos....................................................................................269 VII.I - Disposições técnico-contábeis e financeiras nos contratos de cheque especial (cheque ouro) - disposições regulamentadas pelo Banco Central - relatório de economia bancária e crédito de 2002 a 2008 - juros e spread bancário - dados do BACEN - Código de Defesa do Consumidor bancário................................................................................. 276 VI1.1.I - Projeto juros e spread bancário de autoria do Banco Central - avaliação das taxas de juros média de mercado entre 2002 a 2009................................................. 278 VII.II - Dos juros abusivos - contratos bancários - cheque especial (cheque ouro) - crédito rotativo...........................279 VII.III - Aplicação da taxa de juros de mercado ao cheque especial (cheque ouro) de acordo com jurisprudência pacífica do STJ - mas qual o percentual razoável da taxa de mercado? - taxas de juros discrepantes.................281 VII.IV - Da inadmissibilidade da cumulação de comissão de permanência com correção monetária, juros moratórios, remuneratórios e multa - Súmulas 30 e 296 do STJ............................................................................287 VII.V - Da ilegalidade do anatocismo - Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal...................................................................... 290 VIII - Conclusão 290 3.4 - Modelos de Laudos Periciais Judiciais: Cheque Especial, CDC, Veículos e Arrendamento Mercantil................. ................................... 293 3.4.1 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Arrendamento Mercantil - Liquidação de Sentença....................................294 3.4.2 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Arrendamento Mercantil - Demonstra Redução da Dívida........................ 298 3.4.3 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Diversos Contratos: Arrendamento Mercantil, CDC e FINAME......................... 301 I - Preliminares..................................................................................... 302 II - Natureza da perícia.........................................................................302 III - Objeto da perícia...........................................................................302 IV - Finalidade da perícia.....................................................................302 V.- Diligências...................................................................................... 303 VI - Laudo pericial................................................................................ 303 VI.I - Quesitos apresentados pelo requerente (Fls. 465-466)...........303 VI.II - Quesitos apresentados pelo requerido (Fls. 467-468)........... 309 VII - Conclusão do laudo pericial........................................................310 3.4.4 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Cheque Especial - fundamentado nos pontos controvertidos fixados pelo juiz e evidenciados pelas partes, buscando esclarecer se há quantum debeatur a favor do réu ou indébito a favor da autora, em conformidade com os extratos e contratos juntados nos autos.................................................. 311 I - Preliminares..................................................................................... 311 II - Naturezada perícia.........................................................................312 III - Objeto da perícia...........................................................................312 IV - Finalidade da perícia.....................................................................312 V.- Diligências.......................................................................................312 VI - Laudo pericial................................................................................313 VI.I - Quesitos apresentados pelo réu (Fls. 521-523)....................... 313 VI.II - Quesitos do requerente (Fls. 525-527)....................................322 VI.II.I - Quesitos suplementares do requerente (Fls. 538-539)...322 VII - Esclarecimentos técnicos finais - Conclusão, VIII-Anexos.................................................................. 332 327 3.4.5 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Cheque Especial - Fundamentado em: a)nulidade de alguns lançamentos em conta corrente; b)nulidade parcial do Contrato de Abertura de Crédito em conta corrente - Cheque Ouro Empresarial; da Escritura de Confissão de Dívida e das Cédulas de Crédito Comercial; c) o valor pago de forma indevida com a repetição de indébito; d) a taxa de juros cobrada e sua legalidade; e) a capitalização dos juros e a inaplicabilidade da cobrança de comissão de permanência.............................................................................333 I - Preliminares..................................................................................... 333 H - Natureza da perícia........................................................................ 333 III - Objeto da perícia........................................................................... 334 IV - Finalidade da perícia.....................................................................334 V.- Diligências.......................................................................................335 VI - Laudo pericial............................................................................... 335 VI.I - Quesitos apresentados pela autora (Fls. 478 a 482)................335 VI.II - Quesitos do requerido (Fls.485-486).......................................346 VII - Conclusão..................................................................................... 348 VIII - Anexos.........................................................................................353 3.4.6 - Modelo de Laudo Pericial Judicial - Cheque Especial - Demonstra Indébito - a finalidade é determinar se houve ou não discrepância na cobrança dos valores executados nos autos (já julgado extinto) e na presente demanda, e demonstrar o quantum realmente devido, conforme se extrai dos quesitos formulados pelo juiz.............................. 354 - Modelos de Petições Revisionais e/ou Ações Declaratórias................ 377 3.5.1 - Ação Declaratória de Nulidade Contratual Cumulada com Repetição de Indébito e Pedido de Danos Morais - CDC Veículos......................................................................................... 377 3.5.2 - Ação Declaratória de Nulidade Contratual Cumulada com Revisional das Taxas de Juros Remuneratórios e Pedidos de Danos Morais, Exibição de Documentos, Liminar Inau dita Altera Parte para Exclusão das Restrições Cadastrais e Manutenção na Posse do Veículo - CDC Veículos....................393 3.5.3 - Ação Declaratória de Nulidade c/c Ordinária de Revisão de Contrato de Arrendamento Mercantil, c/c Pedido de Depósito Judicial Incidental e Antecipação dos Efeitos da Tutela para Manutenção na Posse e Exclusão dos Cadastros Restritivos......................................................................................421 3.5.4 - Ação Declaratória de Nulidade Contratual [Cheque Es pecial) Cumulada com Revisional das Taxas de Juros Remuneratórios e Pedidos de Danos Morais e Liminar Inaudita Altera Parte para Exclusão das Restrições Cadastrais...................................................................................... 444 3.5.5 - Ação Declaratória de Nulidade Contratual Cumulada com Revisional e Repetição de Indébito e Liminar ou Tutela Antecipada para Consignação em Pagamento - Cédula de Crédito Bancário para Aquisição de Veículo............................. 466 3.6 - Contestação à Ação de Busca e Apreensão - CDC Veículos................. 486 3.6.1 - Réplica à Contestação em Ação Declaratória de Nulida de de Contratos Bancários - Quando Há Capitalização, Deve Haver Repetição do Indébito em Dobro Conforme Entendimento do TJ/PR............................................................... 526 4 - Conclusão.......................................................................................................... 543 5 - Devolução do VRG (Valor Residual Garantido) Quando Pago Antecipadamente.......................................................................................... 545 6 - Purgação da Mora - Somente Parcelas Vencidas e/ou Vincendas? Integralidade da Dívida Pendente................................................................ 574 7 - Bibliografia........................................................................................................585 8 - Referências Bibliográficas...............................................................................585 Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 1 1 - Introdução. Após uma leitura atenta e minuciosa, o leitor, em especial o operador de Direito e profissionais afins, estará apto a saber como proceder para revisar os cálculos relacionados a contratos bancários, com ênfase para financiamento de veículos e operações de arrendamento mercantil ou leasing. As operações de créditos para aquisição de veículos têm grande importância para movimentar a economia brasileira, por isso milhões de brasileiros recorrem às instituições financeiras para financiamento de seus veículos, caminhões, máquinas e equipamentos, dentre outros. O problema é quando as taxas de juros cobradas extrapolam a média de mercado divulgada pelo Banco Central, levando alguns clientes bancários a inadimplir. Através desta obra literária, demonstraremos as principais teses técnicas e jurídicas já pacificadas pelo STJ (algumas, pelo menos] em contraposição às controvérsias ainda existentes, já considerando o novo Sistema de Julgamentos em Recursos Repetitivos. Demonstraremos ainda diversos modelos de laudos periciais extrajudiciais e judiciais de financiamentos de veículos, leasing, FINAME, Cheque Especial e empréstimos em geral, com o propósito de evidenciar com clareza quanto estamos pagando a mais quando há taxas de juros discrepantes em comparação às taxas médias de juros de mercado. Finalmente, o operador de Direito ainda terá em suas mãos modelos de petições eficientes e eficazes para revisar judicialmente os financiamentos de veículos e outros contratos bancários, levando-se em conta à exclusão do anatocismo, adequação das taxas de juros cobradas à média de mercado, vedação da cumulação de permanência com outros encargos moratórios e remuneratórios e ilegalidade de algumas tarifas bancárias cobradas. Esperamos que este livro seja útil para minimizar as dores de cabeça com a sucumbência, pois somente quando nos dispusermos a falar a verdade para nossos clientes é que apreciaremos o sabor da vitória numa lide judicial. 2 Ropildo da Conceição Manoel Com certeza, é possível defender plenamente os direitos dos consumidores, vencendo a lide, mas com responsabilidade e integridade, conhecendo profundamente a legislação e jurisprudência do ST] e STF, que regem os contratos bancários. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 3 2 - Noções Gerais de Financiamentos de Veículos. 2.1 - Diferença entre Leasing/ArrendamentoMercantil e CDC. 2.1.1 - O que é Leasing ou Arrendamento Mercantil? Muitos operadores do Direito, peritos judiciais, acadêmicos e, às vezes, alguns professores, dentre outros profissionais das Ciências Jurídicas, Contábeis, Administração e Econômicas, confundem-se com os termos técnicos relacionados às prestações de serviços e operações de crédito, respectivamente, denominadas leasing ou arrendamento mercantil e CDC (Crédito Direto ao Consumidor) ou propriamente os financiamentos de veículos sob a garantia de alienação fiduciária. É bom esclarecer que as operações de leasing não são propriamente ditas operações de crédito, mas meras prestações de serviço, pois não há taxas de juros explícitas nem mesmo incidência do IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários), considerando que não há previsão legal conforme se pode observar no Decreto n.g 6.339/2008. Ainda a despeito da posição de que o arrendamento mercantil não é operação de crédito, vê-se na própria declaração do Presidente da ABEL (Associação Brasileira das Empresas de Leasing, Rafael Cardoso1: "O leasing tem legislação específica e não é uma operação de credito". De forma simples, pode-se afirmar que nos contratos de arrendamento mercantil, quando ajustados seguindo rigorosamente as normas disciplinadas pelo BACEN, não há taxas de juros explícitas. O que seriam "taxas de juros explícitas"? 1- http://www.qualisott.com.br/noticias/2008/News20080818-01.asp - Fonte: ABEL - ] 9/08/2008 - Acesso em 21 /02/2011. 4 Ronildo da Conceição Manoel Numa operação de arrendamento mercantil, o arrendador (banco, financeiras ou sociedades de arrendamento mercantil), os contratos não podem prever taxas de juros remuneratórios, mas simplesmente um fator de arrendamento que irá apurar o VRG (Valor Residual Garantido) e as contraprestações. De qualquer forma, na maioria destes contratos, há cobrança implícita de juros, camuflada. A forma de cálculo será vista mais adiante. Complementando ainda esta questão, polêmica pela Doutrina, o BACEN (Banco Central), em seu saite oficial lançou no menu "Serviços ao Cidadão" (http://www.bacen.gov.br/7LEASINGFAQ) a "FAQ - Arrendamento mercantil (leasing)’’, com perguntas e respostas descomplicadas: “1.0 que é uma operação de leasing? 0 leasing é um contrato denominado na legislação brasileira como "arrendamento mercantil”. As partes desse contrato são denominadas "arrendador” e "arrendatário", conforme sejam, de um lado, um banco ou sociedade de arrendamento mercantil e, de outro, o cliente. 0 objeto do contrato é a aquisição, por parte do arrendador, de bem escolhido pelo arrendatário para sua utilização. 0 arrendador é, portanto, o proprietário do bem, sendo que a posse e o usufruto, durante a vigência do contrato, são do arrendatário. 0 contrato de arrendamento mercantil pode prever ou não a opção de compra, pelo arrendatário, do bem de propriedade do arrendador. 2. 0 leasing é uma operação de financiamento? 0 leasing é uma operação com características legais próprias, não se constituindo operação de financiamento. Nas operações de financiamento, o bem é de propriedade do mutuário, ainda que alienado, já no ato da compra. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 5 3. Existe limitação de prazo no contrato de leasing? Sim. 0 prazo mínimo de arrendamento é de dois anos para bens com vida útil de até cinco anos e de três anos para os demais. Por exemplo: para veículos, o prazo mínimo é de 24 meses e para outros equipamentos e imóveis, o prazo mínimo é de 36 meses (bens com vida útil superior a cinco anos]. Existe, também, modalidade de operação, denominada leasing operacional, em que o prazo mínimo é de 90 dias. 4. É possível quitar o leasing antes do prazo definido no contrato? Sim. Caso a quitação seja realizada após os prazos mínimos previstos na legislação e regulamentação (artigo 8B do Regulamento anexo à Resolução CMN 2.309, de 1996], o contrato não perde as características de arrendamento mercantil. Entretanto, caso realizada antes dos prazos mínimos estipulados, o contrato perde sua caracterização legal de arrendamento mercantil e a operação passa a ser classificada como de compra e venda a prazo. Nesse caso, as partes devem arcar com as conseqüências legais e contratuais que essa descaracterização pode acarretar. 5. Pessoa física pode contratar uma operação de leasing? Sim. As pessoas físicas e empresas podem contratar leasing. 6. Incide IOF no arrendamento mercantil? Não. 010F não incide nas operações de leasing. 0 imposto que será pago no contrato é o Imposto Sobre Serviços (ISS). 6 Ronildo da Conceição Manoel 7. Ficam a cargo de quem as despesas adicionais? Despesas tais como seguro, manutenção, registro de contrato, ISS e demais encargos que incidam sobre os bens arrendados são de responsabilidade do arrendatário ou do arrendador, dependendo do que for pactuado no contrato de arrendamento”. A resolução 2.309/1996 do BACEN, ainda não revogada, disciplina e consolida as normas relativas às operações de arrendamento mercantil, tratando de modo geral e resumidamente sobre modalidades de arrendamento mercantil, contratos de arrendamento, operações de arrendamento, subarrendamentos, fontes de recursos, etc. 2.1.2 - O que é CDC ou Financiamento de Veículos? O Crédito Direto ao Consumidor para aquisição de veículos (CDC- Veículos) nada mais é do que uma operação de crédito de financiamento de veículos ao consumidor pessoa física ou jurídica ou simplesmente um empréstimo que um banco ou uma instituição financeira faz ao consumidor final (eu, você ou uma empresa) para a compra de um carro, camionete, caminhão, máquinas e equipamentos ou similar. A bem da verdade, as operações de créditos direto ao consumidor são destinadas a empréstimos sem direcionamento ou financiamentos de bens ou serviços específicos. Todavia, nesta obra literária o direcionamento será apenas para veículos. O contrato de CDC prevê taxas de juros remuneratórios, CET (Custo Efetivo Total), neste caso só para pessoas físicas, conforme Res. BACEN n.e 3.517/2007, além de prazo contratual, tarifas de abertura de crédito e serviços de terceiros, apesar de suas ilegalidades já declaradas pelo Superior Tribunal de Justiça, mais adiante demonstradas. Em conformidade com o § 2.-, Art.l.Q, da referida Resolução do BACEN, "O CET deve ser calculado considerando os fluxos referentes Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 7 às liberações e aos pagamentos previstos, incluindo taxa de juros a ser pactuada no contrato, tributos, tarifas, seguros e outras despesas cobradas do cliente, mesmo que relativas ao pagamento de serviços de terceiros contratados pela instituição, inclusive quando essas despesas forem objeto de financiamento". Há diversas modalidades de CDC, dependendo de cada banco ou instituição financeira, não tratadas nesta obra. 2.2 - Importância dos Financiamentos de Veículos para a Econo mia Brasileira. Para termos uma ideia do quanto é importante as operações de crédito de financiamentos de veículos e inclusive operações de leasing, no ano passado foram financiados R$ 140,3 bilhões, que correspondem à carteira de CDC, registrando um acréscimo de 49,1% sobre 2009 (R$ 94,lbilhõesJ2. Quanto ao leasing, fechou em queda de 23,5%, passando de R$ 63.2 bilhões em dezembro de 2009 para R$ 48,3 bilhões em dezembro de 20103. Portanto, o saldo total das carteiras de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e Leasing para aquisição de veículos pelas pessoas físicas atingiu R$ 188,6 bilhões no ano passado, de acordo com levantamento da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF). Imaginem em termosde geração de empregos diretos e indiretos, pelo simples fato de aquecimento da economia, pelo aumento de consumo de bens duráveis. Tanto é verdade que o Banco do Brasil, em 2009, fez uma operação de joint venture, adquirindo 49,99% das ações do Banco Votorantin (capital votante], como fator importante para aumento de 2 - http://www.investimentosenoticias.com.br/financas-pessoais/credito/financiamen- to-de-veiculos-atinge-rs-188-6-bi-em-2010.html - Fonte: Digital Media Serviços de Informação Ltda - IN - Investimentos e Notícias - 10/02/2011 - Acesso em 21/02/2011. 3 - Idem. 8 Ronildo da Conceição Manoel financiamentos de veículos, o que se torna essencial para nossa econo mia, conforme matéria veiculada no Estadão, 09/01/2009, Caderno de Economia (http://www.estadao.com.br/noticias/economia,compra- bb-votorantim-fortalece-sistema-diz-mantega,304824,0.htm): "O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a associação entre o Banco do Brasil e o banco Votorantim, divulgada nesta sexta-feira, 9, vai permitir o aumento do financiamento de veículos, principalmente de carros usados. Segundo Mantega, com a associação, o BB vai liberar recursos adicionais para aumentar o financiamento de carros novos e usados. Ele destacou que é importante ampliar as vendas do setor de automóveis, que é importante para a economia brasileira. (...) Segundo o ministro, a associação fortalece o sistema financeiro brasileiro porque os dois bancos têm uma atuação diferenciada e, agora, haverá uma sinergia. Mantega lembrou que o banco Votorantim tem grande experiência na gestão de carteira de crédito de bens duráveis, como veículos e material de construção. Segundo ele, essa é uma área em que o BB atua, e que poderá ser ampliada. Mantega afirmou que, com a associação, o Banco do Brasil fica próximo do líder Itaú'Unibanco no ranking do setor. Assim a associação fortalece a competição no mercado financeiro brasileiro. Segundo ele, o governo quer que o sistema financeiro seja competitivo e sólido. E disse que o sistema financeiro brasileiro está passando pela crise de forma robusta, sem maiores problemas". Ademais é bom lembrar que a ANEF, em relação a 2010, anunciou em 11/08/2010, que a "Inadimplência segue em tendência de queda e recua 35,8% nos últimos 12 meses” (http://www.anef. com.br/press-releases-para-imprensa/65—inadimplencia-segue-em- tendencia-de-queda.html). Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 9 Acrescenta-se que: "Levantamento da ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras), referente ao mês de julho de 2010, confirma a tendência de queda na inadimplência acima de 90 dias na carteira de CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para aquisição de veículos por pessoas físicas. O estudo aponta que o índice de inadimplência foi de 3,4% em julho de 2010, contra 5,3% no mesmo período no ano passado. Isso representa um recuo de 35,8% em 12 meses e de 22,7% no acumulado do ano. "0 mercado encontra-se em nível de estabilidade, com as atividades econômicas restabelecidas, as vendas financiadas de automóveis seguindo em sua total normalidade e o consumidor demonstra mais maturidade, pois vem assumindo compromissos dentro de sua capacidade de pagamento. Prova disso é que o atual índice de inadimplência, de 3,4%, é inferior ao de agosto de 2008, quando estava em 3,74%, período referente à pré-crise financeira internacional", avalia Décio Carbonari de Almeida, presidente da ANEF. O saldo das carteiras de CDC e Leasing atingiu R$ 170,4 bilhões em julho de 2010, valor 14% superior ao registrado em julho de 2009 (R$ 149,3 bilhões). Desse total, R$ 115,2 bilhões correspondem ao CDC, que teve um incremento de 36,7% em doze meses (R$ 84,2 bilhões) e R$ 55,2 bilhões eqüivalem à carteira de Leasing, que apresentou uma retração de 15,3% em doze meses (R$ 65,1 bilhões). A taxa média de juros praticada pelas associadas à ANEF em julho ficou em 1,45% ao mês, enquanto no mesmo período de 2009 essa taxa era de 1,49% ao mês. Já comparando os meses de junho e julho de 2010, houve uma elevação, porém, foi inferior a variação da SELIC no período. Enquanto a SELIC cresceu 0,03 ponto percentual, passando de 0,82% ao mês (junho) 10 Ronildo da Conceição Manoel para 0,85% ao mês (julho), a taxa média de juros dos associados da ANEF aumentou 0,02 ponto percentual, de 1,43% ao mês (junho) para 1,45% ao mês (julho). "Mesmo com essa alteração na taxa de juros, o saldo das carteiras de CDC e Leasing segue em elevação, o que reflete a confiança do consumidor na economia brasileira para as compras a prazo de automóveis”, afirma Almeida”. Ora, se o risco operacional do crédito está reduzindo, ou seja, inadimplência menor, então por que os juros para aquisição de veículos ainda são elevados, considerando algumas financeiras ou bancos? A resposta não é simples, mas com certeza a ganância por lucros exorbitantes contribui para elevação das taxas de juros de mercado. Em tópico próprio, vamos comentar sobre as taxas de juros de mercado e compará-las com as taxas efetivamente cobradas por alguns bancos. 2.3 - Modalidades de Arrendamento Mercantil Assim prevê a norma do BACEN, Res. n.Q 2.309/96, Art. 5.e: "Art. 52 Considera-se ARRENDAMENTO MERCANTIL FINANCEIRO a modalidade em que: I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária; III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 11 Art. 6e Considera-se ARRENDAMENTO MERCANTIL OPERACIONAL a modalidade era que: I - as contraprestaçõ es a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes à sua colocação à disposição da arrendatária, não podendo o total dos pagamentos da espécie ultrapassar 75% (setenta e cinco por cento) do custo do bem arrendado; II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendadora ou da arrendatária; III - o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado. Parágrafo único. As operações de que trata este artigo são privativas dos bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e das sociedades de arrendamento mercantil’'. Portanto, há duas espécies de arrendamento mercantil: finan ceiro e operacional. 2.3.1 - Arrendamento Mercantil Financeiro e/ou Operacional. Em linguagem simplificada, pode-se definir o arrendamento mercantil como um ''aluguel" de determinado bem móvel ou imóvel (imóveis, veículos, computadores, máquinas e tratores, etc] em que o arrendatário (você ou eu) terá pelo menos três opções no final do prazo contratado (já visto anteriormente: prazos mínimos de 24 ou 36 meses): comprar o bem, renovar o contrato ou devolver o bem à empresa de leasing. A distinção entre arrendamento mercantil financeiro e opera cional reside, relativamente, na intenção de o arrendatário querer ficar ou não com o bem no final do prazo ajustado ou contratado, dentre outras características a serem vistas. 12 Ronildo da Conceição Manoel 0 arrendamento ou LEASING FINANCEIRO é uma operação em que a arrendatária tem a intenção de ficar com o bem ao término do contrato, exercendo sua opção de compra conformeo valor ajustado no contrato. A arrendadora (empresa de leasing) receberá da arrendatária os valores totais já investidos no contrato, de acordo com o que foi avençado (ajustado em contrato). 0 risco da desclassificação tecnológica do material industrial, provocada pelo aparecimento de material mais moderno, ou melhor, adaptado e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado são de responsabilidade da arrendatária. Em outras palavras: o risco da obsolescência e as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços relacionados à operacionalidade (facilidade de utilização prática) do bem arrendado são de responsabilidade da arrendatária. Salienta-se, ainda, que no leasing financeiro há previsão con tratual para o pagamento do VRG (Valor Residual Garantido), como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese da devolução do bem e desde que cumpridas todas as obrigações pecuniárias estabelecidas no contrato. 0 VRG será sempre utilizado para liquidar o valor da opção de compra do bem arrendado, conforme pactuado no contrato de arrendamento mercantil. As modalidades de pagamento do VRG subdividem-se em: No ato: pago pela arrendatária no início do contrato. Parcelado: parcelas pagas na vigência do contrato, nos mesmos vencimentos das contraprestações. Final: pago no encerramento do contrato. Já o arrendamento ou LEASING OPERACIONAL é a operação na qual a arrendatária, a princípio, não tem a intenção de adquirir o bem ao final do contrato. Não há previsão de VRG. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 13 Assim, após a utilização do bem pelo prazo estabelecido e cumpridas todas as suas obrigações a arrendatária poderá, ao final do contrato, ter as seguintes opções: 1) devolver o bem à arrendadora, 2) prorrogar o prazo do contrato ou 3) exercer a opção de compra do bem pelo seu valor de mercado, à época de tal opção, se for conveniente. No LEASING OPERACIONAL, a arrendatária possui a vantagem de devolver os bens ou substituí-los por modelos novos, com tecnologia mais avançada e maior adequação ao nível de produção da empresa, o que não ocorre no financeiro. A manutenção, a assistência técnica e os serviços relacionados à operacionalidade do bem arrendado podem ser de responsabilidade da arrendadora ou da arrendatária, e conforme previsão contratual. Em ambas as modalidades do leasing, financeiro ou operacional, não é necessário imobilizar recursos nos ativos (não há a necessidade de deixá-los parados sem investimentos), permitindo-os que sejam direcionados para financiar o processo de produção. Esquematicanaente, observam-se as diferenças entre Leasing Financeiro e Operacional na tabela abaixo: LEASING FINANCEIRO LEASING FINANCEIRO ARRENDATÁRIO (você) ARRENDADOR (banco) Tem opções de comprar, renovar o contrato ou devolver o bem Espera, pelas contraprestações, VRG e outros pagtos devidos, o retorno do investimento Responsável pela obsolescência e despesas de manutenção, assistência técnica e serviços referentes à operacionalidade do bem 14 Ronildo da Conceição Manoel LEASING FINANCEIRO ARRENDATÁRIO (você) ARRENDADOR (banco) Responsável por escolher o bem, preço e fornecedor, Comprará o bem e o entregará através do fornecedor, após assinatura contratual Direito à posse provisória do bem Assegurada a propriedade legal e contábil do bem (alienação ftduciária] Deverá restituir o bem à arrendadora; em caso de infração contratual Em caso de descumprimento contratual, entrará com busca e apreensão do bem LEASING OPERACIONAL ARRENDATÁRIO (você) ARRENDADOR (banco) Pode ficar ou não com o bem, podendo optar por sua substituição Receberá o bem de volta, podendo vendê-lo ou novamente arrendá-lo Opção de, ao final do contrato: devolver o bem; prorrogar prazo contratual e exercer opção de compra pelo preço mercado Parte do investimento para aquisição do bem poderá não ser recuperado no contrato Poderá ser responsável pela manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem de acordo com as regras contratuais Poderá ser responsável pela manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem dependendo do contrato Responsável pela escolha do bem, preço e fornecedor Comprará o bem e o entregará através do fornecedor, após assinatura contratual Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 15 3 - Lucros das Instituições Financeiras. Nos últimos cinco anos, os lucros das instituições financeiras têm sido exorbitantes, atingindo patamares colossais. Vamos fazer um breve resumo histórico de algumas instituições financeiras privadas e públicas com capital misto, para tentarmos compreender como os bancos continuam cobrando taxas de juros tão elevadas para o cheque especial, crédito pessoal e financiamentos de veículos (CDC - Veículos). O que iremos perceber é que os lucros crescentes de todos os bancos, sob análise, têm seus reflexos concomitantes no aumento real das operações de créditos, sejam elas os empréstimos diversos para aquisição de bens de consumo duráveis ou mesmo nos créditos pessoais e limites para utilização de cheque especial. Explicando de outra forma: os lucros cresceram porque também os empréstimos (operações de créditos) cresceram e, consequentemente, as taxas de juros e tarifas cobradas também. 0 próprio Banco Central, através do Relatório de Economia Ban cária e Crédito, 2009, apresentado por Clodoaldo Aparecido Annibal e Sergio Mikio Koyama, item 5, “Determinantes Macroeconômicos da Inadimplência Bancária de Pessoas Jurídicas no Brasil" pág. 102, demonstrou o crescimento das operações de créditos bancários, mesmo em meio à crise Internacional de 2009, de quase 14% (13,81%): “O crédito bancário no Brasil vem, nos últimos anos, apresentando taxas de crescimento bastante significativas. Em janeiro de 2001, representava 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB), já em janeiro de 2010, representava 45,0% do PIB. Mesmo durante 2009, quando os efeitos da crise internacional de2008/2009 tiveram maior impacto no país, o crédito em relação ao PIB aumentou 4,2 pontos percentuais (p.p.), passando de 40,8% em dezembro de 2008 para 45,8% em dezembro de 2009". 16 Roniido da Conceição Manoel Desta forma, percebe-se a grande influência atual do crédito bancário nos lucros conquistados pelos bancos nos últimos dez anos. 3.1 - Lucro dos Bancos no Brasil - 2003 a 2010. O lucro dos Brancos no Brasil, nos últimos oito anos, em conformidade com dados extraídos do site da FEDERAÇÃO DOS BANCÁRIOS DO PARANÁ - FEEB-PR, foram crescentes. O Banco do Brasil apresentou um incremento de 15,3% em relação ao resultado demonstrado em 2009 (R$ 10,148 bilhões), ou seja, ficou em R$ 11,703 bilhões em 2010. É uma dinheirama e tanto! Mesmo assim, o banco continua cobrando taxas de juros realmente abusivas em suas operações de crédito, não demonstrando nenhum sinal de que pretende reduzi-las, em especial para pessoas físicas. Vamos agora observar as tabelas abaixo, com os lucros dos bancos, desde 2003 até 2010: Banco Período Lucro Banco Central 2003 R$ 31,318 bilhões Itaú 2003 R$ 3,152 bilhões Banco do Brasil 2003 R$ 2,381 bilhões Bradesco 2003 R$ 2,3 bilhões Santander Banespa 2003 RS 1,746 bilhão CAIXA Econômica Federal 2003 R$ 1,6 bilhão Unibanco 2003 R$ 1,05 bilhão Nossa CAIXA 2003 R$~449,3 milhões BESC 2003 R$ 10,644 milhões Itaú 2004 R$ 3,776 bilhões Bradesco 2004 R$ 3,060 bilhões Banco do Brasil 2004 R$“3,024 bilhões Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 17 Banco Período Lucro BC 2004 R$ 2,537 bilhões Banespa 2004 R$ 1,750 bilhão BNDES 2004 R$ 1,5 bilhãoCAIXA 2004 R$ 1,4 bilhão Unibanco 2004 R$ 1,283 bilhão HSBC 2004 R$ 426 milhões Bradesco 2005 R$ 5,514 bilhões Itaú 2005 R$ 5,251 bilhões Banco do Brasil 2005 R$ 4,153 bilhões CEF 2005 R$ 2,073 bilhões Unibanco 2005 R$ 1,838 bilhão Santander 2005 R$ 1,744 bilhão HSBC 2005 R$ 850,2 milhões Bradesco 2006 R$ 6,646 bilhões Itaú 2006 R$ 6,48 bilhões BNDES 2006 R$ 6,3 bilhões Banco do Brasil 2006 R$ 6,04 bilhões CEF 2006 R$ 2,386 bilhões Unibanco 2006 RS 2,21 bilhões ABN Amro Real 2006 RS 2,05 bilhões Santander Banespa 2006 R$ 1,26 bilhão HSBC 2006 R$ 946,7 milhões Nossa CAIXA 2006 R$ 453,5 milhões Banco do Nordeste 2006 R$ 202,7 milhões ABN Amro Real 2007 R$ 2,975 bilhões Banco da Amazônia 2007 R$ 179,8 milhões Banco do Brasil 2007 R$ 5,058 bilhões Banco Panamericano 2007 R$ 200,9 milhões Banco Safra 2007 R$ 830,922 milhões Banco Volkswagem 2007 R$ 108,717 milhões Banrisul 2007 R$ 916,4 milhões BESC 2007 R$ 26,9 milhões 18 Ronildo da Conceição Manoel Banco Período Lucro Bic Banco 2007 R$ 195,1 milhões BMG 2007 R$ 507,59 milhões. BNDES 2007 R$ 7,314 bilhões Bradesco 2007 R$ 2,193 bilhões CAIXA Econômica Federal 2007 R$ 2,5 bilhões HSBC 2007 R$ 1,24 bilhão Itaú 2007 R$ 2,03 bilhões Mercantil do Brasil 2007 R$ 36,723 milhões Nordeste 2007 R$ 219,7 milhões Nossa CAIXA 2007 R$ 303,1 milhões Paraná Banco 2007 R$ 67,78 milhões Pine 2007 R$ 567 milhões. Santander Banespa 2007 R$ 1,86 bilhão Unibanco 2007 R$ 3,448 bilhões Votorantin 2007 RÍ 1,16 bilhão Banco Central 2008 R$ 13,345 bilhões Banco do Brasil 2008 R$ 8,8 bilhões Itaú 2008 R$ 7,803 bilhões Bradesco 2008 R$ 7,62 bilhões BNDES 2008 R$ 5,3 bilhões CAIXA Econômica Federal 2008 R$ 3,88 bilhões Santander Banespa 2008 R$ 2,8 bilhões HSBC 2008 R$ 1,35 bilhão Banco Safra 2008 R$ 843,4 milhões Nossa CAIXA 2008 R$ 646,5 milhões Banrisul 2008 R$ 590,9 milhões Bic Banco 2008 R$ 320,5 milhões BMG 2008 R$ 240,7 milhões Banco Panamericano 2008 R$ 236 milhões Banco da Amazônia 2008 RÍ 215,850 niilhões Pine 2008 R$ 157,487 milhões Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 19 Banco Período Lucro Paraná Banco 2008 R$ 84 milhões Nordeste 2008 R$ 83,5 milhões Mercantil do Brasil 2008 R$ 43 milhões Banco do Brasil 2009 R$ 10,148 bilhões Itaú Unibanco 2009 R$ 10,066 bilhões Bradesco 2009 R$ 8,0 bilhões BNDES 2009 R$ 6,7 bilhões Santander Brasil 2009 R$ 5,5 bilhões CAIXA Econômica Federal 2009 R$ 2,9 bilhões Banco Votorantim 2009 R$ 801,7 milhões BMG 2009 R$ 522 milhões Banco de Brasília (BRB) 2009 R$ 190,5 milhões Paraná Banco 2009 R$ 104,3 milhões Banco Pine 2009 R$ 85 milhões Banco Cruzeiro do Sul 2009 R$ 81,9 milhões Banco Rural 2009n R$ 50 milhões Banpará 2009 R$ 43,69 milhões Mercantil do Brasil 2009 R$ 40 milhões Itaú/Unibanco 2010 RS 13,3 bilhões Banco do Brasil 2010 R$ 11,7 bilhões Bradesco 2010 R$ 10,022 bilhões Santander 2010 R$ 7,382 bilhões CAIXA 2010 R$ 3,8 bilhões Bic Banco 2010 R$ 348,7 milhões Pesquisa realizada pela Revista Época, edição 28/12/2010, seção FINANÇAS/JUROS, demonstrou a média das taxas de juros anuais praticadas nas operações de crédito pessoal e cheque especial: "As taxas de juros de empréstimo pessoal e cheque especial mantiveram uma relativa estabilidade ao longo do ano, informou hoje a Fundação Procon de São Paulo (Procon-SP). O movimento, segundo a fundação, 20 Ronildo da Conceição Manoel difere do registrado em 2009, quando as taxas de juros registraram queda durante o ano. De acordo com a entidade, a taxa média cobrada pelas instituições financeiras para o cheque espe cial foi de 8,88% ao mês, uma queda de 0,05 ponto porcentual em relação a 2009. Segundo a pesquisa, a taxa média da modalidade de crédito começou 2010 em 8,79% ao mês e encerrou o ano em 9,12% ao mês, acompanhando o movimento de alta da SELIC (a taxa básica de juros da economia) ao longo do ano. Entre as instituições que participaram do le vantamento, o Banco Safra apresentou a maior taxa média anual (12,3% ao mês) e a CAIXA Econômica Federal teve a menor (7,02% ao mês). Em dezembro, a taxa média de juros do cheque especial foi de 185,09% ao ano. Veja na tabela abaixo a taxa de cheque especial cobrada pelos bancos brasileiros”. A tabela abaixo evidencia melhor as taxas de juros de cheque es pecial, pesquisadas pela Revista Época, cuja média anual foi de 8,88%: Taxa de juros de cheque especial Instituição Taxa média anual Safra 12,30% Santander 9,54% Real (**] 9,49% HSBC 9,42% Itaú 8,66% Unibanco (**) 8,61% Bradesco 8,32% Banco do Brasil 7,79% Nossa CAIXA (*) 7,66% Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 21 CAIXA Econômica Federal 7,02% Taxa Média Anual 8,88% (*) A partir do mês de julho o Banco Nossa CAIXA foi retirado da amostra, em função da incorporação de suas agências pelo Banco do Brasil, concluída em 25/06/10. (**] A partir do mês de setembro o Banco Real e o Unibanco foram retirados da amostra, em função dos processos de incorporação ao Banco Santander e ao Banco Itaú, respectivamente. Fonte: Procon/SP Agora, analisemos as taxas médias nas operações de crédito denominadas "empréstimo pessoal” cuja média anula foi de 5,26%: Taxa de juros de empréstimo pessoal Instituição Taxa média anual Itaú 5,92% Unibanco 5,88% Real 5,63% Santander 5,63% Bradesco 5,42% Safra 5,40% Banco do Brasil 4,90% HSBC 4,69% CAIXA Econômica Federal 4,65% Nossa CAIXA 4,51% Taxa Média Anual 5,26% Fonte: Procon/SP O Procon-SP esclareceu que o levantamento envolvia dez instituições financeiras de janeiro a junho, mas encerrou 2010 com sete bancos. Em julho, a Nossa CAIXA foi definitivamente incorporada pelo Banco do Brasil e foi retirada da amostra. Em setembro, o Banco Real e o Unibanco saíram da pesquisa, depois de incorporados respectivamente 22 Ronildo da Conceição Manoel ao Santander e ao Itaú. 0 levantamento encerrou o ano com as seguintes instituições analisadas: Banco do Brasil, Bradesco, CAIXA Econômica Federal, HSBC, Itaú, Safra e Santander. E interessante perceber que, pelo menos desde 2003, os bancos não têm justificativas contábeis e financeiras para continuar aumentando ou simplesmente cobrando taxas de juros no cheque especial acima de 4,5% ao mês, uma vez que a margem de lucro líquida anual seria suficiente para cobrir eventuais riscos operacionais de crédito, mais especificamente para as pessoas físicas. 3.2 - Temas Polêmicos e Pacificados no STJ: anatocismo, taxas de juros remuneratórios, manutenção na posse, depósitos das parceias incontroversas e/ou devidas e comissão de permanência cumulativa com encargos moratórios e remuneratórios - Súmulas 30 e 296 do STJ. É muito importante, priorizando a verdade dos fatos e as questões de direito que envolvem as ações declaratórias de nulidade de contratos ou financiamentos de veículos, cumuladas ou não com repetição de indébito, consignação incidental das parcelas incontroversas e/ou devidas e manutenção na posse do veículo, para que o cliente ao contratar os serviços jurídicos não se iluda com uma vitória aparente na esfera judicial. Após esta breve introdução, vamos apresentar algumas teses jurídicas já pacificadas pelo STJ através de orientações jurisprudenciais em recursos repetitivos [conforme aplicabilidade da Lei 11.672/2008, que incluiu o Art. 543-C no CPC)1 quanto à aplicação das taxas de juros. Qual é a taxa legal ou devida? É a taxa de juros de 12% ao ano? É a taxa média de mercado? E quanto ao anatocismo (juros capitalizados ou compostos), continua vigendo a súmula 121 do STF? Quando ainda não houve a busca e apreensão do veículo, posso interpor ação judicial consignatória, propondo o depósito das parcelas devidas ou das incontroversas? 1 - Art. 543-C Quando houver multiplicidade de recursos com fundamentoem idênti ca questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 23 G se a busca e apreensão já se efetivou, o que fazer? Para estas e outras questões polêmicas, outras já pacificadas pelo STJ nas recentes orientações através de recursos repetitivos, buscaremos responder sempre com base na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não nos esquecendo dos pontos técnico-contábeis e jurídicos que envolvem os laudos periciais judiciais e extrajudiciais. Resumidamente, respondendo à questão suscitada: neste caso em que já foi efetivada a busca e apreensão pelo banco, restaria ainda uma solução judicial via ação declaratória de nulidade do contrato [CDC veículos ou leasing], depositando os valores incontroversos, ou seja, os valores exatos calculados pela instituição financeira. Pois desta forma, não há como o juiz negar liminar para cancelar a busca e apreensão até julgamento definitivo do mérito da causa. Eventual indébito deverá ser apurado através de perícia contábil ou financeira judicial. 3.2.1 - Anatocismo. Sem adentrar profundamente nas questões matemáticas, podemos definir anatocismo como capitalização composta de juros de um dado empréstimo e/ou financiamento. A jurisprudência atual ainda não está completamente clara quanto à proibição ou não do anatocismo nos financiamentos bancários. De qualquer forma, algumas decisões do STJ demonstram que a questão da aceitação ou não da capitalização mensal dos juros ou anatocismo "parece pacificada", conforme veremos no AgRg-REsp 646475 - RS - 3a T. - Rei. Min. Castro Filho - DJU 21.03.2005, p. 376: “AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. DESCABI- 24 Ronildo da Conceição Manoel MENTO. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. PROVIMEN TO PARCIAL. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. I - Aplica se o Código de Defesa do Consumidor às relações jurídicas originadas dos pactos firmados entre consumidores e os agentes econômicos, instituições financeiras e usuários de seus produtos e serviços. II - Quanto à capitalização mensal dos juros, persiste a vedação contida no artigo 49 do Decreto 22.626/33, pois, no presente caso, não existe legislação específica que autorize o anatocismo, como ocorre com as cédulas de crédito rural, comercial e industrial. III - 0 artigo 21 do Código de Processo Civil estabelece a distribuição e compensação recíproca das despesas e honorários entre os litigantes simultaneamente vencidos e vencedores. Em tais situações, não há falar em honorários de sucumbência, cabendo às próprias partes a responsabilidade pelos honorários contratados com seus respectivos advogados. Agravo improvido"; Matéria análoga foi pela decidida pela 4,â Turma do STJ, Rei. Min. Barros Monteiro: "REVISÃO DE CONTRATO BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO PESSOAL PARCELADO. APLICAÇÃO DO CDC. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DE OFÍCIO. JUROS REMUNERATÓRIOS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. CARACTERIZAÇÃO DA MORA. 1 - "0 Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras” (Súmula 297-STJ). 2 - A Segunda Seção desta Corte, no julgamento do REsp n. 541.153/RS, firmou entendimento no sentido da impossibilidade de rever, de ofício, cláusulas consideradas abusivas, com arrimo nas disposições do Código de Defesa do Consumidor. 3 - 0 simples fato de o contrato estipular uma taxa de juros acima de 12% a.a. não significa, por si só, vantagem exagerada ou abusividade. Esta precisa ser Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 25 evidenciada. Não estando demonstrado, de modo cabal, o abuso que teria sido cometido pelo Banco recorrente, é de restabelecer-se a taxa convencionada pelos litigantes. 4 - "Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato" (Súmula 294/STJ). 5 - "A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito, mesmo quando expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra do art. 4° do Decreto n° 22.626/33 pela Lei nc 4.595/64. 0 anatocismo, repudiado pelo verbete n° 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o enunciado n° 596 da mesma Súmula." (REsp n. 1.285-GO, relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira). 6 - Para o cancelamento do nome do devedor no rol dos inadimplentes, é necessária a presença dos seguintes elementos: a) a existência de ação proposta pelo devedor, contestando a exigência integral ou parcial do débito; b) a demonstração, nesse ponto, da aparência do bom direito; c) sendo a contestação de apenas parte da dívida, o depósito da parcela tida como incontroversa ou o oferecimento de caução idônea. 7 - Mora configurada do devedor, uma vez não depositada por ele a parte incontroversa da dívida ou não prestada a correspondente caução. Recurso especial conhecido, em parte, e provido". (STJ - REsp 677679 - RS - 4a T. - Rei. Min. Barros Monteiro - DJ 03.04.2006, p, 356). Há de salientar, ainda, que após a vigência da MP (Medida Provisória) 1.963, de 31/03/2001, já reeditada diversas vezes, representando agora a MP 2170/2001, o STJ passou a aceitar a capitalização composta de juros, desde que expressamente pactuada, ou seja, desde que prevista no contrato. Esta nova tendência do STJ, aparentemente equivocada e contraditória, considerando as outras decisões vistas anteriormente, com data posterior à vigência das aludidas MPs, está refletida em outros recursos especiais, como REsp 602.068/RS, AgRg-REsp 594864, etc. 26 Ronildo da Conceição Manoel Ainda é importante ressaltar que estas novas decisões foram, inclusive, apreciadas pela 4.a Turma, que um mês antes (REsp 677.679/ RS, não admitia a capitalização sob nenhuma hipótese, determinando que "(,.,) A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito, mesmo quando expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra do art. 4° do Decreto n° 22.626/33 pela Lei n° 4.595/64". Já em total contradição, a própria 4.â Turma, no mês sub sequente a esta decisão, através do Rei. Ministro Sidnei Beneti, assim sentenciou: "PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO. AÇÃO REVISIO- NAL DE CONTRATO BANCÁRIO. AGRAVO IMPROVIDO. A capitalização dos juros é admissível quando pactuada e desde que haja legislação específica que a autorize. Assim, permite-se sua cobrança na periodicidade mensal nas cédulas de crédito rural, comercial e industrial (Decreto-lei 167/67 e Decreto-lei 413/69), bem como nas demais operações realizadas pelas instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que celebradas a partir da publicação da Medida Provisória 1.963-17 (31/03/2000). Nesse sentida, são vários os precedentes, como: REsp 515.805/RS, Rei. Min. Barros Monteiro, DJ de 27/09/2004; AGA 494.735/RS, Rei. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 02/08/2004; REsp 602.068/RS, Rei. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 21/03/2005, este último, da colenda Segunda Seção. Agravo improvido”. (STJ - AgRg-AI 852.285 - SC - Proc. 2006/0276706-1 - 3â T. - Rei. Min. Sidnei Beneti - DJ 16.06,2008). A princípio temos duas decisões conflitantes no STJ: l.ã) - proibição da capitalização composta de juros, mesmo quando expressamente contratada; Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 27 2.ã) - admissão da capitalização composta de juros quando pactuada e desde que haja legislação específica que a autorize. Porém a palavra final será da nossa Corte Constitucional (Su premo Tribunal Federal) quando concluir o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade(ADI) 2316/2000, iniciado há mais de dez anos, onde se discute a inconstitucionalidade do Art. 5e, caput e parágrafo úni co da Medida Provisória ne 1963-22, de 26 de agosto de 2000, reeditada agora sob o n9 2170-36, em 24 de agosto de 2001, que certamente vinculará todos os tribunais do país, inclusive o STJ, no sentido de afastar o anatocismo. A ADI já contava com dois votos proferidos pelos Ministros Sydney Sanches (relator) e Carlos Velloso, ambos já aposentados, deferindo a cautelar para suspender a eficácia daquele artigo 5a da MP 2.170 (sucessora da MP 1.963/01). Em 05/11/2008, voltou à pauta do STF com mais quatro votos, dois na mesma linha dos anteriores (Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto) e outros dois votos contrários, no sentido de liberar a capitalização (Ministros Carmen Lúcia e Carlos Direito). Acreditamos que o Pretório Excelso irá, mais uma vez, conside rar inconstitucional a famigerada MP _ uma vez que as instituições financeiras já vêm, de forma sorrateira tentando há muito tempo a permissão da capitalização composta de juros validando a sua vigente Súmula 121. A liminar ainda não foi deferida para suspensão do Art. 5.2 da referida MP, ou seja, proibição liminar do anatocismo, conforme decisão do Relator Min. SYDNEY SANCHES, DJ N.-. 68 do dia 11/04/2002 e DJ NA 215 do dia 13/11/2008, respectivamente: “Decisão: Após o voto do Senhor Ministro Sydney Sanches, Relator, suspendendo a eficácia do artigo 5-, cabeça e parágrafo único da Medida Provisória n- 2.170-36, de 23 de agosto de 2001, pediu vista o Senhor Ministro Carlos Velloso. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Maurício Corrêa. 28 Ronildo da Conceição Manoel Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio. Plenário, 03.04.2002. Decisão: Renovado opedidode vista, justificadamente, pelo Senhor Ministro Carlos Velloso, que não devolveu à mesa para prosseguimento, tendo em vista estar aguardando a conclusão do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade ns 2.591, já iniciado, envolvendo tema a ele relacionado. Presidência do Senhor Ministro Maurício Corrêa. Plenário, 28.04.2004. Decisão: Prosseguindo no julgamento, após o voto do Senhor Ministro Carlos Velloso, que acompanhava o relator para deferir a cautelar, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Nelson Jobim (Presidente). Plenário, 15.12.2005.". “Decisão: Após os votos da Senhora Ministra Cármen Lúcia e do Senhor Ministro Menezes Direito, indeferindo a medida cautelar, e os votos dos Senhores Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto, deferindo-a, o julgamento foi suspenso para retomada com quorum completo. Ausentes, justificadamente, porque em representação do Tribunal Superior Eleitoral no exterior, o Senhor Ministro foaquim Barbosa e, neste julgamento, o Senhor Ministro Eros Grau. Não participam da votação os Senhores Ministros Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski, por sucederem, respectivamente, aos Senhores Ministros Sydney Sanches (Relator) e Carlos Velloso, com votos proferidos anteriormente. Presidência do Senhor Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente) em face do impedimento do Senhor Ministro Gilmar Mendes (Presidente). Plenário, 05.11.2008". Por enquanto, a votação está 4x2 a favor da suspensão do Art. 5.2 da MP 2170-36: Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 29 "Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano". Ainda para clarear um pouco mais a controvérsia, há o Recurso Repetitivo REsp 1.061.530/RS, com trânsito em julgado em 13/05/2010, tendo como relatora a MINISTRA NANCY ANDR1GHI. Quanto ao julgamento das questões idênticas que caracterizam a multiplicidade, o STJ assim editou a Orientação n.e 2: "ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descarateriza a mora; Subentende-se que se há capitalização no período da nor malidade contratual, então o anatocismo ainda permanece proibido até julgamento definitivo do mérito pelo STF. Portanto, assim que houver suspensão definitiva do artigo 5.e da aludida MP, PERMANECERÁ INADMISSÍVEL a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano, às operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, pois nem precisamos relembrar que a Súmula 121 do STF ainda continua em vigor: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". 0 Tribunal de Justiça do Paraná tem-se valido das disposições supremas contidas nesta Súmula: 30 Ronildo da Conceição Manoel "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO MONITORIA - ANATOCISMO VEDADO - SÚMULA 121 DO STF - CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - APLICABILIDADE AOS CONTRATOS BANCÁRIOS - HONORÁRIOS - EXEGESE DO ART. 21 DO C. P. CIVIL - COMPENSAÇÃO DEFERIDA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO - A capitalização de juros encontra-se evidenciada nos extratos da conta corrente, sendo vedada a prática de anatocismo às instituições financeiras, conforme disposição da Súmula 121 do STF, sendo, portanto, aplicável aos contratos bancários o Código de Defesa do Consumidor, bem como compensados os honorários advocatícios, haja vista que cada litigante foi em parte vencedor e vencido”. (TJPR - ApCiv 0146499-5 - (11356) - Curitiba - 5â C.Cív. - Rei. Des. Antônio Gomes da Silva - DJPR 29.03.2004); "APELAÇÃO CÍVEL - Ação monitoria. Contrato de abertura de crédito em conta corrente. Embargos do devedor. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Multa contratual. Redução para o percentual de 2% (dois por cento), a teor do disposto no § ls Do art. 52, do código consumerista. Juros remuneratórios. Ausência de previsão da taxa e de seu índice no contrato. Abusividade manifesta da cláusula, máxime porque imposta unilateralmente. Nulidade evidenciada, autorizando a fixação do percentual de 12% (doze por cento) ao ano. Capitalização de juros. Anatocismo vedado. Cláusulas contratuais corretamente reconhecidas como potestativas e abusivas. Nulidade. Verba sucumbencial arbitrada de forma recíproca e proporcional, apresentando-se como moderada, adequada e eqüitativa. Compensação dos honorários advocatícios. Inadmissibilidade. Exegese do art. 23, da Lei n9.8.906/94 (Estatuto da OAB). Sentença mantida. Apelo desprovido". (TJPR - ApCiv 0158193-9 - (12304) - Curitiba - 5ã C.Cív. - Rei. Juiz Conv. Abraham Lincoln Calixto - DJPR 23.08.2004). Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 31 Desta forma, infere-se que a MP 2170-36 não tem força suficiente para revogar súmula do Supremo Tribunal Federal, permanecendo váli das as proibições do anatocismo, ainda que expressamente contratada, nos contratos bancários de empréstimos e/ou financiamentos de veículo, dentre outros. 3.2.1.1 - Proibição de Anatocismo - Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Paraná. Apesar da controvertida questão sobre a vedação do anatocis mo, o Tribunal de Justiça do Paraná passou a seguir uma tendência mais corajosa quando, através de Incidente de Declaração de Incons titucionalidade n- 579.047-0/01, julgado pelo Órgão Especial deste Egrégio Tribunal de Justiça, foi declarado inconstitucional o Art. 5a da MP 1,963-17/2001 (reeditada pela MP 2.170-36], Portanto, até que haja manifestação expressa da Corte Suprema, com efeitos vinculantes e erga omnes, os operadores do Direito da região paranaense poderão obter sucesso em suas ações que versem sobre proibição do anatocismo, mesmo quando expressamente ajustada após vigência da indigitada MP. Para melhor compreensão, cita-se o Acórdão da Apelação Cível n.9 715.632-9 (Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.2002/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE. 0 documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr. jus.br): "APELAÇÃO CÍVEL 715.632-9, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 11a VARA CÍVEL RELATOR: DES. GAMALIEL SEME SCAFF APELANTE 1: BANCO SANTANDER S/A APELANTE 2: EDISON DE OLIVEIRA NIECE APELADOS: OS MESMOS APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL - CAPITALIZAÇÃO 32 Ronildo da Conceição Manoel CARACTERIZADA PELOS PRÓPRIOS EXTRATOS - DEVIDOS APENAS JUROS SIMPLES - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS COM BASE NO ART. 59 DA MEDIDA PROVISÓRIA N9 2.170-36 - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS FORMAIS [URGÊNCIA E RELEVÂNCIA) - DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO ÓRGÃO ESPECIAL DESTA CORTE - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE - RESERVA DE PLENÁRIO OBSERVADA - APLICAÇÃO DO ART. 272 DO RITJPR E ART. 481, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC - REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE VALORES COBRADOS INDEVIDAMENTE É DE RIGOR - AFASTAMENTO DA MORA EM FUNÇÃO DAS RECONHECIDAS ABUSIVIDADES PRATICADAS - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - VALOR CORRETO - DECISÃO MANTIDA. I - Capitalização mensal de juros. MP 2.170-36. Incons- titucionalidade. Entendia esta Corte anteriormente que nos contratos firmados após 31 de março de 2000, por meio da expressa pactuação, a capitalização de juros seria possível em razão do art. 5S da MP 1.963-17/2001 (reeditada pela MP 2.170-36). Entretanto, por meio do Incidente de Declaração de Inconstitucionalidade ns 579.047- 0/01, julgado pelo e. Órgão Especial desta Corte, tal dispositivo foi declarado inconstitucional, de sorte que com base no art. 272 do RITJPR e art. 481, parágrafo único, do CPC, é ele inaplicável ao presente caso. Portanto, ainda que pactuada com base no art. 5e da MP 2.170 36, a capitalização fica vedada. Possibilidade apenas nas exceções legais, a saber, das cédulas de crédito comercial, industrial, rural e bancária. APELAÇÃO 1 NÃO PROVIDA. APELAÇÃO 2 NÃO CONHECIDA. VISTOS ETC. I. RELATÓRIO. Trata-se de Apelação Cível n2 715.632-9, do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - llã Vara Cível, em que são Apelantes o BANCO SANTANDER S/A e EDISON DE OLIVEIRA NIECE. Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 33 Contam os autos ter Edison de Oliveira Niece ajuizado seu pleito revisional contra Banco Santander S/A, em razão das supostas abusividades cometidas por este em contratos de conta corrente e mútuo. Ao receber a peça vestibular, o nobre magistrado de primeiro grau determinou ao agente financeiro a exclusão da inscrição do nome do autor de cadastros de proteção ao crédito. Após as devidas manifestações das partes, sobreveio a sentença pelas portas do art. 330, CPC, nos seguintes termos: a] seria inaplicável o art. 26, II, CDC ao caso em mesa; b) não haveria que se dizer na coisa julgada em relação à análise dos contratos em mesa, visto que nos autos em apenso a pretensão do autor era a de exibição dos documentos necessários à instrução do pleito revisional; c) seria aplicável o CDC à presente hipótese; d) deveria ser aplicado os juros na taxa média de mercado, porquanto, não teria sido trazido aos autos cópia dos contratos avençados entre as partes; e) deveria ser afastada a capitalização mensal, no entanto, mantida a anual; f) deveria ser mantida a comissão de permanência, porém, afastados os outros encargos moratórios em função de sua inacumulatividade; g) estaria afastada a mora até que se seja atingido o valor real da dívida,"... ocasião em que, caso não feito o pagamento, se legitimará a inscrição do nome do autor em cadastros de proteção ao crédito (fls. 319); h) não haveria que se dizer em indenização por danos morais ou multa pela não exibição de documentos; i) deveriam ser repetidos os valores cobrados indevidamente pelo réu na forma simples; j) deveria o agente financeiro arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, sendo estes fixados em R$ 2.200,00. Contra essa decisão é que recorrem as partes. Assevera Banco Santander S/A: 1) seriam lícitos os valores cobrados à título de juros; 2) não haveria que se dizer no afastamento da mora; 3) não haveria que se dizer na repetição de valores pagos a maior; 4) deveria ser minorado o valor arbitrado à título de honorários advocatícios. 34 Ronildo da Conceição Manoel Igualmente recorreu Edison de Oliveira Niece, alegando ser devida a limitação dos juros, bem como, a condenação ao pagamento de indenização por danos morais, determinação de exibição dos documentos e majoração dos honorários advocatícios. Tão somente o autor apresentou suas contrarrazões. Vale destacar que, em despacho não recorrido, a apelação ofertada por Edison de Oliveira Niece deixou de ser recebida, porquanto ausente o preparo (fls. 400). É o relatório. II. VOTO. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE Conforme já relatado, em despacho não recorrido, a apelação ofertada por Edison de Oliveira Niece deixou de ser recebida, porquanto ausente o preparo (fls. 400). Logo, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço tão somente do apelo interposto pelo agente financeiro. MÉRITO QUANTO À CAPITALIZAÇÃO DE JUROS Aduz o agente financeiro ser legítimos os valores cobrados à título de juros. Pois bem, inicialmente, a despeito da inexistência de prova pericial no tocante à capitalização de juros, a leitura dos extratos da conta corrente do autor revea, prima oculi, que os juros de um mês (todo 1- dia útil do mês) eram agregados ao saldo devedor que sofria nova carga de juros no mês seguinte sobre o valor agregado, fazendo ocorrer a capitalização. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA FASE. APELO DO BANCO. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. PRESCINDIBILIDADE DA PROVA PERICIAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL VERIFICADA POR MEIO DA ANÁLISE DOS EXTRATOS E DE OUTROS ELEMENTOS DE PROVA. CÁLCULO DE JUROS COMPOSTOS EM PERIODICIDADE ANUAL. ADMISSIBILIDADE. RECURSO EM PARTE PROVIDO. (TJPR -13» C.Cível - AC 0499066-9 - Maringá - Rei.: Juiz Subst. 2S G. Fernando Wolff Filho - Revisional de Financiamento de Veículos e Outros Contratos Bancários 35 Unânime - J. 13.08.2008) Por parte do agente financeiro, podemos observar nos documentos juntados nas folhas 132,149,170 etc. que na relação jurídica negociai houve a capitalização de juros. Outrossim, sustenta a nobre parte apelante a possibilidade de capitalização mensal de juros nos termos da Medida Provisória n9 1963-17 reeditada pela de n9 2.170-36. Pois bem. Entendia esta Corte anteriormente que nos contratos firmados após 31 de março de 2000, por meio da expressa pactuação, a capitalização de juros seria possível em razão doart. 59 da MP 1.963-17/2001 (reeditada pela MP 2.170 36). Entretanto, através do Incidente de Declaração de Inconstitucionalidade n9 579.047-0/01, julgado pelo e. Órgão Especial desta Corte, tal dispositivo normativo foi declarado inconstitucional conforme ementa do v. acórdão citado apenas no que interessa: INCIDENTE DE DECLARAÇÃO DE 1NC0NSTITU- CI0NAL1DADE - MEDIDA PROVISÓRIA - PRESSUPOSTOS FORMAIS - URGÊNCIA E RELEVÂNCIA - VÍCIO MATERIAL - MATÉRIA RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR. 1. São pressupostos formais das medidas provisórias a urgência e a relevância da matéria. Há de estar configurada a situação que legitime a edição da medida provisória, em que a demora na produção da norma possa acarretar dano de difícil ou impossível reparação para o interesse público, notadamente o periculum in mora decorrente no atraso na cogitação da prestação legislativa. 2. Os vícios materiais referem-se ao próprio conteúdo do ato, originando-se de um conflito com regras estabelecidas na Constituição, inclusive com a aferição do desvio do poder. 3. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria reservada a lei complementar.
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