Buscar

neotectonismo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 91
O Neotectonismo na
Costa do Sudeste e do
Nordeste Brasileiro
Neotectonism of Southeastern and Northeastern Brazilian Coast
CARLOS CÉSAR UCHÔA DE LIMA
Universidade Federal de Feira de Santana
uchoa@uefs.br
RESUMO – A partir da década de 70, vários pesquisadores ligados à geologia estrutural e à geotectônica começaram a
voltar seus interesses para as atividades tectônicas ocorridas desde o final do terciário até o quaternário (neotectônica) evi-
denciados pela morfologia do relevo atual e das estruturas geológicas observadas. Outro fator que começou a chamar a
atenção dos geólogos e geofísicos no Brasil foi o desencadeamento de sismos, ocorridos com maior freqüência na Região
Nordeste, na década de 80. Fenômenos dessa natureza têm sido relatados desde o século passado, mas o pensamento de
que o território brasileiro é tectonicamente estável fez com que a comunidade científica de modo geral não relacionasse
esses sismos à tectônica global. O crescente interesse pela temática fez com que esse pensamento fosse modificado, e, para
aqueles que hoje estudam os processos geológicos ocorridos a partir do terciário superior, fica evidente que o tectonismo
atual é um dos principais mecanismos controladores desses processos, bem como, da morfologia do relevo por eles
modelados.
Palavras-chave: NEOTECTÔNICA – SISMOS – PROCESSOS GEOLÓGICOS.
ABSTRACT – In the 70’, geologists concerned with Structural Geology and Geotectonics began to turn their attention to
Late Cenozoic tectonics events (neotectonics), evidenced by landscape morphology and geological structures. Another
factor that raised interest of many researchers were successive seismic events in Northeastern Brazil, in the 80’. Seismic
activities of this nature are cited since last century, but the idea that Brazilian territory is tectonically stable prevented the
scientific community to relate that seismic events to global tectonics. The rising interest for the subject of Neotectonics led
to the change of this belief and for those who study geological processes younger than Neogene it is evident that today’s
tectonism is one of the main control of these processes, as well as of the relief morphology.
Keywords: NEOTECTONICS – SEISMIC EVENTS – GEOLOGICAL PROCESSES.
C&T15.book Page 91 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
92 Junho • 2000
INTRODUÇÃO
termo neotectônica foi utilizado pela primeira
vez por Obruchev (1948), que o entende
como uma sucessão de movimentos crustais
recentes, desenvolvidos a partir do terciário superior
e durante todo o quaternário (apud Suguio & Mar-
tin 1996). Esse conjunto de processos ocorridos a
partir do Neogeno determinaria as principais feições
do relevo atual da Terra. Mais recentemente a Inter-
national Union for Quaternary Research (INQUA)
divulgou em sua homepage a definição sugerida por
Pavlides (1989): “Neotectônica é o estudo de even-
tos tectônicos jovens, que ocorreram ou ainda estão
ocorrendo em uma região qualquer, após sua orogê-
nese ou após o seu reajustamento tectônico mais sig-
nificativo”. No Brasil, apesar da palavra neotecto-
nismo ser amplamente divulgada, Hasui (1990) utili-
zou o termo tectônica ressurgente para a reativação
de falhamentos pré-cambrianos durante o tércio-
quaternário, ocorrida em território brasileiro.
Apesar das pequenas variações terminológicas
e conceituais em relação aos processos tectônicos
mais recentes, para Saadi (1993) existe um consenso
entre os diversos pesquisadores em considerar uma
relação obrigatória entre a neotectônica e a configu-
ração da morfologia atual, não levando em conta a
idade das feições estudadas, que poderia remontar
em até 107 anos. Com base no pensamento de Pav-
lides (1989), de que o início do período neotectô-
nico depende das características individuais de cada
ambiente geológico, Hasui (1990) relaciona a ori-
gem do neotectonismo no Brasil à migração do con-
tinente sul-americano e conseqüente abertura do
Atlântico Sul, iniciada no terciário médio, por consi-
derar que essas movimentações ocorrem até os dias
atuais. Como marco desses eventos, Hasui (op. cit.)
propõe o início da deposição do Grupo Barreiras e
do último pacote das bacias costeiras, e o término
do magmatismo em território brasileiro, há cerca de
12 M.a. no Nordeste, datando portanto do Mio-
ceno Médio. 
Com relação aos sismos no Brasil, até meados
da década de 70 não se costumava de modo geral
correlacioná-los aos movimentos tectônicos. Refle-
xos de sismos longínquos, acomodações de cama-
das, colapsos de zonas calcárias e deslizamentos de
terra eram as explicações oferecidas para esses even-
tos (Hasui & Ponçano, 1978). Nos anos 80, a rela-
ção entre a sismicidade e os estudos neotectônicos
foi ficando cada vez mais próxima, principalmente
com os eventos sísmicos desencadeados no Nor-
deste Brasileiro.
Este trabalho objetiva fazer uma resenha his-
tórica das ocorrências sísmicas no Brasil, enfati-
zando aquelas ocorridas no Nordeste, bem como
fazer uma síntese da evolução do conhecimento
sobre o neotectonismo no Brasil Oriental. Para atin-
gir tais metas, foi feita uma pesquisa bibliográfica
que se estende desde trabalhos (artigos e/ou livros)
do final do século passado até os dias atuais. 
REGISTRO HISTÓRICO 
DE TERREMOTOS NO BRASIL
Distantes em tempo e espaço das discussões
sobre a terminologia adequada para se referir às
modificações tectônicas mais recentes (do Neogeno
ao Quaternário), alguns pesquisadores no final do
século passado e início deste século já se preocupa-
vam em registrar os eventos sísmicos que ocorriam
no Brasil e, em particular, no Nordeste Brasileiro.
Capanema (1859) executou o primeiro trabalho
sobre sismos do Brasil (apud Assumpção et al.,
1980), destacando o evento de 1808 ocorrido em
Açu, RN, com magnitude estimada por Ferreira &
Assumpção (1983) em 4,8 mb. O próprio Impera-
dor do Brasil, D. Pedro II, entrega em 1860 os
“documentos relativos ao tremor de terra havido
em Pernambuco em 1811” ao Instituto Histórico
Geographico e Ethnographico do Brasil. 
 Com relação aos tremores de terra ocorridos
na Bahia, um relato mais apurado vem por parte de
Theodoro Sampaio em três artigos. Sampaio (1916)
descreve os movimentos sísmicos na Baía de Todos
os Santos, utilizando alguns critérios para evidenciar
tais eventos. O primeiro deles relaciona-se à expres-
são topográfica (morfologia do relevo), como con-
seqüência de movimentos sísmicos, já que, segundo
ele, a baía encontra-se topograficamente rebaixada e
com o contorno de suas costas profundamente
modificado. Segundo esse autor, as falhas geológicas
ressaltadas pelos paredões ou tombadores se consti-
tuem em evidências dos violentos abalos sísmicos
que atingiram parte da baía em época posterior ao
O
C&T15.book Page 92 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 93
Terciário, provocando o abatimento da bacia, per-
mitindo assim, a invasão do mar. 
 Outro critério utilizado pelo pesquisador foi
o relato de pessoas que sentiram os abalos sísmicos.
O último abalo até aquela data (1916) teria ocor-
rido na tarde do dia seis de novembro de 1915, em
que fora sentido em vários locais nas imediações da
baía (entre elas, Saubara, Vila de São Francisco, Ilha
das Fontes, Sul de Itaparica e Santo Amaro).
Segundo o Frei Pheliberto Gille, do Convento da
Vila de São Francisco, um forte abalo de terra,
acompanhado de um “estrondo subterrâneo” seme-
lhante ao do trovão, fez as paredes grossas do con-
vento balançar. Há no mesmo trabalho, vários
outros eventos citados desde o século XVII até o iní-
cio do século XX. Uma dessas citações parece falar
de tsunamis. Segundo o autor, em 1666 (dados de
Rocha Pitta) o mar saiu de seus limites naturais por
três dias alternados, cobrindo a praia de “innumera-
vel e miudo pescado”. 
Em seu trabalho de1919, Sampaio volta a
falar dos sismos na Baía de Todos os Santos,
expondo uma importante e curiosa afirmação, a de
que muitos ilhéus (pequenas ilhas) àquela época esta-
vam pouco a pouco sumindo do mapa hidrográfico
em conseqüência da subsidência da baía. Sampaio
(1920) volta a tratar os tremores de terra, dessa vez
destacando os que ocorreram em 1919 no estado da
Bahia. Para maior precisão dos eventos ocorridos, ele
organiza e passa a coordenar uma comissão para ins-
pecionar pessoalmente as conseqüências do terre-
moto de 22/11/1919. Além de atingir algumas cida-
des do Recôncavo, esse evento foi sentido também
em Salvador, com relato de moradores do Campo
Grande, Amaralina e dos pacientes do Hospital
Santa Isabel, em Nazaré. A comissão chefiada por
Sampaio observou próximo ao leito do Rio Parami-
rim fendas recentes nos muros e paredes das casas.
Na escala de intensidade, esse sismo foi classificado
como um tremor muito forte, provocando inclusive
queda de algumas chaminés.
É interessante observar que em todos os rela-
tos tomados por Theodoro Sampaio os eventos sís-
micos são sempre precedidos de um barulho surdo
semelhante a um trovão. Outras observações que
chamaram a atenção do pesquisador foram os rela-
tos de moradores próximo ao mar. Esses quase sem-
pre falavam de um borbulhamento das águas mari-
nhas (como se estivessem fervendo) e de um com-
portamento anormal dos peixes, que saltavam sem
parar, como se fugissem de algo e do cheiro de
enxofre em alguns locais. Esses e outros relatos fize-
ram com que Theodoro Sampaio não interpretasse
os eventos sísmicos como simples acomodação de
camadas, e sim como a ação de agentes internos ao
longo do eixo sinclinal (ele e outros pesquisadores
da época acreditavam que o recôncavo era um
grande sinclínio) ou das linhas de fraturas ali presen-
tes. E para finalizar a sua interpretação, Sampaio
acreditava que os tremores de terra eram precurso-
res de atividades vulcânicas e cessariam apenas
quando começasse uma erupção.
Antes de Sampaio, Branner (apud Ferreira &
Assumpção, 1983) publicou em 1912 um artigo
sobre terremotos no Brasil, citando os sismos ocor-
ridos no sertão baiano em 1904 e 1905 e que atingi-
ram as cidades de Senhor do Bonfim e Xique–
Xique, respectivamente, dois dos mais expressivos
sismos ocorridos no início do século. Outro registro
importante diz respeito à sucessão de eventos (um
total de cinco) ocorridos em fevereiro de 1903 em
Baturité, região serrana do estado do Ceará. Em
1920, Branner publicou o artigo “Recents Earth-
quakes in Brazil”, fazendo um apanhado dos tremo-
res de terra ocorridos entre 1917 e 1919 no nosso
país. Entre os vários sismos citados por Branner,
destacam-se os acontecidos na Bahia e relatados por
Sampaio (1919), além do de Maranguape, cidade
próxima à Fortaleza. Com os dados fornecidos por
Branner, Ferreira & Assumpção (1983) estimaram a
magnitude, a partir da área afetada, em aproxima-
damente 4,5 mb para esse último.
PRIMEIRAS REFERÊNCIAS AO 
NEOTECTONISMO BRASILEIRO
Apesar do esforço de pesquisadores do início
do século em relatar e tentar mostrar as possíveis
causas da sismicidade no Brasil, só na década de 70,
com a implantação de grandes obras de engenharia
civil (usinas hidrelétricas e termonucleares), é que o
interesse pelo tema neotectonismo ganhou um
campo maior de abordagem na literatura (Haber-
lehner, 1978). Antes disso, poucos foram os traba-
lhos que enfatizaram essa temática.
C&T15.book Page 93 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
94 Junho • 2000
Um dos trabalhos pioneiros em abordar o tec-
tonismo moderno no Brasil foi o de Freitas (1951).
Segundo esse autor, a conformação dos planaltos, as
muralhas (horsts), as fossas (grabens) e os vales de
“afundimento” (rift valleys), presentes em território
brasileiro, são evidências de uma tectônica ceno-
zóica no Brasil. Entre as diversas deformações epiro-
gênicas do escudo brasileiro, ele cita as “muralhas”
que modelam as serras do Mar e da Mantiqueira
como resultantes de uma ruptura do escudo crista-
lino, provocada por arqueamentos epirogenéticos
que originariam uma sucessão de falhas escalonadas,
atingindo o clímax durante o cenozóico. Para Frei-
tas (op. cit.), as por ele chamadas deformações epi-
rogênicas modernas do escudo brasileiro estariam
ligadas aos fenômenos orogenéticos dos Andes e,
secundariamente, a mecanismos de compensação
isostática ocorrida pela longa denudação desde o
Pré-cambriano.
Outro trabalho digno de nota da década de 50
é o de King (1956), intitulado “A Geomorfologia do
Brasil Oriental”. Nesse importante artigo para a geo-
morfologia e a geologia do Brasil, o autor faz um
relato do desenvolvimento da paisagem atual do leste
brasileiro, relacionando-a a uma série de eventos ero-
sivos (ciclos de denudação) mesozóicos e cenozóicos.
Os ciclos de denudação cenozóicos são: Sul-ameri-
cano (Terciário Inferior/Médio), Velhas (Terciário
Superior) e Paraguassu (Quaternário). Na observação
e descrição destes últimos, várias são as referências
ligadas a um tectonismo plio-pleistocênico. 
Ao Ciclo Velhas, King relaciona a deposição
do Grupo Barreiras, denominado por este autor “as
barreiras” e descrito como uma espessa cobertura
de argilas e areias pliocênicas. Essa cobertura sofre-
ria, no final do Terciário ou no pleistoceno, esforços
tectônicos que a inclinariam para o mar na direção
ESE. O Grupo Barreiras nos estados da Bahia e Ser-
gipe evidenciaria ainda pequenas dobras e falhas
com um a dois metros de delocamento, frutos des-
ses eventos tectônicos. Com relação à disposição
dos rios, o autor ressalta o Vale do São Francisco
como resultante de uma ruptura tectônica a partir
da Cadeia do Espinhaço, que representaria o estágio
máximo de elevação do interior continental desde a
zona costeira. 
Um outro trabalho importante ligado à geo-
morfologia, e com algumas observações estruturais
que implicam um tectonismo ativo durante o terciá-
rio e o quaternário, é o de Tricart e Silva (1968).
Apesar de enfocar principalmente a morfogênese do
relevo atual como conseqüência das variações climá-
ticas e mudanças do nível do mar, algumas referên-
cias apontam para a influência tectônica na confor-
mação desse relevo. No livro Estudos de Geomorfo-
logia da Bahia e Sergipe (p. 57), os autores chamam a
atenção para as deformações observadas na superfí-
cie pós-Barreiras, bem como na base dessa “forma-
ção”, na região litorânea próxima à cidade de Salva-
dor. Considerando o Grupo Barreiras como de
idade pliocênica, pode-se inferir, a partir dessa obser-
vação, uma ação tectônica desde o final do Terciário.
Ponte (1969) desenvolve um trabalho de inter-
pretação foto-geomorfológica na Bacia Alagoas-Ser-
gipe, aplicando a técnica denominada análise morfo-
tectônica ou morfo-estrutural. Essa técnica consiste
em avaliar o estudo do microrrelevo e da rede hidro-
gráfica, correlacionando-a com o delineamento estru-
tural subjacente. Nas áreas onde afloram os sedimen-
tos do Grupo Barreiras, Ponte (op. cit.) observou vari-
ações de espessura desse complexo sedimentar
(espessamento nos baixos regionais e adelgaçamento
sobre os altos estruturais), sugerindo que as estruturas
delineadoras desses desníveis topográficos (falhas)
estiveram ativas durante sua deposição, implicando
um tectonismo ativo no Terciário Superior. Várias fei-
ções observadas por esse autor na distribuição da dre-
nagem pressupõem um controle tectônico dessas fei-
ções. O Rio São Francisco, por exemplo, que possui
próximo à desembocadura uma tendência de seguir
para SE, sofre duas deflexões, uma antes da cidade de
Penedo (AL), para NE, e outra mais perto da costa,
para Sul. Esse caso reflete o controle estrutural com
os falhamentos atingindo possivelmente os sedimen-
tos quaternários dessa planície.
CAUSAS E EVIDÊNCIAS 
DO NEOTECTONISMO
Nesse tópico, tentar-se-á separar os trabalhos
queadvogam a causa da neotectônica como um dos
agentes modeladores do relevo, a partir das evidên-
cias bases em que eles se apóiam, sejam elas sismoló-
gicas, morfogenéticas, sejam aquelas ligadas a linhas
C&T15.book Page 94 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 95
de fraqueza estrutural e eventos tectono-termais.
Muitos trabalhos baseiam suas interpretações em
mais de um tipo de evidência, ressaltando, no
entanto, um principal. Por isso, a divisão feita aqui
representa tão somente uma tentativa de melhorar o
entendimento sobre as várias evidências do tecto-
nismo cenozóico, procurando enfatizar a dinâmica
causal desses eventos.
Evidências Sismológicas
Uma associação entre o neotectonismo e a sis-
micidade natural é feita por Hasui & Ponçano
(1978), que consideram os sismos recentes ocorri-
dos no Brasil, e divulgados pela imprensa e por
alguns trabalhos científicos, como evidências de um
tectonismo cenozóico brasileiro. Segundo esses
autores, há uma relação direta entre os sismos verifi-
cados no Brasil e os movimentos tectônicos de cará-
ter global. Eles atribuem às geossuturas proterozói-
cas (zonas de descontinuidades que atingem o
manto e permitem a ascensão de materiais máficos e
ultramáficos) o papel de zonas frágeis, nas quais as
forças tectônicas atuam, originando assim os sismos
(fig.1). Haberlehner (1978) identifica diversas regi-
ões do Brasil onde há concentração de atividade sís-
mica e as denomina províncias sismotectônicas. 
Para esse autor, existiriam dez dessas provín-
cias, de norte a sul do país, em zonas de falhas ati-
vas. Assumpção et al. (1980) fazem um levanta-
mento dos principais sismos ocorridos no sudeste,
ressaltando a sua magnitude sem, no entanto, apre-
sentarem qualquer interpretação tectônica. Ferreira
& Assumpção (1983) desenvolvem um trabalho
semelhante, só que bem mais abrangente em tempo
para o Nordeste, e concluem que a relação entre os
epicentros dos sismos e os lineamentos presentes
naquela região não é muito clara. Já em caráter regi-
onal, Hasui et al. (1978a) relacionam a sismicidade
na região das serras da Mantiqueira e do Mar,
englobando o leste de São Paulo e Rio de Janeiro e
sul de Minas Gerais, com a reativação de falhas pro-
terozóicas de direção NE/SW ali existentes, mos-
trando várias localidades afetadas pelos sismos. 
Evidências por Falhas e 
Eventos Tectono-Termais
Estudando as bacias marginais brasileiras,
Asmus & Ponte (1973) concluíram que o tecto-
nismo nessas bacias persistiu até o Terciário, princi-
palmente ao longo de falhas reativadas. Essas reativa-
ções ocorreriam por movimentações epirogenéticas
desde o final do Cretáceo até o Plioceno-Pleistoceno.
Hasui et al. (1978b), em seu estudo sobre as bacias
tafrogênicas continentais do sudeste brasileiro, rela-
cionaram os depósitos sedimentares daquela região
à tectônica regional desenvolvida desde o Ciclo Bra-
siliano (Proterozóico Superior), culminando com a
implantação de bacias continentais no Terciário
Superior e/ou Pleistoceno pela reativação de falhas
antigas. 
Fig. 1. Relação entre as geossuturas proterozóicas e os
sismos ocorridos no Brasil. O mapa destaca a con-
centração de sismos no Nordeste (zona sismogê-
nica de Fortaleza e Cráton do São Francisco) e
Sudeste do Brasil (região das Serras do Mar e da
Mantiqueira). (Modificado de Hasui & Ponçano,
1978).
Asmus & Ferrari (1978) falam de um tecto-
nismo cenozóico que atingiu a Região Sudeste e
parte da Região Sul do Brasil, onde predominou a
reativação de linhas de fraqueza pré-cambrianas
entre o Paleoceno e o Plioceno, com rejeitos de até
3.000 m. Esse tectonismo estaria associado a proces-
sos tectono-térmicos iniciados no Permiano/Triás-
sico, que teriam ocasionado considerável soergui-
mento crustal (estágio pré-rift). A partir do Eocretá-
ceo haveria uma ruptura da crosta continental como
C&T15.book Page 95 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
96 Junho • 2000
conseqüência de uma nova manifestação tectono-
magmática (fase rift). Esses eventos tectono-térmicos
teriam provocado um desequilíbrio isostático entre
as partes elevadas (porção continental) e as regiões
oceânicas. No terciário, esses esforços atingiriam
dimensão suficiente para reativar as linhas de fraque-
zas pré-cambrianas (falhamentos), expressas hoje em
dia pelas escarpas da Serra do Mar e da Mantiqueira.
Esse tectonismo cenozóico originaria uma seqüência
de falhas escalonadas com os blocos resultantes des-
ses falhamentos sendo basculados, configurando
uma disposição de semi-grabens (fig. 2). 
Hasui (1990) é o primeiro a colocar de forma
mais clara a relação entre o neotectonismo no Brasil
e a reativação de falhas e outras linhas de fraquezas
(zonas de cisalhamento dúctil, por exemplo), base-
ando suas afirmações no fato de que é mais fácil rea-
tivar uma linha de fraqueza preexistente do que
nuclear uma nova. Seguindo essa linha de raciocí-
nio, Hasui (op. cit.) afirma que os processos geológi-
cos ocorridos desde o Proterozóico até o Recente
são controlados por linhas de suturas pré-cambria-
nas, constituindo zonas de fraquezas, que separam a
crosta em vários blocos. Esses processos seriam
desencadeados pela tectônica global que, agindo
sobre as linhas de suturas que bordejam os blocos
crustais, provocariam o que ele denominou de tec-
tônica ressurgente. Szatmari (1999) afirma que os
processos tectônicos ocorridos tanto no Cretáceo
como no Cenozóico definem-se pelo arranjo crustal
pré-cambriano.
Evidências a partir de 
Tensões Intraplaca
Bezerra (1999) faz um esboço das principais
falhas geradas ou reativadas durante o Benozóico na
Bacia Potiguar. Elas possuem um caráter predomi-
nantemente transcorrente, são comumente segmen-
tadas e mostram relações sistemáticas de trunca-
mento (cross cutting), o que evidencia sua contem-
poraneidade. As falhas que atravessam as rochas
quaternárias e terciárias controlam a espessura dos
depósitos sedimentares resultantes do movimento
delas, bem como o padrão de drenagem. A falha
mais extensa é a de Carnaubais, estendendo-se pelos
estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A leste
dessa falha, depósitos de intermaré elevados, com a
presença de bivalvos marinhos em posição de cresci-
mento, mostram que o movimento ocorreu até o
holoceno com um deslocamento vertical de aproxi-
madamente 4 m (Bezerra et al., 1998; Bezerra,
1999). A falha de Jundiaí corta granitos pré-cambri-
anos e verticalmente desloca a Base do Grupo Bar-
reiras em até 260 m.
Fig. 2. Perfil esquemático mostrando os falhamentos esca-
lonados e basculamento de blocos resultantes do
tectonismo cenozóico que atingiu o Sudeste do
Brasil (modificado de Asmus & Ferrari, 1978). 
Bezerra (1999) conclui que a paleosismici-
dade no Nordeste do Brasil tem ocorrido desde o
Plioceno em intensidade tectônica maior do que os
dados instrumentais têm revelado. O stress principal
seria de compressão, orientado na direção E-W, o
que originaria as falhas NE e NW observadas
(Bezerra & Amaro, 1998). 
Evidências Morfogenéticas 
Martin et al. (1986) analisaram as principais
evidências geomórficas e geológicas indicativas de
atividades neotectônicas na Bacia do Recôncavo e
parte do litoral baiano ao sul dessa bacia. Entre as
evidências geomórficas, os autores ratificam as afir-
mações de King (1956) e Tricart & Silva (1968)
sobre a rede hidrográfica embrionária em direção à
Baía de Todos os Santos, sugerindo uma origem
recente para essa baía. Essas evidências são mais
marcantes na parte oeste da bacia, limitada pela
falha de Maragogipe. Nesse local, um desnível de
100 m de altura mostra que os rios ainda não tive-
ram tempo de escavar seus leitos, aparecendo
pequenas cachoeiras. Além disso, depressões ao pé
da falha, ocupadas por pequenas baías e canais de
C&T15.book Page 96 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
REVISTADE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 97
maré, sugerem afundamentos recentes ao longo do
plano de falha de Maragogipe. As evidências geoló-
gicas relacionam-se aos desnivelamentos das linhas
de costa pleistocênicas e holocênicas. Estas últimas
foram associadas à curva de variação do nível rela-
tivo do mar, nos últimos 7.000 anos, na região de
Salvador. A integração dos dados geomórficos e
geológicos permitiu a delimitação da Bacia do
Recôncavo em compartimentos limitados por falhas
mais ou menos paralelas (fig. 3).
Fig. 3. Compartimentação da Bacia do Recôncavo e de
parte do litoral sul da Bahia em função dos dados
fornecidos pela morfologia e pelos desnivelamen-
tos holocênicos. A história de cada compartimento
diferencia-se pela maior ou menor subsidência
durante o Quaternário. O compartimento n.º 2, por
exemplo, esteve sujeito à subsidência geral mais
importante desse período (fonte: Martin et al.,
1986).
O GRUPO BARREIRAS E O SEU 
SIGNIFICADO NEOTECTÔNICO
Muitas evidências de neotectonismo foram
observadas por Silva & Tricart (1980) nos sedimen-
tos do Grupo Barreiras, no litoral sul da Bahia. A
primeira delas seria o basculamento suave para
sudeste desse grupo, que, segundo esses autores, se
prolongaria por toda a plataforma continental.
Coincidências entre a disposição das falésias e as
falhas cretácicas foram observadas próximo a
Valença, mostrando relação entre alinhamentos
mais antigos e a morfologia atual das escarpas litorâ-
neas. Além disso, vários alinhamentos de vales e
áreas deprimidas estão direcionados segundo as ori-
entações de falhamentos do embasamento Pré-cam-
briano, o que pode representar uma reativação
recente dessas linhas de fraqueza.
Para a região litorânea entre Porto Seguro e
Santa Cruz de Cabrália, Mendes et al. (1987) e Bit-
tencourt et al. (1999) mostram, através de imagem
de radar e de fotografia aérea, respectivamente, um
nítido basculamento para NE da superfície pós-Bar-
reiras, evidenciado pelo alinhamento do padrão de
drenagem do bloco situado a norte do Vale do Bura-
nhém, onde o rio homônimo bordeja o plano de
falha (fig. 4). Lima & Vilas Boas (1999), estudando
as falésias do Grupo Barreiras no litoral sul baiano,
citam algumas evidências de neotectonismo associa-
das a esse complexo sedimentar. O sistema de linea-
mentos nessa região, por exemplo, possui um para-
lelismo com a linha de costa, indicando provavel-
mente um controle estrutural na deposição dos sedi-
mentos com possível reativação das falhas perten-
centes a esses lineamentos (Lima & Vila Boas,
1999). Além disso, foram observadas zonas de fra-
turas bem definidas que, por não perturbarem a
laminação original e cortarem todo o pacote sedi-
mentar, foram interpretadas como de origem pós-
deposicional. Outras feições importantes observa-
das foram a presença de diques areno-granulosos de
espessura decimétrica, imersos em argilitos, e o bas-
culamento para NE em várias porções da superfície
atual acima do Barreiras. 
Bittencourt et al. (1999) e Amaro et al. (1999)
relacionam os lineamentos (falhas) pré-terciários do
litoral baiano e potiguar, respectivamente, com o
delineamento costeiro atual, representado principal-
C&T15.book Page 97 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
98 Junho • 2000
mente pelas falésias do Grupo Barreiras. Souza et al.
(1999) fazem um levantamento das deformações
impressas nesse grupo, no litoral cearense, tais como
juntas verticais, falhas e dobras do tipo roll-over,
caracterizando-as como estruturas sin-sedimenta-
res, resultantes de um tectonismo ativo do Mioceno
ao Pleistoceno. Lima et al. (1990) estabelecem uma
relação entre o neotectonismo, as estruturas geoló-
gicas Pré-terciárias e o padrão de afloramento do
Grupo Barreiras na Bacia Potiguar, mostrando o
condicionamento da morfologia atual dos tabulei-
ros pertencentes a esse grupo à estruturação dos
horizontes pré-Barreiras e às forças de compressão e
tração que atingem a área atualmente. Segundo
esses autores, as janelas estratigráficas produzidas
pela erosão ao longo dos rios são, na maioria,
subparalelas ao eixo p (compressão) e subperpendi-
culares ao eixo t (tração relativa), o que implica uma
relação direta entre essas forças e a configuração das
falésias pertencentes ao Grupo Barreiras. 
DISCUSSÃO
Apesar do tema neotectonismo ter sido rele-
gado ao descrédito, durante muito tempo, pela
comunidade científica brasileira, por acreditar que
um país bordejado por uma margem continental do
tipo Atlântica (passiva) se constitui em uma região
extremamente estável, no decorrer desse século, as
evidências encontradas e destacadas por alguns
expoentes da comunidade geológica fizeram com
que, aos poucos, esse pensamento fosse sendo
modificado.
Os sismos estudados hoje em dia são muito
mais comuns do que a princípio se poderia esperar.
O relato desses sismos poderia ainda ser em quanti-
dade bem maior, já que durante muito tempo a
população se concentrou nas regiões litorâneas e os
instrumentos fornecedores de dados sismológicos só
há pouco mais de duas décadas foram instalados em
nosso país (Hasui & Ponçano, 1978). É fato que os
eventos sísmicos estão presentes e, segundo o levan-
tamento de Ferreira & Assumpção (1983), só para
o Nordeste Brasileiro, entre o século XVII e o início
da década de 80 do século XX, foram catalogados
253 sismos. Assumpção et al. (1980) descrevem um
total de 21 sismos na Região Sudeste entre 1861 e
1979, e Haberlehner (1978) cita a ocorrência de
251 sismos no Brasil entre 1560 e 1977, sendo que,
destes, pelo menos 138 não coincidem com os cita-
dos por Ferreira & Assumpção (1983) e por
Assumpção et al. (1980). Somando-se a esses dados,
estão os sucessivos eventos sísmicos na região de
João Câmara, RN, entre 1986 e 1989, que,
segundo Bezerra (1999), incluíram mais de 14.000
abalos, com 15 deles possuindo magnitude entre
4,1 e 5,1 na escala Richter.
Fig. 4. Imagem de radar mostrando a deflexão da drena-
gem a partir do basculamento para NE de um bloco
situado entre as cidades de Santa Cruz de Cabrália
e Porto Seguro, Bahia. (Mendes et al., 1987).
Outros dados sobre a ação neotectônica em
nosso país são os relacionados à estruturação geoló-
gica adquirida ao longo de sua formação e que dei-
xou, como legado, zonas de suturas pré-cambrianas
que hoje, sob a ação da tectônica global, se consti-
tuem em zonas de fraqueza (Hasui & Ponçano,
1978; Hasui, 1990). Sabe-se hoje em dia que nas
regiões intraplaca a tensão horizontal máxima dis-
põe-se paralelamente à direção de movimentação
absoluta das placas litosféricas, o que pressupõe
regimes tectônicos compressionais nessas regiões,
provocando regimes de falhas reversas ou falhas de
rejeito lateral como as observadas, por exemplo, na
Bacia Potiguar (Lima Neto, 1999). A ação das forças
compressivas intraplaca, atuando sobre as fraquezas
estruturais, são as responsáveis pela reativação e,
conseqüentemente, pelos deslocamentos de blocos e
pela ação sísmica por eles provocada. É natural, no
entanto, que existam algumas particularidades regio-
nais responsáveis por ligeiras alterações no direciona-
C&T15.book Page 98 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 99
mento dessas tensões e, por conseguinte, das estrutu-
ras criadas. 
 Para o Nordeste, por exemplo, as observa-
ções de Lima (1999) estão em desacordo com a pre-
visão do direcionamento da tensão horizontal
máxima e, segundo esse autor, fontes locais como
carga de sedimentos e diferenças de densidade da
litosfera têm sido subestimadas nos modelamentos
efetuados. Áreas onde há o desenvolvimento de
falhas normais na Bacia de Campos indicam local-
mente um regime distensivo e, segundo Lima Neto
(1999), esse predomínio relaciona-se a um sistema
ainda em compactação sobre uma camada de sal
(tectônica de sal ou halocinética). Bittencourt et al.
(1999)falam de um controle flexural em toda a
margem brasileira para a configuração da zona cos-
teira. A carga de sedimentos depositada nas mar-
gens continentais geraria forças extensionais que
reativariam falhas antigas e poderiam nuclear novas
falhas. Esse pensamento pode ser encarado como
uma particularidade para algumas áreas onde a
carga sedimentar é significativa, já que em algumas
porções dessas margens a quantidade de sedimentos
oriundos do continente é muito pequena, gerando
plataformas bastante estreitas.
Além dos sismos e da análise estrutural, as
anomalias morfológicas constituem dados que, há
muito tempo, vêm chamando a atenção dos pesqui-
sadores. Sampaio (1916) relatou uma topografia
rebaixada para a Baía de Todos os Santos e obser-
vava que os seus paredões eram conseqüência dos
sismos (tectonismo) pós–terciário. Freitas (1951)
destacou como evidência de tectonismo cenozóico
as escarpas que modelam as serras do Mar e da
Mantiqueira e foi mais além ao afirmar a correlação
entre os fenômenos epirogenéticos brasileiros com
o orogenético dos Andes, fato aceito atualmente
pela comunidade científica. Lima (1999), por exem-
plo, relaciona a compressão intraplaca à associações
mecânicas existentes entre a convergência Nazca-
América do Sul e a deformação andina. 
Todos os dados mostrados sobre a sismicidade
e as evidências morfogenéticas e estruturais, apesar
de esclarecerem o quanto o tectonismo atuou e atua
em território brasileiro, não são suficientes, entre-
tanto, para comparar a ação tectônica em nosso país
com aquela desencadeada em regiões situadas nos
limites de placas tectônicas. Isso assegura a estabili-
dade tectônica relativa do território brasileiro, o que
não implica, no entanto, inatividade tectônica. 
CONCLUSÕES
Algumas conclusões podem ser sumarizadas
dentro do estudo executado. A principal delas talvez
seja a concordância quase que geral sobre o com-
portamento do esforço intraplaca, interpretado pela
maioria dos pesquisadores como de origem com-
pressiva. Apesar desse consenso, variações locais,
como carga de sedimento, diferenças de densidade
da litosfera, posicionamento original das falhas pré-
cambrianas e influência de eventos termais, podem
alterar localmente o direcionamento dessas forças. 
 Outras conclusões importantes de serem rela-
tadas são:
• As zonas sismogênicas presentes em nosso país
associam-se invariavelmente a regiões onde geos-
suturas pré-cambrianas ocorrem. Isso implica uma
relação direta entre a sismicidade e o neotecto-
nismo. 
• A movimentação da placa sul americana para
W/NW é o principal fator das ocorrências tectô-
nicas em nosso país. Vale lembrar que o embasa-
mento do território brasileiro possui intrincado
sistema de lineamentos (zonas de fraqueza) que,
sob o esforço da tectônica global, pode sofrer
deslocamentos diferenciais. Dessa forma, é pos-
sível haver rebaixamento em algumas regiões e
soerguimento em outras. Toda a deposição do
Grupo Barreiras e o seu modelamento posterior
representam o produto de eventos neotectôni-
cos. Ao longo do litoral brasileiro, suas falésias
expressam variações locais, a depender da pro-
ximidade ou não de zonas sismogênicas, do sis-
tema de falhas e fraturas associadas, além da
história da tectônica recente da região. 
• Outras feições importantes, resultantes ou influ-
enciadas pela ação do neotectonismo em nosso
país, são as escarpas que margeiam as Serras do
Mar e da Mantiqueira, o delineamento do Vale
do São Francisco e, em áreas localizadas, o espes-
samento de depósitos quaternários costeiros.
C&T15.book Page 99 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
100 Junho • 2000
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, V.E. et al. Reativação Tectônica Meso-cenozóica das Estruturas Brasilianas na Faixa Litorânea Oriental do Nordeste
do Brasil - com base dos dados gravimétricos, imagens Landsat 5-TM e GEMS/banda X. Anais do SBG/SNET,
Lençóis, 7 (4): pp. 46-49, 1999.
ASMUS, H.E. & FERRARI, A.L. Hipótese sobre a causa do tectonismo cenozóico na região Sudeste do Brasil. In: Aspectos
Estruturais da Margem Continental Leste e Sudeste do Brasil. Rio de Janeiro: PETROBRÁS, pp. 75-88, 1978.
ASMUS, H.E. & PONTE, F.C. The Brazilian Marginal Basins. In: NAIRN, A.E.M. & STEHLI, F.G. (orgs.). The Ocean Basins
and Margins. The South Atlantic. Nova York: Plenum Press, pp. 87-133, 1973, v. 1. 
ASSUMPÇÃO, M.S. et al. Sismicidade do Sudeste do Brasil. Anais do SBG (Congresso Brasileiro de Geologia), Camboriú, 2: pp.
1075-1092, 1980.
BEZERRA, F.H.R. Intraplate paleoseimicity in Northeastern Brazil. Anais do SBG, Lençóis, 7 (4): pp. 12-16, 1999.
BEZERRA, F.H.R. & AMARO, V.E. Sensoriamento Remoto Aplicado à Neotectônica da Faixa Litorânea Oriental do Estado
do Rio Grande do Norte. Simp. Brasil. de Sens. Rem. 9, Santos, CD-rom, 1998.
BEZERRA, F.H.R. et al. Holocene Coastal Tectonics in NE Brazil. In: STEWART, I.S. & VITA –FINZI, C. (orgs.). Coastal Tec-
tonics. Londres: Geological Society, Special Publications, pp. 279-293, 1998, v. 146.
BITTENCOURT, A.C.S.P et al. Flexure as a tectonic control on the large scale geomorphic characteristics of the eastern Brazil
coastal zone. Journ of Coast Res. 15 (2): pp. 505-519, 1999.
BRANNER, J.C. Recents Earthquakes in Brazil. Seism. Soc. Am. Bull., 10 (2): pp.90-104, 1920.
FERREIRA, J.M. & ASSUMPÇÃO, M.S. Sismicidade do Nordeste do Brasil. Rev. Bras. Geof., 1: pp. 67-88, 1983.
FREITAS, R.O. Ensaio Sobre o Relevo Tectônico do Brasil. Rev. Bras. de Geograf., 2: pp. 171-221, 1951.
HABERLEHNER, H. Análise Sismotectônica do Brasil: notas explicativas sobre o mapa sismotectônico do Brasil e regiões cor-
relacionadas. ABGE, Anais do Cong. Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp. 297-329, 1978.
HASUI, Y. Neotectônica e Aspectos Fundamentais da Tectônica Ressurgente no Brasil. SBG/MG. Workshop sobre Neotectônica
e Sedimentação Cenozóica Continental no Sudeste Brasileiro, Belo Horizonte, 1: pp. 1-31, 1990.
HASUI, Y. & PONÇANO, W.L. Geossuturas e Sismicidade no Brasil. ABGE, Anais do Cong. Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp.
331-338, 1978.
HASUI, Y. et al. Os Falhamentos e a Sismicidade Natural da Região das Serras da Mantiqueira e do Mar. ABGE, Anais do Cong.
Bras. Geol. Eng., São Paulo, 1: pp. 353-357, 1978a.
______. Sobre as Bacias Tafrogênicas Continentais do Sudeste Brasileiro. SBG, Anais do Congresso Brasileiro de Geologia, Recife,
1: pp. 382-392, 1978b.
KING, L.C. A Geomorfologia do Brasil Oriental. Rev. Bras. Geogr., 2: pp. 147-265, 1956.
LIMA, C.C. Inversão Nascente de Bacias: expressões topográficas e estruturais e implicações. SBG. Anais do Simp. Nac. Est.
Tect., Lençóis, 4: pp. 29-30, 1999.
LIMA, C.C. et al. O Grupo Barreiras na Bacia Potiguar: relações entre o padrão de afloramentos, estruturas pré-Barreiras e neo-
tectonismo. SBG. Anais do Congresso Brasileiro de Geologia, Natal, 2: pp. 607-620, 1990.
LIMA, C.C.U. & VILAS BOAS, G.S. Evidências de Neotectonismo nas Falésias do Grupo Barreiras, litoral sul da Bahia Anais
VII Congresso da ABEQUA, Porto Seguro, Viiabequa_zco999.pdf., 1999.
LIMA NETO, F.F. O Regime Atual de Tensões nas Bacias Sedimentares Brasileiras. SBG, Anais Simp. Nac. Est. Tect., Lençóis, 4:
pp. 25-28, 1999.
MARTIN, L. et al. Neotectonic Movements on a Passive Continental Margin: Salvador region, Brazil. Neotectonics, 1: pp. 87-
103, 1986.
MENDES, I.A. et al. Geomorfologia. Projeto RADAMBRASIL. Folha SE 24, RIO DOCE. Geologia, Pedologia, Vegetação, Uso
Potencial da Terra. Rio de Janeiro, Levantamento de Recursos Naturais, 34: pp. 173-228, 1987.
PAVLIDES, S.B. Looking for a Definition of Neotectonics. 1989. Citação eletrônica [on line] 1999. Disponível: <http://
inqua.nlh.no/>.
PONTE, F.C. Estudo Morfoestrutural da Bacia Sergipe-Alagoas. Bol. Tec. Petrob., 12: pp. 439-474, 1969.
SAADI, A. Neotectônica da Plataforma Brasileira: esboço e interpretação preliminares. Geonomos, 1 (1): pp. 1-15, 1993.
SAMPAIO,T. Movimentos Sísmicos na Bahia de Todos os Santos. Anais Cong. Bras. de Geog., 5: pp. 357-367, 1916.
___________. Tremores de Terra no Recôncavo da Bahia de Todos os Santos. Rev. do Inst. Geog. Hist. da Bahia, 45: pp. 211-
222, 1919.
___________. Tremores de Terra na Bahia em 1919. Rev. do Inst. Geog. Hist. da Bahia, 46: pp. 183-195, 1920.
SILVA, T.C. & TRICART, J. Problemas do Quaternário do Litoral Sul da Bahia. SBG. Anais Cong. Bras. Geol., Camboriú, 1: pp.
603-606, 1980.
C&T15.book Page 100 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
REVISTA DE CIÊNCIA & TECNOLOGIA • 15 – pp. 91-102 101
SOUZA, D. et al. Deformação Sin e Pós-formação Barreiras na Região de Ponta Grossa (Ipacuí, CE), Litoral Ocidental da Bacia
Potiguar. SNET, Lençóis, 4: pp. 90-93, 1999.
SZATMARI, P. Role of Tectonic and Halotectonic Processes in Shaping the Brazilian Continental Margin. Anais Simp. Nac. Est.
Tect., Lençóis, 4: pp. 3-5, 1999.
SUGUIO, K. & MARTIN, L. The Role of Neotectonics in the Evolution of the Brazilian Coast. Geonomos, 4 (2): pp. 45-53,
1996.
TRICART, J. & SILVA, T.C. Estudos de Geomorfologia da Bahia e Sergipe. Salvador: Fundação Desenvolvimento da Ciência na
Bahia, p. 167, 1968.
C&T15.book Page 101 Friday, September 12, 2003 9:06 AM
102 Junho • 2000
C&T15.book Page 102 Friday, September 12, 2003 9:06 AM

Outros materiais