Buscar

BARBOSA, Heloisa LIVRO Procedimentos Técnicos da Tradução

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 70 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

ÍNDICE
	
	
	
	Neste docto
	1
	INTRODUÇÃO
	11
	
	2
	MODELOS DE TRADUÇÃO
	19
	
	2.1
	Análise dos Modelos
	22
	
	2.1.1
	Tradução Direta vs. Tradução Oblíqua:
O Modelo de Vinay e Darbelnet (1977)
	22
	
	2.1.2
	Equivalência Formal vs. Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida (1964)
	32
	
	2.1.3
	Os Quatro Modelos de Catford (1965)
	35
	
	2.1.4
	Tradução Literal vs. Tradução Oblíqua: O Modelo de Vazquez-Ayora (1977)
	43
	
	2.1.5
	Tradução Semântica vs. Tradução Comunicativa: O Modelo de Newmark (1981)	
	49
	
	2.2
	Resumo dos Modelos	
	56
	
	3
	PROPOSTA DE CARACTERIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
	63
	
	3.1
	A Tradução Palavra-por-Palavra	
	64
	
	3.2
	A Tradução Literal
	65
	
	3.3
	A Transposição	
	66
	
	3.4
	A Modulação
	67
	
	3.5
	A Equivalência
	67
	
	3.6
	A Omissão vs. a Explicitação	
	68
	
	3.7
	A Compensação
	69
	
	3.8
	A Reconstrução de Períodos
	70
	
	3.9
	As Melhorias
	70
	
	3.10
	A Transferência
	71
	
	3.10.1
	O Estrangeirismo	
	71
	
	3.10.2
	A Transliteração
	73
	
	3.10.3
	A Aclimatação
	73
	
	3.10.4
	A Transferência com Explicação	
	74
	
	3.11
	A Explicação
	75
	
	3.12
	O Decalque
	76
	
	3.13
	A Adaptação
	76
	
	4
	DUAS PROPOSTAS DE RECATEGORIZAÇÃO DOS
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DA TRADUÇÃO
	79
	
	4.1
	A Categorização dos Procedimentos Técnicos da Tradução pela Frequência de Ocorrência
	83
	
	4.2
	A Categorização dos Procedimentos Técnicos da Tradução pela Convergência ou Divergência Linguística e extralinguística entre a LO e a LT
	91
	
	4.2.1
	A Convergência do Sistema Linguístico, do Estilo e da Realidade Extralinguística
	92
	
	4.2.2
	A Divergência do Sistema Linguístico
	95
	
	4.2.3
	A Divergência do Estilo
	96
	
	4.2.4
	A Divergência da Realidade Extralinguística
	97
	
	4.3
	Resumo da Proposta
	100
	
	5
	CONCLUSÃO
	103
	
	6
	BIBLIOGRAFIA
	113
	
	7
	NOTAS
	119
	
	8
	POSFÁCIO
	121
	
	
LISTA DE SÍMBOLOS
LO - Língua original 
LT - Língua da tradução 
TLO - Texto na língua original 
TLT - Texto na língua da tradução 
TO - Texto original
(pág. 11)
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho constitui uma pequena tentativa de recaracterização e de recategorização dos procedimentos técnicos da tradução, inicialmente descritos por Vinay e Darbelnet (1977) em 1958.[1: A primeira edição desta obra é de 1958. Para este trabalho foi utilizada a edição revista e aumentada de 1977.]
O exercício da profissão de tradutora bem como, mais tarde, do magistério ligado a esse mesmo ofício, fez-me sentir a necessidade de efetuar uma reflexão sobre a tradução, assim como de aprofundar meus conhecimentos a respeito do assunto, através da realização de leituras da literatura disponível sobre o tema.
Como primeiro passo, através de reflexões sobre meu trabalho e dos subsídios colhidos na literatura disponível, procurei estabelecer uma definição de tradução. Concluí que esta se trata de uma atividade humana realizada através de estratégias mentais empregadas na tarefa de transferir significados de um código linguístico para outro, concordando, portanto com Bordenave (1987:2).
Foi também possível identificar na literatura as principais áreas de tensão nas diversas reflexões sobre a tradução. A primeira delas se estabelece em torno da possibilidade ou impossibilidade da mesma (cf. Mounin, 1955, 1975, 1976a e b e 1980, por exemplo). A segunda detém-se na divergência entre a tradução livre e a literal, que é também a tensão entre conteúdo e forma, e vem a ser uma discussão constante na literatura, como será visto adiante. A terceira e última prende-se à posição entre a tradução técnica e a literária e se reflete tanto na literatura (cf. Lefevere, 1977; Maillot, 1975; Portinho, 1984; Rocha, 1982; Tate, 1970; Wanderley, 1983, por exemplo), como nas tabelas de preços cobradas por tradutores juramentados (cf. Associação (pág. 12) dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais - RJ, 1988) e autônomos (cf. ABRATES-RJ, 1988).
Uma vez que é inegável o grande volume de traduções realizadas a todo instante, em todo o mundo, atualmente, abandonei, de imediato, a ideia de efetuar minha reflexão no campo da primeira área de tensão – a possibilidade ou impossibilidade da tradução – por parecer-me estéril esta discussão.
A oposição entre tradução livre e literal, por outro lado, pareceu-me uma questão central para qualquer investigação acerca dessa atividade, pois o que está em jogo aqui é o modo como a tradução deve ser feita ou não. Além disso, esta questão engloba também a terceira área de tensão, ou seja, a tensão entre a tradução literária e a técnica, pois esta oposição, tal como a tensão entre a tradução livre e a literal, é também uma oposição entre dois “modos de traduzir” (um supostamente adequado ao texto literário, outro ao texto técnico) que é a questão que desejo tratar, através dos procedimentos técnicos da tradução.
Para deixar mais claro este ponto, é preciso voltar atrás um pouco, tecer algumas considerações de caráter geral e histórico.
Todos – leigos, clientes, consumidores, críticos e tradutores – têm uma noção instintiva, uma expectativa, daquilo que uma tradução é ou deve ser: fiel ao original (cf. Aubert, 1983:3). Para muitos, esta fidelidade é sinônimo de literalidade, como o cliente que deseja a tradução de um documento e indaga: “Mas essa tradução que a Sra. faz é literal, palavra-por-palavra?” Do mesmo modo, a fórmula para a juramentação de uma tradução nos Estados Unidos inclui a garantia de que a mesma foi feita palavra-por-palavra, “implicando simultaneamente em literalidade e exaustividade” (Aubert, 1987: 17-18).
Chega a tais extremos esta valorização da fidelidade à forma que, assinala Nida (1964), algumas populações preferem que seja dada ao texto bíblico uma tradução totalmente fiel à forma, totalmente literal, mesmo que seu resultado seja um texto incompreensível para os falantes da língua da tradução (doravante LT).
A questão da fidelidade, portanto, remete imediatamente à tensão entre conteúdo e forma: a tradução deve ser literal, palavra-por-palavra, mantendo estrita fidelidade à forma, ou deve não se (pág. 13) preocupar com a forma e se manter fiel apenas ao conteúdo, ou deve, ainda, ser alguma outra coisa?
Esta parece ser a indagação mais antiga acerca da tradução. Já na Roma Clássica, Cícero (55 a.C), autor de uma das primeiras reflexões conhecidas a respeito do assunto, foi pioneiro em defender a fidelidade ao conteúdo em detrimento da forma (cf. Newmark, 1981:4; Nida, 1964:13).
Mais tarde, no Império Romano cristianizado, em outro dos mais antigos textos conhecidos sobre a tradução (cf. Newmark, 1981:4; Nida, 1964:13), São Jerônimo (384 d.C), o tradutor-revisor dos quatro Evangelhos, a denominada Vulgata, em uma carta ao papa Dâmaso, preocupa-se com aqueles que porventura repudiassem sua tradução, talvez rompendo “em imediato protesto, gritando que eu, falsário, sou um sacrílego cuja ousadia chega ao ponto de em livros tradicionais fazer acréscimos, mudanças, correções!?” (São Jerônimo, s/d).
Ao meu ver, aí, na verdade, São Jerônimo enumera os procedimentos, ou modos de traduzir, que utilizou: acréscimos, mudanças e correções, além da tradução literal, pois, como aponta Newmark (1981:4), São Jerônimo advogava uma interpretação literal das palavras, a qual, como mostrei acima, faz parte das expectativas daquele que encomenda a tradução, nesse caso específico, o papa Dâmaso.
Assim, uma vez que, novamente de acordo com Bordenave (1987), considero a tradução como “um fazer, um fazer intelectual que requer o domínio de operações mentais” (Bordenave, 1987:2), optei por focalizar minha atenção sobre os procedimentos técnicos da tradução enquanto desdobramento da questão da oposição entre tradução livre e literal. Pareceu-me que a definição de procedimentos aplicáveis à prática da tradução serviria de diretriz tanto parao tradutor como para o aluno.
Nesse campo, sobressai o trabalho de Vinay e Darbelnet (1977) por terem sido estes dois autores os primeiros (em 1958) a descrever os procedimentos técnicos da tradução. Sua exposição é objeto de cursos, desde os livres até aqueles no nível de pós-graduação, de artigos publicados (cf. Aubert, 1978, 1981, 1983, 1987 e s/d; Campos, 1986a e b; Dutra, 1983; Paiva, 1981/82; Santos, 1977 e Sousa-Aguiar 1980, por exemplo), (pág. 14) de dissertações de mestrado (Alves, 1983; Coelho, 1988; Queirós Filho, 1976, por exemplo) e de teses de doutorado (Fregonezi, 1984, por exemplo) dentro do País, sem falar na atenção que lhe devota a literatura internacional, onde sua obra é presença quase constante nas listas bibliográficas de obras publicadas – ou seja, se não é objeto de discussão direta, é, ao menos, parte das leituras feitas pelos diversos estudiosos da matéria.[2: No dizer de Mounin (1975:20), inclusive: 'Pelo que sabemos, J. P. Vinay e J. Darbelnet foram os primeiros a se dispor a escrever um compêndio de tradução que reivindicasse um status científico.]
Tendo tomado conhecimento dos procedimentos técnicos da tradução através das fontes mencionadas no parágrafo acima, minhas leituras em torno do assunto visaram responder a uma série de indagações a respeito dos procedimentos técnicos da tradução tal como expostos por Vinay e Darbelnet (1977) e tal como discutidos na literatura disponível. Em primeiro lugar, seriam eles uma chave para a compreensão das operações mentais envolvidas no ato tradutório? Seriam estes procedimentos apenas uma série de “boas Meias”, de “achados”, sem status de generalização suficiente para a formulação de teorias? Ou seriam apenas uma tentativa ad hoc de descrever os vários problemas que encontra o tradutor no exercício de sua profissão? Até que ponto as teorias linguísticas mais recentes utilizadas no trabalho de investigação do ato de traduzir contribuiriam para um entendimento mais esclarecedor da concepção inicial de Vinay e Darbelnet (1977) sobre os procedimentos técnicos da tradução? Até que ponto a categorização dos procedimentos técnicos da tradução, proposta por Vinay e Darbelnet (1977) e reproduzida nas obras que os seguem, é útil para o ato de traduzir e, assim, para o ensino da tradução?
Visando responder a estas perguntas, iniciei um exame da literatura disponível sobre tradução, o que logo me deixou claro qual deveria ser o enfoque a dar à minha reflexão: realizar uma pequena tentativa de recaracterizar e recategorizar os procedimentos técnicos da tradução descritos por Vinay e Darbelnet (1977) à luz tanto da revisão da literatura disponível, como de minha experiência como tradutora e professora de tradução.
A prática da tradução e do ensino da matéria já me haviam permitido constatar que a descrição dos procedimentos tradutórios efetuada por Vinay e Darbelnet (1977) era insatisfatória e incompleta, embora fosse de relativa simplicidade – pois enumera apenas sete procedimentos, hierarquizados segundo a dificuldade de realização do tradutor (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:46-55).
(pág. 15) A experiência de tradutora e professora de tradução e a consequente visão da tradução como uma atividade humana permitem a atribuição de uma grande importância aos procedimentos tradutórios, que vejo como uma tentativa de responder à pergunta “como traduzir?” e de estabelecer o que de fato acontece no ato da tradução.
A fim de responder à pergunta “como traduzir?”, a literatura disponível busca subsídios em várias áreas do conhecimento – análise do discurso, antropologia ou linguística antropológica, estética, estilística, filosofia (especificamente a filosofia da linguagem), informática, inteligência artificial, lexicografia, linguística, lógica, neurofisiologia, psicolinguística, psicologia cognitiva, semiótica, sociolinguística, teoria da comunicação e teoria literária, por exemplo (cf. Arrojo, 1988; Bassnett-McGuire, 1978; Bordenave, 1988). Efetua também o exame de traduções existentes, e de trabalhos de alunos, como método de trabalho para encontrar soluções para o problema que se propõe resolver. Considero esta metodologia compatível com os métodos da linguística aplicada, conforme o exposto em Cavalcanti (1986).
Assim sendo, em vista da importância que atribuí aos procedimentos técnicos da tradução, e havendo detectado falhas na descrição de Vinay e Darbelnet (1977), procurei, em uma primeira etapa, subsídios teóricos na literatura disponível na área da tradução que abordassem especificamente este assunto, a fim de encontrar soluções para a questão que me propus, ou seja, responder à pergunta “como traduzir?” através da formulação de procedimentos técnicos da tradução.
Esta primeira etapa de meu trabalho é apresentada no Capítulo 2 do presente trabalho, onde faço uma revisão comentada da literatura. Em primeiro lugar, apresento uma breve descrição desses procedimentos segundo Vinay e Darbelnet (1977), os pioneiros em efetuá-la, categorizando-os como procedimentos da “tradução direta”, ou da “tradução indireta” (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:46-55). Em seguida, procurando manter uma ordem cronológica, apresento o modelo de Nida (1964), que se recorta em vista da tensão entre a “equivalência formal” e a “equivalência dinâmica” (cf. Nida, 1964: 165-175, 225); os quatro modelos de Catford (1965); o modelo de Vázquez-Ayora (1977), que revê os procedimentos técnicos da tradução segundo a tensão entre a “tradução literal” e a “tradução oblíqua” (cf. Vázquez-Ayora, 1977:257-266); finalizando com o (pág. 16) modelo de Newmark (1981), que estabelece a tensão entre “tradução semântica” e “tradução comunicativa” (cf. Newmark, 1981:38-40).
Em uma outra etapa, utilizei estes procedimentos nas traduções que realizei (como fizeram Sousa-Aguiar, 1980 e Cubric, 1984) bem como nas traduções efetuadas por meus alunos, com minha orientação, além de detectá-los em traduções existentes (como fizeram Paiva, 1981/82; Alves, 1983; Fregonezi, 1984 e Coelho, 1988). Assim, não parti de um corpus delimitado para efetuar minha reflexão.
Esta etapa de meu trabalho aparece neste livro sob a forma dos exemplos que apresento. Uma parte deles foi retirada da literatura e inclui exemplos em inglês, francês, espanhol, alemão e hindi. Ao apresentar minhas formulações, entretanto, procurei apresentar sempre exemplos retirados diretamente de meu trabalho, a tradução entre o português e o inglês, acrescentando exemplos em francês, espanhol, italiano, alemão e russo onde se fizeram necessários.
Após percorrer as etapas descritas acima, cheguei à conclusão de que os procedimentos técnicos da tradução acrescentados por outros autores aos descritos por Vinay e Darbelnet (1977), bem como diversas modificações que fizeram dessa primeira descrição, pareciam ser úteis no sentido de ampliar o alcance da descrição e de esclarecer melhor o que é de fato realizado no ato da passagem de uma língua para outra.
Verifiquei, no entanto, que havia discrepâncias entre as categorizações efetuadas pelos autores examinados, englobando divergências terminológicas e modos diversos de recortar os procedimentos descritos.
Por acreditar que uma recaracterização destes procedimentos, que aglutinasse de modo coerente às descrições dos autores examinados, ao mesmo tempo em que eliminasse as discrepâncias encontradas, poderia ser útil para o tradutor – que encontraria nesses procedimentos recaracterizados um amplo elenco de modos de traduzir a seu dispor – para o professor e o aluno de tradução – cuja tarefa seria facilitada pela disponibilidade desses procedimentos – e para futuras pesquisas na área – que contariam com um novo ponto de partida – é que me propus a tarefa de efetuar uma recaracterização dos procedimentos técnicos da tradução, cujo resultado apresento no Capítulo 3 deste livro.
(pág. 17) O trabalho que desenvolvi até este ponto permitiu-me também concluir que as categorizações dos procedimentos técnicos da tradução propostas pelos autores examinados não refletem o que de fato ocorre noato da tradução, nem contribuem para um melhor esclarecimento dos fatores com que se defronta o tradutor em sua tarefa. Isto porque todos os modelos examinados categorizam os procedimentos técnicos da tradução dispondo-os ao longo de dois eixos diametralmente opostos: o da tradução literal e o da tradução não literal, reproduzindo a tensão entre estes dois modos de traduzir, que é a mais antiga controvérsia em torno da tradução, como foi visto acima.
Diante desta constatação, propus-me também a tarefa de tentar oferecer uma nova proposta de categorização dos procedimentos técnicos da tradução. Assim sendo, no Capítulo 4 deste livro, discuto duas propostas de recategorização dos procedimentos tradutórios.
Na primeira delas, efetuei uma tentativa de categorizar os procedimentos técnicos da tradução de acordo com a frequência com que ocorrem na tradução, verificada a partir de traduções existentes. Fui, todavia, obrigada a abandonar esta proposta, pois não encontrei, na literatura disponível, subsídios para viabilizá-la.
Na segunda, em lugar de se distribuírem ao longo do eixo divisório entre uma tradução que é literal e outra que não é literal, os procedimentos tradutórios se categorizam de acordo com o grau de divergência entre as duas línguas que entram em contato através do ato tradutório. A tradução literal é vista como uma instância de elevada identidade formal e cultural entre as duas línguas que se confrontam na tradução. As instâncias de maior divergência entre as línguas são analisadas como sendo de divergência linguística, ou estilística, ou da realidade extralinguística, dispondo-se os demais procedimentos tradutórios ao longo desses eixos.
Ao meu ver, esta é a categorização mais adequada dos procedimentos técnicos da tradução. Como será visto adiante, no corpo do presente trabalho, não encontrei na literatura disponível qualquer abordagem que caracterizasse ou categorizasse os procedimentos tradutórios nos modos que expus acima. 
No Capítulo 5 apresento uma breve conclusão deste trabalho.
(pág. 19) 
2
MODELOS DE TRADUÇÃO
Há milênios a tradução está entre nós, chegando alguns até mesmo a recorrer ao mito da Torre de Babel para explicar a sua origem (cf. Campos, 1986a e b). Há muitas centenas de anos também que se escreve sobre a tradução, podendo-se citar, entre os que o fizeram, Cícero (cf. Newmark, 1981:4; Mounin, 1965:31-32), na Antiguidade, ou São Jerônimo (s/d), o santo patrono dos tradutores, tradutor-revisor dos quatro Evangelhos (a Vulgata). No entanto, o falar sobre a tradução – viesse este de Dryden, Pope, Arnold, Proust ou Gide (cf. Newmark, 1981; Mounin, 1965; Nida, 1964; Vázquez-Ayora, 1977) – era um falar impressionista, em que autores-tradutores beletristas discorriam sobre suas experiências e impressões ao traduzir e recriar o belo, mas se mantinham isolados, muitas vezes ignorando o trabalho uns dos outros, sem que pudessem formar um corpo teórico.
Mas a tradução não se restringe à da palavra divina, da poesia ou da grande obra literária. No mundo de hoje, na aldeia global forjada pelos meios de comunicação de massa, ela se torna corriqueira, cotidiana e fundamental nos mais variados campos do conhecimento e das atividades do homem.
Assim é que, em 1915, durante as Conferências para a Paz, em Paris, que geraram a Liga das Nações, ficou evidente a necessidade de que fossem treinados intérpretes para atuar nas assembleias dessa entidade, bem como profissionais que se ocupassem da tradução das enormes quantidades de documentos por ela elaborados. Para que se treinassem esses profissionais, era necessário um estudo objetivo daquilo que constitui a tradução e de como esta se realiza (cf. Herbert, 1968).
(pág 20) Os estudos acerca da tradução tomaram maior impulso a partir dos anos cinquenta, findo o conflito da Segunda Guerra Mundial e parcialmente superados seus efeitos, através dos esforços pela paz entre os povos, consubstanciados na formação de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, nos quais o francês se viu deslocado como a língua-franca da diplomacia, e nos quais foi dado peso igual aos idiomas das nações fundadoras, originando, assim, a necessidade de grande volume de traduções (cf. Herbert, 1968).
O impacto dessa quantidade de traduções de aplicação prática imediata fez com que a tradução deixasse de ser uma preocupação essencialmente de autores-escritores diletantes na área, para inscrever-se na pauta de estudiosos informados por teorias linguísticas e, mais especificamente, na pauta de linguistas aplicados, já que a tradução é uma instância de uso da linguagem, um caso de interação à distância mediada pelo texto (cf. Cavalcanti, 1986:8), envolvendo duas línguas.
Dentre os linguistas que primeiro se ocuparam da tradução está Mounin (1955, 1975, 1976a e b e 1980), cuja obra se volta consistentemente para o tema e que se tornou clássica e fundamental para o estudo da matéria. Mounin (1975) apoia-se em vários aspectos da linguística de seu tempo, funcional e estrutural, inclusive a linguística antropológica, e aborda vários aspectos da tradução, até mesmo sua possibilidade ou impossibilidade, mas logo se rende à evidência da produção nesta atividade, e afirma: “... tradutores existem, eles produzem, recorremos com proveito às suas produções” (Mounin, 1975:19).
Assim, validada pela sua própria existência, e definida por Mounin (1975:22) como uma operação linguística, 
“pois comporta, basicamente, uma série de análises e de operações especificamente dependentes da língua e susceptíveis de serem mais e melhor esclarecidas pela ciência linguística aplicada corretamente do que por qualquer empirismo artesanal,”
a tradução conquista definitivamente seu espaço como área de reflexão e passa a ser objeto de estudo de vários outros linguistas após Mounin, muitos deles ativos também como tradutores e professores de tradução.
(pág 21) Sendo, portanto, a tradução vista como uma atividade humana, uma operação linguística, aqueles que se ocupam dela têm procurado fornecer uma resposta à pergunta “como traduzir”. No pensamento tradicional sobre a tradução, esta resposta era simples: literalmente, fielmente, sendo esta literalidade e esta fidelidade vistas como sendo primordialmente à forma do original, relegando seu conteúdo ao segundo plano.
Desde os primórdios das reflexões sobre a tradução, no entanto, houve aqueles que advogavam um modo de traduzir que privilegiasse o conteúdo e se afastasse da literalidade pura e simples.
Não sendo literal, entretanto, como deveria ser a tradução? É como resposta a esta pergunta, como um modo de justificar a tradução não literal, que, ao meu ver, surgem, no estudo da tradução, descrições de procedimentos técnicos. Isto porque a necessidade premente, em todo o mundo, de traduções para aplicação imediata impede que sejam tão literais que se tornem incompreensíveis para o usuário, ou tão livres que percam seu valor legal ou se efetivem como um outro texto original (doravante TO), uma recriação ou paráfrase. Assim, torna-se preciso que haja parâmetros de execução que validem um determinado tipo de tradução como sendo funcional, operacional, e que sirva de base para o ensino da tradução.
É da descrição de tais procedimentos técnicos da tradução que vão ocupar-se muitos autores, buscando subsídios na teoria da natureza da linguagem que goza de maior prestígio em seu tempo, decorrendo dela a visão que têm sobre como deve ser uma tradução.
A esta visão de como deve ser uma tradução denominei “modelo” (ou paradigma, cf. Kuhn, 1970), pois é esta concepção que vai determinar o modo como são categorizados os procedimentos técnicos da tradução, e também os critérios que são apontados para que sejam selecionados como válidos em um determinado ato tradutório.
Um trabalho que pretende analisar os procedimentos técnicos da tradução a partir da descrição pioneira de Vinay e Darbelnet (1977) precisa confrontá-los com o tratamento dado a eles na literatura, por alguns outros autores. Para fazê-lo, é precisoexaminar primeiro os modelos de tradução dos autores selecionados, bem como (pág. 22) examinar os subsídios teóricos que utilizam para defini-lo, o que passo a fazer em seguida.
2.1. ANÁLISE DOS MODELOS
Apresento abaixo uma revisão sucinta dos modelos de alguns autores que selecionei na literatura disponível para cotejar com o trabalho de Vinay e Darbelnet (1977), com cujos procedimentos técnicos da tradução inicio minha revisão da literatura, passando, em seguida, a uma análise dos modelos de Nida (1964; Nida e Taber, 1982), de Catford (1965), de Vázquez-Ayora (1977), finalizando com Newmark (1981, 1988).
2.1.1. Tradução Direta vs Tradução Obliqua: O Modelo de Vinay e Darbelnet
Em 1958, Vinay e Darbelnet publicaram a obra Stylistique comparée du français et de l'anglais: méthode de traduction, como parte da série “Bibliothèque de Stylistique Comparée” – que inclui a Stylistique comparée du français et de l'allemand, de Malblanc, que é também o coordenador da série, e Chemins de la traduction: domaine anglais, de Bonnerot – sendo as obras dessa coleção norteadas pelo trabalho de Bally que, segundo Malblanc (1977:2), “ao explicitar a teoria linguística de F. de Saussure, criou o estudo da estilística francesa.”
Foi, portanto, na linguística estrutural, saussuriana, e na estilística que Vinay e Darbelnet (1977) buscaram subsídios teóricos para seu exame da tradução, além de já mencionarem que a gramática de base gerativa-transformacional poderia ser útil para o tradutor.
Vinay e Darbelnet (1977) trabalham com conceitos saussurianos tais como “signo linguístico”, “significado” e “significante”, “valor” e “significação” (cf. Saussure, 1972). Estes conceitos, além da noção de arbitrariedade do signo linguístico (cf. Saussure, 1972), dão-lhes uma sólida base teórica para justificar sua proposta de afastamento da tradução literal.
No contexto da obra de Vinay e Darbelnet (1977:32), deve-se entender estilística segundo a visão de Bally, ou seja, como (pág. 23) catálogo das formas elegantes e convincentes” (apud Dubois et al, 1978:243). Vinay e Darbelnet (1977:15) consideram como estilística comparada aquela “que observa as características de uma língua tais quais se revelam por comparação com uma outra língua” e relacionam a tradução a “um caso particular, a uma aplicação prática da estilística comparada” (Vinay e Darbelnet, 1977:20).
Isto fica claro já no prefácio da obra, com o exemplo de traduções encontradas em placas de sinalização em estradas canadenses, oferecido pelos autores: a placa SLIPPERY WHEN WET, em língua inglesa, foi traduzida para o francês como GLISSANT SI HUMIDE. Esta tradução, no entanto, como a de outras placas de sinalização encontradas nessas estradas, consideram Vinay e Darbelnet (1977:17), “são muito claras, muito correias, mas não é assim que seriam redigidas em francês”. A forma usada na França para a placa citada é CHAUSSÊE GLISSANTE (cf. Vinay e Darbelnet, 1977: 17-22), correspondendo-lhe, em português, a forma PISTA ESCORREGADIA, como se vê nas estradas, no Brasil.
É visando a, na tradução, produzir um texto idêntico ao que “sairia espontaneamente de um cérebro monolíngue, em resposta a uma situação comparável sob todos os pontos de vista”, o que implicaria em um afastamento da tradução apenas literal – que nem sempre teria como resultado a forma mais natural, tal como definida acima – , que Vinay e Darbelnet (1977:46-55) enumeram os procedimentos técnicos da tradução.
Para Vinay e Darbelnet (1977:46-55), os procedimentos técnicos da tradução distribuem-se ao longo de dois eixos, o da tradução direta e o da tradução oblíqua como se vê no quadro abaixo:
	TRADUÇÃO DIRETA
		EMPRÉSTIMO 
	DECALQUE
	TRADUÇÃO LITERAL
	TRADUÇÃO OBLÍQUA
		TRANSPOSIÇÃO
	MODULAÇÃO 
	EQUIVALÊNCIA
	ADAPTAÇÃO
(pág. 24) A tradução direta, para Vinay e Darbelnet (1977:46) é o mesmo que tradução literal, ou palavra-por-palavra, tanto mais possível quanto maior for a semelhança entre as duas línguas em questão, como no caso de línguas de mesma família, ou seja (Vinay e Darbelnet, 1917:46):
quando a mensagem da LO (língua original) se deixa passar perfeitamente para a mensagem da LT (língua da tradução), pois repousa seja em categorias paralelas (paralelismo estrutural), seja sobre concepções paralelas (paralelismo extralinguístico).
A tradução oblíqua, por outro lado, é aquela que não é literal. Isto porque há casos em que a tradução literal não é possível pois, segundo Vinay e Darbelnet (1977:49), o texto que produziria na LT poderia:
ter significado diverso do original,
não ter significado,
ser estruturalmente impossível,
não ter correspondência no contexto cultural da LT,
ter correspondência, mas não no mesmo registro.
Considero possível afirmar que os itens expostos acima constituem um teste de viabilidade da tradução literal a qual, desta maneira, constituiria um procedimento pré-tradutório: o tradutor faria a tradução literalmente, aplicaria o teste e, resultando impossível a tradução literal, passaria a empregar procedimentos mais complexos.
Um exemplo poderá esclarecer melhor. A frase em inglês “Paul kicked the ball” permite tradução literal, palavra-por-palavra, em português, como se vê abaixo:
	
	Paul
	kicked
	the
	ball.
	
	
	
	
	
	
	
	
	Paulo
	chutou
	a
	bola.
	
No entanto, a frase inglesa “Paul kicked the bucket” não permite tradução literal, palavra-por-palavra, pois esta, “Paulo chutou o balde” não corresponde ao significado da LO, que é “Paulo morreu” (pág. 25) ou, para manter o mesmo registro, como recomendam Vinay e Darbelnet (1977:33-34), “Paulo bateu as botas,” ou “Paulo abotoou o paletó.”
Assim, sendo impossível a tradução literal, será necessário recorrer à tradução oblíqua, ou seja, àquela que utiliza recursos lexicais ou sintéticos diversos daqueles empregados no texto da LO (doravante TLO), quer dizer, que altera a forma, mas sem alterar o conteúdo, ou a mensagem.
E dentro desse contexto, portanto, que Vinay e Darbelnet (1977:46-55) categorizam os procedimentos técnicos da tradução, ordenando-os segundo a dificuldade de execução pelo tradutor: quanto mais próximos da LO, mais fácil sua realização, estando, assim, os primeiros – o empréstimo, o decalque e a tradução literal – no âmbito da tradução direta, e os demais – a transposição, a modulação, a equivalência e a adaptação – , no âmbito da tradução oblíqua, que é a que, em busca do sentido, mais se afasta da forma do TLO e, portanto, seria mais difícil para o tradutor.
O primeiro procedimento da tradução direta, o empréstimo, é o mais fácil de todos, segundo Vinay e Darbelnet (1977), pois consiste em copiar, ou utilizar a própria palavra da LO no texto da LT (doravante TLT). Vinay e Darbelnet (1977) afirmam que este procedimento deve ser usado quando não houver, na LT, um significante que tenha o mesmo significado expresso pelo significante empregado no TLO, como no exemplo abaixo onde, não tendo a língua francesa um posto equivalente ao do coroner anglo-saxônico entre seus magistrados, foi realizada a tradução através de um empréstimo (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:47):[3: “Magistrado encarregado de investigar casos de morte suspeita” (cf. Houaiss e Avery, 1981:159).]
	The
	coroner
	spoke.
	
	
	
	Le
	coroner
	prit la parole.
Vinay (1968:737), em um artigo que retoma a discussão sobre os procedimentos técnicos da tradução, assim define este procedimento:
O texto na LO pode conter um termo novo, para o qual a LT ainda não possui equivalente. De preferência a recorrer a uma (pág. 26) definição ou explicação, o tradutor pode utilizar pura e simplesmente o termo da LO, que se torna, daí por diante, um empréstimo.
Deste modo, o empréstimo, segundo a definição de Vinay e Darbelnet (1977) e de Vinay (1968), não poderia ser classificado entre os procedimentos da tradução direta (q.v. página 24 acima), pois expressa não um paralelismo, mas uma divergência extralinguística entre a LO e a LT.
Vinay (1968:737) vai mais longe, ao afirmarque “este procedimento é evidentemente a negação da tradução.”
De fato, de acordo com a definição de Vinay. e Darbelnet (1977), o empréstimo não constitui uma tradução. Não corresponde à definição de tradução oferecida por Catford (1965:20, q.v. 2.1.3, p. 35), que é: “substituição de material textual em uma língua (LO) por material textual equivalente em outra língua (LT).” Na verdade, o empréstimo é a manutenção de material textual da LO na LT.
Aparentemente, para Sousa-Aguiar (1980:50),: a colocação do empréstimo como procedimento anterior à tradução literal também pareceu inadequada, pois inicia seu comentário do modelo de Vinay e Darbelnet (1977) pela descrição da tradução palavra-por-palavra. Vázquez-Ayora (1977) vai ainda mais longe, eliminando de seu modelo tanto o empréstimo como o decalque.
Vinay e Darbelnet (1977) consideram o segundo procedimento da tradução direta, o decalque, como um caso particular do empréstimo. Isto porque o empréstimo refere-se a palavras isoladas, enquanto o decalque estende-se aos sintagmas.
Para Vinay e Darbelnet (1977), há dois tipos de decalque. O primeiro, chamado decalque de expressão, utiliza palavras já existentes na língua da tradução, respeitando também sua estrutura sintética, o que é exemplificado por Vinay e Darbelnet (1977:47) como aparece abaixo:
Season's			Greetings.
Compliments			de la Saison.
(pág. 27) Já o segundo tipo, chamado de decalque de estrutura, utiliza as palavras da LT, embora em construções sintéticas estranhas a ela, como no exemplo abaixo, fornecido por Vinay e Darbelnet (1977:47):
NOTA DA PROFESSORA: 
Show-
room, ...-
futebol-clube (SPFC, SFC) notebook, weekend.science-fiction
 
science-fiction
onde a tradução do sintagma inglês em francês é um decalque em que foi desrespeitada a estrutura sintática da língua francesa que, nesse caso, exigiria a pós-posição de um adjetivo flexionado, ao passo que, em inglês, o adjetivo é anteposto ao substantivo e invariável.
Existe algum conflito, na literatura disponível» em tomo da definição de decalque por Vinay e Darbelnet (1977). Em Vinay (1968: 739) e Dutra (1983a: 88), o decalque é definido como o procedimento através do qual “a palavra ou expressão é adaptada à ortografia da LT: futebol, líder, buque, uísque, fim-de-semana.” Os quatro primeiros exemplos citados são, na realidade, casos de aclimatação (q.v. 3.10.3), sendo o último (fim-de-semana) um caso de decalque tal como definido por Vinay e Darbelnet, mas não um caso de aclimatação. Esta controvérsia será abordada novamente em 4.1.
Considero também inadequada a colocação do decalque como procedimento da tradução direta, pois este é usado em consequência de divergências entre as duas línguas em confronto no ato da tradução. Segundo Vinay e Darbelnet (1977), este procedimento introduz na LT “novos modos de expressão,” o que está em desacordo com sua definição de tradução direta (q.v. página 24 acima), onde, na verdade, tal procedimento nunca seria necessário.
O terceiro e último procedimento da tradução direta é a tradução literal, ou palavra-por-palavra. Segundo Vinay e Darbelnet (1977:49), este procedimento deve ser usado sempre que seu resultado for um texto correto e que respeite as características formais, estruturais e estilísticas da LT.
Para Vinay e Darbelnet (1977), a tradução literal é, em princípio, uma solução completa em si mesma, única e reversível, pois a retradução teria como resultado precisamente o texto original8. Oferecem o seguinte exemplo (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:48):
(pág. 28) 
	I
	left
	my
	spectacles
	on
	the
	table
	downstairs.
	
	
	
	
	
	
	
	
	J’ai
	laissé
	mes
	lunettes
	sur
	la
	table
	en bas.
O primeiro procedimento da tradução obliqua, a transposição, consiste em um afastamento, no plano sintático, da forma do TLO. Assim, um significado que era expresso no TLO por um significante de uma determinada categoria gramatical (parte do discurso), passa a ser expresso, no TLT, por um significante de outra categoria gramatical, sem que, com isso, fique alterado o conteúdo, ou a mensagem, do TLO.
Vinay e Darbelnet (1977) oferecem vários exemplos de transposição, já que este procedimento pode envolver vários pares de categorias gramaticais, dentre estes o que se vê abaixo (cf. Vinay e Darbelnet, 1977:97), tirado de uma manchete de jornal:
Situation still critical (still - advérbio)
La situation reste critique (reste - verbo)
Observe-se que, no exemplo acima, a transposição foi uma escolha do tradutor, já que haveria outras possibilidades de tradução (por exemplo, La situation est toujours critique), fato que não é levado em consideração por Vinay e Darbelnet (1977), podendo-se supor que a opção foi feita em vista de a primeira versão, mais curta, ser mais adequada a uma manchete de jornal.
Há casos, porém, em que a transposição 6 obrigatória, como no exemplo da tradução do francês para o inglês citada por Vinay e Darbelnet (1977:50), uma vez que o inglês não possui uma outra construção equivalente mais próxima do original em francês:
	des
	son
	lever
	(lever - substantivo)
	
	
	
	
	as soon as
	he
	gets up
	(gets - verbo)
 O segundo procedimento da tradução oblíqua é a modulação. Neste caso, há uma mudança de ponto de vista, ou de foco, na expressão da mensagem em cada uma das línguas envolvidas na tradução.
(pág. 29) Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:89) pode esclarecer melhor este procedimento:
jusqu'à une heure avancée de la nuit.
until the small hours of the morning.
Neste exemplo, embora os segmentos textuais nas duas línguas estejam-se referindo ao mesmo espaço de tempo, entre uma e três horas da manhã, pode-se dizer, o francês refere-se ao período como noite, enquanto o inglês refere-se a ele como manhã, ou seja, cada língua privilegia um aspecto diferente da mesma realidade. Assim, na tradução, é preciso lidar satisfatoriamente com este fato, abandonando a tradução literal para preservar o sentido da mensagem.
O terceiro procedimento da tradução obliqua é a equivalência. Esta é utilizada em casos onde as duas línguas em confronto dão conta da mesma situação através de meios estilísticos e estruturais totalmente diversos. Assim sendo, será empregada primordialmente para a tradução do repertório fraseológico, dos idiotismos, clichés, provérbios, interjeições e onomatopeias.
Os provérbios em geral constituem exemplos perfeitos da equivalência, pois encerram uma mensagem total em si mesmos, permitindo uma operação de equivalência, já que os povos criaram provérbios cujo referencial se encontra em sua realidade extralinguística particular que, muitas vezes, será incompreensível para falantes de outras línguas, os quais terão gerado seus provérbios particulares, baseados em sua própria realidade extralinguística.
Vinay e Darbelnet (1977:52) citam vários exemplos de equivalência, dentre eles o reproduzido abaixo:
too many cooks spoil the broth
deux patrons font chavirer la barque
A mesma ideia é expressa, por equivalência, tradicionalmente, em português, por “panela que muitos mexem ou sai salgada ou sai sem sal” ou por outras formas aproximadas. É possível, também, realizar esta equivalência trazendo-a mais para perto de uma realidade brasileira propriamente dita: “muito cacique para pouco índio.”
(pág. 30) A adaptação, o último procedimento da tradução oblíqua, é também o limite extremo da tradução. Aplica-se em casos onde a situação extralinguística a que se refere o TLO não existe no universo cultural dos falantes da LT, devendo, portanto, ser recriada através de uma outra situação, que ç tradutor julgue equivalente, no contexto extra-linguístico da LT. Trata-se, portanto, de um caso particular da equivalência, uma equivalência de situação.
Um dos exemplos oferecidos por Vinay e Darbelnet (1977:53) é reproduzido abaixo:
he kissed his daughter on the mouth
il serra tendrement sa fille dans ses bras
Neste caso, o anglo-saxônico beijo que o pai dá à filha na boca é substituídopor um terno abraço em francês, já que na cultura dos povos falantes deste segundo idioma não existe o primeiro comportamento.
Ao descrever estes procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) deixam claro também que, em um determinado segmento de texto, poderão ser usados, concomitantemente, mais de um procedimento técnico da tradução, como pode ser visto em um dos exemplos citados acima (q.v. p. 29):
	A
	B
	C
	D
	E
	F
	G
	jusqu'à
	une
	heure
	avancée
	de
	la
	nuit
	until
	the
	small
	hours
	of
	the
	morning
Onde A e E são traduções literais. B é uma transposição de artigo indefinido para artigo definido, C é uma tradução literal, mas com um deslocamento obrigatório de posição dentro do sintagma nominal (pós-posição do adjetivo flexionado em francês e anteposição do adjetivo invariável no inglês), além de uma modulação de singular para plural. D é uma modulação onde se encontram também alterações estruturais obrigatórias, ou seja, a pós-posição do adjetivo e sua concordância em género e número no francês. F é uma tradução ao mesmo tempo literal e que envolve uma transposição obrigatória do artigo definido de género feminino singular em francês para o artigo (pág. 31) definido invariável em inglês. Em G encontra-se novamente uma modulação.
Vinay e Darbelnet (1977:54) citam ainda um exemplo onde vários procedimentos tradutórios se realizam no interior da tradução de um só pequeno segmento textual (que, no caso, pode ser considerado como um texto completo em si mesmo):
PRIVATE
DEFENSE D’ENTRER
Estas seriam placas encontradas pregadas na porta de um gabinete particular. A tradução do inglês para o francês é uma transposição, pois o adjetivo se transforma em sintagma nominal; uma modulação, porque se passa de uma constatação a uma ordem; finalmente, é uma equivalência pois a tradução é feita tendo-se em vista a situação sem preocupação de manter-se a estrutura sintética do TLO.
Além desta concomitância de ocorrência de procedimentos, Vinay e Darbelnet (1977) abordam também outros procedimentos auxiliares, embora discutam-nos fora dó quadro de procedimentos técnicos da tradução que expõem. Estes procedimentos são analisados de modo ad hoc quando os autores aplicam os procedimentos técnicos da tradução aos três planos onde consideram que a tradução se realiza: o lexical, o sintético e o da mensagem.
Estes procedimentos auxiliares não são analisados neste ponto do presente trabalho, pois foram revisados e expandidos por Vazquez-Ayora (1977), e são examinados quando da revisão do trabalho deste autor (q.v. 2.1.3).
Através do breve exame dos procedimentos técnicos da tradução, segundo Vinay e Darbelnet (1977), feito acima, pode-se concluir que, para estes autores, a tradução literal ocupa uma posição privilegiada, embora sujeita a certos limites: o tradutor deve afastar-se dela quando este procedimento for invalidado pelo teste apresentado na página 24, onde pode-se dizer que está também implícita a noção de erro na tradução.
(pág. 32) Observe-se que, nesse teste, estão colocados, os princípios que norteiam a tradução para Vinay e Darbelnet (1977). O primeiro deles é a manutenção do significado do TLO ao passar para a LT. Estaria aí definida sua noção de fidelidade: ao conteúdo, mas também à forma, já que o tradutor só deve afastar-se da tradução literal quando esta for impossível por ir contra os princípios e normas que regem a LT, sua estrutura e seus registros, ou quando não houver correspondência no contexto cultural da LT para o contexto gerado pelo TLO.
Esta atitude diante da tradução deve-se, em parte, à preocupação estilística de Vinay e Darbelnet (1977). Sua obra é um compêndio de estilística comparada, um cotejamento entre as formas ideais encontradas em duas línguas. Portanto, em seu ponto de vista, a tradução não pode ser efetuada de modo que contrarie aquilo que, na sua concepção, é o estilo (q.v. p. 22) da língua para a qual é feita.
2.1.2. Equivalência Formal vs Equivalência Dinâmica: O Modelo de Nida
Lançando mão de sua grande experiência como tradutor da Bíblia, no âmbito da United Bible Societies que, até o final de 1968, já havia trabalhado com 1393 línguas (cf. Nida e Taber, 1982:vii), Nida (1964 e 1966) escreve sobre a teoria e a prática da tradução. Busca subsídios teóricos na gramática de base gerativa-transformacional e, como Chomsky (1957), considera a língua como “um mecanismo dinâmico capaz de gerar uma série infinita de enunciados diversos” (cf. Nida, 1964:9). Acredita que esta visão gerativa da língua é fundamental para o tradutor, pois este, ao traduzir de uma língua para outra, deve ir além da simples comparação das estruturas correspondentes nas duas línguas – comparação feita por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). O tradutor deve também procurar descrever os mecanismos por meio dos quais a mensagem total veiculada através de um texto é decodificada, transferida e transformada nas estruturas de outra língua (cf. Nida, 1964:9).
Vendo a língua como um “código comunicativo,” Nida (1964:30) procura estabelecer a natureza do significado. Para isto, busca subsídios na semântica e na pragmática, mais especificamente no trabalho de Katz e Fodor (1962, 1963), quando explicita o “dicionário” de (pág. 33) que dependem para a descrição dos traços semânticos (cf. Nida, 1964:39), cuja formulação poderia ser útil para o tradutor no estabelecimento de equivalências lexicais de uma língua para a outra.
Também as funções da linguagem descritas por Jakobson (1980) são utilizadas por Nida (1964:45-46) em sua análise, no sentido de determinar quais funções da linguagem estão presentes no TLO e se são as mesmas existentes no TLT após o processo tradutório.
Desta visão da linguagem resulta o primeiro “modelo operacional” da tradução, segundo a proposta de Nida (1964:68), dividido em três etapas: 1) redução do texto original a seus núcleos (kernels, cf. Chomsky, 1957) mais simples e semanticamente mais evidentes. 2) transferência do significado da LO para a LT em um nível estruturalmente simples e 3) geração de uma expressão estilística e semanticamente equivalente na língua da tradução (cf. Nida, 1964:68). Afirma ainda que o tradutor realmente competente traduz “unidades de significado” (cf. Nida, 1964:68), não se ocupando apenas em reproduzir “unidades estruturais.”
 Nida (1964) aplica, aqui, à tradução, o modelo da gramática de base gerativa-transformacional. Trata-se de uma explicitação teórica daquilo que o tradutor faz. Pode-se dizer mesmo que seria uma visão em câmera-lenta do que se passa na cabeça do tradutor no ato de traduzir. Não encontrei, no entanto, qualquer subsídio na literatura disponível para afirmar que esta fosse realmente uma descrição satisfatória dos processos mentais que ocorrem no ato da tradução.
Segundo o próprio Nida (1964:145), para efetuar tal descrição, seriam necessários subsídios da psicologia e da neurologia, ciências que “não sabem precisamente o que ocorre na mente do tradutor quando este traduz.”
Retomando sua visão da língua como código comunicativo, Nida (1964:120-144) volta-se para a teoria da comunicação, na qual o tradutor e o leitor da tradução podem ser considerados como elementos atuantes em um ato comunicativo (cf. Zagury, 1975:105-106), bem como a tradução uma etapa dele, como no gráfico apresentado abaixo que elaborei para ilustrar este ponto: 
(pág. 34)
	FONTE
	
	MENSAGEM1
	
	RECEPTOR1
	
	MENSAGEM2
	
	RECEPTOR2
FONTE = autor do TLO 		MENSAGEM2 = TLT (equivalente	à MENSAGEM1)
MENSAGEM1 = TLO		RECEPTOR2 = o leitor do TLT
RECEPTOR1 = tradutor
Nida (1964:120) considera esta análise como tendo especial importância para a tradução, pois vê a produção de mensagens equivalentes (a MENSAGEM1 e a MENSAGEM2 não são iguais, mas equivalentes) como um processo não apenas de encontrar equivalentes para segmentos de enunciados, mas como um processo de reprodução do caráter dinâmico global da comunicação.
Assim sendo, Nida (1964:156) considera que há três fatores básicos a serem avaliadosantes de se efetuar uma tradução: 1) a natureza da mensagem, 2) o objetivo ou objetivos do autor e, consequentemente, do tradutor e 3) o tipo de público visado pelo original e pela tradução.
A partir daí, o que se deve buscar na tradução é a maior equivalência possível entre a MENSAGEM1 e a MENSAGEM2, afirma Nida (1964:159), mas considerando que há dois tipos fundamentais diversos de equivalência: uma que pode ser chamada de formal e outra que é primordialmente dinâmica.
A equivalência formal é centrada no conteúdo e na forma da MENSAGEM1, o texto original. Neste tipo de tradução, a preocupação está em manter a correspondência estilística, a correspondência de frase para frase e de conceito para conceito entre o TLO e o TLT. Encarada com esta orientação formal, a tradução precisa gerar um TLT que corresponda o mais possível aos diversos elementos linguísticos e extralinguísticos contidos no TLT.
Já a equivalência dinâmica tem como meta atingir uma total naturalidade na expressão da MENSAGEM1, o TO, na LT e tenta transpor o TLO para a LT de tal modo que o leitor encontre no TLT modos de comportamento e outros elementos extralinguísticos relevantes em sua própria cultura; não insiste que ele compreenda padrões culturais do contexto da LO a fim de poder compreender a mensagem.
(pág. 35) Assim, de acordo com este modelo, a tradução deve almejar ao “efeito equivalente” que, segundo Nida (1964:159), foi enunciado por Rieu e Phillips (1954, apud Nida, 1964:159)8, ou seja, a tradução teria sobre seu leitor o mesmo efeito que teve o TO sobre seu leitor. Mas isso nem sempre é possível7 ou desejável, como no caso das populações mencionadas por Nida (1964) que, mesmerizadas pelo TLO, preferem uma tradução totalmente literal, mesmo que não compreendam seu significado.
Nida (1964, 1966) não enumera procedimentos técnicos da tradução nos moldes do que fazem Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Nida (1964) discute procedimentos técnicos da tradução, embora não de modo ordenado, dificultando uma apreciação sucinta dos mesmos, observação já feita por Vázquez-Ayora (1977:6).
Há considerável superposição entre os procedimentos descritos ao longo de sua obra por Nida (1964, 1966) e por Vinay e Darbelnet (1977) a quem Nida (1964) cita e cujos exemplos utiliza em seus comentários.
Assim, por causa da dificuldade de elencar os procedimentos abordados por Nida (1964, 1966), estes não são apresentados a esta altura, no presente trabalho, mas serão mencionados sempre que forem necessários para esclarecer melhor minha proposta.
2.1.3. Os Quatro Modelos de Catford
Catford (1965: vii) considera que, uma vez que a tradução opera com a língua, a análise e discussão de seus processos deve utilizar categorias estabelecidas para a descrição das línguas. Em outras palavras, deve recorrer a uma teoria da língua, ou seja, a uma teoria linguística geral. Afirma Catford (1965:1) que a teoria linguística que utiliza é a desenvolvida, sobretudo por M. A. K. Halliday, influenciada pelo trabalho de J. R. Firth (1970, por exemplo).[4: Catford (1965:1) remete o leitor para Halliday, M. A. K., "Categories of the theory of grammar," Word, Vol. 17, N°. 3, 1961, pp. 241-92; e Halliday, M. A. K. et al. The linguistic sciences and language teaching, Longmans, 1964.]
Sua preocupação expressa não é deter-se em problemas específicos da tradução, mas antes analisar o que a tradução é (cf. Catford, 1965:vii). Deste modo, logo após sua apresentação sucinta da teoria linguística de onde tirou subsídios, com a qual inicia seu livro, forma de apresentação já encontrada em Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1 e Nida, 1964, q.v. 2.1.2), encontra-se sua definição de tradução (cf, Catford, 1980: 22): “a substituição de material textual numa língua (pág. 36) (LO) por material textual equivalente noutra língua.” A partir desta definição, delineia os eixos de tensão ao longo dos quais se colocam os tipos de tradução que considera existir, que se configuram em quatro modelos de tradução.
Para Catford (1965:23-24), no primeiro modelo, a tradução pode ser plena ou parcial. Na tradução plena, todo o material textual na LO é substituído por seu equivalente na LT, Já na tradução parcial há partes (ou uma só parte qualquer) do TO que não são traduzidas, mas que são simplesmente incorporadas ao TLT, procedimento denominado “transferência” por Catford (1965:43-48).
Observe-se que esta incorporação de elementos do TLO no TLT corresponde ao procedimento denominado “empréstimo” por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Catford (1965:21) justifica seu emprego do mesmo modo que Vinay e Darbelnet (1977): ou por ser o item lexical em questão considerado intraduzível, ou pelo objetivo estilístico de dar “cor local” ao texto traduzido.
Em seguida, Catford (1965:24) explica o conceito de “Ordem” ou “plano” (ranks, cf. Catford, 1965:24, § 2.4; Catford, 1980:26, § 2.4) linguísticos, os quais considera importantes para a tradução. As “ordens” ou “planos” são os degraus da hierarquia gramatical ou fonológica nos quais se estabelece a equivalência da tradução. As “ordens” que considera Catford (1965:24) são o morfema, a palavra, o grupo, a oração, o período, o parágrafo e o texto, podendo haver sobreposição, já que, por exemplo, em uma placa de sinalização que contenha a palavra PERIGO, esta palavra é também um texto completo em si mesma.
O eixo descrito em seguida por Catford (1965:22-24), e que configura seu segundo modelo da tradução, é o da tradução total vs. a restrita. A tradução total corresponde à definição de tradução citada acima (p. 42-43). Nesta, todas as “ordens” ou “planos” do léxico, de uma hierarquia gramatical, fonológica e grafológica do TLO são substituídos por outros da LT. A tradução restrita limita-se apenas a uma dessas “ordens” ou “planos”, conforme será descrito abaixo.
A tradução fonológica consiste na substituição da fonologia da LO pela equivalente na LT. No exemplo abaixo, organizei um quadro em que apresento dois itens lexicais do inglês com sua tradução fonológica para o português e o espanhol, segundo a descrição de Catford (1965), para ilustrar este caso:
(pág. 37) 
	INGLÊS
	PORTUGUÊS DO BRASIL
	ESPANHOL DO URUGUAI
	output
	[autipútí]
	[aupú]
	vickvaporub
	[viquivaporúbi]
	[viváporu]
A tradução grafológica consiste na substituição da grafologia da LO pela equivalente na LT. No exemplo abaixo, citado por Catford (1965:13), aparece uma inscrição inglesa com grafologia devanagári (hindi):
INDIAN AIRLINES
A tradução gramatical e lexical consistiria respectivamente na substituição da gramática ou do léxico da LO por uma ou outro da LT. No entanto, por causa das estritas relações entre gramática e léxico, é muito difícil, se não impossível, que um tipo ocorra independentemente do outro.
Catford (1965:71) cita o seguinte exemplo de tradução gramatical, onde se substituiu a gramática da LO pela gramática equivalente da LT, sem efetuar as substituições do léxico:
	This is
	the
	man
	(that)
	I
	saw.
	 
	
	
	
	
	 
	G
	G
	L
	G
	G
	G L G
	
	
	
	
	
	 
	Voici
	le
	man
	que
	j'
	ai see-é.
G – item gramatical		L – item lexical
A tradução lexical do mesmo período produziria: 
	This
	is
	the
	man
	I
	saw.
	
	
	
	
	
	 
	G
	G
	G
	L
	G
	L G
	
	
	
	
	
	 
	This
	is
	the
	homme
	I
	voi-ed
onde só foram traduzidos os itens lexicais e não os gramaticais.
(pág. 38) Como se pode observar através dos dois exemplos acima, nenhum desses dois tipos de tradução parece ser de utilidade prática isoladamente, a não ser talvez em algum tipo de texto de função metalinguística, talvez para análise contrastiva.
Este modelo de tradução, que se configura na tensão entre tradução total e tradução restrita, pode ser resumido graficamente como no quadro abaixo:
	TRADUÇÃO TOTAL
	tradução fonológica
tradução grafológica
tradução gramatical
tradução lexical
	TRADUÇÃO RESTRITA
	tradução fonológica
	
	tradução grafológica
	
	tradução gramaticaltradução lexical
onde fica claro que a tradução total engloba, simultaneamente, todos os modos de traduzir listados ao longo de seu eixo, enquanto a tradução restrita seleciona somente um deles de cada vez.
Trabalhando ainda com o conceito de “ordem”, Catford (1965:24) considera que pode haver dois outros tipos de tradução, que configuram seu terceiro modelo: a tradução limitada à ordem, aquela em que se procura encontrar equivalentes da LO na LT apenas em uma das ordens, por exemplo, a da palavra. A outra, a tradução não limitada, corresponde à tradução total, ou seja, mais uma vez, à definição de tradução oferecida por Catford (1980:22) citada acima. Neste caso, as equivalências se deslocam livremente na escala das ordens, conforme as necessidades geradas pelo confronto entre as duas línguas.
Expondo um quarto modelo de tradução, Catford (1965:25) afirma também que as noções intuitivas de tradução livre, literal e palavra-por-palavra correspondem em parte às descrições acima. A tradução livre (pág. 39) é não limitada, total; a tradução palavra-por-palavra é limitada à ordem da palavra e a tradução literal situa-se a meio termo entre as duas, pois parte de uma tradução palavra-por-palavra, mas efetua as alterações necessárias, de acordo com as normas de uso da LT, fazendo com que possa ser uma tradução efetuada na ordem do grupo ou mesmo da oração. 
Catford (1965:25-26) oferece um exemplo deste quarto modelo, reproduzido abaixo:
	Texto na LO:
	It’s raining cats and dogs.
	Tradução palavra-por-palavra:
	* Il est pleuvant chats et chiens.
	Tradução literal :
	* Il pleut des chats et des chiens.
	Tradução livre :
	Il pleut à verse.
	(* Não aceitável na LT)
	
	Aqui, somente a terceira versão é comutável com o TLO, e portanto, ao meu ver, é a única que constitui uma tradução aceitável.
Como foi visto acima, na discussão do quarto modelo, há uma certa sobreposição nos modelos de tradução descritos por Catford (1965), o que poderá ser melhor explicado por meio de um gráfico, tal como o que elaborei e apresento abaixo:
OS QUATRO MODELOS DE TRADUÇÃO DE CATFORD (1965)
E SUAS SOBREPOSIÇÕES
	Tradução
Parcial
	
	
	Tradução Restrita
	Tradução 
Limitada
	Tradução Palavra-por-palavra
	
	
	
	
	Tradução
Plena
	Tradução Total
	Tradução
Não Limitada
	Tradução Literal
	
	
	
	Tradução Livre
(pág. 40) Examinando-se o quadro acima observa-se que: 1) a tradução parcial tem correspondência na tradução restrita e na tradução limitada, bem como na tradução palavra-por-palavra, que encontram também correspondências entre si; 2) a tradução literal corresponde, em parte, à tradução limitada e à tradução restrita, que se correspondem, também, em parte; 3) & tradução literal corresponde, em parte, à tradução plena, a tradução total e a tradução não limitada, que se correspondem perfeitamente, assim como correspondem à tradução livre.
Além destes modelos de tradução, Catford (1965:73-82) fala das transposições (shifts) que ocorrem na tradução. A definição destas •mudanças, oferecida por Catford (1980:82), que é “perdas de correspondência formal no processo de passagem da LO para LT,” corresponde à definição de tradução oblíqua de Vinay e. Darbelnet (1977) – cujos exemplos Catford (1965) cita abundantemente em seu livro – e, mais especificamente, ao procedimento que descrevem sob o
nome de “transposição.”[5: O termo "mudanças" foi utilizado na tradução brasileira (cf. Catford, 1980:82) para o termo shift em LO, que vem a ser o mesmo utilizado por outros autores (por exemplo, Newmark, 1981) para traduzir o termo transposition utilizado por Vinay e Darbelnet (1977).]
É possível dizer, acredito, que as transposições a que se refere Catford (1965) são, na verdade, procedimentos técnicos da tradução, inclusive pela proximidade com as colocações de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1). Enquanto procedimento técnico da tradução, a transposição de Catford (1965) estaria dentro dos eixos das traduções plena, total, não limitada, literal e livre.
Para resumir as transposições expostas por Catford (1965:73-82), elaborei o quadro abaixo, que será explicado em seguida:
TRANSPOSIÇÕES NA TRADUÇÃO
	TRANSPOSIÇÃO DE ORDEM
	de gramática a léxico
de léxico a gramática
	TRANSPOSIÇÃO DE CATEGORIA
	de escritura
	
	de classe
	
	de unidade
	
	intra-sistema
(pág. 41) O primeiro tipo de transposição que cita Catford (1980:82) é a transposição de ordem ou plano. Por exemplo, uma transposição entre a ordem gramatical e a ordem lexical, como no exemplo abaixo, retirado de Vinay e Darbelnet (1977) por Catford (1965:75):
	This
	text
	is intended for...
	
	
	
	Le présent
	manuel
	s'adresse à...
Aqui, o dêitico this, da ordem gramatical, foi traduzido por le présent, artigo + adjetivo lexical, pertencendo parcialmente à ordem lexical (cf. Catford, 1980:85).
O segundo tipo de transposição que enumera Catford (1980:85) corresponde às transposições de categoria, também definidas como perda de correspondência formal, e subdivididas em transposições de estrutura, de classe, de unidade e intra-sistema. Abaixo são examinadas estas transposições, de acordo com Catford (1965:76).
As transposições de estrutura envolvem alterações sintáticas, como no exemplo entre a tradução do inglês para o francês, citada por Catford (1965:77-78), onde a estrutura sintética do inglês, modificador + qualificador + núcleo, transforma-se em modificador + núcleo + qualificador flexionado em francês:
	A
	white
	house.
	Une
	maison
	blanche.
A transposição de classe ocorre quando um item da LO é traduzido por um item de classe diferente na LT. Catford (1965:78-79) define a classe segundo Halliday: “o agrupamento de membros de determinada unidade que se define pela sua operação na unidade imediatamente superior.” O exemplo abaixo é citado por Catford (1965:79):
a medical student (medical – adjetivo)
un étudiant en médecine (en médecine – sintagma adverbial)
(pág. 42) A transposição de unidade consiste em um afastamento da correspondência formal em que o equivalente tradutório de uma unidade ou uma ordem no TLO pertence a uma outra ordem no TLT. Seria o mesmo dizer transposição de ordem, mas, segundo Catford (1980:89), não é possível empregar este termo aqui, pois criaria uma divergência com a gramática de Halliday (as transposições de ordem foram discutidas na página anterior e o exemplo que Catford (1965) oferece para transposição de unidade 6 o mesmo oferecido naquela altura para transposição de ordem).
A transposição intra-sistema ocorre quando a LO e a LT possuem sistemas de relativa proximidade formal, mas o tradutor escolhe um termo não correspondente na LT para traduzir o termo da LO. Para ilustrar este caso, Catford (1965:79) emprega um exemplo retirado de Vinay e Darbelnet (1977), onde esta transposição ocorre de singular no inglês para plural no francês (sendo opcional a transposição, pois existe a possibilidade de uso no singular, dentro da língua francesa):
advice 	des conseils 		(un conseil)
news 	des nouvelles 		(une nouvelle)
lightning 	des éclairs		(un éclair)
Como se pode concluir pelo exposto acima, há muitos pontos de contato entre a visão de Catford (1965) e a de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) e mesmo entre a de Catford (1965) e a de Nida (1964, q.v. 2.1.2). O que distingue a visão de Catford (1965) das outras duas é primordialmente a teoria linguística que utiliza como base para seu modelo da tradução, pois o que Catford (1965) faz é aplicar à tradução o modelo da gramática de Halliday.
Assim, esclarece melhor as operações linguísticas que ocorrem na tradução do ponto de vista desse modelo gramatical específico mas, ao meu ver, não lança uma luz maior sobre o ato tradutório era geral. Além disso, alguns dos tipos de tradução que descreve são de aplicação prática rara ou até nula (como a tradução gramatical exclusivamente ou a tradução lexical exclusivamente).
A sobreposição entre os modelostradutórios que Catford (1965) propõe torna difícil sua aplicação em trabalhos teóricos, fazendo com (pág. 43) que fosse rejeitado por Alves (1983) como base para sua análise estatística, em favor do modelo de Vinay e Darbelnet (1977).
2.1.4. Tradução Literal vs Tradução Oblíqua: O Modelo de Vázquez-Ayora
Tal como Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), Nida (1964, q.v. 2.1.2) e Catford (1965, q.v. 2.1.3). Vázquez-Ayora (1977) começa seu livro pela descrição da teoria linguística que serve de base para seu estudo acerca da tradução, que vem a ser a análise contrastiva de base gerativa-transformacional e a semântica estrutural ( cf. Vázquez-Ayora, 1977: 1), além da estilística, a partir de Bally (cf. Vázquez-Ayora, 1977:68-101), tal como Vinay e Darbelnet (1977, (cf. Vázquez-Ayora, 1977:252), o que tem em comum com Nida (1964, q.v. 2.1.2).
Também como Nida (1964), em que se baseia, Vázquez-Ayora (1977:49) aponta um modelo transformacional da tradução, que pode ser entendido através do quadro abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977: 49), onde se vê o caminho que deve percorrer o tradutor para produzir o TLT:
	língua original
	
	língua da tradução
	texto1
	
	texto2
	redução
	
	reestruturação
	nível pré-nuclear
	nível nuclear
	nível conceitual
Esse caminho consiste em 1) reduzir o TO às orações pré-nucleares estruturalmente mais simples e semanticamente mais evidentes, 2) transferir o sentido da LO para a LT e 3) gerar na LT a expressão estilística e semanticamente equivalente (cf. Vázquez-Ayora, 1977:49).
Vázquez-Ayora (1977:49) afirma ser este modelo a base do método de tradução oblíqua (cf. Vinay e Darbelnet, 1977, q.v. 2.1.1), portanto um dos meios mais eficazes de evitar a tradução literal, que, de acordo com ele, é a fonte da maioria dos erros e, em segundo (pág. 44) lugar, de proporcionar os meios para obter o contexto apropriado na LT.'[6: Na literatura disponível, só encontrei uma tentativa de caracterização do erro tradutório em Gouadec (1974:9), onde estes são classificados em três tipos: non-sens (não-senso), contresens (contra-senso) e faux-sens (falso-senso).]
Apesar de tentar aplicar os parâmetros da gramática de base gerativa-transformacional à tradução, o modelo que produz é quase idêntico ao de Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1) identificando dois macro-eixos – a tradução literal e a oblíqua – ao longo dos quais se distribuem procedimentos técnicos de execução, ampliados a partir dos descritos por Vinay e Darbelnet (1977).
Um quadro representativo do modelo de Vázquez-Ayora poderia ser o que elaborei e apresento abaixo:
	TRADUÇÃO LITERAL
	(Procedimento único)
	TRADUÇÃO OBLIQUA
	Procedimentos 
Principais
	transposição
modulação
equivalência 
adaptação
	
	Procedimentos 
Complementares
	amplificação 
explicitação 
omissão 
compensação
A definição que oferece Vázquez-Ayora (1977) de tradução literal é a mesma oferecida por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), com a diferença que, para estes últimos, a tradução literal é, ao mesmo tempo, um macro-eixo ao longo do qual se alinham procedimentos tradutórios (o empréstimo, o decalque e a própria tradução literal) e um procedimento tradutório por si mesmo, enquanto que para Vázquez-Ayora (1977), a tradução literal se destaca por ser um eixo e um procedimento ao mesmo tempo, mas sem possuir outros procedimentos que se alinhem sob ela, pois, como se vê no gráfico acima, Vázquez-Ayora (1977) não inclui em seu modelo os procedimentos denominados empréstimo e decalque por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1).
Vázquez-Ayora (1977) analisa aquilo que considera um defeito de tradução, o anglicismo de frequência – anglicismo porque Vázquez-Ayora (1977) trabalha somente com a tradução do inglês para (pág. 45) o espanhol – que guarda alguma semelhança com o decalque descrito por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1).
Para Vázquez-Ayora (1977:120-140), o anglicismo de frequência ocorre quando se decalca com frequência excessiva um tipo de construção comum no inglês, mas rara no espanhol, embora não incorreta, como no exemplo de tradução abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977:107), que foi feita literalmente.
	some
	countries
	are
	demanding...
	
	
	
	
	algunos
	países
	están
	exigiendo...
O mais comum, aqui, em espanhol, seria: algunos países exigen...
Após a tradução literal, passa-se para a tradução oblíqua, cujos procedimentos principais, descritos por Vázquez-Ayora (1977:266-334) são exatamente os mesmos descritos por Vinay e Darbelnet (1977) e discutidos no presente trabalho em 2.1.1. 
Quanto aos procedimentos complementares da tradução oblíqua descritos por Vázquez-Ayora (1977), três deles, a amplificação, a explicitação e a compensação foram descritos por Vinay e Darbelnet (1977), embora fora dos eixos da tradução direta ou oblíqua, ou seja, de modo ad hoc, para explicar procedimentos utilizados nos textos que apresentam como exercícios de tradução.
Como foi visto acima, em 2.1.1, é por este motivo que estes procedimentos não foram examinados anteriormente neste trabalho, mas reservados para serem analisados dentro do modelo de Vázquez-Ayora (1977).
Além desses três procedimentos, Vázquez-Ayora (1977) considera um quarto, a omissão, que não é incluído por Vinay e Darbelnet (1977). Todos esses procedimentos serão examinados abaixo, na ordem em que são enumerados por Vázquez-Ayora (1977).
A amplificação é utilizada quando é preciso desdobrar uma palavra, por necessidades sintáticas da LT, como se vê nos exemplos abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977:334-335):
(pág. 46) 
	We are working
	toward
	a new policy...
	
	
	
	Nos esforzamos
	por encontrar
	una nueva política...
	The plant
	in
	Bogota...
	
	
	
	La planta
	que opera en
	Bogotá...
No primeiro exemplo, houve uma amplificação de toward para por encontrar. No segundo, uma amplificação de in para que opera en, por necessidades estruturais e estilísticas do espanhol, a LT.
A explicitação é um caso particular de amplificação, realizada para deixar claro que o leitor do TLT algo que não lhe é familiar na cultura do TLO, como se vê nos exemplos abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977:350):
	The Secretary of State testified against the provision that automatically excludes all OPEC members.
	
	En las audiencias previas el Secretario de Estado argumento en contra de la disposición que excluye ipso facto a los miembros de la OPEP.
	If the assistance of the police authorities at the place of an intermediate stop is desired...
	
	Si el Estado que deporta desea obtener la asistencia de las autoridades de policía en el lugar donde se haga escala...
No primeiro exemplo foi explicitado en las audiências previas para elucidação daqueles que não conhecem os mecanismos que regem a tramitação de um projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos.
No segundo, foi explicitado el Estado que deporta para auxiliar o leitor do TLT que não esteja familiarizado com os procedimentos de deportação ou extradição empregados nos Estados Unidos.
A omissão, procedimento que não é discutido por Vinay e Darbelnet (1977), consiste em omitir elementos excessivamente repetidos na LO, mas que não sio habitualmente repetidos na LT, ou elementos que a LT em geral não explicita, como no exemplo abaixo (cf. Vázquez-Ayora, 1977:364):
(pág. 47) 
	To speak of a mutual convertibility from one particular language to another.
	Hablar de una convertibilidad reciproca de una lengua a otra.
Neste exemplo, foi omitido o adjetivo particular do inglês, por não ser necessário para o entendimento da frase em espanhol.
A compensação é utilizada para repor as perdas de conteúdo ou de recursos estilísticos do TLO ao se falar a tradução para a LT (cf. Vázquez-Ayora, 1977:374), Segundo este procedimento, quando, por exemplo, um trocadilho feito na LO é impossível em um determinado ponto do TLT, um outro pode ser introduzido em um ponto diverso do texto, para recuperar o efeito total do mesmo. Este procedimentoestá, também, inteiramente de acordo com a formulação do princípio do efeito equivalente, apontado por Nida (1964, q.v. 2.1,2). O exemplo abaixo é oferecido por Vázquez-Ayora (1977:374).
Uma tradução meramente literal deste mesmo segmento de texto produziria:
Como se pode ver, a compensação inclui a aplicação de uma diversidade de procedimentos técnicos da tradução que, como já foi apontado por Vinay e Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1), muitas vezes se sobrepõem.
No primeiro caso há vários casos de tradução literal, além de modulações (green – azul; water – masa), mudanças de ordem de palavras e diversos ajustes para atender às necessidades sintáticas e estruturais da LT, o espanhol.
É através da utilização desses vários procedimentos combinados, afirma Vázquez-Ayora (1977:375), que se consegue obter na tradução o mesmo efeito global do TLO, o que, repete, não é conseguido com a tradução literal apenas. Como foi mencionado acima, estas considerações encaixam-se perfeitamente no conceito de princípio do efeito equivalente, exposto por Nida (1964, q.v. 2.1.2).
Conclui-se, portanto, que o modelo de Vázquez-Ayora (1977) baseia-se no de Vinay e Darbelnet (1977), o qual expandiu e modificou em alguns aspectos (a retirada do empréstimo e do decalque, por exemplo). Guarda, também, muitas semelhanças com o modelo de Nida (1964), especialmente no que diz respeito ao princípio do efeito equivalente.
Uma característica marcante do trabalho de Vázquez-Ayora (1977) é a intensidade da tensão que apresenta entre a tradução literal e a tradução oblíqua. Em todo o correr da obra (cf. Vázquez-Ayora, 1977), é ressaltada a superioridade da tradução oblíqua sobre a literal, que é considerada como fonte de todos os erros e defeitos das traduções.
Um exame do modelo de Vázquez-Ayora não podia deixar de ser incluído no presente trabalho, pois a literatura de língua portuguesa (cf. Campos, 1986a e b; Dutra, 1983 e outros), bem como Newmark (1981) o citam como o revisor e ampliador do modelo de Vinay e Darbelnet (1977). Para os fins deste trabalho é relevante o fato de Vázquez-Ayora (1977) ter incluído no seu modelo procedimentos mencionados por Vinay e Darbelnet (1977) sem que fossem encaixados no seu modelo. Embora não haja aí uma concepção teórica (pág. 49) diferente, existe uma formulação mais completa dos procedimentos técnicos da tradução, o que, ao meu ver, é útil para o tradutor, o professor e o aluno de tradução, pois fica recoberto de modo mais abrangente o que o tradutor realiza no ato tradutório.
2.1.5. Tradução Semântica vs Tradução Comunicativa: O Modelo de Newmark
Ao contrário dos demais autores examinados até agora no presente trabalho, Newmark (1981) começa seu estudo da tradução não com uma revisão da teoria linguística em que apoia sua reflexão, mas com uma revisão da literatura especificamente sobre tradução, na qual são estudados, entre outros, os autores cujos modelos foram selecionados para uma apresentação mais detalhada neste capítulo.
A partir do exame que faz da literatura, Newmark (1981) se detém na grande tensão que existe no pensamento sobre a tradução, que é a tensão entre a tradução livre e a literal, entre o foco sobre o autor ou o leitor, a LO ou a LT. Dá especial atenção ao principio do efeito equivalente (q.v. 2.1.2 e 2.1.4), que considera estar adquirindo predominância na literatura (cf. Newmark, 1981:38).
O principio do efeito equivalente mantém o foco sobre o leitor, que é privilegiado no ato comunicativo (q.v. 2.1.2) que se estabelece através da tradução. É em benefício do leitor, para facilitar sua compreensão e para aproximar afetivamente dele o texto, que a tradução procuraria aplainar as diferenças estruturais expressas entre a LO e a LT, bem como as expressas no texto entre a realidade extralinguística da LO e da LT.
Por exemplo, quando traduzi documentos sobre a Lei da Informática (cf. ABICOMP, 1987/88) para o inglês, para serem examinados pelo Presidente Reagan e a Comissão de Informática do Congresso Americano, não podia esperar, pelos motivos amplamente divulgados pela imprensa, que o texto tivesse entre esses leitores o mesmo efeito que teve entre seus leitores no Brasil, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista das divergências entre as instituições jurídicas dos dois países.
No caso da Lei da Informática, o princípio do efeito equivalente levaria o tradutor a tentar criar uma proximidade inexistente entre (pág. 50) o sistema jurídico brasileiro, baseado no Direito Romano, e o sistema jurídico americano, baseado no Direito Consuetudinário. Isso, porém, não era possível, nesta situação – nem desejável – pois, enquanto atende a interesses brasileiros, a Lei da Informática contraria os americanos.
Segundo Newmark (1981), o equívoco do princípio do efeito equivalente está em não levar em consideração as funções da linguagem presentes em um determinado texto, ou a finalidade desse texto, pois estas sim é que determinariam que tipo de procedimentos utilizar na tradução.
De modo a poder incluir as funções da linguagem, tipo e finalidade do texto em seu modelo da tradução, Newmark (1981:12-16) apresenta as adaptações que fez dos modelos de Buhler11 e de Frege12 acerca das funções da linguagem.
Para ilustrar a aplicação que fez da teoria das funções da linguagem à tradução, Newmark (1981:15)' apresenta um quadro que resume o modo como o tradutor deve agir diante de cada tipo de texto, que reproduzo na página seguinte, comentando-o abaixo.
No quadro, A, B e C correspondem a tipos de texto. Nas colunas sob cada uma destas letras estão listadas as características de cada texto, indicadas pela primeira coluna à esquerda. Para Newmark (1981:14-15) todos os textos têm função informativa e os exemplos em (1) apenas ilustram a ênfase principal, já que há concomitância nas funções.
Este quadro, acredito, pode servir de orientação para tradutores, professores e alunos de tradução.
Em seguida, Newmark (1981) conclui que os modos de traduzir podem-se polarizar em dois extremos, sendo que no primeiro, que denomina tradução semântica, o foco recai sobre a LO, o autor original e seu público, enquanto, no segundo, que denomina tradução comunicativa, o foco recai sobre a LT e o leitor.
Para melhor explicar a diferença entre estes dois pólos, será útil o diagrama apresentado abaixo, reproduzido de Newmark (1981:39):
(pág. 51) FUNÇÕES DA LINGUAGEM E TRADUÇÃO
	
	A
	B
	C
	Função da linguagem
	EXPRESSIVA
	INFORMATIVA
	VOCATIVA
	(1) Exemplos típicos
	Literatura
Textos de autor
	Relatórios científicos ou técnicos e livros didáticos
	Obras polêmicas,
publicidade, avisos, leis e regulamentos, propaganda política, literatura popular
	(2) Estilo “ideal”
	Individual
	Neutro, objetivo
	Persuasivo ou imperativo
	(3) Ênfase textual
	Língua original (LO)
	Língua da tradução (LT)
	Língua da tradução (LT)
	(4) Foco
	Autor (l.a pessoa)
	Situação (3.a pessoa)
	Leitor (2.* pessoa)
	(5) Método
	Tradução “literal”
	Princípio do efeito equivalente - equivalência
	Principio do efeito equivalente - recriação
	(6) Unidade de tradução
Máxima
Mínima
	Pequena
Grupo (sintagma)
Palavra
	Média
Oração
Grupo (sintagma)
	Grande
Texto
Parágrafo
	(7) Tipo de linguagem
	Figurativa
	Fatual
	Convincente
	(8) Perda de sentido
	Grande
	Pequena
	Depende das divergências culturais
	(9) Palavras e significados novos
	Obrigatórios no TLO
	Não permitidos a não ser que justificados
	Sim, exceto nos textos
formais
	(10) Palavras-chaves
(manter)
	Leitmotiv
Marcadores estilísticos
	Palavras temáticas
	Palavras simbólicas
	(11) Metáforas incomuns
	Reproduzir
	Dar sentido
	Recriar
	(12) Comprimento em relação ao original
	Aproximadamente o mesmo
	Um pouco mais longo
	Não há regra
Fonte: Newmark, 1981:39
(pág. 52)
De acordo com a definição de Newmark (1981:39), a tradução comunicativa é aquela que visa a produzir em seus leitores um efeito tão próximo quanto possível do efeito produzido sobre os leitores

Outros materiais