805 pág.

Pré-visualização | Página 16 de 50
+ a2n−2 x + . . . a0 x2n−1 ) e´ o mesmo sinal de a2n−1x2n−1, que e´ a2n−1x2n−1 > 0. Argumentando do mesmo jeito para x→ −∞, concluimos que o sinal de a2n−1x2n−1 · (1 + a2n−2 x + . . . a0 x2n−1 ) para x < 0 suficientemente grande e´ o mesmo sinal de a2n−1x2n−1, que nesses pontos e´ a2n−1x2n−1 < 0. Enta˜o f(x) = a2n−1 · x2n−1 + a2n−2 · x2n−2 + . . .+ a1 · x+ a0 assumiu valores negativos e positivos. Pelo T.V.I. e pela continuidade do polinoˆmio f(x), tem que haver um ponto onde f(x) = 0. Caso a2n+1 < 0: completamente ana´logo. � Esse teorema (e sua prova) na˜o da˜o nenhuma pista de como achar concretamente algum ponto x onde f(x) = 0. Em dois trabalhos, de 1690 e 1691, Michel Rolle tentou estabelecer um me´todo para determinar concretamente esses zeros. Ele o fez de um modo bem confuso, pois na˜o tinha uma boa definic¸a˜o de Derivada, mas seu nome ficou associado ao teorema que estabeleceremos mais adiante no Cap´ıtulo 10 e que nos permitira´ criar me´todos para encontrar ra´ızes de polinoˆmios (e de func¸o˜es mais gerais). Um aplicac¸a˜o interessante do Teorema de Rolle e do T.V.I. sera´ dada na Sec¸a˜o 5 do Cap´ıtulo 13, para provar a Regra de sinais de Descartes, que da´ uma estimativa do nu´mero de ra´ızes Reais de um polinoˆmio. CAPI´TULO 6. A NOC¸A˜O DE CONTINUIDADE 81 7. Ra´ızes simples e fatorac¸a˜o de polinoˆmios Acho que pode ser u´til na formc¸a˜o dos estudantes, ter uma prova do seguinte fato fundamental: Teorema 7.1. Seja f(x) = anx n+ an−1xn−1+ . . .+ a0 um polinoˆmio de grau n, com coeficientes ai ∈ R. Sa˜o equivalentes: • i) f(x) = 0 para alguma ra´ız x ∈ R e • ii) f(x) = (x − x) · g(x) onde g(x) e´ um polinoˆmio de grau n − 1 com coeficientes Reais. Demonstrac¸a˜o. ii) obviamente implica i), pois: f(x) = (x− x) · g(x) = 0. A prova de que i) implica ii) sera´ dividida em duas etapas. A parte interessante e´ construir o g(x) que queremos em: f(x) = (x− x) · g(x) + r, onde r e´ uma constante. Se tivermos feito isso, avaliaremos tudo em x: 0 = f(x) = (x− x) · g(x) + r = r, para concluir que r = 0. Para chegarmos na desejada expressa˜o f(x) = (x−x)·g(x)+r, temos um algoritmo a executar. Para f(x) = anx n + an−1xn−1 + . . .+ a0 , fac¸o g1(x) := an · xn−1 e subtraio r1(x) := f(x)− (x− x) · g1(x). O g1(x) foi escolhido para que r1(x) na˜o tenha termo de grau n. Ou seja que esse novo polinoˆmio r1(x) tem grau ≤ n− 1. Se por acaso r1(x) ≡ 0 enta˜o f(x) = (x− x) · g1(x) e ja´ temos o que queremos, com r = 0 e g(x) := g1(x). Caso contra´rio r1(x) = bkx k + bk−1xk−1 + . . ., onde k ≤ n− 1; defino g2(x) := xk−1 bk , e subtraio r2(x) := r1(x)− (x− x) · g2(x). 7. RAI´ZES SIMPLES E FATORAC¸A˜O DE POLINOˆMIOS 82 Pela definic¸a˜o do g2(x) esse novo polinoˆmio r2(x) tem grau ≤ n− 2. Se dermos sorte e r2(x) ≡ 0 enta˜o f(x) = (x− x) · [g1(x) + g2(x)], e ja´ temos o que queremos com r = 0 e g(x) = g1(x) + g2(x). Caso contra´rio continuamos, considerando agora r2(x) = cjx j + cj−1xj−1 + . . ., onde j ≤ n− 2 e definindo g3(x) e r3(x) como fizemos antes. O que importa e´ que o grau desse novo r3(x) sera´ ≤ n − 3. Ou seja, como va˜o caindo os graus dos rk(x) a cada etapa, apo´s no ma´ximo n etapas chegaremos a um rk(x) (k ≤ n) que ou bem e´ ≡ 0 ou bem tem grau zero, uma constante. Esse sera´ o r. E g(x) := g1(x) + . . .+ gk(x), k ≤ n. � Digressa˜o sobre o Teorema 7.1: Se observarmos a prova desse Teorema vemos que, na fatorac¸a˜o f(x) = (x− x) · g(x) os coeficientes do polinoˆmio g(x) sa˜o soma, subtrac¸o˜es, produtos, quocientes da ra´ız x e dos coeficientes ai de f(x). Por isso, se a ra´ız x fossse um nu´mero Complexo e a1 sa˜o Reais ou Complexos, de- veria haver uma fatorac¸a˜o de f onde o polinoˆmio g(x) tivesse coeficientes Complexos. Por exemplo, temos x3 − 1 = (x− 1) · (x2 + x+ 1) e isso e´ tudo que podemos fazer se estamos limitados a trabalhar com coeficientes Reais. Mas x2 + x+ 1 tem ra´ızes Complexas: x1 := −1 −√−1√3 2 e x2 := −1 +√−1√3 2 , ous seja, as ra´ızes Reais ou Complexas de x3 − 1 = 0 sa˜o 1, x1, x2. Portanto deveria haver uma fatorac¸a˜o: x3 − 1 = (x− x1) · g(x), com os coeficientes desse novo g(x) nos Complexos. Seguindo os passos do algoritmo dado na prova do Teorema 7.1 (com a mesma notac¸a˜o), fac¸o: g1(x) := x 2 r1 := x 3 − 1− x2 · (x− x1) = = x1 x 2 − 1. Agora g2(x) := x1 x, r2 := r1 − x1 x · (x− x1) = = x21 x− 1. E tambe´m g3(x) := x 2 1, CAPI´TULO 6. A NOC¸A˜O DE CONTINUIDADE 83 r3 := r2 − x21 · (x− x1) = = −1 + x31 = 0. Portanto g(x) := g1(x) + g2(x) + g3(x) = = x2 + x1 x+ x 2 1, e a fatorac¸a˜o e´ x3 − 1 = (x− x1) · ( x2 + x1 x+ x21 ), onde x1 := −1−√−1√3 2 . Note que: (x− 1) · (x− x2) = x2 − (x2 + 1) x+ x2 = = x2 + x1 x+ x 2 1, pois claramente x2 + 1 = −x1, e x21 = x2. 8. Poss´ıveis ra´ızes Racionais de polinoˆmios a coeficientes inteiros Aproveito o tema das ra´ızes de polinoˆmios para lembrar o seguinte Teste, que permite saber se pode haver ra´ız Racional de um polinoˆmio a coeficientes Inteiros: Afirmac¸a˜o 8.1. Seja p(x) = ak · xk + ak−1 ·xk−1+ . . .+ a1 ·x+ a0 polinoˆmio de grau k ≥ 1 com coeficientes Inteiros: ak, ak−1, . . . , a1, a0 ∈ Z. Suponha que p(x) tem alguma ra´ız Racional, ou seja, da forma x = m n ∈ Q, com m e n primos entre si. Enta˜o m e´ divisor de a0 e n e´ divisor de ak. Demonstrac¸a˜o. Suponho que: p( m n ) = ak · m k nk + ak−1 · m k−1 nk−1 + . . .+ a1 · m n + a0 = 0. Enta˜o ak · m k nk + ak−1 · m k−1 nk−1 + . . .+ a1 · m n = −a0 e multiplicando por nk: ak ·mk + n · ak−1 ·mk−1 + . . .+ a1 · nk−1 ·m = −nk · a0 e da´ı: m · [ak ·mk−1 + n · ak−1 ·mk−2 + . . .+ a1 · nk−1] = nk · (−a0). Como ak ·mk−1 + n · ak−1 ·mk−2 + . . .+ a1 · nk−1 ∈ Z temos que m e´ um divisor de nk · (−a0). 9. EXERCI´CIOS 84 Como m e n sa˜o primos entre si isso implica que m e´ divisor de a0. Tambe´m temos: −ak · m k nk = ak−1 · m k−1 nk−1 + . . .+ a1 · m n + a0 e portanto, multiplicando por nk: −ak ·mk = n · ak−1 ·mk−1 + . . .+ nk−1 · a1m+ nk · a0 e da´ı: −ak ·mk = n · [ak−1 ·mk−1 + . . .+ nk−2 · a1 ·m+ nk−1 · a0]. Como ak−1 ·mk−1 + . . .+ nk−2 · a1 ·m+ nk−1 · a0 ∈ Z isso diz que n e´ divisor de −ak ·mk. Como m e n sa˜o primos entre si, isso implica que n e´ divisor de ak. � Na Sec¸a˜o 5 do Cap´ıtulo 13 daremos uma prova da Regra de Sinais de Descartes, que estima quantos zeros pode ter um polinoˆmio a coeficientes Reais. 9. Exerc´ıcios Exerc´ıcio 9.1. Considere a func¸a˜o definida assim: f(x) = 0 se x e´ um nu´mero racional e f(x) = 1 se x e´ um nu´mero irracional. i): Como e´ seu gra´fico ? ii): em que pontos ela e´ cont´ınua ou e´ descont´ınua? Exerc´ıcio 9.2. A soma, o produto e a composic¸a˜o de func¸o˜es cont´ınuas produz func¸o˜es cont´ınuas. Usando isso calcule: i) lim x→1 (3x− 4x) · (x5 − 2x)4, ii) lim x→1 √ 4x− 3x · (x5 − 2x)4. Exerc´ıcio 9.3. Deˆ um exemplo de f(x) descont´ınua em algum ponto mas tal que f 2(x) e´ cont´ınua em todos os pontos. Exerc´ıcio 9.4. (resolvido) Prove que a func¸a˜o definida por f(x) = x · sin( 1 x ), se x > 0 e f(0) = 0 e´ cont´ınua. Exerc´ıcio 9.5. Prove a Afirmac¸a˜o 1.1, que chamei de princ´ıpio de ine´rcia das func¸o˜es cont´ınuas. Exerc´ıcio 9.6. Um aluno me disse que, para descobrir em quais intervalos um polinoˆmio y = f(x) de grau n e´ positivo ou negativo, ele faz o seguinte. Ele primeiro descobre todas as ra´ızes Reais x1, x2, . . . , xk, onde k ≤ n. Depois considera os intervalos (−∞, x1), (x1, x2), etc , (xk−1, xk), (xk,+∞). Enta˜o para saber o sinal de f em cada intervalo desses, ele examina o sinal de f(x) em um u´nico x de cada intervalo. CAPI´TULO 6. A NOC¸A˜O DE CONTINUIDADE 85 O me´todo dele esta´ correto ? Se esta´,