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Megaesôfago, câncer de esôfago e câncer gástrico - Prof. Ohana Megaesôfago e câncer de esôfago = Manifestação disfágica (dificuldade de deglutição) Câncer gástrico = Manifestação dispéptica (dificuldade de digestão) Revisão das condições anatômicas: Esôfago: Órgão predominantemente muscular, com função única de condução do alimento da boca para o estômago. Não tem epitélio secretor, tem um epitélio plano pavimentoso. Tem duas túnicas musculares (circular e longitudinal) e é desprovido de serosa (órgão vulnerável à disseminação de doenças neoplásicas + dificuldade para sutura). Órgão mal vascularizado. Não existe uma artéria esofagiana. Existem os ramos tireoidianos inferior – vascularização do esôfago superior –, as artérias esofágicas – de todo o trajeto intratorácico, curtas – e a artéria subfrênica – que determina a vascularização do esôfago distal). Tem 3 segmentos: cervical, torácico e intrabdominal. O segmento intrabdominal é o único provido de serosa. Inervado pelo sistema próprio – plexos mientéricos subproximais (?) e mioentérico de Auerbach, e pelo nervo vago que acompanha todo o trajeto do órgão. Movimento peristáltico: Inicia com a deglutição. Epiglote se fecha sobre a glote, alimento desliza, cai no esôfago, e determina-se então uma onda primária (leva boa parte do bolo alimentar para o estômago). Logo a seguir vem a onda de varredura (onda secundária), e, em tese, boa parte do bolo alimentar, ou o líquido, seja o que for, acaba ganhando o estômago. Ondas terciárias não são fisiológicas, elas podem ser ondas senis ou patológicas, que podem aparecer e criar complicações. Mede em média 25 cm. Tem uma dilatação em repouso de até 2 cm de diâmetro, mas sendo um órgão muscular, ele pode se dilatar. Megaesôfago É uma doença endêmica. A doença de Chagas determina uma reação (ainda muito discutida se é inflamatória ou imunológica) que o organismo faz contra o protozoário, mas acaba determinando uma agressão à musculatura lisa. Os plexos mioentéricos de Auerbach são violentamente comprometidos por essa reação. Destruição dos plexos -> musculatura não consegue responder mais ao trabalho que deveria, e o esôfago entra numa certa atonia. Esta atonia é agravada porque ele começa a ficar hipertônico na parte da cárdia (o plexo mioentérico nessa região determinaria o relaxamento do esfíncter inferior do esôfago, neste caso, ele fica hipertenso). O esôfago perde a capacidade contrátil em sua maioria, mas a região da cárdia não relaxa, ela fica hipertônica. Começa a haver um acúmulo de resíduos sólidos, líquidos e gasosos no esôfago. Esse processo se instala de forma lenta e gradual. Então o paciente começa a apresentar determinadas manifestações: Sialorreia Halitose Tosse Dificuldade de deglutição Emagrecimento Pneumonias de repetição (refluxo noturno) Sinal de Roger – Hipertrofia das glândulas salivares submandibulares Comprometimento do estado geral – dificuldade de se alimentar Repercussões nutricionais – queda de albumina, perda de peso Vulnerabilidade a doenças – desnutrição = imunologicamente comprometido Doenças pulmonares (broncoaspiração) Normalmente o paciente já chega ao médico com uma doença avançada. Costuma aparecer 10 a 15 anos depois da contaminação por Chagas (é uma doença de adultos jovens, 30 anos, já que a contaminação ocorre na infância/adolescência). Diagnóstico: A primeira coisa que o médico deve fazer é um estudo epidemiológico (saber se o indivíduo veio de uma zona endêmica, se ele teve contato com o barbeiro). Uma vez informado sobre isso, deve-se partir pros exames complementares (pesquisar a existência ou não de doenças de chagas – Elisa, reação de Chagas, imunoeletroforese) Ou pesquisar da complicação esofagiana em si (EDA ou estudo contrastado de esôfago-estômago-duodeno). O melhor exame para se ter o grau do megaesôfago é a imagem contrastada, mas eu devo começar pela endoscopia porque a doença de Chagas é uma doença pré-maligna (determina áreas de Metaplasia, displasia, e pode virar neoplasia). O endoscopista tem que olhar bem as paredes do esôfago para ver se existe ou não a presença de áreas com doença pré-maligna ou já maligna. A endoscopia nos dá as informações, mas não dá condições de classificar a doença, porque eu só posso classificar a doença dependendo do grau de dilatação. Uma vez feita a endoscopia, eu parto para o raio X contrastado do esôfago-estômago-duodeno. Lembrar que o diâmetro aceitável pro esôfago é até 2 cm de dilatação. Classifica-se o megaesôfago em: Grau I – até 4 cm de dilatação Grau II – de 4.1 a 7 cm de dilatação Grau III – 7.1 a 10 cm de dilatação Grau IV – maior que 10 cm de dilatação O tratamento é fundamentado no grau. Dependendo da dilatação, pode-se determinar o que fazer com esse paciente. Conduta: A primeira coisa a se fazer é nutrir o paciente (fundamental). Tentar alimentação hiperproteica e hipercalórica por via oral. Se não funcionar, solicita-se passagem de uma sonda por via endoscópica, nasoenteral, e alimenta esse paciente pra que ele adquira condições pra enfrentar o tratamento. Tratamento: GRAU I: o tratamento é puramente clínico com a ajuda do endoscopista. 1ª opção: O endoscopista passa o aparelho, com uma sonda própria tipo balão ele realiza dilatações no esfíncter inferior do esôfago, favorecendo a passagem do alimento. Não é um tratamento efetivo, mas permite melhorar o estado geral. A doença não é reversível. 2ª opção: Injeção de toxina botulínica no esfíncter inferior do esôfago, relaxa e permite a passagem do alimento para dentro do estômago. Não é definitivo, 6 meses depois volta a ter a mesma condição. E a segunda aplicação de toxina não é efetiva como a primeira. De qualquer forma, você tem um período para melhorar o estado geral do paciente. GRAU II e III – tratados da mesma maneira. Técnica combinada de esofagocardiogastromiotomia + técnica anti-refluxo. Antes se fazia a esofagocardiogastromiotomia (Heller) - incisão pegando esôfago distal, cardia e parte do estômago, se resseca uma fita de musculatura longitudinal e circular, e o esfíncter hipertônico relaxa, permitindo a passagem do alimento. Porém, algum tempo depois, o refluxo começa a acontecer de forma intensa. Então essa técnica começou a ser complementada por uma técnica anti-refluxo (esofagocardiogastromiotomia associada a técnica anti-refluxo – técnicas de Heller-Lind, por exemplo). GRAU IV – Não teremos nada a fazer a não ser ressecar o órgão por inteiro. Esofagectomia total. O que a gente deve fazer com um esôfago com 9.6, 9.8 cm de diltação, por exemplo? Nesse momento, prevalece o bom senso do médico, podendo realizar a ressecção. Existem linhas que determinam que a partir de 9 já se faz a ressecção. Câncer de esôfago Doença que por sorte não é a mais comum no aparelho digestivo. Precisa ser identificada de forma precoce - esôfago é desprovido de serosa -> potencial de disseminação muito rápido. É geralmente do tipo Adenocarcinoma – o que é estranho, porque o epitélio do esôfago é plano, mas a grande maioria ocorre no esôfago distal por DRGE, Metaplasia, displasia, e epitélio de Barrett (Metaplasia intestinal que complica alguns pacientes com DRGER erosiva). Adenocarcinoma é a causa mais frequente de tumor NO esôfago. Tumor DO esôfago mais frequente é o carcinoma epidermoide/carcinoma escamoso. Tanto o Adenocarcinoma quanto o carcinoma epidermoide vão dar a mesma manifestação, que é a dificuldade de deglutição. A história natural geralmente acomete pacientes acima de 50 anos de idade – Disfagia acima de 45, 50 anos, não se pensa muito em Chagas, e sim em câncer de esôfago. Essa disfagia é rápida e mata rapidamente (vai ter invasão, metástase, competir nutricionalmente com o organismo e mata o paciente rapidamente). As manifestações da doença neoplásica do esôfago são: Disfagia para sólido (pastoso e líquido em 6 meses) Broncoaspiração Fístula brônquica Emagrecimento brutal (perda de peso muito acentuada) Comprometimento severo do estado geral Infelizmente, essespacientes quando chegam ao médico, já chegam com invasão da musculatura e da adventícia (lembrete: não tem serosa), então já está invadindo brônquio, pleura, traqueia alta... Diagnóstico deve ser feito o mais rápido possível. Fatores de risco: Fumo Bebida Alimentos quentes Drogas Prevalência muito maior na região Sul – hábitos de vida. Interna o paciente (precisa melhorar o estado geral) e inicia o processo de suporte nutricional (sempre que possível oral, se não puder nasoenteral, apenas se não puder nenhuma das duas, faz parenteral – mais complexa, mais cara). Diagnóstico: O diagnóstico de câncer de esôfago só pode ser feito através de endoscopia, com biópsia e histopatológico. Se faz um Estadiamento, que vai definir a conduta. Raio X de tórax – fundamental para ver se tem comprometimento pulmonar. TC toracoabdominal – determinar presença de metástases à distância Marcadores tumorais – CA19-9, CA14... Uma vez feito o estadiamento, decide entre tratamento com intenção curativa x paliativa. Paliativa – prótese transtumoral (stent) – permite a reconstituição do trânsito alimentar. Ressecção cirúrgica paliativa não vale a pena. Tem risco de fístula, infecção, complicações pós operatórias. Curativa – Esofagectomia radical com linfadenectomia (qualquer que seja o segmento). Portador de Adenocarcinoma: Pode ser um tratamento combinado (Quimioterapia pré-operatória – neoadjuvância, cirurgia, quimioterapia pós-operatória - adjuvância) Portador de carcinoma epidermoide: tem resposta à radioterapia. Pode fazer radioterapia e quimioterapia pré-operatória, diminui o tamanho do tumor, cirurgia, e radioterapia e quimioterapia pós-operatória. Tira o esôfago e faz-se um tubo gástrico. Tem refluxo, mas o refluxo é pro próprio estômago. Existe uma situação muito grave que e o paciente que tem uma fístula esôfago-brônquica (broncoaspiração – cospe o alimento na tosse). Nesse caso, escolhe-se passagem da prótese (permite a passagem do alimento e impede passagem pela fístula). Câncer gástrico Estômago é um órgão extremamente sujeito ao aparecimento de um câncer. Tem mucosa, submucosa, muscular e serosa. A mucosa é totalmente glandular. Portanto, o câncer que vem a aparecer, 95% é Adenocarcinoma. Poderá aparecer Linfoma ou GIST. O GIST não cresce para dentro da luz, ele cresce da submucosa pra fora. Ele deixa a mucosa abaulada, mas não invade a mucosa, e dificilmente dá metástase linfonodal. É um tumor tratado muito focalmente. Linfoma é tratado só por quimioterapia. O estômago tem o comportamento de aparecimento de tumores acima de 45 anos de idade. Nós temos observado uma queda considerável da presença de tumores em adultos mais jovens. O câncer de estômago nos dá uma chance. Quando o indivíduo apresenta algum grau de desconforto abdominal e é submetido a endoscopia, é possível que o endoscopista detecte este tumor numa fase precoce. O câncer gástrico precoce é classificado em: Tipo I: Polipoide Tipo II: IIa: Elevado em menos de 5 mm IIb: Superficial sem elevação IIc: Depressão inferior a 1,5 cm Tipo III: Ulcerado Uma vez classificado em forma precoce, você pode tranquilamente operar o paciente para o tratamento curativo. Às vezes o tipo I e IIa nem precisa operar, o endoscopista pode fazer uma ressecção endoscópica. O problema é quando ele se torna avançado. O precoce respeita a lâmina própria da mucosa. O avançado invade submucosa, muscular própria e chega até a serosa. O Adenocarcinoma avançado foi classificado por Bormann: Bormann I – elevado Bormann II – elevado ulcerado Bormann III – elevado ulcerado expansivo Bormann IV – totalmente Infiltrativo (Essa classificação acima ele falou na aula, mas preferi complementar com o que o medcurso fala) Classificação segundo o MedCurso: Bormann I – Carcinoma polipoide (ou Fungoide). Lesão bem demarcada com áreas de tecido normal em toda a sua volta. Sobrevida média em 5 anos de 40% Bormann II – Carcinoma Ulcerado com margens bem demarcadas e nenhuma infiltração. Esta lesão é impossível de ser diferenciada, somente pelo aspecto endoscópico, da úlcera gástrica benigna. Sobrevida média em 5 anos de 35%. Bormann III – Carcinoma Ulcerado e Infiltrante com margens rasas e pouco definidas; geralmente há infiltração da submucosa, muscular própria e serosa. É A APRESENTAÇÃO MAIS COMUM DO CÂNCER GÁSTRICO. Sobrevida média em 5 anos de 20%. Bormann IV – Carcinoma Infiltrativo difuso. Lesão difícil de ser definida. Se estende por todas as camadas do estômago e em todas as direções. A extensão é bem mais significativa do que a apreciada apenas pela inspeção e palpação. Quando há infiltração de todo o estômago, este tipo é chamado de linite plástica. Bormann V – Câncer gástrico cuja definição não se encaixa em nenhuma das descritas acima. À medida que vai aumentando o número da classificação, aumenta o grau de invasão, aumenta a gravidade do problema. O câncer gástrico não dá sintoma e sinal. Os sintomas e sinais vão ser da complicação da doença. Localização: Geralmente é de antro e pequena curvatura: dificuldade de esvaziamento do estômago (dispepsia), se come carne vermelha piora (câncer gástrico aparece numa condição chamada de acloridria, relacionada com gastrite atrófica, e se você tem acloridria, você não digere bem a proteína da carne). Fundo, invadindo cárdia: manifestação vai ser disfagia (igual de um câncer de esôfago). Corpo, transcurvatura: não vai ter manifestação, só na metástase. Endoscopista encontra alguma coisa -> faz biópsia da área suspeita e uma biópsia de área de antro sadia para pesquisar a presença ou não de H. pylori. O Pará está numa região de ser o estado com a maior prevalência de câncer gástrico no Brasil. Região do Salgado – sal é cancerígeno, porque tem nitrosamina, e ela é precursora do câncer gástrico, determina o aparecimento de gastrite atrófica. O H. pylori também determina, e nós temos na nossa região uma cepa chamada cagA+, que é a cepa mais agressiva para câncer gástrico. Dependendo da situação, se pede PET-Scan, ele não é indispensável, mas vem esclarecer alguns pontos de dúvida na TC. Hoje existe a chamada terapia-alvo, a gente começa com boas respostas de quimioterapia em Adenocarcinoma de estômago, tanto pré-op quanto pós-op. E as vantagens da terapia alvo, os mínimos efeitos colaterais. Ainda não está disponível para muitas pessoas. Possibilidade de operar: gastrectomia Subtotal resseca 3/5 (?) do estômago. Total: todo o estômago Hoje a linfadenectomia (todos os linfonodos possíveis em torno do estômago) faz parte do planejamento terapêutico. Na gastrectomia total você faz a reconstrução geralmente usando o ID, fazendo uma alça em Y-de-Roux.
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