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Web Aula 2 de Comunicação e Linguagem (Pedagogia 2016)

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PEDAGOGIA
WEBAULA 1
Unidade 2 – Texto e Discurso
DO TEXTO AO DISCURSO
CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEXTO
O termo texto certamente não é desconhecido para você: essa palavra aparece frequentemente na linguagem cotidiana, não somente no ambiente escolar, mas em quaisquer outros. Assim, você certamente tem noção do que seja um texto, embora talvez não consiga formular uma definição para ele.
De modo geral, o texto pode ser definido como uma unidade básica de transmissão de ideias, informações, sentimentos e informações. Koch e Travaglia (2003, p. 8) apresentam a seguinte definição:
Texto será entendido como uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa, como unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão.
Essa observação quanto à extensão é muito pertinente visto que em sentido amplo, um quadro, uma escultura, um filme, um sinal de trânsito ou até mesmo uma única palavra podem constituir formas textuais.
O texto é uma totalidade, mas esse todo é formado por partes, as quais são articuladas e organizadas entre si. Para entender um texto em sua totalidade, é preciso estabelecer a relação entre as partes, visto que o todo é a junção das partes. Para que o leitor tenha acesso à totalidade, é necessário também extrair o tema, o assunto do qual se fala.
Observe os quadrinhos a seguir:
Nesses três primeiros quadrinhos, a expectativa que se cria é a de que se trata de uma conversa sobre valores morais. Será mesmo? Vamos ler a tira completa:
A expectativa inicial foi quebrada no último quadrinho. Isso significa que os quadrinhos anteriores precisam ser relidos à luz da totalidade. 
POR QUE É IMPORTANTE EU SABER O QUE É TEXTO?
Toda pessoa, independentemente da área de formação, deve ter consciência de que nós nos comunicamos utilizando diferentes formas de linguagem (verbal, não-verbal, as duas juntas), mas não nos comunicamos por meio de frases isoladas: nós nos comunicamos por meio de textos!
Durante muito tempo o ensino de língua portuguesa caracterizava-se por ser normativo e conceitual, privilegiando a “decoreba” de regras e exceções, especialmente de ortografia e sintaxe.
Com o desenvolvimento da ciência linguística e também por influencia de outros campos do saber (como psicologia, filosofia, etc.), essa visão centrada na forma foi posta em cheque pelas teorias inspiradas no sociointeracionismo, nas teorias da enunciação e do discurso e na linguística textual. Para essas novas teorias, o uso da linguagem seria uma forma de interação entre sujeitos, cujo resultado seria o texto.
Portanto, além das formas linguísticas, o interesse voltou-se para a relação entre essas formas e seu contexto de uso, as condições de produção e o processo mental de todos esses elementos pelo sujeito. Assim, o ensino passa a ser centrado no uso e no funcionamento da língua, entendida como um sistema simbólico utilizado num dado contexto sócio-histórico. Tendo em vista essa compreensão, formula-se a noção de produção de texto, a qual pretende evidenciar o ato, o processo de elaboração de um texto.
Quando se entende que é próprio da linguagem esse caráter interlocutivo, consequentemente se entende que produzir um texto não é somente escrever sobre um tema utilizando a norma culta da língua. Sempre que se produz um texto, ele é determinado por diversos fatores, os quais irão interferir em sua estrutura e na organização das informações. Esses fatores são:
PARA QUEM: sempre que se fala ou escreve, tem-se em vista um interlocutor que interfere na produção textual: é homem ou mulher? Adulto ou criança? Conhecido ou desconhecido?
POR QUÊ: toda produção textual tem uma finalidade.
DE QUE “LUGAR SOCIAL”: na interação, podemos assumir diferentes papéis sociais conforme a situação em que estamos inseridos. Alguns papéis sociais que ocupo no meu dia-a-dia: filha, irmã, tia, esposa, cunhada (situações familiares); colega, amiga (situações pessoais); professora, orientadora, colega de trabalho (situações profissionais).  
QUE EFEITOS DE SENTIDO QUERO PROVOCAR: quero levar a pessoa a refletir sobre algo? Quero levar a pessoa a concordar comigo? Quero discordar de alguém? Quero emocionar o outro? etc.
QUE GÊNERO TEXTUAL DEVO UTILIZAR: conforme a finalidade e a situação, vou utilizar um bilhete, uma carta, um memorando, um e-mail, etc.
Dessa forma, produzimos textos em diferentes contextos e a cada circunstância correspondem:
finalidades diferentes: divulgar serviços para seduzir clientes; expressar opinião sobre um assunto; informar as qualificações profissionais; obter notícias sobre um amigo distante;
interlocutores diversos: leitores de um dado jornal; colegas de trabalho; um amigo; um parente; um possível contratante;
lugares de circulação determinados: mídia impressa; círculo de amizades; uma empresa; meio acadêmico;
gêneros textuais específicos: carta do leitor; anúncio; folheto; artigo científico; e-mail; currículo.
Antes de nos aprofundarmos na noção de “gêneros textuais” (tema de nossa web aula 2 da Unidade 2), vamos pensar sobre o discurso.
O TEXTO TRAZ CONSIGO O DISCURSO!
Do jardim de infância até a 8ª série, estudei num “colégio de freiras”, particular, que oferecia ensino pré-escolar e de primeiro grau (hoje educação básica e ensino fundamental). A escola não era muito grande, havia somente uma turma de cada série. Uma das coisas que mais me chateava naquele tempo era que muitos pensavam que eu estudava lá porque recebia bolsa, quando, na verdade, era meu pai quem pagava – caro – para eu estudar. Na única briga em que me envolvi na vida, estava na 7ª série, era 1990; levei um murro no olho depois de dar um tapa no rosto de um aluno que disse que “aquele negão seu pai deve ser traficante e sua mãe deve ser uma prostituta que ele pegou na rua”. Nem pensei, só desci a mão! E recobrei os sentidos, caída no chão. Ele foi suspenso da escola, eu fui socorrida e consolada pela diretora e pelos colegas que testemunharam a cena.
O que quero mostrar a você com isso? Esse exemplo revela que o sentido do texto é determinado pelas condições sociais de sua produção. Além do conteúdo, o texto deve ser visto sob as condições em que é produzido. As condições de produção se referem a situações específicas e gerais, a posições histórico-sociais, aos interlocutores e a imagem que fazem de si, do outro e do assunto.
Assim, numa perspectiva discursiva é importante entender o que se fala, quem fala (sua posição social e a imagem que construiu para si), a quem fala (sua posição social e a imagem que foi construída dele) e em que situação histórica se fala.
A partir disso, podemos entender o texto como lugar social onde os sujeitos dialogam com a finalidade de interagirem com/ sobre os outros, num movimento de troca e confronto de forças ideológicas.
Assim, o estudo discursivo considera, em suas análises, não apenas o que é dito em dado momento, mas as relações que esse dito estabelece com o que já foi dito antes e, até mesmo, com o não-dito, atentando, também, para a posição social e histórica dos sujeitos e para as formações discursivas às quais se filiam os discursos.
Voltando ao relato que fiz acima, vemos que, naquela época (final dos anos 1980, começo dos 1990), não era comum alunos de classe média-baixa, muito menos “de cor”, terem acesso a escolas particulares. Aquele menino branco, de classe média-alta achou-se no direito de mostrar que ali não era meu lugar e resolveu insultar a “negrinha pobre” que estudava no colégio de “gente rica e branca”. Acredito que hoje em dia eu não passaria por essa situação, a época mudou, as relações sociais mudaram, existem as cotas, o  comportamento das pessoas visa ao “politicamente correto”, as diferentes formas de preconceito são discutidas abertamente e se buscam formas de erradicá-lo.
Você deve estar se perguntando: por que preciso saber disso? Ora, todo textoé produzido dentro de um contexto, de uma época, seguindo uma linha teórica, uma formação ideológica, o que determinará o que pode ou não ser dito/ escrito naquele texto. Em seus estudos na Pedagogia, você irá se deparar com diferentes teorias cujos discursos se excluem, ou seja, há teorias que você não poderá “misturar” como se fossem uma coisa só. Por exemplo, as diferentes teorias sobre alfabetização e os métodos defendidos por elas; cada qual tem um fundamento, uma forma de aplicação e isso precisa ficar muito claro quando você opta por uma forma de abordagem em sala de aula.
Sobre alfabetização, CLIQUE AQUI e leia o artigo de Maria Rosário Longo Mortatti, História dos métodos de alfabetização no Brasil.
Outro ponto importante na Pedagogia é o discurso de Paulo Freire: ele defendia que as questões e os principais problemas da educação não eram questões pedagógicas, mas políticas! Para Freire, a educação e o sistema de ensino não modificam a sociedade, mas ela é quem pode mudar o sistema instrucional, o qual tem importante papel na revolução cultural ou a consciente participação do povo. Dessa forma, a pedagogia crítica contribuiria para revelar a ideologia esquecida na consciência das pessoas.
Quando e por que Paulo Freire defendeu essas ideias? Bem, isso você irá aprender no decorrer do curso de Pedagogia. Por hora, minha intenção foi deixar clara a importância de não só ler o texto, como localizá-lo numa formação discursiva, histórico-social e ideológica.
Até a próxima web aula!
WEBAULA 2
Unidade 2 – Texto e Discurso
OS GÊNEROS TEXTUAIS
Tradicionalmente, nas aulas de redação, trabalhava-se com a tripartição descrição, narração, dissertação. Contudo, ela era falha, uma vez que não abarcava satisfatoriamente os diversos textos com os quais o aluno se deparava no seu dia-a-dia.
Bakhtin (1997) lançou uma nova visão ao afirmar que os tipos de texto são incontáveis e os definir como “tipos relativamente estáveis de enunciados”, uma vez que o assunto, a estrutura e o estilo serão as características definidoras de cada gênero.   
Dessa forma, quando se fala em produção textual versa-se sobre a necessidade de conhecer os gêneros e sua adequação às diferentes situações comunicativas.
Nem todo gênero serve para se dizer qualquer coisa, em qualquer situação comunicativa. Se alguém pretende discutir a legalização do aborto ou qualidade do ensino no país, essa pessoa precisará organizar seu discurso em um gênero como o artigo de opinião, já que ele pressupõe a argumentação, a discussão de questões controversas por meio da sustentação de argumentos favoráveis ao ponto de vista defendido pelo autor e da refutação aos argumentos contrários.
Por outro lado, se a finalidade é relatar a um grande público um acontecimento do dia anterior, o gênero escolhido pode ser a notícia. Se a finalidade é passar ensinamentos às crianças, utilizando como personagens animais com características humanas, a fábula será o gênero mais adequado. Se a finalidade é garantir que seu companheiro não se esqueça de um compromisso, o gênero pode ser o bilhete.
Por conseguinte, saber selecionar o gênero envolve o conhecimento de suas características e a avaliação de sua conformidade às finalidades, ao lugar de circulação e ao contexto de produção.
APLICAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA
Pela definição bakhtiniana de gêneros, seria impossível especificar quantos e quais são eles, o que seria problema para as aulas de produção textual.
Bronckart (1999) e seus companheiros procuraram aplicar as ideias de Bakhtin em sala de aula e propuseram um trabalho com gêneros de forma espiralada, ou seja, o aluno vê um determinado gênero sem diferentes séries, de forma cada vez mais complexa, mais aprofundada.
A partir do conceito de ferramenta de Vygotsky como elemento que permite intervenção sobre a realidade, Dolz e Schneuwly (2004) concebem os gêneros como ferramentas que  possibilitam uma ação linguística na realidade. Os autores agruparam os gêneros em cinco grupos, conforme o domínio social de circulação, os aspectos tipológicos e a capacidade de linguagem dominante de cada gênero, o que pode ser observado na tabela abaixo:
Viu como as possibilidades foram ampliadas se comparamos com a tipologia tradicional (narração, descrição, dissertação)? No trabalho em sala, é importante discutir as marcas típicas do gênero, pois cada um tem características próprias:
contexto de produção e relação autor/ texto: o texto tem uma história, um lugar de onde saiu, quando e por quem foi produzido, para quem foi destinado.
conteúdo temático: cada gênero inclui certos temas e exclui outros. Por exemplo, para falar da necessidade de se fazer economia, numa coluna de jornal ou revista, certamente irão constar indicadores econômicos; já num bilhete que a patroa escreve para a empregada, não é preciso colocá-los, basta ela pedir para a funcionária prestar atenção aos preços e evitar comprar o que esteja muito caro.
estrutura composicional: cada gênero tem uma formatação textual. Observe:
Mesmo sem conhecer a língua, você consegue identificar, pela estrutura, que o texto acima é uma receita culinária.
marcas linguísticas e enunciativas: as marcas linguísticas são aspectos linguísticos de modo geral, como nível de formalidade do texto, vocabulário empregado, construções frasais, recursos de pontuação, etc. Já as marcas enunciativas são marcas formais do texto, tais como palavras, verbos, aspas, destaques gráficos e outras, responsáveis, entre muitos aspectos, pela imagem que o enunciador quer passar de si, pela imagem que atribui ao co-enunciador, pelo tom do texto, por outras vozes que o enunciador traz para o texto, pelo nível de comprometimento que assume com as informações, por como se mostra no texto usando a primeira pessoa verbal, ou procura se ocultar por meio de formas verbais impessoais.
 Para resumir essa inovação proposta por Bronckart, Dolz e Schneuwly, assista ao vídeo abaixo:
 
BAKHTIN, Mikhail.  Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
BAKHTIN, Mikhail.  Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2004.

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